DE LEANDRO MONTEIRO OLIVEIRA
FORMAS POÉTICAS
Formas Poéticas/ Leandro Monteiro Oliveira. Taubaté:
Produção Independente, 2009.
1. Poesia Brasileira. I. Título
DE LEANDRO MONTEIRO OLIVEIRA
FORMAS POÉTICAS
ÍNDICE
TROVAS 5
HAI-KAIS 11
ESPARSAS 16
SONETOS 27
SONETILHOS 42
LIRAS 53
TROVAS
MATURAÇÃO
Tudo está na escuridão Se os olhos não se abrirem
Pra realidade, então, De dor e erros a sentirem.
COTIDIANO TERRESTRE
Enquanto o galo grita Para o nascer do Agora.
O homem, com sua mente, espia O amanhã, futura glória.
O SER ATIVO Enquanto, estou parado, Há uma coisa a se mover:
O tempo, eterno estado, Autônomo de meu ser.
O REFLEXO
Ao estar no espelho, olho além Dos fatos que estou vendo:
Que, dentro e fora, me vêm Como visões e desejos.
À CESÍDIO AMBROGI
De Natividad, chegou Para ser um professor, Com ilustres se encontrou...
Fez, então, o grão Trovador.
UM CASAMENTO DE SÃO JOÃO
A noiva Inflacionária Casou com Desempregado,
Filho da Vida Ingrata, Num longo junho passado.
CARROSSEL
Andar, correr à cavalo Neste mundo de sonhos Entre florestas, riachos...
Montes de ferros humanos.
CONSULTA SENTIMENTAL
Tô na sala dos encontros, O doutor Amor receita A cura para os meus prantos;
Que de paixões são feitas.
VIVER
Na vida, apenas se vive O Hoje, tempo em que estou, Não o Ontem – em que estive -,
E o Amanhã – que não chegou.
TROVA AGNÓSTICA
Meu céu só tem estrelas, Planetas, sol... Nesse cosmo
De infindável Existência, Cuja verdade é os olhos.
A MÚSICA
Quando a guitarra toca, Muitas vidas começam A rir ou chorar em volta Com os fatos que lembram.
UM BÊBADO (I)
Na esquina, caminha um bêbado Num andar descompassado;
A andar, no meio dum ermo Pátio, a música de Baco.
UM BÊBADO (II)
Uma mente vê verdades.
Essas, que estão totalmente Fora da realidade Negada pela sã mente.
TROVA DO SUCESSO
Fazer, tentar, errar muito...
Porém, jamais desistir De seus sonhos profundos,
Que trazem vida para ti.
Fazer, tentar, errar muito...
Para os seus sonhos cumprirem Neste tão, tão vasto mundo:
Tirano de muitos porvires.
A CPI
Mãos apontam uma à outra.
Palavras saem, saltam De hipócritas bocas No teatro do planalto.
À ESPANHOLA
Os teus olhos buscam metas Que, com força e convicção, Afetam minha alma, incerta
De sua sincera intenção.
O CHAMADO
Tlim! Tlim! Tlim!... Os sinos tocam.
E o tempo chama pra entrar Em sua casa, sempre nova,
Para sempre descansar.
UMA DANÇA
As minhas mãos se colidem, E meus pés batem no chão;
Sempre a dançar o maxixe Da eterna transformação.
SAMBA
Hei de dançar um samba Pra, em vida, me superar E sair desta corda bamba Que é a vida a me maltratar.
Agora, estou a dançar samba Pra minha vida mudar Ao caminhar à esperança De um Baco a me embebedar.
HAI-KAIS
LIBERDADE (I)
Eu sou um mundo inteiro:
Um pássaro a voar rápido, Livre de terrenos.
LIBERDADE (II)
Só ficarei livre Se a minha mente se abrir
A tudo que vive.
O SOL
A grande explosão...
A estrela nasce. É intensa Sua luz em ação.
A ORIGEM
Mergulho bem fundo Nas águas que geraram
Nosso vivo mundo.
O UNIVERSO
A noite se mostra:
A eternidade vem, chega Na imagem que se olha.
A NOITE
Quando o sol se põe, A terra dorme na eterna
Cama que dispõe.
ECLIPSE TERRESTRE
Dá para ver Tudo, menos o futuro:
Vida a se esconder.
O RECIFE (I)
Águas correm, batem...
Seres verdes nascem... Fazem A natural arte.
O RECIFE (II)
O sol ilumina O mar, fonte de criar;
Início da vida.
A PASSAGEM
O mar é portal De vidas que são oníricas
Ao cosmo, real.
