Aula 12
Derivadas Parciais de f(x, y)
Uma representa¸c˜ao geom´etrica de uma fun¸c˜aof(x, y) ´e o seu gr´afico, isto ´e, o conjunto das triplas da forma (x, y, z) = (x, y, f(x, y)), ou seja, a superf´ıcie dada pela equa¸c˜ao z =f(x, y). Veja a Figura 1 como ilustra¸c˜ao. Imagine que vocˆe esteja num ponto (x0, y0, f(x0, y0)) do gr´afico e come¸ca se movendo, dentro do gr´afico def(x, y). Qual a taxa com que vocˆe subiu/desceu? Depende da dire¸c˜ao que vocˆe seguiu! Nesta aula, vamos estudar estas taxas quando vocˆe segue 2 dire¸c˜oes espec´ıficas: a dire¸c˜ao dada pelo eixo doxe a dire¸c˜ao dada pelo eixo do y.
Figura 1: Representa¸c˜ao gr´afica do conjunto graf(f) ={(x, y, z)|z=f(x, y)}
Em c´alculo I, quando vocˆe estudou fun¸c˜oes de 1 vari´avelf(x), e o corres- pondente gr´afico dado pela curva planary=f(x), vocˆe apenas tinha a dire¸c˜ao do eixo do x. Se vocˆe, partindo de um ponto (x0, f(x0)) no gr´afico de f, se deslocar uma quantidade ∆xnessa dire¸c˜ao, vocˆe subiu/desceu com uma taxa
∆f
∆x =f(x0+ ∆x)−f(x0)
∆x .
Fazendo ∆x → 0 (e assumindo que o limite existe) vocˆe obt´em a ‘taxa de varia¸c˜ao instantˆanea’, ou seja, a derivada def no pontox0:
df
dx(x0) = lim
h→0
f(x0+h)−f(x0)
h .
Agora em c´alculo II vamos aplicar o mesmo procedimento para fun¸c˜oes com duas vari´aveis, considerando, separadamente, as 2 dire¸c˜oes dadas pelo eixo do xe pelo eixo do y. Fixemos um ponto (x0, y0).
dire¸c˜ao dex: andar na dire¸c˜ao de x´e o mesmo que fixar y = y0. Assim, definimos aderivada parcial de f relativamente `a vari´avel x, no ponto (x0, y0) por
∂f
∂x(x0, y0) = lim
h→0
f(x0+h, y0)−f(x0, y0)
h ,
sempre que este limite existir. Note que se trata de uma derivada de c´alculo 1, isto ´e, da derivada da fun¸c˜ao de1 vari´avelg(x) =f(x, y0), no pontox0: dxdg(x0).
Geometricamente: quando fixamosy =y0, no espa¸co tridimensional es- tamos intersetando o gr´afico de f(x, y) com o plano y = y0. Desta maneira obtemos uma curva (assim como em c´alculo I) cuja reta tangente no ponto (x0, y0, f(x0, y0)) tem declive ∂f∂x(x0, y0). Veja a Figura 2.
Figura 2: Superf´ıciez=f(x, y) intersetada com o planoy=y0
Da mesma maneira temos:
dire¸c˜ao dey: andar na dire¸c˜ao de y ´e o mesmo que fixar x= x0. Assim, definimos aderivada parcial de f relativamente `a vari´avely, no ponto (x0, y0) por
∂f
∂y(x0, y0) = lim
h→0
f(x0, y0+h)−f(x0, y0)
h ,
sempre que este limite existir. Trata-se da derivada da fun¸c˜ao de 1 vari´avel h(y) =f(x0, y), no pontoy0: dhdy(y0).
Geometricamente: agora obtemos outra curva no espa¸co, intersetando o gr´afico de f(x, y) com o planox=x0. A reta tangente a esta curva no ponto (x0, y0, f(x0, y0)) tem declive ∂f∂y(x0, y0). Veja a Figura 3.
Figura 3: Superf´ıciez=f(x, y) intersetada com o planox=x0
Os dois vetores tangentes `as curvas de interse¸c˜ao da superf´ıcie z =f(x, y) com os planosx=x0ey=y0, respectivamente, geram um plano que na pr´oxima aula chamaremos de plano tangente `a superf´ıcie no ponto (x0, y0, f(x0, y0)).
