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UMA CIDADE EM ESCAVAÇÃO

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Academic year: 2019

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UMA CIDADE EM ESCAVAÇÃO

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UMA CIDADE EM ESCAVAÇÃO

Lisboa, 2017

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Título:

I Encontro de Arqueologia de Lisboa: Uma Cidade em Escavação

(Teatro Aberto, 26, 27 e 28 de Nov. de 2015)

Coordenação editorial:

Ana Caessa

Cristina Nozes

Isabel Cameira

Rodrigo Banha da Silva

Design gráfico do Encontro:

João Rodrigues, Ana Filipa Leite

Design gráfico e composição do Livro de Resumos e das Atas:

Rui Roberto de Almeida

Edição:

CAL/DPC/DMC/CML

Centro de Arqueologia de Lisboa / Departamento de Património Cultural /

Direção Municipal de Cultura / Câmara Municipal de Lisboa

Impressão:

Livro de Resumos -

Imprensa Municipal / Câmara Municipal de Lisboa

CD Atas - MPO (Portugal)

Tiragem:

450 exemplares

ISBN:

Livro de Resumos -

978-972-8543-45-7 /

Atas -

978-972-8543-46-4

Depósito Legal:

433151/17

Advertências:

O conteúdo dos artigos é da inteira responsabilidade dos autores. O Centro de Arqueologia de

Lisboa declina qualquer responsabilidade por equívocos ou questões de ordem ética e legal.

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power-points, a reprodução de imagens ou de partes do texto é permitida, com a condição de origem e

autoria do texto e das imagens serem expressamente indicadas no diapositivo em que é feita a

re-produção.

Para intercâmbio (on prie l’échange, exchange accepted):

CAL - Centro de Arqueologia de Lisboa

(5)

Í

NDICE

Prefácio ... 9

Introdução ... 11

Comissão ... 13

1. A OCUPAÇÃO DO TERRITÓRIO DO MUNICÍPIO DE LISBOA ... 14

1. A ARQUEOLOGIA DO SÍTIO DE LISBOA: UM (NOVO) BALANÇO CRÍTICO, VINTE E UM ANOS DEPOIS Carlos Fabião ... 16

2. O SÍTIO NEO-CALCOLÍTICO DA TRAVESSA DAS DORES (AJUDA-LISBOA) Nuno Neto, Paulo Rebelo, João Luís Cardoso ... 24

3. UM SÍTIO DA PRÉ-HISTÓRIA RECENTE EM PEDROUÇOS (BELÉM, LISBOA) Anabela Castro, Victor Filipe, João Paulo Barbosa ... 38

4. RESULTADOS PRELIMINARES DA PRESENÇA PRÉ-ROMANA NO PÁTIO JOSÉ PEDREIRA (RUA DO RECOLHIMENTO/BECO DO LEÃO, LISBOA) Anabela Joaquinito ... 48

5. LOUÇA “DE FORA” EM CARNIDE (1550-1650). ESTUDO DO CONSUMO DE CERÂMICA IMPORTADA Tânia Manuel Casimiro, Carlos Boavida, Ana Margarida Moço ... 56

2. A CIDADE MANUFATUREIRA E INDUSTRIAL ... 68

2. RUA DE SANTIAGO, LISBOA: TANQUES ROMANOS NA REQUALIFICAÇÃO DO EDIFÍCIO SITO NO Nº 10-14 João Miguez, Alexandre Sarrazola ... 70

3. OBJECTOS PRODUZIDOS EM MATÉRIAS DURAS DE ORIGEM ANIMAL, DO CONVENTO DE SANTANA, DE LISBOA Mário Varela Gomes, Rosa Varela Gomes, Joana Gonçalves ... 84

4. CERÂMICA MODERNA DE LISBOA: PROPOSTA TIPOLÓGICA Jacinta Bugalhão, Inês Pinto Coelho ... 106

5. EVIDÊNCIAS DE PRODUÇÃO OLEIRA DOS FINAIS DO SÉCULO XVI A MEADOS DO SÉCULO XVII NO LARGO DE JESUS (LISBOA) Guilherme Cardoso, Luísa Batalha ... 146

6. UMA INTERVENÇÃO EM PLENO BAIRRO DAS OLARIAS: NOVOS DADOS SOBRE A PRODUÇÃO OLEIRA NO SÉCULO XVII Inês Mendes da Silva, Marina Pinto ... 146

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3. A ARQUEOLOGIA DOS ESPAÇOS,

A IDENTIDADE E A FISIONOMIA DA CIDADE ... 190

1. MUSEU DE LISBOA – TEATRO ROMANO: UM MUSEU E UM MONUMENTO ROMANO NA CIDADE

Lídia Fernandes ... 192

2. A CERÂMICA DE ENGOBE VERMELHO DE LISBOA

Elisa de Sousa ... 212

3. DADOS PRELIMINARES DE UMA INTERVENÇÃO ARQUEOLÓGICA NOS ANTIGOS ARMAZÉNS SOMMER, LISBOA (2014-2015) - TRÊS MIL ANOS DE HISTÓRIA DA CIDADE DE LISBOA

Ricardo Ávila Ribeiro, Nuno Neto, Paulo Rebelo, Miguel Rocha ... 222

4. AS TERMAS ROMANAS ÀS PORTAS DE ALFAMA

Vanessa Filipe, Raquel Santos ... 246

5. A CERÂMICA COMUM DE PRODUÇÃO LOCAL E REGIONAL DO NÚCLEO ARQUEOLÓGICO DA RUA DOS CORREEIROS, LISBOA. OS CONTEXTOS FABRIS

Carolina Grilo ... 254

6. PRESENÇA DA OCUPAÇÃO ROMANA NO ALJUBE DE LISBOA

Clementino Amaro, Eurico de Sepúlveda ... 272

7. A CERCA FERNANDINA: DAS PORTAS DE STA. CATARINA AO POSTIGO DO DUQUE – LISBOA

Nuno Neto, Paulo Rebelo, Vanessa Mata ... 286

8. INDAGAÇÕES ARQUEOLÓGICAS NA MURALHA ANTIGA DE LISBOA: O LANÇO ORIENTAL ENTRE A ALCÁÇOVA DO CASTELO E O MIRADOURO DE SANTA LUZIA

Marina Carvalhinhos, Nuno Mota, Pedro Miranda ... 298

9. PERSPECTIVAS ARQUEO-BIOLÓGICAS SOBRE A NECRÓPOLE ISLÂMICA DE ALFAMA

Vanessa Filipe, Alice Toso, Joana Inocêncio ... 338

10. A INTERVENÇÃO ARQUEOLÓGICA NO ÂMBITO DO PROJECTO DE ARQUITECTURA “APARTAMENTOS PEDRAS NEGRAS” (LISBOA)

Sofia de Melo Gomes, Mónica Ponce, Victor Filipe ... 348

11. UMA APROXIMAÇÃO AO ESPAÇO VIVENCIAL DA CASA DOS BICOS: A CULTURA MATERIAL DE UMA LIXEIRA DA PRIMEIRA METADE DO SÉCULO XVIII

Inês Pinto Coelho, Tiago Silva, André Teixeira ... 366

12. CASA DA SEVERA, MEMÓRIAS ARQUEOLÓGICAS DE UM ESPAÇO (LARGO DA SEVERA N.º 2, MOURARIA, LISBOA)

Ana Caessa, António Marques, Nuno Mota ... 386

13. RUA DO COMÉRCIO Nº 1 A 13, LISBOA: METAMORFOSE ESPACIAL

Alexandra Krus, Isabel Cameira, Márcio Martingil ... 414

14. TESTEMUNHOS ARQUEOLÓGICOS NA RUA DO JARDIM DO REGEDOR Nº 10 A 32, LISBOA

Márcio Martingil ... 426

15. OBJECTOS DO QUOTIDIANO NUM POÇO DO HOSPITAL REAL DE TODOS-OS-SANTOS

Carlos Boavida ... 440

6

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16. FRAGMENTOS DA MESA NOBRE DE UMA CIDADE EM TRANSFORMAÇÃO: PORCELANA CHINESA NUM CONTEXTO DE TERRAMOTO DA PRAÇA DO COMÉRCIO (LISBOA)

