• Nenhum resultado encontrado

TRIBUNAL DE JUSTIÇA PODER JUDICIÁRIO São Paulo

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2021

Share "TRIBUNAL DE JUSTIÇA PODER JUDICIÁRIO São Paulo"

Copied!
9
0
0

Texto

(1)

Registro: 2016.0000640149

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos de Agravo de Instrumento nº 2212015-61.2015.8.26.0000, da Comarca de São Paulo, em que são agravantes NATURA COSMETICOS S.A e INDÚSTRIA E COMÉRCIO DE COSMÉTICOS NATURA LTDA, é agravado PADMA INDÚSTRIA DE ALIMENTOS S/A.

ACORDAM, em 9ª Câmara de Direito Privado do Tribunal de

Justiça de São Paulo, proferir a seguinte decisão: "Negaram provimento ao recurso, com observação. V.U.", de conformidade com o voto do Relator, que integra este acórdão.

O julgamento teve a participação dos Exmos. Desembargadores ALEXANDRE LAZZARINI (Presidente sem voto), JOSÉ APARÍCIO COELHO PRADO NETO E ANGELA LOPES.

São Paulo, 30 de agosto de 2016.

COSTA NETTO RELATOR Assinatura Eletrônica

(2)

Agravo de Instrumento nº 2212015-61.2015.8.26.0000

Agravantes: NATURA COSMETICOS S.A e Indústria e Comércio de Cosméticos Natura LTDA

Agravado: Padma indústria de alimentos s/a Comarca: São Paulo

Voto nº 2439

Juiz(a): Inah de Lemos e Silva Machado

Agravo de instrumento. Fase de cumprimento de

sentença. Insurgência contra decisão que indeferiu a inclusão de terceiro no polo passivo da demanda para o fim de responder, solidariamente, com a executada pela satisfação do crédito.

1 Sucessão ou responsabilidade solidária. Alegação de

ocorrência de sucessão pelo terceiro, em razão da aquisição de ativos em processo de recuperação judicial que envolvia o uso e exploração da marca da executada, ou ao menos, de confusão empresarial a ensejar a atribuição de responsabilidade solidária, a justificar a inclusão no polo passivo. Impossibilidade. Aquisição regular de ativo em processo de recuperação judicial. Inocorrência de sucessão. Inteligência do §1º, do artigo 60, da Lei 11.101/05, de acordo com a sistemática da lei que visa à preservação da empresa, elemento objetivo. Outrossim, ainda que reconhecida a existência de grupo econômico, inaplicabilidade de responsabilidade solidária objetiva, no caso em comento. Responsabilidade solidária objetiva que somente pode decorrer da lei (ex lege), a exemplo da legislação trabalhista e da consumerista.

2 Desconsideração da personalidade jurídica.

Impossibilidade de aplicação da desconsideração da personalidade jurídica, prevista no artigo 50, da lei civil. Não verificação da ocorrência dos pressupostos a autorizar a sua aplicação.

Observação: encerramento da recuperação judicial da

executada. Inexistência de óbice ao prosseguimento da fase executória com a realização de constrições e de outras medidas postas à disposição das exequentes visando à satisfação do seu crédito.

Decisão mantida. Recurso desprovido, com observação.

Trata-se de agravo de instrumento interposto, em autos de reconvenção, em fase de cumprimento de sentença, em face da r. decisão de fls. 4304, digitalizada às fls. 21, que indeferiu o

(3)

pedido de inclusão de terceiro como responsável solidário, no polo passivo, por entender que a executada, ora agravada, está em recuperação judicial, razão pela qual não há que se falar em sucessão de direitos e obrigações.

Inconformadas, insurgem-se as exequentes, sustentando que a r. decisão recorrida deve ser reformada porque em descompasso com as provas juntadas aos autos. Alegam que restou demonstrado que o processo de recuperação judicial da agravada já foi encerrado. Argumentam, também, que o seu crédito foi constituído (17.06.2013) em data posterior ao início do processo de recuperação judicial (30.06.2005), de modo que não é alcançado pelos efeitos deste processo.

