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£ /WiPLACy^ •<ri Ai*< -'eBIBLIOT^A
UNIVERSIDADE
NOVA DELISBOA
FACULDADE DE
CltNCIAS
SOCIAIS E HUMANASDEPARTAMENTO DE
HISTORIA
DA ARTETESE DE MESTRADO DA
ÍREA
DEHISTORIA
DE ARTECONTEMPORÂNEA
-"ILUSTRAÇÃO
E GRAFISMO NOS ANOS20"-aa
\*'-H.
XJILXHÍ
),
ri >»>X-'•y^s-*>'ray
;,(vts.v
-ri '*•> Of |)C -A'*' /Agosto
ae 198b1
PLANO
I -
INTRODUÇÃO
1II - AS
RAÍZES
4Reflexão
sobrealguns
acontecimentos artísticosda década de 10.
III - OS MAGAZINES 19
Introdução
geral.
"Ilustração
Portuguesa".
"ABC"."Ilustração".
"Magazine
Bertrand"."Civilização".
"Europa". "Voga".
Brevereferência
ao"Cinéfilo"
e a
"Imagem".
IV - AS CAPAS 64
r.-.trocX~'
C77l."Ilustra:'""
PcrririeX7 X-X'7"Ilustração".
"Magazine
Bertrand"."Civilização"
V - OS ILUSTRADORES 89
Introdução
geral
.1-19 grupo: Bernardo
Marques;
AntónioSoares;
Jorge
Barradas;
RobertoNobre;
Stuart deCarvalhais;
Emmeri coNunes;
FredKradolfer;
AlmadaNegreiros;
A.Sanchis
deCastro,
Jose DiasSancho,
Apeles Espanca
eCottinelli Telmo.
2-29 grupo:
Tom,
CarlosBotelho,
OlavoD'Eça
Leal,
José
Lemos;
José Tagarro, Júlio
deSousa,
Lázaro_
Veloso,
Rodolfo da CunhaReis,
LinoAntónio,
José
Amaro, João
Augusto Silva,
PauloFerreira,
^Carlos
Carneiro,
João
Carlos,
OféliaMarques, José
RochaPereira,
Cunha Barros e Ilberino dos Santos3-39 grupo :
académicos
eparticipações
episódicas.
VI -
CONSIDERAÇÕES
FINAIS 104BIBLIOGRAFIA EM VOLUMES
CATÁLOGOS
BIBLIOGRAFIA EM
PERIÓDICOS
I -
INTRODUÇÃO
"21J
7.7-,"."
C f? O' ririm: ■-..!"'- -r.'.;" .-»-., ;■,-■■;,■;;,■.; Cx.e noslançaram
ã
aventura de um trabalho que apartida
seapresentava
tao vasto e com fronteirastão
elásticas
,e que por fidelidadeapresenta
mos como seutitulo
efundamento.
Com elasiniciámos
um percurso deinvestigação
quenaofoi
linear nem fiel apressupostos,
mas quepelo
contrario se foi estabelecendoã
medida cue aspistas
se faziamedes-faziam,
consoante osobstáculos
e osentusiasmos!
0 tema
sugeria
múltiplos
vectores depesquisa
e os mais diversifi cadosobjectos
deanálise,
tais como, olivro,
ojornal,
omagazine,
ofolheto,
ocartaz,
so para citar os maisóbvios,
e por elesprinci
piámos
otrabalho,
tentando seleccionar detão
vastoconjunto,
os ele mentos quepossibilitassem
arealização
de um trabalho coerente, nos limites detempo
que seimpunham.
Algumas pistas
ficarampelo
caminho etambém
alguma
investigação
realizada,
como o caso concreto doperiódico
humorístico"Sempre
Fixe",
que so por si era suficiente para aelaboração
de outro trabalho co* zrcyiy ■: irintic;.:. XXív r: r -:
XXX:.
:r: ="Cordczy
rãnea"
e a"Presença",
com uminegável
interesse(mas
divergente)
pa ra o tema emquestão,
ou ainda ainvestigação
em livros oujornais,
pela consciência
de que um levantamentotão
vasto ediversificado,
iria eternizar umtempo
detrabalho,
oupelo
menosprolonga-lo pormais
alguns
anos.Foi assim que os
principais
magazines
destes anos, acabaram porcriar,
so porsi,
um espaçopróprio
eautõnomc,
obrigando
ã
exclusão
dos restantes vectores depesquisa
eapresentando-se
como um bloco ho mogéneo capaz de fornecer todos os elementosnecessários.
Nascidos quase todos do fervilhar dadécada
de vinte -ã
excepção
da "Ilustração
Portuguesa"
que surgealguns
anos antes - eles foram na realidade umfenómeno
deépoca,
edaT
a suahomogeneidade
e os seusmúltiplos
pontos de contacto, e como talimporta
analisá-los.
M
funcionando
apenas comoreferências
para esteconjunto,
surgemtambên
masligados
exclusivamente aocinema,
e índices depreocupações
novas, osperiódicos
"0Cinéfilo"
(1928-193?) eAn!mage-"
'lQ3G-193rXpy-último
jã
situado num contexto de tempo diferente. 0"Noticias
Ilustrado",
com a novidade dasgrandes
reportagens
fotográficas
e da rotogravura, apresenta
umnúmero
poucosignificativo
deilustrações
(em
desenho),
sendo por issoigualmente
exclufdo. 0 mesmo sucedeu a "Contemporânea",
mas por motivosdiferentes,
jã
quepela
qualidade
inova dora da suacolaboração gráfica
eliterária,
se oferecia em alternati va a estas revistas niveladas por umgosto médio
de consumo.Delimitado assim o
objecto
deanálise,
ainvestigação
prosseguiu,
pelo
levantamento exaustivo - tantoquanto
possível
- dasilustrações
assinadas,
que os artistas nacionaisproduziram
para estesmagazines,
entre 1920 e 1930- trabalho queapresentamos
sistematizado emquadros,
nos anexos - ao mesmotempo
que se recolhiam todos osartigos
suscep tíveis depossuir
algum
interesse para a historia socio-cultural des tes anos.Questionados
no seutodo,
estesmagazines
fornecem deste modo,umac-'pla
respostapelas
"imagens"
qu-° fazem roda»",sinuitân^rnp*-1'--
ocri-i-u=ts e
visuais,
jã
que aprópria
ilustração
contém
em si mesma, a duali dade funcional entre o discurso narrativo e oplástico.
Dal
que aorganização
dos dadosrecolhidos,
foitambém
elaobjecto
de
múltiplos
ensaios,
na tentativa deequacionar
asquestões
mais importantes,
mas evitando operigo
de umasobreposição
ou de uma repetição
sistemáticas;
pptãmos
por dividi-los em dois grupos, correspon dentes aos doisprincipais capítulos
- osmagazines
(como
entidadesautónomas),
e os artistas que nelescolaboraram,
tornados ambosobjec
tos deanálise individualizados,
mas evidentementepermeáveis
pela
suareal
coexistência.
