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ASPOF EN M Santos Piteira 2016

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João Diogo Santos Piteira

Operações Anfíbias em ambiente A2/AD

Contributo das Operações Anfíbias para ultrapassar uma estratégia de

A2/AD

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João Diogo Santos Piteira

Operações Anfíbias em ambiente A2/AD

Contributo das Operações Anfíbias para ultrapassar uma estratégia de A2/AD

Dissertação para obtenção do grau de Mestre em Ciências Militares Navais, na especialidade de Marinha

Orientação de: CFR Sardinha Monteiro Co-orientação de: CFR FZ Santos Formiga

O Aluno Mestrando, O Orientador,

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II

“Quanto mais aumenta o nosso conhecimento, mais evidente fica a nossa ignorância”

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Dedicatória

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IV

Agradecimentos

A Tese de Mestrado, embora seja um processo solitário que qualquer investigador tem que ultrapassar, reúne o contributo de várias pessoas. Desde o primeiro momento da minha Tese, contei com o apoio de inúmeras pessoas. Sem elas, não teria sido capaz.

Começo por agradecer ao orientador da minha tese, CFR Luís Nuno da Cunha Sardinha Monteiro, pelo privilégio em tê-lo como Orientador, pelas indicações valiosas, pelo conhecimento vasto e pelas palavras sábias que muito contribuíram para levar esta Tese a bom porto.

Ao CFR FZ Joel Carlos Neto dos Santos Formiga, o meu sincero agradecimento pela coorientação da Tese, por todo o apoio e disponibilidade demonstrados desde a primeira reunião. A sua constante supervisão foi essencial para me guiar no decorrer da Tese. O meu mais sincero obrigado.

Gostaria de agradecer aos oficiais do N.R.P Viana do Castelo pelos ensinamentos, pela paciência e pela camaradagem que sempre demonstraram durante o período do estágio de embarque, e que em muito me ajudou a levar a bom porto este trabalho. O meu sentido obrigado.

Gostaria de deixar uma palavra de apreço ao 1TEN Nuno Alexandre Dias de Oliveira, pela disponibilidade e ajuda com a elaboração da Tese.

Não posso deixar de agradecer, às pessoas que me conduziram desde o primeiro momento do meu percurso enquanto militar, formadores, instrutores e amigos, da Escola Naval e fora dela, que muito contribuiu para o meu crescimento enquanto homem e militar. Não o fazer não faria qualquer sentido. Uma palavra especial ao 2TEN Paulo Jorge dos Anjos Fragoso, que através do seu exemplo, da sua atitude, pela sua entrega e dedicação à profissão, na partilha dos bons (e dos menos bons momentos) me ajudaram a ser o que hoje sou. A si, o meu sentido obrigado.

Aos camaradas do Curso Contra-Almirante Almeida Henriques, que me

acompanharam e me fizeram crescer durante estes cinco anos, só posso dizer “Unidos e Leais, fiéis aos ideais!”.

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V

Resumo

Com o fim da Guerra Fria e a dissolução do Pacto Militar de Varsóvia, a Rússia deixou de ser uma ameaça à hegemonia militar norte-americana e da NATO. Assim, desde esse momento para cá que se tem assistido a um quase total acesso, livre de verdadeira oposição, a qualquer teatro de operações.

Durante a Guerra do Golfo, em 1990-91, e posteriormente no Afeganistão e Iraque a partir de 2001, no que constituem os dois grandes conflitos armados pós-Guerra Fria, os EUA em conjunto com a NATO, conseguiram alcançar a vitória através de um total acesso operacional aos teatros de operações, e com um grau de ameaça bastante reduzido. Contudo, este cenário de ameaça reduzida e acesso global está claramente comprometido. Isto porque um sem número de meios e tecnologias têm sido desenvolvidas e aplicadas exatamente com este propósito. Assim, em 2003 surgiu o acrónimo A2/AD –“Anti-Access/Area Denial”, para qualificar estes meios e estratégias para os empregar, por forma a negar o acesso ao cenário de conflito, ou limitar a facilidade de movimentação no teatro de operações.

Estas estratégias de A2/AD diminuem a capacidade de projeção de poder, negando a facilidade de movimentação e capacidade de ação, permitindo ainda uma miríade de abordagens operacionais. Os inúmeros adversários dos EUA/NATO não irão cometer os mesmos erros que Saddam Hussein cometeu na primeira Guerra do Golfo. Em particular, a China tem desenvolvido grande parte da sua capacidade de A2/AD com base em exemplos retirados deste conflito.

A proliferação deste tipo de capacidades e meios ao longo de um espectro bastante significativo de atores estatais e não-estatais obriga a que tanto os EUA como a NATO desenvolvam formas inovadoras de lhes fazer face.

As operações anfíbias poderão ser uma resposta bastante capaz a este cenário de A2/AD. A capacidade única de operar transversalmente em diversos domínios, com um custo relativamente baixo e juntando forças dos vários ramos, respondendo de forma rápida a qualquer situação e providenciando uma presença avançada num cenário de conflito tornam as Operações Anfíbias numa resposta bastante válida à questão estratégica do A2/AD.

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VI

Abstract

With the end of the Cold War, and the dissolution of the Warsaw Pact, Russia was no longer a threat to the USA and NATO military supremacy. From that moment, both the USA and NATO have enjoyed a total and undisputed global access.

During the Gulf War, in 1990-91 and after, in Afghanistan and Iraq after 2001, in what constitute the two main conflict events post-Cold War, the USA and NATO, together, have reached a total victory supported by full operational access to the conflicts, with a very low degree of threat.

Although, this low level threat scenario and full global access is clearly compromised. The reason for this is the enormous number of means and technology’s that have been produced and applied exactly with this purpose. So, after 2003, de acronym A2/AD – “Anti-Access/Area Denial” started to appear in the US guidance documents,

defining this means and ways of employing them, denying access to the battlespace, severely compromising the capacity to move inside the operations theater.

These A2/AD strategies undermine the power-projection capacity, denying the capacity to move and react, allowing this state and non-state actors with a huge variety of operational approaches to the battlespace. These actors will not committee Saddam Hussein mistake during the Gulf War. China, in particular, developed all the defense planning under the lessons from the First Gulf War, in order to develop their A2/AD strategies and capacities.

The hide spreading, along a huge range of countries and terrorist groups, of this capacities, must alert the US and NATO in order to develop innovative ways of fighting them.

In order to do so, the Amphibious Operations surge as a unique response, extremely capable in this A2/AD scenario. The unique capacity of operating across several domains, with relatively low cost and footprint, providing a fast reaction, and allowing for a forward presence, make the Amphibious Operations an extremely viable answer for the A2/AD strategic problems.

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VII

Índice

Introdução ... 1

1. Política de defesa nacional e o emprego do Poder Naval ... 4

1.1 Estratégia Nacional para a defesa... 4

1.2 Orientações da Politica de defesa nacional tendo em conta o emprego do poder naval ... 7

2. Anti-access/ Area Denial ... 12

2.1 Introdução ao conceito de Anti-access/Area Denial ... 12

2.2 A importância do poder naval e os desafios de A2/AD do futuro ... 15

2.3 Conclusão ... 34

3. Operações Anfíbias... 37

3.1 Síntese de Conceitos... 37

3.2 Campanha de Gallipoli ... 41

3.3 Operação Albion ... 47

3.4 Campanha do Pacífico ... 53

3.5 Campanha nas Falklands/Malvinas ... 61

3.6 Conclusão ... 70

4. O contributo das Operações Anfíbias ... 77

4.1 Aplicabilidade das OA’s na atualidade ... 77

4.2 OMFTS e STOM ... 79

4.3 Conclusão ... 82

Conclusão ... 85

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VIII

Índice de Figuras

Figura 1 - Choke Points mundiais (Feldman-Piltch, 2010) ... 8

Figura 2 - NIA-D3 (Lyon, s.d.) ... 15

Figura 3 - Linhas de Anti-Access chinês (Renken, 2014) ... 24

Figura 4 - Estreito de Ormuz (Gunzinger & Dougherty, 2011) ... 28

Figura 5 - Disposição de minas e fortificações ao longo do Estreito de Dardanelos (Dudek, 2015) ... 43

