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TEMA: COMPLEXO DE ÉDIPO NA TEORIA DISCIPLINA: PSICOLOGIA CLINICA E PSICODINÂMICA CONTEÚDO

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Academic year: 2021

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Prof. Dr. Alexandre Pereira de Mattos

AULA Nº 3

TEMA: COMPLEXO DE ÉDIPO NA TEORIA

FREUDIANA

DISCIPLINA: PSICOLOGIA CLINICA E PSICODINÂMICA

CONTEÚDO

"Uhh....eu quero você, como eu quero..."

KID ABELHA

As teorizações de Freud em torno do mito de Édipo é, sem dúvida alguma, um dos pilares mais importantes da Psicanálise. Embora muitos autores contestem ainda hoje a validade do conceito no que diz respeito à sua universalidade (todo mundo passa pela fase edípica) e ao seu substrato biológico (nosso corpo biológico estaria programado para passar pelas turbulências edípicas), sua importância reside no fato de que os sofrimentos neuróticos podem ser melhor compreendidos a partir das vivências, favoráveis ou não, nesta fase.

Freud utilizou-se do mito de Édipo como um modelo e uma hipótese acerca de um drama vivido pelas crianças e adolescentes, cujas marcas acompanham a vida adulta. A construção dos conceitos edípicos partiu das análises dos casos clínicos de Freud. Ele percebia que o sofrimento psíquico e as lembranças reprimidas no inconsciente se assemelhavam ao drama mitológico. Mas que drama é esse? Trata-se de um drama atravessado por relações amorosas, posse, fantasias sexuais, poder e exclusão.

Todos nós vivenciamos estas emoções e seus rastros nos acompanham até hoje. Estes podem ser extremamente limitadores (neurose) ou podem elucidar algo do humano comum.

Nesta aula, abordaremos os principais caminhos edípicos vivenciados pelo menino e pela menina e acrescentaremos algumas contribuições contemporâneas de J. D-Nasio em seu livro "Édipo: o complexo do qual nenhuma criança escapa".

ANTES DE INICIARMOS....

Convém anteciparmos algumas premissas básicas que subsidiarão a compreensão da vivência edípica ao longo do texto.

1. Tanto para o menino quanto para a menina, a mãe é vivenciada desde o seu início como fonte de amor e de prazer (derivado do carinho físico) como também fonte de poder. A mãe não é sentida somente como objeto de prazer, mas como alguém que tem poder e força.

2. No início da fase fálica, a criança não distingue claramente o masculino do feminino, mas quem tem PODER e quem não o tem.

3. Antes da percepção da diferença entre os sexos, toda a criança acha que todo mundo tem o falo (premissa universal do falo).

4. Após a constatação da diferença entre os sexos, o falo será associado, no caso do menino, ao pênis. Devemos considerá-lo então como falo-pênis. No caso da menina, o falo passa a estar associado à autoimagem, ou seja, falo-imagem.

5. A Lei, comumente associada ao pai, deve ser entendida como uma função paterna. E neste sentido, a mãe pode exercer o poder de lei porque o que é paterno está associado à Lei e não ao sexo do genitor.

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O desmame, a eliminação das fezes, as proibições, etc, são vivências de perdas já internalizadas pela criança. Daí que a ameaça de castração ganha força, principalmente para os meninos.

Feitas estas considerações iniciais, avancemos para o édipo no menino e na menina.

O CONFLITO EDÍPICO NO MENINO "Você foi a melhor coisa que eu tive, Mas o pior também em minha vida.

Você foi o amanhecer cheio de luz e de calor, E em compensação, o anoitecer, a tempestade e a dor"

("Você em minha vida" - ROBERTO CARLOS).

Quando o menino se direciona para a fase fálica, o investimento libidinal se desloca para a área genital. O menino sente prazer na manipulação do órgão, tanto por ele quanto pela sua mãe.

Trata-se de um momento importante na vida do garoto pois ele começa a incluir o outro em sua vida sexual. Até então o prazer em seu corpo era exercido por ele próprio (autoerótico); agora a figura da mãe exerce um poder central neste momento. Torna-se um abandono paulatino de uma lógica narcísica para uma lógica dual. Se ele tem o poder de se proporcionar prazer e se o outro também o tem, logo todos têm esse poder. Isso mesmo: PODER. Por isso que o menino (e a menina também) considera inicialmente que todos possuem este poder-falo. Quando o menino constata que a menina ou a mãe não possui o apêndice que ele tem, dá-se início a uma série de fantasias.

A primeira delas é de que o pênis da menina ainda vai crescer, como uma forma de persistir na premissa inicial da universalidade do falo. Esta fantasia perde força quando o menino desenvolve sentimentos ambivalentes em relação ao falo. Por um lado é algo muito bom, pois ele foi contemplado com aquilo que há de mais de valor: o pênis.

Por outro, as mulheres não o tem porque lhe foram tiradas. Mas por que o pênis é sentido como algo importante e como falo? Primeiro, porque é sua fonte primordial de prazer sexual, segundo porque a figura do pai, que é "dono" da mãe, dá força a essa fantasia.

