• Nenhum resultado encontrado

Memórias da terra: análises cerâmicas e geoquímicas nos sítios Terra Preta 1 e Terra Preta 2

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2021

Share "Memórias da terra: análises cerâmicas e geoquímicas nos sítios Terra Preta 1 e Terra Preta 2"

Copied!
129
0
0

Texto

(1)

Lilian Panachuk

ORGANIZADORA

Estudos de arqueologia na área de intervenção da Mineração em Juruti-Pará

Programa de Educação Patrimonial

Memórias da terra:

(2)

Memórias da terra:

análises cerâmicas

e geoquímicas nos sítios

Terra Preta 1 e Terra Preta 2

Estudos de Arqueologia na área de influência

da Mineração em Juruti-Pará

(3)

Organização Colaboração Consultoria Revisão Ortográfica Ilustração Fotos Capa Projeto Gráfico/Diagramação Apoio Lílian Panachuk Daniel Cruz Greyce Guerra Eneida Malerbi Solange Caldarelli Tatiane Lima

Scientia Consultoria Científica Eliziane Duarte

Acervo Scientia Consultoria Patrícia Cassimiro

Wallace Felix Wallace Felix

Alcoa World Alumina Brasil Ltda

M533

Memórias da Terra: análises cerâmicas e geoquímicas nos sítios Terra

Preta 1 e Terra Preta 2: estudos de arqueologia na área de intervenção da

mi-neração Juruti-Para / Lílian Panachuk (org.); revisão, Tatiane Lima; projeto

gráfico, Wallace Felix. – São Paulo: [s. n.], 2016.

128p.: il.; 26 cm.

ISBN 978-85-61345-04-4

1. Patrimônio Cultural. 2. Educação Patrimonial. 3. Memória local.

I. Título. II. Panachuk, Lílian.

CDD

363.69

É permitida a reprodução total ou parcial desta publicação, desde que citada a fonte. Esta publicação não pode ser vendida. Tiragem: 150 exemplares.

(4)

4

Este livro é dedicado à arqueóloga Ana Lúcia Machado (em memória), que muito contribuiu para o estudo dos vestígios cerâmicos encontrados em Juruti. Obrigada pelo aprendizado, esta obra também é sua!

(5)
(6)

6

Este trabalho somente foi possível com a colaboração de uma rede de pessoas, igualmente importantes para a sua boa conclusão. A coordenação dos trabalhos foi executada por Dra. Solange Caldarelli e por Ma. Fernanda Araújo Costa, que traçaram as diretrizes da pesquisa arqueológica; Dra. Dirse Clara Kern foi responsável pelo estudo geoquímico. Importante apontar que as escavações dos sítios Terra Preta 1 e Terra Preta 2, no município paraense de Juruti, foram coordenadas pelas pesquisadoras Dra. Denise Gomes e Dra. Dirse Clara Kern, mais uma grande equipe de pesquisadores e técnicos de diferentes áreas. A Ma. Ana Lúcia Machado (a quem dedicamos esta obra) coordenou uma equipe de pesquisadores e técnicos para o entendimento da indústria cerâmica (Graduados Isabel Pinheiro, Sabrina Sousa e André Heron Carvalho dos Reis; Dra. Jucilene Amorim Costa; Técnico Fábio Correa dos Santos; Especialistas Greyce Oliveira e Thiago Guerra), enquanto o Me. Wesley Charles analisou o material lítico.

(7)
(8)

C - Carbono P - Fósforo Ca - Cálcio Mg - Magnésio TM - Terra Mulata

TPA - Terra Preta Arqueológica pH - Potencial Hidrogeniônico

Valor T - Estatística que compara o valor de duas amostras Zn - Zinco Mn - Manganês K - Potássio g - Grama ha - Hectare Cu - Cobre cm - Centímetro L - Litro/Litros ml - Mililitro mm - Milímetro Fe - Ferro kg - Quilograma

nm - Nanômetro (um milionésimo de milímetro) KCI - Cloreto de Potássio

N - Nitrogênio Na - Sódio

(9)
(10)

10

Apresentação ... 11

Introdução ... 15

Capítulo 1 - A área de estudo: contexto arqueológico ... 17

Capítulo 2 - A matriz do solo: estudo de terras pretas ... 29

Procedimentos em campo ... 30

Procedimentos de laboratório ... 31

Resultados alcançados nessa pesquisa ... 32

Capítulo 3 – Composição do solo: estudo da flotação ... 39

Procedimentos de campo ... 40

Procedimentos de laboratório ... 41

Resultados alcançados no estudo da flotação ... 42

Capítulo 4 - Análise cerâmica ... 51

Dados tecnológicos da cerâmica ... 53

Tipo de artefato e porção do pote ... 53

Técnica de produção dos artefatos ... 56

Elementos presentes na pasta cerâmica ... 57

Tipo de queima ... 60

(11)

11

Tratamento de superfície: alisamento, polimento, barbotina e

engobo ... 61

Técnicas decorativas ... 65

Morfologia dos fragmentos e seus diâmetros ... 71

Marcas de produção, conservação e sinas de uso ... 74

Projeção dos vasilhames: forma, altura e volume ... 76

Cruzamento de dados: análise horizontal ... 89

Cruzamento de dados: análise vertical ... 96

Análise química da cerâmica ... 100

Resultados alcançados ... 101

Capítulo 5 - Considerações finais ... 107

(12)

12

Palavra da Scientia Consultoria Científica

Os vestígios arqueológicos localizados na região dos rios Tapajós e Trombetas – sobretudo a exuberante decoração cerâmica e algumas interessantes estatuetas de pedra – chamaram a atenção de estudiosos e deram origem a pesquisas assistemáticas entre o último quartel do século XIX e meados do século XX. Em meio a esses autores estiveram Barbosa Rodrigues, Barbosa de Faria, Curt Nimuendajú, Erland Nordenskiöld, Protásio Frikel, Frederico Barata, Peter Hilbert, Helen Palmatary. A partir da década de 1980, na região empreenderam-se estudos arqueológicos sistemáticos - como indicado adiante neste estudo. No presente, a cultura material remanescente de ocupações humanas pretéritas na região continua a despertar interesse, ao mesmo tempo em que cada estudo estimula a proposta de mais pesquisas.

É o caso do conteúdo deste livro, que apresenta os resultados da pesquisa arqueológica desenvolvida pela Scientia Consultoria Científica em dois sítios arqueológicos, localizados no município paraense de Juruti, no contexto do licenciamento ambiental da área de inserção de empreendimento da Alcoa: contribui com algumas peças a mais para o complexo quadro do povoamento antigo da Amazônia, e também levanta mais questões a serem respondidas por estudos futuros.

Importa informar, também, que essa pesquisa arqueológica realizada em Juruti, desde 2007, assim como um importante programa de atividades educativas voltadas para o patrimônio cultural em geral e os bens arqueológicos em específico integram ação dos Planos de Controle Ambiental do processo de licenciamento do empreendimento de mineração de bauxita da Alcoa no Município de Juruti. Múltiplas ações têm sido realizadas em parceria com a comunidade e com outros programas sociais atuantes no município que buscam formar cidadãos mais envolvidos com a preservação tanto do patrimônio quanto da identidade cultural local.

(13)

13

Palavra do empreendedor

Sobre a Alcoa Corp.

A Alcoa (NYSE: AA) é líder mundial no setor em produtos de bauxita, alumina e alumínio, com um forte portfólio de produtos de fundição e laminação de valor agregado e ativos de energia significativos. A Alcoa está construída sobre uma base de valores fortes e excelência operacional há quase 130 anos, desde a revolucionária descoberta que fez do alumínio uma parte vital e acessível da vida moderna. Desde a invenção da indústria de alumínio e no decorrer da nossa história, nossos talentosos Alcoanos têm apresentado incríveis inovações e melhores práticas que nos levaram à eficiência, segurança, sustentabilidade e comunidades mais fortes em todos os momentos em que operamos. Visite nosso site www.alcoa.com, siga @Alcoa no Twitter e, no Facebook, em

www.facebook.com/Alcoa. www.facebook/AlcoaBrasil

Sobre a Alcoa no Brasil

(14)

14

Sobre a Alcoa Juruti

A Alcoa opera mina de bauxita no município de Juruti, oeste do Estado do Pará, desde 2009, como uma das principais unidades do negócio global de mineração da Alcoa. Composta por estruturas de lavra, beneficiamento, transporte através de ferrovia de cerca de 55 km e terminal portuário, a Alcoa Juruti emprega cerca de 1.400 funcionários direta e indiretamente, mantendo uma média de 80% do efetivo com origem paraense, e já gerou o montante de mais de R$ 260 milhões em pagamentos de impostos e royalties da mineração de bauxita.