Sara Ferreira, César Neves, Andrea Martins, André Teixeira ... 458

17. NAVIOS DE ÉPOCA MODERNA EM LISBOA: BALANÇO E PERSPECTIVAS DE INVESTIGAÇÃO José Bettencourt, Cristóvão Fonseca, Tiago Silva, Patrícia Carvalho, Inês Coelho, Gonçalo Lopes ... 478

18. IDENTIFICAÇÃO E CARACTERIZAÇÃO DE UMA ESTRUTURA SEISCENTISTA: O BALUARTE DO TERREIRO DO PAÇO César Neves, Andrea Martins, Gonçalo Lopes ... 496

19. A RAMPA DOS ESCALERES REAIS DA CORDOARIA NACIONAL: PRIMEIROS SINAIS DO FIM DO IMPÉRIO Mónica Ponce, Marta Lacasta Macedo, Alexandre Sarrazola, Teresa Alves de Freitas ... 510

Lista de Abreviaturas ... 516

Autores ... 517

Participantes ... 518

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A CIDADE MANUFATUREIRA

E INDUSTRIAL

RESUMO:

O Convento de Santana de Lisboa, cuja construção se iniciou no século XVI, localizava-se onde actualmente se erguem instalações da Faculdade de Ciências Médicas, da Universidade Nova de Lisboa. Intervenções arqueológicas no local permitiram identificar estruturas, tal como abundante e variado espólio, produzido a partir de distintas matérias-primas duras, de origem animal, nomeadamente osso, marfim, carapaça de tartaruga, madrepérola e coral, pertencentes a objectos utilitários, de ador-no ou devoção. Este acervo apresenta croador-nologia situada entre os finais do século XVI e o século XVIII. Entre os artefactos identificados contam-se os ligados à devoção (contas de terços, pendentes e crucifixo), à higiene pessoal (pentes, escovas de cabelo e de dentes, seringas de clisteres), de adorno (contas, bandolete, travessas de cabelo), mas também utilitários (varetas de leques, cabos de faca e de sombrinhas, botões, …) e até raríssima prótese dentária, o que indica a presença de elite, com elevado estatuto social, capaz de deter e consumir bens de prestígio, possuindo gosto requintado.

PALAVRAS-CHAVE:

Convento, osso, marfim, tartaruga, madrepérola, coral.

ABSTRACT:

The Convento de Santana in Lisboa, whose construction began in the 16th century, was located where today are the facili-ties of the Faculdade de Ciências Medicas, of the Universidade Nova de Lisboa. Archaeological interventions on the area allowed the recognition of structures as well as numerous and varied artefacts, produced in distinct hard raw materials of animal origin, specifically bone, ivory, turtle shell, mother of pearl and coral, belonging to utilitarian objects, of adornment or devotion. This can be dated in a range between the end of the 16th and the 18th centuries. Among the identified artefacts are those connected to devotion (Rosary beads, pendants, crucifix); personal hygiene (combs, hair and tooth brushes, clyster syringes); adornment (beads, hairband, hair-slides), but also utilitarian (hand fans, knife handles, parasol cable, buttons, …) and even a very rare den-ture prosthesis, which indicates the presence of an elite with a high social status, able to own and purchase prestigious goods, having a refined taste.

KEY WORDS:

Convent, bone, ivory, turtle, mother of pearl, coral.

Convento de Santana.

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O

BJECTOS PRODUZIDOS EM

MATÉRIAS DURAS DE ORIGEM

ANIMAL, DO CONVENTO DE

SANTANA, DE LISBOA

Mário Varela Gomes

Departamento de História, Instituto de Arqueologia e Paleociências, da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas, da Universidade Nova de Lisboa / Academia Portuguesa da História / Academia Nacional de Belas-Artes

mv.gomes@fcsh.unl.pt

Rosa Varela Gomes

Departamento de História, Instituto de Arqueologia e Paleociências, da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas, da Universidade Nova de Lisboa

rv.gomes@fcsh.unl.pt

Joana Gonçalves

Instituto de Arqueologia e Paleociências, da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas, da Universidade Nova de Lisboa

joanafrgoncalves@fcsh.unl.pt

1. Introdução

O Convento de Santana, de Lisboa, cuja construção se iniciou no século XVI (1562) e chegou a ser um dos maiores da cidade, foi extinto em 1884 e demolido em parte em 1897, localizava-se onde actualmente se er-guem instalações da Faculdade de Ciências Médicas, da Universidade Nova de Lisboa e onde foi o Real Instituto Bacteriológico (1900), depois Instituto Bacteriológico de Câmara Pestana (GOMES, GOMES, 2007, pp. 75, 76).

Trabalhos arqueológicos ali realizados em 2002-2003 e 2009-2010, sob direcção de dois dos signatários (R.V.G. e M.V.G.), tendo em vista salvaguardar testemunhos da-quela casa religiosa, conduziram à identificação de diver-sas estruturas, nomeadamente de alicerces das antigas edificações conventuais, uma cisterna, três poços, restos de aqueduto, necrópole (trinta e quatro sepulturas e seis ossários) e de onze fossas de detritos, tendo-se exumado milhares de artefactos, ou os seus fragmentos. Estes in-cluem desde elementos arquitectónicos, a fragmentos de lápides, copiosa colecção de azulejos e de outras cerâmi-cas, classificadas entre os finais do século XVI e o século XIX, integrando as denominadas cerâmicas comuns, as vidradas ou esmaltadas, faianças, porcelanas, etc., mas também, vidros, objectos metálicos, de pedra e, mais raros, os que utilizaram matérias-primas duras de origem animal. Também se recolheram grandes quantidades de restos os-teológicos e de valvas de espécies ali consumidas.

Textos anteriores referem a história do Convento de Santana (GOMES, GOMES, 2007) e começaram por dar a conhecer as porcelanas ali encontradas (GOMES, GOMES, CASIMIRO, 2015). O presente trabalho tal como outros no prelo ou em construção, pretendem estudar e divulgar conjuntos artefactuais ou núcleos de estruturas daquele convento, tendo em vista a realização de monografia do sítio.

Os artefactos produzidos em matérias duras de ori-gem animal, nomeadamente de osso ou concha, remon-tam a tempos muito remotos da Humanidade, quando o Homo erectus utilizou como ferramentas ossos de grandes mamíferos a par de artefactos líticos. Todavia, é com o Homo sapiens neanderthalensis que as indústrias de osso se consolidaram e, em parte, se tipificaram, a par da utilização de conchas, com carácter ornamental e simbólico, aspecto que muito se desenvolveu com os primeiros homens modernos (Homo sapiens sapiens).

Os pequenos objectos exumados nas ruínas do anti-go Convento de Santana, de Lisboa, produzidos em ma-térias duras de origem animal, podem ser classificados em grandes grupos, de acordo com a origem daquelas. Assim, os mais frequentes utilizam o osso como matéria-prima, tanto de mamíferos terrestres como de peixes, sendo mais raros os produzidos em marfim, madrepérola, carapaça de tartaruga ou coral.

A forma daqueles foi, quase sempre, esclarecedora das suas funções primárias, mas nem sempre os contextos per-mitiram a análise paleoetnológica e atribuição cronológica precisa. De facto, muitos deles são procedentes de fossas detríticas, contendo espólio heterogéneo, outros foram en-contrados em níveis formados por terras muito revolvidas, possuindo materiais dispersos, não raro com longa diacronia. Apenas uma pequena parte provém de sepulturas, mesmo assim nem sempre constituindo contextos fechados, dado a reutilização que, por vezes, se detecta daqueles espaços.

Apesar dos constrangimentos indicados, procurare-mos oferecer a integração sócio-cultural dos artefactos apresentados e, designadamente, abordar o seu desem-penho funcional e a sua importância ligada aos aspectos cognitivos, designadamente ao mundo religioso e seu pensamento simbólico. Este é o principal elemento ca-racterizador do Homem Moderno e que permite ainda o funcionamento das sociedades contemporâneas.