Entre estes dois
blocos,
surge umoutro,
em que os dois elementos sefundem,
pela análise
das capas, num processo facilitadopela
ausên
cia de textos;
aqui
afusão
é possível pois
nestasimagens
quedão
um rostoãs
revistas, está
implícita
não
só
aespecificidade
de cada umaDe certo modo
introdutório
ao tema, oprimeiro
capitulo,
resulta da necessidade deperveter
as raízes destasactividades;
nele auscultamos ?lqu*7 cos acnriic-cripriosa--*7-
-Xcr- rr?-'" i"-C"'a"tes X.'XíryA:
r1- der.e as
polémicas
quefazemdesencadear,
numaanálise perspectivada
em furvção
dassobrevivências
que nestesmagazines
seregistam
durante os ancs vinte.0 trabalho que se
irá desenvolver, responde
aalgumas
questões pré
vias que assentamemtrês
elementosindissociáveis
- oartista,
opúbli
co e o
importante
veiculo decomunicação
entreeles,
omagazine.
0 querepresentaram
como intervenientes dum processocultural
eartístico
de que fizeramparte,
emque medida contribuiram para adifusão
e assimilação
dos novosvalores,
equal
a suaacção
conjunta
nadefinição
de umgosto
cultural, são
algumas
dasquestões
a que procuraremosresponder.
V
II - AS
RAÍZES
"O
humorismo,
nosespíritos
Õ
aleveza,
a espuma, a graçafútil"
Norberto de
Araújo
"0
magazine é
a espuma davida,
tudoquanto
ela tem debranco,
de rendilhado"António
Ferro"De que tristeza se
não
deixaria invadir o saudosoBordalo,
se lhe fosse dado observar a mentalidadeportuguesa, representada
neste certame de arte e de
graça",
comentava em 1927 ocritico
doDiário
daTcriue, a
propósito
dos humoristas noSalão
S-.vh Porte eir. se.v.v y-talgia,
fazendo ao mesmo tempoapelo
as "virtudesrãcicas"
e naciona listas do nossohumor,
ousejam,
"agraça",
o "arfolgazão"
e o"pito
resco",
de modo apoder
demarcar-se das correntesinternacionais,
também
elascaracterizadas;
e termina o autor: "os que arvorar! a bandeira
revolucionária
do humorismo ...não
poderão
despreíar
o cunno característico
dachalaça portuguesa"
(1).
Afirmações
que se situam numaparente
desacerto detempo
e decul turaartística,
sobretudo se recuarmos umadécada
e nos colocarmos emplena
e recentepolémica
humorística
frente aafirmações
como a de Nu no Oliveira numcomentário
ao(seu) segundo
salão:
"como se a carica turanão
tivessetambém
a suaevolução,
como se os nossos humoristastivessem de se conservar
ainda,
dentro das normas criadas por Bordalonas
páginas
- de restoadmiráveis
- dospontos
nos ii e doAntónio
Maaia".(2)
Se estes
depoimer.tas
reflectem por um lado odesajuste
de uma evolução
critica
-q-je apesar de não poder ser
generalizãve-
, torca por vezes
aspectos
significativos-
por outro, e dado o tempo que os separa,manifestam o
fenõrr-eno
extremamenteimportante,
que foi o perpetuar pelos anos vinte de uma
preocupação
pelo
sentido e nadefinição
de um termosurgido
em 1912.Se em
1911,
aprimeira
tentativa dearejamento
do panorama artísti coportuguês
sai fracassadopelas mãos
de artistas bolseiros emParis,
exposição
cue d-'-tão
"livre" r*- riXr--' i «-ri.drz para çp ofprr-.-er como alternativa ao naturalismo que se ia
mastigando
econsumindo,
logo
em 1912 e1913, através
dos doisSalões
de HumoristasPortugueses,
Lisboa e finalmente sacudida por uma"nova"temãtica
e envolvida por outros enredos. 0 desenhohumorístico
abrecaminho,
emboranão fique
bem claroqual
a sua face ou o seucarácter,
como ficou expresso na conhecidacritica
deVeiga Simões
aprimeira
exposição,
e bem eviden tepela
participação
dosartistas,
muitos deles vinculados ainda auma
tradição
e umtraço
naturalista - eê
de salientar ahomenagem
que nela ainda
é prestada
a Rafael Bordalo Pinheiro - ao lado de outros mais risonhos e ruidosos como
Emmerico,
Sanches deCastro,
Mene zesFerreira,
AlmadaNegreiros
eJorge
Barradas que entre outros,estão empenhados
numarenovação
estética
e atentos ao novo desenho eu ropeu.Jorge
Barradas,
numapágina
de memorias recorda-nos o desencadear deste processo; tendo conhecido Joacuim Guerreiro"simpático
moço masaleijado íípse^hsdor",
foi oor ele ^cnvd-^dn a n^riicinar nina "revista
humorística
de vistosoaspecto
. intitulado "ASátira",
onde "deparelha
com os que nessaépoca
praticavam
uma sensaboria a que chamavam caricatura e veneravam como bonzos o culto do
R.Bordalo",
conhe ceu StuartCarvalhais,
editor darevista,
e donde saiu a ideia da fundação
duna "Sociedade de HumoristasPortugueses";
"nessa data ocorreu e nasceu a iniciativa dafunção
doprimeiro
grupo dos humoristas e a necessidadeurgente
deorganizar
umaexposição
colectiva com osaudá
vel
propósito,
emboraaudacioso,
de sacudir paralonge
e de vez se possível
a tristezalusiada,
cinzenta miudinha que aos poucos nos tornava mais
pálidos
esaudosistas",
horamemorável
einesquecível
pelo
que provocou - "Lisboaalvoraçada,
pasmava ante tãoinsólito,
quanto
inédito acontecimento".(3)
Testemunho de
época
curiosa, quanto esclarecedor de como a vidaartística
nacional decorriaparalelamente pelo
acontecimentoepisódi
co deexposições
- colectivas ou individuais - e naparticipação
sistemática
dos artistas em revistas ejorrXs,
que sendo para m;rtos neLado a
lado,
exposições
epuolicações
- asprimeiras
com u»-impac
to
aparentemente
mais fortejunto
aopúblico,
assegundas,
rotineiras(■■ -.pi:-. rij r;■. ;.i;;rij
lógica
(llj-v n T*eV*S(e,'f''''r
" ~~■; [" -y-rriOnr. -,.1 ■ jt
têm
contudo afunção
útil
de preparar visualmente o leitor para umaconvivência
mais diversificada com os artistas. Duss actividades que seinterpenetram
e com umjogo
deinfluências
reciprocas
eequivalen
tes na vida
artística
nacional.Iniciemos uma
rápida
passagempelas
publicações
dos anos10,
pela
jã
referida"Sátira"
(1911),
cujo
editor foi Stuart Carvalhais e quecombinou a
participação
de"novos"
como Stuart e AlmadaNegreiros,
com outros que
consigo
arrastam otraço
herdado datradição
naturalis ta, caricatural no sentidoburlesco,
a queestá
vinculada por sistemauma
preocupação
desátira
politica,
presa ainda a umimaginário
de tipo
"Zé Povinho"; Joaquim Guerreiro,
Pinto daSilva,
FranciscoValença,
Alfredo Cândido
são alguns
dos nomes que nos surgem numarápida
apreciação.
