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Caracterização molecular de isolados de Pseudomonas Aeruginosa do Hospital de Base do Distrito Federal

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(1)

UNIVERSIDADE

CATÓLICA DE

BRASÍLIA

Programa de Pós-graduação Stricto

Sensu

em Ciências Genômicas e

Biotecnologia

.

Mestrado

CARACTERIZAÇÃO MOLECULAR DE ISOLADOS DE

PSEUDOMONAS AERUGINOSA

DO HOSPITAL DE BASE

DO DISTRITO FEDERAL

Autora: Patrícia Siqueira de Medeiros

Orientador: Prof. Dr. Ricardo Henrique Krüger

(2)

PATRÍCIA SIQUEIRA DE MEDEIROS

CARACTERIZAÇÃO MOLECULAR DE ISOLADOS

DE

PSEUDOMONAS AERUGINOSA

DO HOSPITAL DE

BASE DO DISTRITO FEDERAL

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação “Stricto Sensu” em Ciências Genômicas e Biotecnologia da Universidade Católica de Brasília, como requisito para a obtenção do Título de Mestre em Ciências Genômicas e Biotecnologia.

Orientador: Prof. Dr. Ricardo Henrique Krüger

(3)

FICHA CATALOGRÁFICA

Medeiros, Patrícia Siqueira de.

Caracterização molecular de isolados de Pseudomonas Aeruginosa do Hospital de Base do Distrito Federal / Patrícia Siqueira de Medeiros. -- Brasília, 2008.

142f. : il.

Orientador: Ricardo Henrique Krüger

Dissertação (Mestrado em Ciências Genômicas e Biotecnologia) – Universidade Católica de Brasília, Brasília, 2008.

(4)

TERMO DE APROVAÇÃO

Dissertação defendida e aprovada como requisito parcial para a obtenção do Título de Mestre em Ciências Genômicas e Biotecnologia, defendida e aprovada, em 7 de maio de 2008, pela banca examinadora constituída por:

_________________________________________

Prof. Dr. Ricardo Henrique Krüger

_________________________________________

Prof. Dr. Julival Ribeiro

_________________________________________

Prof. Dr. Robert Neil Gerard Miller

(5)
(6)

Agradecimentos

A Deus, primeiramente, o meu reconhecimento pela sua intersecção, proporcionando-me

sabedoria sem a qual não teria sido possível a realização desta pesquisa.

Várias pessoas contribuíram direta ou indiretamente para o sucesso deste trabalho – meu

sincero agradecimento.

Ao professor Ricardo Henrique Krüger, por sua dedicação, paciência e empenho em

transmitir conhecimentos não só relacionados à biotecnologia, mas, principalmente ao

demonstrar a importância de reconhecer os limites humanos e que o sucesso da ciência não

está apenas em buscar a perfeição.

Agradeço o apoio à equipe do Hospital de Base do Distrito Federal e aos demais professores e

funcionários que integram o Curso de Pós-Graduação em Ciências Genômicas e

Biotecnologia da UCB.

Aos colegas de pesquisa, que ao longo do Curso, foram meus companheiros e dos quais

sentirei saudades. Meus sinceros agradecimentos à colega Adriane da Silva Kurokawa, pela

paciência, dedicação e empenho em transmitir conhecimentos relacionados à pesquisa.

Aos meus familiares, em especial à minha mãe Maria Zenilde Siqueira Medeiros e ao meu

esposo Rodrigo Araújo Damasceno, pelos momentos que se viram privados da minha

(7)

“Se o motivo da ciência é dominar a natureza, não é menos verdade que só podemos vencer a natureza obedecendo-lhe”.

(8)

SUMÁRIO

LISTA DE TABELAS ... 09

LISTA DE FIGURAS ... 10

ABREVIATURAS ... 11

RESUMO ... 14

ABSTRACT... 15

INTRODUÇÃO...16

1. MICROBIOLOGIA...18

1.1. Taxonomia...18

1.2. Considerações para a saúde humana...20

2. RESISTÊNCIA A ANTIBIÓTICOS... 25

2.1. Permeabilidade da membrana e sistemas de efluxo ... 29

2.2. Resistência a Antibióticos β-lactâmicos ... 31

2.3. Resistência aos Carbapenens ... 34

2.4. Resistência a Aminoglicosídios... 36

2.5. Resistência a Fluoroquinolonas ... 38

2.6. Resistência aos Macrolídios ... 39

3. VIRULÊNCIA... 40

4. GENOTIPAGEM ... 48

5. OBJETIVOS... 54

5.1. Objetivo geral ... 54

5.2. Objetivos específicos ... 54

6. MATERIAL E MÉTODOS... 55

6.1. Amostras de bactérias e cultura ... 55

6.2.Identificação Randômica do Polimorfismo do DNA genômico de P. aeruginosa... 57

6.2.1. Extração do DNA cromossomal ... 57

6.2.2. Análise RAPD ... 59

6.3. Macro-restrição do genoma de P. aeruginosa... 61

6.4. Análise dos dados ... 64

7. RESULTADOS ... 68

(9)

7.2. Perfil de Sensibilidade aos Antimicrobianos... 70

7.3. Análise RAPD ... 72

7.4. Macro-restrição... 77

8. DISCUSSÃO... 79

CONCLUSÃO... 93

PERSPECTIVAS ... 94

REFERÊNCIAS ... 95

APÊNDICES...106

(10)

LISTA DE TABELAS

Tabela 1 – Seqüências dos 10 primers selecionados que apresentam polimorfismos reproduzíveis para P. aeruginosa, segundo Mahenthiralgam et al (1996)... 55

Tabela 2 – Distribuição dos Pacientes por Idade e Sexo... 62

Tabela 3 – Distribuição das Amostras de P. aeruginosa, de acordo com o Setor de Atendimento ... 63

Tabela 4 – Distribuição das amostras de P. aeruginosa, conforme a fonte de isolamento ... 63

Tabela 5 - Lista dos Discos-Difusão (Kirby-Bauer) utilizados para o perfil das cepas ... 65

(11)

LISTA DE FIGURAS

Figuras 1 – Padronização do DNA cromossomal extraído... 68

Figura 2 – Reação de PCR por RAPD (primer 208). ... 69

Figura 3 – Dendograma obtido pelo Programa BioNumerics para a técnica RAPD . ... 71

Figura 4 – Padrão de bandas obtidos por PFGE para as amostras 2 (2526/01/04), 3 (3328/01/04), 20 (3523/01/04) e 45 (3305/02/04)... 72

(12)

ABREVIATURAS

 

Aids – Acquired Immunodeficiency Syndrome AK – Amicacina

AmpC – β-lactamase induzível da classe C de Ambler AFLP - Amplified Fragment Length Polymorphism - AP-PCR - Arbitrarily Primed Polymerase Chain Reaction AT – Adenina-timina

ATM – Aztreonam CAZ - Ceftazidima CIP – Ciprofloxacino

CLSI - Clinical and Laboratory Standards Institute CN – Gentamicina

CTAB - Cetyl Trimethyl Ammonium Bromide

DNA – Deoxyribonucleic acid/ Ácido Desoxirribonucléico dNTP - Desoxirribonucleotídeos Fosfatados

EDTA - Ethylenediamine tetraacetic acid (Ácido Etilenodiamino Tetracético) ESBL – Extended-spectrum β-lactamase

EUA – Estados Unidos da América FEP - Cefepime

GC – Guanina-Cianina H - Horas

HBDF – Hospital de Base do Distrito Federal HIV – Human Immunodeficiency Virus IPM – Imipenem

IS – Insertion Sequence LB – Luria-Bertani Broth LMP – Low Melt Point LPS – Lipopolissacarídios M – Molar

mb - Megabase

(13)

MEP – Mucoid exopolysaccharide MgCl2 - Cloreto de Magnésio

μg – Micrograma

MIC – Concentração Inibitória Mínima Min - Minuto

mL – Mililitro

μL – Microlitro mm - Milímetro

MRSA – Multi-Resistent Staphylococcus aureus NaCl – Cloreto de Sódio

Na2CO3 – Carbonato de Sódio NaP - Fosfato de Sódio

NCCLS – National Commitee for Clinical Laboratories Standard – US 2002 nM - NanoMoles

OECD – Organization for Economic Co-operation and Development Pb – Pares de base

PB - Polimixina

PBP – Penicilin-binding protein

PCR – Reação de Polimerização em Cadeia PFGE - Pulse-field gel electrophoresis pH – potencial hidrogeniônico

pM - PicoMoles

PSE - Pseudomonas specific enzyme QS - Quorum-sensing system

RAPD – Random Amplified Polymorphic DNA RNA – Ribonucleic acid/ Ácido Ribonucléico RND – Resistance nodulation cell division rpm – Rotação por minuto

rRNA – RNA ribossomal SDS - Sodium Dodecyl Sulfate

SIDA – Síndrome da Imunodeficiência Adquirida SNP – single-nucleotide polymorphism

(14)