(15)
(16)

16

O objetivo deste livro é apresentar, de maneira monográfica, os resultados da pesquisa arqueológica desenvolvida pela Scientia Consultoria em decorrência do processo de licenciamento do empreendimento de mineração de bauxita da Alcoa no Município de Juruti, Estado do Pará.

Não se trata de um estudo exaustivo sobre a região, mas sim de uma obra focalizando os dois sítios escavados pela Scientia no ano de 2006, em Juruti, no oeste do estado do Pará.

O interesse aqui é, em certa medida, amplificar os resultados descritos em relatórios técnicos encaminhados ao Iphan; prestar conta à comunidade científica sobre os estudos empreendidos, e também contribuir com análise tecnológica realizada, tendo como foco a indústria cerâmica.

Introdução

(17)
(18)

Capítulo 1

A área de estudo:

contexto arqueológico*

As primeiras incursões arqueológicas e descrições dos artefatos encontrados na região de Santarém e Oriximiná datam do século XIX. O geólogo Frederick Hartt, entre os anos de 1870 e 1871 escavou o sambaqui Taperinha, na região de Santarém, na foz do rio Tapajós (HARTT, 1885).

No mesmo período, o botânico Barbosa Rodrigues foi encarregado pelo governo imperial de explorar diversos rios da região amazônica, e entre 1871 e 1874 viajou pelos rios Tapajós, Nhamundá e Trombetas, tendo publicado suas anotações em 1875. Além das observações sobre a flora, o seu relato conta com diversas informações sobre o material arqueológico por ele encontrado, com destaque para o primeiro “ídolo de pedra” (BARBOSA RODRIGUES, 1875 a, b). A descoberta dos ídolos de pedra e dos Muiraquitãs ganhou grande repercussão no meio acadêmico, com os trabalhos de Ladislau Netto (1885), Barbosa Rodrigues (1899) e José Veríssimo (1883).

O primeiro artefato arqueológico identificado na região de Juruti corresponde a um ídolo de pedra, coletado na região do Lago Salé por Manoel Francisco Machado, o Barão de Cocais, senador por Óbidos e entusiasta da arqueologia. Seu achado foi publicado em 1902, no Jornal do Commercio, e posteriormente divulgado por Emílio Goeldi no 14º Congresso de Americanistas, realizado em Stuttgart, Alemanha, em 1904.

(19)

19

A exuberância artefatual das culturas do Baixo Amazonas atraiu o etnólogo alemão Curt Nimuendajú, que percorreu diversas áreas entre os anos de 1923 e 1926, a serviço do Museu Etnográfico de Gotemburgo. Partiu de Santarém, viajou pelas comunidades, lagos e rios do entorno, subiu o rio Tapajós até Itaituba, o rio Xingu até Altamira, pelo rio Amazonas chegou a Monte Alegre, Óbidos, Oriximiná, Parintins e Juruti, além de percorrer diversos lagos e paranás. O resultado destas pesquisas foi sintetizado em duas obras: Die Tapajós (Os Tapajós), escrito em Belém do Pará, em 1923, com suas primeiras impressões, e Indianhische Siedelngsspuren am unteren Amazonas (Vestígios da Habitação Indígena no Baixo Amazonas), escrito em 1924 (NIMUENDAJÚ, 2004). Nesses trabalhos o autor diferencia o estilo cerâmico Tapajós, da margem direita do Amazonas, no entorno da região de Santarém, e o estilo Konduri, da região do Nhamundá-Trombetas, mas também encontrado na Serra dos Parintins e Lagos do Salé e Jará. A cerâmica Konduri recebe esta denominação por estar localizada em áreas descritas por viajantes como domínio de uma etnia chamada Conduri, recorrente na bibliografia regional (CARVAJAL, 1941; HERIARTE, 1874; BARBOSA RODRIGUES, 1845, entre outros).

No atual território do município de Juruti, Nimuendajú identificou pelo menos oito sítios arqueológicos. Os primeiros a serem registrados estão localizados a oeste do Lago Grande, no topo de uma cadeia de montanhas nas margens do Lago do Salé, conhecida como Serra do

(20)

20

Bananal e Serra do Curupira. O sítio Serra do Bananal é composto por uma espessa camada de terra preta, com 1 m de profundidade e 600 m de extensão, além de artefatos cerâmicos que ele associa com a cultura Konduri (NIMUENDAJÚ, 2004, b). Na região dos Lagos do Curumucuri e Jará foram encontrados mais três sítios: São Lourenço, Jaraquyquara e Lago Jará, todos na margem dos lagos, com terra preta e cerâmica Konduri. Na margem do Amazonas, pouco abaixo da desembocadura do Lago Grande, na localidade chamada Maraca-Uaçu, também foi encontrado um sítio, o único sem terra preta e com cerâmica tapajônica em Juruti. Subindo o rio Amazonas, e adentrando o paraná do Balaio, próximo à sua desembocadura, foi encontrado o sítio São Paulo, e logo acima, em uma localidade homônima, o sítio Serra do Balaio, também com terra preta e cerâmica Konduri. No topo Serra dos Parintins, limite entre os municípios de Juruti (PA) e Parintins (AM), há uma extensa área de terra preta, com a cerâmica Konduri mais elaborada da margem direita do Amazonas (NIMUENDAJÚ, 2004, b).

A região do Trombetas voltou a ser alvo de investigações arqueológicas com o advento da expedição da Inspetoria de Fronteiras chefiada pelo general Cândido Rondon, entre os anos de 1928 e 1929. A curiosidade gerada pela doação de um vaso de cerâmica semelhante aos ídolos de pedra conhecidos na região fez com que Rondon enviasse o etnólogo João Barbosa de Faria para uma exploração completa no vale do rio Trombetas (BARBOSA DE FARIA, 1946). Nesta expedição foi registrado um total de 17 sítios arqueológicos, com a identificação de terra preta e cerâmica.

Data da mesma época da viagem de Barbosa de Faria a publicação de Erland Nordenskiöld (1930), arqueólogo, etnólogo e explorador sueco-finlandês, e diretor do Museu de Gotemburgo. A partir das informações de Nimuendajú, e de suas próprias pesquisas na Amazônia, o autor apresentou ao público as principais descobertas arqueológicas da região. Constam informações sobre sítios arqueológicos no rio Trombetas e Lago do Sapucuá, além do relato sobre dois ídolos de pedra.

(21)

21

Neste trabalho, Hilbert sistematiza os dados de levantamento de 41 sítios arqueológicos na região do Baixo Cuminá-Erepecurú, Lago Salgado, Lago Sapucuá, Lago Piraruacá, na área de Terra Santa e no Lago de Faro. Além de classificar a cerâmica em três estilos, estabelece parâmetros comparativos entre a cerâmica Konduri e a Tapajós, também chamada por ele de Santarém.

O estilo Santarém foi observado na região do Trombetas, em quatro sítios, e no lago do Sapucuá, em outros dois sítios, nos quais o autor identificou uma cerâmica cujo principal marcador é o tempero com areia. Em termos de características tecnológicas, esta cerâmica é descrita como sendo dura, áspera e com superfície alisada sem grandes cuidados. A areia, presente na composição da pasta, foi adicionada em quantidade moderada. As formas são pouco variadas, sendo a mais comum uma panela globular, com um colo que produz um ângulo pronunciado, base plana e cerca de 30 cm de diâmetro. Este conjunto tecnológico não recebeu uma denominação específica como os demais.

A decoração mais comum é composta por incisões angulares, denominadas por Hilbert (1955:32) de “espinhas de peixe”, localizadas na borda externa e no colo superior, além de botões de forma cônica achatada aplicados sobre a borda. Apêndices antropomorfos também foram associados a estas vasilhas

(22)

22

O segundo grupo classificado por Hilbert refere-se à cerâmica Konduri. Tem como característica principal o antiplástico de cauixi (tipo de biosílica, encontrada em espongiário de água doce), em quantidade abundante. As formas sem decoração resultaram em morfologias de contorno globular, com borda extrovertida e base convexa, apresentando diâmetro entre 40 e 60 cm; vasilhas em formato de calota esférica, com borda levemente extrovertida; e vasilhas de formato semiesférico, cuja abertura de boca é menor do que o diâmetro máximo (entre 20 e 40 cm). Assinala-se ainda, a presença de pratos e assadores. Outra característica fundamental da descrição do estilo Konduri são os pés cônicos, em formato de bulbo, medindo entre 3 e 15 cm de comprimento. Segundo Hilbert (1955), eles estariam associados a formas trípodes. Podem ser encontrados lisos ou com decoração antropomorfa. Sua presença no Baixo Amazonas é indicadora de relações culturais com o norte da América do Sul (Equador, Colômbia e Venezuela).