A BENÇÃO
Dou graças à Deus Por dar me razão ao notar
“Que eu sou mais eu!”
A MISSÃO DE ISRAEL
É andar no deserto, Buscar o Éden, curar
O mundo enfermo...
Punir os demônios, As pessoas descrentes De um Deus bom, idôneo.
O EXCLUÍDO
Quando vejo o mundo, Fico bem triste, sozinho
Por me sentir único.
AS OPORTUNIDADES
Janelas se fecham, Se a mente não está aberta
Aos poucos que enxerga.
À JAPONESA
Teu olhar é o sol Que, desenvolto e sereno,
Faz-me ser real.
BOLERO
Dançarei bolero Para pedir ao meu Pai
Os passos que quero.
Manter a calma, Obter muita sapiência
E ter amor na alma.
ESPARSAS
ESPARSA I – ACESSO AO CÉU
A cada ano que se passa, Meu espírito se adapta Pra adentrar ao paraíso Ainda fechado, proibido...
Embora tenha que obter Muitas virtudes de Deus Pra ascender, subir ao Céu
E, assim, lá permanecer.
ESPARSA II – AS ESTRELAS E AOS HOMENS
As estrelas são vidas, Que os olhos veem, eternas.
Mesmo sabendo que os corpos, Pela ação do tempo, morrem.
Assim é o olhar dos homens:
Quando jovem, duradouro...
Porém, quando velho, etéreo Como estrelas jazidas.
ESPARSA III - O PRESENTE
A cada dia que escrevo.
Eu mesmo me presenteio Com poemas, poesias Vindas de meu pensamento;
Que pode ser de uma única Ou de muitas outras vidas Que conheço ou desconheço Nesta vida, em si, tão dúbia.
ESPARSA V – A FORÇA DE MINHA VIDA...
A força de minha vida Vem de minha solidão, Narcisismo que, em mim, há.
Este que não quer o Amor Próprio, apenas narcisista;
Causa da separação De casais que estão se amar.
Mas, sim, o amor sem rancor:
A compaixão, por si só, Que impeça de me odiar, De me apaixonar os outros;
Que estou sempre a conhecer Independente do mal Ou do Bem que hão de mostrar
Em seus atos geniosos Que afetarão meu viver.
ESPARSA VI – MINHA TRISTEZA E ALEGRIA
Minha tristeza parece Eterna como Universo.
Enquanto minha alegria É efêmera como a vida, Origem de toda estrela;
Que tem brilho forte, imerso Nos seres deste planeta (...).
Esta, fugaz como um flash.
ESPARSA VII – TEMPO
Eu gosto de ver a vida, O tempo a passar aqui E ali... De lá para cá...
Como ondas a deslizar, A levar tanto à China, Ao Brasil, Omã, Mali, Antártica, Canadá...
A Beleza em cada lugar.
ESPARSA VIII – O DESEJO
Não quero as lágrimas Dos homens, mesmo da Terra,
Que venham a destruir Tudo que faz, cria a vida.
Mas, sim, gotas puras, límpidas De Deus para construir Espécies quase eternas E isentas de qualquer falha.
ESPARSAS IX – A APRENDIZAGEM
Eu muito posso escalar As altíssimas montanhas,
Muito posso percorrer As longuíssimas distâncias...
Mas só vou sentir, obter A verdadeira vitória Se meu corpo anunciar
“Minha dor é nossa glória”.
ESPARSA X – OS POLÍTICOS
As falas, cada vez mais, Diferem-se dos atos...
E todas as provas que os culpam Tornam-se, assim, vis calúnias;
Caso o sujeito acusado For um grão parlamentar Que sempre sai... Nunca vai
Pro planalto trabalhar.
SONETOS
SONETO I
Quando se escreve, tem-se a eternidade;
Pois geram ânsias que estão na memória De cada homem que gosta das artes E um pouco mais da vida, da história...
Que o tempo, no fim, ajuda a alterar Crenças, economias e políticas...
Embora a essência se mantenha acíclica:
Os desejos, as paixões a aflorar...
No espírito de cada ser humano, Seja tanto pro mal quanto pro bem De todos para obter o próprio sonho;
Deixando tristes ou felizes todos Que vivem nesta vida que é, também,
Um livro de versos cotidianos.
SONETO II
Cada segundo que sinto e penso É o agora que estou vendo, vivendo...
Não tem, não há passado num destino E nem terá futuro sem caminhos,
Aos quais serão sempre concretizados Quando a necessidade aparecer Ou a vontade, assim, bastante exercer
Ações num cérebro conscientizado.