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Figura 1 – Localização do Convento de Santana, de Lisboa, em planta do século XVIII e em foto do Google.

Figura 2 – Planta das estruturas do Convento de Santana, de 1871, e do Instituto Bacteriológico

Câmara Pestana, de 1910 (Colecção A. Vieira de Silva do Gabinete de Estudos Olisiponenses, C.M.L.).

I Encontro de Arqueologia de Lisboa

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2. Artefactos de osso

O osso foi a matéria-prima mais utilizada na produ-ção de artefactos que, chegados até nós, usaram pro-dutos de origem animal, dando também lugar às formas mais diversificadas.

Na realização de tais artefactos, desde botões, a agulhas e agulheiros, pentes, contas, cabos de sombri-nhas, cabos de escovas ou objectos mais complexos, como seringas, foram usadas sobretudo peças

osteológi-cas de grandes mamíferos, capazes de fornecerem tanto melhor como mais matéria-prima, mas de igual modo de peixes, cujas vértebras foram transformadas em contas de terços ou rosários.

As contas constituem os artefactos de osso mais numerosos, apresentando acentuado polimorfismo, já co-nhecido em outros contextos, nomeadamente monásticos e funerários. Elas acompanhavam os vivos e os mortos, sob a forma de terços ou rosários, mas também organiza-das em colares e pulseiras, ou até em brincos.

Figura 3 – Catálogo das formas das contas de coral e de osso (Convento de Santana) (des. J. Gonçalves).

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No Convento de Santana de Lisboa, exumaram-se contas de osso, na cor natural, com forma esférica, es-férica achatada, ovóide, de diferentes dimensões, desde as muito pequenas, medindo 0,003 m de diâmetro até exemplares com 0,010 m de diâmetro. Algumas, mais raras, apresentam caneluras incisas. Constitui outro tipo de contas, embora com formas muito diversificadas, as que se têm vindo a considerar como contas-balaústre. Elas também variam nas dimensões e oferecem moldu-ras, cordões e incisões e, até, perfurações transversais. Estas contas obtidas ao torno, tal como as restantes de osso, eram igualmente utilizadas em terços e rosários, onde algumas podiam formar cruzes, conforme se vê em reconstituição de terço, do século XVII, exumado na Igreja do Convento do Carmo de Lisboa e ali exposto (FERREIRA, NEVES, 2005, p. 609, nº 1668).

São comuns em outros contextos religiosos, nomea-damente sepulcrais, as contas de rosários e terços, onde acompanhavam os defuntos. Elas surgiram, em abun-dância, na Igreja de Santa Maria do Castelo, de Torres Novas (escavações dirigidas por M. V. G.), em contextos datados do século XVI ao XIX.

Contas esféricas de osso, do século XVI, foram tam-bém recuperadas em Puerto Real (Florida) e dos séculos XVI a XVIII na missão de Ste. Augustine, Florida (DEAGAN, 2002, p. 67).

Os botões, de contorno circular, constituem o tipo de peças de osso mais numerosas, a seguir às contas, pro-cedentes do Convento de Santana. Embora conhecidos na Europa, desde o Paleolítico Superior, usados por Ro-manos e outros povos, a utilização de botões só se difun-diu no Velho Continente, a partir do século XIII, aspecto que, para alguns autores, se deve a alterações no modo de vestir, com influência oriental, trazida para a Europa pelos cruzados (DEAGAN, 2002, p. 157). Todavia, nos séculos XIV e XV, os botões, nomeadamente metálicos, constituíram importantes elementos decorativos e sim-bólicos, usados por congregações religiosas e militares, de modo emblemático, para além de funcionarem para apertar a roupa e peças ligadas a algum armamento.

Só no século XVIII a Europa terá produção estandar-dizada de botões, então manufacturados tanto em ligas metálicas, como em matérias duras de origem animal, como o osso, o chifre, o marfim, carapaça de tartaruga ou madrepérola.

A produção de botões de osso parece não ter re-querido grande especialização e espaços específicos, dado que os seus testemunhos são abundantes e, não raro, dispersos. De facto, também as escavações no Convento de Santana proporcionaram restos de diáfises de ossos longos de quadrúpedes, de onde se cortaram botões, alguns deles evidenciando acidentes de trabalho que conduziam à fractura dos botões que se pretendia obter. Tanto na cidade do Funchal como em Silves, em ambientes urbanos do século XVII, exumámos (M.V.G. e R.V.G.) testemunhos idênticos àqueles que, conforme referimos, não são raros para a cronologia assinalada.

Quatro botões constituem exemplares, pouco comuns, pois apresentam o pé móvel, três com sistema de encaixe com peça metálica, do tipo mola, e outro com rosca. Este mostra apreciáveis dimensões, dado medir 0,024 m de di-âmetro. Estes botões, raros na literatura que consultámos,

tinham sobretudo funções decorativas. Retrato de D. José, quando ainda príncipe, mostra-o envergando vistosa casa-ca de veludo de cor vermelha, ornamentada com séries de grandes botões, daquela mesma cor, laboriosamente ta-lhados por certo que em marfim. Botão com pé móvel foi encontrado em contexto funerário, do século XVIII, na Igreja de Santa Cruz, Madeira (NUNES, 2012, p. 576, fig. 9).

Discos ou segmentos esféricos com perfuração central, do Convento de Santana, correspondem a botões primitiva-mente forrados de tecido ou outro material, possuindo pé de arame de liga de cobre, podendo ser atribuídos aos séculos XVII e XVIII. Exemplares semelhantes têm sido encontrados nas colónias europeias da América do Norte (DEAGAN, 2002, p. 165). Cinco botões de osso com larga perfuração central foram descobertos no poço situado junto ao edifício dos Paços do Concelho de Torres Vedras, tendo sido atribu-ídos ao século XVI (CARDOSO, LUNA, 2012, p. 168).

Botões de osso com o bordo espessado e disco cen-tral destacado por moldura, onde se inscreveram três ou cinco furos, constituem exemplares que podemos atribuir ainda ao século XVII, mas também usados na centúria seguinte. Botões com forma semelhante, exumados em St. Augustine (Florida), puderam ser datados entre 1780 e 1800 (DEAGAN, 2002, p. 167).

Foi talhado em osso o único dado surgido no Convento de Santana, ao que parece inacabado, pois apenas uma das faces mostra gravações, constituindo cinco pequenas covinhas. Trata-se de peça ligada ao entretenimento, com abundantes paralelos em outras, muitas vezes executadas pelos próprios utilizadores, nomeadamente quando enclau-surados. Assim acontecia em antigos estabelecimentos pri-sionais, de que constitui excelente exemplo a antiga cadeia do Limoeiro, em Lisboa, onde se exumou grande quanti-dade de pequenos objectos de osso, entre os quais dados, ou as escavações realizadas junto à alcaidaria e prisão do Castelo de Silves, conduzidas por um dos autores (R.V.G.), onde surgiu apreciável quantidade de dados, tal como o do Convento de Santana, ainda em processo de produção.

O osso foi usado na manufactura de agulhas, curtas e espessas, bem torneadas, com a extremidade proximal de-corada, destinadas a tricotar, mas também nos pequenos recipientes agulheiros, com tampa móvel, igualmente pro-duzidos ao torno e de que ainda vimos alguns semelhantes a serem usados em meados do século XX. Os agulheiros, peças indispensáveis nos apetrechos de costura, surgiram na Idade Média e conhecem-se exemplares construídos em metal, osso, marfim e madeira, apresentando todos forma tubular e dimensões variáveis, desde 0,05 m a 0,12 m, ou mais, de comprimento. No naufrágio do galeão Nues-tra Señora de Guadalupe, ocorrido nos mares de Santo Domingo em 1724, encontrou-se pequeno agulheiro, de marfim (DEAGAN, 2002, pp. 196, 197).

Fragmentos de pentes de osso, possuindo dentes em dois lados opostos, ou pentes duplos, correspondem a forma conhecida desde a Idade Média. Normalmente os dentes de um lado eram mais largos e, por vezes, mais compridos do que os do lado oposto, servindo não só para pentearem o cabelo e a barba, como para limparem e des-parasitarem aqueles. Fragmento de pente duplo, de osso, foi encontrado em nível contendo materiais do século XV ao XX, do pátio fronteiriço à igreja do Convento de Santiago, em Palmela (FERNANDES, 2012, pp. 513-515, fig. 28).