TE – Tris-EDTA

TSA – Tripticas Soy Agar; Caldo Tríptico de Soja TZP – Piperaciclina/Tarzobactam

U - unidades

UCB – Universidade Católica de Brasília UFC – Universidade Formadora de Colônia UTI – Unidade de Terapia Intensiva

UPGMA - Unweighted Pair Group Method Using Arithmetic Averages V/cm – Volts/centímetro

(15)

RESUMO

Pseudomonas aeruginosa constitui uma espécie bacteriana altamente versátil, de distribuição ubíqua, e um dos principais agentes causadores de infecções nosocomiais. O presente trabalho analisou 60 amostras de P. aeruginosa, obtidas de pacientes atendidos no Hospital de Base do Distrito Federal (HBDF), destacando-se como primeiro estudo de variabilidade genética desta bactéria realizado neste hospital. Os objetivos do trabalho foram identificar o perfil de sensibilidade microbiana dos isolados, pelo método Kirby-Bauer, conforme recomendações do National Committee for Clinical Laboratories (NCCLS); e realizar a genotipagem das amostras, utilizando a identificação randômica do polimorfismo de DNA amplificado (RAPD) e macro-restrição por eletroforese em gel de campo pulsado (PFGE). As amostras foram isoladas a partir de diferentes espécimes clínicos e ambientes hospitalares. Quanto à resistência bacteriana, 100% dos isolados foram sensíveis à Polimixina, 35% foram resistentes ao Ciprofloxacino, 30% apresentaram resistência concomitante ao Imipenem e à Gentamicina, 26% à Piperacilina/Tazobactam e 23% ao Meropenem. A análise dos resultados obtidos por RAPD e PFGE demonstrou grande diversidade genética, com formação de vários grupos entre as amostras estudadas. Embora não tenha havido relação direta entre o grau de resistência das amostras isoladas e os setores de atendimento onde foram coletadas, foi possível evidenciar grande variabilidade genética de amostras isoladas em um mesmo hospital terciário de Brasília. Os resultados demonstram a importância de realizar estudos que utilizam ferramentas de biologia molecular, para efetuar o monitoramento preciso dos pacientes infectados por P. aeruginosa, estabelecer uma conduta clínica mais adequada e evitar a seleção de cepas multi-resistentes.

(16)

ABSTRACT

This is the first study in the Distrito Federal to analyze the genetic diversity of 60 isolates of Pseudomonas aeruginosa, a ubiquitous and highly versatile bacterium, and one of the major nosocomial pathogens, obtained from patients from the Hospital de Base of the Distrito Federal (HBDF), Brazil. Samples were isolated from different clinical specimens and from different hospital sectors. The aims were: to identify the sensitivity profile of microbial isolates (Kirby-Bauer method recommended by the National Committee for Clinical Laboratories – NCCLS) and to perform genotyping of samples by random amplified polymorphic DNA (RAPD) and genome macrorestriction fingerprinting resolved by pulsed-field gel electrophoresis (PFGE). The results show that 100% of the isolates were sensitive to polymyxin, 35% were resistant to ciprofloxacin, 30% were resistant to imipenem as well gentamicin, 26% to piperacillin /tazobactam, 23% to meropenem, 15% to ceftazidime and 14% to amikacin. Analysis of RAPD and macro-restriction results with the BioNumerics program allowed the construction of cladograms which displayed a great number of clusters, suggesting high genetic diversity. However, no direct relationship between rate/degree of resistance collection origin was possible; the great genetic diversity in the same tertiary hospital was evident. The results demonstrate the importance of molecular biology tools to precise tracking of patients infected by P. aeruginosa, as a means to establish appropriate clinical practices to avoiding selection of multi resistant strains.

(17)

INTRODUÇÃO

Pseudomonas aeruginosa constitui uma espécie bacteriana bastante versátil do gênero

Pseudomonas, podendo apresentar crescimento tanto nos solos, áreas alagadas e ambientes marinhos, quanto em tecidos animais e vegetais (RHAME et al, 1997; RAHME et al, 2000;

VILA e MARCO, 2002; WOLFGANG et al, 2003; WALKER et al, 2004; WU et al, 2005);

possuindo inclusive capacidade de crescer em níveis extremamente baixos de nutrientes e em

condições de umidade e temperatura que favorecem sua colonização (SOKOL et al., 2000;

WU et al, 2005; GREEN et al, 1974 apud ORGANIZATION FOR ECONOMIC

CO-OPERATION AND DEVELOPMENT, 2006). Esta espécie apresenta, também, a capacidade

de formar biofilmes nas mais variadas superfícies (COSTERTON et al, 1999; DONLAN e

COSTERTON, 2002; WALKER et al, 2004; CHIANG e BURROWS, 2003). Dessa forma,

P. aeruginosa tem sido a espécie mais freqüentemente utilizada em pesquisas científicas, pois constitui um dos principais agentes causadores de infecções nosocomiais.

Durante as últimas décadas, o aparecimento desta bactéria como patógeno oportunista

tem se tornado cada vez mais evidente, possivelmente pela sua alta resistência aos

antibióticos. P. aeruginosa é atualmente uma fonte significativa de bacteremia em vítimas de queimaduras, infecções do trato urinário, em pacientes com cateteres ou ligados a respiradores

artificiais (COBBEN et al, 1996; DONLAN e COSTERTON, 2002). Esta espécie bacteriana

também é a causa predominante de morbidez e mortalidade em pacientes com fibrose cística,

cujo epitélio anormal dos pulmões permite a colonização pela bactéria, por longos períodos de

tempo (LYSACK et al, 2002; TÜMMLER e KIEWITZ, 1999). Com o intuito de promover

tratamentos hospitalares mais eficazes, amostras de P. aeruginosa têm sido identificadas, a partir de isolados clínicos, mediante amplificação por Reação em Cadeia da Polimerase

(PCR).

A utilização de técnicas moleculares é de relevante importância nos estudos de

amostras de P. aeruginosa envolvidas em infecções hospitalares, desde que permitam estabelecer o grau de similaridade entre as mesmas, a caracterização de surtos, a descoberta

(18)

Nesse sentido e considerando a escassez de dados relacionados à genotipagem de

amostras de P. aeruginosa na cidade de Brasília, a presente dissertação teve o objetivo de realizar a caracterização molecular de sessenta isolados clínicos de P. aeruginosa, coletados no ano de 2004, em diferentes unidades de atendimento do Hospital de Base do Distrito

Federal (HBDF), evidenciando sua diversidade genética e buscando correlacioná-la aos

(19)

1.

MICROBIOLOGIA

1.1. Taxonomia

As Pseudomonas são parte de um grupo de microrganismos heterogêneos e largamente distribuídos na natureza, com metabolismo altamente versátil. Apresentam-se

como bacilos gram-negativos, incapazes de fermentar diversos hidratos de carbono, entre eles

a glicose (VILA e MARCO, 2002). O gênero Pseudomonas possui mais de 140 espécies, sendo bastonetes ligeiramente curvados, em sua maioria, com flagelo polar. Estes

microrganismos são usualmente catalase e oxidase positivos. A taxonomia deste gênero tem

sido baseada na utilização de análises de seqüências 16S de RNA ribossomal (rRNA). Dentre

as espécies do gênero Pseudomonas, P. aeruginosa tem sido estudada mais detalhadamente, inclusive com a utilização de técnicas genéticas (TYLER et al, 1995; ORGANIZATION FOR

ECONOMIC CO-OPERATION AND DEVELOPMENT, 2006).

Até 1973, Pseudomonas eram vistas como um largo gênero heterogêneo com membros diferenciados por características fenotípicas. Palleroni et al. (1973), utilizando

homologia de seqüências de rRNA, concluíram que cinco grupos do gênero apresentavam

características filogenéticas distintas. Em 1989, Johnson e Palleroni confirmaram estas

observações, por meio de experimentos de hibridização de DNA, reafirmando unidades

taxonômicas baseadas em associações fenotípicas e genotípicas. Atualmente, novos gêneros

foram acrescentados aos cinco grupos originalmente identificados (ANEXO A): Bulkoderia, Stenotrophomonas, Comamonas, Shewanella, Ralstonia, Methylbacterium, Shingomonas, Acidovorax e Brevundimonas (SOARES, 2001; ORGANIZATION FOR ECONOMIC CO-OPERATION AND DEVELOPMENT, 2006). O gênero Pseudomonas, cuja espécie de maior representatividade é a espécie P. aeruginosa, está estritamente confinado aos membros do grupo I (TYLER et al., 1995; SOARES, 2001;ORGANIZATION FOR ECONOMIC

CO-OPERATION AND DEVELOPMENT, 2006).

A produção de pigmentos fluorescentes, por parte das espécies de P. aeruginosa, permite que estas sejam alocadas em um subgrupo dentro do grupo I, chamado de subgrupo

(20)

pigmento piocianina, de cor azul, seja fator de diagnóstico para P. aeruginosa, a situação inversa não pode ser sempre considerada como verdadeira (ORGANIZATION FOR

ECONOMIC CO-OPERATION AND DEVELOPMENT, 2006).

