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análise de conjuntura temas de economia aplicada economia & história p. 3 p. 11 p. 18 p. 21 p. 24 p. 28 p. 34 Nº 496 Janeiro/2022

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Nº 496 Janeiro/2022 FUNDAÇÃO INSTITUTO DE PESQUISAS ECONÔMICAS

issn 1678-6335

Vera Martins da Silva apresenta dados recentes da PNADC e do Caged, co- mentando especialmente informações sobre o nível de ocupação, a evolução dos rendimentos dos trabalhadores e o saldo de admissões e desligamentos.

Consórcios Intermunicipais na Formulação de Políticas Públicas Locais

Natan Augusto Cuel, Pedro Forquesato

Conjuntura Política e a Economia Brasileira em 2022

Gabriel Brasil

A Recuperação da Economia Americana Guilherme Tinoco

Relatório de Indicadores Financeiros

nefin-FEA-USP Nota CEMEC Fipe 11/2021: Tendência de Queda da Poupança Financeira das Famílias

CEMEC-FIPE

análise de conjuntura

temas de economia aplicada

p. 24 p. 18

Guilherme Tinoco analisa a conjuntura da economia americana, comentando dados sobre o crescimento do PIB, do mercado de trabalho e da inflação, e abordando também as eleições americanas de meio de mandato (midterms).

p. 34 p. 11

O NEFIN apresenta os principais fatores de risco utilizados na literatura, assim como o dividend yield, short interest e IVol-BR, utilizando dados brasileiros.

p. 21 Mercado de Trabalho

Vera Martins da Silva

p. 3

p. 28

Natan Augusto Cuel e Pedro Forquesato explicitam o que se caracteriza propriamente como um consórcio público intermunicipal, apresentando um breve histórico do seu funcionamento e verificando, na prática, como se apresentam esses consórcios no Brasil.

Gabriel Brasil comenta a tríade de incertezas no Brasil para o ano de 2022:

a emergência relativamente recorrente de novas variantes do coronavírus, os problemas estruturais que ficaram represados desde 2020 e as eleições gerais de outubro.

O CEMEC – Centro de Estudos de Mercado de Capitais da Fipe analisa a evolução recente da poupança financeira das famílias, utilizando dados da evolução dos depósitos de poupança por classes de valor dos saldos, a fim de verificar a existência de sinais da utilização de parte da poupança acumulada para demanda de consumo.

economia & história

A Carta a Eisenhower e o Lançamento da Operação Pan-Americana

Rômulo Manzatto

Rômulo Manzatto comenta brevemente algumas das repercussões, se- gundo a literatura da área, da Operação Pan-Americana, operação na qual Juscelino Kubitschek procurava deliberadamente utilizar os instrumentos de política externa para angariar apoio político interno em seu plano de desenvolvimento econômico acelerado.

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Conselho Curador Simão Davi Silber (Presidente)

André Franco Montoro Filho Andrea Sandro Calabi Denisard C. de Oliveira Alves Francisco Vidal Luna Hélio Nogueira da Cruz José Carlos de Souza Santos José Paulo Zeetano Chahad Juarez A. Baldini Rizzieri

INFORMAÇÕES FIPE É UMA PUBLICAÇÃO MENSAL DE CONJUNTURA ECONÔMICA DA FUNDAÇÃO INSTITUTO DE PESQUISAS ECONÔMICAS – ISSN 1678-6335 Luiz Martins Lopes

José Paulo Z.

Chahad Maria Cristina Cacciamali Maria Helena G.

Pallares Zockun Simão Davi Silber Editora-Chefe Fabiana F. Rocha

Preparação de Originais e Revisão Alina Gasparello de Araujo

Produção Editorial Sandra Vilas Boas

http://www.fipe.

org.br Diretoria

Diretor Presidente Carlos Antonio Luque Diretora de Pesquisa Maria Helena Garcia Pallares Zockun Diretora de Cursos Vera Lucia Fava

Pós-Graduação Márcio Issao Nakane Secretaria Executiva Domingos Pimentel Bortoletto

Conselho Editorial Heron Carlos E. do Carmo

Lenina Pomeranz

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análise de conjuntura 3

Mercado de Trabalho: Recuperação em Meados de 2021

Vera Martins da Silva(*)

Os indicadores de pesquisas setoriais de novembro mostraram tendências diversas na atividade econômi- ca, com estagnação em comércio e indústria e avanço nos serviços. Já quanto ao mercado de trabalho, na passagem entre os trimestres de maio/junho/julho para agosto/setembro/outubro de 2021, os indicado- res da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua do IBGE (PNADC) mostraram uma recupe- ração do emprego e queda nas taxas de desocupação, trazendo uma perspectiva otimista para o combalido mercado de trabalho brasileiro.

1 Principais Indicadores do Mercado de Trabalho Através da PNADC/IBGE

Segundo a PNADC, a Taxa de Desocupação estimada do trimestre agosto/setembro/outubro de 2021 foi de 12,1%, uma queda de 1,6 ponto percentual em relação

ao trimestre de maio/junho/julho de 2021. Tanto o Nível de Ocupação, percentual dos Ocupados em rela- ção à População em Idade de Trabalhar, como a Taxa de Participação na Força de Trabalho, percentual da Força de Trabalho em relação à População em Idade de Trabalhar, apresentaram aumento, de 1,8 e 0,9 pontos percentuais, respectivamente.1

O Gráfico 1 apresenta a evolução da População em Idade Ativa, com 14 anos ou mais, a Taxa de Participa- ção e o Nível de Ocupação entre o primeiro trimestre de 2018 e o terceiro trimestre de 2021. Pode-se ver que, apesar da melhora recente, os dois indicadores de utilização da mão de obra estão ainda abaixo do período pré-pandemia, do quarto trimestre de 2019.

Enquanto isso, a População em Idade de Trabalhar continua em elevação, pois apesar do envelhecimento da população há ainda um grande contingente de pes- soas com capacidade reprodutiva.

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análise de conjuntura 5

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Gráfico 1 - População com 14 Anos ou Mais (1.000, eixo da esquerda), Taxa de Participação e Nível de Ocupação (%, eixo da direita), 2018.I a 2021.III

Fonte: PNADC/Sidra/IBGE.

Embora as Taxas de Desocupação tenham apresentado queda na passagem dos últimos dois trimestres com informações disponíveis, indicando uma melhora no mercado de trabalho, há ainda muito espaço a ser re- cuperado. Um exemplo disso é a elevada Taxa Combi- nada de Desocupação e Subocupação por Insuficiência de Horas Trabalhadas, que foi estimada em 19,3% no trimestre de ago/set/out de 2021 (-1,9 ponto percentu- al em relação ao trimestre anterior).

Nesse último trimestre com dados disponíveis, a Taxa Composta de Subutilização da Força de Traba-

lho − indicador mais amplo da subutilização da mão de obra e que inclui os Desocupados, os Subutilizados por Insuficiência de Horas Trabalhadas e aqueles na Força de Trabalho Potencial, todos esses três grupos sobre a Força de Trabalho Ampliada − foi estimada em 25,7% (-2,1 pontos percentuais em relação ao trimestre anterior). O Gráfico 2 mostra a evolução da Taxa de Desocupação no sentido mais restrito e mais amplo, indicando que, apesar da melhora nesse último trimestre, ainda assim a situação é pior do que antes da pandemia da Covid-19.

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Gráfico 2 - Taxa de Desocupação e Taxa Composta de Subutilização da Força de Trabalho (%), 2018.I a 2021.III

Fonte: PNADC/Sidra/IBGE.