I Encontro de Arqueologia de Lisboa

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Figura 4 – Contas que utilizam vértebras de peixe (Convento de Santana) (foto J. Gonçalves).

Figura 5 – Botões de osso, com diferentes formatos e cronologias. Restos de extracção de botões (Convento de Santana)

(foto J. Gonçalves)

(14)

Figura 6 – Catálogo das formas dos botões de osso (Convento de Santana)

(des. J. Gonçalves).

Figura 7 – Agulheiro completo (aberto e fechado) e tampas de outros, de osso (Convento de Santana) (foto J. Gonçalves).

I Encontro de Arqueologia de Lisboa

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Figura 8 – Pentes de osso, marfim e um de tartaruga (Convento de Santana)

(foto J. Gonçalves).

Figura 9 – Escovas, algumas para dentes e prótese dentária, de osso (Convento de Santana)

(foto J. Gonçalves).

(16)

Cabos e corpos de escovas de osso, algumas para dentes, onde se fixaram cerdas, crinas e pelos, de ori-gem diversa, através de pequenas perfurações circulares alinhadas e finos arames, foram igualmente encontrados no Convento de Santana. A sua atribuição cronológica é difícil de obter, dado o pouco que se conhece sobre o assunto, embora os mais antigos possam remontar ao século XVIII, nomeadamente aos seus finais, quando o processo da sua manufactura foi inventado e tais objectos de conforto se divulgaram. Primeiramente as escovas te-rão servido para a aplicação de cosméticos e depois como artefactos ligados à higiene, como as escovas de dentes com cabo de osso, tidas como inventadas por William Addis de Clerkenwell em 1770, e a outras actividades.

As cronologias mais recuadas para contextos con-tendo escovas de dentes, encontram-se no Hospital de Minden, na Alemanha, e em dois naufrágios ocorridos nas costas da actual República Dominicana, respectiva-mente do galeão San José de las Animas, de 1733 e do galeão Scipión, de 1782. Aqueles artefactos que se crê terem sido produzidos industrialmente em Inglaterra, a partir de 1780, foram também fabricados em França e, depois, em outros países. Naquele primeiro país passam a mostrar o nome do fabricante, depois de 1840, confor-me acontece com um dos exemplares do Convento de Santana, onde se lê “W. GALE 2 VERE 5T” (DEAGAN,

2002, pp. 229, 231, 232; MATTICK, 2010, p. 13). Um espelho circular de fechadura, talvez de escritó-rio ou contador, foi produzido em osso, e seria embutido na porta do móvel a que pertenceu.

Cânula ou chupeta e partes de seringa para clisteres foram também construídos em osso. Trata-se de dispositi-vos referidos, pelo menos, desde o século X, mas usados na Europa principalmente a partir do século XV. Podiam ser de estanho, ou de outros metais, madeira, vidro, osso e, até, de marfim, sendo manuseados pelos cristeleiros ou cristeleiras (de cristel = clister / klyster em grego), com informação farmacológica, sabendo-se da sua existência em Portugal a partir do século XV. Conhecem-se os no-mes de alguns de tais profissionais que actuaram, junto da Corte, durante o século XVI. O posto de cristeleira ain-da existia, em 1838, no Hospital de São José, em Lisboa e, por certo, em outros (SALGADO, 2015, p. 177).

Alguns fragmentos de varetas, interiores e exteriores, de leques articulados, de osso, com recorte e decoração diversa, pintada ou calada, foram recuperados durante as escavações do Convento de Santana. Conhecidos desde meados do século XVI, principalmente em Por-tugal e Espanha, mas tendo origem oriental, os leques daquele tipo eram utilizados, no Japão, desde o século V (DEAGAN, 2002, pp. 216-219). O seu uso divulgou-se extraordinariamente na Europa durante as duas centú-rias seguintes, chegando a caracterizar comportamentos e estatutos sociais, sendo utilizados tanto por homens como por mulheres. Na segunda metade do século XVIII foram famosos os leques das casas comerciais lisboetas de João Espiter e de António Maltês (CHANTAL, 2005, pp. 124, 125). Os leques serviram à comunicação muda, através de código conhecido sobretudo nos ambientes galantes do século XVIII.

Figura 10 – Peças de seringas de clisteres, de osso (Convento de Santana) e seringas

completas (diferentes proveniências), de osso ou marfim (des. J. Gonçalves).

I Encontro de Arqueologia de Lisboa

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Figura 11 – Agulhas de costura e agulhas de roca, espelho de fechadura e cabo de colher, de osso (Convento de Santana) (foto J. Gonçalves)

Figura 12 – Varetas de leques articulados, de osso, e cabo de leque não articulado (uchiwa), de osso e ferro (Convento de Santana)(foto J. Gonçalves).

(18)

São de meados do século XVI seis retratos a óleo onde surgem personagens reais com leques articulados, demonstrando o seu uso pristino introduzido por damas portuguesas, na corte, e entre a aristocracia. Dois deles, da autoria de Antonio Moro, retratam D. Maria de Portugal (1550-1555) e Dona Catarina de Áustria (1552-1553), mulher de D. João III e irmã de Carlos V, actualmente no Museu do Prado, em Madrid. O mesmo museu guarda re-trato da Infanta Dona Maria Manuela de Portugal, filha de D. João III e de Dona Catarina de Áustria e que viria a casar com Felipe II de Espanha, que é cópia anónima, do século XVI, do retrato realizado em 1542 por Antoine Trouvéon, actualmente perdido. Um quarto retrato, da autoria de Cris-tóbal de Morales, de 1552, figura Dona Joana de Portugal,

encontrando-se actualmente nas colecções dos Musées Royaux des Beaux-Arts de Belgique (Bruxelas). Represen-tando a mesma personagem, dois outros quadros, um de Sofonista Aguissola, pintado em 1561, faz parte do acervo do Isabella Stewart Gardner Museum (Boston) e o último, obra de Alonso Sánchez Coello (ca 1570-1573), é mes-mo intitulado La dama del abanico e integra, igualmente, as colecções do Museu do Prado (Madrid). Dona Catarina de Áustria foi grande coleccionadora e admiradora da arte oriental, de que ofereceu importantes peças a diversos membros das cortes europeias. Sabe-se que comprou cento e setenta leques orientais que ofereceu às damas da sua corte, assim introduzindo moda que teve grande sucesso (GSCHWEND, 1998, pp. 133, 134, 138, 139).

Figura 13 – Damas quinhentistas com leque. A. Dona Maria Manuela de Portugal, 1542, cópia anónima de obra de A. Trauvéon, Museu do Prado; B. Dona Maria Duquesa de Viseu, pintada por

António Moro, entre 1550 e 1555; C. Dona Catarina de Áustria, mulher de D. João III, por Antonio Moro, 1552-1553, Museo do Prado; D. Retrato de Dona Joana de Áustria, mãe de D.

Se-bastião, por Cristóvão de Morais, 1553, Bruxelas, Musées Royaux des Beaux-Arts de Belgique;

E. La dama del abanico, por Afonso Sánchez Coello, 1570-1573, Museu do Prado; F. Dona Joana de Áustria e jovem, por Sofonisba Anguissola,1561, Isabella Stewart Gardner Museum.

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Conjunto de varetas de leque articulado, de marfim, foi recuperado do naufrágio do galeão El Conde de Tolosá, ocorrido na costa da actual República Dominicana, em 1724 (DEAGAN, 2002, p. 219).

São de osso três agulhas de roca ou espichas, com corpo triangular e o volume proximal perfurado, rodeado por denteado recortado. Trata-se de artefactos com as-cendentes que recuam, pelo menos, ao mundo islâmico peninsular, conforme paralelos, também de osso, alguns dos quais têm sido exumados no Sul de Portugal, desig-nadamente em Silves, na alcáçova e área urbana, ou no

Ribāt da Arrifana (GOMES, GOMES, 2001, p. 128, figs.