Para transformá-lo em um indivíduo A realizar ou não o que mais quer, O que mais deseja por dentro, em si:
Em meu caso, a muito bem escrever E, assim, tornar-me um poeta prodígio
Ao compor um belo soneto, enfim.
SONETO III
Quando amor sempre me encontro feliz Com meus sentimentos... Sonhos, sinto-os
Em minha efêmera vida, a emergir A partir de um grande esforço exercido.
Pra criar uma realidade ampla:
Ter muito dinheiro, carros e roupas, Tão belas quanto uma paixão sana;
Sem temor de estar tomando uma droga...
Não para me curar de algum marasmo, Mas para me tornar mais dependente De alguém que pode ser inconsequente
A ponto de me trair claramente, Transformando-me em ser inanimado
(Sina que não desejo, ao ser gente).
SONETO IV
Desejo uma vida em evolução, Muitas sensações pra experimentar
Pra que, assim, possa acrescentar Detalhes pra chegar a perfeição.
Se nos acontecimentos irei Muito sorrir ou chorar, eu não sei.
Mas penso que valerão muito a pena, Pois só se vive uma vida plena;
Que se há de várias imperfeições, Aspectos harmônicos que tornam Real os sentidos, sons e imagens
Que sinto, ouço e vejo em várias feições Da natureza e dos homens; que formam,
só para esta vida, muitas verdades.
SONETO V
Não sinto nada. Apenas vejo os homens Com seus chamados progressos: carros,
Ônibus, aviões passarem rápidos A aproveitarem o tempo que corre,
Que decorre, também, na natureza;
A buscarem suas sobrevivências Nestes solos e mares com outrem, Seres que não pensam em mal ou bem;
Que, em geral, somente existem por si, Em não se importando com o outro que é
Um problema que os fazem infelizes...
Infelicidade que cria máculas Ao não ser livre pra se ter o que quer:
Paz interna, esta pura alma sem nada.
SONETO VI
A eternidade é silêncio do tempo Dos seres; que percorrem caminhos
Próprios em busca dum alento Para seus espíritos tão sofridos
Sobre este chão tão duro, mas tão frágil Como os trejeitos dos seres humanos, Tão volúveis quanto os climas são vários,
Podendo acarretar ganhos ou danos...
Mas que, apesar disto, são necessários Para haver uma harmonia completa, E, assim, criar a perfeição na Terra;
Que deixará as almas vis sempre sãs Para viver um amanhã diário:
Renascimento de existências vãs.
SONETO VIII
Medos estão presos, mas são prisões Às nossas mentes tão frágeis, sensíveis
Pelos nossos ingênuos corações;
Que, somente, desejam ser felizes...
Entretanto, estes raros tesouros Só se encontram numa ilha deserta, Em que o pensamento encontra moléstia
Na natureza, onde não há um só fogo
Para acender nossa cruel vaidade, Que quer sempre ser mais do que é vida
A ter fim sem consciência.
Esta que procura a imortalidade Na fé de uma entidade divina Com valores que darão a essência.
SONETO IX – A MARCHA PELO JARDIM
Nós temos o mesmo jardim onírico Apesar de não nos cercarmos muito Das mesmas flores, com mesmos indícios...
Cada qual formam, assim, homens únicos.
Mas não poderosos para viver, Na paz, sem desmatamentos haver Em muitos jardins que são invadidos Por outros homens, que os querem obter...
Diminuindo, asfaltando os espaços De nós, fazendeiros de tantos sonhos Tão grandes, tão imensos, tão benéficos
Pra todos nós que, sendo reles povo, Precisamos marchar entrelaçados Por uma flor para unir nossos egos.
SONETO XI – CARROSSEL DAS IDÉIAS
Hoje, estou vendo duma maneira, Tendo muitas e várias certezas De que meu pensamento esteja certo...
Até o caso mudá-lo por completo.
Entretanto, apesar de assim pensar, Sinto que algo, dentro mim, ocorre...
Fazendo-me refletir, meditar...
Minha certeza quer que eu a socorre
Na vida, que é carrossel de mudanças:
Em que, ontem, sentava num animal Que agora está numa outra nuança.
Assim é quando mudo de ideal...
Até encontrar o que mais me agrada E que me dê muito prazer, mais nada.
SONETO XII – SUSPENSE
Alguns pés caminham silenciosos, Algumas vozes estão aos sussurros, Tudo está, praticamente, no escuro;
E em locais, lugares bastante incógnitos.
Esses olhos estão muito inseguros, Guardando inacreditáveis segredos.
Quanto os lábios, estão quase mudos;
Falando mal sobre certos sujeitos.
