• Nenhum resultado encontrado

RECURSO DE APELAÇÃO IMPUGNAÇÃO DA MATÉRIA DE FACTO

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2022

Share "RECURSO DE APELAÇÃO IMPUGNAÇÃO DA MATÉRIA DE FACTO"

Copied!
25
0
0

Texto

(1)

Supremo Tribunal de Justiça

Processo nº 233/09.4TBVNG.G1.S1 Relator: LOPES DO REGO

Sessão: 29 Outubro 2015 Número: SJ

Votação: UNANIMIDADE Meio Processual: REVISTA

Decisão: CONCEDIDA A REVISTA

RECURSO DE APELAÇÃO IMPUGNAÇÃO DA MATÉRIA DE FACTO

ÓNUS DO RECORRENTE

INDICAÇÃO EXACTA DAS PASSAGENS DA GRAVAÇÃO

PRINCÍPIO DA PROPORCIONALIDADE

Sumário

1. Face aos regimes processuais que têm vigorado quanto aos pressupostos do exercício do duplo grau de jurisdição sobre a matéria de facto, é possível

distinguir um ónus primário ou fundamental de delimitação do objecto e de fundamentação concludente da impugnação - que tem subsistido sem

alterações relevantes e consta actualmente do nº1 do art. 640º do CPC; e um ónus secundário – tendente, não propriamente a fundamentar e delimitar o recurso, mas a possibilitar um acesso mais ou menos facilitado pela Relação aos meios de prova gravados relevantes, que tem oscilado, no seu conteúdo prático, ao longo dos anos e das várias reformas – indo desde a transcrição obrigatória dos depoimentos até uma mera indicação e localização exacta das passagens da gravação relevantes ( e que consta actualmente do art. 640º, nº2, al. a) do CPC) .

2. Este ónus de indicação exacta das passagens relevantes dos depoimentos gravados deve ser interpretado em termos funcionalmente adequados e em conformidade com o princípio da proporcionalidade, não sendo justificada a imediata e liminar rejeição do recurso quando – apesar de a indicação do recorrente não ser, porventura, totalmente exacta e precisa, não exista

(2)

dificuldade relevante na localização pelo Tribunal dos excertos da gravação em que a parte se haja fundado para demonstrar o invocado erro de

julgamento - como ocorre nos casos em que, para além de o apelante

referenciar, em função do conteúdo da acta, os momentos temporais em que foi prestado o depoimento complemente tal indicação é complementada com uma extensa transcrição, em escrito dactilografado, dos depoimentos

relevantes para o julgamento do objecto do recurso.

Texto Integral

Acordam no Supremo Tribunal de Justiça.

1. A Junta de Freguesia de Vila Nova de ..., intentou acção declarativa, na forma ordinária, contra AA – Investimentos Imobiliários e Turísticos, S.A., pedindo que:

se declare que a Ré não é dona nem legítima possuidora da parcela de terreno com a configuração e delimitação assinalada a cor laranja na planta que se junta como doc. nº 26 e do caminho em terra batida, com o trajecto e configuração assinalado a amarelo na planta que se junta como doc. nº 27, e, em consequência

se declare que a parcela de terreno com a referida configuração e delimitação constituem terrenos baldios que são possuídos, utilizados e geridos pelos moradores da freguesia de Vila Nova …, segundo os usos e costumes, com direito ao seu uso e fruição;

se condene a Ré a reconhecer o direito de uso e fruição dos moradores da freguesia de Vila Nova … sobre a dita parcela de terreno, bem como a

demolir todas as construções e obras que fez na parcela de terreno em litígio e a entregá-la completamente livre e devoluta.

se condene Ré a pagar à A. a indemnização a liquidar ulteriormente quanto aos prejuízos e danos materiais sofridos com a sua conduta e até efectiva desocupação e entrega, bem como determinado montante a título de sanção pecuniária compulsória.

Alega, em síntese, a data da criação da Assembleia de Compartes e a delegação dos poderes de administração dos baldios na Junta de freguesia,

(3)

sustentando que os terrenos que constituem os montes do BB, Monte CC, Monte DD constituem terrenos baldios que são geridos pelos moradores da freguesia de Vila Nova ….

Ora, a R. é dona de um empreendimento que foi construído nos prédios que constituíam a Quinta CC, tendo vindo a ocupar uma parcela de terreno baldio localizado a poente desse empreendimento de que é proprietária, tendo

procedido à construção de um muro de vedação e à colocação de um portão em ferro na extremidade do caminho em terra batida existente a nascente da estrada municipal e à construção de uma outra vedação com esteios e rede - pelo que ocupa uma parcela de terreno com a área de 20,1 hectares que

sempre foi gerida, possuída e utilizada colectivamente pelos moradores de ….

A R. contestou, questionando a legitimidade da A. e dizendo que da freguesia de … não foi ocupada qualquer parcela de terreno baldio no perímetro florestal das Serras de … e Monte EE. Diz ainda que os prédios rústicos referidos na petição estão inscritos a favor da Junta de freguesia, o que seria incongruente com a sua qualificação como baldios.

Mais diz a R. que, ao contrário do alegado pela A., os montes referidos na petição inicial não são contíguos entre si, uma vez que, não obstante o Monte do BB confrontar com a DD, em parte, o Monte CC está separado do Monte do BB através de propriedades privadas.

Impugna o alegado pela A. relativamente à utilização, isolada ou colectiva, dos montes em causa, com as configurações indicadas na petição inicial –

questionando que os mesmos sejam baldios

Alega que é dona da totalidade do prédio denominado Quinta CC e dos demais terrenos anexos, onde já edificou diversas moradias na sequência de

loteamento aprovado – invocando os respectivos actos aquisitivos.

Na réplica, a A. procedeu à alteração e modificação do pedido: em face da alegação da R. de que parte dos terrenos que se encontra a ocupar foram adquiridos pela R. aos seus anteriores proprietários, já que, tratando-se de negócios jurídicos de terrenos baldios, são nulos, impondo-se a declaração de nulidade ou de ineficácia dos referidos negócios jurídicos.

Na tréplica, questionou a R. a admissibilidade da alteração e modificação do pedido – a qual foi, todavia, admitida, convidando-se a A. a fazer intervir como RR. as pessoas mencionadas na contestação e que procederam à transmissão

(4)

dos prédios à R – e fazendo os chamados seus os articulados da R.

No despacho saneador foi julgada improcedente a excepção da ilegitimidade activa da A., relegando-se para final o conhecimento da legitimidade

substantiva, uma vez que esta está dependente da desmonstração da natureza baldia dos prédios reivindicados.

Realizado o julgamento, foi proferida sentença que julgou a acção

totalmente improcedente e em consequência absolveu a Ré e os chamados a intervir dos pedidos contra si formulados.

2. Inconformada apelou a Autora/Junta de Freguesia de Vila Nova …, impugnando, desde logo, o decidido em sede de matéria de facto, afirmando, nomeadamente, nas conclusões que apresentou:

1º A Autora, ora Recorrente, impugna a decisão da matéria de facto e,

designadamente as respostas dadas aos quesitos 4º, quando aí se refere que a utilização colectiva por parte dos moradores da freguesia de Vila Nova … respeita apenas a “parte” dos terrenos inseridos nos montes referidos em D), 14º, 15º, 24º, 25º, 28º e 32º da Base Instrutória, versando, assim, o recurso sobre a matéria de facto e sobre a decisão de direito.

(…)

59º. Acresce ainda que, a prova testemunhal produzida nos autos contraria claramente o entendimento sufragado pelo Mmo Juiz “a quo” e os factos dados como provados e não provados.

