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A LEITURA DE MAPAS NO ENSINO DE GEOGRAFIA

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A

LEITURA DE MAPAS NO ENSINO DE GEOGRAFIA

ANGELA M. KATUTA.

RESUMO. 0 presente texto !rata da importancia da leitura de mapas para a geografia do ensino basico (fundamental e media). Num primeiro momenta, contextualizamos a relevancia dos saberes geograticos para o entendimento da realidade. Em seguida, explicitamos os elementos necessarios para a realiza9ao da leitura do referido meio de comunica9ao e finalmente, exemplificamos, a partir da elabora9ao de algumas quest6es, como poderiamos provocar nossos estudantes a fim de que esses se tornem leitores e nao meros decodificadores de mapas. E importante salientar que nossa reflex~o

e

norteada pelo pressuposto de que a leitura de mapas nao deve ser um fim em si mesma, masse constitui num poderoso aliado para o entendimento dos diferentes espa9os geograficos e, portanto, da realidade, elemento fundamental para a constituiyao da autonomia intelectual discente.

PALAVRAS-CHAVE: Ensino de Geografia; Quest6es; Leitura; Mapas;

Entendimento da Realidade.

THE READING OF MAPS IN THE TEACHING OF GEOGRAPHY

-

ABSTRACT: The present text treats of the importance of reading of maps to teaching of geography in the basic level (fundamental and media). In the first moment, we mentioned the relevance of the geographical knowledges to the comprehension of the reality. Following, we demonstrated the necessary elements to the concretization of the

reading of the cited object, and finaly, we exemplified, since the

elaboration of some questions, with intention to provoke our students, in order that they turn into readers, and not a simple decodifier of maps. Is important to emphazise that our reflexion is guied for premise that the reading of maps must not be a finish in itself, but, is mighty allied to the comprehension of the different geographical spaces, and in this way, of the reality, fundamental element to the constitution of the student's intellectual autonomy.

KEY-WORDS: Teaching of Geography; Questions; Reading; Maps;

Comprehension of Reality

Departamento de Geociencias- Universidade Estadual de Londrina- UEL-86051-990- Londrina - Estado do Parana- Brasil.

NUANCES: estudos sobre educavao- ano VIII, 11° 08-Setembro de 2002 I 67

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INTRODU<;AO

Os saberes ligados ao espat;:o geografico, desde os prim6rdios da existencia da humanidade, sempre foram muito importantes. Num primeiro momenta, porque envolviam, no limite, a sobrevivencia da especie humana. Em outras palavras, saber a localizat;:ao de determinados fen6menos (fontes de agua potavel, lugares mais piscosos, locais onde alguns animais poderiam ser cat;:ados e alimentos pudessem ser coletados, sftios propfcios ao descanso, areas onde viviam comunidades inimigas, entre outros), muitas vezes, poderia significar, e ainda pode resultar na sobrevivencia ou nao de indivfduos e mesmo de grupos humanos inteiros.

Atualmente, compreender o espat;:o geografico, ainda e tao importante, quanta nos prim6rdios da humanidade, tendo em vista a complexidade e multiplicidade de relat;:oes que os diferentes agrupamentos estabelecem entre si e com os mais diversos territ6rios, bem como com os elementos que deles fazem parte. Poderfamos afirmar que estes ultimos sao as expressoes materiais das primeiras, no entanto, tambem nelas influenciam. Em outras palavras, devemos entender a 16gica da constituit;:ao e apropriat;:ao dos espat;:os aos quais temos acesso, para compreendermos alguns aspectos de nossa propria vida.

Entendemos que a area de saber ou disciplina de geografia no ensino basico (fundamental e media) deveria ter como objetivo primordial o entendimento das diferentes territorialidades produzidas pela humanidade. Tal saber a nosso ver, dependendo da forma como for apropriado e construfdo, pode auxiliar no entendimento da realidade de forma mais cientffica e, portanto, menos ca6tica e sincretica.

