Estigma Social e Esquizofrenia: Uma Revisão Integrativa
Autores: Alex Leonardo de Souza; Sonia Paiva Silva Mota Gonçalves.
1. INTRODUÇÃO
Em sua origem etimológica advinda do grego o termo estigma remete a um sinal ou marca corporal utilizado para destingir a condição moral de quem o porta – sentenciados, criminosos, escravos – o qual de forma notória deveria destingi-lo do grupo social dominante (NEUBERG, SMITH, ASHER, 2003). Entretanto, o conceito de estigma social tem seu principal marco acadêmico na definição elaborada por Erving Goffman em seu ensaio, Estigma: Notas sobre a manipulação da identidade deteriorada, originalmente publicado em 1963 (NEUBERG, SMITH, ASHER, 2003).
Através da perspectiva psicossocial o processo de estigmatização se dá através de modelos históricos e sociais tendo como atributos o reconhecimento da diferença com base em uma característica distinguível ou marca, ocorrendo assim a desvalorização do seu portador (SOARES, 2011). Além disso, nessa mesma perspectiva, considera-se a influência do contexto social sobre a perspectiva do estigmatizador, do estigmatizado e da interação dinâmica entre ambos, gerando consequências sociais sobre os domínios cognitivo, comportamental e afetivo (SOARES, 2011).
A OMS e a AMP (Associação Mundial de Psiquiatria) reconhecem que a estigmatização e o preconceito ligados aos transtornos mentais estão diretamente associados com o sofrimento e as incapacidades de seus portadores, assim como também a cronicidade dos mesmos (GRAHAM, 2006).
A estigmatização é ampla e afeta de forma negativa diferentes domínios da vida dos pacientes. O estigma, se não combatido, pode criar um ciclo vicioso de alienação e discriminação dos pacientes, levando ao isolamento social, incapacidade para o trabalho, abuso de substâncias, mendicância ou excessiva institucionalização, os quais diminuem as chances de reinserção social. (GRAHAM, N. et al, 2006.)
Consequentimente indivíduos com diagnóstico de esquizofrenia vivenciam experiências de estigmatização, preconceito e discriminação por serem diagnosticados com um transtorno mental (DICKERSON, 2002). Para Ferreira e colaboradores (2015) a esquizofrenia é o transtorno mental mais estigmatizado pela sociedade, por apresentar sintomas que o público geral associa a “loucura”: como alucinações, delírios, fala deconexa e anormalidades psicomotoras.
A experiência de conviver com a esquizofrenia portanto, não se resume aos sintomas, normalmente os mesmos são acompanhados pelo que se chama de “doença secundária”: as reações do meio social e o estigma associado com o transtorno mental (SCHULZE, 2003). A estigmatização é parte da dimensão do sofrimento que, somada à experiência de conviver com a doença, contribui para o afastamento e isolamento social, limitação das oportunidades de
vida e atraso na procura de auxílio, assim como a progressão do tratamento (FERREIRA, 2015).
1.1 JUSTIFICATIVA
Esta pesquisa se justificou pela demanda da AMP no Programa Global contra o Estigma e a Discriminação associados à Esquizofrenia (2005) que é a de entender e discutir o estigma social a esquizofrenia, assim como discutir estratégias para a sua redução. É reconhecido há algum tempo que o estigma associado à doença mental, assim como os comportamentos excludentes e discriminatórios oriundos do mesmo, constituem importantes barreiras às oportunidades de pessoas com transtornos mentais e, até, ao progresso e adesão nos tratamentos psiquiátricos (BATISTA, 2013).
Criou-se uma motivação para sintetizar este estudo, que é a de utilizar os resultados nele obtidos para capacitar e informar estudantes e profissionais das áreas da saúde a cerca da existência do estigma a esquizofrenia, assim como os malefícios que o mesmo gera na qualidade de vida desses pacientes e na de suas famílias.
1.2 QUESTÃO NORTEADORA
Como o estigma social em relação a esquizofrenia tem sido evidenciado nas produções científicas em saúde?
1.3 OBJETIVO GERAL
Analisar a produção científica em saúde acerca do estigma social sofrido na esquizofrenia.
1.4 OBJETIVOS ESPECÍFICOS
Identificar as produções científicas na saúde sobre o estigma social na esquizofrenia.
Descrever o estigma social na esquizofrenia evidenciado nas produções científicas na saúde.
Categorizar por tema as produções científicas sobre o estigma social da esquizofrenia
2. METODOLOGIA
O presente estudo trata-se de uma revisão integrativa de abordagem qualitativa. De acordo com Mendes et al a revisão integrativa é compreendida no campo da pesquisa por uma análise metodológica mais ampla dentro das pesquisas de revisões de literatura. Este tipo de análise metodológica abrange estudos experimentais e não experimentais para uma compreensão mais significativa do objeto pesquisado.