Sustentam que as operações da agravada, atualmente, são conduzidas pela empresa LACTALIS DO BRASIL, porquanto é a responsável pela operacionalização do comércio de laticínios com a marca “PARMALAT”, o que evidencia a ocorrência de sucessão em direitos e obrigações da agravada, ou ao menos, a existência de confusão empresarial, dada a formação de grupo econômico, razão pela qual deve ser incluída no polo passivo da demanda, para que responda, solidariamente, pelo valor devido. Alegam, ainda, que a agravada constitui e encerra empresas sequencialmente com o objetivo de retardar e se esquivar do cumprimento das ordens judiciais.

Pugnam pelo reconhecimento da ocorrência de sucessão empresarial entre a agravada e a empresa LACTALIS, bem como de que a agravada não está mais em recuperação judicial. Subsidiariamente, requerem, o reconhecimento de confusão patrimonial, autorizando a aplicação do artigo 50, do Código Civil

(4)

para inclusão da empresa LACTALIS no polo passivo.

Recurso tempestivo, preparado e processado sem pedido liminar (fls. 353).

Sem contrarrazões (fls. 357).

A D. Procuradoria Geral de Justiça manifestou-se às fls. 360/361, declinando de seu parecer, tendo em vista que o processo de recuperação judicial da agravada foi encerrado.

É o relatório.

Cuida-se, na origem, de reconvenção ajuizada pelas agravantes em face da agravada, nos autos da ação declaratória ajuizada por esta.

A ação declaratória foi julgada improcedente, ao passo que a reconvenção foi julgada parcialmente procedente, impondo à ora agravada que se abstivesse do uso dos sinais que colidiam diretamente com a marca das agravantes.

Por meio de recurso de apelação interposto, a r. sentença foi reformada apenas para majorar os honorários advocatícios devidos pela agravada para 15% do valor da causa atualizado.

Iniciada a fase de cumprimento de sentença, alegam as agravantes que na tentativa de ter o seu crédito satisfeito, esbarraram, por diversas vezes, no fato de ter a agravada permanecido por muito tempo em recuperação judicial, impedindo a realização de constrição de seus bens.

Pois bem, noticiado o encerramento do processo de recuperação judicial da agravada (fls. 160/162), as agravantes

(5)

requereram a realização de penhora online, via sistema BacenJud, contudo, sobreveio a informação de que não era possível realizar o bloqueio pretendido, em razão da não certificação pelo juízo da recuperação judicial do encerramento do processo.

Ato contínuo, foi solicitada a expedição de ofício àquele juízo para que certificasse o mencionado encerramento, a fim de viabilizar as constrições, o que fora atendido.

Em seguida, após a liberação do juízo da recuperação judicial, foi realizada a pesquisa de ativos via BacenJud, que, todavia, restou infrutífera.

Diante deste cenário de não satisfação do crédito e da constatação de que a empresa LACTALIS é a atual responsável pelas operações da agravada, requereram ao juízo a quo a inclusão desta empresa no polo passivo para que respondesse, solidariamente, pela satisfação do valor.

Desta feita, sobreveio a r. decisão, ora recorrida.

Em que pesem os argumentos das agravantes, a pretensão não merece prosperar.

Com efeito, é de rigor o reconhecimento do encerramento do processo de recuperação judicial da agravada. Em consulta realizada a estes autos, verificou-se que a sentença de encerramento restou irrecorrida.

Deste modo, não há qualquer óbice ao prosseguimento da execução em face da agravada, sem adentrar no questionamento acerca da subsunção ou não do crédito exequendo à recuperação judicial, se há suspensão ou não dos feitos.

(6)

Todavia, a pretensão das agravantes de inclusão da empresa LACTALIS no polo passivo da demanda, não pode ser acolhida.