Alguns exemplos que ajudam a elucidar o enaltecimento do falo-poder:

"Vai tomar banho que seu pai tá chegando" "Eu vou falar para o seu pai hem!"

O menino, que já tem sua mãe como objeto de amor, passa a tê-la também como objeto de desejo. Ele não quer copular com a mãe, mas quer vivenciar com ela

aquela fusão prazerosa em que os dois são um. Únicos, unidos por um desejo de posse e satisfação sexual.

Mas a ameaça de castração sonda o terreno desde a constatação da diferença entre os sexos. Embora o pai seja vivenciado como também objeto de amor, ele também o é como alguém que possui maior força (falo).

É neste momento que, segundo Nasio, o menino vivencia três fantasias sexuais e três angústias de castração.

A mãe é tida como objeto de desejo, o que vem despertar fantasias de uma sexualidade ativa em relação a ela. O pai surge como uma ameaça repressora (não é ainda um rival a altura), pois a constatação da plena força paterna ainda está sendo construída e tateada. "Eu quero a mamãe, mas ele pode não gostar".

Na medida em que o conflito avança, o desejo por possuir a mãe permanece, mas o pai avança em sua falicidade. O desejo é proporcional à angústia. Logo, quanto mais o menino deseja a mãe, maior será o desejo de enfrentar o pai e maior será a angústia. O pai não deixa de ser uma ameaça repressora, mas adquiri também o estatuto de rival. Nasio introduz outra fantasia sexual no menino, o que muitos autores denominarão de "édipo invertido". Diante da angústia de um pai repressor, o menino pode escolher como saída abandonar a mãe como objeto de desejo e atribuir tal estatuo ao pai. "Se ele é forte, mais forte que eu e tem a mamãe, eu quero que ele me tenha também para eu possuir a mesma força fálica". Neste momento, o menino se vincula ao pai como dependente, submisso e passivo. Trata-se do que Nasio irá chamar de "seduzir para ser seduzido". O menino é o primeiro sedutor nesta relação com o pai, estabelecendo com ele um vínculo de dependência e submissão.

Ele ainda não quer ser o pai (identificação), mas quer tê-lo. Mas nem por isso a ameaça de castração cessa de existir. Como os sentimentos são muito ambivalentes nesta fase, o medo do menino passa não ser o de perder o penis-falo, mas de perder a virilidade. Podemos observar isso em homens que se colocam de forma submissa e sedutora em relação a um chefe, mas se ressente pela condição de dependência na qual ele próprio se encontra. Ele seduz, é seduzido, mas a angústia de perder a virilidade surge em forma de conflito.

Retomando então as três fantasias sexuais e angustias do menino.

1. Fantasia sexual. Ativa com a mãe, passiva com o pai, e ativa com a mãe (quando passa a rivalizar com o pai.

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Estas três fantasias atravessam a fase edípica do menino, mas ele se especializará em uma delas. O menino que se fixar na posição submissa-sedutora em relação ao pai terá dificuldades (mas não é impossível) de voltar a ter a mãe como objeto de desejo. Para Nasio, esta versão do édipo invertido não serve somente para explicar os casos de homossexualidade masculina, mas também da neurose histérica masculina. Para este autor, toda problemática envolvendo a neurose deve ser analisada a partir da relação do sujeito com o genitor do mesmo sexo e não o oposto.

Ele também nos adverte a não considerarmos que todo o menino que se fixa nesta relação sedutora com o pai será necessariamente um neurótico ou homossexual. Ele pode desenvolver uma tendência a submissão, dependência e sensibilidade exacerbada. Não é difícil observamos homens que assumem junto a uma figura de autoridade (tanto homens como mulheres, pois o falo não necessariamente está vinculado ao sexo biológico) um lugar sedutor-seduzido. É o homem bonzinho junto ao chefe tirânico, é o aluno aplicado e cordial junto a uma professora austera, etc. Poderá se tornar uma neurose em razão do conflito pelo medo de perder a virilidade. Em suma, este tipo de neurose segue o seguinte esquema:

EU SEDUZO- SOU SEDUZIDO - ME REBELO CONTRA ESTE LUGAR DE SUBMISSÃO (PERDA DA VIRILIDADE)

Em razão da angústia de castração, o menino se vê obrigado a abandonar seu objeto de desejo, seja ele a mãe ou o pai. A constatação de que não se pode ter tudo é fundamental para o psiquismo de qualquer criança. Mas esta constatação não é tão fácil de ser alcançada. A frustração da realização do desejo pode ser tão grande que gerará uma busca frenética na fase adulta. Mas como estratégia de sobrevivência, o menino precisa abandonar esse objeto de desejo nesta fase, abrindo espaço para identificações cujo processo já se iniciara antes.

O menino incorpora traços da mãe e do pai (é errôneo pensar que o menino se identifica somente com o pai). A internalização destes pais (agora parcialmente dessexualizados) fundará o então chamado SUPEREGO.

