País: Portugal Period.: Diária
Âmbito: Economia, Negócios e.
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ID: 59623768
08-06-2015
bruno.lopes@economico.pt Mais autonomia, mais concor-rência entre modelos diferentes de escola pública. Esta é a linha de sempre do ministro da Educação e Ciência, Nuno Crato, cujo apro-fundamento faz parte do progra-ma da coligação para a próxiprogra-ma legislatura. O ministro defende o trabalho feito nesta frente e consi-dera que os directores das escolas - que estão mais perto dos alunos do que a máquina do ministério -devem ter mais autonomia na contratação de professores e na gestão orçamental.
Uma das matérias que está nas orientações gerais do programa da coligação é o aprofundamento da autonomia das escolas. Até que ponto está disponível a ir? Autonomia o mais possível para as escolas. Uma das primeiras coisas que me aconteceram quando cheguei ao ministério foi receber um pedido de uma escola que queria mais 15 minutos de hora de almoço. Achei a coisa extraordi-nária, um ministro não tem nada a ver com o assunto. Outro exem-plo: as aulas até ao momento em que entrámos eram de 45 minutos ou múltiplos de 45 minutos. Tudo isso estava completamente deter-minado [centralmente]. O núme-ro de minutos para cada disciplina semanal também. O que fizemos primeiro foi dizer que as horas em cada disciplina são da responsabi-lidade da escola, desde que se cumpra o mínimo. A duração de cada aula é da responsabilidade da escola. Passámos para as escolas uma série de responsabilidades que lhes dá maior liberdade.
Que-remos ter muito maior autono-mia. A bolsa de contratação, por exemplo, dá grande autonomia à escola para definir critérios de contratação de professores para certas necessidades.
Mas se já avançou tanto, o que é que pode fazer mais nesta área? Há muito a fazer.
Dê-me um exemplo.
No aspecto curricular já determi-námos isso. As escolas deviam ter maior papel ainda na gestão dos seus professores, na escolha dos professores que vão para as suas aulas. As escolas deviam ter um maior papel ainda na gestão orça-mental. Deviam ter certos limites e, depois, maior liberdade de ges-tão. A descentralização das com-petências, com o apoio das autar-quias, é parte desse trabalho. Um processo em que nada é retirado das escolas, mas em que há coisas que são retiradas do Ministério da Educação.
As autarquias têm capacidade para determinar o número de alunos por turma. Essa descen-tralização dá às autarquias pode-res que se calhar não deviam ter... O número de alunos por turma tem máximo e mínimo definidos. Havendo recursos é possível fazer desdobramento de turmas e gerir
outras ofertas, outros aspectos da escola, como o ‘curriculum’. O princípio é: liberdade na gestão, liberdade nos métodos, avaliação de resultados. Queremos avaliar os resultados e dar às escolas a li-berdade para utilizarem os me-lhores métodos para obterem re-sultados para os seus alunos. Dá--me licença para mostrar a pri-meira página de um jornal? Faça favor.
Não vou mostrar o jornal, só este título: “Escolas: professores ofe-recem aulas antes dos exames” [manchete do Diário de Notícias de 2 de Junho]. O subtítulo: “alu-nos do 9º, 11º e 12º vão ter aulas extra para se preparem para os exames. Escolas públicas estão a planear esses apoios com recurso a crédito de horas ou à boa vonta-de dos professores”. Isto mostra um país diferente. Mostra da parte dos jornalistas uma atenção a es-tes problemas, da parte das esco-las, dos pais, uma atenção aos re-sultados que não existia até há al-gum tempo. Queremos que os alunos tenham sucesso. E há li-berdade nas escolas, que antiga-mente não existia, para ter as ho-ras extra. Para utilizar essas hoho-ras que fazem parte das horas lectivas dos professores para dar um apoio especial. Como há a boa vontade dos professores. Os professores em Portugal, na sua esmagadora maioria, estão interessados no su-cesso dos seus alunos. E todos os directores estão interessados em gerir os recursos para o sucesso dos seus alunos.
