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GUERRA E PAZ PORTUGAL /ANGOLA

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W. S. VAN DER WAALS

GUERRA E PAZ

PORTUGAL /ANGOLA 1961-1974

Tradução de Helena Maria Briosa e Mota com colaboração de Ricardo de Saavedra

(2)
(3)

Tábua de Conteúdos

Abreviaturas. . . . 15

Prólogo. . . . 21

Prefácio . . . . 27

CAPÍTULO 1 Ambiente físico e humano e enquadramento histórico. . . . 35

Geografia. . . . 38

Clima . . . . 38

Rios. . . . 39

Vegetação e fauna. . . . 40

Recursos naturais . . . . 40

Regiões geográficas . . . . 42

A planície costeira . . . . 42

As estepes desérticas do Sul . . . . 43

A savana central. . . . 45

A floresta tropical a norte e a savana tropical. . . . 45

Divisões administrativas . . . 46

Padrões populacionais. . . . 46

Os brancos e mestiços . . . . 47

A população negra. . . . 48

Os bacongos. . . . 50

Os ambundos. . . . 51

Os ovimbundos. . . . 51

(4)

Outros grupos . . . . 54

História antiga (1482-1926) . . . . 56

Descoberta, expansão e resistência. . . . 57

O tráfico de escravos . . . . 60

Expedições africanas e a Conferência de Berlim (1850-1890). . . . 62

Conquista, colonização e administração (1885-1926). . . 67

CAPÍTULO 2 A tempestade congregadora (1926-1961). . . . 75

Introdução. . . . 75

Salazar e o Estado corporativo . . . . 76

A Constituição de 1933 e os grupos políticos de interesse. . 79

A política do Estado Novo em África – o Luso-Tropicalismo 82 Legislação colonial . . . . 84

Política externa e relações internacionais. . . . 86

Angola na década de 1950. . . . 88

O governo de Angola. . . . 88

Crescimento económico, imigração branca e problemas laborais. . . . 91

Educação e actividade missionária . . . . 97

A crítica internacional – Portugal e as Nações Unidas. . . . . 99

Nacionalismo em Angola (1945-1961) . . . . 104

O MPLA . . . . 107

A UPA. . . . 109

Outros movimentos etnonacionalistas. . . . 111

Factores que desencadearam a revolta. . . . 112

CAPÍTULO 3 1961 – Um ano crítico. . . . 119

Introdução. . . . 119

Insurreição 1961 . . . . 121

MPLA – 4 de Fevereiro de 1961. . . . 122

Revolta da UPA – 15 de Março de 1961 . . . . 124

(5)

Análise da campanha da UPA. . . . 130

A reacção portuguesa . . . . 137

1961 – Um olhar retrospectivo . . . . 151

A reacção internacional. . . . 153

As Nações Unidas. . . . 153

Os aliados da NATO e o Brasil. . . . 155

África . . . . 158

Outros territórios portugueses ultramarinos . . . . 159

Guiné . . . . 159

Moçambique . . . . 160

Goa. . . . 162

O MPLA . . . . 165

Outros partidos nacionalistas. . . . 166

Conclusão . . . . 167

CAPÍTULO 4 A luta revolucionária (1962-1966). . . . 169

Introdução. . . . 169

UPA, FNLA e GRAE . . . . 170

FNLA, GRAE e reconhecimento internacional. . . . 173

Tentativas de expansão etnogeográfica. . . . 177

A FNLA . . . . 178

As divisões no seio do GRAE. . . . 183

O GRAE em 1965 . . . . 187

O MPLA . . . . 189

Brazzaville e a Frente de Cabinda. . . . 195

Reconhecimento internacional. . . . 196

Nova frente no Leste de Angola. . . . 198

A UNITA. . . . 199

Acção portuguesa contra-revolucionária entre 1962 e 1966. 203 Acção militar e afins . . . . 205

Reformas e desenvolvimento socioeconómico . . . . 221

Desenvolvimento económico. . . . 225

Relações internacionais . . . . 231

(6)