197, 198; 2007, p. 97, nº 19). Igualmente no mosteiro de Santa Clara-a-Velha foram recolhidas três espichas, uma de madeira (IU 723) e duas de osso (IU 751 e IU 752), com forma e decorações afins às agora apresentadas e que se encontram na exposição ali patente.

Fiar, talvez tecer, certamente bordar e costurar, fize-ram parte dos quotidianos de muitas das freiras, servin-do de ocupação ou entretenimento, mas também tenservin-do grande utilidade prática, na vida quotidiana dos conven-tos e mosteiros.

Dois fragmentos de cabos de sombrinhas, conten-do singelas decorações incisas, de carácter geométrico, denunciam o uso de artefacto, para cuja origem se tem colocado no Médio ou no Extremo Oriente, não só útil, sobretudo em climas temperados como o nosso, onde ge-ralmente as Primaveras e os Verões são muito solarengos e quentes, e onde não raro, as estiagens se prolongam pelo Outono. Além deste aspecto, de importante protector solar, as sombrinhas relacionavam-se com os estatutos sociais de quem as utilizava e com a moda feminina a

partir do século XVII, embora fossem conhecidas dos eu-ropeus já no século XVI.

Rara prótese dentária, correspondendo a dois inci-sivos humanos, possivelmente da mandíbula, foi talhada em osso, desconhecendo-se paralelos. Ela mostra encai-xe e o arranque dos dentes anexos àqueles. A fragilidade desta peça e do que seria a sua fixação, faz com que a consideremos como de aparato, procurando colmatar falta inestética.

Conhecemos outra prótese, do século XVII, em liga de prata, correspondendo a dedo polegar direito, encon-trada em sepultura (nº 17), da primeira capela do lado da Epístola da Igreja do Convento do Carmo, que pertenceu a adulto jovem (ca 25 anos) cujos restos osteológicos mostravam diversas lesões, embora cicatrizadas, credi-velmente adquiridas em combate (FERREIRA, NEVES, 2005, pp. 588, 608, nº 1665).

Não são comuns os artefactos que utilizaram peças osteológicas de peixes, conhecendo-se marcas de jogo e, sobretudo, contas elaboradas a partir de vértebras, de dimensões variadas. O Convento de Santana proporcio-nou interessante conjunto de contas, correspondendo a vértebras de peixes, de dimensões médias, a que foram cortadas as apófises, de modo a conferir-lhes contorno circular. Por vezes o orifício central das vértebras foi alar-gado. Em alguns casos chegaram a apresentar forma de ampulheta. Peças de jogo ou contas, que utilizam vérte-bras de peixe foram encontradas em Palmela, no adro da igreja do Convento da Ordem de Santiago, embora em nível contendo espólios do século XV ao século XX (FERNANDES, 2012, pp. 513, 515, fig. 29).

Figura 14 – Cabos de sombrinhas, de osso (Convento de Santana) (foto J. Gonçalves).

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3. Artefactos de marfim

Trata-se de matéria-prima importada de África ou da Ásia, quando de elefante, muito apreciada desde tempos remotos da Humanidade, conforme ilustra o que parece ter sido o primeiro artefacto votivo, encontrado em se-pultura neanderthal de Tata, na Húngria. O marfim con-tinuou a ser muito requerido, talvez devido à sua origem, cor e aspecto brilhante, quando polido, devendo-se aos portugueses a sua grande divulgação na Europa a partir de finais do século XV. Em 1487, Nzinga Kuwu, rei do Congo, a quando da embaixada por ele enviada a Por-tugal, obsequiou D. João II com peças de marfim, em bruto ou trabalhadas (VANSINA, 1965, p. 37).

Sabe-se pouco sobre o tráfico de marfim, principal-mente de elefante, que os portugueses fomentaram en-tre África, a Índia, o Ceilão, a China e a Europa. Caninos de hipopótamo e presas, com diversas dimensões, de elefantes, sobretudo africanos, têm sido encontrados, nomeadamente em naufrágios de barcos portugueses, os mais antigos, mas também de outras nações, nas ro-tas comerciais que ligavam o Oriente e África à Europa (TRIPATI, GODFREY, 2007, p. 338).

Entre a carga do naufrágio da caravela Bom Jesus, ocorrido em 1533 na costa da actual Namíbia, contam-se numerosas presas de elefantes africanos, muito possivelmente vindas de Angola e com destino à Índia (KNABE, NOLI, 2012, pp. 209, 210). Presa de ele-fante, constante no espólio da DGPC, encontrada em 1978 a cerca de 300 m de profundidade, frente ao Cabo Sardão e certamente procedente de naufrágio, foi data-da radiometricamente (AMS), indicando intervalo situado

entre a segunda metade do século XV e os inícios do século XVII (CARDOSO, 2016). Apesar da incerteza cronológica, trata-se certamente de matéria-prima tendo em vista ser utilizada na Europa, ou, até, com destino ao Oriente, depois de passar pela alfândega de Lisboa.

Tais itens provinham do Congo, Angola, Moçam-bique e Zanzibar, sendo considerado de melhor quali-dade o marfim de elefante da Costa Oriental africana, calculando-se que dali chegava cerca de 50% do que foi consumido na Índia.

Utilizado primeiramente em objectos sacros, tanto no mundo muçulmano como cristão, ou em imagens e artefactos de diferentes civilizações asiáticas, a relativa abundância do marfim chegado à Europa levou a que fosse também empregue em utensílios e adereços que emprestavam prestígio aos seus proprietários e às insti-tuições a que pertenciam.

Assim, surgiram, nos séculos XVI a XVIII, cabos de facas e garfos de marfim, de que se exumou possível fragmento no Convento de Santana, como peças de jogo, nomeadamente de xadrez e de gamão. Estas últi-mas encontram-se representadas no espólio do Conven-to de Santana por dois exemplares, um deles fracturado. As peças de gamão, de marfim, na cor natural ou tingi-das de vermelho, eram muito comuns nos séculos XVII e XVIII, constituindo jogo de sala, das casas tanto aris-tocráticas, como burguesas ou religiosas. Bonito e raro tabuleiro para o jogo de gamão, de pedra, ornamentado com motivos fitomórficos e atribuível ao século XVIII, encontrava-se no jardim de antigo convento feminino de Pêra (Silves), estando hoje exposto no Museu Municipal de Arqueologia de Silves.

Figura 15 – Contas de coral, dado de osso, braço de Cristo crucificado e marcas do jogo do gamão, de marfim (Convento de Santana)(foto J. Gonçalves).

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Três marcas de jogo semelhantes às do Convento de Santana foram recuperadas entre o espólio do nau-frágio da nau Nossa Senhora dos Mártires, ocorrido em 1606, frente ao forte de São Julião da Barra de Lisboa (D’INTINO, 1998, p. 226).

O jogo do gamão parece ter tido origens na Antigui-dade, sabendo-se que era conhecido na Europa durante a Idade Média, sendo mencionado no Tratado de Ajedrez Dados y Tablas, escrito pelo rei de Castela Afonso X, o Sábio, em cerca de 1283.

Pequeno braço com mão, bem esculpido, mostran-do aquela perfuração ao centro para fixação através de cravo, pertenceu a crucifixo de pousar, de oratório, ou de dependurar, esculpido em marfim. Todas as celas dos conventos e demais espaços fechados possuíam imagens do Cristo crucificado, de modo a que nunca se esquecesse o seu sacrifício para o bem dos Homens. As figuras de marfim, como a que pertenceu o fragmento mencionado foram produzidas em grandes quantidades nas oficinas goesas, durante os séculos XVII e XVIII.

No espólio do Convento de Santana identificámos fragmentos de pentes duplos de marfim, cujas formas são idênticas às dos pentes de osso. Conhece-se par-te de penpar-te duplo, de marfim, procedenpar-te da lixeira do Paço dos Lobos da Gama, de Évora, datado do século XVIII (LOPES, ROQUE, 2012, p. 206, fig. 13).

