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História para o ensino da matemática nos artigos do ENEM

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História para o ensino da matemática nos artigos do ENEM

Jeová Pereira Martins jeovapereira@outlook.com Universidade Federal do Pará (UFPA) Benjamim Cardoso da Silva Neto benjamim.neto@ifma.edu.br Universidade Federal do Pará (UFPA)

Resumo

O crescimento e consolidação da área História da Matemática no Brasil culmina na implementação de espaços de discussão como eventos, associações, grupos e linhas de pesquisa de programas de pós-graduação onde a produção intelectual é crescente e, portanto, significativa no cenário da educação matemática nacional. Se faz necessário assim, a realização de pesquisas para mapear tal produção e apontar tendências que sirvam de direcionamento para pesquisas vindouras, dentre as quais destacamos a de Mendes (2014), que realizou uma cartografia da referida produção, por meio da análise de teses e dissertações defendidas nos Programas de Pós-graduação brasileiros entre 1990-2010, e identificou três dimensões da pesquisa em história da matemática: história da educação matemática, história e epistemologia da matemática e história para o ensino da matemática. Embasados nesse estudo, realizamos uma pesquisa nos anais do Encontro Nacional de Educação Matemática (ENEM), ocorridos no período de 1987 a 2016, disponíveis no portal da SBEM Brasil, com o objetivo de identificar e classificar os trabalhos publicados na sessão de comunicações científicas, que tratam sobre história da matemática, com foco na história para o ensino da matemática, para responder à seguinte questão: quais as tendências desses trabalhos no decorrer das três décadas investigadas? Trata-se de um recorte temático de uma pesquisa mais ampla, coordenada por Mendes (2018), de cunho qualitativo, cuja base teórico-epistemológica fundamenta-se nas discussões sobre o uso da história e da investigação histórica para o ensino da matemática (MENDES, 2009, 2015), configurada em uma matriz paradigmática proposta por Gamboa (2012) para processar uma análise epistemológica dos textos publicados. Os resultados apontam para um maior crescimento da dimensão história da educação matemática e que a maioria dos textos de história para o ensino da matemática não contém fundamentos epistemológicos que caracterizem o tipo de conhecimento produzido as finalidades e os métodos tomados da história para o ensino da matemática, embora destaquem aspectos conceituais e didáticos nas propostas apresentadas. Assim esclarecemos finalmente que há necessidade de se reformular alguns dos modos de pensar e fazer história para o ensino da matemática como uma proposta didática que seja incorporada à pratica do professor em suas formação e ação docente.

Palavras-chave: ENEM; Comunicações; História para o ensino da matemática;

1. Sobre a pesquisa, fundamentos e métodos

O ensino de matemática tem sido praticado ao longo dos tempos em diversos contextos e espaços formais e não formais. Sobre tal fato é possível encontrar indícios em períodos como a Antiguidade, Idade Média, Renascimento e Idade Moderna. A preocupação com tal ensino foi tomando forma e se intensificou por diversos séculos. No entanto, somente na segunda metade do século XVIII, com a ocorrência das grandes revoluções (Industrial, Americana e Francesa) passa a configurar um novo campo de pesquisas e produção de conhecimentos

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nomeado de Educação Matemática cuja caracterização ocorre de forma mais efetiva na virada do século XIX para o XX, a nível internacional, e no Brasil, a partir da década de 19801.

No cenário nacional da educação matemática, a partir da década de 1990 começou a tomar corpo a organização de grupos dos pesquisadores em história da matemática, o que pode ser identificado fortemente a partir da realização do 1º Seminário Nacional de História da Matemática, ocorrido em Recife, em 1995, seguido com a criação da Sociedade Brasileira de História da Matemática em 1999, e com a criação de revistas especializadas como a Revista Brasileira de História da Matemática. Desde esse período, verificou-se que as produções em história da matemática avançaram quantitativamente e qualitativamente, acrescentando contribuições para a constituição deste novo campo de estudos e pesquisas. Destacam-se dentre essas contribuições aquelas voltadas para o desenvolvimento epistemológico da matemática, para o resgate da memória da educação matemática e as quais propõe o uso da história para o ensino da matemática e para a formação de professores de matemática (BARROS & MENDES, 2015).

