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(1)História A falsificação da escrita é tão antiga como a própria escrita

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Academic year: 2022

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História

A falsificação da escrita é tão antiga como a própria escrita. Na Suméria, cerca do ano 4000 a.C., apareceram os primeiros casos de falsificação de documentos, mas referências mais antigas à alteração de certos hieróglifos egípcios foram fornecidas por Champollion.

Durante o império romano, a Lex Cornelia de falsis (91 a.C.) referia as normas do testamento e da moeda e as penas previstas para as suas falsificações.

Cícero refere-se a falsificadores de testamentos. No tempo dos imperadores Constantino, Marco Aurélio e Justiniano fez-se alusão explícita à comparação das escritas para descobrir o falso ou verdadeiro autor. O Édito de Teodorico (entre 500 e 526 d.C.) previa a pena de morte para vários tipos de falsificação de documentos.

Suetónio, historiador romano, considerava Tito Flávio (imperador entre 79 e 81) o mais astuto falsificador de sempre.

Em Os Capitulares (livro com leis dividido em capítulos) dos reis francos, é prevista a verificação dos documentos e “no caso de morte do notário ou das testemunhas, o imperador Ludovico dispõe que se proceda à verificação da escrita impugnada, mediante a comparação com outras duas escritas autênticas” (Annachiara e Pacifico Cristofanelli, Grafologicamente, Manual de perizie grafiche, pág.27).

Cristofanelli refere um caso de falsificação em Perúgia, Itália, em meados do século XIII, em que seria o próprio notário a falsificar uma escritura. E refere também que nos estatutos municipais, nos finais da idade-média, os documentos privados deveriam ser reconhecidos pela parte para se considerem validados e, em caso de dúvida, recorria-se a testemunhas e a peritos que faziam a comparação com outros documentos. Na ausência de outros documentos, o juiz ordenava o ditado dum texto.

Continua hoje em dia a ser importante a recolha de elementos junto do falsificador, nomeadamente o ditado. Um ditado que inclua os termos para comparação com o documento ou assinatura contestados. É de toda a conveniência recolher várias assinaturas do pressuposto falsificador. Pode,

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também, ser utilizado um texto ainda mais específico semelhante ao construído para a Prova da Verdade Grafopsicológica de Maria Luz Puente e Francisco Viñals. A iniciativa de recolha de escrita pode partir do juiz ou do perito e ser feita na presença de um destes ou de ambos.

Juan Huarte de San Juan (1529-1589), espanhol, médico, escreveu Exame de ingenios para las sciencias, donde se demuestra la differencia de habilidades que hay en los hombres y el género de letras que a cada uno responde em particular (1575), cujo título é esclarecedor da vantagem da análise da escrita para conhecimento da personalidade.

Camillo Baldi (1547-1634), italiano, médico e professor da Universidade de Bolonha, escreveu, em 1622, o livro: Tratatto come da una lettera missiva si connoscano la natura e qualità dello escrittore, reconhecendo que a forma com cada pessoa escreve distingue-a das demais.

Johann Kaspar Lavater (1741-1801), psicólogo, filósofo e poeta suíço, fundador da fisiognonomia (estudo da personalidade através dos traços fisionómicos) reconheceu que, através da escrita, se podem compreender o temperamento e o carácter. Estabeleceu o perfil tipo de criminoso a partir da fisionomia.

No Renascimento, aparecem os modelos caligráficos e a escrita assume um cunho mais pessoal, o que torna mais eficiente a perícia gráfica realizada por espertos ou pelo próprio juiz que se baseiam em aspectos materiais (tinta, papel, instrumento) e em traços distintivos (forma, disposição, ligações). Os espertos podiam ser os professores de caligrafia, os escrivães públicos, os advogados, os copistas e os notários.

Jacques Raveneau publicou Traité des inscriptions en faux et reconnaissances d`écritures et signatures par comparison et autrement(1665), que acabou por ser proibido. Trata-se dum tratado completo, com exemplos práticos de técnicas de falsificação. Para Raveneau, a genialidade do falsário escaparia sempre à perspicácia do perito. Ironia do destino, o próprio Raveneau foi condenado por ter sido descoberta a sua falsificação dum documento. O rei Luís XV criou uma Academia Real para preparar os mestres escrivães, com o

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objectivo de verificação das escritas e para chamar a atenção dos cidadãos para o gosto pela escrita.

Jean Mabillon, em 1681, publica De re diplomática, onde apresenta critérios para provar a autenticidade dos documentos medievais.