Em números absolutos, os Subutilizados foram esti- mados em 29,9 milhões de pessoas entre ago/set/out de 2021 (queda de -6,5% em relação ao trimestre de maio/jun/julho de 2021, quando eram 32 milhões de pessoas). São cerca de dois milhões de pessoas que conseguiram sair dessa situação precária, contudo, continua sendo um contingente gigantesco de pessoas sem trabalho razoável.

No trimestre de ago/set/out de 2021, os Ocupados foram estimados em 94 milhões, com aumento de 3,6%, aproximadamente 3,3 milhões de pessoas a

mais em relação ao trimestre de maio/junho/julho de 2021. Os Desocupados eram 12,9 milhões nesse último trimestre, com queda de 10,4% ou -1,5 milhão de pes- soas em relação ao trimestre anterior. Já os Desalenta- dos foram estimados em 5 milhões (-3,8%) e aqueles na Força de Trabalho Potencial foram estimados em 9,3 milhões (-4,5%). O Gráfico 3 apresenta a evolução da Desocupação pelas suas principais características, sendo o grupo de Pessoas na Força de Trabalho Poten- cial, que inclui os Desalentados, expressivo durante o auge da pandemia da Covid-19.

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Gráfico 3- Número de Pessoas Desocupadas, Por Tipo de Desocupação (1.000), 2018.I a 2021.III

Fonte: PNADC/Sidra/IBGE.

2 Ocupação (PNADC)

Entre o grupo dos Ocupados, aquele que mais cresceu foi o de Empregados do Setor Privado (exclusive os Domésticos), com crescimento de 2,3 milhões. Entre estes, destacam-se aqueles Empregados Com Carteira, que apresentaram aumento de 1,3 milhão de pessoas (+4,1%), seguido dos Empregados sem Carteira com aumento de 1 milhão (+9,5%).

Em sequência, houve aumento de 638 mil (+2,6%) dos Empregados por conta Própria. Entre os Conta Pró- pria, a maior expansão em termos absolutos foi a de Conta Própria Sem CNPJ, ou seja, mais 382 mil novos casos (+2%), e em termos de expansão relativa, o au- mento dos Conta Própria com CNPJ foi maior ainda (+4,2%), estimado em 255 mil a mais.

Os Empregados Domésticos tiveram uma expansão de 400 mil entre os dois últimos trimestres com dados disponíveis (+8%), dos quais predominaram os Sem

Carteira com aumento de 308 mil (+8%). Entre os Em- pregadores ocorreu aumento de 176 mil novos casos (+4,8%) e com predominância da expansão dos Com CNPJ, com aumento absoluto de 124 mil (+4,2%) e uma expansão relativa mais intensa dos Sem CNPJ, com am- pliação de 52 mil (+7,4%).

O único grupo que apresentou redução significativa de contingente segundo a PNADC foi o de Emprega- dos do Setor Público, com queda de 286 mil (-2,5%), destacando-se a redução de 389 mil do grupo de Mi- litares e Funcionários Públicos Estatutários (-4,9%).

Nesse grupo, destaque para a ampliação de 164 mil trabalhadores sem carteira (+7,6%).

Entre os ramos de atividade, a maior expansão ocor- reu em atividades que haviam sido mais duramente atingidas pela pandemia da Covid-19, com expansão de 1,1 milhão de pessoas em Atividades de Comércio, Reparação de Veículos Automotores e Motocicletas (+6,4%), expansão de 500 mil (+11%) em Alojamento e

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6 análise de conjuntura

Alimentação, 400 mil em Serviços Domésticos (+8%) e Outros Serviços com expansão de 304 mil (+7%). Entre as atividades menos atingidas pela pandemia, ocorreu uma expansão de 535 mil (+4,6%) na Indústria Geral

e de 456 mil (+6,5%) na Construção Civil. O Gráfico 4 apresenta o desempenho da Ocupação, segundo o en- quadramento da atividade principal, entre maio/jun/

jul e ago/set/out de 2021.

Gráfico 4 - Aumento da Ocupação por Grupamento de Atividade Econômica, no Trabalho Principal entre Maio/Jun/Jul e Ago/Set/Out de 2021 (1.000)

Fonte: PNADC/Sidra/IBGE.

3 Rendimentos

Enquanto o número de ocupados se expandia na pas- sagem do trimestre de maio/junho/julho para agosto/

setembro/outubro de 2021, o Rendimento Médio Real sofreu diminuição, estimada em 4,6%. Na comparação com o mesmo trimestre de 2020, a redução real foi maior ainda, estimada em 11%. A maior queda foi no rendimento dos Empregados do Setor Privado Sem Carteira assinada, com redução de 9%, dos Emprega- dos do Setor Público Com Carteira (7%) e dos Traba- lhadores por Conta Própria com CNPJ (4,3%). Entre os grupos por ramo de atividade econômica, a queda mais pronunciada foi entre aqueles da Administração Pública, Defesa, Seguridade Social, Educação, Saúde Humana e Serviços Sociais, que apresentaram queda real de 7%.

A Massa de Rendimentos Reais apresentou redução de 1,1% na passagem dos dois trimestres enfocados aqui, mostrando que mesmo com a expansão do nú- mero de ocupados, a Massa de Rendimentos conti- nua contida por Rendimentos médios em queda e a presença de muita subutilização da mão de obra. O Gráfico 5 mostra a evolução da Massa Real de Ren- dimentos (eixo da esquerda) e o Rendimento Real de Todos os Trabalhos (eixo da direita). É especialmente preocupante a redução da Massa de Rendimentos Reais no período da pandemia da Covid-19, que no terceiro trimestre de 2021 estava cerca de 8% abaixo do valor estimado para o último trimestre de 2019, antes do choque da pandemia. Não é à toa que a eco- nomia continua patinando, especialmente no que se refere ao Consumo.

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4 Informações do Mercado de Trabalho Através do Novo Ca- ged

Outro olhar possível sobre o mer- cado de trabalho é pelo Novo Caged, destacando-se que não se trata de uma pesquisa, mas sim de dados administrativos do recriado Ministério do Trabalho e Previ- dência sobre o mercado formal de trabalho. As informações mais recentes no momento da elabora- ção deste artigo dizem respeito a

novembro de 2021, com a informa- ção da criação de um saldo líquido entre contratações e demissões de 3 milhões de vínculos formais durante o ano de 2021, inclusive novembro, e a existência de um estoque total de 41,1 milhões de vínculos empregatícios ao final de novembro de 2021.

Em termos de faixa etária, predo- minou a expansão de empregados formais entre pessoas entre 18 e 24 anos (1,6 milhões). E quanto à

escolaridade, predominou a ex- pansão de vínculos daqueles com nível médio completo (2,1 milhões de novos vínculos), seguido de pes- soas com nível superior completo (295 mil) e médio incompleto (252 mil). No Gráfico 6, apresenta-se a evolução da geração de vínculos de empregos formais durante 2021, destacando-se que como a adesão ao novo sistema foi paulatina a partir de 2020, as comparações com esse ano podem ter alguma discrepância da realidade.

Gráfico 5 - Rendimento Médio Real de Todos os Tipos de Trabalho (R$, eixo da direita) e Massa Real de Rendimentos Reais (R$ milhões, eixo da esquerda), 2018.I a 2021.III

Fonte: PNADC/Sidra/IBGE.