O crescimento da pesquisa em história da matemática, originando produções de teses e dissertações e publicações como livros, capítulos e artigos, fez surgir a necessidade de se analisar essas produções visando inferir “sobre seus riscos, suas tendências, a validez científica de seus resultados, a aplicabilidade de suas conclusões, seus critérios de cientificidade, seus fundamentos e etc”(GAMBOA, 2012, p. 51).Tomando como base os princípios de pesquisa sugeridos por Gamboa (2012) nossa análise será feita na forma de pesquisa da pesquisa, ou seja, aquelas que têm como objeto de estudos as produções cientificas em história da matemática, tal como aparecem nos trabalhos de Angelo (2014); Barros (2016) e Gonçalves (2015), todas relacionadas a um estudo ampliado coordenado por Mendes (2014)2.

Nesse contexto, a pesquisa de Mendes (2014) traçou uma cartografia da produção em história da matemática no Brasil, por meio da análise de teses e dissertações defendidas nos Programas de Pós-graduação brasileiros entre 1990-2010, cujos resultados apontam para a existência de três dimensões nesse campo de pesquisa: história da educação matemática, história e epistemologia da matemática e história para o ensino da matemática. Assim, Mendes

1 Para aprofundamento sobre esse assunto ver Miguel, A. et al (2004).

2Relatório de pesquisa intitulado Cartografias da produção em História da Matemática no Brasil: um estudo centrado nas dissertações e teses defendidas entre 1990-2010 coordenado pelo Prof. Dr. Iran Abreu Mendes, financiado pelo CNPq e realizado na Universidade Federal do Rio Grande do Norte em Natal.

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(2014) traz contribuições importantes para esse campo por meio de uma lógica própria de investigação e análise, com bases filosóficas e epistemológicas que demarcam com mais veemência a configuração teórico-metodológica desse campo de pesquisa.

Os fundamentos teórico-metodológicos da pesquisa advêm das ideias de Gamboa (2012) sobre análise epistemológica e matriz paradigmática, e de Mendes (2009, 2014, 2015) sobre as dimensões da pesquisa em história da matemática no Brasil (mencionadas anteriormente), usadas na classificação inicial das comunicações analisadas. Juntas, as ideias de Gamboa (2012) e de Mendes (2009, 2014, 2015) compõem as noções conceituais que iluminaram a análise da produção na pesquisa brasileira.

Nesta direção realizamos uma pesquisa nos anais do Encontro Nacional de Educação Matemática (ENEM) realizados entre 1987 a 2016 (30 anos), a fim de classificar as comunicações científicas sobre história da matemática nas três dimensões já mencionadas, para assim proceder a um estudo dos textos de história para o ensino da matemática. Trata-se de um recorte temático de uma pesquisa mais ampla, coordenada por Mendes (2018) em continuidade às pesquisas anteriores, de cunho qualitativo, cuja base teórico-epistemológica fundamenta-se nas discussões sobre o uso da história e da investigação histórica para o ensino da matemática (MENDES, 2009, 2015), configurada em uma matriz paradigmática proposta por Gamboa (2012) para processar uma análise epistemológica dos textos publicados.

Neste texto relatamos parte da pesquisa feita nos anais do ENEM com o objetivo de identificar e classificar os trabalhos publicados na sessão de comunicações científicas, que tratam sobre história da matemática, com foco na história para o ensino da matemática para responder à seguinte questão: quais as tendências desses trabalhos no decorrer das três décadas investigadas?