60º. A Autora, ora Recorrente, entende, com o devido e merecido respeito, que as respostas dadas pelo Tribunal “a quo” aos quesitos 4º, quando aí se refere que a utilização colectiva por parte dos moradores da freguesia de Vila Nova

… respeita apenas a “parte” dos terrenos inseridos nos montes referidos em D), 14º, 15º, 17º a 22º (resposta conjunta), 24º, 25º, 28º e 32º da Base

Instrutória devem ser alteradas e/ou modificadas, devendo a matéria de facto constante dos quesitos 14º, 15º, 24º, 25º, 28º e 32º da Base Instrutória deve ser dada como provada, alterando-se ainda a resposta dada ao quesito 4º, por forma a constar que a utilização colectiva por parte dos moradores da

freguesia de Vila Nova … respeita a “todos” os terrenos inseridos nos montes referidos em D) e não apenas a “parte” dos terrenos inseridos nos montes referidos em D).

(5)

61º. Sendo certo que, os concretos meios probatórios constantes da gravação realizada que impunham e impõem decisão diferente da recorrida são os depoimentos das testemunhas arroladas pela Autora, GG (Depoimento gravado no sistema de gravação digital integrado existente no Tribunal

Judicial de Vila Nova de Cerveira, com duração de 2 h. 55 min. e 32 seg. - cfr.

consta da acta audiência de julgamento realizada no dia 13/11/2013 de fls…

dos autos), HH (Depoimento gravado no sistema de gravação digital integrado existente no Tribunal Judicial de Vila Nova de Cerveira, com duração de 1 h.

49 min. e 20 seg. - cfr. consta da acta audiência de julgamento realizada no dia 13/11/2013 de fls… dos autos), II (Depoimento gravado no sistema de

gravação digital integrado existente no Tribunal Judicial de Vila Nova de Cerveira, com duração de 21 min. e 35 seg. - cfr. consta da acta audiência de julgamento realizada no dia 13/11/2013 de fls… dos autos), JJ (Depoimento gravado no sistema de gravação digital integrado existente no Tribunal Judicial de Vila Nova de Cerveira, com duração de 52 min. e 54 seg. - cfr.

consta da acta audiência de julgamento realizada no dia 13/11/2013 de fls…

dos autos), KK (Depoimento gravado no sistema de gravação digital integrado existente no Tribunal Judicial de Vila Nova de Cerveira, com duração de 1 h.

25 min. e 43 seg. - cfr. consta da acta audiência de julgamento realizada no dia 29/11/2013 de fls… dos autos), LL (Depoimento gravado no sistema de

gravação digital integrado existente no Tribunal Judicial de Vila Nova de Cerveira, com duração de e 1 h. 00 min. e 20 seg. -cfr. consta da acta

audiência de julgamento realizada no dia 29/11/2013 de fls… dos autos), MM (Depoimento gravado no sistema de gravação digital integrado existente no Tribunal Judicial de Vila Nova de Cerveira, com duração de 33 min. e 40 seg. - cfr. consta da acta audiência de julgamento realizada no dia 29/11/2013 de fls… dos autos), NN (Depoimento gravado no sistema de gravação digital integrado existente no Tribunal Judicial de Vila Nova de Cerveira, com duração de 46 min. e 49 seg. - cfr. consta da acta audiência de julgamento realizada no dia 29/11/2013 de fls… dos autos) e OO (Depoimento gravado no sistema de gravação digital integrado existente no Tribunal Judicial de Vila Nova de Cerveira - cfr. consta da acta audiência de julgamento realizada no dia 29/11/2013 de fls… dos autos), e da testemunha arrolada pela Ré AA, S.A., PP (Depoimento gravado no sistema de gravação digital integrado existente no Tribunal Judicial de Vila Nova de Cerveira, com duração de 56 min. e 02 seg. - cfr. consta da acta audiência de julgamento realizada no dia 11/12/2013 de fls… dos autos).

62º. Com efeito, no essencial e para o que aqui interessa, estas testemunhas referiram que:

(6)

_ A Quinta CC era toda fechada, com muro de pedra sobre pedra;

_ À volta da Quinta existia um caminho;

_ A parcela de terreno com a configuração e delimitação assinalada a cor laranja na planta junta com a petição inicial como doc. nº 26 sempre foi possuída e gerida pelos moradores da freguesia de Vila Nova …, até, pelo menos, aos finais da década de 70, para apascentação de gados, produção e corte de matos e lenhas e corte e extracção de pedra.

_ Tal parcela de terreno integra o monte baldio conhecido como “Monte do BB”.

_ Existiam vários carreiros de passagem a pé e caminhos de carreteiro que cruzavam o “Monte do BB” e a parcela de terreno com a configuração e

delimitação assinalada a cor laranja na planta junta com a petição inicial como doc. nº 26 para a população de Vila Nova … aceder aos mais diversos lugares da freguesia.

_ Os terrenos privados que existiam a Nascente da Quinta CC já se encontram dentro da vedação em rede ali existente.

_ A parcela de terreno com a configuração e delimitação assinalada a cor vermelha nas plantas juntas com o articulado superveniente como doc.s nºs 3, 4 e 5 sempre foi possuída e gerida pelos moradores da freguesia de Vila Nova

…, até, pelo menos, aos finais da década de 70, para apascentação de gados, produção e corte de matos e lenhas e corte e extracção de pedra.

_ Tal parcela de terreno integra o monte baldio conhecido como “Monte DD”.

63º. O depoimento das testemunhas indicadas pela Autora GG, HH, II, JJ, KK, LL, MM, NN e OO, e da testemunha indicada pela Ré AA, S.A., PP, são

merecedores de total credibilidade por se tratar, as primeiras duas

testemunhas (Eng. GG e Engª. HH) de engenheiros florestais que lidaram directamente com questões relacionadas com os baldios de Vila Nova …, nos quais se incluíam as parcelas de terreno em causa nestes autos, e as restante oito testemunhas de pessoas naturais e residentes em Vila Nova …, que

conhecem perfeitamente os montes baldios existentes em Vila Nova …, em concreto as parcelas de terreno em causa nestes autos, há mais de 20, 30, 40, 50, 60 e mais anos, sabendo os limites dos referidos montes e o uso que lhes era dado pela população de Vila Nova …, não sendo tais depoimentos

minimamente abalados ou contrariados pelas demais testemunhas indicados

(7)

pela Ré.

64º. Pelo exposto, a resposta dada pelo Tribunal de 1ª instância aos quesitos 4º, quando aí se refere que a utilização colectiva por parte dos moradores da freguesia de Vila Nova .. respeita apenas a “parte” dos terrenos inseridos nos montes referidos em D), 14º, 15º, 24º, 25º, 28º e 32º da Base Instrutória

contraria frontalmente a prova documental e testemunhal produzida e existente nos autos.

65º. Com efeito, conforme se demonstrou supra e, aliás, consta dos factos dados como provados, a autora provou que as parcelas de terreno em causa nestes autos, com as áreas, configurações e localizações identificadas nos quesitos 15º e 28ª da Base Instrutória, assinaladas, respectivamente, a cor laranja na planta junta com a petição inicial como doc. nº 26 (fls. 108) e a cor vermelha na planta junta com o articulado superveniente como doc. nº 4 (fls.

1200), foram usados de forma comunitária pela população de Vila Nova … desde há mais de 1, 5, 10, 15, 20, 30, 50, 100, 200 e mais anos que excedem a memória dos vivos, e pelo menos até aos finais da década de 70 (1970).

66º. Ou seja, a Autora logrou provar que as parcelas de terreno em causa nestes autos constituem terrenos baldios antes de os prédios que a Ré alega ter adquirido terem sido registados na Conservatória do Registo Predial.