Portugal e os Estados Unidos da América . . . . 232

Portugal e os outros membros da NATO. . . . 235

Portugal e a África do Sul . . . . 237

Portugal e África. . . . 239

Conclusão . . . . 241

CAPÍTULO 5 A luta revolucionária (1967-1974). . . . 245

Introdução. . . . 245

O MPLA . . . . 246

Organização interna político-militar e ideologia . . . . 249

Organização externa e apoio. . . . 255

Organização militar e actividade entre 1967-1971. . . . 260

Planificação da guerra mobilizada. . . . 268

Conselho Supremo para a Libertação de Angola. . . . 270

Estagnação e divisão entre 1973-1974. . . . 271

FNLA/GRAE/ELNA. . . . 275

Organização político-militar e ideologia. . . . 277

Apoio externo e organização . . . . 279

Organização militar e actividade. . . . 283

UNITA . . . . 286

Organização político-militar e ideologia. . . . 289

Apoio externo e organização . . . . 293

Actividade militar . . . . 296

A alegada cooperação entre a UNITA e Portugal . . . . 299

Luta portuguesa contra a subversão entre 1967 e 1974. . . . 301

Caetano e a adopção de uma nova política . . . . 303

Acção militar e outras. . . . 314

Organização e acção militar . . . . 318

Reassentamento e reagrupamento da população. . . . 333

Acção psicológica. . . . 340

Acção empreendida pela DGS . . . . 342

Envolvimento militar da África do Sul . . . . 342

As reformas constitucionais de 1972. . . . 354

(7)

Assentamento de brancos . . . . 358

Educação. . . . 360

Desenvolvimento económico. . . . 360

Relações internacionais . . . . 363

Perspectiva geral. . . . 370

Natureza da guerra . . . . 371

Fases da guerra. . . . 371

Critérios de êxito. . . . 372

Ambiente. . . . 373

Apoio popular . . . . 374

Organização e coesão. . . . 375

Apoio externo. . . . 377

O papel do governo. . . . 379

Autopreservação e aniquilação do inimigo. . . . 379

Áreas estratégicas das bases . . . . 380

Mobilização das massas . . . . 381

Apoio externo. . . . 381

Esforço de unidade. . . . 382

Conclusão . . . . 383

CAPÍTULO 6 O golpe militar de 25 de Abril de 1974 . . . . 385

Introdução. . . . 385

A situação de segurança na Guiné. . . . 387

A situação de segurança em Moçambique . . . . 393

A crise social e política em Portugal . . . . 397

O Movimento das Forças Armadas (MFA). . . . 400

Spínola e Portugal e o Futuro . . . . 403

O golpe militar de Abril de 1974 . . . . 408

Angola depois do 25 de Abril de 1974 . . . . 413

Conclusão. . . . 416

Epílogo. . . . 419

(8)

APÊNDICE

Guerra revolucionária: orientação e síntese de princípios

e critérios . . . . 426

Introdução. . . . 426

Terminologia . . . . 427

Natureza e fases dos modelos revolucionários . . . . 431

O modelo ortodoxo, comunista ou prolongado . . . . 432

O modelo cubano. . . . 439

O modelo urbano. . . . 440

Estratégias de oposição à guerra revolucionária . . . . 442

Princípios estratégicos de McCuen. . . . 443

Objectivo político claramente definido . . . . 444

Aniquilar o inimigo e preservar as próprias forças . . . . . 445

Estabelecimento de bases em áreas estratégicas . . . . 445

As massas deverão ser mobilizadas . . . . 445

Procurar apoio externo . . . . 446

Unidade de esforços . . . . 446

Unidade de princípios. . . . 447

O Exército Português . . . . 447

Variáveis dependentes mais importantes. . . . 449

Apoio popular . . . . 450

Organização . . . . 450

Coesão . . . . 451

Apoio externo. . . . 451

Ambiente. . . . 452

O papel do governo. . . . 453

Conclusão. . . . 454

Bibliografia seleccionada. . . . 455

Lista de mapas . . . . 465

Índice remissivo . . . . 466

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Capítulo 1

Ambiente físico e humano e enquadramento histórico

D

urante o mês de Novembro de 1975, Portugal, assim como a maioria dos brancos de Angola, deixaram esta desditosa nação depois de nela terem permanecido quase cinco séculos, contados a partir da descoberta, em 1482, da foz do rio Congo (Zaire) pelo explorador português Diogo Cão. Cinco séculos de colonialismo tinham contribuído de maneira decisiva para o conflito angolano que começara em 1961.