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A maior expansão de vínculos formais foi de 1,3 mi- lhões nos Serviços (+7,3%), de 630 mil no Comércio (+6,9%), de 566 mil na Indústria (+7,6%) e de 299 mil na Construção Civil. No caso dos Serviços, destaca-se uma expansão considerável de 685 mil postos de tra- balho em Informação, Comunicação, Atividades Finan- ceiras, Imobiliárias, Profissionais e Administrativas. E com a continuidade da pandemia, o Novo Caged mos- tra aumento de 301 mil em vínculos de Administração

Pública, Defesa, Seguridade Social, Educação, Saúde Humana e Serviços Sociais, dos quais 54% referen- tes a prestação de Serviços ligados à Saúde Humana.

No Gráfico 7, apresentam-se os saldos de geração de empregos formais pelas principais atividades econô- micas, destacando-se a expansão das atividades mais atingidas pela pandemia da Covid-19, de modo geral em linha com as informações trazidas pela PNADC.

Gráfico 6 - Saldo de Admissões Menos Desligamentos, Mensal, Janeiro a Novembro de 2021

Fonte: Caged/MTE.

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Gráfico 7 - Saldo de Admissões Menos Desligamentos por Grupamento de Atividades Econômicas, Acumulado Janeiro a Novembro de 2021

Fonte: Novo Caged/MTE.

1 Força de Trabalho inclui os Ocupados e aqueles que, embora estives- sem Desocupados, procuraram postos de trabalho no mês anterior à

semana de referência da pesquisa. (*) Economista e doutora pela FEA-USP.

(E-mail: veramartins2702@gmail.com).

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Consórcios Intermunicipais na Formulação de Políticas Públicas Locais

Natan Augusto Cuel (*) Pedro Forquesato (**)

O ano de 2021 representou um momento de grande visibilidade para os consórcios públicos, desta- cando-se dois acontecimentos. Em primeiro lugar, obteve destaque a criação de um megaconsórcio intermunicipal, denominado “Con- sórcio Nacional de Vacinas das Cidades Brasileiras – CONECTAR”, o qual, segundo dados da Confe- deração Nacional dos Municípios1, agrega 1.820 municípios espalha- dos em 25 Unidades da Federação, abrangendo uma população de 123.816.071 cidadãos. Esse con- sórcio, com sede em Brasília, tem o objetivo de adquirir imunizantes contra a COVID-19 e distribuí-los entre seus membros, e se caracte- riza como o maior consórcio inter-

municipal já estabelecido no Brasil.

Em segundo lugar, teve destaque também o debate2 promovido pela Comissão de Desenvolvimento Re- gional e Turismo do Senado Fede- ral, contando com a presença de senadores e governadores, para propor medidas legais de desburo- cratização da destinação de verbas aos consórcios públicos intermuni- cipais e interestaduais e que facili- tem o envio de recursos da União para esses institutos.

Estes dois fatores evidenciam a importância do estudo da atuação dos consórcios públicos, dado o seu uso de recursos públicos e o impacto que possuem no cotidiano da população brasileira.

1 Histórico e Funcionamento Institutos previstos pelo direito brasileiro desde a Constituição de 1891, os Consórcios Públicos Intermunicipais passaram a ga- nhar força e expressão a partir dos debates a respeito da rede- mocratização nos anos de 1980 e da promulgação da Constituição de 1988. A vigente Constituição prevê como um dos parâmetros da república brasileira a descentrali- zação da gestão pública e incumbiu aos municípios do controle direto sobre diversos serviços públicos.

Os municípios, especialmente de pequeno e médio porte, passaram a se valer dos consórcios públicos para arcar com suas responsa-

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bilidades e atender às demandas sociais em diversos setores, como saúde, infraestrutura, saneamento, entre outros.

Em termos legais, a Constituição Brasileira, em seu artigo 241, prevê que a União, os estados, o Distrito Federal e os municípios podem es- tabelecer consórcios entre si, com o objetivo de se conseguir a gestão associada de serviços públicos com a transferência total ou parcial de encargos, serviços, pessoal e bens essenciais. O mesmo artigo prevê que tais institutos devem ser re- gulados por lei posterior. Essa lei, que disciplina o funcionamento dos consórcios públicos, é a Lei 11.107/2005.3 Segundo ela, os con- sórcios públicos podem se caracte- rizar enquanto associação pública ou pessoa jurídica de direito pri- vado. Ainda, os consórcios podem celebrar contratos, convênios ou acordos de qualquer espécie para a consecução de seus objetivos, que devem estar dispostos em um documento chamado “Protocolo de Intenções”. Importante, a lei tam- bém estabelece que consórcios pú- blicos podem ser contratados pela administração direta ou indireta dos membros da Federação consor- ciados, dispensada a licitação.

Neste ponto, é necessária uma distinção sobre o modo de agir dos consórcios públicos. Quando os entes da Federação se consorciam, eles constituem uma nova pessoa jurídica, o consórcio público. Este, para que possa funcionar, pode

receber recursos de duas maneiras principais: através do Contrato de Rateio ou através do Contrato de Programa. Henrichs, em documen- to da Confederação Nacional dos Municípios, explicita a diferença.

Sobre o primeiro, afirma: “O con- trato de rateio é o instrumento pelo qual os Entes consorciados transferem recursos próprios ao consórcio. Ele será formalizado em cada exercício financeiro e seu prazo de vigência não será superior ao das dotações que o suportam”

(HENRICHS, 2021, p. 289). Trata-se de uma transmissão de recursos contínua, estabelecida no início de cada exercício financeiro e previs- ta nas leis orçamentárias anuais das câmaras de vereadores dos municípios consorciados. Sobre o segundo, define: “O contrato de programa é o instrumento pelo qual devem ser constituídas e re- guladas as obrigações que um Ente da Federação, inclusive sua admi- nistração indireta, tenha para com outro Ente da Federação, ou para com consórcio público, no âmbito da prestação de serviços públicos por meio de cooperação federativa”

(HENRICHS, 2021, p. 184). Trata-se de uma transmissão de recursos ocasional, para a realização de uma atividade específica e sobre a qual a Lei 11.107/2005 prevê a dispensa de licitação.

Uma vez estabelecido o consórcio público e reunidos os recursos para sua atuação, ele pode efeti- vamente realizar suas ações por meio do trabalho de servidores das

prefeituras alocados no consórcio, de servidores contratados pelo consórcio, contratação de terceiros ou ainda pela compra de produtos cuja aquisição é responsabilidade do consórcio. Nestes casos de com- pras e contratações, o consórcio público deve observar as normas do direito referentes ao processo licitatório. Neste aspecto, é interes- sante notar o padrão de evolução da legislação brasileira que garan- tiu aos consórcios públicos limites expandidos de atuação. Assim, a Lei 8.666/19934 previa, para qual- quer ente da Federação, a dispensa de licitação para serviços de enge- nharia de até 15 mil reais, ou para compras e outros serviços de até 8 mil reais. Contudo, em se tratando de consórcios públicos, estes limi- tes seriam dobrados (R$ 30.000,00 e R$ 16.000,00, respectivamente).

Estes valores correspondem, em reais de 2021 (IPCA), aos valores de R$ 114.568,50 e R$ 57.284,25, respectivamente.

Esta legislação foi alterada pelo Decreto 9.412/20185, que expandiu os limites, no caso dos consórcios, para 66 mil reais nos serviços de engenharia e para R$ 35.200,00 para compras e outros serviços (R$

73.853,55 e R$ 39.388,56 em reais de 2021), recompondo parte da perda inflacionária do período. Por fim, a Lei 14.133/20216 expandiu estes limites de consórcios públi- cos para o valor de 200 mil reais em obras e serviços de engenharia e manutenção de veículos automo-

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tores, e 100 mil reais em compras e outros serviços.