Figura 6 - Ataque naval em Dardanelos ( (Scott, 1986, p. 2) ... 44

Figura 7 - Desembarques na Península de Gallipoli (Veloso, 2015)... 46

Figura 8 - Disposição das baterias de costa (Staff, Battle of the Baltic Islands 1917 - Triumph of the Imperial German Navy , 2008, p. 15)... 50

Figura 9 - Desembarques anfíbios em Tagga Bay e Pamerort (Staff, Battle of the Baltic Islands 1917 - Triumph of the Imperial German Navy , 2008, p. 10) ... 52

Figura 10 - "Muralha Imperial" formada, constituída pelas ilhas do Pacífico (Clancey, s.d.) ... 55

Figura 11 - Ilhas Midway e Arquipélago do Havai (A., s.d.) ... 56

Figura 12 - Durante a Batalha das Midway a Marinha Japonesa perdeu 4 porta-aviões (Taylor, 2011) ... 57

Figura 13 - Desembarque em Guadalcanal, e movimentação das forças norte-americanas (Shaw, 2015) ... 59

Figura 14 - Desembarque em Iwo Jima (Alexander, 1994) ... 60

Figura 15 – Desembarque e movimento das forças argentinas (Smith, 1989) ... 62

Figura 16 - Desembarques anfíbios na Baía de San Carlos ( (Anderson D. , 2002, p. 48) ... 68

Figura 17 - Movimento das forças inglesas após os desembarques (Kimball, s.d.) ... 69

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IX

Lista de abreviaturas e siglas

A2 – Anti-Access

A2/AD – Anti-Access/Area Denial AD – Area Denial

ADM – Armas de Destruição Maciça AEW – Air Early Warning

AOA – Área de Objetivo Anfíbio ASB – Air-Sea Battle

ASBM – Anti-Ship Balistic Missile ASCM – Anti-Ship Cruise Missile ASW – Anti-Submarine Warfare

C4ISR – Command, Control, Computers, Communications, Intelligence, Surveillance and Reconnaissance

CEDN – Conceito Estratégico de Defesa Nacional CEM – Conceito Estratégico Militar

CoG – Center of Gravity DoD – Department of Defense DoN – Department of the Navy

EEINC - Espaço Estratégico de Interesse Nacional Conjuntural EEINP – Espaço Estratégico de Interesse Nacional Permanente EMC – Estado-Maior Conjunto

EUA – Estados Unidos da América FND – Forças Nacionais Destacadas

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X

JAM-GC – Joint Concept for Access and Maneuver in the Global Commons JOAC – Joint Operational Access Concept

LACM – Land-Attack Cruise Missile MEU – Marine Expeditionary Unit MIFA – Missões das Forças Armadas

MOOTW – Military Operations Other Than War NATO – North Atlantic Treaty Organization

NIA-D3 – Networked, Integrated, Attack in depth to Disrupt, Destroy and Defeat OA – Operação Anfíbia

OEA – Organização dos Estados da América OMFTS – Operational Maneuver From The Sea OTH – Over the Horizon

PCSD – Política Comum de Segurança e Defessa PIB – Produto Interno Bruto

SAM – Surface-to-Air Missile SF – Sistema de Forças

SIGINT – Signals Intelligence

SLOC – Sea Lines Of Communication STOM – Ship To Objective Maneuver STUFT – Ships Taken Up From Trade

SVTOL – Short, Vertical, Take-Off and Landing TF – Task-Force

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1

Introdução

Com o final da Guerra-Fria, a ameaça direta de um agressor, com capacidades bem identificadas, em que existia uma estratégia clara do que se deveria fazer para as mitigar, desapareceu. A partir desse período, a aliança transatlântica gozou um período de claro domínio mundial, com a sua capacidade indiscutível para projetar poder em qualquer parte do mundo. Contudo, essa situação já não se coloca.

Neste momento, tanto os EUA como a NATO debatem-se com a dificuldade de reorientarem as suas capacidades militares por forma a operarem militarmente em cenários restritos, altamente tecnológicos, em que inimigos quer sejam estatais ou não estatais têm amplo acesso a comunicações satélite e armamento altamente desenvolvido, fazendo ainda um uso extensivo do ciberespaço para obtenção de vantagens militares.

Assim, motivado por estas alterações no panorama estratégico dos EUA, e identificadas a dificuldade na capacidade de projeção de poder em determinadas regiões mundiais, com especial ênfase na região do sudoeste asiático, com o grande salto militar que tem ocorrido nas forças armadas chinesas, surgiu o acrónimo A2/AD – Anti-Access/Area Denial - e tudo o que dele advém. Este termo surgiu no início do presente século, e está diretamente relacionado com um conjunto de meios que procuram negar o acesso a uma determinada região, ou dificultar a capacidade de operar nessa mesma região. Estes meios incluem sistemas que afetam a capacidade de projeção de poder, além de um conjunto vasto de meios interligados nos diferentes domínios – cross-domain sinergy – e que abrangem diversos tipos de meios. Contudo, e apesar de não ter sido nunca confirmado expressamente, ele surgiu claramente associado às capacidades edificadas pelo governo chinês, que visam ameaçar a hegemonia norte-americana no Pacífico Ocidental.

Foi desta forma que este tema me suscitou curiosidade e me cativou o interesse. Associado a isto, e enquanto oficial de Marinha, não pude deixar de tentar levar o tema para uma perspetiva naval, tentando transportá-lo para “terreno” mais conhecido. Assim, surgiu a ideia de perceber qual a importância das Operações Anfíbias na atualidade militar e qual a sua empregabilidade, obviamente associado à questão da negação de acesso e da limitação da capacidade de projeção de poder.

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Portugal se insere. Recorri, de forma geral, nas referências que me baseio, a autores e centros de estudo norte-americanos, nos quais o tema de A2/AD tem sido altamente desenvolvido e onde ocupa um lugar central nas prioridades da defesa. Por esta razão, e porque é do senso comum que os Estados Unidos da América são, sem qualquer sombra de dúvida, o principal país no que a assuntos militares diz respeito, considero que deve ser dado o devido destaque ao tema.

Portugal, enquanto país marítimo e com um passado colonial, dispôs sempre de Forças Armadas em locais remotos e distantes da pátria-mãe. Por este facto, foi sempre uma preocupação dos nossos governantes manter a capacidade para responder a qualquer situação, nomeadamente nas colónias mais longínquas. A Marinha, em particular, preocupou-se sempre em preparar forças com capacidade para projetar poder, e que servissem como solução para estas situações. Assim, e ao longo da dissertação, tentarei criar a ponte entre o A2/AD e as Operações anfíbias, procurando perceber de que forma, com base nas características deste tipo de operação naval, esta pode ser a solução para responder aos meios e estratégias que visam negar a capacidade de projeção de poder, negando o acesso a pontos estratégicos.

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1. Política de defesa nacional e o emprego do Poder Naval 1.1 Estratégia Nacional para a defesa

Desde o início do Séc. XXI, e especialmente na última década, a situação estratégica global e o ambiente internacional sofreram profundas alterações. A crise económica que afetou primeiramente os Estados Unidos da América e seguidamente se propagou à zona Euro criou grande incerteza e inquietação sobre o futuro, efeitos ao qual Portugal não é alheio. Além disso, a emergência de novas potências, nomeadamente no espaço Euro-Asiático e América Latina, tiveram como efeito um reordenar das prioridades geoestratégicas norte-americanas, e que obrigam a alterações também no lado Este do Atlântico. (MDN, Conceito Estratégico Militar, 2014)

O ambiente político-estratégico internacional, desde o início do presente século, tem sido pautado pelas seguintes situações (Picoito, 2013, pp. 8 - 10):

 Crise dos mercados financeiros, com origem nos Estados Unidos da América, e que contaminou a Europa, causando grande instabilidade nos mercados financeiros e com consequências graves para o mercado de trabalho, resultando em despedimentos coletivos, greves e escaladas de violência;

 Os movimentos conhecidos com “Primavera Árabe” que colocaram um ponto final em alguns dos regimes ditatoriais do Médio Oriente e Norte de África com mais de 30 anos, com início na Tunísia, e que se alastrou à Líbia e alguns dos Estados do Magreb, e que têm tido repercussões graves na estabilidade social da região e, por consequência, têm-se arrastado para a Europa, nomeadamente com o fluxo migratório;

 O desenvolvimento exponencial de economias emergentes tais como Índia, Rússia e China, e que provocará dentro de alguns anos, se já não se faz sentir, o reordenar da balança económico-politica mundial;

 As afirmações de força que têm sido feitas pelo Irão e Coreia do Norte, na corrida à capacidade nuclear, e que os tornam ameaças à segurança e ordem mundial;

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têm procurado criar ligações diplomáticas e militares fortes e sólidas como os aliados nesta parte do mundo, o que tem levado a que, em conjunto com alguns dos pontos salientados anteriormente, provoque uma alteração do foco das suas preocupações para a Região do Pacífico Oeste, e que assim “desinvistam” da região do Norte de África e Médio Oriente. Por esta razão, é necessário e importante que os países parceiros e aliados europeus assumam a responsabilidade de impor a ordem e paz nesta região (Resolução do Conselho de Ministros nº19/2013, de 5 de abril).