Do mesmo ano, citemos a "Garra
"(1911),
que sendo umsuplemento
da "Sátira"mantém
como directorartístico Joaquim Guerreiro,
mascujo
edi rir egercr-te é
Cercos Gra' yo, mais jT.a ver. r,cAí
-JõJc ori.t., • ;-.-.,
predominância
da caricaturapolitica,
pontualmente
interrompida
por Cristiano Cruz ou Stuart.São inúmeras
aspublicações
humorísticas
que cobrem adécada
de10,
"0Thalassa"(1913-1915),
"OsRid1culos"(vindos
jã
doprincipio
dosé
culoaté
1915),
"0Moscardo"(1913),
"0Mathias"(1913)
, "A Lanterna"(1911-1913),
"0Adesivo"(1911),
a listapoderia
ser fastidiosa sobretudo se a ela fossem acrescentadas outras nascidas em cidades de me
nos escola. Com uma
qualidade
gráfica
eliterária
totalmentemedíocres,
nelasnão
nos deteremos para alem da suacitação.
Merecem mais atenção
"ABomba"(1912)
,cuja
direcção
artística
foimanipulada
por Cris tiano deCarvalho,
e onde se encontram dois dos maisimportantes
desenhos de Almada deste
período
(4);
o seuperfil
gráfico
é
claramente outro, assim como a "Rajada"( 1912)
,dirigida
em Coimsra por Correia Dias "o maisfino, equilibrado
einteligente
artista que temproduzi
do a
(sua)
geração"(5)
cujo
afastamento , desviou aevolução
da re centemodernidade,
que com ele teria sido necessariamente diferer»te.Gmesmo aconteceu a Cristiano
Cruz,
apredestinar
fatalmente e num estra nhoparadoxo,
ageração
que afinalpelo
riso se tenta afirmar.Do Porto surge-nos um curioso
semanário
decaricaturas,
o "MIAU"(1916),
editado porMário
de Oliveira e que combinafrequentemente
ahabitual
colaboração
rortu^u*3?-? - rijrii*-.--, (je t>*;?■:o« e d>- i'"tenções como Manuel
Monterroso,
Leal daCâmara,
Manuel Gustavo Bordalo Pinhei ro, ao lado de Cristiano de Carvalho e Ba lha e Melo - e desenhadoresestrangeiros
deimportância
decisiva na(in)formação
do novogosto
-Steinlen,
PaulIribe,
OlafGulbranson,
BrunoPaul, Bagaria,
Tovar eOpisso,
são
alguns
desses nomes que povoam comgande
densidade estarevista,
mas quemantêm
no entanto muito aceso umimaginário
de guerra altamente
politizado.
São
muitos osjornais
que por esta viachegam
ao conhecimento dos artistasportugueses
- "LeRire",
"LondonOpinion", "Ulk",
"L.BTàtter",
e os mais conhecidos como o
"Meggendorfer-Blàtter"
(onde Emmérico
Nunes colaborou em
Munique),
ou o"Simpl
icissimus"talvez
apublicação
maisprestigiada,
que reunindo acolaboração
dos melhores desenhadoreseuropeus como
Pascin,
Chéret,
KarlArnold,
e osjã
referidos Olaf Gulbranson e Bruno
Paul,
entre os maisdestacáveis,
canalizava edivulga
va as diversastendências
dos seus colaooradores - ojugenstil,
opré--expressionism'-
, nsimbolismo,
ateã
interpretação
eí;W77.-nt«= Ho?p^a-..
clpios
formais do cubismo.Fechado este breve
parêntesis
internacional,
regressemos a cena portuguesa,
com a maisimportante
realização periódica
desteperíodo
- o"Papagaio
Real"(1914)
onde AlmadaNegreiros
foi directorartístico
durante sete
números
com uma pequena masqualitativa
produção
gráfica,
apar de outros colaboradores como
Stuart, Barradas,
ouRodriguez
Casta-ne.Na capa inscrevem-se os
objectivos
- de caricaturapolitica
e humo
rismo - a
distinção
necessária fica desdelogo
definida para umórgão
que se
pretende
com umaresponsabilidade
e umaconsciência
ideológica
diferente das restantes.
0 ano do seu
aparecimento
coincide curiosamente com o fracasso datentativa da 3-
Exposição
dos Humoristas em Lisboa etambém
com a novidade do termo
"modernista",
a classificaralguns
dosparticipantes
do habitual
Salão
da Primavera da S.N.BA.(Viana,
D.Rebelo,
Dordio Gomes,
Miliy
Posso.z e A.Basto)
saudados com entusiasmo por u;vconjunto
heterogéneo
depaisagem,
retrato e caricatura - dado novo e deespe
cial
significado
noquadro
mental eteórico
desteperíodo,
todo ele atravessado por umagrande
confusão
terminológica,
e em que asexposi
ções
sesucedem;
em
1915",
"humoristas" e "modernistas"reúnem-se
no Porto emgrande
fes tamundana,
no anoseguinte
os "modernistas" isolados reclamam o seusegundo salão,
a oue se acrescenta um outro denominado de "fantasistas",
daresponsabilidade
de Leal daCâmara,
que em 1917organiza
sob o nome de"Arte
eGuerra",
mais umamanifestação
de vagocarácter
"modernista"^)
.No
entanto,
uma outrapolémica
de basesteóricas
e deconsciência
estética
maisfirmes,
consegue neutralizar este ambiente de mornas indefinições;
com umimpacto violentíssimo
frente aoprovincianismo
docidadão
comumlisboeta,
pela
força
deprovocação
com que se insinua em manifestos econferências
ruidosas a par de outrosgestos
dequotidia
no
igualmente
desconcertantes,
o Futurismoimpôs
uma novadinâmica,
exactamente durante esteperíodo
de 1915-1917. Tentativa de acertar o passo com o ritmo europeu, delasurgiram importantes
factos culturais nessesentido;
"0rpheu"(1915),
"Centauro",
"ExTl
io"(
1916)
e"Portugal
Futurista"(191 7)
forampublicações
de sentido essencialmenteliterá
rio - aparte
algumas
reproduções
fotográficas,
apenashá
a assinalar na "Centauro" um hors-texte de Cristiano Cruz - onde sedivulgaram
osprincípios
te-Xicos
do sensacionismo e do intercpccíonismoliterário.
mas que resultaram afinal merosepisódios
na vidaartística
nacional- a sua
violência
nao seprojectou
paraalém
deconsequências
imediatas.