Cabe notar que a legislação bra- sileira abre a possibilidade aos consórcios de se constituírem en- quanto pessoa jurídica de direito privado e não de direito público.

Neste sentido, seria possível pen- sar que os consórcios de direito privado não estariam obrigados a seguir as normas do direito públi- co, especialmente quanto à gestão dos recursos financeiros. Contudo, é jurisprudência assentada nos tribunais brasileiros que este não é o caso. Independentemente de ser pessoa jurídica de direito público ou privado, o consórcio público lida com dinheiro público e deve, portanto, responder às exigências que são feitas no cuidado destes re- cursos. Sobre isto, afirma Di Pietro:

“Seja qual for a maneira de admi- nistração do consórcio, ele estará gerindo dinheiro público e serviço público. Por isso mesmo, as suas contratações de pessoal dependem de concurso público e os contratos de obras, serviços, compras e alie- nações dependem de licitação” (DI PIETRO, 2018, p. 436). Diante disso, surge o questionamento sobre a diferença entre assumir a forma de associação de direito público ou a de pessoa jurídica de direito privado. Henrichs pontua nestes

termos: “Se optar pela constituição no formato de associação pública, o consórcio usufrui de todas as prerrogativas inerentes às pessoas jurídicas de direito público, como por exemplo, imunidade tributária, impenhorabilidade de bens, pro- cesso especial de execução”. (HEN- RICHS, 2021, p.16) Já, se optar pela forma de direito privado, como visto acima, o consórcio não pode- rá usufruir de todas as prerrogati- vas desta forma de direito, além de não poder celebrar convênio com a União, conforme prescreve o De- creto 6.017/2017.7

Feitas estas observações, são no- táveis a preocupação da legislação brasileira que, aos consórcios pú- blicos, diferentemente do que ocor- re a outros entes da administração pública, garante um limite maior para os casos de dispensa de licita- ção, assim como a expansão desse limite ocorrida no ano de 2021.

Embora a dispensa de licitação por si só não signifique má adminis- tração dos recursos públicos, esta facilidade pode favorecer práticas que não envolvam o uso mais efi- ciente destes.

2 Estatísticas Descritivas

Após este preâmbulo sobre a ca- racterização dos consórcios pú-

blicos e, de modo particular, dos consórcios intermunicipais, é inte- ressante verificar, na prática, como se apresentam esses consórcios no Brasil. Para tal propósito, foram utilizadas duas bases de dados que apresentam óticas distintas. A pri- meira base utilizada foi a Pesquisa de Informações Básicas Municipais (MUNIC) de 2019, realizada pelo IBGE. Esta pesquisa apresenta os dados sob a ótica dos municípios.

A segunda base utilizada foi o Ob- servatório dos Consórcios,8 dis- ponibilizado pela Confederação Nacional dos Municípios com dados de 2021. Este observatório, por sua vez, apresenta os dados sob a ótica dos consórcios. A compreensão da diferença de óticas é importante porque cada consórcio pode agre- gar um número diferente de mu- nicípios e cada município, por sua vez, pode fazer parte de diferentes consórcios.

Um primeiro resultado importante é a observação de que os consór- cios públicos intermunicipais são um fenômeno majoritariamente de municípios de pequeno e médio porte, como se verifica no Gráfico 1, que divide os municípios entre participantes e não participantes de consórcios, para cada faixa po- pulacional.

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Assim, nota-se que, dos municípios brasileiros com até 5.000 habitantes, mais de 70% participam de algum consórcio público, ao passo que dos municípios com mais de 500.000 habitantes, apenas cerca de 40%

participam. Estes dados condizem com o fato de que os municípios pequenos, por possuírem maiores difi- culdades em termos de infraestrutura e relações ad- ministrativas, encontram desafios maiores para lidar com suas responsabilidades constitucionais e têm de

recorrer aos consórcios, um tipo de gestão associada, para atender às demandas de suas populações.

Esta tese é reforçada quando se analisa a área de atu- ação dos consórcios. O Observatório dos Consórcios da CNM divide-os em 35 áreas de atuação. O Gráfico 2 apresenta as dez áreas mais recorrentes de atuação dos consórcios, segundo essa pesquisa:

Gráfico 1 - Participação dos Municípios em Consórcios Públicos - Divisão por Número de Habitantes

Fonte: MUNIC/IBGE.

Gráfico 2 - Dez Maiores Áreas de Atuação dos Consórcios

Fonte: Observatório dos Consórcios/CNM.

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É notável que as duas maiores áreas de atuação dos consórcios sejam justamente áreas que a legis- lação brasileira coloca sob respon- sabilidade direta dos municípios, vide a Lei 8080/1990,9 que pontua a responsabilidade municipal na atenção à rede básica de saúde, e a Lei 12305/201010, que incumbe aos municípios a gestão integrada de resíduos sólidos. Essas duas res-

ponsabilidades municipais exigem o uso de um montante significati- vo dos recursos arrecadados pela tributação municipal, de modo que benefícios apresentados pelos con- sórcios, como a gestão associada e o ganho de economia de escala, são fatores importantes que levam os municípios, com poucos recursos e capacidades administrativas, a adotar tais institutos.

Se o fator econômico, enfatizado nesses dados, apresenta um forte incentivo racional para a adoção de consórcios intermunicipais, não se pode deixar de desconsiderar o fator político que permeia essas instituições. Esse fator torna-se evidente quando se verifica o ano de formação dos consórcios, con- forme apresenta o Gráfico 3:

Gráfico 3 - Formação de Novos Consórcios

Fonte: Observatório dos Consórcios/CNM.

Os consórcios intermunicipais no Brasil não têm sido criados de ma- neira constante, mas apresentam uma certa periodicidade. No Grá- fico 3, observa-se que houve um grande impulso para a formação de consórcios após o período da redemocratização, o que condiz com a agenda de descentralização política e o repasse de maiores res- ponsabilidades às administrações

municipais. Em seguida, nota-se que a formação dos consórcios au- menta significativamente um ano após as eleições e, principalmente, um ano após as eleições municipais (2001, 2005, 2009, 2013). Isto pode indicar que os consórcios se inse- rem num quadro de remodelação das estruturas de poder regionais, quando as novas administrações municipais buscam alianças com

prefeitos vizinhos para fortalecer suas agendas governamentais.

Enfim, é chamativo o fato de que, após 2015, houve uma redução significativa na formação de novos consórcios, talvez relacionada ao quadro de instabilidade política e remodelação de alianças de gover- no que predominaram no cenário político nacional.

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16 temas de economia aplicada

Estes dados mostram como a for- mação de consórcios intermunici- pais tem sido uma resposta política dos dirigentes municipais para atender as responsabilidades le- gais colocadas a cargo dos municí- pios. Além disso, a questão política parece prevalecer, indicando que os consórcios atuam também como um método de estabelecimento e fortalecimento de alianças regio- nais, não apenas como instrumento de aplicação racional de recursos.