2. Sobre os resultados encontrados e apontamentos analíticos

Como já mencionamos anteriormente, a produção analisada refere-se às comunicações científicas publicadas nos anais das 12 edições do ENEM, ocorridos de 1987 a 2017. Para tanto fizemos um levantamento desses anais no portal da Sociedade Brasileira de Educação Matemática (SBEM)3, cuja documentação está organizada assim: um bloco com um documento único em pdf contendo as edições I, II, III, IV, V e VI, e outras seis edições do evento arquivadas

3http://www.sbembrasil.org.br/sbembrasil/index.php/anais/enem. Último acesso em 09/08/2018.

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em portais na internet na forma de anais eletrônicos disponíveis para download. Nos anais do I ENEM estão somente os títulos das comunicações, nas edições de II a V, constam os títulos e resumos, no VI ENEM as comunicações são textos de uma a três páginas e nos anais das demais edições estão os artigos completos referentes às comunicações.

Ressaltamos que uma pesquisa similar sobre este tema foi realizada por Gonçalves (2015), ao fazer um estudo dos anais do ENEM, com outros objetivos, originando outros resultados e análises sobre os textos estudados, o que é natural por se tratar de outro foco de pesquisa. No entanto, destacamos que os resultados da pesquisa de Gonçalves (2015) foram muito úteis para complementar nossa reflexão sobre os artigos investigados por nós.

Assim, para selecionar e classificar os textos analisados em nossa pesquisa, foram lidos os títulos, os resumos e, em alguns casos, os textos completos quando somente os títulos e resumos não foram suficientes para identificar o que queríamos. Para tanto, buscamos inicialmente as comunicações sobre história da matemática, ou seja, aquelas que tinham como objeto principal de pesquisa a história da matemática, tendo em vista que algumas comunicações que mencionam a história ou que trazem alguns aspectos da história da matemática não a têm como elemento principal, e sim outros aspectos ou tendências da educação matemática. A partir desse critério, procedemos a seleção cujo resultado conta no quadro 01.

Quadro 01 – Comunicações de história da matemática nos anais do ENEM Encontros Comunicações

científicas

Comunicações de história da matemática

Porcentagem4

I ENEM 77 4 5%

II ENEM 92 4 5%

III ENEM 81 1 1%

IV ENEM 61 8 13%

V ENEM 152 9 6%

VI ENEM 287 18 7%

VII ENEM 95 7 8%

VIII ENEM 165 8 5%

IX ENEM 278 6 2%

X ENEM 514 44 9%

XI ENEM 770 84 11%

XII ENEM 971 84 9%

Fonte: elaborado pelos autores

4 Valores arredondados.

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A partir das informações presentes no quadro 01 pode-se perceber que em termos quantitativos, houve crescimento gradativo do número de comunicações de história da matemática nas seis primeiras edições do ENEM, iniciando com 4 no I e crescendo até atingir 18 comunicações no VI. Se observarmos as seis últimas edições esse mesmo movimento se repete. No VII ENEM tivemos 7 comunicações, número que cresceu e atingiu 84 na edição XII.

De forma geral, ao longo desses 30 anos de ENEM, o número de comunicações de história da matemática, foi crescente, fato que pode ser reforçado se observarmos o quantitativo de trabalhos das seis primeiras edições, 44, em relação ao das seis últimas que atingiu 233 comunicações, número que corresponde a 84% do total e revela o período de maior crescimento do campo da história no contexto estudado.

Observa-se, também que em todas as edições do ENEM, há trabalhos de história da matemática, mesmo nas três primeiras edições que ocorreram em 1987, 1988 e 1990, respectivamente, época em que o campo ainda estava iniciando seu processo de organização, como já mencionamos anteriormente. Isso indica que desde 1987, já haviam trabalhos de história da matemática sendo feitos, talvez os primeiros indícios do surgimento de um novo campo de estudos e pesquisa em educação matemática no Brasil.