3. Relativamente à impugnação da decisão proferida acerca da matéria de facto – muito em particular no que se refere ao invocado erro na valoração dos depoimentos prestados – considerou a Relação no acórdão recorrido:

Nos termos do disposto no artº 662º -nº1 do CPC, “ A Relação deve alterar a decisão proferida sobre a matéria de facto, se os factos tidos como assentes, a prova produzida ou um documento superveniente impuserem decisão

diversa”.

Desde logo se salienta que a reapreciação da matéria de facto, pela Relação, no âmbito dos poderes conferidos pelo artº 712º do CPC, ora com igual

referência ao artº 662º do NCPC, não pode confundir-se com um novo

julgamento, destinando-se essencialmente á sanação de manifestos erros de julgamento, de falhas mais ou menos evidentes na apreciação da prova, sendo, ainda, entendimento dominante na jurisprudência que a convicção do julgador, firmada no princípio da livre apreciação da prova (artº 607º-nº4 do Código de Processo Civil), só pode ser modificada pelo tribunal de recurso quando

(8)

fundamentada em provas ilegais ou proibidas ou contra a força probatória plena de certos meios de prova, ou então quando afronte as regras da experiência comum, por verificação de erro de julgamento (v.Ac.STJ, de 14/3/2006, in

CJ,XIV,I,pg.130,Ac.STJ,de19/6/2007,www.dgsi.pt;Ac.TRL,de9/2/2005, www.pgdlisboa.pt).

Conforme se refere no Ac. do Supremo Tribunal de Justiça de 14/3/2006 - (…).

O objectivo desta reapreciação é, não o de proceder a um novo julgamento da matéria de facto, mas apenas o de – pontualmente e sempre sob a iniciativa da parte interessada – detectar eventuais erros de julgamento nesse âmbito.”

“ A garantia do duplo grau de jurisdição em sede de matéria de facto nunca poderá envolver, pela própria natureza das coisas, a reapreciação sistemática e global de toda a prova produzida em audiência ( …) Não poderá, deste modo, em nenhuma circunstância admitir-se como sendo lícito ao recorrente que este se limitasse a atacar, de forma genérica e global, a decisão de facto ( …).

A consagração desta nova garantia das partes no processo civil implica naturalmente a criação de um específico ónus de alegação do recorrente, no que respeita à delimitação do recurso e à respectiva fundamentação (…) “ Dispõe, ainda, o artº 640º do Código de Processo Civil, sob a epígrafe “Ónus a cargo do recorrente que impugne a decisão de facto”

Nº 1 – Quando se impugne a decisão proferida sobre a matéria de facto, deve o recorrente obrigatoriamente especificar, sob pena de rejeição:

a) Os concretos pontos de facto que considera incorrectamente julgados;

b) Os concretos meios probatórios, constantes do processo ou de registo ou gravação nele realizada, que impunham decisão sobre os pontos da matéria de facto impugnados diversa da recorrida.

c) A decisão que, no seu entender, deve ser proferida sobre as questões de facto impugnadas.

Nº 2 – No caso previsto na al. b) do número anterior, observa-se o seguinte:

a) Quando os meios probatórios invocados como fundamento de erro na apreciação das provas tenham sido gravados, incumbe ainda ao recorrente, sob pena de imediata rejeição do recurso na respectiva parte, indicar com exactidão as passagens da gravação em que se funda, sem prejuízo de poder proceder à transcrição dos excertos que considere relevantes.

(9)

Atento o comando do art.º 640º do Código de Processo Civil e os ónus que por via do indicado preceito legal são impostos aos recorrentes que pretendam impugnar a matéria de facto, conclui-se que, no caso sub judice, não cumpriu a apelante o ónus imposto pelo n.º 2-a) do citado artigo, designadamente, desde logo, nas alegações do recurso de apelação, o recorrente não procede à indicação das “exactas” “passagens da

gravação em que funda” o seu recurso para basear o alegado erro de julgamento com referência às provas gravadas - depoimentos

testemunhais -, tendo, no caso, a recorrente, distintamente, procedido tão só à mera indicação da duração do tempo de gravação de cada depoimento por referência ao assinalado na acta nos termos que vigoravam na redacção dos art.º 690º-A-n.º2 e 522º-C-n.º2 do Código de Processo Civil na redacção anterior à decorrente das alterações introduzidas pelo Decreto-Lei n.º 303/2007, de 24 de Agosto, não sendo já tais preceitos aplicáveis no caso em apreço; sendo, ainda, que nos termos expressos no art.º 640º-n.º2-a)- parte final, do Código de Processo Civil, a faculdade de a parte proceder á transcrição total ou parcial dos depoimentos não exclui o indicado ónus imposto no mesmo artigo.

E, a lei sanciona o incumprimento do indicado ónus com a imediata rejeição do recurso no que se refere à impugnação da matéria de facto, na parte

respectiva parte.

Assim, desde logo, relativamente aos depoimentos gravados invocados pelo recorrente, designadamente, os depoimentos testemunhais

indicados, não poderão os mesmos, por imperativo legal, ser reapreciados em sede de recurso, consequentemente, não releva a exposição da recorrente referente ao indicado meio de prova –a aprova testemunhal.

Analisados os autos, e, nomeadamente os documentos em causa, nenhum juízo divergente resulta da análise feita pelo Tribunal de 1ª instância e expressa no despacho de resposta à matéria de facto proferido pelo Tribunal “ a quo”, a fls.

1545 vº e sgs. dos autos, e que se mantém.

Com efeito, e como se deduz de tal despacho, a Mº Juiz “ a quo “, avaliou e considerou, globalmente, toda a prova produzida, e, de forma expressa, clara e abundante, devidamente fundamentada, explicitou os fundamentos de

formação da sua convicção, em raciocínio coerente, correspondente à prova

(10)

realizada, esclarecendo e salientado os meios de prova que valorizou e os que desconsiderou.

4. O insucesso da impugnação deduzida contra a matéria de facto conduziu à estabilização do seguinte quadro factual:

1. Encontra-se junta aos autos uma acta de reunião de compartes com o teor constante de fls. 29, onde se incluem os seguintes dizeres: “Acta n.º 1 Nos catorze dias do mês de Julho do ano de mil novecentos e noventa e nove, reuniram na Junta de Freguesia de Vila Nova de ..., os compartes desta

freguesia, para se proceder à eleição dos seguintes órgãos. 1.º Assembleia de compartes (…)”

2. Encontra-se junta aos autos uma acta de reunião da assembleia dos compartes com o teor constante de fls. 30, onde se incluem os seguintes dizeres: “Acta número quatro Aos vinte dias do mês de Julho de 2007 (…), reuniu pela segunda vez a assembleia dos compartes da freguesia de Vila Nova … (…). Ponto Dois: Delegar na Junta de Freguesia poderes para

administrar os baldios; (…), proposta esta que posta à votação foi aprovada por unanimidade”.

3. Encontra-se junta aos autos uma acta de reunião da assembleia dos compartes com o teor constante de fls. 34, onde se incluem os seguintes dizeres: “Minuta da Acta da Reunião Realizada no Dia 19 de Março de 2008:

Aos dezanove dias do mês de Março de dois mil e oito (…), reuniu (…) a assembleia de compartes dos baldios da freguesia de Vila Nova …, com os seguintes pontos na ordem de trabalhos (…). Ponto Três: Deliberar sobre a renovação da delegação dos poderes de administração dos compartes na Junta de Freguesia, em relação à totalidade da área do baldio, para representar a Assembleia de Compartes em todos os actos administrativos e judiciais. (…) Relativamente ao terceiro ponto da ordem de trabalhos a assembleia deliberou (por unanimidade) renovar proposta esta que posta à votação foi aprovada por unanimidade a delegação dos poderes de administração dos compartes na Junta de Freguesia (…)”.