4. Artefactos de madrepérola

O nácar (da palavra persa nakar), ou madrepéro-la, é um carbonato de cálcio cristalizado, existente nas superfícies internas das valvas de diversas espécies de moluscos, sobretudo lamelibrânquios, fluvio-marinhos. O seu aspecto translúcido e iridescente, as superfícies bri-lhantes, não raro irisadas, chamou, desde cedo, a aten-ção do Homem, utilizando-o como elemento ornamental e simbólico, associado às conchas onde se encontrava ou isolando-o daquelas, para nele executar diferentes objectos ou valorizar, através de incrustações ou aplica-ções, peças de mobiliário, instrumentos musicais, armas, jóias, etc. Luís de Camões refere a madrepérola no Can-to VI, 10, de Os Lusíadas, no contexCan-to da sua chegada a Melinde, nos seguintes termos:

“As portas de ouro fino, e marchetadas, Do rico aljôfar que nas conchas nace, De escultura fermosa estão lavradas, Na qual do irado Baco a vista pace.”

Nos séculos XVI e XVII os portugueses chamavam à madrepérola chamco ou chamquo, mas também aljofre ou aljôfar, denominação que também era dada às pérolas.

Figura 16 – Catálogo das formas dos botões de madrepérola (Convento de Santana)

(des. J. Gonçalves).

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O nácar de melhor qualidade provém das águas do Índico e do Pacífico, em especial da espécie Pinctada margaritífera Linnaeus 1758, ou nácar do Ceilão, pes-cado nas águas do Subcontinente Indiano, no Golfo de Bengala, mas ainda nos mares da China (nácar de Nan-quim) e do Japão, embora também fosse muito aprecia-do o existente no Nautillus Lin.

No século XVI chegam a Portugal, e depois à Eu-ropa, colheres, garfos, mas sobretudo, taças, pratos, jarros, polvorinhos e cofres, construídos principalmen-te no Gujarat, com peças de madrepérola ou com elas revestidas, material até então quase desconhecido dos europeus, constituindo itens altamente dispendiosos que muito vão prestigiar os acervos das casas reais, aris-tocráticas e eclesiásticas, dada a raridade da principal matéria-prima usada, a sua origem longínqua, o exotis-mo e as inegáveis qualidades estéticas que possuíam (CARVALHO, 2008, pp. 6, 7). Mais tarde surgirão os terços, ou rosários, os pequenos crucifixos, as medalhas e variados adereços de madrepérola, nomeadamente os botões, alguns deles minuciosamente decorados.

Três de tais exemplares, certamente com origem exógena, provêm do Convento de Santana, encontra-dos no interior do Poço 1. Um deles, mais ornamenta-do, possuí pé metálico, enquanto os dois restantes se encontram reduzidos ao corpo, tendo desaparecido o suporte metálico.

Aquele primeiro, dada a complexa decoração que mostra, pode ter origem indo-portuguesa, enquanto um dos dois restantes, apresenta cruz equilátera e quatro pequenas cruzes páteas, em cada um dos quadrantes daquela, correspondendo ao emblema da Ordem do Santo Sepulcro de Jerusalém, que teve sede em Portu-gal no Convento de São Francisco, de Lisboa. Trata-se, pois, de possível produção da Terra Santa, onde tam-bém tiveram origem grandes quantidades de artefactos religiosos de madrepérola, nomeadamente durante os séculos XVII a XIX.

O Museu da Associação dos Arqueólogos Portu-gueses, em Lisboa, conserva verga de porta, de calcário branco, do século XVIII, contendo, ao centro, bonito bra-são de armas da Ordem do Santo Sepulcro de Jerusa-lém, procedente do antigo Convento de São Francisco da Cidade, casa religiosa cujos membros deveriam velar pelos lugares Santos (PINTO, OLIVEIRA, 2005, p. 405, nº 1384). O terceiro botão, com decoração mais singela, formada por reticulado pode ter procedência idêntica à do que antes referimos.

Dois pendentes mostram formas distintas. Um deles é cordiforme, mostrando coração coroado e flamejan-te. Contém perfuração para ser dependurado e exibe, em uma das faces, três cartelas horizontais onde se inscreveu a frase V(IV)A QVE/M · AM/A, alusão clara

ao Sagrado Coração de Jesus ou ao “Divino Esposo”. O segundo pendente, reduzido a fragmento subcircular, contém duas linhas de letras: SOV/CCAL, talvez as três últimas correspondendo à palavra Calvário.

Houve diversas confrarias dedicadas ao Sagrado Coração de Jesus, pelo que são bem conhecidos os corações flamejantes e coroados ou não, tanto em pin-turas vasculares da faiança portuguesa, como em peças de ourivesaria e em elementos arquitectónicos. Anel de

prata encontrado em sepultura da igreja do convento da missão de Santa Catarina de Guale (Savannah, Georgia), do século XVII, mostra coração com aquelas caracterís-ticas, denunciando a difusão da devoção e do culto do Sagrado Coração de Jesus, no Novo Mundo (DEAGAN, 2002, pp. 15, 83, fig. 4.51).

Aquele expandiu-se, na segunda metade do século XVII, devido sobretudo à acção de Santa Margarida de Alacoque (1673), passando o coração a representar, entre os católicos, o amor por Cristo.

Duas pequenas placas podem ter pertencido a guar-nições de móveis ou de caixas, encontrando-se uma delas com singela decoração incisa e mostrando a ou-tra duas pequeníssimas perfurações para a sua fixação, através de pinos metálicos.

Fragmento sub-paralelepipédico, com pequenas in-cisões em bordos opostos, procedente da Fossa 6, pode corresponder a porção de cabo de garfo ou colher.

As restantes peças de madrepérola correspondem a botões, que sabemos serem conhecidos na Ásia e Nor-te de África, usados na Europa possivelmenNor-te a partir do século XV, oferecendo cronologias que podem alcançar o século XX, mostrando formas distintas, desde o disco simples, à de disco com bordo destacado, mais ou menos largo, mas quase todas elas apresentando duas perfura-ções para fixação. Botões de madrepérola, com dois furos centrais são mais antigos que exemplares possuindo qua-tro furos. Aqueles primeiros foram datados em Ste

Augus-tine (Florida) no século XVIII (DEAGAN, 2002, p. 173). Os botões possuindo quatro perfurações, dispostas em quadrado, devem ser atribuídos aos séculos XIX-XX. Os botões tiveram, e têm, muitas vezes, duas funções, a fixa-ção ou fecho de roupa sobre o corpo ou de ornamento.

Os botões, de concha ou madrepérola, só surgem nas colónias espanholas do Novo Mundo na segunda metade do século XVI, tendo principalmente aplicação militar, embora o seu uso tenha crescido muito depois de 1760 (DEAGAN, 2002, p. 157).

5. Artefactos de carapaça de tartaruga

Pelo menos três fragmentos de travessas, outros de bandolete e um de pente, exumados no Convento de San-tana foram feitos em carapaça de tartaruga, desconhe-cendo-se se de origem atlântica, onde tal quelónio é abun-dante nas águas tropicais, se do Índico ou do Pacífico.

As travessas, possuem dentes longos e afastados uns dos outros, sendo o corpo estreito, mostrando cla-ramente que a sua utilização não provocava esforço que levasse à sua quebra fácil, pois elas, embora prendendo o cabelo, serviam, sobretudo, como elemento decorati-vo, próprio do mundo feminino.

A bandolete servia, tal como as travessas, para pren-der o cabelo. A origem deste artefacto pode remontar à Pré-História, conhecendo-se restos de bandoletes em metais preciosos, como o ouro. Foi usada no Antigo Egip-to e nos mundos grego e romano. Na Europa alcançou grande moda durante o Império, como adereço feminino.

Pequeno fragmento de pente simples, com o arran-que de treze dentes, foi igualmente recolhido. Os pentes simples são aqueles que possuem apenas uma fiada de

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Figura 17 – Pendentes e botões de madrepérola (Convento de Santana)

(foto J. Gonçalves).

Figura 18 – Fragmentos de bandolete e de travessas, de carapaça de tartaruga (Convento de Santana)(foto J. Gonçalves).