3 Política e Economia

Com a exposição dos dados acima, pode-se verificar como entram em cena, no debate a respeito dos Consórcios Intermunicipais, duas esferas de discussão: o campo po- lítico e o campo econômico. Isto fica explícito, por exemplo, na fala do Senador Izalci Lucas na reunião promovida pela Comissão de De- senvolvimento Regional e Turismo do Senado Federal acima mencio- nada: “Há duas vantagens nos con- sórcios: a otimização administra- tiva do conjunto, tanto na receita como na despesa, e o fortalecimen- to político dos seus integrantes.”11 Contudo, não parece haver um equilíbrio entre os fatores políticos e econômicos, mas, ao contrário, as vantagens econômicas de um consórcio intermunicipal parecem ser utilizadas como sustentáculo para objetivos políticos nas dinâ- micas de poder regional. Isto con- diz com o que Caldas (2007, p. 176)

havia concluído quando estudou, a fundo, a realidade dos consórcios públicos no Brasil por ocasião da promulgação da Lei 11.107/2005:

“A teoria da escolha racional não se mostrou suficiente para explicar o fenômeno da formação dos consór- cios intermunicipais.” Já em 2007, o autor observava que o debate político entre diversos agentes de poder tinha muito mais relevância na determinação dos consórcios intermunicipais. Como ele explica,

“O estímulo institucional quando realizado não apenas pela força da lei, mas também por meio do apoio político de um ‘empreendedor de políticas públicas’ que assume po- sição de tomador de decisão no âmbito do Estado, gera resultados positivos na criação de consórcios intermunicipais” (CALDAS, 2007, p.

176). Desse modo, a esfera política parece predominar sobre a atuação dos consórcios intermunicipais, o que demanda uma atenção especial a estes institutos, dado o quadro político conturbado que, historica- mente, tem predominado no Brasil, particularmente em relação às questões de poder regional.

Mostrando a relevância política e econômica dos consórcios intermu- nicipais, este trabalho pretendeu chamar a atenção para esta forma de administração pública, que es- capa às tradicionais estruturas de União, estados e municípios. Como visto, os consórcios lidam com a administração de importantes montantes de recursos públicos, contando com diversos benefícios

legais que facilitam o seu uso e direcionam esses recursos de ma- neira direta para o atendimento de demandas sociais. Assim, um olhar cuidadoso sobre como esses recur- sos são utilizados se faz necessário, a fim de que se garanta o uso mais eficiente do dinheiro público.

Referências

BRASIL. Agência Senado. Senado Federal.

Governadores e senadores defen- dem consórcios intermunicipais e interestaduais. Senado Notícias. Bra- sília, 13 set. 2021. Disponível em: htt- ps://www12.senado.leg.br/noticias/

materias/2021/09/13/governadores- e-senadores-defendem-consorcios-inter- municipais-e-interestaduais. Acesso em:

27 dez. 2021.

CALDAS, Eduardo de Lima. Formação de agendas governamentais locais: o caso dos consórcios intermunicipais. 2007. 227 f. Tese (Doutorado) - Curso de Pós-Gra- duação em Ciências Políticas, Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas.

Departamento de Ciências Políticas, Uni- versidade de São Paulo, São Paulo, 2007.

DI PIETRO, Maria Sylvia Zanella. Direito Administrativo. 31. ed. rev. atual e ampl.

Rio de Janeiro: Forense, 2018.

HENRICHS, Joanni Aparecida. Consórcios públicos intermunicipais: uma alterna- tiva à gestão pública. Brasília: CNM, 2021.

1 Disponível em: https://consorcios.cnm.

org.br/

2 Disponível em: https://www12.senado.

leg.br/noticias/materias/2021/09/13/

governadores-e-senadores-defendem-con- sorcios-intermunicipais-e-interestaduais 3 Disponível em: http://www.planalto.gov.

br/ccivil_03/_ato2004-2006/2005/lei/

l11107.htm

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temas de economia aplicada 17

16 temas de economia aplicada

4 Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/

l8666cons.htm

5 Disponível em: https://www.in.gov.br/materia/-/asset_publisher/

Kujrw0TZC2Mb/content/id/26370034/do1-2018-06-19-decreto- n-9-412-de-18-de-junho-de-2018-26369935

6 Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2019- 2022/2021/lei/L14133.htm

7 Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007- 2010/2007/decreto/d6017.htm

8 Disponível em: https://consorcios.cnm.org.br/

9 Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l8080.

htm

10 Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007- 2010/2010/lei/l12305.htm

11 Fonte: Agência Senado. Disponível em: https://www12.senado.

leg.br/noticias/materias/2021/09/13/governadores-e-senadores- defendem-consorcios-intermunicipais-e-interestaduais

(*) Graduando em Economia pela FEA-USP.

(E-mail: natan_cuel@usp.br).

(**) Professor de Economia pela FEA-USP e pesquisador do Labo- ratório de Economia do Setor Público (LabPub).

(E-mail: pforquesato@usp.br).

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Conjuntura Política e a Economia Brasileira em 2022

Gabriel Brasil (*)

Após dois anos de grandes incer- tezas econômicas associadas, so- bretudo, à pandemia da COVID- 19, o Brasil chega a 2022 com sua economia ainda muito marcada por dúvidas em múltiplas frentes.

Em primeiro lugar, a emergência relativamente recorrente de novas variantes do coronavírus no último ano sugere que ainda não é pos- sível assumir o fim da pandemia nos próximos 12 meses – ao menos com base nas evidências epidemio- lógicas atuais. Ademais, problemas estruturais que ficaram repre- sados desde 2020 (ou, ainda, que foram exacerbados neste período) continuam a perturbar o ambiente de negócios e, consequentemente, as perspectivas de crescimento do país – notadamente a inflação, o desemprego e o déficit fiscal do governo. As eleições gerais de ou- tubro, por fim, devem completar a tríade de incertezas para 2022, in- dicando que a retomada econômica iniciada em 2021 não deve mesmo ter sua continuidade garantida neste ano.

Destes três elementos, a questão política deve ser a que mais so- bressairá, ao menos no sentido da sustentação das incertezas econô- micas. Isso se deve ao fato de que incentivos eleitorais – tanto do go-

verno como da oposição – fomen- tarão uma reduzida viabilidade para a implementação de reformas estruturais e/ou medidas econô- micas que possam endereçar, de fato, os gargalos atuais da econo- mia brasileira. Nesse sentido, vale a pena discutir qual é este arranjo de incentivos e como eles devem afetar negativamente as perspec- tivas de crescimento para o Brasil em 2022.

Por um lado, o presidente Jair Bol- sonaro, que chega ao ano eleitoral com elevadas taxas de rejeição, tem vários motivos para evitar abraçar reformas impopulares.

Pelo contrário, dada sua explícita e esperada vontade de se reeleger, Bolsonaro já começou, desde o ano passado, a implementar uma agen- da econômica mais curto-prazista – inclusive na frente fiscal. O mais significativo exemplo disso foi o patrocínio da chamada PEC dos Precatórios no segundo semestre do ano passado, que, grosso modo, representou um calote em parte da dívida pública, empurrando uma parcela de um gasto elevado para a próxima década. O presidente também tem promovido medidas com impacto direto no orçamento para acomodar interesses dos seus aliados políticos, sobretudo atra-

vés das emendas legislativas e do fundo eleitoral. Apenas para este, o orçamento de 2022 contemplará até R$5,7 bilhões, conforme pro- mulgação anunciada em dezembro de 2021.1 É improvável, portanto, que venham de Bolsonaro os es- tímulos de que necessitam os in- vestidores para recuperarem sua confiança na economia brasileira no curto prazo.