Exemplificando o que afirmamos anteriormente: o acesso a mercadorias "made in China" nos ultimos anos se tornou facilitado, entre outros motivos, pelos baixos pret;:os das mesmas (mao de obra barata), pelo desenvolvimento tecnol6gico (formas mais rapidas e menos onerosas de produt;:ao de mercadorias, melhoria dos meios de comunicat;:ao e transportes, bem como seu acesso), possibilidade de entrada desses produtos de forma facilitada nas fronteiras de nosso pals com o Paraguai (processo de globalizat;:ao, entrada em vigor de mercados comuns, constituit;:ao e aumento do mercado informal). A expressao territorial deste processo, no Brasil, pode ser verificada a partir da abertura das famosas "lojas de R$1 ,99 ou R$ 1 ,00", da constituit;:ao de

"camel6dromos", entre outros. Podemos afirmar que tais elementos influenciam em nossas vidas e nas de nossos alunos, afinal, quem nao consumiu, algum dia, produtos dos referidos locais? Quem nao possui

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conhecidos e ate mesmo parentes cuja sobrevivencia esteja ligada a esse tipo de comercio?

Ao consumirmos tais produtos estamos fazendo movimentar dinheiro, mercadorias e pessoas em ambito nacional e internacional. Relacionamo-nos indiretamente com pessoas de varies pafses e que realizaram os mais diferentes servi9os, desde projetar a mercadoria e sua forma de produ9ao, produzi-la propriamente dito, comercializa-la em escala mundial, num primeiro momenta, no atacado e depois no varejo, etc. Todos esses processes viabilizam a acumula9ao do capital e possuem express6es espaciais.

Portanto, podemos afirmar que "saber geografia", para n6s e nossos alunos, deveria significar a possibilidade da constitui9ao de entendimentos dos espa9os com os quais convivemos cotidianamente, que podem ou nao estar geometricamente pr6ximos de n6s. Para tanto, n6s, docentes de geografia, devemos nos esfor9ar para apreender e compreender as mais diferentes paisagens para assim, auxiliarmos os discentes a faze-lo. A nosso ver, tais saberes, desde que trabalhados adequadamente, seriam capazes de auxiliar na constitui9ao da autonomia intelectual dos estudantes, pressuposto para a constru9ao de uma cidadania que se queira efetiva 1.

Entender as diferentes paisagens produzidas pelos seres humanos, ou a atual organizayao territorial do mundo, e o principal papel da ciencia geografica. Auxiliar as pessoas a construfrem entendimentos da 16gica da organiza9ao espacial dos mais diversos lugares, para neles viverem com melhor qualidade de vida2, e papel da disciplina geografia no ensino fundamental e media. Para tanto, ha um conjunto de informay6es, conhecimentos cientfficos sistematizados, habitos, habilidades, atitudes e competencias que deverao ser mobilizados e constitufdos, a fim de que se possa realizar leituras dos mais diferentes espa9os, desde os mais pr6ximos aos distantes, e claro que nao necessariamente nessa ordem.

A constru9ao de conhecimentos sejam eles cientificos, religiosos ou mfticos pressup6e a utiliza9ao de varias linguagens, que sao diferentes tipos de signos que os seres humanos constitufram s6cio-historicamente, para comunicar e apreender saberes e ideias sobre alguem ou algum objeto, fato, fen6meno, etc. Existem diferentes tipos de linguagens (oral, escrita, grafica, cartografica, artfstica, entre outras) que podem ser utilizadas no ensino, dependendo de nossos objetivos. No entanto, enquanto professores, nunca devemos nos esquecer da centralidade que deve ter, na escola, a aprendizagem de conhecimentos cientfficos para o entendimento do mundo, pois a mesma pode auxiliar a que os estudantes construam uma visao menos mistificada, ca6tica e sincretica da realidade.