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dentes. A sua produção especializada surgiu na Idade Média, conhecendo-se exemplares, com ascendentes na Pré e Proto-História, manufacturados, não só em osso, como em marfim, carapaça de tartaruga, chifre, madeira e metal, designadamente de prata e de ouro.

Material considerado semi-precioso na Europa me-dieval e moderna, devido às suas origens exógenas, a carapaça de tartaruga foi também apreciada devido ao seu aspecto, com manchas de tons diferentes, da cor amarela à castanha, sendo translúcida. Trabalhada fa-cilmente quando aquecida, serviu para produzir caixas, de diferentes formas e dimensões, tal como utensílios e adornos, ou, ainda, foi aplicada em embutidos de mo-biliário. Entre a utilização mais comum, nos países ibé-ricos, encontrava-se a produção de pentes, travessas, peinetas e bandoletes. Varetas de leque, de carapaça de tartaruga, foram encontradas no naufrágio do San José de las Animas, na costa da Florida, ocorrido em 1733 (DEAGAN, 2002, p. 219).

A exploração económica da tartaruga, durante o século XVII, nas ilhas do arquipélago de Cabo Verde, encontra-se documentada através da literatura e dos resultados decorrentes de trabalhos arqueológicos efec-tuados em dois concheiros identificados na ilha de São Vicente, nos sítios de Salamansa e João d’Évora, onde foram encontrados abundantes restos osteológicos da-quele animal (RODRIGUES, 2000-2001; CARDOSO et alii, 2002; CARDOSO, SOARES, 2010; GOMES, CA-SIMIRO, GONÇALVES, 2012, p. 101). Não obstante, durante a Idade Moderna, a qualidade mais apreciada de carapaça de tartaruga correspondia à pescada nas Maldivas e Filipinas.

Parte de travessa, medindo 0,09 m de comprimen-to, foi recuperada, em nível atribuído ao século XVIII, do poço existente a área do edifício dos Paços do Concelho de Torres Vedras, constituindo excelente paralelo para as peças do Convento de Santana (CARDOSO, LUNA, 2012, pp. 169, 171, fig. 32).

Dos artefactos elaborados a partir de carapaça de tartaruga, recolhidos nas escavações do Convento de Santana, as travessas e o pente apresentam aspecto escamado, algo decomposto e dúctil, enquanto a ban-dolete se mantém bastante densa e rígida. Tal facto po-derá advir, não só de aspectos tafonómicos mas de a matéria-prima utilizada na execução daqueles artefactos ter origem em diferentes espécies de tartaruga, possuin-do características físicas e formais distintas. Por exem-plo, a tartaruga-de-couro (Dermochelys coriaces, Van-delli, 1761), é a maior das tartarugas e a sua carapaça é constituída por matéria semelhante ao couro, não ser-vindo para produzir artefactos rígidos. Ao invés, a tarta-ruga-de-pente (Eretmochelys imbricata, Linnaeus,1766) ganhou esta nomeação precisamente por ser a mais co-mummente utilizada na execução de artefactos. Possui quatro pares de placas laterais imbricadas e cinco placas centrais, espessas e rígidas.

6. Artefactos de coral

Identificaram-se, apenas duas pequenas contas, produzidas com coral, de cor vermelha rosada, uma

delas, de forma esférica, é procedente da Fossa 3 e a outra, com forma cilíndrica, provém de nível arqueológico contendo abundantes restos orgânicos (Q219).

As pequenas dimensões destes adornos, o primei-ramente mencionado medindo 0,004 m de diâmetro e o segundo 0,008 m de comprimento, parece afastar a hipótese de se tratar de elementos de rosários ou de ter-ços e terem feito parte de brincos ou de outros adereter-ços, podendo, nomeadamente, terem sido fixados a vestidos.

O coral vermelho, tido na Grécia Antiga como oriundo do sangue da Medusa, caído ao mar, a quando da sua decapitação pelo herói Teseu, mas também, por certo, devido à sua origem nas profundezas das águas oceâ-nicas, como sendo procedente de paragens longínquas, oferecendo aspecto arboriforme e cor vermelha, embora se conheça de outras cores, foi, desde muito cedo, tido como possuindo propriedades apotropaicas. Já Plínio (N.H. XXXII, 24) recomendava o seu uso em amuletos de crianças, nomeadamente de leite, tendo em vista preservar das cólicas, dos cálculos e de outras doenças vesiculares. O uso de contas de coral vermelho na Pe-nínsula Ibérica ascende, pelo menos, à Idade do Bronze, dado ter-se encontrado um de tais adornos, com forma bitroncocónica, em cista (13) da necrópole de La Traviesa (Huelva) (GARCÍA SANJUÁN, 1998, pp. 154, 155).

O retrato da infanta Ana Maurícia de Áustria, mos-tra-a protegida por diversos amuletos e segurando ramo de coral vermelho na mão direita.

Tido como possuindo propriedades apotropaicas, capazes de protegerem dos trovões, relâmpagos e tem-pestades, do mau-olhado, do demónio, dos feitiços, da loucura e demais doenças, mas igualmente de restaurar forças e o sangue, usando-se contra hemorragias, os males das gengivas e dos dentes, a gota, problemas do fígado e intestinos, designadamente lombrigas, a epi-lepsia, em feridas diversas ou, ainda, para o sucesso dos partos, o coral era tomado moído e sobretudo a sua variedade branca. Gaspar de Morales (1598, pp. 330-352) refere: “son las cuentas, q cõ el artificio hazem los curiosos torneros, q sirve de ornato para los cuellos y muñecas de las damas”. Ainda em Espanha era cha-mado “La Buena Sombra”, pelas propriedades benéficas que se julgava possuir (HILDBURGH, 1906, p. 460; MORRIS, 2001, p. 43). Francisco T. Valdez (1864, p. 234) chamou-lhe “a mais preciosa substância do mar, logo depois das pérolas”.

A apanha de coral, na costa portuguesa, encontra-se documentada, em termos literários, para a Idade Média, designadamente a partir de, pelo menos, meados do sé-culo IX. De facto, Ibn Jurdadbih, em 844, mas baseado em informações anteriores, refere, entre outros produtos peninsulares exportados para o Norte de África e o Orien-te, o coral obtido nas costas hoje portuguesas (GOZAL-BES CRAVIOTO, 1991, p. 31). Bem mais tarde, carta de privilégio, datada de 1443, conferiu a exclusividade da pesca do coral a Bartolomeu Florentim e a João Forbim, de Marselha. Todavia, este mesmo privilégio haveria de ser concedido, em 1450, ao Infante D. Henrique (MARQUES, 1988, pp. 523, 537). O coral do Algarve era considerado como de melhor qualidade, mesmo em relação ao pro-veniente da zona do Cabo de São Vicente. No entanto, muito do coral vermelho (Corallium rubrum) existente na

MÁRIO VARELAGOMES, ROSA VARELAGOMES, JOANAGONÇALVES

I Encontro de Arqueologia de Lisboa

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Península Ibérica era oriundo do Mediterrâneo, onde era tido como sendo melhor o da Sicília (Siracusa) e, mais tar-de, da América do Sul e Oriente (VITERBO, 1903). Tam-bém se pescou coral na costa sul da ilha de São Tiago, no arquipélago de Cabo Verde (VALDEZ, 1864, p. 232). Gaspar Correa (1858, p. 101) relata que Vasco da Gama terá oferecido, em reconhecimento pelas dádivas com que foi obsequiado por dignatário indiano “(…) huma peça de cetim cremesim, e dez ramaes de coral grandes (…)”. Mas “(…) ramal de coral com quatorze estremos (…)” integrava a carga da nau Nossa Senhora da Luz, naufragada em 1615, na costa de Porto Pim, na Ilha do Faial, Açores (VIANA, 1999, p. 111).

É possível que pequenas contas de coral, de cor ro-sada, exumadas nas ruínas da Igreja de Santa Maria do Castelo (Torres Novas) por um de nós (M.V.G.), perten-cessem a rosário, as mais dispendiosas para além das produzidas em metais preciosos e das de cristal, confor-me docuconfor-mentam róis de embarque para as Caraíbas de 1526 a 1618 (DEAGAN, 2002, pp. 67, 68).

