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Rev. psiquiatr. Rio Gd. Sul vol.28 número2

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Academic year: 2018

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Rev Psiquiatr RS maio/ago 2006;28(2):115-116 Editorial

Editorial

Escutando o paciente: disso, não nos

afastemos

Pode parecer estranho e até mesmo absolutamente redundante e atemporal que, em pleno século 21, tenhamos que nos relembrar que, na medicina em geral e na psiquiatria em particular, precisamos escutar o paciente. E aqui, cabe ressaltar, não estamos falando apenas de uma escuta que busca sinais e sintomas ou respostas para que possamos p r e e n c h e r c r i t é r i o s d i a g n ó s t i c o s o u instrumentos de pesquisa. Estamos falando da escuta comprometida, interessada e vinculada àquilo que deveria ser a essência de nossa p r o f i s s ã o : a p e s s o a , c o m t o d a a s u a complexidade e vicissitudes. Porém, nossa disciplina é complexa em sua natureza, pois, sendo também uma ciência humana, agrega em seu bojo uma mistura com a arte. A qual arte estamos nos referindo? Focalizamos a arte d e b u s c a r n a r e l a ç ã o c o m o o u t r o a possibilidade de compreender o sofrimento e oportunizar as condições para o alívio. Mas como desenvolver essa arte? Sem dúvida, precisamos resgatar a importância da relação m é d i c o - p a c i e n t e . N ã o é m a i s p o s s í v e l desconsiderar o interjogo das subjetividades envolvidas nessa relação. O psiquiatra e o seu paciente estão envolvidos em uma relação intensa, mas com funções assimétricas e responsabilidades éticas distintas. Cabe ao

profissional, desde o primeiro contato com o seu paciente, buscar conhecê-lo, avaliar as suas dificuldades, angústias, problemas e oferecer o tratamento mais indicado e acurado possível. Mas como conhecer de verdade o outro, sem possibilitar um tempo, um olhar e uma escuta do sofrimento que muitas vezes o paciente não consegue nos transmitir com palavras?

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Rev Psiquiatr RS maio/ago 2006;28(2):115-116 Editorial

e n f a t i z e a p u b l i c a ç ã o d e i n s t r u m e n t o s . Entretanto, para nós, editores da Revista de Psiquiatria do Rio Grande do Sul, não há contradição nessa postura.

Por um lado, firmamo-nos no cenário científico nacional como o local de referência que publica artigos que abordam a validação de i n s t r u m e n t o s e m l í n g u a p o r t u g u e s a , d i s p o n i b i l i z a n d o p a r a a c o m u n i d a d e psiquiátrica, nos últimos 3 anos, de forma quase ininterrupta, várias escalas na íntegra. Tais instrumentos também ajudam sobremaneira – não temos dúvida – o clínico que está distante da academia a melhor acurar sua avaliação psicopatológica ou terapêutica a partir de tais instrumentos. De outro lado, entendemos que, por mais instrumentos validados e por mais resultados originais de pesquisa que sejam gerados de forma crescente e com mais qualidade em nosso país, a prática psiquiátrica diária jamais poderá prescindir de sua essência: a escuta humanizada de cada paciente em particular. Podemos e devemos tentar mensurar “fenômenos abstratos”, mas nossa prática clínica necessita de algo mais. A idéia de voltar a conversar mais com o paciente pode parecer óbvia demais ou já tão conhecida, mas o que é antigo nem sempre fica fora de moda ou merece ser desprezado (caso contrário, teríamos que chamar de obsoletos Mozart, Bach, Beethoven e outros). Pensamos que é na boa mistura de reconhecer o legado dos pioneiros e sua experiência e o que de mais novo se anuncia – em uma particular maneira de atender aquele paciente que nos procura – que está a arte ou o trabalho artesanal, que cada um vai praticar.

Por isso, entendemos que, ao lado de trabalhos originais de pesquisa, precisamos também de uma produção de trabalhos de revisão e reflexão com elaboração crítica sobre o s f u n d a m e n t o s , p o r e x e m p l o , d a s

psicoterapias, que possam não apenas veicular opiniões, mas também aprofundar esse tema. Queremos confirmar a posição da Revista de Psiquiatria do Rio Grande do Sul como um local frutífero de integração do desenvolvimento da psiquiatria clínica e das psicoterapias. Nossa revista segue, portanto, sendo o amplificador dessa postura plural que é a raiz da psiquiatria gaúcha. Dentro dessa linha, foi com muito prazer que nós observamos que a Associação Brasileira de Psiquiatria já definiu como tema central do XXV Congresso Brasileiro de Psiquiatria, que se realizará aqui em Porto Alegre em 2007, “A psiquiatria e a pessoa: o acolhimento da pluralidade”.

Por mais incrível e estranho que isso possa parecer – como iniciamos acima esse texto –, temos que, em pleno século 21, lembrar que tudo o que fizemos em psiquiatria (inclusive nossas publicações científicas) não deve, sob hipótese alguma, perder o único norte: nosso paciente. E, para estarmos efetiva e afetivamente juntos a ele, não bastam apenas os essenciais métodos acurados de diagnóstico e tratamento. É ainda na interação com o paciente – esse campo único – que encontraremos a pessoa. Escutá-la, pois, é nossa função primeira. Ou, como disse recentemente em entrevista ao jornal italiano La Repubblica o Maestro Ricardo Mutti: “É essa a contradição implícita no meu trabalho: em teoria, deve-se dizer à orquestra o que ela deve fazer, mas, na prática, é com a orquestra que aprendemos como se faz”. Tenhamos, pois, humildade na nossa prática psiquiátrica e passemos a acreditar nessa contradição: vamos também aprender como se faz escutando nossos pacientes. E, disso, não nos afastemos.

Carmem F. Keidann e Flávio Shansis Editores

Referências

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