Nas duas primeiras décadas de ENEM, as comunicações de história da matemática, totalizam 59, que corresponde a 21% do total, e nos últimos 10 anos, nos quais ocorreram 4 edições do evento, esse número chaga a 218 que equivale a 79% das comunicações. Esse dado mostra que a partir de 1997, o campo da história da matemática começa a se consolidar no evento estudado, o que pode ser reflexo do cenário nacional da educação matemática brasileira.

Considerando o percentual de comunicações de história da matemática em cada ENEM, pode se perceber que as edições III e IX tiveram o menor percentual, 1% e 2% respectivamente, ao passo que nas edições IV e XI, tiveram o maior percentual, 13% e 11%, respectivamente. As demais edições tiveram, no mínimo, 5% de comunicações de história da matemática.

O quadro 02 demonstra que número de comunicações publicadas nos anais das 12 edições do ENEM totaliza 3543 trabalhos dos quais 277 têm como foco a história da matemática, número que corresponde a 8%, apenas. Uma primeira hipótese para esse resultado pode se justificar pela diversidade de métodos e temáticas das pesquisas em educação

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matemática brasileira ao longo desses 30 anos e, ainda, pelo movimento crescente dos estudos e pesquisas em história da matemática.

Quadro 02 – percentual de comunicações de história da matemática Total de comunicações

científicas no ENEM

Total de comunicações de história da matemática

Porcentagem

3543 277 8%

Fonte: elaborado pelos autores

As 277 comunicações de história da matemática contidas nos anais das 12 edições do ENEM foram catalogadas e classificadas nas três dimensões da pesquisa em história da matemática do Brasil: história e epistemologia da matemática (HEpM), história da educação matemática (HEdM) e história para o ensino da matemática (HEsM)5. Para caracterizar cada dimensão fizemos um recorte temático, com base nos estudos de Mendes, (2012, 2014, 2015) e Barros & Mendes (2017), que foi materializado da seguinte forma:

Foram classificados na dimensão história e epistemologia da matemática os textos que tem como foco principal o desenvolvimento histórico-epistemológico da matemática como conteúdo e como disciplina científica, que abordam a vida “acadêmica” de matemáticos diretamente ligadas e suas contribuições para o desenvolvimento da matemática e que tratam de obras matemáticas históricas.

Na dimensão história da educação matemática, foram incluídos artigos que têm como objetivo último recuperar ou reconstruir a memória da educação matemática e foco temático: a biografia de matemáticos e professores de matemática, a história das disciplinas escolares, a história dos conteúdos e do currículo escolar de matemática, a história dos movimentos ligados à matemática e suas implicações para a matemática escolar e a história de instituições escolares Foram classificados como história para o ensino da matemática os textos que foquem o desenvolvimento histórico-epistemológico da matemática como fonte de informações históricas a serem utilizadas para o ensino da matemática, nos seus diferentes níveis, e para a elaboração de atividades de ensino e que evidenciem preocupações com a formação de professores de matemática a partir da história. Os resultados dessa classificação estão no quadro 03.

Quadro 03 – Dimensões da história da matemática nos anais do ENEM

Eventos HEpM HEdM HEsM Total

5 As siglas HEpM, HEdM e HEsM foram criadas por nós durante a pesquisa.

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I ENEM 1 1 2 4

II ENEM 0 1 3 4

III ENEM 0 0 1 1

IV ENEM 3 2 3 8

V ENEM 3 2 4 9

VI ENEM 1 12 5 18

VII ENEM 1 6 0 7

VIII ENEM 3 5 0 8

IX ENEM 0 4 2 6

X ENEM 5 30 9 44

XI ENEM 3 61 20 84

XII ENEM 4 58 22 84

Total 24 182 71 277

Fonte: elaborado pelos autores

O quadro 03 mostra um panorama geral das comunicações orais do ENEM segundo as dimensões da pesquisa em história da matemática brasileira, pois a partir dele é possível verificar como essas três dimensões se desenvolveram ao longo de 30 anos e foram demarcando e caracterizando o campo da história da matemática, nesse contexto, como lócus de pesquisa e produção científica.