Acontecimentos que apenas nos interessam como
referência cultural,
e na medida em quepermitiram
serultrapassados pela
polemica
humorismo/modernismo
que lhes sobreviveu. As causas destasobrevivência
e o modo comoevoluiu, são
portanto
os dados queimporta
reter e analisar maisaprofundadamente-
qual
o sentido e aevolução
de um termo que tendo o seu nascimento em 1912 seprolonga
até
finais dos anos20,
comimplícitas apropriações
não
soestéticas,
mastambém
sociais."Abaixo a caricatura
politica!"
e o lema a que os novos se agarrampara o desencadear deste processo, e
também
otitulo
de umimportante
testemunho para o entendimento da suaprimeira
fase(7).
Em
vésperas
da IIExposição
dos Humoristassão
entrevistados ospró
prios
participantes,
num clima que sepercebe
degrande
entusiasmo e expectativa: "serão
uns dias de boaalegria
neste caso lamentoso da nes sa raça ... a dor dasárvores sucederá
agargalnada explenaida
deGar-vani",e
termina ocomentário
dojornalista
com a pergunta: "temos umrejuvenescimento
daalegria,
e vamos ver em novosmoldes,
ocomentário
ã vida,
ao amor, aalma,
apolitica?"
São
"entrevistados CristianoCruz, António Soares, Jorge Barradas,
AlmadaNegreiros
e Alberto deSousa,
e imediatamente nosapercebemos
de duasposições
dc confronto er.tre osprimeiros
e oúltimo,
e se evi denciam ospontos
maissensíveis
e..1questão.
Cristiano Cruz constata orejuvenescimento artístico não só pela
quantidade
equalidade
dostrabalhos,
mas sobretudopela
"derrotainfligida
a caricaturapoliti
ca, estreita e cheia de limites".Idêntica
atitude a deAntónio
Soa res que se confessaprincipiante
e por isso semopinião
de peso, mas que considera o"golpe
dadoã caricatura,
o melhorgesto
dosnovos",
assim como Almada quecontrapondo
CelsoHermínio
a Rafael Bordalo Pinheiro tocasegundo
umaperspectiva
histórica,
umaquestão
vitalpara o desenvolvimento da caricatura
portuguesa; segundo ele,
opri
meiro,
longe
dos moldes dogrande
mestreconsagrado
foi "umincompre
endido porqueinovador", depreendendo-se daqui
aascendência
portugue
sa no fio evolutivo dos novos desenhadores.Em
total
antagonismo
com estasafirmações
odepoimento
isolado de Alberto de Sousa intercalado um pouco a ridiculo com os restantes,queaponta
como oprincipal
defeito daexposição
adesnacionalização
dacaricatura,
pelo
afastamento dos processos de Bordalo "ou.- e todoportuguês".
E acrescentasignificativamente:
"Em Lisboa nao e-istem as fi guras que constituem o assunto dos novos".(...)
Jorge
Barradas mais conciliadornão
comenta aexposição
em termos dereevindicação
teórica,
apontando
antes os seus melhoresparticipan
tes - Cristiano Cruz como "mestre dos
novos"(e
como tal seirá
manter ate a suaausência
o tornar num mitocarregado
designificações),
Al madaNegreiros
como promessa eAntónio
Soaresjã
reconhecido como fi gura isolada na intimidade do meioartístico,
mas "dentro de poucoum dos melhoresexpositores
do nossosalon",
se ensaiar um pouco mais essaconvivência.
Posições
extremadas que coabitam o mesmo espaço deexposição
e que lado a lado provocam as maisdispares reacções
de umpúblico
conside radopela critica "fútil
emíope";
incompreensão
frenteãs
"manifesta-.çÕes
de artepura",
visível pelos "bocejos"
saudosos da boapiada
constitucional,
ou entusiasmo evibração
que "ordenham ainda ateta
exan gue dapolitica
para alimentarem as suasdébeis
propensões
rabiscado-ras" esses tais que lhe'escancara
adentuça
... emgargalhadas
Jecomplacente
e risonhabenevolência".
Grande
'destaque
daparte
destecritico
para Stuart deCarvalhais,
delápis
comparável
emvigor
ao deSteinlen,
e que deve o seu sucesso rã-n-doâ ascensão
c\r "brouhaha das turbas,ãs
silhuetasfugidias
das rainhas, doboulevard,
tudo isso, enfim de queé
constituída
atragi--comédia
dagrande
metrópole".
Também Jorge
Barradasé
elogiado pela
captação
dos"ridículos
dandinescos dajeunesse doré"
e das poses es tudadas daselegantes
que sepasseiam
pelas
ruas da Baixa(8).
Assim se colocam em 1913 e em
jeito
de leveapreciação
detrabalhos,
ostópicos
de uma alternativatemática 5
caricaturagrosseira
do conteúdo
politico,
umafixação
aos"aspectos
mais subtis davida",
deum modo aindanão
totalmente consciencializado porparte
dos comentaristas, mas desde
jã
enunciador de futurasformulações
teóricas
e(práti
cas)
.Enquanto
Lisboa eratemporariamente
sacudidapelo
deflagrar
da controvérsia futurista,
e num 19Salão
deIndependentes
se tentava umadistanciação
face aosmodernistas,
noPorto,
um acontecimento marcava de modo decisivo adeterminação
evolutiva do conceito dehumor,
emboraaparentemente
osequívocos
se acentuassem num certame que reunia emsimultâneo
Humoristas e Modernistas."Continua a
exposição
a serpobre
de humorismo. De modernismo esta agoraregularmente
revestida ... começa a pensar-se asério
em questões
dearte",
comenta ocritico
doSéculo,
louvando a "brilhante cru zada" que fez esqueceros"políticos
incomodativos"
e os "discursos decontrabando"(9).
Dando
crédito
a estasafirmações poderíamos
deduzir um certo recuo do humorismo faceã
consistência
crescente de uma artepensada
a"sé
rio",
ao mesmo tempo que se reafirmam sem novidade as hostilidades com ospoderes
legislativos;
no entanto, todo o ambiente que envolve a exposição
vemcontrariá-las,
jã
que tornada em festa mundanapelos
seusA
Cidade,
a Mulher e aEstilização
são
ostrês
elementos fundamentais em que o autor se baseia para analisar a obra e o
carácter
dos no-vosalistas,
o-iiurrisameX a...í-ccivridCL.iri-.Xipics
ostes ~uo adquirem
umacapacidade
deintervenção,
pela
interacção
vital a que estão subordinados;
isoladosnão têm
dinâmica
própria,
e o sentido é--Ihes fornecido por um contextosõcio-urbano
deapoio,
por "uma hora quepassa"
e que se vive "com uma intensidadearchi-doida",
por uma vida elevada adimensão
de "tentacular" e"vertiginosa".