Pelo outro lado, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que chega a 2022 como o grande favorito das eleições de outubro – a julgar, pelo menos, pelas pesquisas atu- ais e pela confluência de fatores minando outras candidaturas de oposição – também tem poucos in- centivos para abraçar uma retórica econômica que favoreça o espírito animal do setor privado ainda em 2022. Com ampla vantagem inicial com relação a Bolsonaro e aos seus demais concorrentes, Lula tem poucos incentivos para se expor, e pode manejar uma campanha pouco arriscada (e, portanto, pouco propositiva) que não comprometa significativamente suas condições de governabilidade quando eleito.

Uma evidência de como o ex-pre- sidente e atual pré-candidato tem adotado essa abordagem é o fato

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18 temas de economia aplicada

de que ele tem evitado, ativamen- te, fazer comentários claros sobre a natureza da agenda econômica que adotaria caso eleito, e mesmo sobre quem seriam os economistas que fariam parte da sua equipe.

Nas suas manifestações públicas, o presidente tem focado mais nos problemas – notadamente a in- flação e o desemprego – do que na discussão das suas possíveis soluções em termos concretos, numa hábil tentativa de reduzir os custos do escrutínio público sobre sua plataforma. Investidores e demais agentes econômicos têm tido, portanto, limitados elementos para saber se Lula adotará uma plataforma semelhante àquela que implementou em 2003 – ortodoxa, liderada pelo ex-ministro Antônio Palocci – ou outra mais heterodoxa, mais próxima da que adotou no seu segundo mandato sob a liderança de Guido Mantega (continuada na gestão de Dilma Rousseff nos anos seguintes).

Enquanto Lula colhe os frutos po- líticos dessa ambiguidade (já que, com ela, mantém mobilizada sua base à esquerda ao mesmo tempo que não aliena eleitores ao centro), prevalecerá uma elevada incerte- za sobre os rumos econômicos do Brasil para os próximos quatro anos. Além de preocupações fis- cais – sustentadas pelas indica- ções recorrentes de membros do Partido dos Trabalhadores (PT) no sentido da adaptação de regras fiscais, como o teto de gastos – há ainda preocupações por parte de

investidores e do setor privado em geral com relação a retrocessos em outras frentes no ambiente de negócios, como na legislação tra- balhista.23

Transversalmente ao debate elei- toral, o ambiente político-institu- cional brasileiro também seguirá impactando as expectativas da economia em outras frentes. Um exemplo é o movimento crescente de servidores de diferentes entes (sobretudo o executivo federal) no sentido de pleitearem reajustes que acomodem a elevada inflação atualmente experimentada no Bra- sil – apurada em 10% para 2021 de acordo com o IBGE. Destacam-se as carreiras da Polícia Federal, da Receita Federal e do Banco Cen- tral, que têm estado no centro de tensões recentes dadas as notórias dificuldades do presidente da repú- blica de conciliar estas demandas.4 Uma materialização concreta de tais tensões tende a assumir a forma de greves. Estas, ainda que gerem disrupção limitada para a economia, têm o potencial de adi- cionar combustível às ansiedades fiscais que permeiam a tomada de decisão de investidores domésticos e internacionais no momento, com vistas aos desafios orçamentários dos próximos anos. Além disso, estas tensões fazem parte de um fenômeno mais amplo – o da cres- cente ansiedade social fomentada pelo aumento dos preços, princi- palmente de energia e de combus- tíveis, na economia como um todo.

Este pode, no limite, contratar para 2022 e 2023 riscos elevados de agitação social, com algumas ca- tegorias – como os caminhoneiros – retendo um potencial alto de dis- rupção caso escalem suas deman- das de maneira incisiva, a exemplo do que ocorreu em maio de 2018.

O resultado desse conjunto de in- certezas tem sido refletido nas ex- pectativas do mercado. De acordo com a mediana do Relatório Focus publicado em 10 de janeiro, o PIB brasileiro deve crescer apenas 0,28% em 2022 e ficar em taxas de até 2,0% até 2024.5 Considerando nossos níveis atuais de desempre- go, em mais de 12% de acordo com dados oficiais, estas seriam taxas de crescimento muito baixas, que manteriam a sociedade brasileira exposta a desafios sociais grandio- sos na próxima década.

Vale lembrar, ainda, que a este ambiente doméstico conturbado se somarão as incertezas globais que têm afetado outros mercados além dos emergentes. Dúvidas acerca do futuro da pandemia, da inflação nos países desenvolvidos e dos recorrentes problemas na cadeia de suprimentos continuarão – de maneira interligada – a promover uma crescente aversão ao risco.

Isso, no limite, tende a prejudicar em particular países como o Brasil, que já carregam outros problemas precedentes a este contexto.

Por fim, 2022 tende a ser também um ano em que o meio ambiente

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exercerá ainda mais influência no panorama econômico dos países. A quantidade recorde de eventos cli- máticos extremos ao redor do pla- neta – com impactos também iné- ditos em alguns aspectos – tende a aumentar ainda mais a cautela dos investidores. No Brasil, por exem- plo, o ano começou com chuvas in- tensas que colocaram os setores de mineração e energia em alerta, mas que afetam o ambiente operacional como um todo. É de se esperar, neste contexto, que investidores exigirão um prêmio de risco maior para jurisdições menos preparadas para tais riscos – tanto na frente operacional como na frente reputa- cional – o que, mais uma vez, coloca o Brasil numa situação delicada.

Prejudicada por uma situação fis- cal complicada e reduzida vontade política para a implementação de agendas ambientais ambiciosas, a economia brasileira não está pre- parada para este novo paradigma.

De maneira geral, o balanço para 2022 é de preocupação. Mais do que nunca, o Brasil precisará con- duzir debates importantes com responsabilidade – tanto porque seus problemas são graves no curto

prazo quanto pelo fato de que eles têm o potencial de comprometer também gerações futuras. O con- sultor político americano James Carville cunhou, em 1992, o famo- so termo “é a economia, estúpido”

para explicar como desdobramen- tos econômicos tendem a explicar fenômenos políticos em muitos casos. Trata-se de uma máxima que segue relevante globalmente.

No entanto, no caso brasileiro e em 2022, o contrário será também fundamental na compreensão dos rumos do país: a política determi- nará, em boa medida, os rumos da economia. Vale a pena acompanhá- -la de perto, portanto.

1 “Previsão de fundo eleitoral de até R$ 5,7 bilhões é promulgada”, 21 de dezembro de 2021. Senado Federal.

Disponível em: https://www12.senado.

leg.br/noticias/materias/2021/12/21/

previsao-de-fundo-eleitoral-de-ate- r-5-7-bilhoes-e-promulgada. Último acesso em: 12 jan. 2022.

2 “Presidente do PT afirma que se Lula for eleito revogará teto de gastos”, 10 de janeiro de 2022. PORTAL IG. Disponível em: https://economia.ig.com.br/2022- 01-10/gleisi-hoffmann-lula-economia.

html. Último acesso em: 11 jan. 2022.

3 “Lula participa de reunião para discutir revisão da reforma trabalhista, 10 de janeiro de 2022. Folha de São Paulo.

Disponível em: https://www1.folha.

uol.com.br/mercado/2022/01/lula- participa-de-reuniao-para-discutir- revisao-da-reforma-trabalhista.shtml.

Último acesso em: 11 jan. 2022.

4 “Servidores do Banco Central articu- lam entrega de cargos e paralisação”, 3 de janeiro de 2022. Revista Veja.

Disponível em: https://veja.abril.com.

br/economia/servidores-do-banco- central-entregam-cargos-e-falam-em- paralisacao/. Último acesso em: 12 jan.