Sobre modelos de gestão e profes-sores, uma das propostas que consta do programa da coligação são as escolas independentes [de propriedade e gestão dos profes-sores]. A medida já estava no pro-grama em 2011. Concorda com a medida? Porque não avançou nesta legislatura?
Vivemos durante estes anos mo-mentos excepcionais, de que já
nos esquecemos um pouco. Há quatro anos, quando houve inter-venção da troika, estávamos em pré-bancarrrota. Estivemos num período de vigilância, em que fo-mos obrigados a seguir determi-nado programa com grande aten-ção aos gastos. Na educaaten-ção tam-bém foi necessária contenção de custos muito grande, sobre as contratações, a constituição de turmas. Um controlo centraliza-do, porque foi preciso imediata-mente fazer com que os custos não disparassem.
Não havia condições para haver tanta autonomia?
No momento em que nós entra-mos no Governo estávaentra-mos preo-cupadíssimos em controlar todas as fontes de acréscimo de despesa. Mas agora há?
Agora estamos um pouco melhor. Não estamos completamente à vontade, temos uma dívida públi-ca ainda muito grande e temos ainda défice. Mas estamos muitís-simo melhor do que há quatro anos. Temos mais liberdade para pôr em prática outras medidas de descentralização.
Como esta especificamente? Sim. Julgo que se pode avançar já para uma autonomia de escola que seja progressiva e que existam modelos concorrentes. É muito difícil de compreender, pelo pas-sado de grande centralização, que possam existir modelos concor-rentes. Escolas onde há um gran-de apoio das câmaras municipais. Escolas em que os professores a possam gerir. Em que o orçamen-to seja determinado de forma glo-bal e em que os professores, atra-vés dos seus directores, atraatra-vés de órgãos de gestão, giram esses fun-dos. Pode haver vários modelos concorrentes e esses modelos to-dos beneficiam a escola pública. Esse tipo de concorrência podem empenhar mais as pessoas e tor-nar a escola mais sua, mais eficaz e mais virada para os alunos.■
“As escolas deviam ter
maior papel na gestão
dos seus professores”
Bruno Faria Lopes Rosário Lira
É muito difícil de
compreender, pelo
passado de grande
centralização, que
possam existir
modelos concorrentes
de escola pública.
“
Professores:
“Estamos a dar
estabilidade a mais
quatro mil famílias”
“O Governo vai ter no fim deste mandato quatro mil professores que não estavam nos quadros”, afirma Nuno Crato, quando a entrevista se desloca para o tema dos professores excedentários e dos contratados. “Com algumas vinculações extraordinárias que foram feitas e com as vinculações que vão ser feitas este ano para as vagas a mais, além das da norma--travão, vamos introduzir no sistema cerca de quatro mil professores. Estamos a dar estabilidade a mais 4 mil famílias”,
Autonomia
Na gestão de professores, orçamentos e métodos. Para o Ministro da Educação,
●Nuno Crato, 63 anos, doutorou-se em Matemática Aplicada nos EUA.
●Foi professor de matemática no ensino secundário e superior.
e Estatística no ISEG desde 2000. Foi presidente da Sociedade Portuguesa de Matemática. Tem vários trabalhos de investigação
●Ficou conhecido do grande público com livros e intervenções públicas sobre matemática, ensino e ciência ●É casado, com dois filhos.
O ministro Nuno Crato continua fiel à sua linha para a Educação: mais liberdade para as escolas e mais avaliação.
Paula Nunes
Ministro antecipa colocação de professores para evitar erro que prejudicou alunos e professores.
O erro na colocação de profes-sores no início deste ano lectivo foi o momento mais delicado no mandato de Nuno Crato. O mi-nistro sente que houve respon-sabilização política e adminis-trativa - e defende que a anteci-pação do processo este ano nada tem a ver com as eleições. No início do ano lectivo foi ao Parlamento pedir perdão pelas falhas graves na colocação dos professores. O que poderia ter feito e não fez?