Ao observar a coluna HEpM é possível identificar três edições do ENEM (II, III e IX) nas quais não houve nenhuma comunicação dessa dimensão. No X ENEM atingiu o seu maior quantitativo que corresponde a 5 trabalhos. No total foram 24 trabalhos em HEpM nos 30 anos de ENEM dos quais 50% foram publicados nas três últimas edições do evento. Considerando o número de trabalhos dessa dimensão em relação ao total de comunicações de cada evento percebe-se que o maior percentual ocorreu no IV e no VIII, atingindo 38% do total de comunicações de história da matemática.

No que se refere à HEdM, ao observar as seis primeiras edições do ENEM, percebe-se que o número de comunicações é 18, já nas seis últimas tivemos 164 comunicações, ou seja, as comunicações de HEdM publicadas nas seis últimas edições, correspondem a 90% do total dessa dimensão no evento. Para demarcar com mais precisão o período de maior crescimento dessa dimensão, consideremos somente as três últimas edições do evento estudado, pois nelas, o número de comunicações totaliza 149, o que significa que 82% das comunicações em história da educação matemática foram publicadas de 2010 a 2016 (sete dos 30 anos), período de realização dessas edições do ENEM.

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Ao observar a coluna HEsM é possível perceber que em duas edições (VII e VIII) não houve comunicações. Excluindo-se as duas edições citadas e comparando o número de comunicações da dimensão com o total de comunicações de história da matemática, pode-se verificar o seguinte: nas seis primeiras tivemos 18 trabalhos de HEsM que correspondem a 41%

do total de 44 de comunicações de história, no mesmo período. Com relação as 4 últimas edições, esse percentual é de 24% pois, foram publicadas 53 comunicações de HEsM das 218 comunicações em história, ou seja, percentualmente, houve uma redução das comunicações da dimensão, comparando-se as seis primeiras com as quatro últimas edições do ENEM. Por outro lado, se considerarmos o número de comunicações desse mesmo período com o total de comunicações de HEsM, as 53 comunicações das 4 últimas edições correspondem a 75% das comunicações da dimensão, ao passo que as 18 das seis primeiras edições representam, somente, 25%.

Quadro 04– Total das Dimensões da história da matemática nos anais do ENEM (%)

Dimensões HEpM HEdM HEsM Total

Total 24 182 71 277

Porcentagem 8% 66% 26% 100%

Fonte: elaborado pelos autores

Os dados do quadro 04 mostram os percentuais das três dimensões da pesquisa em história da matemática nas comunicações do ENEM. Pode-se perceber que das 277 comunicações de história da matemática 182 (66%) são da dimensão HEdM e que somente 24 (8%) são de HEpM o que evidencia a preocupação, predominante, do campo da história da matemática em recuperar ou reconstruir a memória da educação matemática ao passo que o desenvolvimento histórico-epistemológico da matemática como conteúdo e como disciplina científica tem ocupado menos espaço no cenário nacional da pesquisa no que tange ao ENEM.

À dimensão HEsM, corresponderam 71 comunicações 26% do total, o que mostra a necessidade de serem realizadas mais pesquisas de história da matemática voltadas para o ensino de matemática e para a formações de professores de matemática, tendo em vista a necessidade de se praticar um ensino de matemática de melhor qualidade, sendo este um dos objetivos da educação matemática.

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Comparando quantitativamente as três dimensões, em relação ao total de comunicações de história da matemática, a que obteve o maior crescimento foi HEdM com 66%, seguida da HEsM com 26%, ficando a dimensão HEpM com, apenas, 8% desse total. Constata-se, portanto que a dimensão HEdM predomina em termos quantitativos em relação as outras, o que já foi comprovado por Mendes (2014) em sua pesquisa sobre Teses e Dissertações, já mencionada anteriormente, pois do total de trabalhos analisados, 65% foram classificados na dimensão história da educação matemática o que reforça nossa pesquisa e confirma o crescimento superior ao qual nos referimos.