Colar constituído por 121 pequenas contas de coral vermelho, atribuído aos séculos XVI-XVII, foi exumado na Igreja do Convento do Carmo, de Lisboa (FERREI-RA, NEVES, 2005, p. 608, nº 1659). Também rosário, formado por contas de coral e de ouro, foi recuperado nos restos do naufrágio, ocorrido em 1622, do galeão Nuestra Señora de Atocha (DEAGAN, 2002, pp. 63, 68, fig. 4.24).

7. Conclusões

O acervo que sucintamente descrevemos e tentámos integrar, em termos funcionais e culturais, corresponde a período em que a história se tem escrito bem mais base-ada na informação literária e iconográfica do que na ar-queológica que, de facto, muito escasseia. A Arqueologia das Idades Moderna e Contemporânea iniciou há pouco os seus primeiros passos, pelo que os conhecimentos disponíveis, muito diversificados, dado o desenvolvimento e a complexidade das sociedades de então, não consti-tuem corpo de dados sistematicamente organizados que nos permitam, de modo seguro e fácil, classificar arte-factos, atribuir cronologias e funções, sobretudo no que respeita aos muito pequenos objectos, como os produzi-dos em matérias duras de origem animal. Importa relevar o esforço de Kathlean Deagan (1987; 2002) em reunir e sistematizar os testemunhos materiais conhecidos, acu-mulados durante três séculos, das colónias espanholas da Florida e Caraíbas, trabalho que muito importa ao estudo da produção, difusão, utilização e da cronologia daqueles, tendo como principal objectivo o conhecimento das sociedades que os manipulavam.

Para a colecção agora dada a conhecer foi fácil che-gar à conclusão de que o osso de grandes mamíferos, por certo domésticos, constituiu a matéria-prima mais utilizada, presença que quase faz recordar os tempos pré-históricos, apesar da acção nefasta dos processos tafonómicos que sobre eles actuaram, conduzindo em muitas situações a alterações importantes e, até, ao seu desaparecimento.

Gráfico I - Convento de Santana. Quantidades e percentagens de artefactos, de acordo com as

matérias-primas duras, de origem animal, em que foram produzidos.

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Os artefactos em matérias duras de origem animal do Convento de Santana provêm, a maior parte, de con-textos algo heterogéneos, em termos funcionais e, até, cronológicos, correspondendo ao enchimento com lixos, de origem diversa, de poços e de fossas de carácter séptico. Constituem excepção as contas de osso, pro-cedentes das sepulturas 1, 3B, 6, 7 e 9 e a travessa, de carapaça de tartaruga, exumada na sepultura 5, onde acompanhava defunta.

Os diversos artefactos de osso exumados no Con-vento de Santana mostram elevada percentagem, onde a cadeia operatória da sua produção se iniciou com o corte e desbaste da peça osteológica, normalmente diá-fises de ossos longos, dado serem os que proporcionam mais matéria-prima e de melhor qualidade, por serem mais espessos e densos. Depois obtinham-se os objec-tos desejados através de novos cortes ou com o auxílio de serras, do torno ou de arcos de pua. Em seguida, as peças eram submetidas ao acabamento, usando-se decorações incisas e a acção de abrasivos, para melhor regularizarem e polirem superfícies e volumes. Em casos particulares, pequenos cinzéis, goivas e puas ajudaram a esculpir pormenores e acabamentos.

As contas de osso constituem, conforme referimos, não só o tipo de artefacto mais abundante, como aquele que mostra maior polimorfismo. Estes aspectos ficaram-se a dever, ficaram-sem dúvida, ao ficaram-seu uso em rosários e terços, como em colares, pulseiras e, até, em brincos.

Os rosários, que serviam para orientar as rezas e promover a meditação religiosa, eram normalmente do

tipo chamado dominicano, sendo constituídos por quinze conjuntos de dez contas, tantos quantos os mistérios da Igreja, e que representavam Ave-Marias, sendo cada um precedido por um Padre-Nosso e seguido pela recitação da Glória ao Pai. No final recitava-se o Credo dos Após-tolos, dois Padre-Nossos, três Avé-Marias e uma Glória. Na extremidade existia cruz, que podia ser constituída por contas do tipo balaústre, crucifixo ou medalha, con-soante as devoções.

Os terços eram formados por três conjuntos de dez contas, que representavam Avé-Marias e eram rezados em honra da Santíssima Trindade.

Além dos artefactos de devoção que constituem parte do acervo agora apresentado, constituem núcleo muito significativo aqueles ligados à higiene pessoal e ao trajar. Em bem menor quantidade encontram-se os arte-factos ligados com actividades económicas ou lúdicas.

O acervo de objectos em matérias duras de origem animal do Convento de Santana, de Lisboa, pouco reflec-te o conreflec-texto de “luxo e devoção” em que viviam as suas freiras e acólitas, durante os séculos XVII e XVIII, cronolo-gia a que pertence a grande parte do espólio ali exumado. Quanto a nós, melhor caracteriza o ambiente económico e social que ali se viveu, o copioso conjunto de porcelana chinesa, a elevada quantidade de faiança portuguesa, a par de algumas lígures e sevilhanas, os vidros nacionais e importados, algumas jóias e maciços revestimentos azulejares, denunciando a presença de ordem religiosa abastada e de freiras com poder económico, estatuto so-cial elevado, habituadas a vida requintada. Aliás, ser-se

Gráfico 2 - Convento de Santana. Quantidades e percentagens dos diferentes artefactos pro -duzidos em matérias-primas duras, de origem animal.

MÁRIO VARELAGOMES, ROSA VARELAGOMES, JOANAGONÇALVES

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freira constituía importante estatuto e dependia então de diversos factores de carácter social e/ou pessoal, muitas vezes alheados da devoção e espiritualidade religiosas. Por isso, os votos de castidade, clausura, obediência e pobreza, nem sempre eram observados, conforme per-mitem deduzir, não só os espólios arqueológicos, onde se incluem itens luxuosos, como os escritos de diversos moralistas coevos (TRINDADE, 2011; 2014), como os padres António Vieira (2001) (1608-1697), Manuel Ber-nardes (1728) (1644-1710) e outros que criticaram o lu-xuoso e, por vezes, permissivo ambiente vivido em alguns conventos, onde os caminhos da devoção e a austerida-de material foram, não raro, esquecidos. Recorausterida-dem-se as palavras do padre Manuel Velho (1730, pp. 46, 313) ao referir tais ambientes de luxo e ostentação, onde a cela muito longe de ser austera mais seria “hum gabine-te, ou escaparate secular dos mais preciozos” pelo que “Génova, e a Índia estão e devem estar muito longe de uma Freyra”, referindo-se às baixelas de mesa e a outros artefactos muito dispendiosos e com origem exógena que denunciam elites sociais abastadas, com elegância de costumes e de gostos. E, no século XVII, “o Convento substituía, no caso português, o espaço de convívio so-cial que oferecia o salão nas cortes europeias” conforme reconheceu J. A. Troni (2008, p. 215).

Os artefactos de devoção, em matérias duras de ori-gem animal são escassos, se excluirmos as contas de rosário e terços, aspecto que encontra explicação em terem utilizado, para os mesmos fins, outras matérias-primas, devido a não se conservarem sob acção dos agentes tafonómicos.

O Convento de Santana foi um dos maiores de Lis-boa, dos cerca de noventa que se contavam em 1755. Ali se albergavam, em 1702, cerca de três centenas de pessoas, entre as quais centro e trinta religiosas e em 1777, era habitado por mais de quatro centenas de

almas, muitas delas provindas de conventos arruinados pelo megassismo de 1755, embora em Santana tam-bém tivesse em parte ruido, nomeadamente a sua igreja e sector dos dormitórios (VIEGAS, 1893, p. 65; PIRES de LIMA, 1972, pp. 360, 361; MONTEIRO, 2005, p. 51; GOMES, GOMES, 2007, p. 76). Recordemos que em 1750 existiam, em Portugal, 1129 conventos e mosteiros femininos (CHANTAL, 2005, p. 151).

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