É uma pergunta difícil, porque o erro foi detectado. Foi um mo-mento difícil do mandato. Houve um erro de transposição da lei. A lei indicava um determinado mé-todo de hierarquizar os candida-tos, que não foi exactamente se-guido. Hoje o que teria feito? É fácil dizer. Teria verificado que a trans-posição estava correcta. Mas assu-mo a responsabilidade pelo que se passou, assumi-a publicamente. Sente que houve responsabiliza-ção da tutela, sua e dos seus se-cretários de Estado e, depois, dos serviços do ministério? Houve. Nós pagámos um preço político elevadíssimo por aquele erro. O director-geral demitiu-se porque reconheceu que tinha responsabilidade directa. Teve a hombridade de ter a iniciativa de se demitir. Houve algo que foi pago, nesse sentido. Agora, o que mais nos preocupou foram os prejuízos para professores e alu-nos. Esses prejuízos, na medida em que é possível voltar atrás no tempo, estão resolvidos. Demos às escolas condições para terem complementos educativos que repusessem o tempo que se per-deu. Também os professores que tiveram a sua colocação anulada foram compensados.
São 63?
Julgo que são 62. Mas não tenho os números na cabeça.
Em breve começa um novo ano lectivo. Consegue garantir que não haverá problemas?
“Pagámos um
preço político
elevadíssimo
por aquele erro”
“Estamos a antecipar
todos os prazos. Os
ajustamentos a fazer
serão a tempo do
início do ano
lectivo.(...) Não é
porque há eleições.
“
defende o ministro. Sobre eventuais excedentários no próximo ano lectivo, Nuno Crato prefere não adiantar números uma vez que “a colocação de professores é das coisas mais difíceis de prever”. Mas adianta que o número venha a ser “residual”. “O nosso objectivo é que seja zero”, afirma. O ministro destaca o trabalho feito para minimizar as saídas para a bolsa de excedentários, rebaptizada de ‘requalificação’. “Este ano conseguimos um feito enorme que foi uma grande redução de horários zero e o número de professores que estão em processo de possível requalificação é reduzidíssimo. Estamos a falar da ordem das dezenas”, afirma Crato. São doze.
Estamos a antecipar todos os prazos. Fizemos um estudo de todo o processo de colocação de professores. Não quisemos fazer uma revisão completa do proces-so em termos da legislação por-que são hábitos por-que estão estabe-lecidos. Neste momento as coisas estão antecipadas e os ajusta-mentos a fazer serão a tempo do início do ano lectivo.
Antecipar permite-lhe reduzir a pressão. O início do ano lectivo calha na fase de eleições. Têm fa-lado consigo por parte do gabine-te do primeiro-ministro? Sengabine-te pressão para que as coisas corram bem?
O senhor primeiro-ministro acompanhou-me naquele mo-mento e tem acompanhado sem-pre. Nós discutimos as coisas abertamente e vamos vendo quais são os problemas e as coisas que estão a correr bem. Antecipar também significa algum alívio para os directores. Trabalham todo o ano civil. Enquanto em Agosto muitos de nós estamos em férias – eu por acaso não tenho ti-rado praticamente férias – os di-rectores estão na escola. Se não estão, vão lá quase todos os dias, porque têm processos de coloca-ção de professores a resolver. É uma mudança estrutural? Se for só este ano é fácil dizer que, depois de quatro anos, antecipa agora porque existem eleições. Não é porque existem eleições. Desde o princípio que tentámos sempre antecipar as coisas e que corressem da melhor maneira. E esperemos que nos anos seguin-tes as coisas se passem da mesma maneira.■B.F.L. e R.L.