NUANCES: estudos sobre educac,:ao- ano VIII. n" 08- Setembro de 2002 169

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0 ENSINO DA GEOGRAFIA E OS MAPAS

Quando se trata de ensinar geografia ou saberes geograficos, utilizamos a linguagem oral para comunicar informar;6es, conceitos e entendimentos. A linguagem grafica e cartografica, em geral, e utilizada para representar a localizar;ao de areas e lugares onde ocorrem determinados fen6menos ou processos. Utilizamos tambem textos escritos para complementar, subsidiar determinados entendimentos e raciocfnios. Podemos usar, alem das linguagens explicitadas, outras menos convencionais, mas que, nem por isso, devem ser desconsideradas, pois possuem grande importancia no processo de ensino e aprendizagem. Estamos nos referindo

a

linguagem artfstica, nas suas mais diferentes formas de expressao, como a poesia, gravuras, esculturas, pinturas, romances, musicas, filmes, per;as teatrais, entre outras, que poderiam, no caso do ensino de geografia, auxiliar no trabalho com os conteudos geograficos. pois as mesmas, em geral, referem-se a um determinado tempo e espar;o, categorias de pensamento primordiais aos seres humanos3. Alem disso, o uso de diferentes linguagens, auxilia no processo de complexificar;ao de nosso entendimento da realidade, elemento importante·nos dias atuais se objetivamos nela agir.

Ao trabalharmos a fim de entender os mais diferentes espar;os geograficos, a partir do uso das diversas linguagens, e importante ter construfdo uma concepr;ao ampla de leitura e de alfabetizar;ao.

Alfabetizar deveria ser entendido como um processo continuo, nao mecanico, que possibilitasse ao sujeito a constituir;ao de habilidades, habitos, atitudes e competencias frente a determinadas linguagens para que o mesmo se construfsse leitor. Ler, por sua vez, deveria ser sin6nimo de construr;ao de significados e entendimentos a partir do contato com diferentes linguagens, para que a pessoa pudesse atuar na realidade como um efetivo cidadao, a partir, e claro da consciencia de seus deveres e direitos.

Como afirmamos anteriormente, se objetivamos contribuir com o processo de democratizar;ao social, ensinar a geografia deveria significar auxiliar nossos alunos a compreenderem os diferentes territ6rios, sejam eles, geometricamente pr6ximos ou distantes. Para tanto, os estudiosos da ciencia geografica, desde os seus prim6rdios, e a humanidade, muito antes, criaram os mapas, bem como a linguagem cartografica.

Mapas, quadros, diagramas, tabelas, entre outros, devem ser apropriados pelos estudiosos da geografia4, como instrumentos auxiliares na compreensao dos diferentes territ6rios. A partir deles, indiretamente, podemos apreender determinadas realidades e/ou fen6menos espaciais

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para tentar compreende-los e assim, elaborar raciocm1os sobre os mesmos a fim de atuar cotidianamente de forma mais consciente.

Ja no ano de 1968, Klausner defendia que o mapa e um instrumento de observac;:ao indireta, que auxilia nos estudos geograficos, pois, muitas vezes, estes nao podem ser feitos por observac;:ao direta.

Alem disso, esta representac;:ao cartografica deve se constituir num meio ou instrumento de comunicac;:ao que pode contribuir para a visualizac;:ao espacializada de tematicas ou assuntos em regioes extensas e distantes. lsso nao significa que, ao estudarmos territ6rios pouco extensos ou areas geometricamente pr6ximas a n6s, possamos prescindir de mapas e outras representac;:oes graficas e cartograficas.

Frequentemente, existem informac;:oes e saberes aos quais podemos conferir sentido, importancia e 16gica quando sao plotados num mapa ou numa colec;:ao de mapas. Por exemplo, para entendermos a 16gica da territorialidade dos conflitos de terras no Brasil, em primeiro Iugar, precisamos ter em maos, mapas da mesma area atualizados com informac;:oes que nos auxiliem nesse empreendimento. Esses poderiam representar cartograficamente os seguintes temas: Localizac;:ao dos conflitos de terras no Brasil, Distribuic;:ao de atividades agropecuarias, Produc;:ao agricola para exportac;:ao, Configurac;:ao da estrutura fundiaria por estados ou regioes, Localizac;:ao dos assentamentos rurais, Uso da Terra, Distribuic;:ao da populac;:ao.