O último conjunto descrito pelo autor refere-se ao estilo Globular. Este estilo tem a mesma composição de antiplástico biomineral encontrada na cerâmica Konduri, e foi identificada em sítio do Lago

Cerâmica temperada com areia (Fonte: HILBERT, 1955).

(23)

23

Sapucuá, em Terra Santa e Faro. Como características fundamentais, foi descrita a presença de apêndices antropomorfos e zoomorfos compostos pela sobreposição de esferas e a presença de elementos decorativos também esféricos, encontrados no interior das bordas. Quanto às formas desta cerâmica, estas são desconhecidas. Alguns apêndices apresentam pintura vermelha sobre branco.

Borda com aplique modelado e combinação de técnicas decorativas plásticas: ponteado, entalhado e inciso. A decoração cria retângulos encaixados na parede do pote e uma representação em forma de animal (zoomorfo). Procedência: Sítio Terra Preta 2, Juruti/PA. Acervo: Scientia. Alça ponte com decoração zoomorfa, com incisões, ponteamentos e modelagem para traçar a decoração Procedência: Sítio Terra Preta 2, Juruti/ PA. Acervo: Scientia

(24)

24

Ainda neste trabalho, o autor menciona sítios arqueológicos formados por terra preta nos lagos Juruti Velho e Juruti Mirim, identificados em uma viagem à região em 1953, na companhia de Harald Schultz, pesquisador do Museu Nacional. A cerâmica oriunda destes sítios é classificada como Konduri, dado utilizado pelo autor para situar o limite entre as cerâmicas Tapajós e Konduri mais a leste do estipulado por Nimuendajú (1949), no entorno do Lago do Salé. Essas observações já haviam sido feitas por Nimuendajú (2004), mas não estavam disponíveis para Hilbert (1955).

Apêndice zoomorfo modelado, com apliques modulados globulares e decoração incisa, ponteada e engobo branco. Procedência: Sítio Terra Preta 1, Juruti/PA. Acervo: Scientia.

Apêndice zoomorfo (asa), com decoração incisa, ponteada e modelada. Procedência: Sítio Terra Preta 2, Juruti/PA.

(25)

25

No mesmo período do trabalho de Hilbert, Frederico Barata, jornalista paraense, publicou uma série de estudos estilísticos sobre a cerâmica de Santarém, com referência nas coleções coletadas e observadas por ele nas décadas de 1930 e 1940 (Barata, 1950, 1951, 1953a, 1953b, 1954), trabalho até hoje utilizado como referência para a arqueologia do Baixo Amazonas, no entanto, o autor não analisa o estilo Konduri, ou sítios mais a oeste de Santarém.

Na década seguinte, outro importante trabalho sobre a arqueologia do Baixo Amazonas foi produzido por Helen Palmatary, The Archaeology of the Lower Tapajós Valley, Brazil (PALMATARY, 1960). Nessa obra, a autora retoma as pesquisas anteriores, principalmente as realizadas por Nimuendajú e Hilbert, e visita diversos acervos arqueológicos espalhados pela Europa, Estados Unidos e Brasil. Além de publicar uma riquíssima iconografia de material lítico e cerâmico, a autora faz uma análise estilística da cerâmica, envolvendo também alguns exemplares Konduri.

Após os trabalhos de Palmatary, Ulpiano Bezerra elaborou o primeiro projeto sistemático para a região de Santarém (Meneses, 1971), cujos resultados não foram significativos. Na década de 1980, com a implantação do empreendimento Mineração Rio do Norte em Oriximiná, houve uma retomada das pesquisas arqueológicas na região (LOPES, 1981; ARAÚJO COSTA ET ALII, 1985; KALKMANN ET ALII, 1985; HILBERT, 1980). Neste período, Hilbert divulgou os dados recolhidos na década anterior em um artigo (HILBERT E HILBERT, 1980).

Na pesquisa de Hilbert e Hilbert, além dos estilos identificados anteriormente (Hilbert, 1955), foi caracterizado o estilo Pocó, mais antigo, em posição estratigráfica inferior ao estilo Konduri, em sítios nos rios Trombetas e Pocó, afluente da margem esquerda do Nhamundá. É a partir deste trabalho, no qual são discutidas características como estratigrafia, estilo cerâmico e cronologias absolutas através de C14, que o contexto cronológico é inserido na discussão.

(26)

26

Pote semi-inteiro com decoração pintada, atribuído ao Estilo Pocó. Procedência: sítio Terra Preta 1, Juruti/PA. Acervo: Scientia

(27)

27

A pintura bicrômica, bem como os padrões incisos, alguns deles com motivos curvilíneos complexos são vistos pelos autores como característicos da tradição Barrancoide do rio Orinoco, cujas influências são atribuídas pelos autores à cerâmica Pocó (HILBERT E HILBERT, 1980). Neste sentido, as datações apresentadas neste artigo, entre 65 a.C. e 205 A.D., foram consideradas pelos autores consistentes com esta associação.

Entretanto, datas não reportadas naquela ocasião, provenientes da base do sítio Boa Vista, revelaram uma antiguidade bem maior da fase Pocó, entre 2950 + 130 A.P. e 3280 + 45 A.P., tendo sido a princípio rejeitadas. Outras datas obtidas por Klaus Hilbert em nova campanha na década de 1990, em seu retorno ao sítio Boa Vista, a ocupação Pocó em 1820 + 60 A.P. e do sítio São José em 2800 + 70 A.P e 1980 + 60 A.P (GOMES, 2002:45).

Na década de 1990 tem início o projeto de pesquisa sistemático na região de Santarém, coordenado pela arqueóloga norte americana Anna Roosevelt (1987, 1988, 1989, 1990, 1991, 1992). Também na década de 1990, o trabalho de Guapindaia reuniu informações históricas e arqueológicas sobre a região de Santarém (Guapindaia, 1993), e a mesma pesquisadora também foi responsável pelas pesquisas na área da Mineração Rio do Norte, que originaram sua tese de doutorado (GUAPINDAIA, 2008). Outro trabalho expressivo, que retoma o caráter exuberante das coleções artefatuais da região é o livro de Denise Gomes “Cerâmica Arqueológica da Amazônia: vasilhas da Coleção Tapajônica MAE-USP” (GOMES, 2002). Atualmente, diversos projetos de engenharia de grande porte foram ou estão sendo implantados na região, como linhas de transmissão, portos, estradas e mineração, e trazem consigo um aumento no número de pesquisas arqueológicas. Além dos projetos de caráter preventivo, a implantação de um curso de bacharelado em arqueologia na Universidade Federal do Oeste do Pará no ano de 2013 tem promovido o desenvolvimento de novos projetos de pesquisa (GOES, ROCHA E MORAES, 2014; LIMA E MORAES, 2014; MORAES, LIMA E SANTOS, 2014a; MORAIS LIMA E SANTOS 2014b).

(28)

28

(29)
(30)

Capítulo 2

A matriz do solo:

estudo de terras pretas*

Nos últimos anos tem se observado considerável avanço nos estudos relacionados aos solos amazônicos modificados pelas ações humanas em período pré-colombiano, a Terra Preta Antropogênica (Kern & Kämpf, 1989) ou ainda Arqueo-antrossolos (Kämpf & Kern, 2005), conhecidos popularmente como Terra Preta (TP) e Terra Preta de Índio (TPI). Esses solos se formaram em decorrência da ocupação humana, resultado do descarte de resíduos orgânicos de natureza diversa e sua posterior mineralização, que implicaram na modificação das propriedades do solo. A cor escura desses solos, bem como os teores relativamente elevados de cálcio, magnésio, fósforo, manganês, zinco, cobre e carbono orgânico, combinados a fragmentos cerâmicos e artefatos líticos normalmente encontrados no horizonte antrópico, faz da terra preta uma variante fundamental no estudo evolutivo das práticas de manejo e sustentabilidade dos solos amazônicos.

Além disso, as terras pretas são acompanhadas frequentemente por faixas circunvizinhas de solos de cor bruno-escuro, com pouco ou nenhum vestígio arqueológico, mas que ainda apresentam teores elevados de matéria orgânica quando comparados aos solos tipicamente tropicais. De acordo com Sombroek et al. (2002), esses solos, denominados de terra mulata, parecem ser o resultado do intenso uso agrícola por comunidades indígenas pré-coloniais.