Este capítulo integra um breve estudo que descreve o enquadramento histórico e o ambiente natural, realçando alguns dos factores que tiveram influência directa no desfecho do conflito angolano1. Utilizam -se igualmente mapas ilustrativos para facilitar a compreensão.

1 Para tratar os aspectos geográficos e étnicos de Angola utilizaram -se as seguintes fontes: Herrick, A. B. et al., Area Handbook for Angola (US Govern- ment Printing Office, Washington, 1967); Kaplan, I. (ed.), Angola: A Country Study (The American University, Washington, 1979); Ribeiro, O., A Colonização de Angola e o Seu Fracasso (Imprensa Nacional, Lisboa, 1981); Abshire, D. M. e Samuels, M. A. (eds.), Portuguese Africa, a Hanbook (Pall Mall Press, London, 1969); Henderson, L. W., Angola: Five Centuries of Conflict (Cornell University Press, Ithaca, 1979) e Redinha, J., Distribuição Étnica de Angola (Centro de Informação e Turismo de Angola, Luanda, 1971).

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GUERRA E PAZ – PORTUGAL /ANGOLA

GEOGRAFIA

Angola é um extenso país mais ou menos quadrado, que se espraia África adentro a partir do Sudoeste da costa atlântica, e é limitado pelo Zaire, Zâmbia e Namíbia. O enclave de Cabinda, embora desligado de Angola, faz constitucionalmente parte do país, e tem o Congo -Brazzaville e o Zaire como vizinhos.

Angola situa -se entre os trópicos de Câncer e de Capricórnio e a maior parte do país integra o extenso planalto africano. Com uma área de 1 246 700 quilómetros quadrados, tem 14 vezes o tamanho de Portugal e, depois do Zaire, é o segundo maior país de África a sul do Sara.

A extensão das fronteiras atinge os 4747 quilómetros e a sua linha costeira de 1650 quilómetros é a maior de qualquer um dos países da África Ocidental. Em regra, as fronteiras seguem os cursos dos rios, excepto no Sul e no Leste, onde são demarcadas pelas linhas convencionais da latitude e da longitude. Como tantas vezes acontece neste continente, as fronteiras artificiais não respeitaram afinidades tribais, muito menos os territórios tribais tradicionais.

Cerca de 60 por cento do território de Angola é constituído por uma zona montanhosa central que se estende entre os 900 e os 1500 metros acima do nível do mar e um subplanalto com declives abruptos que se precipita em direcção ao Atlântico.

No restante território existe uma faixa costeira que possui entre cinquenta e duzentos quilómetros de largura e que atinge uma altitude de cerca de 400 metros acima do nível do mar, e um ainda mais elevado planalto, a 2500 metros.

CLIMA

Dado o facto de se situar na faixa tropical, Angola possui duas estações distintas. De Maio/Junho a Setembro vive -se um

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AMBIENTE FÍSICO E HUMANO E ENQUADRAMENTO HISTÓRICO

período frio e seco, com precipitação limitada. É a estação do cacimbo. Os restantes meses têm como característica as altas temperaturas e a queda de chuva (estação das chuvas). Con- tudo, na faixa costeira da zona sul, nota -se fraca precipitação durante todo o ano, basicamente em resultado da corrente fria de Benguela e a influência do deserto do Calaári. De um modo geral, as temperaturas variam de acordo com a altitude e tendem a ser mais elevadas perto da costa. As maiores pre- cipitações verificam -se na floresta do Maiombe, em Cabinda (1000 a 1500 mm), no planalto nortenho perto de Carmona (Uíge), na província oriental da Lunda e na zona montanhosa central. Pelo contrário, a precipitação na região costeira varia entre os 650 mm em Cabinda e apenas cerca de 50 mm em Moçâmedes (Namibe).

RIOS

Apesar dos padrões de precipitação, Angola é atravessada por uma rede de rios, a maior parte dos quais nasce na região mon- tanhosa central. Os mais importantes são os rios que atraves- sam a zona ocidental do país em direcção ao mar. As hidrovias constituem uma fonte de poder hidroeléctrico e um meio de transporte limitado para o interior, abastecendo da tão neces- sária água a zona costeira, que é arenosa. O rio Cuanza é o mais importante devido ao valor dos seus regadios, à capacidade de gerar poder hidroeléctrico, e ainda pelos 220 quilómetros de curso navegável.