A partir dos elementos fornecidos pelos instrumentos citados, juntamente com o desenvolvimento de conceitos relatives as tematicas mapeadas e, com o auxilio de textos sobre o referido assunto, poderemos estabelecer raciocinios que nos auxiliem a entender a questao proposta.

Tendo em vista o exposto, se ao ensinarmos geografia, tivermos como objetivo primordial auxiliar nossos alunos a construir entendimentos sobre os diferentes territories, deveremos sempre, entre outros, lanc;:ar mao do uso de mapas, pois esses, podem potencializar nossa capacidade de visualizar e apreender determinados fen6menos, proporcionando assim, a possibilidade de elaborarmos leituras da realidade.

No entanto, para podermos fazer usos adequados do referido instrumento de comunicac;:ao, devemos nos esforc;:ar para nos tornarmos leitores e nao decodificadores de mapas. A diferenc;:a entre o leitor e o decodificador e que o primeiro, ao apreender as informac;:oes plotadas, consegue relacionar seus saberes com o tema e informac;:oes cartografados, a fim de responder. a determinados questionamentos, no ato ou previamente elaborados. 0 decodificador, como o proprio termo sugere, apenas decodifica os simbolos presentes na representac;:ao e e

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incapaz de estabelecer raciocfnios e elaborar respostas a determinados questionamentos. Em termos de aprendizagem da linguagem escrita, esse seria o analfabeto funcional, aquele que decodifica os sfmbolos mas, nao le e nem compreende as mensagens.

Smith (1989, p. 198) afirma que: a leitura nunca e uma atividade abstrata, sem finalidade, embora seja freqoentemente estudada deste modo por pesquisadores e te6ricos e, infelizmente, ainda seja ensinada deste modo para muitos aprendizes. Os leitores sempre leem algo, leem com uma finalidade; a leitura e sua rememoriza9ao sempre envolve emo9oes, bem como conhecimento e experiencia.

Baseando-nos no autor, poderfamos tambem afirmar que a leitura de mapas, sempre deve ter por princfpio alguma finalidade, ou seja, deve auxiliar a responder questoes. No entanto, esse meio de comunica9ao, como todos os outros, possui especificidades. Em outras palavras, poderfamos afirmar que cada linguagem e cada meio de comunica9ao possui caracterfsticas pr6prias, cujo uso deve ser planejado de acordo com os objetivos dos leitores. Tal preocupa9ao podera, dependendo de como as etapas seguintes forem estabelecidas, auxiliar na leitura e entendimento das linguagens e meios de comunica9ao.

Smith (1989) defende que a base para uma leitura fluente e a habilida'de para encontrar respostas, no caso em questao, nos mapas, a partir das informa96es visuais neles plotadas. Parafraseando o referido autor, a partir d;3 tematica sabre a qual estamos refletindo, a linguagem cartografica faz sentido quando os seus leitores podem relaciona-la ao que ja sabem, ou seja, quando os mesmos podem, muitas vezes, elaborar novas significados para os saberes geograficos, modificando seu entendimento sobre determinados fatos que ocorrem no seu cotidiano.

Por isso afirma o autor: " ... a leitura e interessante e relevante quando pode ser relacionada ao que o leitor deseja saber" (SMITH, 1989, p. 202).

Como dissemos anteriormente, o mapa e um meio de comunica9ao que possui especificidades quanta

a

sua linguagem ou forma de representar a realidade: e uma representa9ao geometrica plana e simplificada de partes ou de toda a superffcie terrestre, bem como dos fenomenos que nela ocorrem, que podem ser representados de forma quantificada e/ou ordenada. 0 significado dos elementos nele presente ou dele proprio e dado a partir das conven9oes cartograficas, ou seja, para manipula-lo o sujeito deve estar imerso numa dada cultura que proporcione a possibilidade, mesmo que minima, de extrair significados a partir de determinados sfmbolos. Por isso, a leitura de mapas nao apenas os atuais mas tambem os antigos, pressupoe a imersao do leitor na sociedade, cultura e no momenta hist6rico em que estes foram

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construidos. lsso nao significa que para se ler mapas, seja necessano que o individuo fat;a antes um curso que o prepare para tal, o mesmo podera auxilia-lo, mas nao

e

condit;ao para que se realize a leitura propriamente dita.