4. Na freguesia de Vila Nova … existem, entre outros, os montes conhecidos por “Monte do BB”, “Monte CC” e “Monte DD” ou “ DD”.

5. Foi posto à deliberação da Câmara de Vila Nova …, em reunião havida em 23/7/1887, o requerimento de um morador de Vila Nova …, de nome QQ, a

(11)

solicitar que lhe fosse concedida uma licença para fazer uma sementeira de pinhões no sítio de DD, por detrás do Monte do BB.

6. Foi posto à deliberação da Câmara de Vila Nova … em reunião havida em 21/4/1892 o requerimento de um morador de Vila Nova …, de nome RR, …, a solicitar o aforamento de uma porção de terreno baldio, sito no Lugar da Chão do BB, onde já tinha edificado duas barracas, uma para manipulação e outra para depósito de fogo e pólvora, edificadas em virtude do alvará de licença daquela Cama Municipal de Vila Nova de Cerveira com data de 15 de Setembro de 1884.

7. Foi posto à deliberação da Câmara de Vila Nova …, em reunião havida em 10/4/1946, o requerimento de um morador de Vila Nova …, de nome SS (…), a solicitar que lhe fosse concedida uma licença para abrir um poço no monte baldio, situado ao Norte da Quinta do BB, situada em Vila Nova …, a qual era propriedade do requerente, e junto de uma presa que recebia a água das minas das TT, a fim de assim poder ser abastecida de água a referida Quinta, que foi deferido por deliberação da Câmara de 24/4/1946.

8. Foi posto à deliberação da Câmara de Vila Nova …, em reunião havida em 22/10/1949, o requerimento de um morador da freguesia de Vila Nova …, de nome UU, a solicitar que lhe fosse concedida uma licença para cortar vinte metros cúbicos de cantaria no monte do BB em Vila Nova …, requerimento que foi deferido.

9. Foi posto à deliberação da Câmara de Vila Nova …, em reunião havida em 4/10/1950, o requerimento de um morador da freguesia de Vila Nova …, de nome VV, a solicitar que lhe fosse concedida autorização para poder cortar e retirar do monte do BB, em Vila Nova …, dez metros cúbicos de alvenaria, durante o prazo de quatro meses, que foi deferido, fixando-se um mês de prazo para retirar a pedra.

10. Foi posto à deliberação da Câmara de Vila Nova …, em reunião havida em 17/9/1952, o requerimento de um morador da freguesia de Vila Nova …, de nome XX, a solicitar que lhe fosse concedida licença para poder retirar dez metros cúbicos de cantaria do monte denominado “DD”, em Vila Nova …, requerimento que foi deferido.

11. Foi posto à deliberação da Câmara de Vila Nova …, em reunião havida em 29/10/1952 o requerimento de um morador da freguesia de Vila Nova …, de nome VV, a solicitar que lhe fosse concedida autorização para retirar do monte do BB, em Vila Nova …, quinze metros cúbicos de cantaria, dentro do prazo de

(12)

sessenta dia, que foi deferido, fixando-se o prazo quarenta dias.

12. Foi posto à deliberação da Câmara de Vila Nova … em reunião havida em 4/3/1953, o requerimento de um morador da freguesia de Vila Nova …, de nome ZZ, a solicitar que lhe fosse concedida autorização para retirar do monte denominado “BB”, em Vila Nova …, quinze metros cúbicos de cantaria, pelo prazo de sessenta dias, que foi deferido, fixando-se o prazo quarenta dias.

13. Foi posto à deliberação da Câmara de Vila Nova …, em reunião havida em 30/9/1953, o requerimento de um morador da freguesia de Vila Nova …, de nome AAA, a solicitar que lhe fosse concedida uma licença para retirar oito metros cúbicos de cantaria, do monte do BB, em Vila Nova …, durante o prazo de sessenta dias, que foi deferido, fixando-se o prazo quarenta dias.

14. Em 21 de Julho de 1956, BBB, industrial, morador na Rua dos …, na cidade do Porto, apresentou um manifesto na Secretaria da Câmara Municipal de Vila Nova … dando conta que tinha descoberto por simples inspecção da superfície a existência de minério de cassiterite, no sítio denominado BB, freguesia e concelho de Vila Nova …, sendo a propriedade em que se efectuou a

descoberta terrenos baldios e encontra-se no ponto de partida a antiga capela em ruínas, denominada BB, e confronta do Nordeste com a Capela …, ao

Sudoeste com o Lugar … e do Poente com o concelho de Vila Nova …. O ponto de partida determina-se pela pelas coordenadas planas ortogonais referidas à meridiana e sua perpendicular com origem no Castelo de São Jorge em Lisboa e são: à meridiana sinal menos trinta e três mil e cem metros e à

perpendicular sinal menos trezentos e cinquenta e oito mil e quatrocentos metros.

15. Foi posto à deliberação da Câmara de Vila Nova …, em reunião havida em 5/12/1956, o requerimento de um morador da freguesia de Vila Nova …, de nome CCC, a solicitar que lhe fosse concedida uma licença para retirar seis metros cúbicos de cantaria e dez metros cúbicos de alvenaria no monte denominado “BB”, em Vila Nova …, que foi deferido, fixando-se o prazo quarenta dias.

16. Foi posto à deliberação da Câmara de Vila Nova …, em reunião havida em 20/11/1957, o requerimento de um morador da freguesia de Vila Nova …, de nome AAA, a solicitar que lhe fosse concedida uma licença para retirar do monte denominado “DD”, catorze metros cúbicos de cantaria, que foi deferido, fixando-se o prazo sessenta dias.

(13)

17. Foi posto à deliberação da Câmara de Vila Nova …, em reunião havida em 5/11/1958, o requerimento de um morador da freguesia de Vila Nova …, de nome DDD, a solicitar que lhe fosse concedida autorização para retirar, como retirou, vinte e cinco metros cúbicos de alvenaria do monte BB, necessitando de vinte dias de prazo, que lhe foi deferido.

18. Foi posto à deliberação da Câmara de Vila Nova …, em reunião havida em 2/11/1960, o requerimento de um morador da freguesia de Vila Nova …, de nome XX, a solicitar que lhe fosse concedida uma licença para cortar e retirar do monte denominado “BB”, em Vila Nova …, cinco metros cúbicos de

cantaria, necessitando de trinta dias de prazo, que lhe foi deferido.

19. A Ré AA é dona e legítima possuidora de um empreendimento turístico, denominado “Quinta CC”, que foi construído e está implantado nos prédios que constituíam uma unidade predial conhecida como “Quinta CC” ou “Quinta das CC”, que se encontravam inscritos na matriz predial da freguesia de Vila Nova …, sob os artigos 61º Urbano e 1103º Rústico e descrito na

Conservatória do Registo Predial de Vila Nova … sob o nº …/191186-Vila Nova

… (extractado do Livro nº 9.600, fls. 42 B 25), do qual foram desanexados vários prédios, concretamente, o prédio actualmente inscrito na matriz predial da freguesia de Vila Nova … sob o artigo … Rústico e descrito na

Conservatória do Registo Predial de Vila Nova … sob o nº …/19920623-Vila Nova …, do qual por sua vez também já foram desanexados outros prédios, concretamente, o prédio actualmente inscrito na matriz predial da freguesia de Vila Nova … sob o artigo … Rústico e descrito na Conservatória do Registo Predial de Vila Nova … sob o nº …/071295-Vila Nova …, e ainda o prédio actualmente omisso na matriz predial da freguesia de Vila Nova … mas descrito na Conservatória do Registo Predial de Vila Nova … sob o nº

…/130103-Vila Nova ….