Este método de estudo tem por finalidade reunir informações qualitativas para melhor elaborar uma pesquisa satisfatória, sendo que, combina dados de pesquisas teórica e empírica, além de sintetizar uma gama de definições de conceitos, revisões de teoria, evidências e análises concretas de problemas metodológicos de um assunto em questão, tanto que, o campo da enfermagem demonstra um alto índice de satisfação na elaboração de revisão integrativa (GARUZI et al., 2014).
A coleta de dados foi realizada no período de Maio e Junho de 2016 usando a Biblioteca Virtual em Saúde (BVS) como base de dados. Contou com uma busca de publicações científicas entre os anos de 2010 a 2016 indexadas na base de dados MEDLINE e LILACS. Foram usados os seguintes descritores em ciências em saúde (DECS) combinados entre si: “estigma social”; “esquizofrenia” e “enfermagem”. A coleta de dados seguiu a ordem dos seguintes itens: título da publicação, periódico, ano de publicação, tipo de artigo, autor(es), objetivo da pesquisa em tratar da relação entre estigma social e a esquizofrenia e evidenciar o papel do enfermeiro frente ao estigma social na esquizofrenia
Como critérios de inclusão contarão artigos publicados no idioma português e inglês no período compreendido entre 2010 e 2016 nas bases de dados já citadas e foram utilizados somente artigos completos e com tema relevante aos objetivos da pesquisa. Como critério de exclusão não foram escolhidos textos incompletos e artigos que não estavam disponíveis na integra on-line, ou que não se encontravam disponíveis gratuitamente. Não contou com artigos que não fornecem informações relevantes sobre o objetivo da pesquisa que é analisar o estigma social e sua relação com a esquizofrenia.
3. RESULTADOS
ESQUEMA 1 – Identificação dos Artigos
A coleta e seleção dos artigos foi sistematizada no esquema acima (ESQUEMA 1).
Foram encontrados 105 artigos utilizando “estigma social”; “esquizofrenia” e “enfermagem”, 103 em língua inglesa e 2 em língua portuguesa. Deste total, 63 foram excluídos por não atenderem aos critérios de inclusão, 23 foram excluídos por não trazerem informações relevantes para os objetivos da pesquisa, 3 artigos foram excluídos por estarem repetidos nas bases de dados, obtendo uma amostra final de 16 artigos, 14 em língua inglesa e 2 em língua portuguesa. Os artigos em língua inglesa foram traduzidos pelos próprios autores dessa pesquisa.
QUADRO 1 – Principais temas identificados nas produções científicas selecionadas
Principais temas encontrados nos artigos selecionados
Incidência nos artigos relacionados
(N=16)
Ocorrência nos artigos selecionados
(%) Estigmatização e estigma
internalizado na Esquizofrenia
8 50%
Fatores que colaboram para redução do estigma
5 31,25%
O Estigma como barreira na procura de tratamento
2 12,5%
Estigma Social ao cuidador e família de portadores de
esquizofrenia
1 6,25%
Na análise dos artigos selecionados foram evidenciadas quatro categorias principais como pontos chave no debate sobre o estigma social na esquizofrenia. Em 50% dos artigos a processo de estigmatização o auto estigma juntamente com o estigma internalizado foram conceituados e associados em um amplo espectro. Dos artigos selecionados 31,5% discutem as possíveis medidas para a redução do estigma em relação a esquizofrenia e 12,5% apontam o estigma como um dos principais fatores que impedem que o portador de esquizofrenia busque tratamento após o surgimento dos primeiros sintomas. Apenas 6,25% inclui a família como parte estigmatizada ou participante no processo de estigmatização.
4. RFERÊNCIAS
BATISTA, L.T.M.B. Os profissionais de saúde e o estigma da doença mental. Porto:
ICBAS-UP, 2013.
FERREIRA, F.; FERNANDINO, D.C.; SOUZA, G.R.M.; IBRAHIM, T.F.; FUKINO, A.S.L.;
ARAÚJO, N.C.; et al. avaliação das atitudes de Estudantes da Área da Saúde em relação a Pacientes Esquizofrênicos. Revista brasileira de educação médica, Minas Gerais. v. 39, p.542 – 549, 2015.
GRAHAM, N.; LINDESAY, J.; KATONA, C.; BERTOLOTE , J.M.; CAMUS5 , V.;
COPELAND, J.R.M.; et al. Redução da estigmatização e da discriminação das pessoas idosas com transtornos mentais: uma declaração técnica de consenso. Rev. Psiq. Clín., v.34, p. 39 – 49, 2006.
NEUBERG, S.L.; SMITH, D.M.; ASHER, T. Why People Stigmatiza: Toward a Biocultural Framework. In: HEATHERTON, T.F The Social Psychology of Stigma. New York: The Gilford Press 200. p. 31- 55
SCHULZE, B.; ANGERMEYER C. Subjective experiences of stigma. A focus group study of schizophrenic patients, their relatives and mental health professionals. PubMed. v.56, p. 299 – 312, 2003.