As Cidades
possuidoras
de "filtrosinvencíveis"
e com "captivãn-ciassingulares,
dyonfsicas
e tramas deenlouquecer",
substituem-seemtermos definitivos aos
poderes
que"jã
nem fazemrir",
eidentificam--se com as
mulheres,
que revestidas de umpoder esotérico
e quase sagrado
encarnam avertigem
dos novostempos
- "asdanças
esgotantes
queâs
atitudes das mulheres trouxerammovimentos,
rytmos,
coleios,
exasperos, levesas de asa,
fragilidade
de caule e maciezas deonda",
enfeitiçaram
os artistas que com uma"doença
estética
quasesexual",
inventaram novos
traços
"dentro doprincipio
queé preciso
saber formar pa radeformar",
noprincipio
afinal daprópria estilização.
,X mesmo tom dê exjberc..,á
literária,
'.co -.cXiiõe^
7ross-.;-j. ua bx.<apreciação
docaricaturista, apontando
comoexemplos
a seremseguidos,
desenhadores de moda como Paul Iribe ou
Georges Lepape,
queagitaram
olápis
"emguisa
de flautatentadora",
e ensinaramâs
mulheres a graça doporte
e dos meneios.Numa
acção reciproca,
osartistas,
a cidade e as mulheres elevaram a moda a um estatutoprevi
ligiado,
centralizando o conceito de humo rismo numatemática
estritamente mundana,Segundo
o autor,alguns
dos nossos desenhadoresprosseguiam
jã
nessavia,
desde otempo
de LuizPhilippe,
em Coimbra "o mais velho dacorja
dostrocistas", até
aosmais recentes como Almada
Negreiros,
Stuart de Carvalhais ouJorge
Barradas.Assim,
em 1915 numaexposição
quetambém
é
demodernistas,
o humo rismosobrepõe-se
de um modoóbvio,
eê
clarificado - em termos literários
massignificativos
- "como um artistarequintado
que ama
asmu-lheres,
osjardins,
osgalgos
e as cores mortas ..., a que se acrescenta em tom
festivo,
"o humor do nosso tempc empunhe a taça aeE terr-.X de ur modo
conclusivo
estadissertação
teórica,
empunhando
com uma frase alegenda
do "humorcontemporâneo":
"o corpo da mulher vale mais que todo o corpolegislativo"(12)
.As
frequentes alusões
deste autor a revistjs emagazines
daépoca
(a "Rajada",
"ASátira",
a"Farsa")
,mais uma vez nos confirmam o seupapel
determinante naevolução
destatemática,
não
so como meio de sobrevivência,
mastambém
meio dedivulgação
pelo
grande
público
e deaprendizagem,
comoê
o caso citado de CorreiaDias,
muitas vezes surpreendido
a folhearmagazines
estrangeiros,
como o "Studio". Os artistas que Nuno
Simões
seleccionou para umaanálise
critica,
são
exacta menteaqueles
quepela
suaparticipação
emjornais
erevistas,
"arejaram"
a "arte dolápis",
contra uma velha escola de humoristas que pa raalém
de usarem botas deelástico,
também
ascalçavam
aos seus modelos
(...)(13).
Se em 1916 e
1919,
os Modernistasexpõem
isolados em doissalões
onde Soares e Viana brilham porqualidades
pictóricas,
mastambém
mundanas,
em1920,
aexposição
no Teatro de S.Carlosadquire
neste contento um
significado especial.
Resumindo emsíntese
todos osparticipan
tes das anterioresexposições
(desde
os "livres"até
aos mais recentõ"modernistas"),
sob otitulo
de IIISalão
dosHumoristas,
e repare-Sx como o termo surge, a classificar so para si oconjunto
dosartistas,
reabilitando e fortalecendo um
projecto
desencadeado noinicio
dadé
cada,
temporariamente
ultrapassado
em1914,
e dealgum
modoapontando
uma linha de
evolução
temática pelos
anos 20.Vejamos através
dealguns
comentários
críticos,
aspreocupações
que aexposição
suscita,
ou de um modo maisgeral, aquilo
que o observadorprocura identificar num
conjunto tão
poucohomogéneo.
Tí
curioso verificarmos como aconstatação
dessaheterogeneidade,
e a dificuldade de umaapreciação
deconjunto,
desencadeiamúltiplas
tentativas de definir
"humorismo",
mesmo tacteando por caminhosteóricos
pouco seguros; "e muito
difícil
definir o queseja
humorismo,
vistoque,
participando
de todos os modos deespirito
e de todos os senti mentos egestos,
elenão
sedeixaapreender
por umafórmula
ou porumasó
significação.
Podemo-lo
considerar uma dasforças
livres do nosso ser, renitentes aqualouer
classificação
regular",
comenta apropósito
ocritico
da"Pa-tXX' numa nr»ta
rXtri.a
que »-te-X-> suXriendi da uma cçXanostalgia
tradicional, presente
nas leves censuras aocosmopolitismo
de Barradas tentado por"caprichos
de moda" com que "tenta fixar afugitiva
linha dedonzêis
e donzelinhas malEssexuados]",
oupelo elogio
a AntõnioSoa-res "bucolicamentealgarvio
... sentindo bem a ternura da nossapaisa
gem",
ou Armando Basto que "fuciuã
imprecisa
notacosmopolita",
mar cando um "universoregional
que descobre mais facilmente os valorespoéticos";
emapreciação
global
exemplificativa
acrescenta: "os artis tas que nelafiguram
acham-se bem dentro da suaépoca,
mas certamente um pouco fora da suaPátria.
Alguns
aindajulgam
que o Chiadoé
o mundo,
outrosimaginam
que o mundoé
oChiado"(
14)
.Num universo mental oposto, mas reflectindo
idêntica
fixação
ao con ceito dehumor,
surgem-nos oscomentários
de ArmandoFerreira,
que em dois textosapologéticos
daexposição,
faz comgrande
entusiasmo o elogio
do Humorismo. Naprimeira
apreciação
deconjunto,
onde reconhece "muitagente",
"muitaalegria",
"muito humor" e sobretudo "muita arte'?vplode
emconsiderações
exaltadas sobrp os poderes vision^-ins da caricatura,
que considera uma das mais vivas eexpressivas
facetas da arte: "amamos acaricatura,
com uma dessaspaixões
furiosas eexóticas
como astêm
os quepreferem
o amor das saloias ao deduquesas
ou per fumadasdamas";
estaconfissão
reconvertida para odomínio
artístico
poderá
significar
adesmistificação
das artes ditas nobres, e o valo rizar de umgénero
habitualmenteminimizado,
sobretudopelos
"ilustres e reverendospoderes
burocráticos,
que um dia consultados sobre a interpretação
de caricaturas ehumoristas,
perante
a lei das taxas de objectos
artísticos,
coçaram o craneo escalvadopelas longas
vigílias
diurnas no Terreiro doPaço"
(!).