20. A “Quinta CC” ou “Quinta das CC” onde se encontra implantado o empreendimento turístico da Ré AA tem a área global de cerca de 9,57 hectares.

21. Por contrato promessa de compra e venda datado de 9 de Maio de 1990, a Ré AA prometeu comprar ao Sr. EEE e mulher, Srª Dª FFF, que prometeram vender à AA, aqui Ré, livre de ónus e encargos e pelo preço de 260.000 contos, o prédio denominado “Quinta das CC, BB e DD”, composto e casa de habitação, com a superfície coberta de 76 m2, logradouro de 300 m2, terra de lavradio, mato e pinheiros com a área de 127.000 m2, situado no lugar do mesmo nome, freguesia e concelho de Vila Nova …, que faz parte do prédio

(14)

descrito na Conservatória do Registo Predial de Vila Nova … sob a ficha nº

…/191186 e inscrito na matriz predial urbana sob o artº 61 e na matriz predial rústica sob os artºs 406, 408, 409 e 442.

22. Por escritura pública outorgada em 24/9/1998 no Terceiro Cartório Notarial do Porto, a sociedade “GGG, Limitada” declarou vender à ré AA, e esta declarou comprar, o prédio urbano composto de terreno para construção, com a área de 17.000 m2, sito no Lugar de CC ou HHH, da freguesia e

concelho de Vila Nova …, descrito na Conservatória do Registo predial de Vila Nova … sob o n.º 114.

23. Por escritura pública outorgada em 2/12/1999 no Cartório Notarial de Vila Nova …, III e JJJ declararam ceder à ré AA por permuta, o prédio urbano sito na Encosta do BB, registado na Conservatória sob a ficha nº 00640 da referida freguesia e inscrito na matriz predial sob o artº 771.

24. Por escritura pública outorgada em 6/1/2000 no Cartório Notarial de Vila Nova …, EEE e mulher, FFF, declararam ceder à ré AA, por permuta, o prédio rústico, situado no Lugar de BB e DD, denominado “Quinta das CC”, composto por mato, descrito na Conservatória do Registo predial de Vila Nova … sob o n.º 116 e inscrito na matriz predial sob os arts. 429 e 441.

25. Por escritura pública outorgada em 9/2/2001 no Sexto Cartório Notarial do Porto, III e JJJ declararam dar à ré AA, por troca, o prédio rústico denominado Encosta KKK, sito na freguesia e concelho de Vila Nova …, registado na

Conservatória sob a ficha nº 00132 e inscrito na matriz predial sob o artº 404.

26. Por escritura pública outorgada em 24/1/2002 no Cartório Notarial de Vila Nova …, LLL e mulher, MMM, devidamente representados, declararam vender à ré AA, e esta declarou comprar, o prédio rústico sito no Lugar da … ou DD, freguesia e concelho de Vila Nova …, composto por terreno de mato, com a área de 4.667 m2, registado na Conservatória sob o número … do livro B-24 e inscrito na matriz predial sob o artº 428.

27. Existem vários prédios rústicos compostos de mato e pinhal, que se

encontram inscritos na respectiva matriz predial a favor da Junta de Freguesia de Vila Nova de ..., nomeadamente, sob os artigos 392º, 394º, 395º e 403º e que se inserem no Monte do BB, DD e Monte CC – cfr. matéria do quesito 3.

28. Desde há mais de 1, 5, 10, 15, 20, 30, 50, 100, 200 e mais anos que excedem a memória dos vivos, e pelo menos até aos finais da década de 70,que os moradores da freguesia de Vila Nova … vêm utilizando

(15)

colectivamente parte de terrenos inseridos nos montes referidos em D) para apascentação de gados, produção e corte de matos e lenhas e corte e

extracção de pedra, neles procedendo, sob orientação dos Serviços Florestais, a vários cortes de madeira – cfr. matéria do quesito 4.

29. E utilizavam os vários carreiros de passagem a pé e caminhos que

cruzavam os montes referidos em D) para acederem aos mais diversos lugares da freguesia, inclusive com animais, à vista de toda a gente, sem oposição de quem quer que seja, de forma ininterrupta e pacífica, na convicção de que esses terrenos de monte estavam afectos a logradouro comum dos moradores da freguesia de Vila Nova … – cfr. matéria dos quesitos 5 a 9.

30. O terreno onde o morador referido em E) pretendia levar a cabo a referida sementeira de pinhões e os moradores referidos em J) e P) pretendiam retirar, como retiraram, cantaria, integravam, como integram, o monte conhecido como “DD” – cfr. matéria do quesito 10

31. A porção de terreno baldio para a qual o morador referido em F) pretendia o aforamento, onde o morador referido em G) pretendia abrir o poço, onde os moradores referidos em H), K), L), M), O), R) pretendiam cortar, como

cortaram, a cantaria, onde os moradores referidos em I), O), Q) pretendiam cortar e retirar, como cortaram e retiraram, alvenaria, onde o morador

referido em N) descobriu a existência de minério, integravam, como integram, o monte conhecido por “BB” – cfr. matéria do quesito 11.

32. No ano de 1980, a Câmara Municipal de Vila Nova … procedeu à iluminação do monte do “BB” através da colocação de vários focos – cfr.

matéria do quesito 12.

33. Em Março de 1981, a Câmara Municipal de Vila Nova … construiu uma estrada pública, desde a via de acesso à Capela de …, sita na freguesia de …, ao Lugar do …, em Vila Nova …, numa extensão de mais de 500 metros – cfr.

matéria do quesito 13

34. A Ré procedeu à construção de muros de vedação, à colocação de esteios e rede, à renovação da rede já existente aquando da sua aquisição, à colocação de um portão, tudo nas propriedades que tem registadas em seu nome – cfr.

matéria dos quesitos 17, 18, 19, 20, 21 e 22.

35. A Ré AA procedeu ou mandou proceder ao corte ou abate de várias

centenas de árvores, nomeadamente, eucaliptos, pinheiros bravos e mimosas, existentes na parcela de terreno referida em 15.º - cfr. matéria do quesito 23.

(16)

36. Os prédios referidos de U) a Z) situam-se na parcela referida em 15.º -e são ocupados pela R.- cfr. matéria do quesito 16 e 27.

37. A Ré procedeu à terraplanagem da parcela de terreno referida em 29. – cfr. matéria do quesito 29

Ora, tal quadro factual, decorrente, por um lado, da não reapreciação da prova gravada e, por outro, da improcedência da pretensão do recorrente de ver alterada, nomeadamente com base na valoração da prova documental, as respostas aos pontos da matéria de facto questionados – implicando a não demonstração pela A.de que os terrenos em litígio eram efectivamente e na totalidade baldios – aliado à improcedência das razões de direito invocadas pela apelante – levaram a Relação a julgar a apelação improcedente,

confirmando inteiramente a sentença recorrida.