Isso porque não há que se falar em sucessão empresarial pelo fato de a mencionada empresa ter adquirido os ativos de recuperanda (Lacteos Brasil) que detinha o direito de exploração e uso da marca PARMALAT durante o processo de recuperação judicial.

Por força do §1º1, do artigo 60, da Lei 11.101/05 (Lei de

falências) e de acordo com a própria sistemática da legislação que visa garantir a preservação da empresa, esta última entendida como a atividade empresarial desenvolvida, a aquisição realizada de acordo com o processo de recuperação é livre de sucessão, de

forma que as obrigações da devedora (recuperanda) não são transferidas ao arrematante, solidária ou subsidiariamente.

Neste sentido, já decidiu este E. Tribunal de Justiça:

Recuperação Judicial. (...) Reorganização societária que, prevista como um dos meios de recuperação, nos termos do art. 50, II, da Lei 11.105/05, não necessita de nova AGC e aditamento ao PRJ para ser concretizada. Alienação de

UPI expressamente autorizada pelo artigo 60, da Lei 11.101/05 sem sucessão do adquirente nas dívidas e obrigações da recuperanda. (...).

(Relator(a): Maia da Cunha; Comarca: Franca; Órgão julgador: 1ª Câmara Reservada de Direito Empresarial; Data do julgamento: 11/09/2014; Data de registro: 15/09/2014 - destacamos)

1 Lei 11.101/05, Art. 60. Se o plano de recuperação judicial aprovado envolver alienação

judicial de filiais ou de unidades produtivas isoladas do devedor, o juiz ordenará a sua realização, observado o disposto no art. 142 desta Lei.

Parágrafo único. O objeto da alienação estará livre de qualquer ônus e não haverá sucessão do arrematante nas obrigações do devedor, inclusive as de natureza tributária,

(7)

Agravo de instrumento. Recuperação judicial. Plano aprovado com previsão de alienação de glebas integrantes do ativo não-operacional, integrantes de imóvel maior, com o escopo de pagar credores. (...) A alienação em hasta pública de glebas parciais integrantes de imóvel maior da devedora, dispensa a apresentação de certidões negativas fiscais, uma vez que o adquirente

não é sucessor de ônus de qualquer natureza que recaia sobre o imóvel, inclusive os derivados de obrigações trabalhistas ou tributárias. Aplicação do art. 61, parágrafo único e 141, II, da LRF. Agravo parcialmente provido.

(Relator(a): Pereira Calças; Comarca: Americana; Data do

julgamento: 05/05/2009; Data de registro:

20/05/2009; Outros números: 6243304000 - destacamos)

Outrossim, ainda que se reconheça a existência de um grupo econômico de empresas, não há que se falar em atribuição de responsabilidade solidária, objetivamente.

É de se ressaltar que as hipóteses de atribuição de responsabilidade solidária à aludida empresa em relação à agravada trazidas pelas agravantes, a fim de ratificar as suas pretensões, decorrem de responsabilidade solidária ou subsidiária objetiva ex lege, previstas nos artigos 2º, §2º2, da CLT (Consolidação

2 CLT/43, Art. 2º - Considera-se empregador a empresa, individual ou coletiva, que,

assumindo os riscos da atividade econômica, admite, assalaria e dirige a prestação pessoal de serviço.

(...)

§ 2º - Sempre que uma ou mais empresas, tendo, embora, cada uma delas, personalidade

jurídica própria, estiverem sob a direção, controle ou administração de outra, constituindo grupo industrial, comercial ou de qualquer outra atividade econômica, serão, para os efeitos da relação de emprego, solidariamente responsáveis a empresa principal e cada uma das subordinadas. (destacamos)

(8)

das leis do trabalho) e no §2º3, do artigo 28, do CDC (Código de

defesa do consumidor), que não se aplica ao caso em comento. Ademais, para aplicação do artigo 504, do Código

Civil, ressalta-se, medida excepcional, faz-se necessária a comprovação dos seguintes pressupostos: desvio de finalidade ou

confusão patrimonial, em abuso da personalidade jurídica, o que

não ocorreu no presente caso.