Existem vários rios de importância regional, entre os quais o Zambeze e o Cuando, que servem de fronteira natural a sudeste com a Zâmbia, o Cubango, que em parte faz fronteira entre Angola e a Namíbia, e o Cunene, que igualmente con- tinua a mesma fronteira ao longo de 300 quilómetros. Angola está separada do Zaire pelos rios Cassai, Cuango e Zaire, sendo

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GUERRA E PAZ – PORTUGAL /ANGOLA

este último navegável ao longo de 150 quilómetros. Ao longo dos maiores rios, especialmente a sudeste, existem grandes áreas de planícies aluviais que são inundadas e ficam com lama durante as estações das chuvas.

VEGETAÇÃO E FAUNA

A maior parte do país é coberta por pradaria tropical e vegeta- ção herbácea de folha caduca na zona de savana. O interior de Angola, na sua região central, é de savana, e nas zonas mais eleva- das há vegetação densa de acácias. Floresta tropical encontra -se apenas na área do Maiombe, em Cabinda; contudo, na região dos Dembos, aparece a floresta compacta e a vegetação de savana com maciços de espinheiros densos, tal como no Nordeste da província da Lunda.

Angola possui grande variedade de fauna selvagem incluindo o elefante, o hipopótamo, o rinoceronte, o búfalo, a zebra, o leão, o leopardo e numerosas espécies de antílopes. Igualmente, a costa angolana é ricamente dotada de peixe, em grande medida devido à corrente fria de Benguela. Os rios têm igualmente grande quantidade de peixe de água doce, de espécies variadas.

RECURSOS NATURAIS

Abençoado pela abundância de recursos naturais, o país pode produzir alimentação suficiente para as suas necessidades, sendo os excedentes exportados. O mesmo se aplica à energia, com abundantes fontes de poder hidroeléctrico e à riqueza das reservas de petróleo.

Angola é um dos territórios mais ricos em minerais no Sul de África. Os extensos depósitos de minerais foram o principal motivo que levou à luta pelo controlo militar, territorial, comercial

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AMBIENTE FÍSICO E HUMANO E ENQUADRAMENTO HISTÓRICO

e político do país. A pesquisa da prata esteve na base da primeira fase de ocupação portuguesa. Contudo, Angola tornar -se -ia no centro das atenções entre 1960 e 1970, quando se confirmou a existência de outros recursos, nomeadamente diamantes, petróleo e minério de ferro. Para além de que existem ainda outros minerais importantes, onde se incluem cobre, manganésio, fosfatos e sal.

Angola, o paraíso dos pescadores. Exemplares de tarpão (Megalops atlanticus) apanhados na foz do rio Cuanza, a sul de Luanda.

(Foto do Autor.)

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GUERRA E PAZ – PORTUGAL /ANGOLA

A partir de 1974 Angola passou a ser considerado um dos potenciais gigantes económicos da África Subsariana, cedendo apenas lugares de destaque à Nigéria, Zaire e África do Sul1.

REGIÕES GEOGRÁFICAS

Uma breve descrição das quatro regiões geográficas de Angola servirá para identificar o ambiente onde o conflito se desenrolou, além de fornecer dados que permitam entender as tendências étnicas e geográficas que se tornariam vitais para o desfecho do conflito.

A PLANÍCIE COSTEIRA

A planície costeira seca, que inclui a faixa ocidental de Cabinda, recebeu os primeiros colonos europeus e começou por conse- guinte a ser logo desenvolvida antes do resto de Angola. Devido ao clima desfavorável, esta região foi pouco ocupada pela popula- ção local até ao estabelecimento de cidades, mantendo contudo a sua importância devido às instalações administrativas e de importação -exportação, e ainda às infra-estruturas associadas.

Sendo baixa a precipitação, igualmente a vegetação é escassa.

A sul de Benguela estende -se o deserto de Moçâmedes, extensão natural do deserto do Namibe, e no Norte a planície muda gradualmente para estepe. Nos vales dos rios pratica -se alguma agricultura, existindo numerosas aldeias piscatórias ao longo da costa.

Lobito e Luanda destacam -se entre os melhores portos da costa ocidental africana, que servem as populações do interior

1 De Villiers, C. F., «Three Potential Black Giants», in Bulletin of the Africa Institute of South Africa, No. 10, 1974, pp. 413 -417.