O processo de formação das terras pretas deu origem a distintas interpretações. Hartt (1885) denomina as terras pretas de solos vegetais, para os quais os índios eram atraídos devido à elevada

(31)

31

fertilidade natural. Para Cunha Franco (1962), as terras pretas teriam sua origem em lagos antigos, cujas margens os índios habitavam. Entretanto, Gourou (1950), Sombroek (1966), Simões & Corrêa (1987) e ainda Kern & Kämpf (1989) afirmam que os solos com terra preta correspondem a locais de antigos assentamentos indígenas, formados a partir da ocupação humana pré-colombiana. Ranzani et al. (1962), Andrade (1986) e Glaser et al. (2001), enfatizam ainda que a elevada fertilidade das terras pretas deve-se à adição intencional de nutrientes ao solo através de práticas de manejo.

O fato é que os solos de terra preta apresentam fertilidade elevada e grande diversidade microbiológica. São mais estáveis e melhor estruturados em relação aos solos adjacentes e, embora possam ocorrer sobrepostos a diversas classes de solos, há predominância sobre latossolos, que se estendem por cerca de 45% da Amazônia.

As pesquisas acerca da importância, bem como da distribuição das terras pretas são pontuais, considerando as dimensões continentais da região amazônica. A realização de estudos sistemáticos com o propósito de avançar na compreensão dos processos que originaram esses solos, significará também avanço quanto ao entendimento das diversidades culturais do espaço amazônico.

Procedimentos em campo

Para o estudo das terras pretas das áreas dos sítios Terra Preta 1 e Terra Preta 2 foram realizados três tipos de coleta, com o objetivo de obter uma cobertura sistemática e o mais completa possível do conjunto, especialmente por se tratar de área que proximamente sofreria completa descaracterização.

1. Foram coletadas amostras de solo (300 g) em todas as unidades de escavação executadas nas áreas dos sítios, tanto nas sondagens da malha sistemática como nas escavações amplas (unidades e trincheira). Em cada uma destas unidades foram amostrados todos os níveis arqueológicos e o nível estéril imediatamente abaixo da camada de ocupação.

2. Ao longo da transversal que liga o sítio Terra Preta 1 ao sítio Terra Preta 2, foram realizadas coletas com trado holandês, que extraiu uma amostra de 20 cm de espessura, a partir da superfície, a cada 10 m, por um percurso de 1.200 m.

(32)

32

Perfil de solo Coordenada UTM Local: Juruti/PA

Terra Preta 1 21M 600159E/9760433N Terra Preta 1 - Porto

Terra Preta 2 21M 599557E/9759353N Terra Preta 2 - Porto

Terra Mulata 1 21M 599917E/9759593N Terra Mulata - Porto

Terra Mulata 2 21M 599377E/9759068N Comunidade Lago Preto

Viveiro 21M 599145E/9757654N Viveiro

Café Torrado 21M 602891E/9752556N Ramal do Café Torrado

Localização dos perfis amostrados.

O solo coletado totalizou 2.040 amostras, que foram analisadas de forma detalhada, direcionados para resolução de problemas específicos, na tese de Jucilene Costa (2012), e serão aqui retomados, de forma mais geral.

Procedimentos de laboratório

Foram selecionadas 173 amostras para análise. Procediam principalmente da transversal A-B de 1.200 m, que ligava o sítio Terra Preta 1 ao Terra Preta 2 e que atravessava áreas de terra preta, terra mulata e solos adjacentes, contendo, portanto, amostras de todas essas variações. Foram ainda analisadas amostras procedentes das transversais C-D (linha 360L) e E-F (linha 960L).

(33)

33

As amostras de solo foram secas ao ar, destorroadas, pulverizadas em grau de ágata e peneiradas (malha < 125 mesh). Em seguida, foram encaminhadas à Geosol Laboratórios, para análise química clássica, por via úmida, dos teores totais dos elementos fósforo (P), magnésio (Mg), cálcio (Ca), cobre (Cu), zinco (Zn) e manganês (Mn). Para a extração dos elementos foi aplicado o método de digestão total multiácida, com solução extratora de ácido fluorídrico (HF) e ácido clorídrico (HClO4), determinado por ICP (Induced Coupled Plasma).

Foram realizados estudos acadêmicos específicos com diferentes objetivos. Análises de fertilidade, que consistem na determinação de teores de cálcio e magnésio trocáveis por espectrofotometria de absorção atômica; de sódio e potássio trocáveis, por fotometria de chama; de fósforo disponível por colorimetria; de carbono orgânico, acidez potencial (Al3++H+) e de alumínio por volumetria. O pH em água será determinado pelo método potenciométrico numa suspensão solo/solução 1:2,5 e a composição mineralógica será determinada pela difração de raios-x e microscopia eletrônica de varredura (MEV), tanto nos solos antrópicos como nas áreas circunvizinhas.

Resultados alcançados nessa pesquisa

Morfologicamente, o solo da área do sítio Terra Preta 1 apresentou sequência de horizontes A1, A2, A3, AB, BA e B; cor variando do preto (2.5YR2.5/1) ao amarelo brunado (10YR6/8); textura francoarenoso a franco areno-argiloso; estrutura moderada a maciça e transição difusa entre os horizontes. Trata-se de um solo profundo com mais de 200 cm, bem drenado, onde a camada de terra preta varia entre 30 e 150 cm de espessura.

(34)

34

No estudo do solo, a cor é uma propriedade que se destaca por ser facilmente identificável em campo. A camada superficial de terra escura identificada na área do Porto apresentou três matizes de cor, dos quais resultaram 13 variações utilizadas para o mapeamento de sua distribuição espacial na área dos sítios Terra Preta 1 e Terra Preta 2, com base na carta de cores de Munsell.

Cor

Nome

Matiz Variações

2.5YR 2.5YR2.5/1 preto

2.5YR3/1 cinza muito escuro

7.5YR

7.5YR 2/1 preto

7.5YR 3/1 cinza muito escuro

7.5YR 3/2 bruno-escuro

7.5YR 3/3 bruno-escuro

10YR

10YR 2/1 preto

10YR2/2 bruno muito escuro

10YR 3/1 cinza muito escuro

10YR 3/2 bruno acinzentado muito escuro

10YR 3/3 bruno-escuro

10YR4/2 bruno acinzentado escuro

10YR4 /4 bruno amarelado escuro

Variações da cor do solo na camada superficial das terras escuras.

As áreas ocupadas pelas terras pretas além de apresentarem grande variação quanto à espessura e à composição química, apresentam também grande variabilidade quanto à extensão. Nas cartas de solos que abrangem a região amazônica, apesar da frequente ocorrência de solos com TP, estes são catalogados como inclusões e abrangem normalmente de 2 a 3 ha, excepcionalmente, em alguns locais, podem alcançar áreas superiores a 80 ha (HILBERT, 1955).

Perfil de solo e estratigráfico da unidade 3, sítio Terra Preta 1.

No mapa de distribuição de cores do solo da área do Porto (área Alcoa) é possível visualizar duas grandes manchas de terra preta com forma ligeiramente alongada, cercada por outras menores. A mancha correspondente ao sítio Terra Preta 1 está concentrada entre as linhas 60 e 540S / 720 e 1320L, ocupando uma área de aproximadamente 28,8 ha (480 x 600 m). A mancha correspondente ao sítio Terra Preta 2 encontra-se entre as linhas 1020 e 1620S / 120 e 480L, estendendo-se por cerca de 28,08 ha (780 x 360 m). Essas grandes áreas de solo escuro, modificado, correspondem às concentrações de material cerâmico arqueológico. As espessas camadas de terra preta observadas nos barrancos do Porto indicam ainda que, no passado, esses sítios arqueológicos eram mais extensos em direção à drenagem e provavelmente os processos dinâmicos naturais do rio Amazonas, somados ao desmatamento das encostas pela ação humana, certamente aceleraram os processos erosivos nas encostas provocando a destruição de parte dos vestígios dessas ocupações. As manchas menores de solo escuro deverão ser analisadas quimicamente para a melhor caracterização da anomalia, visto que nessas áreas não houve registro de vestígios de cultura material.