5. Novamente inconformada, interpôs a A. revista excepcional, que encerra – na parte que ora nos interessa – com as seguintes conclusões (questionando ainda, nas restantes conclusões, circunscritas ao plano do mérito, a matéria do ónus de prova nas acções negativas e o âmbito da presunção emergente do registo predial, nas causas em que se discute a natureza baldia (comunitária) dos terrenos ocupados):

1° Pretende a Autora a Revista Excepcional com fundamento e ao abrigo do disposto nas alíneas a) e c), do n° 1, do artigo 672° do Cód. Proc. Civil;

2° Com efeito, o douto Acórdão recorrido, ao ter rejeitado o recurso interposto pela Autora/Recorrente no que se refere à impugnação da matéria de facto, por entender que a Apelante, ora Recorrente, não cumpriu o ónus imposto pelo n° 2, alínea a), do artigo 640° do Cód. Proc. Civil, designadamente por, nas alegações do recurso de apelação, a recorrente não ter procedido à

indicação das "exactas" "passagens da gravação em que funda" o seu recurso para basear o alegado erro de julgamento com referência às provas gravadas - depoimentos testemunhais -, encontra-se em oposição ou contradição com o douto Acórdão, iá transitado em julgado, proferido pelo Supremo Tribunal de Justiça em 01/07/2014, no Processo n° 1825/09.7TBSTS.P1.S1, da 1ª Secção, em que é Relator o Exmº Senhor Doutor Juiz Conselheiro Gabriel Catarino - Acórdão fundamento -, conforme certidão judicial que se junta e cujo conteúdo se dá por integralmente reproduzido;

(17)

3° Ambos os Acórdãos - Acórdão recorrido e Acórdão fundamento - foram proferidos no domínio da mesma legislação e sobre a mesma questão

fundamental de direito - questão do ónus a carão do recorrente que impugne a decisão relativa à matéria de facto, imposto pelo artigo 640° n° 2, alínea a), do Cód. Proc. Civil, e não foi proferido acórdão de uniformização de

jurisprudência com ele conforme;

4° No douto Acórdão fundamento considera-se que o Tribunal de recurso não se deve abster de reapreciar a prova gravada ainda que o recorrente não indique, com "exactidão", as passagens da gravação em que se encontrem registados os depoimentos que impõem decisão diversa.

5° Assim, seguindo o entendimento explanado no douto Acórdão fundamento, a indicação, ainda que sem exactidão, das passagens da gravação em que funda o recurso para basear o erro de julgamento com referência às provas gravadas - depoimentos testemunhais - é suficiente para se considerar que o recorrente cumpriu o ónus imposto pelo artigo 640º, n° 2, alínea a), do Cód.

Proc. Civil, não havendo motivo ou razão para não se apreciar o recurso na parte relativa à impugnação da matéria de facto;

6º Deste modo, tendo a Autora/Recorrente, nas alegações do recurso que interpôs para o Tribunal da Relação de Guimarães, indicado as passagens da gravação em que se funda para sustentar ter havido erro na apreciação das provas gravadas (depoimentos testemunhais), feito menção das gravações em que tais depoimentos se encontram inseridos e feito um resumo dos

depoimentos das testemunhas que, no seu entendimento, serviam para contrariar a decisão de matéria de facto dada pelo Tribunal recorrido, deve entender-se que mesma cumpriu, no essencial, o ónus imposto pelo artigo 640°, n°2, alínea g), do Cód. Proc. Civil e, consequentemente, o recurso interposto, na parte relativa à impugnação da matéria de facto por erro na apreciação das provadas gravadas - depoimentos testemunhais -, devia, como deve, ser apreciado e decidido;

7° O douto Acórdão recorrido, ao entender que a indicação, por parte da Autora/Recorrente, nas alegações do recurso que interpôs para o Tribunal da Relação de Guimarães, das passagens da gravação em que se funda para sustentar ter havido erro na apreciação das provas gravadas (depoimentos testemunhais), a menção das gravações em que tais depoimentos se

encontram inseridos e o resumo dos depoimentos das testemunhas que, no seu entendimento, serviam para contrariar a decisão de matéria de facto dada pelo Tribunal recorrido, não cumpre o ónus imposto pelo artigo 640°, n° 2,

(18)

alínea a), do Cód. Proc. Civil, optou pela tese oposta à do Acórdão

fundamento, havendo, assim, oposição de julgados entre os dois Acórdão, verificando-se o requisito da alínea c), do n° 1, do artigo 672° do Cód. Proc.

Civil, devendo, assim, ser admitida a Revista Excepcional;

A entidade recorrida entende que se não verificam os pressupostos e admissibilidade da revista excepcional, pugnando ainda pela integral confirmação do decidido pelas instâncias.

Remetidos os autos à competente formação, considerou-se que – quanto a uma das questões que integravam o objecto da revista, relativa à impugnação da matéria de facto através da reapreciação dos depoimentos das testemunhas – não podia ter-se por verificado o requisito da dupla conformidade, inibidor do normal acesso ao STJ:

A primeira questão cuja apreciação vem proposta pelo requerente tem por objecto a imputação ao Tribunal da Relação de violação da lei processual por indevida rejeição do recurso de apelação na parte respeitante à reapreciação da prova testemunhal, em conformidade com a impugnação feita da decisão de 1ª instância, violando o art. 640º, nº2, do CPC.

Ora, quando a 2º instância é chamada a intervir para reapreciação das provas e da matéria de facto, nos termos dos arts. 640º e 662º do CPC, move- se no campo dos poderes, próprios e privativos, com o conteúdo e limites definidos por este último preceito, em ordem a assegurar um efectivo segundo grau de jurisdição em sede de matéria de facto.

Esses poderes da Relação, e respectivo uso ou não uso, próprios e privativos, como dito, não encontram correspondência na decisão de 1ª instância,

independentemente da convergência ou divergência sobre o julgamento dos vários pontos de facto, por isso que também são diferentes as normas

processuais por que se regem os respectivos julgadores.

Assim, embora haja uma decisão sobre a matéria de facto e outra que reaprecia o julgamento de facto, não poderá afirmar-se que, quando se questione o respeito pelas normas processuais dos arts. 640º e 662º pela Relação, que só esta pode violar, se possa falar de uma questão comum sobre a qual tenham sido proferidas duas decisões conformes.

(19)

E, perante a inexistência, quanto a tal questão processual, do requisito da dupla conformidade, teve-se por prejudicada, por ora, a apreciação dos

pressupostos específicos da revista excepcional – competindo ao relator apreciar, no âmbito de uma revista normal, da admissibilidade do recurso quanto à questão atinente à interpretação das normas adjectivas reguladoras do exercício pela 2ª instância do duplo grau de jurisdição quanto à matéria de facto e dos ónus nesta sede cominados ao recorrente.

6. O objecto da presente revista está, pois circunscrito à questão da

legalidade da interpretação normativa que a Relação fez acerca do seu poder dever de reapreciação da prova gravada, em função do

entendimento exigente seguido quanto ao conteúdo – e ao efeito

irremediavelmente preclusivo - do ónus imposto ao recorrente pela al.

a) do nº2 do art. 640º do CPC, cabendo-lhe indicar com exactidão as

passagens da gravação em que se funda, sob cominação de imediata rejeição do recurso, nessa parte.

O exercício efectivo pela 2ª instância do duplo grau de jurisdição quanto à decisão da matéria de facto – incluindo a eventual reapreciação de

depoimentos gravados ou registados, prestados oralmente em audiência e sujeitos à livre valoração do tribunal – inovatoriamente consagrado na reforma de 1995/96 foi acompanhado da indispensável cautela para prevenir o risco de um abuso – ou uso imoderado pelos recorrentes – de tal direito; ao

procurarem, na prática, provocar um novo julgamento, envolvendo a sistemática reapreciação global das provas produzidas.