Assim, e devido a esta reconfiguração do Sistema Internacional, tornou-se imperativa a revisão e atualização dos principais documentos estruturante da política-estratégica nacional. No espaço multinacional, no qual Portugal se insere, têm também vindo a ser adotados novos conceitos estratégicos, como exemplo o conceito estratégico da NATO, em 2010. Assim, seguindo a mesma linha, em 2013 foi aprovado o Conceito Estratégico de Defesa Nacional (CEDN). (MDN, Conceito Estratégico Militar, 2014)

O CEDN define uma estratégia de segurança e defesa nacional, que deverá servir como referência para os portugueses, e que engloba todas as instâncias do Estado, e não somente os três ramos das Forças Armadas. “O conceito estratégico de defesa nacional

define os aspetos fundamentais da estratégia global a adotar pelo Estado para a consecução dos objetivos da política de segurança e defesa nacional.” (Resolução do Conselho de Ministros nº19/2013, de 5 de abril).

A aprovação em 2013 do novo CEDN, e, por conseguinte, das orientações nele vertidas, levaram à necessidade de atualização do Conceito Estratégico Militar (CEM), o qual se baseou também no programa “Defesa 2020”. (MDN, Conceito Estratégico Militar, 2014)

A “Defesa 2020”, enquanto reforma para um novo modelo da Defesa Nacional, e com objetivo de erguer umas Forças Armadas mais modernas, operacionais e sustentáveis, enquadrou a sua ação em dois pilares distintos e complementares (Resolução do Conselho de Ministro nº26/2013, de 19 de abril):

 Um novo ciclo de planeamento estratégico;

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responsabilidade de âmbito militar, nas quais se incluem as responsabilidades de natureza coletiva e cooperativa. (MDN, Conceito Estratégico Militar, 2014)

O CEM estabelece as orientações de definição das Missões das Forças Armadas (MIFA), do Sistema de Forças (SF), constituindo ainda a base para o planeamento da estratégia operacional. (MDN, Conceito Estratégico Militar, 2014)

Tal como descrito acima, e conforme o CEDN, o ambiente internacional, marcado por um intenso fenómeno de globalização e por um quadro de novas ameaças, tem permitido materializar um conjunto de oportunidades. O aprofundar da Politica Comum de Segurança e Defesa (PCSD) europeia, nomeadamente na geração de capacidades militares próprias, e que procura assim responder à necessidade de cooperação dos vários países europeus, é uma dessas oportunidades (MDN, Conceito Estratégico Militar, 2014).

Contudo, a globalização tem criado novos desafios à estabilidade regional e manutenção da ordem internacional. Podem ser apontados alguns tais como (MDN, Conceito Estratégico Militar, 2014):

 Rápido crescimento económico e militar de países da Ásia e Pacífico, e que já se reflete na orientação estratégica norte-americana;

 Tensões e conflitos fora das fronteiras europeias, mas que podem causar problemas sociais ou de circulação de bens;

Simultaneamente, existem preocupações de natureza interna que não devem ser descuradas, sob pena de se abrir um vazio estratégico, nomeadamente a descontinuidade territorial, que implica a capacidade para garantir a livre circulação no espaço interterritorial. (MDN, Conceito Estratégico Militar, 2014)

O CEM identifica ainda um conjunto de ameaças e riscos ao ambiente estratégico militar, dos quais se tornam particularmente relevantes os seguintes (MDN, Conceito Estratégico Militar, 2014):

 A propagação de formas de combate assimétrico, espectáveis sobretudo em teatros além-fronteiras, e que se caracterizam por uma grande diversidade e grande capacidade de adaptação. Impõem-se para o facto a capacidade de conhecimento situacional e grande coordenação inter-forças;

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 A proliferação de armas de destruição maciças (ADM);

 A fragilização de estados em regiões como o Médio Oriente ou o Norte de África, e que podem levar à necessidade de projetar forças por um período de tempo alargado.

As MIFA 2014 decorrem do Conceito de Ação Militar e das Orientações Especificas, definidas no CEM. A partir disto, as MIFA permitem identificar as missões cometidas às forças armadas. Destas missões, realçam-se as seguintes, que envolvem ou podem envolver a capacidade de projeção de forças, assente em capacidade e meios que só a Marinha pode dispor (MDN, Missões das Forças Armadas, 2014):

 Garantia de circulação no espaço interterritorial, garantido a soberania do Espaço Estratégico de Interesse Nacional Permanente (EEINP1), por forma a dissuadir ameaças e assim garantir a liberdade de utilização das linhas de comunicação marítimas e aéreas.

 Evacuação de cidadãos nacionais em áreas de crise;

 Evacuação/proteção de contingentes e Forças NacionaisDestacadas (FND);

 Operações e missões em colaboração com a ONU, NATO ou EU.

1.2 Orientações da Politica de defesa nacional tendo em conta o emprego do poder naval

O valor estratégico que o mar tem deve ser uma referência para definir as capacidades militares de Portugal, com especial atenção para as capacidades navais. No domínio politico, o mar representa uma extensão dos países costeiros, situação à qual Portugal não é alheio. Na área militar, serve como meio privilegiado para a projeção de forças. A nível económico, constitui-se como uma grande fonte de recursos, vivos e não vivos, e permite a circulação de bens (cerca de 90% dos bens circulam por via marítima). Além disso, cerca de 75% desses bens passa em alguns pontos reduzidos, os “choke points”. Como tal, o mar é, também, um meio privilegiado para ações de cariz negativo, tais como ações de pirataria e atos terroristas. (Conceito Estratégico Naval, 2015)

1EEINP O Espaço Estratégico de Interesse Nacional Permanente é o espaço que corresponde ao território

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Figura 1 - Choke Points mundiais (Feldman-Piltch, 2010)

No que a Portugal diz respeito, os espaços marítimos sob soberania portuguesa correspondem a uma área quase 19 vezes maior que o território nacional, sendo qua a área de busca e salvamento equivale aproximadamente a 62 vezes a área desse território. (Conceito Estratégico Naval, 2015)

Posto isto, é possível afirmar que Portugal é uma nação de mar, e como tal dependem dele grande parte dos seus interesses e desígnios nacionais. Assim, e nunca pondo de parte esta condição, qualquer estratégia nacional, quer seja transversal a todos os setores governativos do Estado, quer seja estritamente na defesa, tem que colocar o mar, e o que a ele obriga, como um ponto central. (Picoito, 2013, p. 8)

Com base no CEN, baseado nos objetivos estratégicos militares decorrentes do CEDN, identificam-se os objetivos estratégicos para a Marinha, (Conceito Estratégico Naval, 2015):

 Assegurar a componente naval da defesa militar do território nacional, garantindo a dissuasão credível necessária à manutenção da integridade do território, a segurança da circulação interterritorial de pessoas e bens, a afirmação no mar da soberania nacional e da defesa dos interesses nacionais;

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 Atuar no Espaço Estratégico de Interesse Nacional Conjuntural (EEINC)2, salvaguardando a vida e os interesses dos cidadãos nacionais e contribuindo para a segurança das linhas de comunicações marítimas estratégicas;

 Contribuir com forças e meios no quadro dos compromissos internacionais, dos quais depende a defesa e segurança coletivas, materializando os compromissos assumidos;