2022.

5 “Relatório Focus”, 10 de janeiro de 2022. Banco Central. Disponível em:

https://www.bcb.gov.br/content/

focus/focus/R20220107.pdf. Último acesso em: 12 jan. 2022.

(*) Economista pela Universidade Federal de Minas Gerais e mestre em economia política internacional pela Universidade de São Paulo.

(E-mail: gabrielchbrasil@gmail.com).

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A Recuperação da Economia Americana

Guilherme Tinoco (*)

Desde que o mundo deixou para trás o pior momento da crise eco- nômica associada à pandemia, a recuperação dos EUA impressiona.

Após o PIB ter recuado apenas 3,4% em 2020, ele terá avançado algo próximo a 6% em 2021. Ao mesmo tempo, a inflação se encon- tra no patamar mais elevado desde 1982, o que faz com que o Fed se prepare para o início de um ciclo de alta de juros. Dada a importância desses acontecimentos para a eco-

nomia mundial, incluindo o Brasil, este artigo tem como objetivo ana- lisar com mais detalhe a conjuntu- ra da economia americana.

Começando pelo PIB, o Gráfico 1 mostra as taxas de crescimento dos EUA, da zona do Euro e a média dos países avançados nos últimos anos. O desempenho americano mostra não só uma queda menor, em 2020, como também uma re- cuperação bem maior para 2021 e

2022. Enquanto a média dos países avançados terá crescido 5,2% em 2021 depois de um recuo de 4,5%

em 2020, os EUA terão crescido 6,0% depois de um recuo de ape- nas 3,4%. Muitas variáveis ajudam a explicar tal performance, dentre elas a vacinação mais rápida, a maior poupança das famílias no período anterior e também os ele- vados estímulos fiscais realizados pelo governo americano.

Gráfico 1 – Crescimento do PIB – Países Avançados (2019 a 2022)

2,3

-3,4

6,0 5,2

1,7

-4,5

5,2 4,5

1,5

-6,3

5,0 4,3

-8,0 -6,0 -4,0 -2,0 0,0 2,0 4,0 6,0 8,0

2019 2020 2021 2022

EUA Avançados Zona do Euro

Fonte: FMI/WEO de outubro/2021.

A recuperação da economia vem favorecendo a retomada do merca- do de trabalho. O desemprego al- cançou 3,9% em dezembro, depois de ter alcançado 14,7% em abril

de 2020, e já chegou muito perto dos níveis pré-pandemia (3,5%).

No caso da população ocupada, em dezembro ela seguiu crescendo, atingindo 156,0 milhões de pesso-

as, bem acima do vale de abril de 2020 (133,3 milhões) e chegando próximo aos 158,9 milhões de feve- reiro de 2020. O Gráfico 2 apresen- ta esses dados.

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22 temas de economia aplicada

Certamente, a menor taxa de par- ticipação ajuda a explicar o baixo número de desemprego, mas é possível argumentar que parte do recuo da participação é estrutural, isto é, definitiva (explicada, por exemplo, por aposentadorias que já ocorreram durante a pandemia).

Neste caso, chama-se atenção para o aperto que está se criando no mercado de trabalho. Os dados relativos aos salários parecem cor- roborar esse aperto: em dezembro, a alta nominal dos salários foi de 4,7%.

Com isso, a preocupação se desloca cada vez mais para a inflação. De fato, ela está no centro da discus- são há alguns meses, quando se debatia se era transitória ou não.

Contudo, o fato é que a inflação se- guiu acelerando nos últimos meses, favorecendo a visão de que não se

dissiparia rapidamente e sem uma ação mais enérgica por parte do Banco Central americano. O núcleo do CPI fechou o ano em 5,5%, com o índice cheio alcançando 7,0%, o valor mais alto desde 1982. Não só energia e alimentos pesaram mas também alguns bens industriais como automóveis (novos e usados) e até mesmo serviços. A inflação americana, no jargão dos econo- mistas, está disseminada.

Assim, o Fed já adotou uma postu- ra mais dura nos últimos meses.

Primeiro, prometeu acelerar o ritmo de redução de compra de ativos (conhecido como tapering), de modo a finalizar o programa na primeira metade do ano. Também vem sugerindo, por meio de sua comunicação, que em breve já co- meçará a subir os juros. Na última ata divulgada, em dezembro, o Fed

retirou a classificação de “transi- tória” do comunicado oficial. Nas estimativas de seus membros (me- diana), a projeção da taxa de juros passou de 0,3% para 0,9% ao final de 2022, embutindo, portanto, três elevações ao longo do ano. Também começa a fazer referência a uma re- dução do balanço do Fed nos próxi- mos meses, tema que deve ganhar relevância daqui em diante.

Para 2022, portanto, o ajuste fino entre redução dos estímulos mo- netários, controle da inflação e, ao mesmo tempo, manutenção de um forte crescimento econômico com redução adicional do desem- prego dará a tônica na economia americana. Isso tudo ocorrerá em um ambiente de incertezas como as consequências da variante ômi- cron não só nos EUA mas em todo o Gráfico 2 – Desemprego e População Ocupada - EUA

3,5 14,7

3,9

0,0 2,0 4,0 6,0 8,0 10,0 12,0 14,0 16,0

jan/20 fev/20 mar/20 abr/20 mai/20 jun/20 jul/20 ago/20 set/20 out/20 nov/20 dez/20 jan/21 fev/21 mar/21 abr/21 mai/21 jun/21 jul/21 ago/21 set/21 out/21 nov/21 dez/21

Taxa de desemprego

158,7

133,3

156,0

130 135 140 145 150 155 160 165

jan/20 fev/20 mar/20 abr/20 mai/20 jun/20 jul/20 ago/20 set/20 out/20 nov/20 dez/20 jan/21 fev/21 mar/21 abr/21 mai/21 jun/21 jul/21 ago/21 set/21 out/21 nov/21 dez/21

População ocupada (milhões)

Fonte: BLS.

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mundo, podendo afetar em algum grau as tão faladas cadeias de suprimento globais.

Os políticos americanos estarão de olho: dado o acir- ramento do ambiente político naquele país, as eleições de meio de mandato (midterms) deste ano adquirirão uma importância ainda maior do que o normal e, como sempre, as questões econômicas deverão ter peso re- levante. Mas não só eles: a economia global também olhará com muita atenção para os dados da economia americana, afinal, o ritmo de aperto monetário poderá definir uma série de coisas, inclusive o apetite para risco e o fluxo de capitais para países emergentes, o

que interessa bastante para o Brasil. (*) Mestre em Economia pela FEA/USP.

(E-mail: gtinoco2002@hotmail.com).

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Relatório de Indicadores Financeiros

1

Núcleo de Economia Financeira da USP – nefin-FEA-USP (*)

Em 02/jan/2012 foram (teoricamente) investidos R$

100 em quatro carteiras long-short tradicionais da literatura de Economia Financeira. O Gráfico 1 apre- senta a evolução dos valores das carteiras. (1) Carteira de Mercado: comprada em ações e vendida na taxa de juros livre de risco; (2) Carteira Tamanho: comprada em ações de empresas pequenas e vendida em ações em empresas grandes; (3) Carteira Valor: comprada

em ações de empresas com alta razão “valor contábil- -valor de mercado” e vendida em ações de empresas com baixa razão; (4) Carteira Momento: comprada em ações de empresas vencedoras e vendida em ações de empresas perdedoras. Para detalhes, visite o site do NEFIN, seção “Fatores de Risco”: <http://nefin.com.br/

risk_factors.html>.