Assevere-se que o fato de a empresa LACTALIS operacionalizar o comércio de laticínios com a marca “PARMALAT”, ativo adquirido no processo de recuperação da empresa que detinha o uso e a exploração da marca e o fato de empresa responder perante os consumidores pelos produtos que coloca no mercado, não enseja confusão empresarial, a justificar a aplicação do instituto da desconsideração da personalidade jurídica, previsto na legislação civil, sobretudo, sobre débitos pretéritos à aquisição do ativo, haja vista a não ocorrência de sucessão, nos termos expostos.

Por todos estes fundamentos, não se acolhe a

3 CDC/90, Art. 28. O juiz poderá desconsiderar a personalidade jurídica da sociedade

quando, em detrimento do consumidor, houver abuso de direito, excesso de poder, infração da lei, fato ou ato ilícito ou violação dos estatutos ou contrato social. A desconsideração também será efetivada quando houver falência, estado de insolvência, encerramento ou inatividade da pessoa jurídica provocados por má administração.

(...)

§ 2° As sociedades integrantes dos grupos societários e as sociedades controladas, são

subsidiariamente responsáveis pelas obrigações decorrentes deste código. (destacamos)

4CC/02, Art. 50. Em caso de abuso da personalidade jurídica, caracterizado pelo desvio de

finalidade, ou pela confusão patrimonial, pode o juiz decidir, a requerimento da parte, ou

do Ministério Público quando lhe couber intervir no processo, que os efeitos de certas e determinadas relações de obrigações sejam estendidos aos bens particulares dos administradores ou sócios da pessoa jurídica. (destacamos)

(9)

pretensão das agravantes, mantendo-se o indeferimento de inclusão da empresa LACTALIS, no polo passivo da demanda.

Observe-se, contudo, que o processo de recuperação judicial da agravada já foi encerrado, razão pela qual não há qualquer óbice ao prosseguimento da fase executória, com a realização de constrições e demais medidas, postas à disposição das exequentes, visando à satisfação do seu crédito.

Ante o exposto, nega-se provimento ao recurso, com observação.

JOSÉ CARLOS COSTA NETTO

Referências

Documentos relacionados

“O primeiro requisito (a) corresponde à 'cláusula cambial', isto é, à manifestação da vontade do emitente, no sentido de se obrigar por título cuja circulação

Ocorre que a hipótese dos autos tem matiz diverso, posto que o juiz, ao receber o auto de prisão em flagrante, tem por atribuição: relaxar a prisão, se ilegal;

AÇÃO DE OBRIGAÇÃO DE FAZER C.C. INDENIZAÇÃO POR DANOS MATERIAIS E MORAIS. LEGITIMIDADE PASSIVA DA CONCESSIONÁRIA CONTRATADA PARA A PRESTAÇÃO DO SERVIÇO. VEÍCULO

Inviável a substituição da pena privativa de liberdade por penas restritivas de direitos porque o Réu, reincidente, não preenche os requisitos objetivos

APELAÇÃO CÍVEL ATO ADMINISTRATIVO VIGILÂNCIA SANITÁRIA FISCALIZAÇÃO E AÇÃO PREVENTIVA Autorização para adentrar no imóvel de propriedade do réu, a

Como esclarece Antonio Carlos Marcato: “Apesar da omissão legal, é lícito concluir-se que a não realização do depósito, pelo autor, no prazo regular, acarretará a pura e

Guido Antonio Andrade (falecido aos 11.03.2002), objetivando o acompanhamento de todas as ações judiciais em curso nas comarcas de São Paulo, Sertãozinho e Ribeirão Preto,

Ação anulatória cumulada com indenização por danos materiais e morais Autora que, na qualidade de ex-sócia de empresa demandada pela ré no âmbito dos