Bastantes pessoas perguntam, tentam Desmascarar seus segredos profundos...
Quando os descobrem... Quedam-se por surdos.
As outras pessoas veem e pensam:
“É um fato ou uma história de suspense?”.
– Fique e verá algo surpreendente!
SONETOS XIII – DA ANGÚSTIA
Diversos pensamentos me afligem Tanto em meu corpo, quanto no meu espírito...
Uma inquietação, em mim, persiste Nos atos que se tornam, assim, vícios:
Que advêm de minhas mágoas e choros;
Que trazem muitas raivas e decoros De aceitações, confianças e amores, Aos quais acuso por minhas dores.
Essas que, em uns, a bebida alivia;
Em outros, as drogas os retiram;
Mas, em mim, fixam-se na realidade.
Realidade de meus pensamentos, Que só me trazem infelicidades Que, em mim, só aumentam neste momento.
SONETO XIV
De que adianta vivermos em paz Ou estarmos dentro de uma batalha,
Sendo que, se um dia a luz acabar, A vida não mais haverá, só o Nada?
De que adianta construir culturas;
Subjugá-las ou privilegiá-las Sendo que a morte do homem vai matá-las
Se nós explodirmos nossa lua?
De que adianta termos o poder, Se tudo o que existe terá um fim, Inclusive o homem, que vai perecer?
De que, então, adianta fazermos Igrejas, sinagogas ou algo assim, Sendo que, aqui, não mais viveremos?
SONETILHOS
NOITE EFÂNICA
Á noite, enquanto acordo, O céu está ainda negro.
E com muito silêncio, Um homem anda só...
Para casa, sem glória.
E não se sente bem.
É como se fosse outrem, Pessoa sem memória.
Sua vida é estranha, E coisas que gostava Não têm mais importância.
Ele, agora, só pensa Ter o que desdenhava:
O Amor que o compreenda.
O ESPÓLIO
Eu rezo uma oração Pra um homem que se foi.
Peço para que, então, Fique com o senhor.
E quede num lugar Onde tenha, enfim, paz;
Que nunca, aqui, teve Por causa de seus entes
Que tinham interesses Mais no seu dinheiro Do que em sua pessoa...
E que choram à toa Por nenhum tostão terem
De todo o testamento.
QUESTÃO DE PELE
Minha cor, minha pele É minha identidade, Que em humilha ou concerne
Não importando a idade.
Se minha pele é branca, Sou senhor que comanda
Homens subservientes Que são muito crentes.
Se minha pele é negra, Trabalharei na empresa Na função de peão.
Ganhando muito pouco Para comprar um pão Mais duro do que osso.
O SOVINA
Eu trabalhei muito duro Para obter, hoje, o que tenho:
Os carros, apartamentos....
Muita grana pra ter tudo.
Sim, me esforcei dez, vinte anos...
Todos esses só guardando Para meu bem viver, Para um rapaz rico ser.
E não divido o que é meu Nunca! Pois não sou culpado
Por sua pobreza, seu...
Não sou sovina, meu amigo...
Eu só não em acho obrigado A ter de suster mendigos.
NOITE PERIGOSA
Ao cair do sol, As luzes se vão...
Noite foca, então, A me rondar, só;
A me dominar, A me subjugar Com seu rosto mau,
O medo real
De ser assaltado, De ser espancado, De ser, enfim, morto
Por bandidos loucos, Que sempre planejam
Contra a vida alheia.
HADES
Hades, deus do inferno:
É Fogo (interno), Sua adrenalina Á dor cometida.
Hades, deus do inferno:
A dor provocada, Sofrimento eterno Por ações criadas...
Sentimento triste, Ao não conseguir Ter o que queria;
E de ódio, por fim, Ao ver, muito ricas,
Pessoas humildes.
IMPRECAÇÕES
Oh, Deus! Por que tu fizeste Tantas vidas desmedidas Se o teu ser és de benesses,
E somos tua Família?!
Por que, então, nos modelou?!
Nós, homens de ego tão próprio;
Bem maior que do senhor, Que é nosso grande pai, Lorde?!
Oh, Deus! Por que tu tornaste Nossa existência em miséria E nossa riqueza, em morte?!
Oh Deus! Por que tu juntaste Tantos pós, tantas matérias, Pra um ser ter tão curta sorte?!
JUVENTUDE
Não, não nasci hoje.
E nem nasci ontem.
Mas a cada dia Ao aprender na vida.
Não estou maduro, Mas não estou verde.
Eu não sei de tudo, Mas não sou um bebê.
Sei que vou sofrer...
