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V O T O DE OFÍCIO PELO PRESIDENTE DA OAB-MG CONS. FELIPE MARTINS PINTO

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Academic year: 2021

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V O T O

AUTOS Nº: 333/2016

INSTAURAÇÃO: DE OFÍCIO PELO PRESIDENTE DA OAB-MG DESAGRAVADO: ADV. LEONARDO FERREIRA NUNES

RELATOR: CONS. FELIPE MARTINS PINTO

I. Breve relato dos fatos

1. Os autos se referem a procedimento administrativo instaurado de ofício pelo Presidente da Ordem dos Advogados do Brasil Seção Minas Gerais Adv. ANTÔNIO FABRÍCIO DE MATOS GONÇALVES , em que se pretende Desagravo Público em favor do Adv. Leonardo Ferreira Nunes.

2. No dia 04 de fevereiro de 2016, durante audiência realizada no Juizado Especial Criminal da Comarca de Uberlândia, Minas Gerais, o Advogado Leonardo Ferreira Nunes sofreu injusto atentado às prerrogativas da advocacia no exercício profissional por ato do Promotor de Justiça Áureo Barbosa Filho.

3. Conforme narrado no registro de ocorrência, o Promotor Áureo chegou na sala de audiência

... AGRESSIVO E NERVOSO, OCASIÃO EM QUE

AFIRMOU QUE O ADVOGADO ESTAVA

TUMULTUANDO A AUDIÊNCIA, LOGO EM

SEGUIDA PERGUNTOU SE O ADVOGADO SABIA

ESCREVER, QUE SE SOUBESSE, ERA APENAS

ESCREVER O QUE PRETENDIA, QUE ELE

(2)

PROMOTOR DE JUSTIÇA, TINHA MAIS O QUE FAZER, O ADVOGADO PEDIU DESCULPAS, POR SUPOSTAMENTE, ESTAR INCOMODANDO O PROMOTOR, FAZENDO-O VIR ATÉ A SALA DE

AUDIÊNCIA, O PROMOTOR CHAMOU O

ADVOGADO DE MOLEQUE, O QUE MOTIVOU O ADVOGADO A SE LEVANTAR E DIZER QUE O PROMOTOR PODERIA FAZER A AUDIÊNCIA SOZINHO, E NISSO O ADVOGADO SE LEVANTOU PARA SAIR DA SALA, ENQUANTO O PROMOTOR ESTAVA NA PORTA DA SALA, O QUE MOTIVOU O PROMOTOR A SEGURAR A PASTA DE ARQUIVO DO ADVOGADO, RASGANDO-A PARCIALMENTE E DERRUBANDO OS PAPÉIS QUE ESTAVAM DENTRO DA PASTA A CAIR NO CHÃO. O ADVOGADO ABAIXOU-SE E PEGOU A PASTA E OS DOCUMENTOS E, QUANDO IA SAINDO DA SALA, FOI AGREDIDO FISICAMENTE PELO PROMOTOR DE JUSTIÇA COM UM SOCO NO LADO ESQUERDO ROSTO E DOIS PONTAPÉS NO

LADO INTERNO DA COXA ESQUERDA,

MOMENTO EM QUE OUTRO ADVOGADO E

SEGURANÇA CONTEVE O PROMOTOR,

SEGURANDO-O PARA CESSAR AS AGRESSÕES, MAS O PROMOTOR AINDA DESFERIU O SEGUNDO PONTAPÉ NO ADVOGADO. (trecho do REDS – fl.) (sic.)

4. Diante dos fatos narrados, o Presidente da Ordem dos Advogados Seção Minas Gerais, determinou de ofício a instauração de processo de Desagravo, nos termos do artigo 18

1

do Regulamento Geral da Advocacia.

5. O cópia da nota de repúdio da Seção de Minas Gerais da OAB (fl. 04), depoimento do desagravado (fls. 05-08), depoimentos de testemunhas (fls. 09-26), nota de repúdio da 24ª Subseção da OAB-MG.

É o que cumpria relatar.

1

Ar t. 1 8. O inscr ito na OAB, q uando o fend ido co mp ro vadamente e m r azão do exercício

profissio nal ou d e car go ou função d a OAB , tem direito ao desagr avo púb lico pro mo vido

pelo Co nselho co mpetente, de o fício, a seu ped ido ou d e q ualq uer p esso a.

(3)

II. Fundamentação

Somos o s q ue ar amo s o campo da ju sti ça e não reco lh emos o s frutos.

2

6. A evolução da atuação dos advogados no processo penal coincide com a

trilha percorrida pelo próprio instituto da defesa e a maior ou menor liberdade de atuação do procurador do imputado sempre guardou uma íntima sintonia com a natureza do Estado, servindo como critério para se verificar os moldes da relação entre os indivíduos e o poder estatal.