Mas sobre o sentido do humorismo e da
caricatura,
o facto mais importante
e a suainterpretação
dos artistas como seresvisionários,
queatravés
de dotesespeciais,
como uma"visão
predestinada
noolhar",
uma "estranhafilosofia",
ou uma sensibilidadeartística
próprias,
se tornam nas "creaturas mais raras e maisexcepcionais"(15).
Num texto
posterior,
resultado de uma visita mais demorada e deumareflexão
maissóbria,
o mesmo autor tenta umaabordagem
teórica,
supos tamentefilosófica
sobre ohumorismo,
de tal modoempenhada,
quechega
amergulhar
na raiz dotermo(em
latim-humor,
oris),para
desvendar o seu realsignificado
e reflectir sobre a nossaaplicação.
Desta
pesquisa
académica,
um poucofruste
e desconexa, sobra no en tanto para o caso que nosinteresa,
umacaracterização
da nossa graça; o autor conclui que sendoPortugal
umpais
depiadas, não
tem o verda-deiru seiítidu do huiiior , oqual
t apòivjyio exclusivo dos 11.9leses- e
prosseguindo
numadistinção
por povos enações:
"ofrancês
tem o seu"esprit",
oespanhol
"la broma" e nos a nossa boapiada.
E mais nada". Considerando o abismo que vai do humorestrangeiro
â
chalaça
habituallusitana,
Armando Ferreira incita opúblico
para se libertar de ur ri so pouco subtil ou de umsentimentalismo
exagerado
("todos
nos ternos ocoração
aopé
dos olhos e a almaaté
Almeida")
recomendando como terapêutica
uma visita aoSalão
deS.Carlos,
onde os nossos humoristasestão,
no alinhamento de umavanguarda
europeia
"facetos ejocosos,
maldosos emordazes,
vivos,
álacres,
triunfantes como ainteligência
ou o sol". E termina acrescentando: "Saibamos rir e seremos um povoforte"(16).
Num texto
idêntico,
embora apropósito
daexposição
individual deJorge
Barradas do mesmo ano, ecujo titulo
reveladoré "Humorismo",
Norberto deAraújo
vai um pouco maislonge
no desenvolvimento destareflexão;
acentuando deigual
modo asqualidades
sadias deste termo, no sentido de identiicar o r-so cot.saúde
e fcttaltza - ''0 ru,-... "sta que o sabe ser,é
o homem forte donossotempo.
0 humorismo que nos espíritos
Ó leveza,
a espuma, a graçafútil,
corresponde
asaúde
nos corpos"
- acrescentaporém
alguns
dados fundamentais que oaproximam
dosprincípios
mundanos defendidos cinco anosatrás,
apropósito
daExpo
sição
dos Humoristas e Modernistas.Segundo
o autor, o verdadeirohumorista, não
é aquele
que apenas tem graça, mas o que sabe observar ecaptar
osaspectos
essenciais da vi da, e esta,"a vida da cidade,principalmente
é
acaricatura";
e acres centa "humorismoé
maisalguma
coisa que riso - esorriso,
é
princi
pio
deespirito,
e aestilização
daobservação
intuitiva".Através
des tascitações
temos desdejã
duascoincidências temáticas
-a observa
ção
da cidade e a suaestilização;
a mulher subentende-se das duas, e noutros trechos mais evidentesquando
o autor apropósito
de vida urba naaconselha:
"Vocês desçam
oChiado,
a Rua do Ouro" ...(17).
Podemos assim dizer que o ano de 1920 assistiu ao reabilitar docon-ceití. dc
humor,
tal como foi teoricamente enunciado em19:5,
nagrand?
feia mundana que foi aExposição
dos Humoristas e Modernistas no Porto.Ainda
em meados dos anos20,
nasExposições
doSalão
Silva Porto(1926
e1927),
podenos
verificar asobrevivência
- e aexcepcional
re-ristênci?
- de um Xc-yc, e de umprojecto,
nascidos noinicio
dadécada
anterior. Emboramoribundo,
como notamospelo
tom dedecepção
com que acritica
orefere,
não
deixa de terimportância
nestecontexto(18).
0 insucesso destas
exposições
resultou daausência
degrande número
de artistas: "faltaram quase todos ... os quechegaram,
na maior parte
são
falidos.São
falidos detalento";
no entanto, este mesmocriti
coaponta
comoexcepções
dequalidade,
Emmérico
Nunespelo
"retratotranseuntico de Lisboa num dia demovimento" e
Jorge
Barradaspelas
"suascabeças
de mulher... tocadas deingenuidade
ou devicio",
e re-pare-se nos temas emquestão.
Mas aexposição
de1926,
organizada
por DFuás,
nem mesmo assim se recupera,jã
que como reconhece o autor dacritica:
"tinhaprobabilidades
de ser umagrande parada
depaletas
no vas,modernistas,
mas foi umfracasso"(19)„
Um outro comentarista se lhe refere emidênticos
termos, sublinhando a falta de"alegria
de "bom humor" eaté
de "caricatura, valorizandoporém
todos osaponta
mentos" estruturalmente
humoristas dosexpositores",
dando oexemplo
jg
rXer-An de Barradas comtrês
cabeças de mulher de >-araelegância.
dentro cio"género
humorista"(20).
Sobre a
exposição
de1927,
remetemo-nos para oinicio
docapitulo,
encerrando
umcirculo completo,
em que ironicamente aspontas
se tocam, e lembremos o tom
nostálgico
com que umcritico
lamenta a falta de graça, e aausência
das "virtudesrãcicas"
e"pitorescas",
saudoso enfim de tudo o querepresentava
aherança
de Rafael Bordalo Pinheira Mais de umadécada passada
sobre oinicio
de todo o processo de renovação
artística,
e estedepoimento
recorda-nostambém
queparalela
mente a estaspolemicas,
há
umgosto
oitocentista que permanece com to do ovigor,
facto bempresente
nahomenagem
feita aJosé Malhoa
em1928,
e nocomportamento
de umgrande
público
quetranquilamente
con some os restos de um programanaturalista,
de maisfácil
e saborosadigestão.
Não
deixa de ser curioso verificarmos como no final dadéca
da,
opróprio
humorismo,
que foipretexto
paraprofundas
alterações
estéticas,
se deixa retomar para umapolémica
aparentemente ultrapas
sada - estranhe
paradoxo,
mas decisivo para o entendimento dacomplexa
rede deequívocos
que foi aevolução
da arte portuguesapelos
anos20,
feita por linhas onde se entrecruzarammúltiplos
códigos.