Veja a Figura 4.
Figura 4: Plano tangente `a superf´ıciez=f(x, y) no ponto (x0, y0, f(x0, y0))
Na pr´atica, como as derivadas parciais∂f∂x(x0, y0) e ∂f∂y(x0, y0) s˜ao derivadas de fun¸c˜oes de 1 vari´avel, para calcul´a-las podemos usar as regras de deriva¸c˜ao que aprendemos em c´alculo I (sempre que pudermos us´a-las). Para calcular
∂f
∂x(x0, y0), derivamos f(x, y) na vari´avel x, assumindo y constante (no caso y=y0). Para calcular ∂f∂y(x0, y0), derivamosf(x, y) na vari´avely, assumindox constante (no casox=x0).
Exemplo 1: Sejaf(x, y) =x2+ 2y3+x3y2. Calcule ∂f∂x(2,1) e ∂f∂y(2,1).
Para calcular ∂f∂x(x, y) num ponto gen´erico (x, y), derivamos a express˜ao de f(x, y) na vari´avelx,assumindo y constante (no caso pedidoy = 1, mas a conta a seguir vale tamb´em para outros pontos):
∂f
∂x(x, y) = 2x+ 0 + 3x2y2.
Da mesma maneira, para calcular∂f∂y(x, y) num ponto gen´erico (x, y), derivamos a express˜ao def(x, y) na vari´avely,assumindo xconstante(no caso pedido x= 2):
∂f
∂y(x, y) = 0 + 6y2+x32y.
Logo,
∂f
∂x(2,1) = 2·2 + 3·22·12= 16,
∂f
∂y(2,1) = 6·12+ 2·23·1 = 22.
Geometricamente, isto significa que um vetor tangente ao gr´afico de f(x, y), no ponto (1,2,14), na dire¸c˜ao de x, tem declive 16. E um vetor tangente ao gr´afico def(x, y), no mesmo ponto (1,2,14), mas na dire¸c˜ao de y, tem declive 22. Portanto, se a gente estiver no gr´afico def(x, y), no ponto (1,2,14), a gente
‘sobe mais rapidamente’ se andarmos na dire¸c˜ao de y do que se andarmos na dire¸c˜ao dex.
Dito de outra maneira, se andarmos um pouco na dire¸c˜ao dex, ent˜aof(x, y) crescer´a a 16u.m.(caso essa taxa se mantivesse ao longo de toda a trajet´oria).
Assim, podemos aproximar (parahpequeno) f(2 +h,1)≈f(2,1) +∂f
∂x(2,1)h= 14 + 16h.
E da mesma maneira
f(2,1 +h)≈f(2,1) +∂f
∂x(2,1)h= 14 + 22h.
Obs.: Outra nota¸c˜ao para derivadas parciais:
∂f
∂x(x, y) =fx(x, y), ∂f
∂y(x, y) =fy(x, y).
Exemplo 2: Considere a fun¸c˜aof(x, y) =xsin(x2y). Calcule suas derivadas parciais.
∂f
∂x(x, y) = ∂
∂x xsin(x2y)
= ∂
∂x
x
sin(x2y) +x ∂
∂x
sin(x2y)
= 1·sin(x2y) +xcos(x2y) ∂
∂x
x2y
= sin(x2y) +xcos(x2y)·2xy
= sin(x2y) + 2x2ycos(x2y)
∂f
∂y(x, y) = ∂
∂y xsin(x2y)
=x ∂
∂y
sin(x2y)
=xcos(x2y) ∂
∂y
x2y
=xcos(x2y)·x2·1
=x3cos(x2y)
Derivadas parciais de segunda ordem
Como visto no exemplo anterior, cada uma das derivadas parciais ∂f∂x(x, y) e
∂f
∂y(x, y) ´e uma nova fun¸c˜ao de 2 vari´aveis. Assim podemos derivar parcialmente cada uma delas em ordem axou em ordem ay. Deste modo obtemos 4 derivadas parciais de segunda ordem, como esquematizado no seguinte diagrama:
f(x, y)
∂f
∂x
∂f
∂y
∂
∂x
∂f
∂x
= ∂∂x2f2
∂
∂y
∂f
∂x
= ∂y∂x∂2f
∂
∂x
∂f
∂y
= ∂x∂y∂2f
∂
∂y
∂f
∂y
= ∂∂y2f2
x
y
x
y
x
y
Como em calculo I, as derivadas de 2aordem ∂∂x2f2 e∂∂y2f2 medem ascurvaturas do gr´afico def(x, y) na dire¸c˜ao dexe na dire¸c˜ao dey, respectivamente (ou seja, as concavidades das curvas exibidas nas Figuras 2 e 3, respectivamente).