Em funt;ao de suas especificidades, o mapa pode facilmente auxiliar os sujeitos a responderem as questoes explicitadas no Quadro 1, a seguir

Quadro 1 - Quest6es que o mapa pode auxiliar o leitor responder

Quest6es Exemplos

o

que? 0 que esta representado no mapa? Qual ou quais fen6menos o mapa esta representando?

Onde? On de se localiza determinado Iugar? On de ocorrem ou nao OS fen6menos a, b ou c? Onde se localiza o maior municipio brasileiro?

On de estao localizadas as principais jazidas de ouro no territ6rio brasileiro?

Quanta? Qual a produtividade industrial e a g ricola

kr t

de determinadas areas?, uan os a 1 an es ex1s em por . t 1 ome ro qua ra o num d d d e ermma o t d I 1

Iugar? Qual a media de precipitagao da area X ou y?

Quando? A partir de que decada houve o aumento de usinas hidreletricas no Brasil? Em que periodo houve a expansao da cultura cafeeira no norte do estado do Parana?

Em que Como se configuram as altitudes em determinado local? Quais sao as ordem? areas em uma cidade em que ocorrem uso residencial intense,

moderado e baixo?

Organizado por: Katuta, A. M.

As questoes relativas a 16gica da distribuit;ao territorial dos fenomenos, ou que auxiliam a explicar as suas ocorrencias em determinados lugares (Por que? Como?), podem ser respondidas pelo leitor a partir da consulta aos mapas e outros referenciais.

E

importante salientarmos que apenas com o uso do referido meio de comunicat;ao, nao conseguiremos responder as questoes ora citadas. 0 leitor deve possuir, resgatar ou construir um conjunto de saberes geograficos necessarios a elaborat;ao de respostas.

Podemos afirmar que ler mapas, significa muito mais do que decodificar simbolos traduzidos na legenda, a leitura propriamente dita deve auxiliar ou proporcionar ao leitor a atribuit;ao de significados e

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I

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constru9ao de representa96es a partir desta representa9ao espacial. Para que ocorra o processo de leitura desse meio de comunicayao e necessaria:

- 0 domfnio mfnimo dos significados dos c6digos ou sfmbolos existentes na legenda, o que nao significa que apenas o leitor que domine os saberes especfficos e especializados sobre formas de implantayao das informa96es geograficas, uso adequado dos sfmbolos cartograficos ou de semiologia grafica e cartografica consiga ler mapas.

- Que o leitor tenha construfdo as no96es, habilidades e conceitos de orienta9ao e localiza9ao geograficas e um lexica geografico mfnimo para poder orientar-se e orientar, localizar-se e localizar a si e os fen6menos que estao sendo foco central de estudo.

- 0 domfnio de conceitos geograficos relacionados a tematica mapeada.

- Acesso a informa96es, dados, imagens e outros subsfdios que auxiliem na elabora9ao de leituras mais complexas da tematica cartografada, pois como dissemos anteriormente, os mapas sao representa96es simplificadas do real.

- Relacionar as representa96es dos mapas com as pr6prias representa96es s6cio-espaciais.

- Possuir questoes relacionadas a tematica mapeada e elaborar respostas as mesmas.

Em conseqUencia, percebe-se que a mera alfabetiza9ao cartografica, ou a aprendizagem generica dos signos e sfmbolos presentes no mapa, bem como a aprendizagem de sua elaborayao, possuem importancia relativa, quando se trata de uma leitura de fato desse recurso e nao apenas de sua decodificayao. Parafraseando Foucambert (1994) que defende que se aprende a ler a linguagem escrita com textos e nao com frases, palavras ou sflabas, poderfamos afirmar que se aprende a ler a linguagem cartografica com seus pr6prios produtos em sua totalidade que sao os mapas, diagramas, tabei<?S, graficos, e nao

.com suas partes que sao os sfmbolos, legendas ou qualquer outro

componente. 0 autor afirma ainda que cis textos devem estar centrados nas experiencias e preocupa96es dos leitores, e podem ser redigidos pelos professores, que devem saber 0 que e significativo para OS alunos em determinadas faixas etarias, ou podem ser extrafdos de escritos sociais, no entanto, devem ser textos para leitores.