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AMBIENTE FÍSICO E HUMANO E ENQUADRAMENTO HISTÓRICO

a norte e a sul. A linha do Caminho -de -Ferro de Luanda liga o porto a Malanje, a 450 quilómetros para oriente, enquanto o Lobito é o términus da linha de Benguela, que divide o país ao meio ao longo dos seus 1348 quilómetros de comprimento, unindo -se à rede de caminhos -de -ferro que atravessa o continente e liga ao porto da Beira, em Moçambique, no oceano Índico, a Dar es Salaam, na Tanzânia, e indirectamente ao sistema ferroviário da África do Sul. O porto de Moçâmedes (Namibe), no fim da rede de caminhos -de -ferro com o mesmo nome, serve o Sul de Angola. Existem vários outros pontos com bons locais para anco- ragem, sendo, contudo, os portos muito pouco desenvolvidos.

AS ESTEPES DESÉRTICAS DO SUL

A região a sul do planalto da Huíla é arenosa e seca, excepto nas zonas dos cursos dos maiores rios. O desenvolvimento é limitado devido ao esporádico fornecimento de água e à fraca existência

Cena rural no planalto da Huíla. (Foto do Autor.)

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de redes de transporte, embora seja uma área ideal para o incre- mento da pecuária. As maiores artérias de comunicação são os rios Cunene e Cubango, que nascem nas terras altas do centro do país. Durante a estação das chuvas, os seus afluentes originam planícies alagadas pelas cheias. A este do rio Cubango, onde a fartura de água é maior, encontra -se vegetação mais luxuriante.

Planalto de Malanje

Planalto de Benguela

Planalto da Huíla Serra da Humpata

Angola: topografia

segundo planalto ou planalto central primeiro planalto subplanalto planície costeira

Legenda

Milhas

Quilómetros

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AMBIENTE FÍSICO E HUMANO E ENQUADRAMENTO HISTÓRICO

A SAVANA CENTRAL

O largo planalto central de savana possui clima favorável e solo fértil e, naturalmente, a maior densidade populacional do país. A linha de Benguela, que se bifurca nessa zona, tornou -se artéria vital complementada pelas linhas do Caminho -de -Ferro de Luanda e de Moçâmedes, se bem que as comunicações norte -sul sejam, de um modo geral, abaixo do desejável. As con- dições climatéricas favoráveis e o potencial agrícola das zonas mais elevadas das terras altas do centro do país favoreceram o estabelecimento das populações.

A metade oriental de Angola é um planalto relativamente plano e amplo de terreno arenoso. A vegetação é de savana, na sua maioria, podendo encontrar -se arbustos densos à beira dos rios, especialmente a nordeste. No centro da indústria diamantífera estabeleceu -se a cidade do Dundo, que mantém franco crescimento.

A FLORESTA TROPICAL A NORTE E A SAVANA TROPICAL

Esta região, devido à sua situação, faz parte do sistema de dre- nagem do Zaire. O terreno é desfavorável e o clima inóspito, com elevados índices de pluviosidade, temperatura e humidade.

Por estes motivos, a população encontra -se demasiado dispersa.

A floresta tropical está limitada à zona nordeste de Cabinda e a algumas partes a sul do rio Zaire. O resto da região é monta- nhosa, coberta por densa savana tropical nos vales e nas margens dos rios. Contudo, mantém -se uma zona economicamente importante devido às plantações de café, tendo em Carmona (Uíge) o seu principal foco de crescimento.

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GUERRA E PAZ – PORTUGAL /ANGOLA

DIVISÕES ADMINISTRATIVAS

Em meados dos anos 1960 Angola dividia -se em quinze distritos (actualmente províncias) organizados com intuitos administra- tivos. Para facilitar a referência, apresentamo -los abaixo, com os nomes pós -independência entre parêntesis.