“É possível atingir
objectivo taxa de
abandono escolar
de 10%” até 2020
A entrevista já estava a deslizar para o tema do Ensino Superior quando Nuno Crato volta atrás, para falar de abandono escolar, um dos problemas estruturais da Educação em Portugal. “A taxa de abandono escolar que estava na ordem dos 28% em 2010, está neste momento em 17,4%”, afirma o ministro. “Isto significa que é perfeitamente possível atingir o objectivo europeu de ter uma taxa de abandono escolar apenas de 10%”, prevê. O objectivo tem um prazo que coincide, grosso modo,
com o final da próxima legislatura: 2020. Para Nuno Crato, a redução do abandono escolar num contexto de crise económica e de maior exigência do sistema é “prova de que isto [alterações feitas] está a funcionar”. Sobre o chumbo anual de, em média, 150 mil alunos, Crato fala em “problema prioritário” a combater. Como? “Não com passagens administrativas. Queremos que todos os alunos passem, mas que passem sabendo”, afirma. “Temos que fazer o que já fazemos desde 2012, um conjunto de medidas para acompanhamento aos alunos mal surjam as primeiras dificuldades”, indica, exemplificando com a atribuição de “horas extra para os professores poderem fazer esse acompanhamento”.
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Âmbito: Economia, Negócios e.
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08-06-2015
Destaque
Grande Entrevista a Nuno Crato
Bruno Faria Lopes e Rosário Lira bruno.lopes@economico.pt Mais autonomia na gestão das escolas e menos na das institui-ções do Ensino Superior? Os reitores receiam os efeitos da nova Lei de Enquadramento Orçamental, mas o ministro ga-rante que a autonomia de gestão do Ensino Superior não sai be-liscada.
Temos uma Lei de Enquadra-mento Orçamental, em discus-são no Parlamento, que parece restringir bastante a autonomia de gestão dos reitores. Falo no impedimento de fazer altera-ções orçamentais ao longo do ano, de usar saldos transitados, e de assumir compromissos plurianuais, tudo enquanto não houver luz verde das Finanças. Esta lei que está neste momento em fase de discussão não signi-fica uma perda de margem grande dos reitores na sua ges-tão?
Sinceramente não percebo a pergunta. Já houve duas ou três pessoas que me levantaram o mesmo problema. Julgo que o artigo 5º dessa lei diz que não se aplica às instituições de Ensino Superior.
É uma confusão que os reitores fazem?
Será que a lei tem alguma coisa que dá a entender que não é as-sim? Está lá escrito. Podemos propor ao Parlamento que seja mais claro. Escrever duas ve-zes…
Não há qualquer mudança ou restrição que introduz na ges-tão financeira das universida-des?
Eu não estou a ver. Está lá espe-cialmente dito que no que se re-fere às instituições de Ensino Superior que se segue o regula-mento geral, o REGIES, que não são alteradas as normas desse regulamento.
Por que é que essa lei de enqua-dramento tem um artigo que
diz que as universidades não podem ter dinheiro na banca comercial? Está lá escrito uni-versidades.
Acha que isso é uma grande li-mitação da autonomia das uni-versidades, não terem na banca comercial? Qual é o artigo que tem isso?
Não tenho aqui a lei para indi-car o número, mas há um artigo que diz isso.
É melhor não discutirmos sem termos a legislação à frente. Eu já ouvi essa preocupação, mas continuo sem a perceber. Vou ter que reunir com alguns reito-res e com aqueles que manifes-tam maior preocupação e com alguns juristas, para ver o que ali está que possa criar algum problema.
Foi a falta de dinheiro que o le-vou a não fazer uma efectiva reorganização do Ensino Supe-rior?
A reorganização do Ensino Su-perior é um processo que longo, que exige uma série de coisas que foram feitas entretanto. O Ensino Superior tem um siste-ma binário: por um lado Poli-técnicos, por outro Universida-des. E tem outra dualidade: es-colas no litoral que têm um grande número de estudantes e escolas no interior que têm uma procura menor. Para lidar com essa procura menor de estudan-tes, os politécnicos têm um pa-pel decisivo porque têm a possi-bilidade de adequar a sua oferta melhor às necessidades da eco-nomia regional. Criámos os cursos técnicos superior profis-sionais, de dois anos. São uma continuidade natural do ensino profissional e do ensino voca-cional. Ao mesmo tempo cor-respondem a uma necessidade da economia portuguesa, da existência de técnicos de nível intermédio. E a uma necessida-de dos jovens necessida-de terem uma qualificação profissional supe-rior mas intermédia, que lhes dê uma saída profissional. Isto é uma medida estruturante,
por-Restrições
à gestão “não
se aplicam” ao
Ensino Superior
O ministro, fotografado à saída do estúdio da RDP, em Lisboa.