Gráfico 1 – Estratégias de Investimentos (Long - Short) (02/01/2012 – 14/01/2022)

Tabela 1

Tamanho Valor Momento Mercado

Semana -0,53% 1,22% -0,18% 3,70%

Mês atual -8,20% 4,46% 2,52% 0,02%

2021 1,51% 9,33% 31,68% -14,20%

2010-2022 -48,60% 0,94% 772,69% -17,87%

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24 temas de economia aplicada

O Gráfico 2 apresenta a evolução histórica do dividend yield do mercado acionário brasileiro: razão entre o total pago de dividendos nos últimos 12 meses pelas empresas e o valor total das empresas hoje. Essa é tradicionalmente uma variável estacionária (rever- te à média) e é positivamente correlacionada com o retorno futuro esperado dos investidores. Ou seja, é alta em momentos ruins (de alto risco ou alta aver-

são ao risco), quando os investidores exigem retorno esperado alto para investir no mercado, e baixa em momentos bons. A Tabela 2 apresenta o inverso do di- vidend yield, conhecido como Razão Preço-Dividendo, de algumas empresas. Ordenam-se os papéis da última semana de acordo com essa medida e reportam-se os papéis com as dez maiores e dez menores Razões Preço-Dividendo.

Gráfico 2 – Dividend Yield da Bolsa (01/01/2009 - 14/01/2022)

Tabela 2

Dez Maiores Dez Menores

Papel Preço-Dividendo Papel Preço-Dividendo

1. SQIA3 838,80 BRAP4 2,56

2. BIDI4 660,33 CPLE6 4,76

3. QUAL3 242,53 PETR4 5,24

4. IGTI3 229,83 VALE3 5,55

5. GNDI3 207,39 BMGB4 6,38

6. ARZZ3 207,14 TRPL4 6,56

7. ABEV3 193,74 UNIP6 6,68

8. RADL3 181,97 BRKM5 7,00

9. RENT3 170,93 VBBR3 7,87

10. HAPV3 163,16 DXCO3 8,12

(26)

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26 temas de economia aplicada

Gráfico 3 – Mercado de Aluguel de Ações (01/01/2013 - 13/01/2022)

Tabela 3

Cinco Maiores da Semana

Short interest Taxa de Aluguel

1. IRBR3 12,13% TRAD3 48,10%

2. VIIA3 11,05% IFMC3 33,25%

3. COGN3 10,58% RCSL3 29,34%

4. CVCB3 9,79% BIDI4 27,33%

5. YDUQ3 8,62% BPAN4 26,42%

Variação no short interest Variação na taxa de aluguel

1. VIIA3 1,12% SANB4 15,98%

2. ETER3 1,05% BRFS3 15,96%

3. ITUB4 0,93% ATOM3 5,61%

4. AZUL4 0,91% LAME3 5,22%

5. CYRE3 0,87% AGXY3 4,64%

O Gráfico 3 apresenta a evolução histórica do short in- terest do mercado acionário brasileiro e a taxa média de aluguel de ações. O short interest de uma empresa é dado pela razão entre a quantidade de ações em alu- guel e a quantidade de ações outstanding da empresa.

Mede assim o estoque de vendas a descoberto reali- zadas com as ações da empresa, tendendo a ser maior em momentos de expectativa de queda no valor da

empresa. O short interest do mercado, apresentado no gráfico, é a média (ponderada por valor) dos short in- terest individuais. A Tabela 3 reporta os cinco maiores short interest individuais e taxas de aluguel da semana passada, tanto em nível como primeira diferença (no caso deste último, são excluídos os papéis que tiveram variação negativa).

(27)

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A

B

1 O NEFIN não se responsabiliza por qualquer dano ou perda ocasio- nada pela utilização das informações aqui contidas. Se desejar repro- duzir total ou parcialmente o conteúdo deste relatório, está autorizado desde que cite este documento como fonte. O Nefin agradece à FIPE pelo apoio financeiro e material na elaboração deste relatório.

2 VIX® e CBOE® são marcas registradas da Chicago Board Options

Exchange. (*) <http://nefin.com.br/>.

O IVol-BR é um índice de volatilidade futura esperada para o mercado acionário brasileiro. É derivado do comportamento dos preços de opções sobre o IBOVES- PA. Já o VIX® é o índice de volatilidade futura espera- da para o mercado americano calculado pela CBOE®.2

O Gráfico 4A apresenta ambas as séries. O Gráfico 4B apresenta a diferença entre os índices, capturando assim a evolução da incerteza especificamente local.

Para detalhes, visite o site do NEFIN, seção “IVol-Br”:

<http://nefin.com.br/volatility_index.html>.

Gráfico 4 – Volatilidade Forward-Looking (01/08/2011 - 25/10/2021)

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28 temas de economia aplicada

Nota CEMEC Fipe 11/2021 : Tendência de Queda da Poupança Fi- nanceira das Famílias

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CEMEC – Centro de Estudos de Mercado de Capitais da Fipe (*)

1 Objetivo

O objetivo desta Nota CEMEC Fipe 11/2021 é analisar a evolução re- cente da poupança financeira das famílias. Observa-se tendência de queda no terceiro trimestre de 2021 até atingir valores negativos em setembro. A ideia é utilizar os dados de evolução dos depósitos de poupança por classes de valor dos saldos para verificar a existên- cia de sinais da utilização de parte da poupança financeira acumula- da nessas contas para reforçar a demanda de consumo e levantar algumas hipóteses sobre a manu- tenção da tendência negativa da poupança financeira das famílias nos próximos trimestres.

2 Sumário

Os dados de poupança financeira das famílias têm apresentado ele- vada correlação com os ciclos da pandemia, relação essa que tem sido atribuída à atuação do fator circunstancial e do fator precau- cional.

Entretanto, verifica-se que os dados de depósitos de poupança por classes de saldo mostram que a evolução da massa de renda real das famílias tem apresentado forte influência sobre a poupança finan- ceira gerada em 2020 e 2021. Por exemplo, os dados mostram corre- lação entre o aumento dos depósi- tos de poupança de todas as classes de saldos em 2020 com o aumento da massa de renda real das famí- lias alavancada pelo auxílio emer- gencial. Esse movimento muda radicalmente em 2021, quando se observa acentuada queda da renda real, ano em que somente os deten- tores de contas de poupança com saldos superiores a R$50.000,00 continuam gerando fluxo positivo de poupança.

A hipótese é que a forte aceleração da inflação de preços de itens bási- cos e inelásticos de consumo tem feito com que parcela significativa das famílias tenha utilizado parte de sua poupança acumulada para complementar seus gastos nesses itens.

Pelo menos até setembro, os dados de depósitos de poupança sugerem que os segmentos de renda mais elevada continuam mantendo a acumulação de poupança finan- ceira. Entretanto, parece razoável supor que a tendência de queda da poupança financeira das fa- mílias poderá ter continuidade na ausência de um novo ciclo da pandemia, além da destinação de parcela significativa da poupança para imóveis ou mesmo sua desti- nação para o exterior, com a queda da expectativa de crescimento da economia e aumento da incerteza no ano eleitoral.

3 Poupança Financeira das Famí- lias Cresce Menos no Terceiro Trimestre

A estimativa da evolução do fluxo líquido de poupança financeira das famílias no período de 2019 até o terceiro trimestre de 2021 é apre- sentada no Gráfico 1.

Referências

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