 Participar em operações no âmbito da segurança cooperativa e humanitária, assegurando a prontidão para atuar em todo o espectro de ações militares, afirmando a relevância estratégica do país enquanto ator no sistema internacional; Por forma a cumprir com os objetivos estratégicos definidos no CEN, são traçadas um conjunto de medidas, com o fim de concretizar os objetivos traçados, e que asseguram a edificação das capacidades adequadas. (Picoito, 2013, p. 20)

As capacidades edificadas, e que compõem o Sistema de Forças Nacional (SFN), devem assegurar em coerências com os objetivos traçados no CEDN, recursos para concretizar com eficácia as missões que a Marinha se propõe. (Picoito, 2013, p. 20)

Contudo, e decorrente da situação económica em que o País se encontra, existem diferenças entre as capacidades de que se deveria dispor, e aquelas que de facto existem. Assim, os riscos assumidos serão tanto maiores quanto maior for a discrepância entre o que deveria existir e o que de facto existe. (Picoito, 2013, p. 21)

Nas prioridades a serem encaradas nos programas de aquisição e modernização da Marinha, algumas das capacidades que apresentam lacunas são as seguintes (Picoito, 2013, p. 22):

 Oceânica de superfície;  Fiscalização e vigilância;  Projeção de forças;  Combate à poluição;  Assinalamento marítimo;  Guerra de minas;

2 EEINC Decorre da avaliação da conjuntura internacional e da definição da capacidade nacional, tendo

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10  Cibersegurança;

 Conhecimento situacional marítimo.

A capacidade de projeção de força da Marinha, assente no Corpo de Fuzileiros, representa uma componente essencial de quaisquer forças armadas, enquanto instrumento fundamental para cumprir alguns dos objetivos estratégicos definidos no CEDN. (Picoito, 2013, p. 22)

A capacidade de projeção de força de que atualmente a Marinha dispõe encontra-se limitada pela inexistência de um navio polivalente logístico, com capacidade para transporte de meios anfíbios e meios aéreos, cujas valências se adequam ao ambiente e necessidade de projeção que tem constado no planeamento de forças desde há mais de dez anos. A aquisição deve ser considerada prioritária, por forma a se assegurar a capacidade autónoma de transporte de forças, de escalão batalhão, para que se possa promover o apoio logístico de FND, bem como a participação em exercícios ou missões reais onde seja necessário projetar poder em território de acesso restringido. (Picoito, 2013, pp. Ap 4-6)

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2. Anti-access/ Area Denial

2.1 Introdução ao conceito de Anti-access/Area Denial

Os termos Anti-Access e Area Denial constituem algo recente, referentes a estratégias com objetivo de negar ou limitar a capacidade de um adversário conseguir operar numa determinada região. (Tangredi, 2013, p. 1) Estes dois conceitos surgiram no topo da documentação estruturante dos EUA, nomeadamente no documento “Sustaining US Global Leadership – Priorities for the 21st Century Defense” (de 2012), onde a

terceira missão prioritária das forças armadas norte-americanas é, exatamente, projetar poder apesar dos desafios de Anti-Access/ Area Denial. (Monteiro, A2/AD, 2014, p. 4)

Muito embora os termos de Anti-Access e Area Denial sejam recentes, eles dizem respeito a um conceito que remonta a centenas ou milhares de anos atrás, possivelmente da época das invasões persas lideradas por Xerxes e das cidades-estado gregas, e que corresponde a estratégias que têm sido usadas ao longo da história. Desde sempre que num conflito, o ator que se pretende defender de um adversário tem como objetivo negar a esse adversário o emprego das suas capacidades, fazendo disso uma parte fundamental da sua campanha. Contudo, os termos de Anti-Access e Area Denial têm sido habitualmente usados para descrever uma estratégia em que o ator que defende é claramente inferior, em força ou capacidade, ao seu adversário. Assim, se o defensor permitir ao adversário que ele utilize livremente toda a sua capacidade, é muito provável que seja derrotado. O objetivo de uma estratégia de Anti-Access ou Area Denial é não permitir que o atacante traga para a região do conflito a sua superior capacidade, ou caso o faça, limitar a sua livre utilização. (Tangredi, 2013, pp. 1 - 2)

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a contra-atacar. Este é exemplo claro de uma estratégia de Anti-Access. (Tangredi, 2013, p. 2)

Os termos Anti-Access e Area Denial (A2/AD) adquiriram praticamente definições oficiais, embora ainda não constem na documentação referente a termos militares, nomeadamente o Joint Publication 1-02, dicionário de termos militares do Departamento de Defesa norte-americano. No entanto, as suas definições aparecem no documento Joint Operational Access Concept (JOAC), que constitui o documento que introduz o conceito de operational access, e como as forças militares terão que operar em resposta a desafios emergentes de Anti-Access e de Area Denial. (Tangredi, 2013, pp. 32 - 33)

Assim, e segundo o JOAC, define-se Anti-Access (A2) como as ações e capacidades, normalmente de longo alcance, que visam evitar ou atrasar a deslocação e entrada de uma força opositora num teatro de operações. Define ainda o Area Denial (AD) como as ações e capacidades, normalmente de curto alcance, que tentam limitar a liberdade de ação de uma força opositora que já se encontra no teatro de operações. (Defense, 2012, p. i)

O documento JOAC propõe um conceito de como as forças militares irão garantir o operational access, face a diversos adversários e sob diversas condições. Assim, define operational access como a capacidade para projetar poder militar num teatro de operações com liberdade suficiente para conduzir a missão subsequente. O operational access é o contributo das forças militares para o assured access, o livre acesso aos espaços comuns3 (global commons) e aos espaços soberanos – terrestre, marítimo, aéreo, espaço e ciberespaço. (Defense, 2012, p. 1) Assim, pelo seu acesso praticamente global, as forças militares não só devem ser capazes de os defender como de os explorar e usar. Segundo Barry Posen, o poder dos EUA, enquanto potência global, assentava na capacidade de controlar o acesso e a utilização dos grandes espaços comuns. (Monteiro, A2/AD - RAÍZES MARÍTIMAS, 2014, p. 5) Em particular, Posen defendeu a importância de controlar o mar enquanto espaço comum. “Command of the commons is analogous to

command of the sea…” (Posen, 2003, p. 8)

3 Espaços comuns (Global Commons) não pertencem a nenhum estado e ninguém pode reclamar soberania

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Como se refere acima, o JOAC propõe o conceito de operational access para responder às ameaças emergentes de A2/AD. Contudo, em 2009, antes de surgir o JOAC, o DOD reconheceu a necessidade de criar e explorar conceitos e capacidades para preservar a capacidade de projeção de poder e liberdade de movimentação das forças norte-americanas. Como tal, em julho de 2009, o Secretário de defesa norte-americano propôs o desenvolvimento do conceito de AirSea Battle (ASB), sendo este conceito capaz de fazer face a operações militares de grande desenvolvimento tecnológico. O conceito de ASB foi especificamente pensado, numa fase inicial, para responder à ameaça A2/AD colocada pela China. (Jan Van Tol, Mark Gunzinger, Andrew Krepinevich, & Jim Thomas, 2010, p. xi)

O ASB contribui particularmente para o operational access, tendo este conceito sido desenvolvido por forma a integrar um conjunto de forças e capacidades capazes de conquistar e manter a liberdade de movimentação nos espaços comuns. (Morris, et al., 2015) O conceito de ASB serve o seguinte objetivo principal – projetar poder militar, sob qualquer forma possível em qualquer teatro de operações, mantendo esse poder de forma sustentada durante o tempo necessário. Para isto, o conceito está desenvolvido segundo o acrónimo NIA-D3 – Networked, Integrated, Attack in Depth to Disrupt, Destroy and Defeat. Este conceito refere-se ao conjunto de meios interligados em rede, por forma a permitir um ataque em profundidade que permita ultrapassar as capacidades de Anti-Access inimigas, e permita às seguintes operações destruir as capacidades Area Denial e assim derrotar o inimigo. (Jan Van Tol, Mark Gunzinger, Andrew Krepinevich, & Jim Thomas, 2010)

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Figura 2 - NIA-D3 (Lyon, s.d.)