2.1. Sobre as comunicações de HEsM

As informações apresentadas anteriormente, mostram uma caracterização da história da matemática, em termos quantitativos, nos 30 anos de realização do Encontro Nacional de Educação Matemática no que se refere às comunicações orais e as dimensões estudas. No entanto, nosso foco temático são as comunicações da dimensão HEsM cujo estudo não se esgotou neste texto. Por ora relatamos (a seguir) um estudo das comunicações da dimensão com relação aos conteúdos de matemática abordados e às atividades de ensino elaboradas.

Nas comunicações de história para o ensino de matemática, foram abordados temas diversos como: analise de livros didáticos, história da matemática para a formação de professores da educação básica, sobre as potencialidades da disciplina de história da matemática na licenciatura em matemática, história da matemática em livros didáticos do ensino fundamental, pesquisa da pesquisa em história da matemática, relações entre história da matemática e tecnologias de comunicações e informação, concepções de professores da Educação Básica sobre história da matemática, elaboração de atividades de ensino com base na história, dentre outros.

Os temas das comunicações focam um determinado objeto de estudo segundo o qual fizemos uma categorização das comunicações. As comunicações de HEsM cujo objeto é o ensino de um determinado conteúdo de matemática foram agrupadas em 4 blocos: Aritmética, Álgebra, Geometria e Trigonometria. As comunicações cujo objeto é a história para o ensino, apenas, sem a relacionar a um conteúdo especifico foram agrupados na categoria outros, como pode-se visualizar no quadro 05.

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Quadro 05 – Comunicações de HEsM por conteúdo abordado

Encontros Aritmética Álgebra Geometria Trigonometria Outros Total

I ENEM 1 --- --- --- 1 2

II ENEM 1 --- 2 --- --- 3

III ENEM --- --- --- --- 1 1

IV ENEM 2 --- --- --- 1 3

V ENEM 3 --- --- --- 1 4

VI ENEM --- --- 1 1 3 5

VII ENEM --- -- -- -- -- 0

VIII ENEM --- -- -- -- -- 0

IX ENEM 1 --- 1 --- --- 2

X ENEM 3 1 1 2 2 9

XI ENEM 5 5 4 1 5 20

XII ENEM 3 2 3 1 13 22

Total 19 8 12 5 27 71

Fonte: elaborado pelos autores

Ao observar o quadro 05 é possível concluir que das 71 comunicações de HEsM 62%

têm como foco o ensino de um conteúdo de matemática por meio da história e 38% abordam o tema sem focar um conteúdo específico. Os dois grupos são relevantes para o campo, pois do ponto de vista do ensino e da aprendizagem de matemática, principalmente para a Educação Básica, é fundamental que as pesquisas relatadas se preocupem com o conteúdo de matemática a ser ensinado o que torna a proposta mais compreensível e possível de ser aplicada no ensino de matemática nesse nível. No entanto, as comunicações que tem outro objeto, são importantes (principalmente para a pesquisa, mas não somente) por desenvolverem argumentos favoráveis a história como metodologia de ensino e discutirem sobre ideias dos principais autores dessa linha de pensamento.

As 27 comunicações da categoria outros, abordam temas variados dos quais destacamos:

a formação de professores de matemática a partir da história, o mapeamento do campo da história (pesquisa da pesquisa), a relação entre história da matemática e outras tendências no ensino de matemática e a história da matemática como recurso pedagógico.