No século XVIII, em França e Itália, surge um grande interesse pela perícia gráfica por parte de vários profissionais e pela utilização de instrumentos de observação.

No século XIX, a perícia gráfica conheceu um período obscuro, devido a alguns casos polémicos de insucesso, especialmente o caso Dreyfus que abalou a França.

Com Jean-Hippolyte Michon, teólogo e escritor francês, a grafologia inicia um período de desenvolvimento e torna-se ciência. Este abade intervém junto dos tribunais e escreveu obras directamente relacionadas com a perícia judicial, como Da intervenção da nova ciência, a grafologia, nas causas judiciais (1878).

Michon é considerado o pai da grafologia. Organiza congressos de grafologia, cria La Societé de Graphologie e a revista La graphologie. Critica o velho método (grafomórfico), baseado na pura semelhança ou diferença das letras, mas valoriza as particularidades gráficas que retratam o escrevente física, intelectual e moralmente (é o método grafonómico). Pois, uma escrita que não corresponda à natureza ou ao carácter de determinada pessoa não lhe pertence, foi fabricada pelo seu cérebro.

Jules Crépieux-Jamin (1858-1941), médico francês, sistematizou os dados do seu mestre, introduziu as noções de superioridade (harmonia) e inferioridade gráficas (desarmonia) e destacou a importância do contexto. Distinguiu sete géneros (ordem, dimensão, pressão, forma, velocidade, direcção e continuidade) e 175 espécies de sinais, que são desenvolvidos na sua obra ABC de la Graphologie (1929).

Crépieux-Jamin atuou no campo da perícia gráfica, destacando-se no famoso caso Dreyfus. Sobre o assunto escreveu As Bases Fundamentais da Grafologia e de Perícia sobre Escritas e Perícia sobre Escritas e as Lições do Caso Dreyfus (1935).

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O método utilizado por Crépieux-Jamin deixa de ser o caligráfico, baseado apenas na forma das letras, e passa a ser o grafonómico, considerando as letras como resultado de movimentos gráficos.

Robert Saudek (1880-1935), escritor e periodista checo, radicou-se no Reino Unido e é considerado o pai da grafologia inglesa. No âmbito da perícia judicial escreveu a obra Crime na Escrita – Grafologia na sala de audiências.

Ludwig Klages (1872-1956), químico e filósofo alemão, criou a noção de formnível da escrita revelado pelo ritmo e a teoria sobre os princípios opostos da expressão e do movimento – a vida e o espírito. Escreveu A escrita e o carácter (1917), a sua obra clássica.

Max Pulver (1882-1952, psicólogo suíço, introduziu na grafologia o conceito do simbolismo espacial, de acordo com cinco vectores: central, direita, esquerda, acima e abaixo. O central simboliza eu, com os se sentimentos, interesses. O superior simboliza os ideais, o mundo intelectual, espiritual. O inferior simboliza o mundo material, os instintos. O da direita simboliza o futuro, a aventura, o pai.

O da esquerda, a mãe, o passado. Ele escreveu o livro Simbolismo da Escrita (1931).

Rudolf Pophal (1893-1966), neurologista alemão, estudou a génese do movimento gráfico e a sua relação com o conteúdo psicológico. A relação entre os fenómenos de distensão (extensão, de baixo para cima) e o seu antagónico a contracção (flexão, de cima para baixo), de afastamento (abdução, da esquerda para a direita) e o seu antagónico a aproximação (adução, da direita da para esquerda). Criou uma escala de tensão/dureza distribuída por cinco graus, sendo o 3º aquele que revela maior equilíbrio. Quanto maior é a rigidez mais contraído se torna o movimento. Este aspecto fisiopsicológico da grafia tem uma importância relevante para a perícia.

Girolamo Moretti (1879-1963), frade italiano, dedicou a sua vida ao estudo psicossomático do homem através do gesto gráfico. O essencial do seu pensamento e seu método próprio está desenvolvido na sua principal obra Tratado de Grafologia – Inteligência, Sentimento.

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Moretti escreveu, também, o Tratado Científico de Perícias Gráficas sob Base Científica, definindo como objecto da perícia a identificação da personalidade gráfica, a qual permite fornecer maior segurança ao perito. E, na 3ª edição do Tratado de Grafologia, afirma que “ninguém pode ser verdadeiro perito se não for verdadeiro grafólogo”. Moretti coloca em evidência a superioridade da metodologia grafológica sobre a caligráfica na perícia praticada então por arquivistas, professores de caligrafia, escrivães.

Referências

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