O conceito de AirSea Battle foi renomeado como JAM-GC – “Joint Concept for Access and Maneuver in the Global Commons”. Este nome reflete algumas ideias chave, tais como o facto de serem necessárias capacidades em todos os domínios – Ar, Mar, Terra, Espaço e Ciberespaço - ainda “access and maneuver” reflete a importância de acesso operacional e liberdade de ação. O JAM-GC irá requerer as capacidades de uma força militar moderna, com capacidade para ultrapassar os desafios de Anti-Access e de Area Denial em todos os espaços comuns. (Morris, et al., 2015)

2.2 A importância do poder naval e os desafios de A2/AD do futuro

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qualquer nação com objetivos a nível global, como era o caso dos EUA. Mahan também defendeu que o uso do mar e o acesso a terra a partir do mar tinham sido fatores decisivos nos conflitos do passado. (Tangredi, 2013, p. 34)

A ideia de que as marinhas podem ter um impacto nas decisões em terra consolidou-se, posteriormente, principalmente a partir do momento em que se iniciou o desenvolvimento da doutrina anfíbia, nomeadamente no período entre a 1ª Guerra Mundial e a 2ª Guerra Mundial. (Tangredi, 2013, p. 35)

Contudo, e apesar de Mahan ser um autor de referência no quadro do estudo do poder no mar, existiram e existem outras linhas de pensamento, cabendo aqui referir Sir Julian Corbett, um estrategista naval inglês e um dos mais reconhecidos da história, a par de Alfred Mahan (Monteiro, Poder naval no séc. XXI: a morte de Mahan e a vingança de Corbett, 2009).

Durante praticamente todo o Século XIX a hegemonia naval pertenceu à Grã-Bretanha e à sua Marinha Imperial. Contudo, e apesar desta premissa, para Corbett, o poder naval era importante, mas não decisivo para vencer uma guerra. O facto de Corbett ter publicado as suas ideias alguns anos depois de Mahan, permitiu-lhe refletir sobre o que este escreveu. Além, disto, Corbett aliou às suas ideias os conceitos chave de Von Clausewitz, adaptados ao domínio marítimo. Para ele, a importância da marinha tinha mais a ver com as ações subsequentes que teriam lugar em terra. (O'Lavin, 2009)

“since men live upon the land and not upon the sea, great issues between nations at war have always been decided …by what your army can do against your enemy’s territory”.

(Corbett, 1911)

Assim, para Corbett, a posição normal relativamente ao comando do espaço marítimo é que nenhum dos lados detém o seu efetivo controlo, sendo este espaço relativamente livre em tempo de paz. Para ele, o comando do mar é, pois, uma posição imposta por um dos lados, em relação ao outro, em tempo de guerra, e estando este efeito (comando do mar) restrito a uma região específica. (Rubel, 2012, p. 23)

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sea-space for its own purpose.” Associadamente surgiu o termo de Sea Denial, algo que

as marinhas menos poderosas procuram, negando o uso efetivo do mar pela marinha mais poderosa, tentando explorar eventuais falhas ou fraquezas. Posteriormente, a expressão Sea Denial acabou por dar origem à expressão Area Denial. (Tangredi, 2013, p. 36)

Durante grande parte da Guerra Fria, com os EUA e aliados a deterem grandemente o controlo do mar, em especial do Oceano Atlântico, a marinha soviética desenvolveu-se com base na capacidade de Sea Denial, gerando capacidade para enfrentar navios e aeronaves inimigas, sem se preocupar em conquistar regiões longe das suas fronteiras. Assim, o seu crescimento passou pelo desenvolvimento da sua capacidade subsuperfície, através de submarinos nucleares e convencionais, bombardeiros de longo-alcance, mísseis de cruzeiro, minas com sistemas sofisticados e ainda mísseis balísticos nucleares. O esforço da capacidade de Sea Denial soviética tinha o objetivo de desgastar as forças navais centradas nos porta-aviões norte-americanos, e ainda infligir danos nas linhas de reabastecimento da NATO no caso de um conflito na fronteira soviéticacom a Alemanha. (Tangredi, 2013, pp. 36 - 37)

O fim da Guerra Fria marcou um momento importante para as visões estratégicas de emprego do poder militar, em particular para os EUA e para a NATO. Com o colapso da União Soviética, desapareceu a presença de uma potência naval ameaçadora, o que permitiu criar um sentimento de acesso garantido, o que constituiu, possivelmente, uma das principais razões pelas quais a capacidade de conduzir uma guerra de Anti-Access seja, neste momento, uma das principais preocupações a nível militar. (Krepinevich, Watts, & Work, 2003, p. 31) O pressuposto de um “santuário oceânico” e de segurança nas bases avançadas conduziu a que fossem tomadas decisões de topo erradas, tais como cortes orçamentais para a defesa, com objetivos de gestão de custos e eficiência a qualquer preço, sacrificando competências e valências chave, e que conduziu a lacunas e vulnerabilidades nos sistemas e procedimentos operacionais. (Tangredi, 2013, p. 65)

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“US ground, air and naval forces have long been accustomed to operating from sanctuary. Their main operating bases, ports and facilities have been largely

invulnerable to serious conventional attack since World War II. Navy surface and

carrier aviation forces are accustomed to operating from sanctuary at sea,

enabled by the near-absence of hostile long-range detection and targeting

capabilities and capable enemy navies. And US communications, ISR, and

precision-guided munitions (PGM) are heavily dependent on high-bandwidth

connectivity for command and control, target detection, precision strike, and

post-strike battle damage assessment operations. This connectivity is highly reliant on

long-haul space-based assets that have hither to also been accorded sanctuary

status, save for the occasional modest localized jamming. The same can be said

with respect to cyberspace which, despite numerous and consistent probes by

China and other states, and by nonstate entities and individuals, has never been

seriously compromised. The growing Chinese A2/AD capabilities, to include its

cyber weapons, threaten to violate these long-standing sanctuaries. As this

occurs, the consequence for US forces would include:

Loss of forward sanctuaries in physical domains and virtual domains (including space, cyberspace, and the electromagnetic spectrum);

Denial of access to areas of operations; and consequently

Loss of strategic and operational initiative.”

(Jan Van Tol, Mark Gunzinger, Andrew Krepinevich, & Jim Thomas, 2010, p. 14)

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relevância entre as chefias militares e Think-Tanks associados às temáticas da defesa nacional. (Tangredi, 2013, p. 40)

Uma das principais ameaças à capacidade expedicionária norte-americana, em particular, tomou lugar durante a Guerra do Golfo, quando o General Norman Schwarzkopf cancelou um desembarque anfíbio no Kuwait devido à ameaça de minas iraquianas. (Tangredi, 2013, p. 40)

A discussão liderada pelo Departamento da Marinha norte-americana (DoN) relativo a ameaças futuras de Anti-Access à sua capacidade de projetar forças em regiões sem apoio de bases avançadas foi, inicialmente, algo extremamente contestado tanto pela força aérea norte-americana como pelo exército. Isto porque os principais meios de conduzir estas estratégias de Anti-Access em questão – mísseis balísticos e de cruzeiro – eram algo que nenhum potencial adversário detinha, razão pela qual a questão de negação de acesso a regiões como o Sudoeste e Nordeste asiático e à Europa não se colocava. (Tangredi, 2013, pp. 41 - 42)

As forças armadas norte-americanas, enquanto forças expedicionárias tornaram-se dependentes da sua capacidade de projetar, em tornaram-segurança, as suas forças no teatro de operações, e de dominar os espaços comuns – aéreo, marítimo e espacial – não tendo sido ameaçados em nenhum destes pontos em qualquer dos conflitos onde empregaram forças militares desde a guerra no Vietname. (McCarthy, 2010, pp. 2 - 3) Com base em análises feitas pós-guerra do Golfo por analistas militares chineses, observou-se que um dos elementos que permitiu o sucesso da campanha foi a facilidade com que os EUA conseguiram colocar as suas forças nos teatros de operações, praticamente sem nenhuma oposição. Acrescentaram ainda que o poder aéreo norte-americano foi essencial em todas as operações nas quais participaram e que, no caso de se pretender enfrentar os EUA numa campanha militar, os esforços A2/AD deverão estar focados em negar a capacidade de lançar poder aéreo tanto a partir de terra como do mar, incluindo não só aeronaves como mísseis de cruzeiro. (Cheng, 2013)