Percebe-se também que do total de comunicações de HEsM, 19 (27%) têm como objeto a Aritmética, 12 (17%) a Geometria, 8 (11%) Álgebra e apenas 5 a Trigonometria o que corresponde a 7% do total de comunicações dessa dimensão. A categoria com maior número de comunicações, Aritmética, contemplou os estudos que discutem sobre o ensino de:

Logaritmos, conjuntos numéricos, teoria dos conjuntos, probabilidade, dentre outros. A

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categoria com menor representatividade, Trigonometria, contemplou, basicamente, o estudo das razões trigonométricas (seno, cosseno e tangente) no triangulo retângulo e na circunferência.

No que se refere as atividades elaboradas para o ensino de matemática a partir da história, constatamos com a pesquisa que das 71 comunicações de HEsM 15, apenas, discutiram sobre atividades de ensino. Nessas comunicações as atividades são discutidas de maneiras diferentes. Alguns textos relatam a aplicação de atividades de ensino para um grupo de alunos e discutem os resultados sem deixar clara a caracterização da atividade, ou seja, não é possível identificar no texto, no que consistiu a atividade e como ela foi estruturada/organizada. Esses textos trazem parte da atividade e não especificam os objetivo, a metodologia e as etapas da atividade. No entanto são textos que apresentam resultados que podem servir de referência para professores que desejem trabalhar com metodologia semelhante.

Desses 15 textos, somente 4 trazem uma proposta de atividade caracterizada com: título, objetivos, procedimentos metodológicos para o professor que decidir usar a atividade, material a ser utilizado e questionamentos a serem respondidos. Consideramos essa organização da atividade de extrema importância para que o leitor (professor ou estudante) possa compreender como agir na “solução” da atividade ou a ressignificar para o seu contexto, quando necessário, uma vez que o texto é o único meio para isso. Destacamos as orientações para o professor como condição necessária para que as atividades sejam utilizadas no ensino de matemática nas atividades diárias desse professor. Assim, ao elaborar atividades de ensino, os autores devem dar maior atenção às orientações que irão auxiliar o professor na metodologia necessária para a sua implementação nas aulas de matemática.

Ao fazer o estudo dos textos de HEsM, percebemos que a maioria não contém fundamentos epistemológicos que caracterizem o tipo de conhecimento produzidos, as finalidades e os métodos tomados da história para o ensino da matemática, embora destaquem aspectos conceituais e didáticos nas propostas apresentadas, fato que irá ser investigado com mais profundidade por nós. Assim esclarecemos finalmente que há necessidade de se reformular alguns dos modos de pensar e fazer história para o ensino da matemática como uma proposta didática que seja incorporada à pratica do professor em suas formação e ação docente.

3. Reflexões Finais

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O presente texto foi elaborado com a intenção de relatar parte de uma pesquisa feita nos anais das 12 edições do ENEM ocorridas de 1987 a 2016. Os resultados dessa pesquisa não se esgotaram neste relato e outros resultados como as análises de aspectos epistemológicos dos textos serão tornados públicos oportunamente. Além disso, este trabalho, faz parte do projeto de pesquisa “História para o ensino de matemática na formação de professores e na educação básica: uma análise da produção brasileira (1997 - 2017) ” financiado pelo CNPQ, em desenvolvimento na Universidade Federal do Pará (UFPA) e coordenado pelo Prof. Dr. Iran Abreu Mendes a quem agradecemos sempre pelas orientações e direcionamentos.

Consideramos que o texto descreveu as principais características quantitativas do campo da história da matemática no contexto dos 30 anos de ENEM, principalmente no que se refere a classificação das comunicações científicas em história da educação matemática (HEdM), história e epistemologia da matemática (HEpM) e história da educação matemática (HEdM).

Além disso, fizemos um estudo (ainda superficial) das comunicações de HEsM que apontou algumas de suas características no que se refere aos temas e conteúdo de matemática abordados e atividade de ensino elaboradas.

Consideramos que o objetivo estabelecido foi alcançado e que a análise detalhada das comunicações científicas demanda uma imersão maior nos referenciais teóricos e metodológicos adotados para que os textos sejam olhados com uma lente mais precisa e que revele outros aspectos de cunho qualitativo (que por vezes encontram-se implícitos nos trabalhos estudados). Esse olhar mais preciso e vertical para os textos caracteriza a continuidade da pesquisa por nós o que já está em curso.