A taxonomia numérica tem sido um método tradicional de classificar membros do

gênero Pseudomonas, comparando múltiplas características do isolado com um banco de dados de características já descritas. A precisão desta abordagem depende principalmente da

quantidade e qualidade dos dados disponíveis, além da complexidade de relação entre as

características analisadas (ORGANIZATION FOR ECONOMIC CO-OPERATION AND

DEVELOPMENT, 2006).

Outra forma de identificação tem sido pelo uso de kits comerciais baseados no padrão

da utilização de fonte de carbono, e em características morfológicas e fisiológicas. São

exemplos destes Kits: os sistemas API20E (API, 200 Express Street, Plainview, New York

11803, USA; Biomerieux, F-69280 Marcy-L’Etoile, France) e BIOLOG (BIOLOG Inc.,

Hayward, Califórnia, USA). Entretanto, os dados para Pseudomonas utilizados nestes sistemas, são baseados principalmente em amostras de isolados clínicos e não em amostras

ambientais, restringindo inclusive, em alguns casos, a sua utilização. O uso destes Kits requer

habilidade, pois apresenta limitação significativa para a distinção de amostras de uma mesma

espécie (ORGANIZATION FOR ECONOMIC CO-OPERATION AND DEVELOPMENT,

2006).

A classificação atualmente aceita para o gênero Pseudomonas está baseada em homologias de rRNA, como alvo comum, pois todas as formas de vida possuem ribossomos.

Para isso, as regiões variáveis e conservadas da molécula de RNA são muito importantes,

sendo as variáveis utilizadas como alvo para sondas de hibridização e primers específicos; e,

as conservadas, para sítios de ligação de primers por PCR e para hibridização de sondas

universais (ORGANIZATION FOR ECONOMIC CO-OPERATION AND

DEVELOPMENT, 2006).

O perfil diagnóstico para microrganismos também pode ser obtido utilizando

eletroforese em gel de proteínas extraídas ou de DNA fingerprinting (impressão digital do DNA), inclusive a partir da digestão do DNA genômico por endonuclease, em razão do

(21)

enzimas como a SpeI, que corta o DNA em sítios específicos com alta composição de bases

adenina-timina (AT), vão digerir o DNA em alguns poucos sítios, formando grandes

fragmentos, podendo ser separados e analisados por meio de eletroforese em gel de campo

pulsado (PFGE – Pulse Field Gel Electrophoresis) (ORGANIZATION FOR ECONOMIC CO-OPERATION AND DEVELOPMENT, 2006), o qual corre utilizando múltiplos campos

elétricos, em que moléculas de DNA de alto peso molecular migram no referido gel, alterando

sua conformação e direção de deslocamento a cada pulso elétrico (BIRREN e LAI, 1993).

A taxonomia deve estar baseada no incremento de detalhamentos dos dados

fenotípicos e genotípicos, não limitada à simples homologia genômica DNA-DNA ou à

epidemiologia microbiológica (BELKUM et al., 2001). Embora sejam várias as técnicas que

permitem a identificação de Pseudomonas e de suas espécies, ressalta-se que, independentemente do método utilizado, a aplicabilidade dos resultados obtidos está

diretamente relacionada à qualidade dos dados disponíveis, para os quais as amostras estarão

referenciadas, bem como às condições para adequada terapêutica.

1.2. Considerações para a saúde humana

Apenas algumas espécies do gênero Pseudomonas têm sido associadas a doenças humanas, destacando-se a espécie P. aeruginosa que, embora ocorra em baixa freqüência na natureza, tem uma distribuição ubíqua. Cerca de 20 a 30% da população em geral apresentam

P. aeruginosa, inclusive indivíduos saudáveis. No entanto, a freqüência de indivíduos infectados aumenta expressivamente durante a hospitalização, em razão da maior ocorrência

deste microorganismo em ambiente hospitalar (ORGANIZATION FOR ECONOMIC

CO-OPERATION AND DEVELOPMENT, 2006). Assim, P. aeruginosa tem sido considerada importante causa de infecções nosocomiais, principalmente em pacientes queimados, de

unidades neonatais e em pacientes com leucemia ou outros tipos de câncer.

A transmissão nosocomial de P. aeruginosa pode ocorrer por contato direto ou indireto. Essa transmissão resulta do contato com fontes ambientais ou de paciente para

(22)

gastrointestinal do paciente (GOVAN, 2000; MATAR et al., 2005; ORGANIZATION FOR

ECONOMIC CO-OPERATION AND DEVELOPMENT, 2006).

Tümmler e Kiewitz (1999) sugeriram que a maioria de pacientes infectados em uma

mesma família ou que freqüentam a mesma escola tendem a apresentar o mesmo clone,

indicando uma provável disseminação via paciente-paciente ou uma fonte ambiental de

contaminação. Esta premissa foi confrontada por Govan (2000) ao considerar pacientes

fibrocísticos. O autor sugeriu que esta incidência poderia não ser tão elevada, na medida em

que evidências recentes têm mostrado que pacientes não-relacionados, com diagnóstico de

fibrose cística, tendem a ser cronicamente colonizados por tipos genômicos diferentes,

indicando assim, uma baixa disseminação entre pacientes ou em centros hospitalares. O autor

conclui que esta transmissibilidade relativamente baixa entre pacientes com fibrose cística

pode estar relacionada à transformação da P. aeruginosa típica não-mucóide, com fatores de virulência bem definidos (motilidade, adesinas, proteases, exotoxinas e LPS), para a forma

mucóide embebida em um biofilme, na qual a maioria dos fatores de virulência está

suprimida. Assim, a altamente transmissível bactéria saprófita de vida livre passa a ser um

parasita pobremente transmissível (GOVAN, 2000; NGUYEN e SINGH, 2006; SMITH et al.,

2006).

Outra fonte de infecção são objetos inanimados como equipamentos ou utensílios

hospitalares, incluindo produtos farmacêuticos, desinfetantes, jarros de água, cateteres

uretrais, equipamentos de anestesia, aparatos respiratórios, e ainda, utensílios para a

alimentação (COBBEN et al., 1996; DONLAN e COSTERTON, 2002; ORGANIZATION

FOR ECONOMIC CO-OPERATION AND DEVELOPMENT, 2006; REINHARDT et al.,

2007). Na endocardite por P. aeruginosa, dois fatores principais de predisposição têm sido associados: o uso de válvulas cardíacas protéticas e o uso de drogas ilícitas por via parenteral

(ORGANIZATION FOR ECONOMIC CO-OPERATION AND DEVELOPMENT, 2006).

Eventos de bacteremia são muitas vezes associados a P. aeruginosa e ocorrem principalmente em pacientes imunodeprimidos. Dentre os fatores associados à bacteremia

estão doenças malignas, transplantes, diabetes, cirrose hepática, insuficiência renal,

queimaduras, trauma, uso de drogas intravenosas, terapia com corticoesteróides, citotoxidade

quimioterápica, ressuscitação cardiopulmonar, deficiência de imunoglobulinas, Síndrome da

(23)

invasiva, etc (HILALI et al., 2000; ORGANIZATION FOR ECONOMIC CO-OPERATION

AND DEVELOPMENT, 2006).

O trato respiratório é uma das principais vias de colonização por P. aeruginosa. A pneumonia nosocomial é a segunda infecção mais comumente adquirida em hospitais nos

Estados Unidos, sendo que P. aeruginosa tem sido o agente etiológico mais prevalente, tanto em pneumonias mono quanto polimicrobianas (ZANETTI et al., 2003). No Brasil, infecções

por P. aeruginosa tem sido a primeira causa de pneumonia nosocomial (SADER et al., 2001; GALES et al., 2005). Porém, as pneumonias por P. aeruginosa, adquiridas em comunidades, têm uma incidência mais rara, entretanto, estão freqüentemente associadas a pacientes

portadores do vírus HIV (ORGANIZATION FOR ECONOMIC CO-OPERATION AND

DEVELOPMENT, 2006).

A colonização pulmonar crônica por P. aeruginosa em pacientes com fibrose cística resulta freqüentemente em episódios agudos de pneumonia e broncoestase crônica, com

obstrução das vias aéreas, dificuldade respiratória e, em alguns casos, óbito (GILLIGAN,

1991; OSTROFF et al, 1990; SOKOL et al, 1994; COEYNE et al, 2002; LYCZAK et al,

2002). Entretanto, alguns pacientes com fibrose cística possuem expressão genotípica da

doença de forma distinta, apresentando alteração pulmonar mais leve e/ou ausência de

sintomas digestivos, levando muitas vezes a um diagnóstico tardio ou equivocado, o qual

prejudica a adequada conduta terapêutica (LEMOS et al., 2004). Ademais, P. aeruginosa

permanece como o patógeno mais frequente em pacientes com fibrose cística, sendo

encontrado em 80-90% dos pacientes infectados (GOVAN, 2000; AGARWAL et al., 2005),

estando este microrganismo ligado à deterioração pulmonar, causando elevação das taxas de

morbidade e mortalidade (AGARWAL et al., 2005).