120 240 360 480 600 720 840 960 1080 1200 1320 1440 1560 1680 1800 1740 1680 1620 1560 1500 1440 1380 1320 1260 1200 1140 1080 1020 960 900 840 780 720 660 600 540 480 420 360 300 240 180 120 60 L S

Área de intervenção do Projeto Juruti-PA

JURUTI - PA

01 26/11/2007

LOCAL:

FOLHA: CROQUI: DATA DO CROQUI:

Sítios Arqueológicos Terra Preta 1 e 2 Jucilene Amorim

(35)

35

No mapa de distribuição de cores do solo da área do Porto (área Alcoa) é possível visualizar duas grandes manchas de terra preta com forma ligeiramente alongada, cercada por outras menores. A mancha correspondente ao sítio Terra Preta 1 está concentrada entre as linhas 60 e 540S / 720 e 1320L, ocupando uma área de aproximadamente 28,8 ha (480 x 600 m). A mancha correspondente ao sítio Terra Preta 2 encontra-se entre as linhas 1020 e 1620S / 120 e 480L, estendendo-se por cerca de 28,08 ha (780 x 360 m). Essas grandes áreas de solo escuro, modificado, correspondem às concentrações de material cerâmico arqueológico. As espessas camadas de terra preta observadas nos barrancos do Porto indicam ainda que, no passado, esses sítios arqueológicos eram mais extensos em direção à drenagem e provavelmente os processos dinâmicos naturais do rio Amazonas, somados ao desmatamento das encostas pela ação humana, certamente aceleraram os processos erosivos nas encostas provocando a destruição de parte dos vestígios dessas ocupações. As manchas menores de solo escuro deverão ser analisadas quimicamente para a melhor caracterização da anomalia, visto que nessas áreas não houve registro de vestígios de cultura material.

120 240 360 480 600 720 840 960 1080 1200 1320 1440 1560 1680 1800 1740 1680 1620 1560 1500 1440 1380 1320 1260 1200 1140 1080 1020 960 900 840 780 720 660 600 540 480 420 360 300 240 180 120 60 L S

Área de intervenção do Projeto Juruti-PA

JURUTI - PA

01 26/11/2007

LOCAL:

FOLHA: CROQUI: DATA DO CROQUI:

Sítios Arqueológicos Terra Preta 1 e 2 Jucilene Amorim

OBS: 120 0 120 240 360m

(36)

36

Embora a identificação das áreas de ocorrência das terras pretas seja simplificada por alguns aspectos de sua morfologia, como a cor escura e a presença de fragmentos cerâmicos e/ou líticos, fatores não aparentes como seus teores de cálcio, magnésio, fósforo, zinco, cobre, manganês e carbono orgânico em relação a estes mesmos teores nos solos adjacentes são fundamentais na taxonomia dos solos e na interpretação do contexto arqueológico.

Os dados geoquímicos das terras escuras dos sítios Terra Preta 1 e Terra Preta 2 apontam duas áreas com elevadas concentrações de elementos químicos, separadas por uma área de terra mulata com menor concentração desses elementos diagnósticos. Os teores mais elevados de cálcio e fósforo foram registrados no Terra Preta 1 com 7.276 mg/kg e 2.335 mg/kg, respectivamente. Conforme Kämpf & Kern (2005), teores elevados de fósforo e cálcio estão associados à ocupação humana pré-histórica, haja vista que esses elementos podem ser encontrados em restos de vegetais (mandioca, açaí, bacaba etc.), de animais (ossos e excrementos) e em resíduos de alimentos.

Os teores mais elevados de magnésio e manganês foram identificados no sítio Terra Preta 2, com 1.450 mg/kg e 793 mg/kg, respectivamente. Quanto aos elementos cobre e zinco, não houve diferenças significativas entre as duas áreas de terra preta, mas são superiores aos encontrados na área intermediária correspondente à terra mulata, indicando também modificação do solo nestas duas manchas, pela adição de matéria orgânica. Conforme Kern et al. (1999), as folhas de palmeiras utilizadas na cobertura e paredes das habitações, renovadas periodicamente, podem ser uma fonte importante de magnésio, manganês e zinco para o solo.

Nas figuras sequentes, os gráficos relativos aos teores de Ca, P, Mg e Mn, Cu e Zn, ao longo de linha que liga o sítio Terra Preta 1 ao sítio Terra Preta 2, paralela à margem do rio.

Distribuição do teor de cálcio entre os sítios Terra Preta 1 e Terra

(37)

37

Distribuição do teor de fósforo entre os sítios Terra Preta 1 e Terra Preta 2.

Distribuição do teor de magnésio entre os sítios Terra Preta 1 e Terra Preta 2.

Distribuição do teor de

manganês entre os sítios Terra Preta 1 e Terra Preta 2.

(38)

38

A variabilidade de teores de elementos no interior dos sítios no sentido perpendicular ao rio, como mostra a figura sequente, também é significativa. Na linha 360L (transversal C-D) que atravessa o sítio Terra Preta 2, é possível visualizar descontinuidade de distribuição entre os teores de cálcio (CaO) e fósforo (P2O5), o que pode estar relacionado à perturbação do solo em função de atividades agrícolas, ou mesmo pela deposição de material como conchas ou carapaça de quelônios, ricos em cálcio. A figura evidencia, também, que todas as sondagens estão alocadas na terra preta. Já, na linha 960L do sítio Terra Preta 1, os teores de cálcio e fósforo apresentam correlação em todas as sondagens, o que indica uma distribuição mais homogênea do material orgânico depositado, provavelmente resíduos ricos nesses dois elementos, como ossos. É possível visualizar claramente o término da terra preta por volta da sondagem 480S-960L com a queda brusca dos elementos, corroborando assim, os dados de cor do solo observados em campo.

Distribuição do teor de cobre entre os sítios Terra Preta 1

e Terra Preta 2.

(39)

39

Análises geoquímicas futuras, com o objetivo de detectar variações espaciais nas superfícies dos sítios arqueológicos Terra Preta 1 e Terra Preta 2, poderão trazer contribuições significativas para a compreensão de padrões de assentamento pré-histórico dos grupos que habitaram a área, indicando locais específicos e determinados onde era feito o descarte de material.

Dados etnográficos enfatizam que vários grupos habitantes da região amazônica faziam o descarte de restos de alimentos na parte detrás de suas casas, onde se localizava a cozinha. As práticas funerárias também podem ter tido um papel relevante no aumento de determinados elementos químicos no solo (principalmente o cálcio e o fósforo, componentes principais dos ossos), pois registros etnográficos e arqueológicos mostram que vários grupos enterram seus mortos dentro da própria casa, ou ainda no centro da aldeia (MIGLIAZZA, 1964; RAMOS, 1971). A identificação de locais com teores relativamente baixos de elementos indicadores das terras pretas também são importantes, pois podem indicar uma praça ou área de maior circulação, acesso para a mata e para as principais fontes de água para abastecimento do grupo, por isso deixadas intencionalmente mais limpas.

Variabilidade de teores de fósforo (P2o5) e cálcio (Cao) ao longo da linha 360L (transversal C-D) no sítio Terra Preta 2.

Variabilidade de teores de fósforo (P2o5) e cálcio (Cao) da linha 960L (transversal E-F) no sítio Terra Preta 1.

(40)

Capítulo 3

Composição do solo:

estudo da flotação*

As terras pretas antropogênicas ou terras pretas de índio são solos formados ocasionalmente pela ocupação humana pré-colonial e a deposição de seus detritos orgânicos (KERN, 1996). Partindo deste pressuposto, classificamos a TPA como solo de natureza antrópica, resultante da presença humana no ambiente, modificando seu estado natural. Sendo as TPAs ricas em elementos antrópicos como artefatos arqueológicos, ossos e restos de vegetação utilizados pelo homem pré-histórico (Hilbert, 1955; Hartt, 1870; Nimuendajú, 1926; Kern, 1996), a sua caracterização geoquímica e morfológica decorrerá da presença e interação destes materiais no solo, tornando-o rico em nutrientes como Ca, Mg, P, Mn, Zn, Cu e C orgânico e tornando-o de coloração escura.

Atualmente, os estudos sobre as TPAs têm apontado tanto para a caracterização morfológica quanto para o comportamento químico destes solos, com o objetivo de possuir um entendimento mais apurado dos processos que levaram à sua formação. Tanto para a pedologia quanto para a arqueologia, as TPAs têm grande importância, tanto por sua fertilidade estável quanto para entender-se a interação dos índios pré-históricos com o meio ambiente de floresta tropical.

Neste capítulo, pretende-se apresentar um breve estudo dos elementos que compõem a textura grossa do solo através de métodos de separação granulométricas (flotação), bem como da

(41)

41

triagem e classificação destes elementos em grupos orgânicos e inorgânicos, seguidos da observação do comportamento estatístico destes compostos nas estratigrafias de duas unidades de escavação dos sítios arqueológicos Terra Preta 1 e Terra Preta 2, no município de Juruti, Pará. Esses sítios foram escavados em cooperação entre a empresa Scientia Consultoria Científica e a Coordenação de Ciências da Terra e Ecologia – CCTE do Museu Paraense Emílio Goeldi, para as análises de cultura material e pedológica. Dessa forma, observando o comportamento dos elementos que constituem a fração grossa do solo nas estratigrafias das unidades 1 e 2 do sítio Terra Preta 2, podemos conjecturar quanto aos processos formadores do solo, levando em consideração a procedência dos elementos de composição (antrópicos ou minerais), e o comportamento dos tais, recriando assim a formação da TPA na área de Juruti.