Distrito Capital do Distrito Benguela Benguela

Bié Silva Porto (Cuíto)

Cabinda Cabinda

Cuando-Cubango Serpa Pinto (Menongue) Cuanza Norte Salazar (N’Dalatando) Cuanza Sul Novo Redondo (Sumbe) Huambo Nova Lisboa (Huambo) Huíla Sá da Bandeira (Lubango) Luanda Luanda

Lunda Henrique de Carvalho (Saurimo) Malanje Malanje

Moçâmedes (Namibe) Moçâmedes (Namibe)

Moxico Luso (Luena)

Uíge Carmona (Uíge)

Zaire São Salvador do Congo (M’Banza Congo)

PADRÕES POPULACIONAIS

Devido ao seu tamanho, Angola foi sempre um país de baixo índice populacional. De acordo com o censo de 1960, a popu- lação mantinha -se, no seu total, um pouco abaixo dos cinco milhões, dos quais 95,3 por cento eram negros, 3,6 por cento brancos e 1,1 por cento mestiços. Num outro censo levado a cabo em 1970 e em contexto de guerra, a população foi estimada em 5,65 milhões, com uma densidade de 4,53 por quilómetro

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AMBIENTE FÍSICO E HUMANO E ENQUADRAMENTO HISTÓRICO

quadrado, mas sem qualquer distinção entre grupos étnicos. Por volta de 1974 o número de brancos e de mestiços estimava -se entre 450 mil e 65 mil, respectivamente1. Verificou -se que a maioria da população se instalava no planalto central. A zona árida a oriente e a zona húmida a norte apresentavam escasso índice populacional.

Esta desigualdade na distribuição constituiu factor impor- tante no conflito que se desenvolveu entre 1961 e 1974.

Em 1960, cerca de 11 por cento da população vivia em 29 cen- tros urbanos, concentrados nas províncias costeiras de Luanda, Benguela e Moçâmedes. A população rural era mais densa nos distritos do interior da Huíla, Huambo, Malanje e Bié, com cerca de 45 por cento do total dos habitantes. Em contraste nítido com os distritos do Sul e do Leste, que cobriam 52 por cento da área de terreno, apenas 16 por cento da população estava lá instalada. Por volta de 1970, 90,8 por cento da população de Angola vivia em 47,1 por cento da totalidade do território2.

OS BRANCOS E MESTIÇOS

As comunidades brancas e mestiças concentravam -se basica- mente nas zonas central e ocidental de Angola, constituindo o segmento mais urbanizado da população. Enquanto o distrito de Luanda contava com 30 por cento dos brancos e 35 por cento dos mestiços, os outros 12 por cento viviam principalmente em quatro outras cidades – Nova Lisboa (Huambo), Lobito, Benguela e Sá da Bandeira (Lubango). Um número bastante

1 Bender, G. J., Angola under the Portuguese – The Myth and the Reality, (Heinemann Educational Books Ltd., Londres, 1978), p. 228. Bender estima que a população portuguesa em 1974 fosse de 335 mil.

2 Costa Oliveira, J. E. da, «Breve Panorâmica da Situação Económica e Financeira de Angola», in Estado de Angola, Panorâmica Sócio -Económica de Angola em 1971 (Governo de Angola, Luanda, 1972), pp. 125 -131.

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elevado de população branca habitava na área de produção de café, a norte, e o resto espalhava -se perto dos aldeamentos urbanos no Sudoeste e no Centro de Angola.

Em 1960 as comunidades brancas, na sua maioria imigrantes de Portugal, haviam chegado há relativamente pouco tempo.

Mais de metade vivia em Angola há menos de quinze anos, envol vendo -se principalmente no comércio, na indústria e no governo ou gestão dos serviços municipais. Foram poucos os que se dedicaram à agricultura, com excepção dos das planta- ções de café. Muitos dos imigrantes eram pouco alfabetizados e trabalhadores inexperientes.

O tamanho da população de mestiços foi provavelmente subestimado, dado que os pais consideravam os seus descenden- tes como brancos ou negros. Na maioria escolhiam associar -se aos seus compatriotas brancos, com os quais mantinham maior afinidade socioeconómica. Não obstante, à medida que os acon- tecimentos se desenrolaram, os mestiços de Angola passaram a assumir um papel significativo na guerra contra Portugal.

A POPULAÇÃO NEGRA

De acordo com fontes históricas, os antepassados da actual população de Angola migraram à volta do ano 500 da nossa era do que é hoje a Nigéria e a República dos Camarões para a área actualmente definida como sendo a bacia do Congo. Entre os séculos XII e XV verificou -se uma migração em massa para as áreas hoje em dia conhecidas como sendo o Zaire e Angola.