O diagnóstico da fibrose cística, uma doença genética autossômica recessiva, quando

efetuado na infância, antes dos 10 anos de idade, em geral demonstra uma expressão

fenotípica menos grave. A variabilidade desta expressão depende de fatores mutagênicos do

gene regulador da condutância transmembrana da fibrose cística (CFTR) e de fatores

ambientais (LEMOS et al., 2004). Em estudo realizado por Alvarez et al. (2004) foi

demonstrado que o diagnóstico de pacientes com fibrose cística no Brasil, em geral, é bem

mais tardio quando comparado a outros países como Estados Unidos e Canadá. O estudo

(24)

20 anos, conforme análise comparativa dos pacientes de outros países, por exemplo, dos

EUA, os quais apresentam uma sobrevida média de 31,6 anos. Entretanto, para Lemos et al.

(2004), o diagnóstico tardio não seria apenas pelo retardo nos procedimentos para a

confirmação da doença, mas também, em razão de alguns pacientes apresentarem uma

expressão genotípica diferente, resultando em doença pulmonar leve e ausência de sintomas

digestivos. Assim, estes autores ressaltam que devem ser investigados os pacientes com

infecção respiratória de repetição, sinusite e bronquiectasias, dentre outras infecções

pulmonares, em especial aquelas por P. aeruginosa.

Nas infecções por P. aeruginosa que afetam pulmões de pacientes com fibrose cística, uma transição de não-mucóide para mucóide é observada, indicando a natureza pleomórfica

destes organismos, e ocorrendo devido à produção aumentada de exo-polissacarídios

mucóides, também conhecidos como MEP – “mucoid exopolysaccharide” (OSTROFF et al,

1990; GILLIGAN, 1991; SOKOL et al, 1994; COEYNE et al, 2002; LYCZAK et al, 2002).

Além disso, a quantidade de produtos tóxicos gerados varia de acordo com o tipo de isolado,

sugerindo que os níveis de expressão de genes codificados em cromossomos estão sujeitos a

diferenças de amostras. Há evidências de que esta variação poderia ser atribuída à posição

variável dos genes no cromossomo (VASIL et al., 1990 apud ORGANIZATION FOR

ECONOMIC CO-OPERATION AND DEVELOPMENT, 2006).

O trato genitourinário também é uma das principais vias de contaminação por P. aeruginosa. Em raros casos, P. aeruginosa tem sido associada a meningite ou abscesso craniano. Estas condições são nosocomiais, ocorrendo em pacientes imunodeprimidos,

sofrendo de doenças malignas, submetidos a procedimentos invasivos ou com neutropenia

(ORGANIZATION FOR ECONOMIC CO-OPERATION AND DEVELOPMENT, 2006).

A umidade tem sido considerada como o principal fator determinante do crescimento

de P. aeruginosa, pois a pele normal e seca não favorece a proliferação deste microrganismo. Assim, infecções de pele por P. aeruginosa tendem a ser mais freqüentes em regiões tropicais e sub-tropicais ou estão associadas a piscinas, com tendência, entretanto, de serem infecções

localizadas, como foliculites ou otites (ORGANIZATION FOR ECONOMIC

(25)

Isolados clínicos obtidos a partir de ferimentos apresentam freqüentemente P. aeruginosa, em especial aqueles contaminados com solo, tecido vegetal ou água. Esta presença pode refletir colonização e não infecção, como uma conseqüência de sua larga

distribuição na natureza. Ferimentos pontuais, principalmente aqueles penetrantes até o tecido

ósseo, podem resultar em osteomielite ou osteocondrite, sendo comum em usuários de drogas

intravenosas e em ferimentos nos pés de crianças e de indivíduos diabéticos

(ORGANIZATION FOR ECONOMIC CO-OPERATION AND DEVELOPMENT, 2006).

Reinhardt et al. (2007), ao avaliarem pacientes intubados e com diagnóstico de

(26)

2.

RESISTÊNCIA A ANTIBIÓTICOS

P. aeruginosa é naturalmente resistente à maioria dos antibióticos utilizados em larga escala. Tal resistência dar-se em parte devido à impermeabilidade da membrana externa e à

produção de polissacarídios extracelulares. Este organismo, em geral, apresenta resistência

intrínseca ou natural a baixos níveis de canamicina, penicilina (com a exceção de penicilinas

anti-pseudomonas: carbenicilina, ticarcilina, piperacilina), maioria das cefalexinas de primeira

e segunda geração, clorafenicol, ácido nalidíxico, tetraciclinas, eritromicina, vancomicina,

sulfonamida, trimetropina e clindamicina (WASHINGTON et al, 1991; DARGIS et al, 1992;

GEORGOPAPADAKOU, 1993; GOVAN, 2000; GILBERT et al, 2001; LIVERMORE,

2002; DONAY et al, 2004;).

Considerando que amostras individuais podem ser resistentes a antibióticos para os

quais as espécies são geralmente suscetíveis, padrões de resistência não devem ser presumidos

de acordo com a verificação da espécie, mas acessados conforme a enfermidade de cada

paciente. Para Martinez et al. (1996), a variabilidade no tipo e na freqüência de agentes

causais e, particularmente, de sua interação com antimicrobianos, exige correlacionar,

periodicamente, dados clínicos e microbiológicos para atualizar e direcionar a

antibioticoterapia, segundo as necessidades locais. Os autores ressaltam, ainda, que é

fundamental preservar a vida útil dos antimicrobianos efetivos, restringindo seu uso a casos

com indicação clínica, microbiológica ou farmacológica especial, ou mesmo, quando não há

outra opção antiinfecciosa.

Assim, a antibioticoterapia para as infecções causadas por P. aeruginosa depende da topografia e da sensibilidade ao antibiótico testado, sendo que algumas espécies são

suscetíveis a uma restrita variedade de antibióticos. Ceftamizina, cefsulodina, imipenem,

ticarciclina – ácido clavulânico, azlocilina, piperacilina, aminoglicosídios, colistina e

ciprofloxacina são alguns dos antibióticos com uma alta percentagem de isolados suscetíveis

(ORGANIZATION FOR ECONOMIC CO-OPERATION AND DEVELOPMENT, 2006). A

terapia combinada, utilizando dois antibióticos efetivos, pode aumentar o índice de cura

(27)

aminoglicosídios e β- lactâmicos (que têm ação contra Pseudomonas) têm sido efetivas (BONE, 1993).

Segundo Reinhardt et al. (2007), os clínicos devem ser extremamente cautelosos ao

selecionarem a terapêutica e o período pelo qual será administrado o medicamento, pois P. aeruginosa tem uma excelente capacidade de se adaptar à pressão seletiva de diversas classes de agentes antimicrobianos e, após tratamentos que ultrapassam 6 dias, clones selecionados

podem reemergir rapidamente quando este mesmo tratamento for aplicado uma segunda vez.

Em menos de 10 dias, após o início do tratamento, todas as classes de antimicrobianos

selecionam cepas de P. aeruginosa resistentes. Quando do uso do imipenem e fluoroquinolonas essas cepas resistentes a esses antimicrobianos persistiam mesmo após a

retirada das drogas. Os autores também evidenciaram que os determinantes de resistência

apresentados pelas amostras estudadas não foram em decorrência da colonização cruzada com

novas amostras, mas em razão de mutações ocorridas nas amostras originalmente suscetíveis,

colonizando pacientes por longos períodos.

Um dos fatores que dificulta a erradicação de P. aeruginosa, principalmente em infecções crônicas, como em pacientes com fibrose cística, queimados ou imunodeprimidos,

tem sido a habilidade desta espécie bacteriana resistir a uma grande variedade de antibióticos.

Em um hospedeiro infectado, P. aeruginosa reside em biofilmes, os quais são altamente resistentes ao tratamento com antibióticos. Nos pacientes com fibrose cística, quando o

infiltrado de neutrófilos e as secreções mucóides aumentam, as células metabólicas da

bactéria e as células epiteliais do hospedeiro consomem o oxigênio disponível e o ambiente

torna-se gradativamente anaeróbico. Assim, os microrganismos passam a ser mucóides, pela

secreção do exopolissacarídeo alginato, o qual restringe ainda mais a difusão de oxigênio,

contribuindo para a formação de um ambiente microaeróbico ou anaeróbico (GILLIGAN,

1991; FILIATRAUT, 2006). Entretanto, nem sempre a produção de maiores quantidades de

alginato significa a formação de um biofilme mais robusto, o que demonstra que não há

correlação entre a produção de alginato e a formação inicial do biofilme (HEAD e YU, 2004).

A formação de biofilme pela P. aeruginosa pode ser um fator de resistência a agentes antimicrobianos, pois a produção de substâncias poliméricas que formam a matriz do biofilme

dificulta a penetração em profundidade do antibiótico utilizado, retardando sua difusão. Além

(28)

razão da limitação de nutrientes, sendo pouco suscetíveis aos antibióticos, quando comparadas

às células com metabolismo regular. Outra hipótese seria de que as células no biofilme

adquirem uma característica fenotípica resultante de uma resposta biológica ao crescimento

em uma superfície e não à limitação de nutrientes. É importante ressaltar que fragmentos de

biofilme podem se romper e colonizar novas superfícies, disseminando assim a infecção

(COSTERTON et al., 1998; KIRISITS et al., 2005).