Depoi
s de percorremos todo este tempoatravés
daanálise pontual
dealguns
dos factosartísticos
maisrelevantes, importa
reter o que deles e determ-rtõiv e r?**a o desenvolvriento deste ".ema.
São
facilmentedetectáveis
ospontos
maissensíveis
destaevolução;
em 1912 a
demarcação
faz-sepela negativa,
emoposição
atradição
oi tocentista de desenhohumorístico
de teorpolitico
etraço
e sentidogrosseiros;
a modernidade assim "timidamente" introduzida apretexto
de um riso que sepretende
mais subtil einteligente,
arrastaconsigo
umaestilização
correspondente
a outra sensibilidade noolhar,
e a umaatenção
que desviada dosesclerõticos
enredospolíticos
se fixa noque de mais aliciante a cidadepode
oferecer. Apiada
constitucional
dei xa de teroportunidade quando
o sorriso se substitui agargalhada,
umleve sorriso
provocado
pelos
bons"humores",
pelos
"fluidos" que percorrem as
principais
artérias
urbanas.São
estes osprincípios
de observação
e deestilização
que em 1915 claramente se definem em termos de uma mundanidade bem expressa naExposição
dos Humoristas e Modernistas no
Porto;
ultrapassando
aindefinição
e aambiguidade
do modernismo, assim como a
polémica
que oimpacto
dageração
futurista cempora-.--■aniçptpsuscitou,
podemos
dizer ou° o^iimorisr"0;
sempre l?'"ir*e n* X-correr desteperíodo,
em 1920 sai fortalecido nos seus valores maismundanos,
,nutrindo,
e orientando um percursovagamente
chamado moder nista.Se esta
reflexão
envolveu aanálise
de um conceito formulado noini
cio dadécada
de10,
definido em15,
eperpetuado
em20,
cabenestemo-mento
situá-lo
num contexto maisglobal,
e colocar aquestão
da sua importância
- eoportunidade
- no desenvolvimento de um temaorganizado
emfunção
da actividade dos nossos artistas nas revistas emagazines
dos anos 20.Se as revistas
-paraldamente
ãs
exposições
- estiveram como vimos na base do desencadear deste processo, a ele vão permanecer solidamen tevinculadas, desenvolvendo,
divulgando
e banalizando os modelos dessamodernidade;
asobrevivência
do humorismo tal como foi enunciado, pas sa necessariamente por elas - terreno ideal para entretenimentos munda nos, eindispensável
complemento
material aexposições
malsucedidas,
nele veremos como seirá
desenrolargráfica
e literariamente o que sov-'.: destapolémica.
NOTAS - II
CAPITULO
(i)
itrcio Mirança, ris humoristas Co úa.ao Silva i'C.70",in
Diário
daTarde, 14/8/1927
(2)
Nuno Oliveira "Salon dosHumoristas",
in-República,
17/6/1913
(3)
"Um artista confessa-se -Página
de Memorias deJorge Barradas",
inDiário
deLisboa, 5/12/1963
(4)
"ALiberdade",
27 Abril1912; "Jã está
em minha casa; mas ...quando acordará ela?,
25 de Maio 1912(5)
Virgílio
Correia,
in AÃguia,
19K,
V-2-serie,
p.121,
inJosê--Augusto
França,
A Arte emPortugal
noséculo
XX,
Lisboa 1974(6)
José-Augusto
França,
0 Modernismo na ArtePortuguesa,
Lisboa,
BibliotecaBreve,
1979(7)
"0 queserá
aexposição
dos humoristas? - Falamos
próprios
expositores
que anunci?ramigualmente
umrejuvenescimento
daarte - Abaixo a carica-ura
politica!,
in Dia rio o.i 2ardi,26/5/1913
(8)
Nuno deOliveira,
"Salon dosHumoristas",
inRepública,
17/6/1913
(9)
CarneiroGeraldes,
"HumoristasPortugueses
-o Salon do Porto
-alguns expositores
deLisboa",
in 0Século,
(ed.
daNoite),
26/5/1915
(lO)José-Augusto
França,
0 Modernismo da ArtePortuguesa,
Lisboa, Biblioteca
Breve,
1979(ll)Nuno
Simões
Gente RisonhaLisboa,
1916(12)Todas
estascitações
foramextraídas
do livro referidona nota anterior.
(13)0s
artistas nacionais citados foram CorreiaDias,
StuartCarvalhais,
Hipolite
Colomb,
LuizFilipe,
CerveiraPinto,
CristianoCruz,
ALma-daNegreiros,
Ernesto doCanto, Jorge
Barradas,
António
Soares,
Bolha e Melo e
António
de Azevedo. Amareihe, Mário Pacrt-cCjLoq-ct
eSalgado
foramreferenciados,
mas s»emcomentário
critico,
sob a(14)
J.M. "AExposição
dos Humoristas-pintores portugueses
e
espanhóis
- Arte eMocidade",
inPátria,
12/7/1920
(15)
Amiaiidi' Ffe! reirn, "/-Expi-s
.çdu uuS Hui-U-r'. tas-pd
Lu^ut^eS
eespanhóis
- uma notainteressantíssima
no nosso meioartís
tico",
in ACapital,
1/7/1920
(16)
Armando Ferreira "OsHumoristas",
inRepública,
8/7/1920
(17)
Norbeto deAraújo",
"Humorismo",
in AManhã
,27/5/1920
(18) Exposição
dos HumoristasPortugueses,
noSalão
SilvaPorto,
1926
(Dezembro),
organizada
por D. FuásExposição
dos HumoristasPortugueses,
noSalão
SilvaPorto,
1927
(Agosto)
(19)
Guedes d'Amorim,
"Exposição
dos HumoristasPortugueses",
in A
Montanha, 18/12/1926
(20)
"DoSalão
dosHumoristas",
in Jornal deNoticias,
16/12/1926
Não
é
certamente obra do acaso, acoexistência temporal
de umtão
vasto esignificativo
conjunto
de revistas emagazines
nos anos 20.S
excepção
da"Ilustração
Portuguesa",
cujo
aparecimento
data doinicio
doséculo,
todos os restantes surgem noprincipio
("ABC"),
no meio("Europa"),
ou no dobrar destadécada
("Ilustração",
"Magazine
Bertrand',
"Civilização");
no seutérmino
aparecem-nos revistasjã
com outro carácter pela especificidade
dos temas quetratam,
comoé
o caso da "Voga",
destinada apenasã
mulher e amoda,
ou a"Imagem"
centralizada no cinema. Nos anos 30 assistimosâ
suaprogressiva
decadência
edesapa
recimento.Na
realidade,
omagazine
é
umfenómeno
deépoca,
e como tal e seuespelho
econsciência;
nele se reflecte opulsar
de umquotidiano
alte radopela força
dosacontecimentos,
e a necessidade dereflexão
quedai
aduêm.