Exemplo 3: Sejaf(x, y) =x2+ 2y3+x3y2. J´a t´ınhamos visto que
∂f
∂x = 2x+ 3x2y2 , ∂f
∂y = 6y2+ 2x3y Calculando as derivadas parciais de segunda ordem, temos:
∂2f
∂x2 = ∂
∂x 2x+ 3x2y2
= 2 + 6xy2
∂2f
∂y∂x = ∂
∂y 2x+ 3x2y2
= 6x2y
∂2f
∂x∂y = ∂
∂x 6y2+ 2x3y
= 6x2y
∂2f
∂y2 = ∂
∂y 6y2+ 2x3y
= 12y+ 2x3
Perceba que, neste caso, as derivadas de 2a ordemcruzadas s˜ao iguais:
∂2f
∂y∂x = 6x2y= ∂2f
∂x∂y
Coincidˆencia? N˜ao! Isso ´e um fato que enunciaremos na forma do Teorema (Clairaut) : Se ∂x∂y∂2f (x, y) e ∂y∂x∂2f (x, y) s˜ao cont´ınuas, ent˜ao
∂2f
∂y∂x(x, y) = ∂2f
∂x∂y(x, y).
Obs.: No exemplo anterior f(x, y) = x2+ 2y3+x3y2, suas derivadas parci- ais de qualquer ordem ser˜ao polinˆomios, portanto, cont´ınuas, satisfazendo as condi¸c˜oes do teorema. Logo, antes de derivarmos, por este teorema, j´a sabemos que as derivadas de 2a ordem cruzadas s˜ao iguais, e portanto, bastaria termos calculado uma delas (nao interessando a ordem de deriva¸c˜ao.)
O diagrama mostrado anteriormente fica simplificado nesse caso:
f(x, y)
∂f
∂x
∂f
∂y
∂2f
∂x2
∂2f
∂x∂y
∂2f
∂y2
x
y
x
y
x
y
Ou seja, h´a somente trˆes deridadas parciais de segunda ordem, sempre que estivermos nas condi¸c˜oes do teorema de Clairaut.
Fun¸c˜oes de 3 vari´aveis
Considere uma fun¸c˜ao de 3 vari´aveisf(x, y, z). Agora, para cada uma das vari´aveis x, y e z, temos uma derivada parcial de 1a ordem. Por exemplo, para calcular ∂f∂x, usamos xcomo vari´avel e as outras, y ez, como constantes (novamente, cada derivada parcial ´e a derivada de uma fun¸c˜ao de 1 vari´avel apenas).
Exemplo 4: Calcule as derivadas parciais def(x, y, z) =x2+y2+z2+xyz.
∂f
∂x(x, y, z) = 2x+ 0 + 0 +yz (y ez constantes nesta deriva¸c˜ao )
∂f
∂y(x, y, z) = 0 + 2y+ 0 +xz (z exconstantes nesta deriva¸c˜ao)
∂f
∂z(x, y, z) = 0 + 0 + 2z+xy (xey constantes nesta deriva¸c˜ao)
Exerc´ıcio: Seja c uma constante real positiva fixada. Mostre que a fun¸c˜ao u(x, t) = sen (x−ct) satisfaz a seguinteequa¸c˜ao diferencial parcial (equa¸c˜ao de onda):
utt=c2uxx.