Oliver et al. (2000), ao compararem a resistência aos antibióticos de isolados de P. aeruginosa de pacientes com fibrose cística e gene mutante, daqueles com fibrose cística sem gene mutante e de pacientes com outras patologias, observaram forte relação entre populações

mutantes de P. aeruginosa e elevada resistência a antibióticos. Os autores consideraram também que fatores como: uma alta densidade celular, uma multiplicidade de mudanças

ambientais, e uma mudança e compartimentalização do habitat brônquico, podem criar um

novo cenário para o aparecimento de espécies mutantes.

Embora a administração prolongada e frequente de antibióticos tenha sido útil no

tratamento de pacientes com fibrose cística, com complicações pulmonares, existe o risco de

desenvolvimento de amostras de P. aeruginosa multi-resistentes. A rotina de exames microbiológicos de amostras respiratórias obtidas a partir de pacientes com fibrose cística

pode contribuir para o estudo das características da infecção por P. aeruginosa (AGARWAL et al., 2005).

Donay et al. (2004) demonstraram que o sistema Phoenix, mas também o Vitek 2, que são sistemas automatizados para identificação bacteriana e detecção de resistência a

antibióticos em inóculos preparados manualmente, podem ser utilizados para a maioria dos

isolados de hospitais, com a possibilidade de serem associados a outros métodos utilizados

freqüentemente para a eventual comprovação dos dados obtidos, de forma a potencializar o

gerenciamento de infecções, principalmente aquelas causadas por cepas multi-resistentes.

Entretanto, estes sistemas podem falhar na realização do teste de sensibilidade às bactérias

gram-negativas não fermentadoras.

Ribeiro et al. (1999) avaliaram a resistência de amostras de Staphylococcus aureus

(29)

pacientes atendidos em Centro Médico da Califórnia - EUA, utilizando o equipamento Vitek

GPS-BS ou GPS-AS. Os autores concluíram que esta identificação pode apontar falsa

sensibilidade e resistência, sendo, portanto, necessário acrescentar um método de confirmação

para os resultados obtidos. Propuseram, então, o uso da reação de polimerase em cadeia

(PCR) para a identificação da presença ou não do gene mecA (confere resistência à oxacilina; ou apresenta uma linha de suscetibilidade), como técnica de padrão ouro para a identificação

de MRSA (RIBEIRO et al., 1999). Ressalta-se, porém, que o acesso à tecnologia baseada em

reações de PCR ainda tem sido restrito no Brasil, embora esteja reconhecida sua importância

para o diagnóstico preciso de infecções por patógenos multi-resistentes.

Com o objetivo de monitorar infecções nosocomiais e algumas infecções adquiridas

em comunidades, o Programa SENTRY (SENTRY Antimicrobial Resistance Surveillance Program), iniciado em 1997, promove levantamentos epidemiológicos em diversos países, para um monitoramento de hospitais igualmente distribuídos geograficamente, e ainda, com

as mesmas proporções de dimensão e atendimentos. No Brasil, em 1997 e 1998, foram

avaliados hospitais do Rio de Janeiro, São Paulo e Florianópolis (SADER et al., 2001). Até

2001, também faziam parte do Programa, hospitais de Porto Alegre e Brasília, sendo nesta

capital, o HBDF a entidade hospitalar selecionada. Os dados coletados no período de 1997 a

2001 demonstraram que a resistência para microrganismos gram-negativos na América Latina

foi bem mais elevada do que quando comparada a outras regiões do mundo, principalmente

América do Norte e Europa. Os maiores níveis de resistência estão associados a bacilos

gram-negativos não-fermentativos multi-resistentes, como Acinetobacter spp. e P. aeruginosa, tendo sido esta o terceiro patógeno isolado com maior frequência de infecções gerais e o

quinto de infecções sangüíneas (SADER et al., 2001; SADER et al., 2004).

Vários são os mecanismos de resistência aos antimicrobianos, como baixa

permeabilidade da membrana externa, sistemas de efluxo, alteração do alvo, produção de

enzimas (beta-lactamases, enzimas inativadoras de aminoglicosídios). Muitas cepas, além de

serem inerentemente resistentes a diferentes classes de drogas, têm a habilidade de adquirir

resistência via mutações e por meio de elementos genéticos móveis, como plasmídios,

seqüências de inserção, transposons e integrons (TSUDA et al, 1989; HILALI et al, 2000).

(30)

classificadas como AmpC, que podem ser induzíveis ou constitutivas. Mecanismos

regulatórios similares aos encontrados em enterobactérias, regulam a expressão da β -lactamase AmpC em P. aeruginosa (MOROSINI et al, 2000; LIVERMORE, 2002; RIBEIRO, 2004). A indução desta enzima é efetuada por antibióticos β-lactâmicos como cefalosporinas de primeira e segunda geração (cefoxitina), os quais são fortes indutores e

hidrolizados por esta β-lactamase. As cefalosporinas de terceira geração (ceftriaxone, ceftazidima) são fracas indutoras e, apesar de serem hidrolizadas, permanecem ativas porque

há pequena quantidade destas enzimas no espaço periplasmático para hidrolizar

completamente o antimicrobiano. A hiperprodução da enzima β-lactamase envolve a mutação do gene ampD (perda do mecanismo genético repressor), cujo fenômeno resulta em alto nível

de produção de β-lactamases, independentemente da concentração, sendo por isso considerada constitutiva. Apesar da alta produção desta enzima, essas cepas de P. aeruginosa

mantêm sensibilidade aos carbapenens, embora sejam estes fortes indutores desta enzima

(RIBEIRO, 2004).

Além disso, a presença de bombas de efluxo, que removem β-lactâmicos, cloranfenicol, fluoroquinolonas, novobiocina, sulfonamidas, tetraciclina, trimetroprim, além

de detergentes e corantes, aumenta expressivamente a resistência destas bactérias.

2.1. Permeabilidade da membrana e sistemas de efluxo

Segundo Vila e Marco (2002), os principais fatores que dificultam o êxito do

tratamento para infecções causadas por P. aeruginosa são: elevada resistência intrínseca a múltiplos antibióticos, reduzindo as possibilidades terapêuticas; e capacidade de adquirir

novos mecanismos de resistência, por meio de mutações. Embora a baixa permeabilidade da

membrana externa seja um mecanismo importante para a resistência intrínseca, o fator

relevante, talvez, seja a presença de bombas de efluxo, principalmente MexAB-OprM, com

capacidade para expulsar antibióticos: betalactâmicos, tetraciclina, clorafenicol, macrolídios,

fluoroquinonas, sulfonamidas e trimetoprim (VILA e MARCO, 2002; JO et al., 2003).

Os sistemas de efluxo apresentam importante papel na resistência intrínseca e na

(31)

componentes: uma membrana interna de regulação da divisão celular (RND), com a função

presumida de transportadora; um canal trimérico formando um poro na membrana externa; e

uma proteína periplasmática ligadora, a qual promove a interação entre o RND pump e o canal de efluxo, também chamada de porina (MASUDA et al., 2000b; JO et al., 2003).

A mais freqüente das diferentes porinas, que se encontram na membrana externa de P. aeruginosa, é a porina OprF, a qual é provavelmente utilizada pela maioria dos betalactâmicos para acessar o interior da bactéria (LIVERMORE, 2002; VILA e MARCO,

2002). As porinas OprC e OprE são canais inespecíficos, já que são empregados por vários

tipos de substratos, entre eles, alguns antibióticos. Uma quarta porina, a OprD, é utilizada

especificamente pelos carbapenens (VILA e MARCO, 2002; CRESPO et al., 2004). Uma

redução na expressão de OprF tem um escasso efeito sobre a Concentração Inibitória Mínima

(MIC) dos antibióticos β-lactâmicos, mas uma perda expressiva de OprD gera resistência a imipenem, em razão deste antibiótico utilizá-la para atravessar a membrana externa (TRIAS e

NIKAIDO, 1990; VILA e MARCO, 2002), e uma diminuição da sensibilidade ao

meropenem, sem afetar outros betalactâmicos (VILA e MARCO, 2002).

Segundo Sokol et al. (1994), proteínas de membrana externa são de particular interesse

em P. aeruginosa devido ao seu envolvimento no transporte de antibióticos, no transporte de fatores de virulência extracelulares e na ancoragem de estruturas que medeiam a adesão e

motilidade. Cerca de 150 genes codificam estas proteínas, um número desproporcional

quando comparados a outros genomas.