Que machucarei Todos de quem gosto;
Que os alegrarei (quando em merencórios)
Com meu melhor ser.
LIRAS
A ROSA – LIRA II
À terra, cai uma semente...
O céu troveja, chove;
E o sêmen se desenvolve...
Fez-se a vida, de repente;
Faz-se a rosa, tão linda...
Embora cause ferida.
As pétalas produzem A vida, que é a descoberta
Florida de vários lumes, Essência de ser bela;
Que faz a rosa tão linda, Embora cause ferida.
Os polens se desenvolvem...
Uma abelha bate asinhas...
O pólen da rosa, ela tira.
E parte do aroma morre...
Parte da rosa, que é límpida;
Embora cause ferida.
O tronco, que fora liso, (Assim como a vida, doce), Tornou-se cheio de espinhos
(De uma amargura, pôs-se).
A rosa ainda estava linda, Apesar das feridas...
Que os espinhos causaram A todos os seres que, em volta
Da rosa, se aproximaram...
A rosa, inteira, se mostra...
Ainda fez-se a rosa linda.
Embora desse feridas.
Mas, como o tempo passa, O tronco se obscurece...
E as pétalas ficam flácidas...
E, no inverno, a rosa parece.
E foi-se a rosa, tão linda Flor de aromas e feridas.
A PEDRA – LIRA III
“No meio do caminho tinha uma pedra
Tinha uma pedra no meio do caminho (...)”
Carlos Drummond de Andrade.
A pedra esteve sempre aí,
Desde que o mundo é mundo.
Sempre com o mesmo fundo, Se o homem não interferir...
Pedra que bloqueia a vida, Uma estrada proibida.
Se a pedra for bem pequena, Poderá ser transpassada Com mãos, pés à escalada, Pra não mudá-la na essência.
Pedra que bloqueia a vida, Uma estrada proibida.
Porém, se a pedra for média, Deverá ser deslocada, Usando a força humana,
Pra seguir a caminhada Onde a pedra não bloqueia
A vida, estrada proibida.
Mas se a pedra for grande, Ou há de transformá-la Ou há de alterar o andar...
E buscar outro horizonte Onde a pedra não bloqueia
A vida, estrada proibida.
CANÇÃO DO HOMEM CONTEMPORÂNEO – LIRA IV
I
Deixei de sorrir, sonhar...
Não ouço canto dos pássaros Para somente escutar A Tati Quebra-Barraco...
Assim, sou um homem moderno:
Tecno, liberal e metro.
Andava para sentir E ver passar o tempo...
Hoje, não posso dormir Pra não perder dinheiro.
Assim, sou um homem moderno:
Tecno, liberal e metro.
Antes, eu comia frutas Que provinham da mãe terra...
Hoje, como muitas frutas Em latas de conserva.
Assim, sou um homem moderno:
Tecno, liberal e metro.
Antes, pescava nos rios...
Mas, agora, só almoço Um peixe “made in Brazil”
Ou de “pesque e pague uns tantos...”.
Assim, sou um homem moderno:
Tecno, liberal e metro.
II
Tenho de ser moderno.
Velho ou jovem? Não importa.
Se tiver corpo com músculos E rostos com e em forma.
Sim, sou homem de cada dia, Do hoje: Certeza da vida.
Eu não me chamo João, Nome tão comum, banal...
Mas, sim, “Giovani”, “John”...
Nome chique, muito legal.
Sim, sou homem de cada dia, Do hoje: Certeza da vida.
As verdades, que me diziam, Se contradizem pelos fatos;
Que contam, mostram e explicam O homem em profundo estado.
Sim, sou homem de cada dia, Do hoje: Certeza da vida.
Eu não sou mais um outro, Com moral e respeito...
Mas, sim, um ser sem remorso;
Que só quer sentir si mesmo.
Sim, sou homem de cada dia, Do hoje: Certeza da vida.
III
Deixei de ser carinhoso, De mostrar cortesia,
Para ser amoroso Apenas por simpatia.
Eu era um homem moderno...
Com vontades, mas sem cérebro.
Antes, ainda respirava Boas e gratas fragrâncias...
Agora, só se espelha Cheiro de sangria, de ânsia.
Eu era um homem moderno...
Com vontades, mas sem cérebro.
Não vejo mais florescer Tantas flores nesta terra...
Só assisto à Tevê:
À violência, a guerras...
Eu era um homem moderno...
Com vontades, mas sem cérebro.
Era muito mais saudável A época em que vivi...
Hoje estou um pouco mais frágil Pela pele estar carmim.
Eu era um homem moderno...
Com verdades, mas sem cérebro.