Assim, para além de sempre ter vigorado um rigoroso ónus de delimitação do objecto da impugnação deduzida pelo apelante e de fundamentação

minimamente concludente de tal impugnação (traduzido na necessária e cabal indicação dos pontos de facto questionados e dos meios probatórios que

imponham decisão diversa sobre eles, complementado entretanto pela vinculação do recorrente a indicar qual o exacto sentido decisório que decorreria da correcta apreciação dos meios probatórios em causa, assim mostrando claramente onde estava situado o invocado erro de julgamento), estabelecia ainda o regime originário, emergente do DL 329-A/95 um ónus de

(20)

transcrição das passagens da gravação em que o recorrente se fundava para demonstrar a existência do erro na apreciação das provas gravadas ou

registadas (facultando-se assim ao Tribunal da Relação um suporte físico escrito, tendente a facilitar grandemente a tarefa de reapreciação dos depoimentos e, pela onerosidade da tarefa de transcrição, inteiramente a

cargo do recorrente, desmotivando impugnações manifestamente infundadas e ostensivamente inviáveis).

Por outro lado, procurou inviabilizar-se a possibilidade de formulação de convites ao aperfeiçoamento, geradores de incidentes dilatórios, no que se refere ao adequado cumprimento dos ónus a cargo do apelante, cabal e claramente definidos pela lei de processo, por se considerar tal possibilidade geradora de possíveis abusos e potenciadora de atrasos processuais: a falta de cumprimento adequado pelo recorrente dos ónus, claramente definidos na lei, seria, pois, indício de uma falta de consistência e seriedade na impugnação da matéria de facto que, sem mais, deveria ditar o imediato insucesso do recurso, nessa parte.

O artigo 690º-A do Código de Processo Civil foi posteriormente alterado pelo Decreto-Lei nº 183/2000, de 10 de Agosto: continuou a incumbir ao recorrente que pretenda impugnar a decisão de facto proferida em primeira instância especificar os concretos pontos de facto que considera incorrectamente julgados e os concretos meios probatórios, constantes do processo ou de registo ou gravação nele realizada, que imponham decisão sobre os pontos da matéria de facto impugnados diversa da recorrida. Mas, se os meios

probatórios invocados como fundamento de erro na apreciação das provas tiverem sido gravados, passou a caber-lhe, sob pena de rejeição do recurso, indicar os depoimentos em que se funda, por referência ao assinalado na acta, nos termos do disposto no nº 2 do artigo 522ºC.

Ou seja: a tarefa do recorrente foi substancialmente aligeirada, ao substituir-se o pesado ónus de transcrição pelo de mera localização dos

depoimentos em que se funda para invocar e demonstrar o pretendido erro de julgamento – deixando, consequentemente, a Relação (perante a evidente impossibilidade prática de se proceder à transcrição oficiosa) de dispor de um suporte escrito como base do exercício da sua função.

O artigo 690º-A foi revogado pelo Decreto-Lei nº 303/2007, de 24 de Agosto, que, em sua substituição, acrescentou ao Código o artigo 685º-B, mantendo os ónus referidos (indicação dos concretos pontos de facto incorrectamente

julgados e dos concretos meios probatórios, constantes do processo ou de

(21)

registo ou gravação nele realizada, que implicassem decisão diversa da

proferida); mas determinando – em termos, aliás, de duvidosa inteligibilidade (ao admitir o legislador como possível a impossibilidade de identificar de forma precisa e separada os vários depoimentos e impondo, nesse caso, a transcrição às partes) - que, sendo possível a identificação precisa e separada dos depoimentos, cabe ao recorrente, sob pena de imediata rejeição do

recurso no que se refere à impugnação da matéria de facto, indicar com exactidão as passagens da gravação em que se funda, sem prejuízo da possibilidade de, por sua iniciativa, proceder à respectiva transcrição.

O actual CPC não trouxe consigo alteração relevante no ónus de delimitação e fundamentação do recurso em sede de matéria de facto, já que o nº 1 do artigo 640º:

– manteve, sob pena de rejeição do recurso quanto à matéria de facto, o ónus de indicação obrigatória dos concretos pontos de facto que o recorrente considera incorrectamente julgados (al. a) e de especificação dos concretos meios probatórios, constantes do processo ou de registo ou gravação nele realizada, que impunham decisão sobre os pontos de facto impugnados diversa da recorrida (al. b), exigindo ainda ao recorrente que especifique expressamente a decisão que, no seu entender, deve ser proferida sobre as questões de facto impugnadas (al. c);

- e à mesma rejeição imediata conduz, no actual CPC, a falta de indicação exacta das passagens da gravação em que se funda o recurso, sem prejuízo de o recorrente poder apresentar a “transcrição dos excertos”

relevantes.

Percorrendo, deste modo, os regimes processuais que têm vigorado quanto a este tema, é possível distinguir um ónus primário ou fundamental de

delimitação do objecto e de fundamentação concludente da

impugnação - que tem subsistido sem alterações relevantes; e um ónus

secundário – tendente, não tanto a fundamentar e delimitar o recurso, mas a possibilitar um acesso mais ou menos facilitado aos meios de prova gravados relevantes para a apreciação da impugnação deduzida – que tem oscilado, no seu conteúdo prático, ao longo dos anos e das várias reformas – indo desde a transcrição obrigatória dos depoimentos até uma mera indicação e localização das passagens da gravação relevantes.

(22)

Ora, se é certo que – relativamente ao cumprimento de tais ónus, primário e secundário – não se permite a formulação de um sistemático convite ao

aperfeiçoamento de eventuais deficiências, não poderá deixar de ser avaliada diferentemente a falha da parte consoante ocorra num ou noutro âmbito:

como é óbvio, a ausência de objecto delimitado e de fundamentação

minimamente concludente da impugnação deduzida deverá ditar, de forma inevitável e em termos proporcionais, a liminar rejeição do recurso quanto à matéria de facto.

Pelo contrário, o incumprimento do referido ónus secundário, tendente apenas a facilitar a localização dos depoimentos relevantes no suporte técnico que contem a gravação da audiência, deverá ser avaliado com muito maior cautela: é que, por um lado, o conceito usado pela lei de processo (exacta indicação das passagens da gravação) é, até certo ponto, equívoco,

pressupondo a necessidade de distinguir entre a (insuficiente) mera indicação e a indicação exacta das passagens relevantes dos depoimentos gravados; por outro lado, por força do princípio da proporcionalidade, não parece justificável a imediata e liminar rejeição do recurso quando – apesar de a indicação do recorrente não ser, porventura, totalmente exacta e precisa - não exista dificuldade relevante na localização pelo Tribunal dos excertos da gravação em que a parte se haja fundado (como ocorrerá normalmente nos casos, como o dos autos, em que tal indicação do recorrente das

passagens da gravação, é complementada com uma extensa transcrição, em escrito dactilografado, dos depoimentos relevantes para o julgamento do objecto do recurso).

Saliente-se que, na interpretação da norma que consagra este ónus de indicação exacta a cargo do recorrente que impugna prova gravada, não pode deixar de se ter em consideração a filosofia subjacente ao actual CPC,

acentuando a prevalência do mérito e da substância sobre os requisitos ou exigências puramente formais, carecidos de uma interpretação

funcionalmente adequada e compaginável com as exigências resultantes do princípio da proporcionalidade e da adequação - evitando que deficiências ou irregularidades puramente adjectivas impeçam a composição do litígio ou acabem por distorcer o conteúdo da sentença de mérito, condicionado pelo funcionamento de desproporcionadas cominações ou preclusões processuais.

Esta pretendida eliminação de factores de rigidez, formalismo exacerbado e prevalência da forma sobre o fundo – expressamente afirmada no preâmbulo da Proposta de Lei 113/XII - é aflorada, por exemplo, nas normas constantes

(23)

dos arts. 146º, nº2, e 193º, impondo ao juiz o poder-dever de facultar o suprimento de vícios formais, devidos a culpa leve e cujo suprimento não

perturbe o andamento do processo, bem como o de suprir oficiosamente o erro na mera qualificação jurídica do meio processual utilizado pela parte

(praticado um acto em tempo e revestindo o mesmo os requisitos ou

pressupostos essenciais, não deve obstar ao seu aproveitamento o simples facto de a parte o ter qualificado juridicamente de modo errado ou

inadequado) ; veja-se ainda a possibilidade adicional e reforçada de suprimento prevista transitoriamente no art. 3º da Lei 41/2013.