Têm sido descritos vários sistemas de bombas de efluxo em P. aeruginosa: o sistema MexAB-OprM, largamente distribuído nas células e associado tanto à resistência intrínseca,

quanto adquirida; o MexCD-OprJ e o MexEF-OprN, que são homólogos ao sistema

MexAB-OprM, mas não distribuídos como este, estando mais associados à resistência adquirida; e o

MexXY-OprM, o qual promove a extrusão de aminoglicosídios, tetraciclinas, eritromicina e

de alguns β-lactâmicos (AIRES et al., 1999; MASUDA et al., 2000b; VILA e MARCO,

2002). Em geral estes sistemas contribuem em maior ou menor escala no aumento da MIC de

carboxipenicilinas, ureidopenicilinas, cefalosporinas, monobactamas, fluoroquinolonas e, em

algumas ocasiões, aminoglicosídios. O sistema MexEF-OprN é regulado pelo gene nfxC, que por sua vez regula a OprD, causando uma redução em sua expressão, o que gera um aumento

(32)

Aendekerk et al. (2002) caracterizaram um novo sistema de efluxo, o qual

denominaram MexGHI-OpmD, em razão do mutante obtido apresentar três genes similares

aos sistemas de efluxo de P. aeruginosa, incluindo uma proteína de efluxo, uma proteína de fusão de membrana e uma porina de membrana externa. Os autores demonstraram que este

novo sistema confere resistência ao vanádio, substância com efeito bacteriostático sobre P. aeruginosa (SOARES, 2001), especialmente em condições de limitação de ferro (AENDEKERK et al, 2002).

2.2. Resistência a Antibióticos β-lactâmicos

Os antibióticos β-lactâmicos são agentes bactericidas de baixa toxicidade e largo espectro, que podem se apresentar como penicilinas bi-cíclicas (penams, penems,

carbapenems, oxapenams), cefalosporinas (cephems, cephamycins, oxacephems) ou

monobactâmicos mono-cíclicos. A suscetibilidade “natural” aos β-lactâmicos varia largamente entre as diferentes espécies bacterianas e está refletida na combinação de efeitos a

alvos ligantes, como proteínas ligadoras de penicilinas (penicilin-binding proteins - PBP), à estabilidade às β-lactamases, e em bactérias gram-negativas, à permeabilidade da membrana externa. De forma similar, a resistência a esta classe antibiótica reflete uma mudança em

qualquer destes três componentes. Nos últimos 50 anos, a resistência aos β-lactâmicos tem aumentado expressivamente, refletindo o extensivo uso desta classe de componentes

(GEORPAPADAKOU, 1993).

A espécie P. aeruginosa produz uma betalactamase cromossômica induzível tipo AmpC (β-lactamase induzível da classe C de Ambler) similar à encontrada em algumas enterobactérias (SOARES, 2001; LIVERMORE, 2002; VILA e MARCO, 2002; RIBEIRO,

2004). As ureidopenicilinas, cefalosporinas antipseudomônicas, monobactamas e

carbapenemas se mantêm ativas frente a cepas com produção basal de AmpC. A desrepressão

parcial ou total da enzima por mutação (ampD) leva a um aumento da MIC, havendo resistência a ticarcilina, piperaciclina, aztreonam, ceftazidima e cefepima.

(33)

(Pseudomonas specific enzyme) e, em menor freqüência, as betalactamases do tipo TEM e OXA. Caracterizam-se por hidrolizar ticarcilina e piperaciclina, esta última se vê menos

afetada e mantém atividade de ceftazidima, cefepime, aztreonam e carbapenens. Nos últimos

anos, têm aparecido novas betalactamases com um espectro muito mais amplo. A emergência

de metalo-β-lactamases (MβL) em patógenos clínicos, podendo conferir resistência aos antibióticos β-lactâmicos foi descrita no início dos anos 90 no Japão, sendo atualmente um problema de magnitude global. Giske et al. (2006) avaliaram amostras de P. aeruginosa

isoladas de pacientes da Grécia, Hungria, Itália e Suécia, com o propósito de obter um melhor

entendimento da epidemiologia internacional de amostras produtoras de MβL.

A enzima PER-1, de codificação plasmídica ou cromossômica, tem sido descrita na

Turquia (VAHABOGLU et al., 1990), França (MUGNIER et al, 1996), Itália (LUZZARO et

al., 2001; ENDIMIANI et al., 2006), etc. Esta enzima consiste em uma betalactamase de

classe A, que pode ser inibida pelo ácido clavulânico e pelas ceftazidima, cefepima,

aztreonam e ticarcilina; não conferindo resistência a piperaciclina, nem a carbapenens. As β -lactamases do tipo OXA, pertencentes à classe D de Ambler (AUBERT et al, 2001), conferem

resistência a ticarcilina, piperaciclina, ceftazidima, cefepima e aztreonam, mas não a

carbapenens (VILA e MARCO, 2002). São também encontradas na Turquia, e em menor

freqüência, na França, incluindo as OXA-11, 14, 16, 17, 19 e 28 (codificadas por integrons de localização plasmídica ou cromossômica), as quais são mutantes das OXA-10 e OXA-15,

enzimas plasmídicas, que por sua vez são derivadas da OXA–2.

Têm sido descritas carbapenases do tipo metalo-β-lactamases (MβL) que hidrolisam rapidamente carboxipenicilinas, ureidopenicilinas, ceftazidima, cefepima e carbapenens.

Entretanto, o aztreonam se mantém estável e conserva sua atividade. Estas enzimas são da

classe B, codificadas em integrons, os quais são inibidos pelo ácido etilenodiaminotetracético (EDTA). A enzima IMP-1 tem sido descrita principalmente no Japão, embora recentemente

tenha havido casos em outros países, a exemplo de Singapura e do Reino Unido (ARAKAWA

et al., 2000). Uma variante desta enzima, a IMP-7, foi descrita no Canadá (VILA e MARCO,

2002) e um outro tipo com estas características são as denominadas VIM, encontradas na

Itália (VIM-1) (GISKE et al., 2006; LAGATOLLA et al., 2006); França, Grécia e Koréia

(34)

O surgimento de espécies de bactérias gram-negativas resistentes a antibióticos β -lactâmicos de largo-espectro tem se tornado um problema clínico mundial. No Japão,

amostras resistentes aos carbepenens, sendo algumas produtoras da metalo-β-lactamase IMP-1, tendem a demonstrar resistência a cefalosporinas, cefamicinas e carbapenens. Arakawa et

al. (2000) propuseram, então, um método simples de difusão de disco, utilizando sais de

metais pesados e EDTA, para detectar este tipo de bactéria. Estes autores concluíram que o

método apresentou especificidade e sensibilidade comparável a análises de PCR, resultando

em uma ferramenta de rastreamento de menor custo, podendo ser disponibilizada para testes

clínicos de laboratórios (ARAKAWA et al., 2000).

A aquisição de β-lactamases, principalmente de PSE-1 e PSE-4, pode conferir resistência aos carbapenens, às cefalosporinas e aos monobactâmicos. A PER-1, uma β -lactamase de classe A, confere alta resistência a ceftazidime, e tem sido freqüentemente

relatada na Turquia (VAHABOGLU et al., 1990).

Zanetti et al. (2003) realizaram estudo comparativo entre monoterapia com cefepime e

a terapêutica com imipenem-cilastatina em pacientes acometidos por pneumonia,

provenientes de Unidades de Terapia Intensiva (UTI) de seis países europeus. Embora os

autores tenham evidenciado eficácia clínica similar para os dois tipos de terapêutica,

verificaram também que houve maior número de cepas de P. aeruginosa resistentes ao imipenem-cilastatina do que ao cefepime. Entretanto, os autores ressaltaram a ocorrência de

toxicidade renal como efeito colateral da monoterapia proposta.

Estas amostras altamente resistentes também estão emergindo na América, onde o

Programa de Vigilância SENTRY de dados da América Latina, em 2002, indicou a presença

de 18% de amostras de P. aeruginosa e Acinetobacter spp. resistentes aos carbapenens, sendo que 2% das P. aeruginosa eram produtoras de MβL (CRESPO et al., 2004). O Programa de 1999-2002 identificou estas amostras na Argentina, Chile, Brasil e Venezuela, exceto na

Colômbia (CRESPO et al, 2004). Recentemente, foi descrita uma nova subclasse de MβL, a SPM-1, a qual foi identificada em hospital terciário brasileiro, em São Paulo, a partir de

paciente da pediatria acometido por infecção do trato urinário (GALES et al., 2003; CRESPO

(35)

No período de janeiro de 2001 a dezembro de 2003, 1186 amostras de P. aeruginosa

foram coletadas pelo Programa SENTRY na América Latina, tendo sido 54 isolados

resistentes aos antibióticos β-lactâmicos, imipenem, meropenem e ceftazidime. Mais de 70% destes isolados foram provenientes de um mesmo centro médico da cidade de São Paulo. Este

programa de monitoramento tem detectado e caracterizado diversas novas enzimas MBL

nesta fase de surgimento de bacilos gram-negativos não-fermentadores multi-resistentes,

inferindo a possibilidade de que a disseminação de genes MBL pode representar o fator mais

importante no aumento da resistência aos carbapenems.