A população africana de Angola é constituída por mais de noventa tribos distintas, divididas em oito grupos principais etnolinguísticos, dos quais apenas seis têm verdadeira impor- tância. Não existe actualmente um desdobramento fiável na dimensão dos mais importantes, dado que o censo de 1950 foi o único a enumerar a população africana de acordo com a

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AMBIENTE FÍSICO E HUMANO E ENQUADRAMENTO HISTÓRICO

Ganguelas Nhaneca-Humbe Hereros Ambos Lunda-Quioco Bacongos Ambundos Ovimbundos grupos não negros

Legenda

Milhas

Quilómetros Bosquímanos

(Cuissi) (Cuepe)

fronteiras internacionais Ganguela Ganguela

Ganguela

Nhaneca

Cuanhama

Cuangar Cuangar Cussu

Cussu Cuamato Cafima

Bosquímanos

Dombondola

Bosquímanos Bosquímanos

Bosquímanos

Bosquímanos Bosquímanos Bosquímanos

Ambundos Ambundos

Zâmbia Zaire

Quicongo

Quiçama

Songo Quiçama

Sosso Zombo

Pombo Hungo Dembo

Ndongo Holo

Hungo

Suco Suco

Bângala

Songo

Bongo

Baluba

Bondo

Bende

Quioco

Jinga Jinga

Lunda Quioco

Lunda Paka

Paka

Quioco

Quioco Quioco

Lunda Ndembo

Lunda-Lua- -Chinde Bailundo

Caconda Muso

Quipungo Handa

Handa Humbe

Humbe Humbe

Sele

Dombe Ganda

Libolo Quibala Mbui

Chicuma

Luimbe

Hanha

Quissange Huambo

Luchase Luvale

Luena

Quioco Luena

Luchase

Ambuela

Ambuela Ambuela

Bumda Ndungo

Ndungo

Cuendelengo Cuvale

Cuvale ChimbaDimba Hinga

Cuanhoca

(Cuissi) (Cuissi) (Cuepe)

Gambo

Vale

Fonte: Samuels, M A and Bailey, N A, ‘African Peoples’, in Abshire, D M and Samuels, M A (eds), Portuguese Africa, A Handbook (Pall Mal Press, Londres, 1969) p. 113.

Congo

Maiombe

CABINDA Vili

Angola: distribuição dos grupos étnicos e linguísticos em 1969

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sua identidade tribal. Ainda assim, os números de 1950 são pertinentes, porque a resistência ao governo português a partir de 1961 fragmentava -se em função das etnias e envolvia as três maiores divisões tribais. Este censo de 1950 determinava que os três grupos principais constituíam 75 por cento da popu- lação africana de Angola, divididos em um milhão e meio de ovimbundos, um milhão de mbundos ou ambundos e meio milhão de bacongos. Os idiomas que falavam eram o umbundo, quimbundo e quicongo, respectivamente. Os restantes 25 por cento eram constituídos por cinco tribos com populações que oscilavam entre os 25 mil e 330 mil. As estimativas sugerem que, por volta de 1974, os números teriam subido para 2,1 milhões de ovimbundos, 1,4 milhões de ambundos e 0,7 milhões de bacongos1.

OS BACONGOS

Os bacongos, historicamente ligados ao velho Reino do Congo, estabeleceram -se em Cabinda, a norte dos distritos do Zaire e do Uíge (agora províncias) em Angola e em algumas áreas do Zaire e da República do Congo. A sua unidade política é pertur- bada por diferenças internas e por fronteiras internacionais. Por volta de 1960 cerca de um terço desta tribo habitava no interior de Angola, mantendo contudo fortes laços com os seus primos do Norte e os seus vizinhos do Sul que falavam quimbundo.

Existiam oito subtribos com identidades próprias que, embora isoladas umas das outras, alimentavam contactos variados com as autoridades coloniais. Depois da Primeira Guerra Mundial os bacongos tenderam a ver em Leopoldville (Kinshasa) mais

1 Herrick, A. B., et al., op.cit., p. 13, e Bosgra, S., e Schaepman, K., Angola Bezet, Bevrijd, Bedreigd (Agathon, Bussum, 1975), p.10, para as estimativas de 1960 e 1970, respectivamente.