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as forças iraquianas, serve como base para possíveis futuros adversários adotarem estratégias de Anti-Access. (Tangredi, 2013, p. 51)

“There is ample reason to anticipate that future adversaries, having seen Iraq routed twice by US-led coalition forces after they were allowed to deploy

unmolested into Southwest Asia, will seek asymmetric ways of opposing the movement of US military forces into their region.” (Krepinevich, Watts, & Work, 2003, p. i)

Em março de 2015 a marinha norte-americana publicou “A Cooperative Strategy for 21stCentury Seapower”, o documento estruturante que apresenta a estratégia marítima

segundo a qual a marinha norte-americana vai organizar e empenhar a sua capacidade em apoio à estratégia nacional, defesa e segurança interna. Este documento vem no seguimento do anterior documento estruturante4, publicado em 2007. Contudo, e conforme descrito no atual documento em vigor, um conjunto de alterações na segurança mundial e de natureza económica, além de orientações estratégicas publicadas em 2012 e 2014, obrigaram a um refinamento da estratégia marítima por forma a garantir os superiores interesses da nação. Em particular, o constante aparecimento e desenvolvimento de capacidades que visam negar ou limitar o acesso a determinadas regiões do mundo, tem ganho cada vez mais importância entre a documentação estruturante. É, portanto, óbvio que seja também uma preocupação da marinha norte-americana, enquanto força avançada para garantir os superiores interesses do país. (Navy, A Cooperative Strategy for the 21st Century, 2015, p. 1)

“Today’s global security environment is characterized by the rising importance of the Indo-Asia-Pacific region, the ongoing development and fielding of

Anti-Access/area denial (A2/AD) capabilities that challenge our global maritime

access, continued threats from expanding and evolving terrorist and criminal

networks, the increasing frequency and intensity of maritime territorial disputes, and threats to maritime commerce, particularly the flow of energy.” (Navy, A Cooperative Strategy for the 21st Century, 2015, p. 1)

Contudo, em contraste com o anterior documento, de 2007, no qual não constava nenhum país em específico como ameaça, este documento aponta quatro países – China,

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Irão, Rússia e Coreia do Norte. O documento indicado apresentou as funções do poder marítimo como sendo (Monteiro, FUNÇÕES DO PODER MARÍTIMO, 2016, p. 4):

 Acesso a todos os domínios

 Dissuasão

 Controlo do mar

 Projeção de força

 Segurança Marítima

Uma destas funções, acesso a todos os domínios ou, em inglês, All-Domain Access, constitui uma das novas funções de poder marítimo, e que não constava na anterior estratégia, de 2007. O facto de a marinha colocar esta função como uma das suas principais funções, possivelmente como a principal, estando as restantes subordinadas a esta, (JR., Winning The War Of Electrons: Inside The New Maritime Strategy, 2015) revela a importância concedida pelos EUA à capacidade de projetar poder em situações de possíveis estratégias de negação de acesso. (Monteiro, FUNÇÕES DO PODER MARÍTIMO, 2016, p. 4) Citando o Almirante Jonathan Greenert5: “It’s all well and good to want to project power, be deterrent, and all of those things, but if you can’t get to where

you need to get – which could be on the surface, under the sea, in space, you get my point:

all the domains including cyber – you’ll be ineffective.” (JR., Winning The War Of Electrons: Inside The New Maritime Strategy, 2015)

Definiu-se All-Domain Access como a “capacidade de projetar o poder militar em áreas contestadas com suficiente liberdade de ação para operar eficazmente”. (Navy, Uma Estratégia Maritima para o Poder Marítimo duranto o Século XXI, 2015, p. 18). Esta capacidade de projetar poder é, atualmente, ameaçada tanto por atores estatais como por não-estatais, estando estes adversários a aumentar gradualmente o emprego de estratégias A2/AD. (Pomerleau, 2015)

Com base no mesmo documento, só através das capacidades em todos os domínios (cross-domain capabilities) conseguidas pela parceria marinha-fuzileiros, combinando as capacidades de controlo marítimo e projeção de poder, é possível combater as ameaças de negação de acesso. Para isso, os seguintes elementos são essenciais (Pomerleau, 2015),

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(Navy, Uma Estratégia Maritima para o Poder Marítimo duranto o Século XXI, 2015, pp. 19 - 20) e (Monteiro, FUNÇÕES DO PODER MARÍTIMO, 2016, p. 5):

 Conhecimento situacional (battlespace awareness) do campo de batalha, que implica vigilância permanente do campo de batalha;

 Comando e controlo afirmados (assured comand and control);

 Operações no ciberespaço (cyberspace operations) abrangendo medidas ofensivas e defensivas;

 Guerra de Manobra Eletromagnética (Electromagnetic Maneuver Warfare) que inclui operações no ciberespaço e no espectro eletromagnético, tornando a guerra espacial, cibernética e eletrónica uma componente essencial da estratégia de counter Anti-Access;

 Fogos integrados (integrated fires) com os quais se pretende coordenar e sincronizar um conjunto de capacidades que visam obter efeitos letais e não-letais sobre o adversário.

É através da sincronização destas capacidades, ou como o documento refere, cross-domain synergy, que é possível atribuir aos comandantes operacionais as necessárias capacidades e opções em todos os domínios por forma a derrotar as estratégias de A2/AD. A chave para garantir o acesso em todos os domínios é construir a estrutura para estas capacidades em tempo de paz, reforçando a interoperabilidade com parceiros e aliados. (Pomerleau, 2015) e (Navy, Uma Estratégia Maritima para o Poder Marítimo duranto o Século XXI, 2015, p. 20)

De seguida ir-se-á abordar, em particular, três dos quatro países apontados no documento “A Cooperative Strategy for 21st Century Seapower” - China, possivelmente o país com melhores capacidades de A2/AD, e ainda o Irão e a Rússia, como ameaças reais para a NATO e para a segurança na Europa.

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provocado por uma ação militar, a forçar a anexação de Taiwan, é o cenário de anti-access mais provável de ocorrer nos próximos anos. O facto de a China considerar como seus os recursos no Mar do Sul da China, além das reivindicações e contra reivindicações de posse das ilhas na mesma região tem servido como catalisador de tensão entre os países do Sudoeste Asiático. Uma iniciativa deliberada por parte do governo chinês em se apoderar da ilha de Taiwan, ou um ataque a um navio norte-americano, poderiam ser causas suficientes para um conflito militar entre as duas nações. Raphl Peters acrescenta ainda “Do not worry about a successful China. Worry about a failing China” (Peters, 2001), fazendo uma analogia clara com o conflito das Falklands/Malvinas. (Tangredi, 2013, p. 166)

Contudo, e apesar disto, Tangredi acrescent que, pela interligação económica forte entre as duas nações, estes não deverão ser motivos suficientemente fortes para um conflito entre os dois países. (Tangredi, 2013, p. 166) De acordo com diversos observadores, a probabilidade de um conflito entre duas nações – EUA e China – é até bastante baixa, pelas relações entre os dois países e pelo impacto catastrófico que teria nos dois lados. (O'Rourke, 2015, p. 4)

No caso de a China lançar uma ofensiva na Ilha de Taiwan, sendo uma iniciativa com um único objetivo e supostamente com uma curta duração, o foco da estratégia de Anti-Access será manter as forças norte-americanas/aliados fora da região. Para conduzir esta estratégia, não é forçosamente necessário afundar os porta-aviões norte-americanos, basta colocá-los numa situação em que, para se posicionarem adequadamente, terão de se colocar ao alcance dos mísseis chineses. Mesmo que o poder naval norte-americano/aliados consiga perfurar a barreira de Anti-Access chinesa, terão que estar dispostos a adotar uma postura force-on-force, conduzindo desembarques anfíbios no terreno taiwanês ocupado pelas forças armadas chinesas. Este pode ser um cenário muito complicado para os líderes militares norte-americanos preparem. Além do mais, as vantagens operacionais de um tal ataque de surpresa, apanhando forças norte-americanas e possíveis aliados em baixo estado de alerta, seriam difíceis de ultrapassar, mesmo considerando o emprego da capacidade expedicionária norte-americana. (Tangredi, 2013, pp. 166 - 167)