2.2. Resistência aos Carbapenens

Os Carbapenens agem pela inibição da síntese da parede celular e representam uma

modificação da estrutura do anel β-lactâmico. Devido ao seu largo espectro de atividade, à sua estabilidade e à hidrólise da maioria das β-lactamases, os carbapenens têm sido considerados medicamentos de escolha para o tratamento de infecções causadas por bactérias

gram-negativas resistentes às cefalosporinas (GOODMAN e GILMAN, 1991; TORTORA et

al., 2002).

Entretanto, estudo do SENTRY Antimicrobial Surveillance Program realizado em centros médicos da América Latina, no período entre 1997 e 2001, com a participação da

Argentina, Brasil, Chile, Colômbia, México, Uruguai e Venezuela, demonstrou que o

aumento da resistência aos antibióticos comumente utilizados é o maior problema terapêutico

desta região. Os carbapenens imipenem (IPM) e meropenem (MEM) são usualmente ativos

contra isolados de P. aeruginosa multi-resistentes. Todavia, a resistência a estes antimicrobianos tem sido enfatizada como um problema terapêutico (ANDRADE et al., 2003;

GALES et al., 2003; MENDES et al., 2004; SADER et al., 2005).

Os mecanismos responsáveis pela resistência de P. aeruginosa aos carbapenens incluem: redução da permeabilidade da membrana externa, em razão de mutação de porinas;

(36)

dependentes de zinco (MENDES et al., 2004; SADER et al., 2005a; SADER et al., 2005b;

REINHARDT et al., 2007).

Cardoso, Alves e Leitão (2008) relataram a presença de MBL VIM-2 em pacientes da

pediatria de hospital referência para monitoramento de fibrose cística, em Coimbra –

Portugal, confirmando a disseminação de clones multi-resistentes. Os autores evidenciaram

que das 15 amostras avaliadas, oito foram resistentes aos carbapenems, tendo sido também

positivas para a presença de MBL.

Carmeli et al. (1998) encontraram resistência aumentada, em duas vezes, do risco de

resistência ao imipenem (IPM), quando os resultados foram comparados com ciprofloxacim

(CIP), ceftazidime (CAZ) ou piperaciclina (TZP). No entanto, a combinação de terapias

poderia ser uma tentativa de prevenir a seleção de resistência mutacional, embora as

evidências ainda sejam escassas (LIVERMORE, 2002).

Gales et al. (2003), ao avaliarem 43 amostras de P. aeruginosa isoladas de pacientes de diversos hospitais brasileiros, dentre eles o HBDF, evidenciaram a ocorrência do clone SP

resistente a carbepenens. Os autores concluíram que, entre hospitais próximos, a transferência

do clone poderia ocorrer em razão do transporte de pacientes ou pelo próprio corpo clínico.

Entretanto, o mesmo clone foi também identificado em hospitais distantes, o que pode indicar

uma pressão seletiva em razão das terapias antimicrobianas utilizadas (GALES et al., 2003;

SADER et al., 2005).

Embora, tenha sido demonstrado o surgimento de resistência de P. aeruginosa ao imipenem (ANDRADE et al., 2003) e a outros antibióticos, medidas do controle de qualidade

são necessárias para prevenir resultados relacionados a falsa-resistência, devendo ser

observadas estritamente as condições laboratoriais de avaliação (CARMELI et al., 1998). A

perda da porina OprD, que forma canais na transmembrana, gera resistência ao imipenem e

reduz a suscetibilidade ao meropenem (LIVERMORE, 2002).

Sader et al. (2005) realizaram estudo com 183 amostras obtidas dos pacientes de

hospital terciário de São Paulo, para os quais foi inicialmente realizada a testagem para

resistência aos diversos antibióticos por meio da técnica de difusão de disco. As amostras

(37)

MβL. Os autores concluíram que os isolados de P. aeruginosa obtidos apresentaram alto grau de resistência à maioria dos agentes antimicrobianos utilizados, sendo que somente as

polimixinas (PB) demostraram consistente atividade in-vitro.

2.4. Resistência a Aminoglicosídios

Aminoglicosídios são antibióticos que, considerando sua estrutura química e

mecanismo de ação, estão entre aqueles que se ligam à subunidade ribossômica 30S e alteram

a síntese protéica, podendo causar a morte celular. Em razão de sua nefrotoxicidade e

ototoxicidade, os aminoglicosídios têm tido seu uso restrito. A neomicina e a gentamicina

(CN) são exemplos de antibióticos desta classe de inibidores da síntese protéica (GOODMAN

e GILMAN, 1991; TORTORA et al., 2002).

Os mecanismos mais importantes em P. aeruginosa relacionados à resistência aos aminoglicosídios são: inativação por enzimas modificantes, alterações na permeabilidade; e

eliminação por bombas de efluxo. As enzimas mais freqüentes em P. aeruginosa são: uma nucleotidiltransferase [ANT (2’’)-I], que confere resistência a gentamicina, tobramicina,

dibecacina e canamicina; e uma acetiltransferase [AAC (6’) – II], cujo substrato é a

gentamicina, a tobramicina e a netilmicina, ressaltando a freqüente combinação de diversas

enzimas. Alterações na permeabilidade comportam resistência a todos os aminoglicosídios e,

junto com as enzimas modificantes, constituem os mecanismos de resistência mais habituais.

Entretanto, as bases moleculares da resistência a aminoglicosídios são pouco conhecidas

(VILA e MARCO, 2002).

Três grandes famílias de proteínas da membrana externa foram relatadas a partir do

seqüenciamento genômico de P. aeruginosa realizado por Stover et al. (2000), os quais concluíram ter esta espécie apresentado o maior genoma bacteriano contido em um único

cromossomo circular (6,3Mbp), sequenciado até aquele momento. Os autores identificaram

também a presença de 14 homólogos da porina OprM, desconhecidos até aquele momento. A partir desse seqüenciamento genômico, Jo et al. (2003) demonstraram que três proteínas

(OpmG, OpmH e OpmI) influenciaram a suscetibilidade a aminoglicosídios, sendo que a

ruptura da OpmG afetou principalmente a suscetibilidade à gentamicina e a ruptura da OpmI,

(38)

apresentou um menor efeito na suscetibilidade aos antibióticos citados. Jo et al. (2003)

evidenciaram, ainda, que cada uma destas proteínas tem um efeito diferente e uma função

específica quanto aos aminoglicosídios, podendo ainda apresentar uma sobreposição em suas

ações.

Os aminoglicosídios são uma classe de antibióticos anfipáticos altamente catiônicos

que tem sido uma alternativa para microrganismos multi-resistentes. Dentre os sistemas de

efluxo descritos, somente o sistema MexX-MexY de P. aeruginosa tem sido associado à resistência aos aminoglicosídios (AIRES et al, 1999; MASUDA et al, 2000; LIVERMORE,

2002; JO et al., 2003; REINHARDT et al., 2007).

Aires et al. (1999), analisando sistemas de efluxo, concluíram que o sistema

MexAB-OprM confere, clinicamente, relevante resistência aos antibióticos β-lactâmicos, enquanto a super-expressão do sistema XY pode ser responsável pelos altos níveis de resistência aos

aminoglicosídios e às fluoroquinolonas, em investigações clínicas. Reinhardt et al. (2007)

ressaltaram a possibilidade de desenvolvimento de resistência aos aminiglicosídios por sua

inativação ou por sua extrusão pelos sistemas de efluxo MexXY. Entretanto, os autores

observaram um aumento de 20 vezes da expressão de 2 entre 11 isolados resistentes a este

antibiótico, em que não havia nenhuma correlação com a expressão desta bomba de efluxo,

sugerindo a existência de determinantes de resistência ainda desconhecidos.

A metilação de rRNA 16S tem surgido como mais um mecanismo de resistência aos

aminoglicosídios. Cinco metilases têm sido descritas: ArmA, RmtA, RmtB, RmtC, RmtD.

Doi et al. (2007) realizaram estudo em 45 pacientes de sete hospitais do Estado de São Paulo,

coletando 51 amostras resistentes ao imipenem, das quais 57% produziam MBL SPM-1 e

75% RmtD e 51% dos isolados produziram ambas enzimas, sugerindo que esta co-produção

pode ser freqüente na área geográfica estudada.

O aztreonam (ATM) foi o primeiro antibiótico monobactâmico liberado para uso nos

Estados Unidos, sendo ativo contra uma larga variedade de bactérias gram-negativas

aeróbicas e facultativas. Quando comparado aos aminoglicosídios, DeMaria et al. (1989)

demonstraram eficácia semelhante ao tratamento de pacientes com infecção por bacilos

gram-negativos, embora a concentração sérica do aztreonam tenha sido mais elevada, não houve

(39)

2.5. Resistência a Fluoroquinolonas

As quinolonas exercem efeito bactericida por inibição seletiva de uma enzima (DNA

girase) necessária para a replicação do DNA. Apesar de o ácido nalidíxico possuir um uso

limitado para infecções do trato urinário, na década de 80, foi desenvolvido um grupo de

antibióticos de largo espectro, as fluoroquinonas, as quais penetram muito bem nos tecidos,

sendo geralmente seguras para adultos, mas tendo seu uso limitado para crianças,

adolescentes e mulheres grávidas, em razão de possível alteração do desenvolvimento da

cartilagem (TORTORA et al., 2002).