Paula Nunes
RESPOSTA RÁPIDAS
UDP?
União Democrática Popular.
Mário Nogueira?
Líder de uma frente sindical portuguesa. Professor? Aluno Família? Sociedade. Pátria? Nações. Nuno Crato? Eu próprio.
que dá aos Politécnicos a possi-bilidade de terem muito mais alunos, de se reorganizarem. Outra medida estruturante que vai aparecer em breve é a legis-lação sobre os consórcios de Ensino Superior. Vão incentivar as Universidades e Politécnicos a conjugarem esforços e a parti-lharem recursos de forma a funcionarem quase como uma escola única, no sentido em que podem criar cursos em comum. Mas continuamos a ter as mes-mas estruturas e a mesma dis-persão em termos territoriais sem que exista efectivamente a junção de politécnicos, de fa-culdades. Isso não aconteceu e está também nas tais linhas de orientação da coligação. O que se vai fazer?
Vai-se certamente mais longe nos próximos anos. Mas algu-mas coisas aconteceram. O mais visível foi a criação da Universidade de Lisboa. A ac-tual Universidade de Lisboa
re-sulta da fusão de duas universi-dades. A isso não são estranhos um conjunto de motivos que são gerais, que não são apenas de Lisboa, que são a necessidade de melhoria em termos de rea-lização científica, de conjuga-ção de esforços entre as diver-sas Faculdades e diversos insti-tutos. A criação da Universida-de Universida-de Lisboa é um passo impor-tante nesse sentido. Outro pas-so que se registou foi o consórcio do Norte. Pode-se ir neste sentido da constituição de consórcios locais. Não quería-mos, nas devíamos tomar uma conjunto de medidas adminis-trativas de vamos fechar este Politécnico, aquela Universida-de, ninguém ficava contente com isso. Há aqui uma pressão no sentido de caminhar para uma racionalização da oferta e essa pressão através desta legis-lação e através destes exemplos que eu dei, certamente vai dar mais resultados no futuro.■
Lei
Ministro não percebe receios dos reitores sobre
a nova lei de enquadramento orçamental.
“Há 102
alunos que
querem
resolver
o problema”
Alunos da Lusófona que querem
tirar cadeiras em falta ou
verificar creditações.
Quase três anos após o rebentar
do caso da licenciatura de Miguel
Relvas, a auditoria à
Universida-de Lusófona não está concluída.
Quando é divulgada a auditoria
à universidade Lusófona?
O relatório não está concluído, o
processo está em curso. O que
aconteceu, foi que…
Já passou imenso tempo.
Estas coisas demoram tempo, mas
são feitas. A Inspecção-Geral teve
que analisar e reanalisar centenas
de casos. No momento em que se
percebeu que havia
irregularida-des na creditação de alguns cursos
foi necessário verificar quais
eram. E a Inspecção passou meses
a analisar esses casos, com os
fun-cionários da Lusófona. Chegou à
conclusão que havia, salvo erro,
152 casos. E notificou a Lusófona,
para que declarasse nulas essas
creditações, esses diplomas.
Algo que creio que a Lusófona
ainda não fez, pelo menos em
todos os casos.
Não sei se fez em todos, mas fez
em muitos. Sei que algumas das
notificações não foram registadas
pelos próprios. Mas são processos
em curso. O importante é que a
Inspecção notificou a
universida-de e a universidauniversida-de notificou os
estudantes. E dos 152 casos é
im-portante que 102 já declaram que
querem resolver o problema. Ou
seja, querem tirar as cadeiras em
falta ou verificar as creditações
que estão erradamente atribuídas.
O essencial é dignificar as
univer-sidades portuguesas. A nossa
preocupação foi que a sociedade
tivesse confiança que um diploma
corresponde a algo de sério.
Não era isso que se passava. Estão
previstas sanções para a
Lusófo-na? Alguma responsabilização?