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desenvolver especificamente estas capacidades. Com exceção de um conflito com a Rússia, o qual não é algo provável desde o fim da União Soviética, os EUA parecem o único adversário capaz de ameaçar as capacidades A2/AD chinesas. (Tangredi, 2013, p. 168) Contudo, a probabilidade de um confronto force-on-force, em terra ou no mar, é algo improvável entre estas duas nações. Assim, os líderes militares chineses têm canalizado grande parte dos recursos para criarem uma marinha de Sea Denial, com uma missão em tudo semelhante à marinha russa nos primeiros anos da Guerra Fria – manter os navios norte-americanos afastados das suas águas territoriais, não permitindo a possibilidade para uma ofensiva expedicionária. (Tangredi, 2013, p. 169)

Figura 3 - Linhas de Anti-Access chinês (Renken, 2014)

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Assim, de acordo com O’Rourke, o esforço de modernização da marinha chinesa

está orientado para permitir as seguintes missões (O'Rourke, 2015, pp. 7 - 8):

 Preparar uma marinha capaz de responder a situações como a possível ofensiva sobre Taiwan;

 Afirmar as reivindicações territoriais chinesas no Mar do Sul da China e no Mar da China Oriental;

 Garantir a afirmação chinesa de direito numa zona económica exclusiva até 200 milhas náuticas;

 Defender as linhas de comunicação marítimas entre a China e o Golfo Pérsico (SLOC);

 Reduzir a influência norte-americana na região do Pacífico Ocidental;

 Afirmar a China enquanto potência regional líder e como uma das grandes potências mundiais.

No caso de um conflito em Taiwan, as forças norte-americanas/aliadas em resposta à estratégia de Anti-Access chinesa, seguiriam, de acordo com Tangredi, a seguinte sequência pelos diferentes domínios (cross-domain) (Tangredi, 2013, pp. 171 - 174):

1. Degradar as capacidades de battlespace awareness, “cegando” o adversário por forma

a permitir a condução das operações. Inclui ataques no ciberespaço, destruição de sistemas espaciais como satélites, e ainda utilização de guerra eletrónica;

2. Utilização de operações de deceção;

3. Estabelecimento de um escudo antimíssil sobre Taiwan, através de plataformas no mar (sea-based);

4. Controlo do espaço marítimo e aéreo na região de Taiwan, através da utilização de submarinos, aviação tática e de longo-alcance e aeronaves lançadas a partir de porta-aviões;

5. Reforçar as defesas taiwanesas;

6. Condução de operações de sea-denial na região litoral chinesa, incluindo guerra de minas, guerra subsuperfície, superfície e aérea, negando ou limitando a navegação de navios de guerra e anfíbios chineses;

7. Suprimir a capacidade aérea chinesa;

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9. Conduzir operações de air-denial sobre o espaço aéreo no litoral chinês, negando a capacidade aérea, ou pelo menos negar a sua aproximação a Taiwan;

10.Ataques diretamente em portos chineses; 11.Garantir superioridade aérea sobre Taiwan;

12.Garantir suficiente apoio logístico, através de capacidade logística no mar (sea-based) por forma a conseguir projetar poder em Taiwan a qualquer momento e de acordo com o necessário.

Grande parte destas operações seria conduzida, tentativamente, em simultâneo, por forma a garantir a sinergia em todos os domínios (cross-domain synergy) necessária para derrotar a estratégia de Anti-Access. (Tangredi, 2013, p. 175)

Embora as capacidades militares chinesas tenham aumentado e melhorado de forma exponencial desde a crise dos Mísseis no Estreito de Taiwan, em 1996, em particular na marinha, diversos analistas militares consideram ainda que uma série de lacunas continuam por corrigir, nomeadamente a capacidade de guerra antissubmarina, operações conjuntas entre forças de diferentes ramos e o direcionamento de mísseis de longo alcance. (O'Rourke, 2015, p. 7) Em termos económicos, apesar de a China liderar o crescimento do produto interno bruto (PIB) a nível mundial, os EUA continuam estrategicamente superiores, o que não deverá alterar-se até 2050. As capacidades chinesas, ao contrário dos EUA, não lhes permitem projetar e sustentar forças militares para lá da região periférica chinesa. Além disto, ao contrário dos EUA, que mantêm relações económicas muito fortes a nível global, a China também aí se coloca com uma força regional, embora a crescer fortemente. Assim, uma possível ação militar em Taiwan teria certamente impactos na sua economia. (Tangredi, 2013, pp. 177 - 179)

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Um conflito entre EUA/aliados e República Islâmica do Irão, em que esta última baseasse a sua estratégia em modalidades de ação de Anti-access e Area Denial, embora pudesse ter algumas semelhanças com um possível conflito no Mar do Sul da China, teria também muitas diferenças. Isto porque, e como principal razão, o Irão não tem as capacidades e recursos chineses para travar um conflito prolongado de Anti-Access, e seria possivelmente derrotado num curto espaço de tempo. É possivelmente por isto que tem sido tão importante para os líderes iranianos garantir a capacidade nuclear, que pode assumir o papel de arma de Anti-access chave, ameaçando de destruição um vasto espaço regional, particularmente relevante se se considerar alguma exiguidade que caracteriza o Golfo Pérsico. (Tangredi, 2013, p. 183)

Desde há mais de setenta anos que o Golfo Pérsico faz parte das prioridades estratégicas dos EUA. Também desde esta altura, a República Islâmica do Irão tem declarado a sua hostilidade para com os EUA, pelo seu apoio, em 1950, ao Xá Mohammed Reza Pahlavi, pelo apoio norte-americano aos estados árabes do Golfo e pelo facto de aceitarem a existência do Estado de Israel. (Tangredi, 2013, p. 189) A nível económico, o Golfo Pérsico representa uma peça fundamental do funcionamento do mercado mundial, tendo em conta que cerca de 55% das reservas de petróleo se localizam no Golfo. Para os EUA, o petróleo do Golfo Pérsico representa 20% das suas importações anuais. (EIA, 2015; Tilghman & Pawlyk, 2015) Além disto, o Estreito de Ormuz é provavelmente o ponto marítimo (maritime chokepoint) mais vulnerável a nível mundial, no qual cerca de 30% de todo o petróleo comercializado tem que passar. (Gunzinger & Dougherty, 2011, p. 3) Assim, e de acordo com Tangredi, um conjunto de ações por parte da República Islâmica do Irão poderia desencadear uma resposta militar EUA/aliados (Tangredi, 2013, p. 191):

 Ataque pelo Irão aos Emirados Árabes Unidos ou Arábia Saudita;

 Apoio direto do governo iraniano a possíveis revoltas xiitas na região;

 Intervenção militar iraniana no Iraque;

 Ofensiva militar em Israel;

 Negação de tráfego no Estreito de Ormuz;

 Utilização de armamento nuclear sobre um ator regional.

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região do Golfo Pérsico. Esta estratégia possivelmente combina táticas e armamento improvisados com meios tecnologicamente avançados, e tem como objetivo negar o acesso de forças militares à região do Golfo Pérsico, em particular com o bloqueio do Estreito de Ormuz. A estratégia iraniana de A2/AD, adaptada às capacidades financeiras do país, pretende explorar as características geográficas da região, além da influência política nos estados árabes na região periférica. (Gunzinger & Dougherty, 2011, pp. 21 - 22)

Figura 4 - Estreito de Ormuz (Gunzinger & Dougherty, 2011)

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cobrindo grande parte do Pacífico, o Irão pode focar-se em concentrar as suas capacidades em negar a liberdade de ação no Golfo Pérsico e no Estreito de Ormuz. (Gunzinger & Dougherty, 2011, p. 23) De acordo com Tangredi, o facto de esta ser uma região confinada aumenta consideravelmente o potencial incapacitante das capacidades iranianas, em particular submarinos convencionais, navios, mísseis balísticos e de cruzeiro, e ainda artilharia com guiamento (G-RAMM6). (Tangredi, 2013, p. 188) Apesar

da distinta diferença no volume de recursos, tanto o Irão como a China assumem uma estratégia por camadas, que começa com deteção e ataques ofensivos de alvos a longas distâncias, e aumenta gradualmente de intensidade à medida que recua no campo de

batalha. Esta abordagem está de acordo com o conceito iraniano de “defesa em mosaico”.