Consideramos de extrema importância para a educação matemática estudos que tenham como foco temático a caracterização da produção em história da matemática, por evidenciar as principais características e tendências desse campo de estudos e de produção de conhecimento o que poderá servir de parâmetro para a realização de pesquisas futuras.

Consideramos que o texto traz contribuições importantes para o campo da história da matemática de maneira especial para a pesquisa em história, pois evidencia alguns de seus aspectos e informa, os que pertencem a ele e ao público em geral, sobre suas principais tendências dentro do maior evento da educação matemática no Brasil, o ENEM, ao longo desses 30 anos.

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Esperamos que este texto possa contribuir com a formação dos leitores, seja nas suas atividades docentes ou de pesquisa, gerando reflexões sobre o ensino da matemática por meio de atividades pautadas em uma abordagem da história como recurso didático, e ações no sentido de aprimoramento das práticas educativas relacionadas ao ensino de matemática e a formações de professores de matemática.

Referências

ANGELO, C. B. Cenário da produção acadêmica em história da matemática no ensino de matemática: uma análise reflexiva das teses e dissertações (1990 a 2010). Tese (Doutorado em educação). Programa de Pós-Graduação em Educação. Centro de Ciências Sociais Aplicadas. Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Natal, 2014.

BARROS, José D’Assunção. Os conceitos: Seus usos nas ciências humanas – Petrópolis, RJ:

Vozes, 2016.

BARROS, R. J. A. do R. Pesquisas sobre história e epistemologia da matemática contribuições para a abordagem da matemática no ensino médio. Tese (Doutorado em

educação). Programa de Pós-Graduação em Educação. Centro de Ciências Sociais Aplicadas.

Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Natal, 2016.

BARROS, R. J. A. do R.; MENDES, I. A. Dissertações e teses em História e Epistemologia da Matemática: contribuições para a abordagem da Geometria Espacial no Ensino Médio.

Principia, João Pessoa, n. 37, p. 139 – 150, 2017.

GAMBOA, S. S. Pesquisa em educação: métodos e epistemologias. – Chapecó, SC. Editora Argos, 2012.

GONÇALVES, F. D. da S. História da educação matemática no Brasil: contribuições das pesquisas para professores da educação básica. 164 f. Dissertação (Mestrado em educação).

Programa de Pós-Graduação em Educação. Centro de Ciências Sociais Aplicadas.

Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Natal, 2015.

MENDES, I. A. Cartografias da produção em História da Matemática no Brasil: um estudo centrado nas dissertações e teses defendidas entre 1990-2010. Relatório de Pesquisa (Bolsa produtividade CNPq). Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Natal, 2014.

MENDES, I. A. História da Matemática no Ensino: Entre trajetórias profissionais, epistemológicas e pesquisas. São Paulo: Editora Livraria da Física, 2015.

MENDES, I. A. História para o Ensino de Matemática na Formação de Professores e na Educação Básica: uma Análise da Produção Brasileira (1997 - 2017). UFPA: Projeto de pesquisa. Belém, 2018.

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MENDES, I. A. Investigação Histórica no Ensino da Matemática. Rio de Janeiro: Editora Ciência Moderna, 2009.

MENDES, I. A. Tendências da Pesquisa em História da Matemática no Brasil: A Proposito das Dissertações e Teses (1990 – 2010). Educação Matemática e Pesquisa, São Paulo, v. 14, n. 3, p. 465 - 480, 2012.

MIGUEL, A.; GARNICA, A. V. M.; IGLIORI, S. B. C.; D’AMBROSIO, U. A educação matemática: breve histórico, ações implementadas e questões sobre sua disciplinarização.

Revista Brasileira de educação, 2004. Nº 27. Pp. 70-93.

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