E, segundo as fantasias sexuais e ameaças de castração descritas anteriormente, este SUPEREGO assumirá características de repressor, sedutor ou rival. Vale acrescentar que dessexualização dos pais nunca é completa. Portanto, quando atendemos alguém na clínica com um superego muito rigoroso, precisamos entender que os pais internalizados ainda estão muito sexualizados, portanto ainda idealizados. Na puberdade, estas fantasias voltarão e serão atualizadas de forma mais adaptativa (diminuição da

angustia e fortalecimento da identidade) ou não (neurose).

A puberdade pode ser o momento de novas descobertas e encaminhamentos destas fantasias e angústias, como também pode ser o momento de maior dor do ser humano.

(com esta explanação, penso que a leitura do quadro 1 pode ser facilitada agora).

O CONFLITO EDÍPICO NA MENINA

As premissas apresentadas no início da aula servem também para a compreensão do édipo para a menina.

No caso dela, a menina estabelece com a mãe uma relação de amor e também sexual. Sim, a mãe é vivenciada como um objeto sexual (devido às carícias e estimulação critoriana).

Por conta disso, todo mundo possui o falo (poder e onipotência). As fantasias sexuais da menina são ativas em relação a mãe (tal e qual no menino). A constatação da diferença entre os sexos inaugura igualmente o drama edípico para a menina. Ao constatar que ela e a mãe não têm o falo, não se inicia uma angústia de castração pois ela já nasceu desprovida do falo-pênis e sua mãe tampouco lhe deu. Surge uma angústia de privação. Se no menino aparece o medo, na menina aparece a dor e sofrimento.

Não tendo o falo como apêndice visível, o falo passa a ser a própria imagem da menina. Por que imagem? Se ela não tem o falo, sua imagem é de incompletude e da falta. Ela não tem nenhum orgão para potencializar (ou falicizar) a não ser ela própria. Neste momento, associado à dor da privação, a menina desenvolve um ciúme ou inveja do pênis que o menino e o pai possuem. Teoricamente atribui-se à menina a então chamada INVEJA DO PÊNIS (o que muitos autores virão a discordar, principalmente as feministas).

Mas o fato de não ter o falo não encerra a questão. O falo é algo extremamente precioso. Se eles têm porque ela não pode tê-lo? Diante deste enigma, a menina desloca seus investimentos libidinais, até então direcionados à mãe, e volta-se para o pai. Ela está ressentida com a mãe, o que facilita seu abandono enquanto objeto de desejo. O pai poderá dar-lhe o falo na medida em que ele o tem. Se o falo não é mais um apêndice e sim sua imagem, como pai poderá dar essa falicidade a ela? Investindo em sua imagem. A menina é a preferida do papai.

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Ela quer ser possuída por ele, pois só assim sua imagem voltará a ser revestida de falicidade.

Ocorre então a SEGUNDA RECUSA paterna, o que intensifica a dor da menina. O pai não só não lhe deu o falo como também não a transformará em um.

Diante desta nova dor, a menina volta-se para a mãe, não como uma rival agora, mas como uma parceira inspiradora: "me ensina como ser uma mulher do papai". A relação entre mãe e filha passa a ser amistosa e fonte de identificação.

Em razão do sofrimento, a criança vê-se obrigada a renunciar ao pai fálico e potencial sedutor e o internaliza como um pai real (na menina ocorre o mesmo que o menino: ela se identifica com o pai também). Se presa nessa dor, a mulher púbere permanecerá numa jornada pela busca do falo-imagem. Ser amada por um homem, ter um filho com ele (eu não tenho o falo, mas faço um!).

O édipo invertido na menina dar-se-á pela volta à mãe como objeto de desejo em razão das recusas anteriores. Se a identificação com a falicidade do pai for intensa, ela encontrará na mãe a possibilidade de ter com ela o que o pai tem com a figura feminina. Uma relação de amor-sexual.

No caso da neurose histérica, esta pode ser entendida também como a reedição constante deste drama da privação, alimentada pelo eterno inconformismo.

Ex: uma mulher que se acha poderosa (fálica) encontra um rapaz numa balada e o leva para o seu

apartamento. Eles têm relações sexuais a noite toda e seu medo é do cara se apaixonar por ela. Ela sinaliza que o encontro é somente sexual. Pela manhã, o cara se despede e diz que mais tarde ligará para ela. Ela de início nem quer pois ela é uma mulher livre (ou seja, ela tem o falo e não o homem). Só que ele não liga e ela então se recente. Percebem o que ocorreu? Ela foi jogada novamente numa dor da privação, anteriormente disfarçada por uma fantasia de que ela era o falo e, portanto, completa.

Uma das principais criticas a Freud em torno do Édipo na menina diz respeito ao seu caráter machista em posicionar a mulher como faltante e ressentida. A noção de feminilidade é teoricamente complexa, mas muitos autores afirmam que a emancipação feminina se dá pela constatação não de que algo lhe falta, mas de que ela é diferente, com uma sexualidade diferente. O abandono da busca pelo falo não confere a ela um lugar de castrada, mas de mulher.

Vejam agora o segundo quadro sintético do Édipo na menina.

Sugestões: para quem desejar articular estes conceitos com situações do cotidiano, sugiro que leiam a peça "Um Bonde Chamado Desejo" de Tenessee Williams (personagem Blanche Dubois) ou vejam o filme

disponível na internet

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