(Gunzinger & Dougherty, 2011, p. 23)

“In defending the homeland in depth and pursuing popular resistance against occupation, Iran would seek to impose a high cost upon an invader (namely, the

United States) as a deterrent and, if invaded, to draw out the campaign to the

extent that the invader loses the mettle to pursue its objectives to their conclusion. Iran envisions a “mosaic defense” and partisan warfare that presents the invader with multiple threats each step of the way to Tehran and renders any occupation of the country untenable.”

(Wehrey, et al., 2009, p. 53)

De acordo com Gunziger, para que os EUA/aliados consigam evitar o sucesso de uma campanha de A2/AD iraniana, recuperando a liberdade de ação, é necessário empreender três linhas de ação (Gunzinger & Dougherty, 2011, p. xi):

 Criar condições para deter ou derrotar as agressões iranianas, ao mesmo tempo que se movimentam forças para apoiar as operações iniciais contra o Irão, fora do alcance de Anti-Access iraniano;

 Operar à distância, reduzindo a eficácia da rede de capacidades A2/AD, tentando degradar a capacidade de recolha de informações e aviso antecipado (ISR), e procurando diminuir os sistemas ofensivos e defensivos – mísseis, minas;

 Estabelecer superioridade aérea e marítima onde e quando necessário, incluindo o controlo do Estreito de Ormuz para permitir o avançar das operações.

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Esta primeira abordagem à estratégia de Anti-Access visa criar uma posição de vantagem, após reduzir a densidade de medidas A2/AD, a partir da qual conduzir as operações necessária. Gunzinger escreve também que os EUA/aliados deverão estar preparados para conduzir outro tipo de operações, numa abordagem Counter Area Denial, que pode incluir operações para negar o uso de armas de destruição maciça, incluindo armas nucleares, armar grupos rebeldes antirregime, impor sanções económicas sobre Teerão (algo que já foi feito e pode ser visto como uma ação preventiva), realização de operações não-convencionais. (Gunzinger & Dougherty, 2011, p. xi)

O cenário de um conflito no Golfo Pérsico assume todas as possíveis formas de um conflito de Anti-Access/Area Denial, embora com características particulares, marcadas pelas limitadas capacidades do Irão e pela geografia da região. (Tangredi, 2013, p. 200) De acordo com Gunzinger, operações pelas forças expedicionárias, através de operações anfíbias, e outras operações não convencionais, recorrendo ao emprego de forças de operações especiais, poderão ser necessárias para neutralizar capacidades de curto-alcance. (Gunzinger & Dougherty, 2011, p. 70) A probabilidade de um tal conflito de facto vir a acontecer é, no entanto, muito baixa, já que o Irão iria ter que estar preparado para consequências pesadas. Contudo, Tangredi salienta que também no caso das Falklands/Malvinas, devido a pressões internas, o estado argentino tomou uma posição que não era esperada. (Tangredi, 2013, p. 202)

Como já foi referido, a dispersão das capacidades A2/AD por outros atores que não a China, nomeadamente o Irão e a Rússia, tem provocado uma alteração nos objetivos defensivos da Europa, colocando novas ameaças para a NATO. De forma geral, as estratégias de Anti-Access não são, neste momento, uma questão somente asiática, sendo aliás algo bastante preocupante para a segurança e paz do Ocidente. (Manea, Visan, & Gosu, 2015, p. 5)

“Russia’s ability to contest the landmass in Europe’s east may actually exceed China’s capacity to keep American forces away from thousands of miles of coastline”

(Fontaine & Smith, 2015)

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projeção de poder. Desde a Cimeira da NATO, realizada no País de Gales em 2014, uma das principais alterações na estrutura de forças da NATO foi reforçar a capacidade de projeção de poder aumentando o grau de prontidão da resposta, através de uma força de reação rápida, a “Spearhead Force”, além da NATO Response Force (NRF), aumentada, no total de cerca de 40000 militares. Além disto, a NATO tem alterado de forma gradual a sua postura na Europa de Leste, tendo estabelecido postos avançados multinacionais de comando e controlo – NATO Force Integration Units (NFIU). Ainda de salientar que os EUA destacaram para a Europa Central e de Leste um conjunto de meios, que visam acrescentar capacidade às suas forças expedicionárias na Europa, o que reforça esta visão estratégica da NATO. (Manea, Visan, & Gosu, 2015, pp. 5 - 6)

A nova visão estratégica de emprego dos meios, por parte da NATO, após a anexação da Crimeia, está pensada para a projeção de forças com elevado grau de prontidão, explorando as capacidades das forças expedicionárias. Contudo, esta abordagem assenta ainda nos pressupostos pós-Guerra Fria, onde os EUA/NATO detinham total capacidade de movimento e projeção do seu poder militar. Este não é, de todo, o atual cenário. A Rússia não só não é um adversário mais fraco, como detêm capacidades militares de A2/AD tecnologicamente bastante avançadas, que caso sejam preposicionadas na Crimeia ou em Kaliningrado, poderão neutralizar a defesa em profundidade da NATO, negando o acesso ao Mar Báltico ou Mar Negro. (Manea, Visan, & Gosu, 2015, p. 6)

De acordo com Paul Bernstein, do Think-Tank “Center for Global Security and Research”, com base em análises e cenários simulados por diversos analistas militares, a NATO teria grandes dificuldades em defender qualquer um dos Países do Báltico ou do Mar Negro, no caso de um ataque militar deliberado por parte da Rússia. De acordo com Bernstein, a Rússia teria uma significativa vantagem, de forma geral, nas capacidades militares que enviasse para esse conflito, particularmente em forças terrestres com grande mobilidade e flexibilidade, e bem equipadas. A NATO, embora com uma clara superioridade no domínio aéreo, não conseguiria aproveitar esta superioridade pelas capacidades de Anti-Access russas, nomeadamente sistemas integrados de defesa aérea (IADS). (Bernstein & Ball, 2015, p. 7)

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de Bósforo e Dardanelos. O facto de existir, efetivamente, este controlo, potencia uma alteração profunda no status quo naval no Mar Negro. Como prova disto basta relembrar que, logo após a anexação da Crimeia, o governo russo assinou um programa para a aquisição de 30 novos navios, além do desenvolvimento das bases navais na Crimeia. (Daly, 2014) e (Manea, Visan, & Gosu, 2015, pp. 6 - 7) Com a Crimeia sob controlo russo, colocam-se agora dois objetivos principais para a Rússia – renovar e transformar a frota russa do Mar Negro, capaz de apoiar operações de Anti-access e de Area Denial, e segundo, desenvolver uma frota capaz de apoiar operações no Mediterrâneo. (Manea, Visan, & Gosu, 2015, p. 7)

Após a anexação da Crimeia, a Rússia enviou para este local um conjunto de meios, que se podem considerar como parte integrante de uma estratégia de A2/AD, tais como mísseis anti navio e antiaéreos, navios de superfície, submarinos, minas e ainda mísseis balísticos de curto alcance. Os navios, submarinos e aeronaves lançadas a partir de bases na Crimeia têm a capacidade de lançar armamento Anti-Access contra navios e bases NATO no Mar Negro. Assim, a anexação da Crimeia tem a capacidade potencial para negar às forças navais da NATO o acesso ao Mar Negro. Por esta razão, a anexação da Crimeia e o reforço militar russo não devem ser vistos como simples atos nacionalistas ou como posições defensivas, uma vez que estas armas de Anti-Access têm, sem dúvida, uma perspetiva potencialmente ofensiva. (Manea, Visan, & Gosu, 2015, p. 7)

“Since their occupation of Crimea, Russia has developed a very strong A2/AD capability in the Black Sea. Essentially, their anti-ship cruise missiles range the

entire Black Sea, and their air defense missiles range about 40 to 50 percent of the Black Sea”

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Figura 1 - Choke Points mundiais (Feldman-Piltch, 2010)
Figura 2 - NIA-D3 (Lyon, s.d.)
Figura 3 - Linhas de Anti-Access chinês (Renken, 2014)
Figura 4 - Estreito de Ormuz (Gunzinger & Dougherty, 2011)
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Referências

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