A lei é omissa nesse aspecto. A
Lu-sófona já teve uma advertência
formal. Está a colaborar e vamos
acompanhar até ao fim para que o
processo tenha conclusão. Mas ao
mesmo tempo fizemos uma
alte-ração na lei em 2013 para acabar
com um regime em que as
credi-tações por experiência
profissio-nal podiam ser ilimitadas. Há
pes-soas que fizeram óptimas coisas
na vida, mas não é por isso que
têm um diploma.
■B.F.L. e R.L.
País: Portugal Period.: Diária
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08-06-2015
Destaque
Grande Entrevista a Nuno Crato
Bruno Faria Lopes e Rosário Lira
bruno.lopes@economico.pt A coligação PSD/CDS tem con-dições para continuar a gover-nar, afirma o ministro para quem o PS mostra vontade de continuar no caminho do actual Governo na área do Ensino. Há condições para esta coliga-ção ganhar as eleições? Sim. Há todas as condições. Com maioria absoluta? Creio que as condições estão abertas para haver uma maioria absoluta. Mas mesmo que não haja uma maioria absoluta, jul-go que o jul-governo desta coliga-ção mostrou que resolveu pro-blemas dramáticos em que o país se encontrava. Iniciou o seu mandato numa situação muito difícil e conseguiu ultrapassar as dificuldades. Hoje temos um
horizonte melhor, temos outras possibilidades de crescimento. O Governo, em situações de ex-tremas dificuldades, cumpriu o seu papel.
Estando tão confiante, poderá vir a ser ministro de novo caso venha a ser feito o convite? Nunca penso nisso. Tenho mui-to orgulho em ser professor de Matemática na Universidade de Lisboa. Eu estou completamen-te focado em completamen-terminar esta mis-são, em terminá-la bem. Julgo que há uma série de coisas que conseguimos. Quer no Ensino Básico e Secundário, como no Ensino Superior, como na Ciên-cia, que está a passar um ano de ouro. Isto são resultados que se devem, em primeiro lugar, aos cientistas e investigadores por-tugueses, mas também a muitos incentivos que foram colocados nos locais certos.
Já leu as propostas do PS para a
“Linhas do programa do PS têm
muitas medidas que nós fizemos”
Legislativas
Crato acredita em maioria absoluta para a coligação. E chuta para canto possibilidade de segundo mandato.
Paula Nunes
Educação? Disse que algumas das medidas são inexequíveis. A quais se estava a referir? Estava a referir-me à colocação de professores. Há ali meia dú-zia de coisas que não me pare-cem bem trabalhadas. Mas tal-vez fosse mais interessante
dis-cutir programas eleitorais quando eles aparecessem mes-mo. Neste momento existem uma série de linhas do progra-ma do PS. São linhas para um programa. Essas linhas têm muitas medidas que são aquilo que nós fizemos.
A continuidade dos exames, por exemplo?
São aquilo que temos estado a fazer.
E isso é bom?
Acho que é bom. No outro dia tive uma discussão interessante com o Tony Blair. A certa altura disse-lhe: “mas eu não perce-bo, o senhor é socialista e está a dizer coisas que são exacta-mente o mesmo que nós esta-mos a fazer no nosso Governo”. E ele disse: “São as coisas que é preciso fazer. Gostaria imenso de estar no vosso Parlamento a discutir, só tenho o problema de não saber falar português”. E
perguntei-lhe: “Por que é que as suas medidas foram tão se-guidas pelo Governo conserva-dor que apareceu em seguida”? Ele disse-me: “Quando as me-didas têm sucesso os governos que vêm a seguir gostam de as prosseguir”.
Acha que é por isso que o PS quer prosseguir?
Há um conjunto de medidas que fizemos que o PS, quando voltar a ser Governo - que eu julgo que não vai na próxima legislatura, mas há-de voltar a ser porque a democracia é assim e ainda bem - vai prosseguir esse conjunto de medidas. Outras, que estão nas propostas, são para mim menos claras e algumas até me surpreendem, porque parecem contrárias aquilo que tem sido dito nos últimos debates. Mas gostava de discutir isto quando houvesse um programa para discutir.■