Procedimentos de campo

Foram flotadas todas as amostras de solo procedentes das sondagens e níveis em que ocorreu material arqueológico, em um total de 362 amostras. Para estudo inicial, foram selecionadas amostras de duas unidades de escavação, cada uma localizada em um dos sítios: a unidade de escavação 3, procedente do sítio Terra Preta 1 e unidade de escavação 2, procedente do sítio Terra Preta 2.

No material flotado foram identificados os seguintes materiais: carvão, sementes, osso, microlascas líticas, cerâmica e laterita.

A coleta das amostras de solo ocorreu concomitantemente às escavações arqueológicas, sendo que a prospecção da área ocorreu a partir da aplicação de uma malha sistemática composta por 14 linhas distando 120 m para leste. As sondagens foram abertas ao longo destas linhas em intervalos de 60 m; ao todo, foram escavadas 192 sondagens, destas, 176 nas proporções de 0,50 x 0,50 m, denominadas de sondagens A. Também foram abertas sondagens de proporção 1,0 x 1,0 m, com uma malha intercalada de 240 x 360 m, a cada 12 sondagens; estes quadrantes foram subdivididos em A, B, C e D. Entretanto, foram abertas cinco áreas de escavação e uma trincheira para maior reconhecimento da área. Sendo que as Unidades 3 e 4 e a Trincheira pertencentes ao sítio Terra Preta 1, foram abertas em proporções 2 x 2 m e 1 x 3 m respectivamente, e as unidades 1, 2 e 5 pertencentes ao sítio Terra Preta 1, em proporções 3 x 3 m (Unidade 1) e 2 x 2 m (Unidades 2 e 5) (SCIENTIA, 2008).

(42)

42

sistemáticas e nas unidades de escavação com profundidade mínima de 50 cm. Ao todo, foram coletadas 218 amostras destinadas à flotação, sendo 91 da Unidade 1 e 23 da Unidade 2, totalizando 114 amostras, na área do sítio Terra Preta 2; e 52 amostras tanto da Unidade 3 quanto da Unidade 4, situadas no sítio Terra Preta 1 (SCIENTIA, 2008).

Procedimentos de laboratório

As amostras coletadas foram devidamente organizadas e seriadas conforme a prioridade de análise. Essa organização ocorreu conforme os registros de campo e os dados informados nas etiquetas que identificavam cada amostra.

O método de separação por flotação consistiu na lavagem de amostras de solo, utilizando um conjunto de peneiras granulométricas com malhas de 1 e 2 mm, na qual a peneira de malha maior é sobreposta a de malha menor, para selecionar materiais pelas dimensões. Após despejar o solo nas peneiras, elas foram mergulhadas em um recipiente com água para lavagem das amostras. Depois da saturação com água, foram coletados separadamente o material flutuante, o material maior que 2 mm e o material maior que 1mm. Em seguida, as amostras secaram em temperatura ambiente por três dias.

Neste momento, foi feita a caracterização morfológica do solo, quando se definiu textura, plasticidade, pegajosidade e cor do solo - segundo o proposto por Lemos e Santos (1996) e carta de Munsell (2000). Os dados foram assinalados nas planilhas correspondentes finalizando esta fase de análise.

Com o uso de lupa binocular, o material flotado de cada uma das duas frações (maior que 2 mm e maior que 1mm) foi classificado por tipo de matéria-prima e quantificado. Seus resultados foram registrados em planilhas para obtenção dos gráficos.

Assim, o material resultante da flotação das amostras de solo está separado por sondagem, por nível, por fração e por matéria-prima.

Para apresentar os resultados destes estudos, serão apresentados os dados gerais, pois através deles foi possível perceber tendências.

(43)

43

de carvão na antracologia e identificação de antigas estruturas de fogueiras e restos de animais, dispersos pela ação intempérica do tempo (SCHEEL-YBERT, 1998).

Em sequência, a partir dos dados obtidos da planilha de análise, processou-se a quantificação e análise estatística do material resultante. Este método consiste em observar o comportamento matemático destes materiais nas estratigrafias, através de gráficos e tabelas. Assim se indicia tanto sua presença, quanto ausência e estabilidade, segundo os contextos arqueológicos e pedológicos postos em estudo.

Resultados alcançados no estudo da flotação

Para traçar uma grande tendência geral, foi reunida toda a amostra (material menor que 2 mm e sobrenadante) em busca de caracterizações gerais. Chama a atenção, a tendência geral entre a porção ao norte (Terra Preta 1) e a porção sul (Terra Preta 2) no que toca à frequência de materiais orgânicos e inorgânicos.

Dentre os elementos orgânicos descritos (osso, carvão e semente) há uma tendência geral de ocorrência de carvão em ambas as áreas (na porção sul e norte). No entanto, pode-se notar uma expressiva presença de material ósseo na porção norte (Terra Preta 1) e na presença de sementes na porção sul (Terra Preta 2).

Cerâmica Carvão

Material Malacológico osso Microfauna

Semente

(44)

44

O material inorgânico também chama a atenção no que toca à forte incidência de microlascas na porção norte do sítio. O quartzo e a laterita são componentes naturais nestas áreas, não sendo, portanto, irrelevantes neste caso. A presença de cerâmica obedece à distribuição das áreas. Material orgânico. 0% 20% 40% 60% 80% 100% Terra Preta 1 Terra Preta 2 635 118 4541 11997 295 4623 osso carvão 0% 20% 40% 60% 80% 100% Terra Preta 1 Terra Preta 2 2983 6395 1645 50 6635 11736 5128 32149

cerâmica lasca quartzo laterita

(45)

45

Pode ser que esta diferença geral marque zonas de atividades diferentes, pois os microvestígios identificados em uma área e outra do sítio – seja a porção norte (Terra Preta 1) seja a porção sul (Terra Preta 2) – são diferentes.

Pode ser, hipoteticamente, que este dado esteja mostrando zonas complementares de vestígios:

• ao norte – zona com mais concentração de TPA – aparecem mais vestígios de microlascas e ossos. É válido lembrar de que nesta porção aparecem em alta concentração tanto o cálcio como o fósforo (como debatido no item anterior).

• ao sul – vale chamar a atenção para a maior ocorrência de sementes.

Para análise das diferenças e semelhanças serão avaliadas tendências gerais a partir das amostras de duas unidades de escavação, cada uma localizada em um dos sítios: a unidade de escavação 3, situada na porção norte (Terra Preta 1) e unidade de escavação 2, localizada ao sul (Terra Preta 2).

Inicialmente, os dados foram organizados de forma geral em relação aos níveis artificiais de escavação (feitos de 10 em 10 cm). Assim, foram quantificados juntos, independentemente do tamanho dos microvestígios, cada tipo de evidência por tipo e nível. As amostras foram agrupadas separadamente, por tipo geral de vestígio: orgânicos e inorgânicos.

Primeiro, será avaliado o material orgânico. Chama a atenção a espessura do pacote de aparecimento de microevidências, que combina com a espessura de ocorrência de TPA (discutido anteriormente). Com o procedimento da flotação foram identificados microvestígios até a profundidade de 130 cm para a porção norte do sítio (Terra Preta 1) e de até 60 cm de profundidade ao sul (Terra Preta 2).

Na porção ao norte (Unidade 3/Terra Preta 1) há uma forte presença de material ósseo em todos os níveis de ocorrência de material arqueológico e TPA. Pode-se notar também dois picos de frequência: tanto nas camadas entre 20 e 40 cm quanto na camada entre 80 e 90 cm.

(46)

46

Frequência de material orgânico por nível. Unidade 3. Terra Preta 1.

Frequência de material orgânico por nível. Unidade 2. Terra Preta 2.

0% 20% 40% 60% 80% 100% 0-10cm 10-20 cm 20-30 cm 30-40 cm 40-50 cm 50-60 cm 60-70 cm 70-80 cm 80-90 cm 90-100 cm 100-110… 110-120… 120-130…

Carvão Osso Semente

0% 20% 40% 60% 80% 100% 0-10cm 10-20 cm 20-30 cm 30-40 cm 40-50 cm 50-60 cm 60-70 cm 70-80 cm 80-90 cm 90-100 cm 100-110… 110-120… 120-130…

Carvão Osso Semente

(47)

47

Frequência de material orgânico por nível. Unidade 3. Terra Preta 1.

a tendência geral segue o que foi apresentado anteriormente para a totalidade da área.