As fluoroquinolonas são utilizadas freqüentemente em clínica médica para o

tratamento de infecções do trato respiratório e urinário (SOARES, 2001). Como ocorre com

as enterobactérias, a resistência de P. aeruginosa a fluoroquinolonas pode apresentar-se a partir de alterações protéicas (mutações na DNA girase e na topoisomerase IV), modificações

na permeabilidade ou sobre-expressão de bombas de efluxo. Têm sido descritas mutações do

gene gyrA, que codifica a subunidade A da DNA girase, alterando os aminoácidos situados na região NH2 terminal da proteína (SOARES, 2001; GILBERT et al., 2001; VILA e MARCO,

2002). A mudança em um único aminoácido já causaria uma resistência moderada às

fluoroquinolonas e uma dupla mutação do gene gyrA e do gene parC (subunidade A da topoisomerase IV) seria responsável por um elevado grau de resistência. As modificações das

porinas (quinolonas hidrófilas) ou em um lipopolissacarídio (quinolonas hidrófobas)

contribuem para reduzir a entrada das fluoroquinolonas no interior da célula, o que se traduz

em um aumento da resistência. A sobre-exposição das bombas de efluxo que ocorre com β -lactâmicos também provoca um aumento da resistência às fluoroquinolonas (VILA e

MARCO, 2002).

O uso do ciprofloxacino (CIP) por via oral, uma quinolona de ácido carboxílico pouco

nefrotóxica quando comparada aos aminoglicosídios, apresentou bons níveis séricos em

estudo realizado por Eron et al. (1985). Giamarellou et al. (2000) compararam a terapêutica

usualmente de escolha para pacientes com episódios de neutropenia febril, administração de

ceftazidime (CAZ) associada à amicacina (AK), à administração de ciprofloxacina (CIP)

(40)

menor dosagem. A justificativa para esta avaliação constituiu-se principalmente pela

nefrotoxicidade e ototoxicidade bem documentada dos aminiglicosídios e pela busca de

eficácia por meio da monoterapia.

Os referidos autores ainda concluíram que o procedimento utilizado foi pelo menos tão

efetivo quanto a terapia com ceftazidime associada a amicacina em pacientes com infecção

por P. aeruginosa. Entretanto, concluíram também que a seleção da antibioticoterapia adequada deveria estar associada à avaliação da presença de cepas multi-resistentes a

antibióticos específicos em determinados centros de atendimento, principalmente terciários

(GIAMARELLOU et al. 2000).

Gilbert et al. (2001) avaliaram a resistência fenotípica de sete espécies bacterianas,

dentre elas P. aeruginosa, para as fluoroquinonas ciprofloxacim (CIP), levofloxacim e trovafloxacim, demonstrando o aparecimento de resistência a estas drogas, embora tenha

havido diferenças entre as espécies estudadas. Para P. aeruginosa foram identificadas mais amostras mutantes para trovafloxacim do que para ciprofloxacina (CIP). Os autores

concluíram que embora a resistência fenotípica não denote uma referência específica aos

mecanismos genotípicos, estudos de características fenotípicas poderiam complementar

abordagens genotípicas, possibilitando melhor entendimento da dinâmica de populações

bacterianas.

2.6. Resistência aos Macrolídios

A antibioticoterapia em pacientes com fibrose cística acometidos por infecções

pulmonares por P. aeruginosa tem aumentado sua expectativa de vida. Nos últimos 10 anos, o uso da azitromicina para o controle da infecção e modulação da inflamação tem sido uma

nova abordagem. Entretanto, este antimicrobiano da classe dos macrolídios, os quais agem

pela inibição da síntese protéica, ainda tem seu mecanismo de ação pouco conhecido

(41)

3. VIRULÊNCIA

Os mecanismos envolvidos na virulência (capacidade de um microrganismo de causar

danos ao hospedeiro) de bactérias patogênicas e os que determinam a resistência de

determinada cepa bacteriana aos antibióticos são tópicos importantes e amplamente estudados

em microbiologia clínica (MOROSINI et al., 2000). Muito embora P. aeruginosa seja mais conhecida por sua alta taxa de resistência aos antibióticos do que por sua capacidade

virulenta, apresentando-se geralmente como patógeno oportunista, esta espécie bacteriana tem

causado infecções com freqüência cada vez maior. Assim, a baixa virulência da P. aeruginosa

é efetivamente compensada por uma alta taxa de resistência a antibióticos, combinação que

tem se mostrado mortal em muitos casos, sendo uma preocupação extrema em ambientes

hospitalares.

Dentre os fatores celulares que determinam a virulência de P. aeruginosa destacam-se: pilli; apêndices superficiais, que promovem a aderência do microrganismo a receptores de

gangliosídeo GM-1 presentes na superfície das células epiteliais do hospedeiro; flagelos, que

também participam da aderência (SOARES, 2005); e a endotoxina LPS (Lipolissacarídeo da

Parede Celular), responsável pela síndrome séptica, que ocorre em razão da ativação e

liberação de mediadores de vasodilatação, como interleucina 1 e fator de necrose tumoral, da

ativação do Complemento e da deflagração de coagulação intravascular disseminada, dentre

outros mecanismos (BONE, 1993).

Fatores extracelulares, em geral regulados por estímulos ambientais (RAHME et al.,

2000), também estão relacionados à virulência de P. aeruginosa, como: produção de alginato, polissacarídeo capsular que permite a aderência às superfícies epiteliais pulmonares com

formação de grandes conglomerados bacterianos, biofilme (HEAD e YU, 2004; FILITRAUT,

2006); produção de enzimas, como a elastase, que degrada imunoglobulinas e componentes

do Complemento, e como a exoenzima S, que inibe síntese protéica e tem função de adesina;

leucocidina, que inibe função de neutrófilos e linfócitos; piocianina, que impede o

crescimento de outras bactérias e inibe a atividade ciliar da mucosa respiratória; toxinas,

como a exotoxina A, a qual promove a destruição tecidual, inibindo a síntese protéica

(42)

É importante ressaltar que a expressão de exoprodutos obtidos em estudos in vitro

pode diferir significativamente da expressão a partir de infecções in vivo ou durante a co-cultivação em culturas celulares/tecidos (SAWA et al., 1998). Sawa et al. (1998) sugeriram

que a citotoxicidade induzida pela densidade pode ser resultante da expressão de

determinantes de virulência coordenadamente regulados pelos sistemas QS (quorum-sensing system). Esta comunicação inter-bacteriana, também chamada “quorum-sensing” (QS), é um mecanismo muito sofisticado pelo qual as moléculas agem como auto-indutoras de uma

variedade de funções biológicas, controlando não apenas a produção de fatores de virulência,

como também a formação de biofilme (NALCA et al., 2006). A presença ou ausência de um

simples gene ou de fatores que controlam os genes de virulência pode determinar se uma

amostra de P. aeruginosa será invasiva ou lítica para células epiteliais ou endoteliais in vitro

(TÜMMLER e KIEWITZ, 1999).

Em pacientes fibrocísticos, a produção do exopolissacarídio alginato, por meio de um

processo que consome energia pela conversão de fontes de carbono, evidenciando uma

necessidade de produção in vivo, tem sido apontada como a principal alteração fenotípica de

P. aeruginosa, permitindo inferir que o ambiente hostil dos pulmões destes pacientes induz não apenas mutações desta espécie bacteriana, mas também seleciona clones mutantes mais

aptos à sobrevivência naquele nicho específico (SILO-SUH et al., 2005). Embora esta

conversão fenotípica de não-mucóide para mucóide seja mais frequente em pacientes com

fibrose cística, ela também ocorre em indivíduos com infecções crônicas associadas a P. aeruginosa. O fator desencadeador desta mudança para mucóide pode ser a redução de nutrientes e/ou de energia (SOKOL et al., 1994). Sokol et al. (1994) ressaltaram também a

possibilidade de ocorrer um rearranjo do DNA cromossomal bacteriano, associado à

modificação fenotípica.

Os fatores de virulência são, por definição, requeridos para uma infecção aguda.

Entretanto, o sistema imune ao reconhecer os referidos fatores elimina células que os

possuem, selecionando dessa forma, células que apresentam mutações nestes fatores de

virulência e em seus reguladores (SMITH et al., 2006). Segundo Nguyen e Singh (2006), o

conceito de virulência é impreciso, pois “fatores de virulência” são necessários para a

Imagem

Tabela 1: Lista dos Discos-Difusão (Kirby-Bauer) utilizados para o perfil das cepas
Tabela 2: Seqüências dos 10 primers selecionados que apresentam polimorfismos  reproduzíveis para P
Tabela 3: Distribuição dos Pacientes por Idade e Sexo
Tabela 5: Distribuição das Amostras de P. aeruginosa, conforme a Fonte de Isolamento  Fontes de Isolamento  Número de amostras  Porcentagem
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Referências

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