Por outro lado, esta ideia base, segundo a qual não deve adoptar-se uma interpretação rígida e desproporcionadamente exigente de ónus ou

cominações de natureza essencialmente formal ou secundária – devendo adoptar-se interpretação conciliável com as exigências de um princípio fundamental de proporcionalidade e adequação – vem encontrando

acolhimento claro na jurisprudência recente deste Supremo, nomeadamente a propósito do grau de exigência e intensidade do ónus do recorrente que

presentemente nos ocupa.

Assim, no acórdão invocado pelo recorrente como acórdão fundamento (o Ac. de 1/7/14, proferido no P. 1825/09.7TBSTS.P1.S1) considerou-se que:

O legislador exige que o recorrente seja meticuloso, incisivo e concernido na forma como impugna a decisão de facto, impondo-lhe a especificação dos concretos pontos da matéria de facto que considera incorrectamente julgados e quais os concretos meios probatórios, constantes e existentes no processo, que impõem decisão factual diversa, exigindo, também, que o tribunal de recurso seja meticuloso e consciencioso no momento em que procede à reapreciação da prova.

II - À 2.ª instância cabe proceder ao julgamento da decisão de facto por forma a corrigir erros de julgamento patentes nos tribunais de 1.ª instância, mas dentro de limites que não podem exacerbar ou expandir-se para além do que a lei comina.

III - Não podendo o julgamento a que o tribunal de recurso procede redundar num novo e total julgamento da causa, não deixa de ser menos verdade que, tal como o legislador entendeu dever regular o recurso da decisão de facto – cf., v.g, arts. 690.º-A e 522.º-C, do CPC, na redacção emergente do DL n.º 303/2007, de 24-08 –, não pode esse tribunal eximir-se à reapreciação da prova, escoltado e respaldado numa ausência de indicação expressa das

passagens das gravações em que se encontrem registados os depoimentos que

(24)

impõem decisão diversa.

IV - Se, em concreto, se extrai das alegações de recurso que é feita uma resenha dos depoimentos das testemunhas que, no juízo do recorrente, serviram para contraditar a solução que o tribunal tinha conferido aos enunciados de facto a que devia dar resposta e fez menção das

gravações em que tais depoimentos se encontravam inseridos, o

recorrente cumpriu, no essencial, o comando legal, pelo que o tribunal deveria ter procedido à reapreciação da decisão de facto.

Em idêntico sentido – e num caso substancialmente análogo à situação dos presentes autos – considerou o STJ no Ac. de 9/7/15, proferido no P.

284040/11.0YIPRT.G1.S1:

Tendo o apelante, nas suas alegações de recurso, (i) identificado os pontos de facto que considerava mal julgados, por referência aos quesitos da base instrutória, (ii) indicado o depoimento das

testemunhas, que entendeu mal valorados, (iii) fornecido a indicação da sessão na qual foram prestados e do início e termo dos mesmos, apresentado a sua transcrição, (iv) bem como referido qual o resultado probatório que nos seu entender deveria ter tido lugar, relativamente a cada quesito e meio de prova, tanto bastava para que a Relação tivesse procedido à reapreciação da matéria de facto, ao invés de a rejeitar.

Ora, da leitura das alegações e respectivas conclusões, atrás transcritas, apresentadas no recurso de apelação resulta claramente que o recorrente identificou os pontos de facto que considera mal julgados, por referência aos quesitos da base instrutória, indicou os depoimentos das testemunhas que entende terem sido mal valorados, bem como qual deveria ter sido o resultado probatório, relativamente a cada quesito e a cada meio de prova, se tais meios probatórios tivessem sido devidamente valorados .

No que respeita ao ónus secundário de indicação exacta das passagens da gravação em que funda a impugnação, forneceu a indicação da sessão na qual foram prestados e do início e termo dos depoimentos, conforme o estabelecido em acta, discutindo o seu sentido e valoração ao longo da alegação

apresentada, e apresentou transcrição elaborada por empresa especializada na realização de tal tarefa, a fls. 2044 e segs., da qual consta, relativamente a cada depoimento, a sua localização no instrumento técnico que incorporou a gravação da audiência.

(25)

Ora, neste preciso circunstancialismo, considera-se que está adequadamente cumprido o núcleo essencial do ónus de indicação das passagens da gravação tidas por relevantes, já que nenhuma dificuldade séria se vislumbra na

localização pelo Tribunal, ao exercer o duplo grau de jurisdição sobre a matéria de facto, dos excertos da gravação em que a parte fundou a impugnação que deduziu: na verdade, a Relação dispõe de um suporte

escrito que reproduz os depoimentos em causa (em termos idênticos aos que decorriam da redacção originária do art. 690º- A do CPC, na qual se

consagrava precisamente este ónus de transcrição a cargo do recorrente), dispondo ainda de todos os dados necessários para a respectiva localização no suporte técnico que contém a gravação da audiência (veja-se, nomeadamente , o índice e as referências temporais que constam de fls. 2046 e seguintes).

E, assim sendo, não pode subsistir o segmento do acórdão recorrido em que se decidiu que o Tribunal estava legalmente impossibilitado de reapreciar os depoimentos em causa, em consequência do incumprimento do ónus constante da alínea a) do nº2 do art. 640º do CPC.

7. Nestes termos e pelos fundamentos apontados, concede-se provimento à revista, na parte em que a mesma tinha por objecto a violação da norma constante do art. 640º, nº2, al. a) do CPC, revogando, consequentemente, o acórdão recorrido no segmento em que se decidiu não proceder à

reapreciação dos depoimentos invocados pelo apelante, determinando que a Relação proceda à integral apreciação da impugnação da decisão sobre a matéria de facto, deduzida no recurso de apelação, pelos mesmos juízes, se for possível.

Custas da presente revista pela entidade recorrida.

Lisboa, 29 de Outubro de 2015

Lopes do Rego (Relator) Orlando Afonso

Távora Victor

Referências

Documentos relacionados

Informamos aos usuários do PLAMES - Assistidos, Pensionistas e Vinculados de FURNAS - a listagem dos novos Credenciamentos e Descredenciamentos médicos:.. I

An important factor when considering synergies and the structure of the deal is the acquisition price, its importance resides in the fact that if the price

DO CONVENCIONAL AO DIGITAL: E-COMMERCE NO FMCG MOSTRA-SE CRUEL PARA OS RETARDATÁRIOS. Alexandre Nilo da Fonseca, Presidente

Para os agentes químicos que tenham "VALOR TETO" assinalado no Quadro n° 1 (Tabela de Limites de Tolerância) considerar-se-á excedido o limite de tolerância, quando qualquer

Para um dado capacitor, a constante de tempo será tanto maior quanto maior for o valor da resistência do resistor ligado em série com o capacitor... A constante de tempo

Com base nos dados disponíveis, os critérios de classificação não são preenchidos. Classificação de acordo com o regulamento (CE) N.º 1272/2008 [CLP] O produto não

O incumprimento, pela recorrente, deste ónus de especificação dos concretos meios probatórios que impõem decisão sobre os pontos da matéria de facto impugnados diversa da

Conforme demonstrado neste estudo os pontos de monitoramento são localizados próximo ao lançamento do esgoto, em distância máxima de 400 metros, entretanto a