No caso dos mapas, podemos afirmar que nao se aprende a le- los apenas elaborando-os, ou decodificando e dissecando cada um dos seus elementos. Deve-se apreender e entender as informa96es neles presentes de forma contextualizada. Alem disso, e interessante que os

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leitores relacionem suas representac;:6es s6cio-espaciais com as do mapa, para assim, amplia-las e recontextualiza-las numa perspectiva mais cientifica de entendimento da realidade porque essa e menos ca6tica e sincretica, apesar de suas limitac;:6es.

Surge entao a questao: Como auxiliar nossos alunos a ler mapas para melhor poder entender o espac;:o geogratico?

Muitos autores defendem a ideia de que, para que um aluno torne-se leitor de mapas, seria precise que, num primeiro momenta, ele seja mapeador para, posteriormente, o mesmo ler esse meio de comunicac;:ao Discordamos dessa posic;:ao, pois apenas a sua elaborac;:ao nao garante que ocorra a leitura do mesmo. Alem disso, como dissemos anteriormente, existe um conjunto de saberes, noc;:oes e habilidades que os usuaries de mapas devem construir para se tornarem efetivamente leitores desse meio de comunicac;:ao. Para Simielli (1999, p.

99) a leitura de mapas pelos alunos do ensino fundamental· e medio implica a constituic;:ao de um trabalho em tres nfveis:

1. Localizac;:ao e analise - o aluno localiza e analisa um determinado fen6meno no mapa.

2. Correlac;:ao- ele correlaciona duas, tres ou mais ocorrencias.

3. Sintese - o aluno analisa, correlaciona aquele espac;:o e faz uma determinada sfntese de tudo.

Verifica-se, portanto, que para se realizar o trabalho de leitura de mapas nos tres niveis, sugeridos pela autora, o docente nao deve prescindir dos saberes geograficos (noc;:oes, habilidades, atitudes, conceitos, informac;:oes, imagens, dados organizados sob a forma de tabelas, diagramas e graficos, entre outros), que devem ser trabalhados ao mesmo tempo. Em outras palavras, nao se deve primeiro "ensinar" o aluno a ler mapas para, depois, ele entender o espac;:o geografico. A compreensao, o estabelecimento de entendimentos dos diferentes territ6rios e portanto, a construc;:ao dos conhecimentos geograficos no ensino fundamental e media, devem ocorrer ao mesmo tempo em que os estudantes aprendem a ler mapas. Os docentes deveriam provocar nos alunos, questionamentos acerca das express6es territoriais dos fen6menos presentes nos mapas em diferentes escalas. Assim, entendemos que os conhecimentos sabre os lugares poderiam ser construfdos de forma menos ca6tica e por conseguinte, mais 16gica. No entanto, para isso, o docente deve ter dominio dos saberes geograficos e, obviamente, ser leitor de mapas.

Auxiliar ou provocar os alunos a elaborarem quest6es sabre os diferentes territ6rios, para em seguida, conjuntamente, mestre e estudantes, constru frem respostas para as mesmas, deveria ser, ao

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nosso ver, papel do ensino de geografia. Nesse sentido, os mapas, assim como todas as outras representa<;:6es relacionadas a determinados territories, poderiam servir de material de consulta e pesquisa para a constitui<;:ao de respostas

Simielli (1999, p. 104) adaptou as ideias de um au tor frances que podem nos auxiliar a pensar em propostas razoaveis a questao anteriormente colocada sobre a leitura de mapas para o entendimento do espa<;:o geogratico. A autora afirma que o uso de mapas, cartas e plantas pressup6e aquisi<;:6es intelectuais desde aquelas mais simples as mais complexas, passando e claro, por aquelas de media complexidade. A seguir. reproduzimos o Quadro 2 elaborado pela autora:

Quadro 2 - Usa dos mapas, cartas e plantas

Aquisic;:oes simples Aquisic;:oes Medias Aquisic;:oes complexas - conhecer os pontos - medir uma distancia - estimar uma altitude entre cardeais sabre uma carta com uma duas curvas hipsometricas - saber se orientar com escala numerica - saber utilizar uma uma carta - estimar um ponto da bussola

- encontrar um ponto curva hipsometrica - correlacionar duas cartas sabre uma carta com as - analisar a disposic;:ao das simples

coordenadas ou com o formas topograticas - ler uma carta regional indice remissivo - analisar uma carta simples

1

- encontrar as tematica representando um - explicar a localizac;:ao de coordenadas de um ponto s6 fen6meno (densidade um fen6meno par - saber se conduzir com populacional, relevo, etc.) correlac;:ao entre duas uma planta simples - reconhecer e situar as cartas

- extrair de plantas e formas de relevo e de - elaborar uma carta cartas simples uma s6 utilizac;:ao do solo regional com os simbolos serie de fatos - saber diferenciar declives precisos

- saber calcular a altitude - saber reconhecer e situar - saber elaborar um croqui e a distancia tipos de clima, massas de regional simples (com - saber se conduzir com ar, formac;:oes vegetais, legenda fornecida pelo um mapa rodoviario ou distribuic;:ao populacional, professor)

com uma carta centros industriais e - saber levantar hip6teses topogratica urbanos e outros. reais sabre a origem de

Fonte: S~m~elll, M. E. R. (1999, p. 104)

uma paisagem

I - analisar uma carta tematica que apresenta varios fen6menos

- saber extrair de uma carta complexa os elementos fundamentais

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0 docente interessado no aprendizado discente de conhecimentos geograficos a partir da leitura de mapas, pode elaborar um conjunto de exercicios considerando o nivel de desenvolvimento cognitivo dos alunos e as aquisic;:oes necessarias para o uso desse meio de comunicac;:ao explicitadas no Quadro 2.

E

importante frisar que o mero uso de mapas no ensino de geografia pode auxiliar mas nao levar a uma leitura fluente desse recurso. Para o aluno ler fluentemente esse meio de comunicac;:ao

e

preciso que o mesmo realize a leitura propriamente dita, a partir de questoes elaboradas ou por ele mesmo ou pelo professor.

Daremos um exemplo simplificado de questoes que o docente pode provocar junto aos alunos para que, ao mesmo tempo, os mesmos exercitem a habilidade de leitura de mapas e de entendimento do espac;:o geografico, tendo como base um mapa politico atualizado do Brasil, podendo o mesmo estar representado numa escala aproximada de 1 25.000.000 (1 centfmetro no mapa equivale a 250 kil6metros), que

e

utilizada em varios atlas, dos mais diferentes autores.

E

importante salientar que embora o tema da representac;:ao seja "Brasil politico", nela estao representados outros elementos como hidrografia, capitais, cidades principais A partir da hidrografia, pode-se: indicar a direc;:ao em que correm os rios, distinguir uma bacia hidrogratica de outra, localizar os divisores de aguas, bem como, grosso modo, conseguimos inferir, numa bacia hidrografica, suas areas altimetricamente mais altas e baixas. Para a elaborac;:ao das questoes utilizamos o mapa presente no Atlas intitulado Geoatlas de Simielli (1994).

NUANCES: estudos sabre educa<;:ao-ano VIII, 11° 08-Setembro de 2002 177

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Quadro 3 - Exemplo de questoes que proporcionam a aprendizagem de conteudos geogrilficos e a leitura de mapas

Questoes

Leitura simples (apreensao de informa<;:6es qualitativas e quantitativas presentes no mapa e exercicio de localiza<;:ao)

Qual olema do mapa ou do que !rata o mapa?