Na vertiaem de umtempo
novo, nascido da euforia dopÓs-ouerra.
oregisto
e areferência são
dados vitais para aassimilação
b-ísse cor rer. 0jornal,
grandemancha
cinzenta onde anoticia
se derrama por palavras,
so por sijã
não responde ã
urgência
de umainformação
"viva",
e como seucomplemento,
omagazine
surge, dotado de umpoder
novo, simultaneamente
fascinante eapaaiguador,
jã
que transporta em si a rodagem
visual dosacontecimentos,
e o seucomentário.
Hábil
fabricante deimagens
-escritas,
fotografadas
ou desenhadas -ele deixatransparecer
o verdadeiroperfil
dasociedade, através
deu~exercício
deselecção
ereconversão
dosfactos,
em queestá
implícito
ojogo
entreaquele
queconstrói
e o outro que consome.Assim,
todasas"imagens"
surgem, as falsas e asverdadeiras,
situadas no vacilanteponto
deequilíbrio
que é a realidade a quenão
sepode fugir,
e o desejo
que se tenta adivinhar ...Um
capitulo
destinado exclusivamente asrevistas,
é também
um pre texto para um encontro com esteviver,
gostosamente apreendido pelo
folhear dos,acontecimentos;
masnão
se trata apenas de ceder ao encan tamento que este folhear provoca, na medida em que aanálise
a que nos propomosestá
directamente relacionada com o desenvolvimento e aapli
cação
dosprincípios
formulados nadécada anterior,
e ca* aprópria
evolução
da vidaartística
nacional e suasconcepções
estéticas.A
auscultação
de umgosto estará
semprepresente,
visto que a sobrevivência
da revistaestá também
subordinada a "diatectica" que se esta belece entre os seus colaboradores e opúblico
consumidor -perceber
as su,,s
oscilações
e um dado esse-s.c.i. para o entendimento co evo uir eassimilar
da modernidade.Deste
conjunto
de revistasseleccionado,
imtriiatamente saltamavis
ta osinúmeros pontos
de contacto entreelas,
de talmodo,
que muitas vezes se tornadifícil
adistinção
entre os seusvários perfis, pela
quantidade
derepetições gráficas
etemáticas
com quedeparamos.
Noen-tanto,
depois
de umaanálise
mais atenta, reparamos emdiferenças
sensíveis
que nospermitem
identificaraproximadamente
opúblico
que cada umacobre,
e o que estedeseja através
do seu consumo recolher.Dal
que se torne
necessário
diferenciá-las,
distribuindo de um modo ordenado os
vários
espaços que ocupam na sociedade.Por outro lado a sua
disposição
no tempo,é
também
um factor interpretativo
e dealgum
mododeterminante para o estudo de umgosto
quenecessariamente evolui com o passar dos anos. Recordemos que apenas a "ABC" cobre a totalidade da
década,
enquanto
os restantesmagazines
se localizam emtempos
diferentes.0 que toaos
têm
em comum •:: quepodemos
analisar embioco,
7icuntra--seplenamente
consciencializado
num dos textos que delesextraímos
eque em resultado de uma auto-ref
lexão,
curiosamente se denomina "Acró
nica das
crónicas": "Há crónicas
quesão crónicas
-que se re, etem sem pre,
continuadamente,
com umaexactidão cronométrica
e com uma intei rasequência
cronológica
(...)
Ehá
crónicas
... quenão
são crónicas!
Ignoram
acronometria,
ofox-trott,
sob aficção
dos calendários ...". Doprimeiro
grupo identifica o autor "as coisas desensação
acontecidas na
localidade,
naprovíncia,
nopais,
em terraestranha",
aquelas
que passam em revista desde as feiras de
gado até
aos pequenos flirts emebulição
daspraias
e das termas, ou acomparação
de "beldades femininas a
mármores
helénicos",
a que se acrescentam asinevitáveis
noticias
politicas,
feitas de"combinações
gastronómicas"
entreparti
dos e de
"tragi-comêdias
parlamentares",
e ainda asliterárias,
artís
ticas,
teatrais edesportivas.
0segundo
grupo nascido doséculo
XX,são
"ascrónicas
domundo,
filhas docinema",
e que fazem desfilar como num
écran
"asimagens
animados egritantes,
os sucessosdignos
denota";
e
são
eles,
"as corridas furiosas deautomóveis,
debicicletas,
de cavalos e de animaisfalantes,
friassessões
solenes, com oradores barbucX ccct^cuo?,
caçadores d<-tigres
e pante--?c.vXçc-rs
pito
rescas desajahs
e desultões, incêndios,
pontes,aeroplanos
e comboios,
modas de Paris, costumes daMeknésia,
do sul daFrança
e deMarrocos,
fabrico de sabonetes ou de latas de sardinha. .."(1
)
.Se
ê
verdade que todas as revistas emquestão
repetemsistemati
camente estas duascategorias
temáticas
- edal
a dificuldade que por vezes nos surge para a suadestrinça
-também ê
certo que do peso decada uma delas se
podem
avaliardiferenças
e identidades,0 aliciamento do
público
escolhido faz-seatravés
dessadosagem
deingredientes,
combinação
mais ou menosequilibrada
decomponentes
literários
egráficos
(visuais).
Estesúltimos
revelam-se muitas vezes decisivos para oêxito
dasrevistas,
se avaliarmos asalterações
sensíveis
que sofrem com otempo,
numapreocupação
evidente de acompa nhar opróprio
"visual" dasociedade;
fotografias,
molduras decorati vas,vinhetas,
cabeçalhos
eilustrações
(desenhos),
têm
enquadramen
tosespecíficos
de acordo com os diferentes programas dosvários
magazines,
apr- ontando-se neryo co~ u^a vev"Sc*iKi"'"d-'J'--"4-»y'?1
7-r-yr-luçao
dp cada um deles.A
publicidade,
contributo vital para oequilíbrio
financeiro destaspublicações,
possui
umcarácter
especifico
quenão
sepode
negligen
ciar-representando
um verdadeirobarómetro
das nossascapacidades
gráficas,
é
paraalém disso,
umpoderoso
atractivo para oconsumidor,
naosó
pela
animação
visual queproporciona,
mastambém
porquepossi
bilita umainformação
de "moda" aonível
domercado,
de quesão
exemplos
as marcas deautomóveis,
ou deprodutos
de beleza.Publicidade ainda mas desta vez relativa
ã
própria
revista,
faz-seatravés
da capa, que funciona como isca para atraircompradores.
A ca paé
o rosto darevista,
um rosto muitas vezesmaquilhado
e quenão
corresponde
a verdadeirapele
de todo o seu corpo. 0choque
visual que muitas vezes temosquando
os comparamos-decepção
cinzenta face a uma coloridasugestão
- revela-nosque a capa e o interior nem sempre