Quando se observa o comportamento da distribuição do carvão dentre os níveis artificiais pode-se notar que, embora seja frequente em ambas as porções, apresenta menor quantidade de material na porção norte (Terra Preta 1), onde alcança até 120 cm de profundidade; é mais abundante na porção sul (Terra Preta 2). Pode-se ainda notar no gráfico sequente que os picos de carvão apresentam leve dessemelhança. Na porção norte (Terra Preta 1) o pacote de maior incidência com este material varia entre 20 a 40 cm de profundidade, enquanto que na porção sul (Terra Preta 2) existem dois picos que marcam um contínuo entre 10 e 60 cm de profundidade.

Quando se repara o comportamento do material ósseo, é clara a maior incidência na porção norte (Terra Preta 1), justamente na área de maior incidência, na unidade escavada, de carvão (entre 20 e 30 cm).

Por fim, o comportamento vertical das sementes é claramente relacionado à porção sul (Terra Preta 2), no entanto, todo o material encontra-se na porção mais superficial, nos primeiros 10 cm. Pode ser que esses vestígios estejam associados às ocupações mais recentes.

0 100 200 300 400 500 600 0-10c m 10-20 c m 20-30 c m 30-40 c m 40-50 c m 50-60 c m 60-70 c m 70-80 c m 80-90 c m 90-10 0 c m 100-110 c m 110-120 c m 120-130 c m

(48)

48

Frequência de material orgânico por nível. Unidade 2. Terra Preta 2.

Frequência de material inorgânico por nível. Unidade 3. Terra Preta 1.

0 100 200 300 400 500 600 0-10c m 10-20 c m 20-30 c m 30-40 c m 40-50 c m 50-60 c m 60-70 c m 70-80 c m 80-90 c m 90-10 0 c m 100-110 c m 110-120 c m 120-130 c m

Carvão Osso Semente

(49)

49

Para avaliar o comportamento por nível da porcentagem de material inorgânico, foi retirado da comparação o material mineral não antrópico, composto por quartzo e laterita. Foram considerados somente o material cerâmico e microlascas, independentemente do tamanho (menor que 2 mm ou sobrenadante).

Chama a atenção a presença de microlascas em todos os níveis da porção norte do sítio (Terra Preta 1).

Frequência de material inorgânico por nível. Unidade 2. Terra Preta 2.

Frequência de material inorgânico por nível. Unidade 3. Terra Preta 1.

(50)

50

Quando este comportamento é avaliado por número absoluto revela um comportamento similar no que toca à concentração de materiais verticalmente.

Embora a quantidade de material seja maior na porção norte (Terra Preta 1) e menor na porção sul (Terra Preta 2), pode-se notar que o aparecimento majoritário ocorre nas imediações entre 20 e 30 cm de profundidade.

Este comportamento complementar, por vezes obedecendo a um mesmo padrão, por vezes com diferenças que se completam, apontam para a interdigitação dos dados.

Assim, resumidamente, pode-se dizer, através dos dados obtidos pela flotação do solo:

• a porção norte do sítio (Terra Preta 1) apresenta carvão ao longo de toda a espessura de TPA – em especial entre 20 e 40 cm, além de reunir quase toda a amostra de material ósseo. Além disso, comporta a quase totalidade do material lítico, microlascas.

• a porção sul (Terra Preta 2) apresenta maior quantidade de carvão em relação à porção norte. A presença de sementes está associada aos primeiros centímetros, podendo o material ser fruto de ocupações mais recentes. O material cerâmico é frequente enquanto o material lítico é pouco expressivo, em relação à porção norte.

Frequência de material inorgânico por nível. Unidade 2. Terra Preta 2.

(51)
(52)

Capítulo 4

Análise Cerâmica*

Em laboratório, cada um dos vestígios foi lavado e separado por tipo de artefato, entre cerâmico e lítico. Sendo o primeiro mais abundante e rico em informações, foi utilizado para análise e diagnóstico do sítio arqueológico, guiando o estudo.

Durante o processo de limpeza do material, investiu-se na identificação de cacos cerâmicos remontáveis em um mesmo nível arbitrário. Posteriormente, foram triados e separados os cacos que seriam analisados daqueles não analisados. Nesta categoria, incluíram-se os cacos incluíram-sem uma das faces ou cujo tamanho fosincluíram-se inferior a 2 cm.

Os cacos a serem analisados foram numerados individualmente, e somaram 6.370 fragmentos. Foram criadas duas sequências diferentes, uma para a malha escavada e outra para o material coletado em superfícies ampliadas, de uma área de 259.200 m². Durante todo este processo de numeração, insistiu-se ainda na remontagem dos fragmentos, agora entre os níveis arbitrários. A remontagem dos cacos entre os níveis arbitrários poderia denunciar uma única ocupação em profundidade em cada sondagem escavada.

O material cerâmico obtido nas diversas unidades de coleta totalizou 24.246 fragmentos de cerâmica, dos quais 6.198 menores que 2 cm, 11.678 considerados não diagnóstico e 6.370 foram analisados um a um, compondo o material diagnóstico. Todos os cacos coletados foram

(53)

53

contados e pesados, sendo que somente os vestígios considerados diagnósticos foram submetidos à análise tecnológica detalhada.

Os fragmentos menores que 2 cm foram retirados da amostra depois de ter sido submetidos à curadoria; correspondem entre 47% a 15% dos fragmentos exumados nas diferentes áreas amostradas, e somam 6.198. Os fragmentos maiores que 2 cm, sem decoração, não foram analisados e foram classificados como não diagnósticos; correspondem entre 63% a 22% de cada área amostrada, e contabilizam 11.678 fragmentos. Os fragmentos considerados diagnósticos, com elementos decorativos, morfologias distintivas, foram analisados individualmente e correspondem entre 34% a 14% nas áreas amostradas, somando 6.370 cacos. O gráfico abaixo sumariza a quantidade e percentual de cada amostra.

26%

48% 26%

Amostra cerâmica - triagem geral

Menores que 2 cm Não diagnóstico Diagnóstico 1.546 1231 2033 1388 716 1911 3415 5636 1.025 531 2853 1961 0% 10% 20% 30% 40% 50% 60% 70% 80% 90% 100%

Terra Preta 1 Terra Preta 2 Terra Preta 1 Terra Preta 2

Malha Superfícies amplas

Triagem do material cerâmico

Menores que 2 cm

Não-diagnóstico

(54)

54

A arqueologia, como várias outras ciências humanas, utiliza métodos estatísticos para auxiliar na percepção do padrão e da diferença, possibilitando reunir grupos e tipos que possam ser descritos e classificar os vestígios materiais (BINFORD, 1976). Esse ponto é essencial, já que a arqueologia lida o tempo todo com uma quantidade grandiosa de fragmentos da cultura material, tornando impossível a compreensão mental de miríades de dados, recorre-se às ciências duras para assim inferir comportamentos humanos, sociais.

Se as quantificações parecem apreensões de um real existente, deve-se lembrar de que os atributos e as variáveis são escolhidos por pesquisadores e podem alterar a percepção e o entendimento do conjunto material. Assim, é de extrema necessidade explicitar cada um dos atributos elencados (DUNNEL, 2007).

Para a análise do material, foram enumeradas distintas variáveis, tentando delimitar os traços característicos no material.

As estatísticas funcionam, para a arqueologia, como a quantificação do concreto. Assim, auxiliam a entender a estabilidade e a variabilidade do material. Com este concreto quantitativo, é possível não somente estabelecer as frequências, mas também cruzar variáveis, o que auxilia na criação de tipos e classes de artefatos. As quantidades se prestam, portanto, ao entendimento da variabilidade quantitativa, podendo ter relações com a variabilidade espacial, o que permite testar as variabilidades relacionais de dado conjunto artefatual (SHIFFER & SKIBO, 1997).

Dados tecnológicos da cerâmica

A caracterização tecnológica da cerâmica será apresentada com base nos dados fornecidos pela malha sistemática e pela escavação das diferentes superfícies ampliadas.

Tipo de artefato e porção do pote

(55)

55

e distintos tamanhos e decorações, somam 5.469 fragmentos. Poucos exemplares, 267 amostras (5% do total analisado), apresentam aspecto que permite classificá-los como objetos independentes (adorno, cachimbo e roletes), e objetos que particularizam os potes (alça, asa, flange, apliques).

Observando os dados para os fragmentos de asa, alça e flange, eles são mais expressivos na porção norte (Terra Preta 1), representam o dobro da porção sul (Terra Preta 2). Os apliques, que também foram usados em recipientes cerâmicos são expressivos em toda a área escavada, no entanto, a média é maior na porção sul, com 85%, que na porção norte, 71%.