Quais outros elementos estao representados no mapa?

Que elementos nao estao representados no mapa cuja existencia e possivel inferir?

Localize o Brasil em rela<;:ao: aos outros paises do mundo,

a

America, America do Sui e ao Oceano Atlantico (usando diferentes formas de localiza<;:ao)

Cite a area ocupada pelo Brasil em termos de latitude e longitude Localize a area do estado de Goias em graus de latitude e longitude

Em que area ha uma maior densidade de cidades principais no mapa do Brasil?

Quantas cidades principais possui cada estado brasileiro, segundo o autor do mapa?

Quantos estados fazem parte das regi6es norte, nordeste, centro-oeste, sudeste e sui?

Qual a maior bacia hidrografica do Brasil?

No mapa, existem varios limites territoriais, quais sao eles?

Qual a escala do mapa?

Leitura complexa (estabelecimento de raciocinios de analise, correla<;:ao e sintese) Na legenda do mapa o termo "cidades principais" refere-se a que? Essas sao principais em rela<;:ao a que?

Quais sao os elementos que podem explicar a existencia de uma maior densidade de cidades principais no centro-leste do Brasil?

Que elementos explicam a localiza<;:ao da maior bacia hidrografica brasileira na regiao norte?

0 numero de cidades principais varia de urn estado para outro. Que elementos explicam tal varia<;:ao? Ou: Tal varia<;:ao esta relacionada a quais elementos?

No mapa estao representados varios limites territoriais: do Brasil com os outros paises da America do Sui, o limite do mar territorial brasileiro, os limites 'entre os diferentes estados brasileiros. Qual o significado de cada urn desses limites? Por que os mesmos existem?

Que elementos o IBGE considerou para classificar o conjunto dos estados como pertencentes a cada uma das regi6es brasileiras? Quais foram os objetivos do referido lnstituto ao dividir o Brasil em 5 grandes regioes?

Se correlacionarmos 0 mapa politico do Brasil com urn outro de industrias brasileiras, ou com dados sobre os tipos, quantidades e densidade de industrias, que observa<;:6es e/ou entendimentos poderiamos elaborar?

A partir do mapa politico do Brasil, como poderiamos caracterizar o pais?

Existem outros elementos nao representados no mapa que poderiam auxiliar na caracteriza<;:ao do pais? Quais sao eles?

Organizado por: Katuta, A. M.

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E

importante salientar que as questoes elaboradas, enfocam exemplos a fim de que o professor verifique que a leitura de mapas e a aprendizagem de conteudos geograficos, devem ocorrer concomitantemente e nao de forma estanque. Apesar dos exemplos, cada professor, dependendo do perfil de sua sala, dos conhecimentos e informac;oes que possui, deve elaborar as pr6prias questoes que servirao de elementos provocadores da aprendizagem dos conhecimentos geograficos. Por isso,

e

importante que o proprio profissional fac;a constantes exercfcios de leitura de mapas, para que possa verificar inclusive, que conhecimentos devem ser estudados a fim de estabelecer raciocfnios explicativos para a organizac;ao e configurac;ao de determinadas paisagens.

NOT AS

Recebido em: 24/10/2001 Aprovado em: 28/11/2001

1 Sobre esse assunto ver o excelente artigo de Palma Filho (1998), que trata das relayoes entre cidadania e educayi'io. Nele. o autor explicita a constituiyi'io hist6rica dos diferentes conceitos, pois parte da tese de que a educac;ao sempre esta a serviyo de mn determinado tipo de cidadania.

Para se construir e conquistar a tao propalada qualidade de vida torna-se necessaria, a nosso ver, a democratizayiio econ6mica. social. educacional e cultural.

Sobre esse ass unto ver Burtt. E. A .. l998.

' lnclua-se nesse contexto, pesquisadores. professores e alunos do ensino superior e basico que tem interesse por tematicas geograticas.

NUANCES: estudos sobre educayao-ano VIII. 11° 08- Setembro de 2002 179

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REFERENCIAS BIBLIOGRAFICAS

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Referências

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