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AMBIENTE FÍSICO E HUMANO E ENQUADRAMENTO HISTÓRICO

hipóteses de desenvolvimento do que as que vislumbravam em Luanda, o que os levou à emigração de Angola por razões económicas, educacionais e sociais.

No seu território, e por razões climatéricas, os bacongos recorrem à agricultura para suprir necessidades alimentares e ao cultivo de café para fazer dinheiro.

OS AMBUNDOS

Os ambundos ocupam o território que vai da zona leste de Luanda à área do Cassanje, a oriente da província de Malanje.

Historicamente, tiveram um maior grau de exposição às autori- dades e à influência dos portugueses, o que levou a que, entre as diversas etnias, fossem os mais ocidentalizados. Há um número significativo de identidades tribais entre o grupo dos ambundos que sobressaem de entre os outros grupos ao se auto -intitularem aristocratas, o que tem provocado dissensões no seu seio.

A norte, a tribo dos dembos, que, por tradição, se opunha à autoridade portuguesa, foi fortemente influenciada pelos bacongos. Os bangalas, outra tribo independente e beligerante que só relativamente tarde foi subjugada pelos portugueses, estabeleceram -se a nascente, em Malanje.

A grande maioria dos ambundos são agricultores, mostrando- -se alguns activos no moderno sector industrial, e igualmente nas esferas sociais brancas.

OS OVIMBUNDOS

O censo demonstrou que os ovimbundos constituem, sem dúvida, o maior agregado etnolinguístico de Angola, podendo ser encarados como uma nação, em vez de serem simplesmente considerados uma reunião de tribos. Ocupam a área a sul do rio

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Angola: densidade populacional em 1970

mais de 40 30-40 20-30 10-20 5 -10 1-5 menos de 1

Legenda

Milhas

Quilómetros limites de distrito fronteiras internacionais

Fonte: Costa Oliveira, J. E. da, «Breve Panorâmica da Situação Económica e Financeira», in Estado de Angola, Panorâmica Sócio-Económica de Angola em 1971 (Governo de Angola, Luanda, 1972), p 130.

Zâmbia

Pessoas por quilómetro quadrado

Concentração da população: 1970 área (47,1%) contendo 90,8% da população

CUANDO-CUBANGO

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AMBIENTE FÍSICO E HUMANO E ENQUADRAMENTO HISTÓRICO

Angola: estradas e caminhos-de-ferro em 1974

caminhos-de-ferro estradas asfaltadas estradas principais em macadame fronteiras internacionais

Legenda

Milhas

Quilómetros

Zâmbia

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Cuanza e concentram -se nas terras altas do centro, nas províncias do Huambo, Bié e Benguela.

A sua língua é compreendida por cerca de metade da população angolana e a sua influência espalha -se pela via do controlo que detêm das rotas do comércio e do domínio em geral da economia.

Os ovimbundos absorveram as tribos mais pequenas, man- tiveram boas relações com os portugueses e adoptaram mesmo os valores ocidentais, incluindo as crenças religiosas cristãs, sem que tivessem perdido a identidade étnica.

A actividade agrícola baseava -se na produção de milho, havendo contudo um grande número de ovimbundos que tam- bém trabalhava nos complexos urbanos das regiões montanhosas do centro e das regiões costeiras, na linha dos Caminhos -de -Ferro de Benguela, e sendo ainda trabalhadores contratados nas áreas produtoras de café no norte do país.

Os ovimbundos viviam numa razoável harmonia com os ambundos do Norte e os nhaneca -humbe do Sul, embora existisse tensão com as tribos mais pequenas a oriente, histo- ricamente relacionada com operações de tráfico de escravos.

É importante notar que os ovimbundos eram, e ainda continuam a ser, peças fundamentais na determinação do futuro de Angola, devido à sua superioridade numérica, ao seu papel como media- dores entre as anteriores autoridades portugueses e as tribos do interior, e ainda pelo domínio que tinham da região central do país.

OUTROS GRUPOS

As tribos chokwe da Lunda encontram -se principalmente a nordeste, no distrito da Lunda, mas alguns deles habitam mais a sul, ao longo do rio Zambeze, na região do Moxico e no centro de Angola. A economia baseava -se na pesca, nos assaltos de surpresa às outras tribos e na caça, e embora a agricultura

Referências

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