Os dois cachimbos foram localizados na área do sítio Terra Preta 1, ambos com decoração pintada, bem como os dois adornos. Objetos como roletes foram identificados em toda a extensão escavada, e nos parecem testes iniciais para avaliar a qualidade da pasta argilosa. Destacam-se em toda área do sítio Terra Preta 1.

Sítio Terra Preta 1, Trincheira, quadra 359S-960L (C); fragmento cerâmico, pintura

laranja sobre engobo branco.

Sítio Terra Preta 1, Trincheira, quadra 359S-960L (C); fragmento cerâmico, pintura

vermelha sobre engobo branco.

16% 6% 11% 9% 2% 2% 21% 6% 7% 8% 63% 88% 78% 83% 0% 10% 20% 30% 40% 50% 60% 70% 80% 90% 100%

Terra Preta 1 Terra Preta 2 Terra Preta 1 Terra Preta 2 Malha sistemática Superfície ampliada

Alguns instrumentos identificados

(56)

56

Nos sítios Terra Preta 1 e Terra Preta 2 os fragmentos são provenientes de recipientes cerâmicos, em sua quase totalidade, como salientado anteriormente.

Morfologicamente, a categoria de fragmento predominante no sítio Terra Preta 1 foi a parede, com 54,2% do total, destes, 383 fragmentos ocorreram na malha sistemática e 1.496 nas escavações amplas, sendo a trincheira a área de maior concentração. A categoria borda representou pouco mais de 34% do total deste sítio, sendo 159 peças na malha sistemática e 1.023 nas escavações amplas, seguida pelas bases, sendo 46 peças na malha regular e 190 peças nas sondagens amplas. No sítio Terra Preta 2, a categoria borda foi a mais popular com ocorrência de 133 fragmentos na malha sistemática e 834 fragmentos nas escavações amplas, representando 42,6% do total. A categoria parede foi a segunda mais abundante, com pouco mais de 33% do total desta área, sequenciada pelas bases com representatividade de 13,3%, sendo 49 peças distribuídas na malha sistemática e 250 nas sondagens amplas. A categoria aplique apresenta-se pouco variável tanto na malha sistemática como nas escavações amplas, com total de 102 e 138 peças no Terra Preta1 e Terra Preta2, respectivamente.

O sítio Terra Preta 2 apresenta maior quantidade de fragmentos de borda, o que talvez implique uma maior quantidade de potes, mesmo que não tenha maior variabilidade de morfologia entre os sítios, Terra Preta 1 e Terra Preta 2. Essa tendência pode ser vista tanto no material coletado através da malha sistemática quanto nas escavações amplas.

0% 10% 20% 30% 40% 50% 60% 70%

Terra Preta 1 Terra Preta 2 Terra Preta 1 Terra Preta 2 Malha sistemática Superfícies amplas

Porção do pote

(57)

57

Técnica de produção dos artefatos

Entender a técnica de produção é útil para entender as escolhas, as possibilidades de produção utilizadas e para qual tipo de artefato. A técnica de manufatura pode ser observada a partir das trincas e fragilidades da peça (RYE, 1987). No Brasil, entre os Waurá e Karajá cerca de ¾ ou até metade dos vasos são confeccionados pela técnica de modelado e o restante por acordelamento. Os Tapirapé levantam toda a parede do vasilhame sem o emprego da técnica de acordelamento (Lima, 1987), enquanto a produção por acordelamento pode ser vista entre os Waiwai (Yde, 1965), Guarani (La Salvia e Brochado, 1989), dentre outros, de maneira quase exclusiva.

A técnica de manufatura de maior ocorrência foi a acordelada, presente, em média, em 27% dos fragmentos do sítio Terra Preta 1, com 126 peças na malha sistemática e 990 fragmentos nas escavações amplas. No sítio Terra Preta 2 essa mesma técnica ocorreu com menor frequência: apenas 74 fragmentos nas sondagens sistemáticas e 447 nas escavações amplas, representando 23%, em média.

A segunda técnica mais identificada foi a modelada, concentrada principalmente no sítioTerra Preta 2, a qual ocorreu em média em 20% dos fragmentos, contrastando com 5% do sítio Terra Preta 1.

A associação de técnicas de confecção acordelada e modelada ocorreu em uma pequena parcela dos cacos observados, 1% e 2%, em média. Além disso, não foi possível identificar o processo de elaboração em 2.155 fragmentos cerâmicos no sítioTerra Preta 1 e 1.279 fragmentos no sítioTerra Preta 2.

Nota-se, portanto, uma mesma tendência – independente da forma de intervenção, do uso da técnica do acordelado em geral, com maior ocorrência de modelados na porção sul, onde se localiza o sítio Terra Preta 2.

73% 55% 60% 57% 21% 24% 35% 23% 5% 21% 5% 18% 2% 1% 0% 2% 0% 10% 20% 30% 40% 50% 60% 70% 80%

Terra Preta 1 Terra Preta 2 Terra Preta 1 Terra Preta 2 Malha sistemática Superfícies amplas

Técnicas de manufatura cerâmica

Não identificada

Acordelada

Modelada

(58)

58

Elementos presentes na pasta cerâmica

A análise dos elementos da pasta é um critério importante para auxiliar no entendimento das escolhas durante a produção, pois a oleira define a fonte de argila de acordo com suas exigências e intenções, que são reais e também simbólicas. A argila colhida será tratada e “transformada em pasta e os elementos intervenientes são tantos e a interdependência entre eles são tais, que não podemos aceitar a sua presença como elemento decisório de um contexto cultural” (LA SALVIA & BROCHADO, 1989:12). É sempre difícil julgar de forma criteriosa quais elementos estavam presentes na fonte de argila, e quais foram inseridos na pasta. Elementos manufaturados para a inclusão, como caco moído e cinza de cariapé, permitem afirmar que o material foi inserido durante o tratamento da pasta. No entanto, biosílica como o cauixi, pode estar presente na fonte de argila.

Nesta análise, interessou-se pelo tipo do elemento presente no fragmento cerâmico, pela composição do elemento mineral e pela granulometria do tempero utilizados na pasta. Para tanto, foi criada uma lista de possibilidades, para ser marcada na ficha de respostas. O tipo e o tamanho dos elementos podem auxiliar na compreensão de características de desempenho e escolhas sociais adotadas em sociedades pretéritas, pois cada escolha cria possibilidades físico-químicas que são determinantes e fixas (SHIFFER & SKIBO, 1997).

O elemento predominante na pasta é o cauixi, presente em 63,2% do material cerâmico do sítio Terra Preta 1 e em 67,8% do total de fragmentos do sítio Terra Preta 2. Segue-se a associação de cauixi e cerâmica triturada identificada em pouco mais de 31% dos fragmentos do sítio Terra Preta 1, com a maior concentração na trincheira e em 28,7% do total de fragmentos do sítio Terra Preta 2, com maior ocorrência na unidade de escavação 1. O cariapé está presente em 12 fragmentos, apenas nas sondagens amplas do sítio Terra Preta 1, não sendo identificado na malha sistemática. Já no sítio Terra Preta 2, o cariapé ocorreu em 17 fragmentos distribuídos na malha e nas unidades de escavação. Houve ainda eventuais ocorrências de antiplástico mineral e concha na forma individual ou associada, bem como três fragmentos sem nenhum elemento identificável. Mesmo o material Pocó não apresenta grande quantidade de cariapé em ambos os sítios, ao contrário do que apontam Hilbert e Hilbert (1980).

Referências

Documentos relacionados

determinando ao MUNICÍPIO DE MACEIÓ, que através da Secretaria Municipal de Educação, disponibilize auxiliar educacional para o acompanhamento do demandante SILMAR PAES DE

A) o tratamento laparoscópico neste paciente está contraindicado pela obesidade e por se tratar de um tumor localmente avançado, sendo assim, o tratamento laparotômico com

É recomendado que o ângulo operacional da junta para o conjunto de junta paralela não exceda 8 graus para as linhas de tração principal acima de 40&#34; de comprimento.. Para

2 3HUXDQR $PDUHOR p XPD GDV YDULHGDGHV GH IHLMmR pertencente à espécie Phaseolus vulgaris L., plantado

The calculations have shown that it is possible to build a simple one-stage light-gas gun to achieve an exact replication of level III or level IV ballistic

A partir da avaliação do comportamento do mercado e da análise das possibilidades futuras, aplicou-se na empresa Industrial Rex Ltda o sistema para avaliar

A fim de ampliar os trabalhos que se dedicam especificamente ao ensino da biologia, para que possam fornecer subsídios para a adoção de estratégias mais eficientes em sala de aula,

Nos primeiros tempos, dadas as dificuldades de comercialização, 50% da colheita de milho e 70% da colheita de bananas eram perdidas; atualmente, os agricultores contam com