7. Ao se deparar com um modelo de processo penal repressivo que inibe a participação da defesa, relegando-a ao desempenho de ações inócuas e atribuindo ao advogado o exercício de uma mera formalidade, desprovida de efetividade, está-se diante de um Estado despótico e autoritário. Já nas hipóteses em que se encontra um processo penal centrado na igualdade de oportunidades entre a acusação e a defesa, na paridade de armas entre os litigantes e na ampla liberdade de atuação da defesa, possuindo o advogado uma função plena e relevante, certamente, tratar-se-á de um Estado democrático.

8. Nesse contexto, as prerrogativas do advogado transcendem o interesse subjetivo do profissional, passando a consistir em instrumento de consolidação da independência e da inviolabilidade inerentes ao exercício da advocacia em geral e alcançam a condição de garantia para o acesso da população a direitos fundamentais pleiteados por advogado, conforme se infere da leitura do artigo 133

3

da Constituição da República e do artigo 2º

4

e seus §1º

5

e 2º

6

do Estatuto da Advocacia e da OAB.

2

CARNE LUT T I, Francesco.

A s m i s é r i a s d o p r o c e s s o p e n a l

. T rad. Luís Fernando Lob ão de Morais. São Paulo : Ed icamp , 2001.p 43.

3

Ar t. 133. O ad vo gado é indispensável à ad ministração da justiça, sendo inviolável por seus ato s e manifestações no exercício da pro fissão, nos limites da lei.

4

Art. 2º O ad vo gado é indisp ensável à ad ministração da j ustiça.

5

§ 1º No seu ministér io privado, o ad vo gado pr esta ser viço p úblico e exerce função social.

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9. Dessa forma, em sua atuação profissional, não se admite a imposição obstáculo, mínimo que seja, que possa abalar a plenitude das prerrogativas do advogado necessárias para o efetivo exercício de seu ministério.

10. No caso dos autos, a urgência e a notoriedade dos fatos, corroborada pelas provas que instruem o feito, dispensam a necessidade de informações da autoridade ofensora, nos termos do § 1º do artigo 18

7

do Regulamento Geral do Estatuto da Advocacia e da OAB.

11. Verifica-se a existência de efetiva violação ao artigo 6º

8

e seu parágrafo

único

9

do Estatuto da Advocacia e da OAB e incisiva ofensa a duas prerrogativas do Advogado, previstas no artigo 7º, incisos I e VII do Estatuto da Advocacia e da OAB e abaixo transcritas:

I – exercer, com liberdade, a profissão em todo o território nacional;

VII – permanecer sentado ou em pé e retirar-se de quaisquer locais indicados no inciso anterior, independentemente de licença;

12. O Advogado in casu teve tolhida a sua liberdade de exercício profissional, a partir do uso de constrangimentos morais e físicos, conforme narrado no REDS (fl.)

13. Ademais, houve restrição comprovada do direito do advogado de se retirar do recinto em que ocorria a audiência preliminar no Juizado Especial Criminal de Uberlândia, inclusive resultando em lesões

6

§ 2º No pro cesso j udicial, o ad vo gado co ntrib ui, na po stulação de decisão favorável ao seu co nstituinte, ao co nvencimento do j ulgador, e seus atos co nstituem múnus p úb lico .

7

Art. 18 . (...)

§ 1º Co mpete ao r elator, co nvencendo -se d a existência de pro va o u indício d e o fensa relacio nad a ao exercício da profissão o u de cargo d a OAB, propor ao Presidente q ue solicite infor mações d a pessoa o u autor idade o fensor a, no prazo de q uinze dias, salvo em caso de ur gência e no tor iedade do fato.

8

Art. 6º Não há hierarq uia nem subord inação entre ad vo gado s, magistrad os e membro s do Ministér io Púb lico, devendo todos tr atar -se co m consideração e respeito recípro cos.

9

Parágrafo único.

As autor idades, o s ser vidores p úblico s e o s serventuár io s da justiça d evem dispensar ao

advo gado, no exercício da profissão, tratamento co mp atível co m a dignidade da ad vocacia

e co ndições ad eq uadas a seu d esempenho .

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corporais.

14. Importante ressaltar que há total convicção de que o atentado às prerrogativas ora constatado representa conduta isolada do Promotor de Justiça Áureo Barbosa Filho e não condiz com a postura respeitosa e cortês que norteia o tratamento dispensado pelo Ministério Público aos advogados.

15. Frise-se que o mesmo texto constitucional que reconhece a relevância da advocacia para a administração da justiça, permitiu que o Ministério Público abandonasse a singela função de órgão acusador para assumir o nobre papel de guardião da ordem jurídica, do regime democrático e dos interesses individuais e sociais indisponíveis, tornou-se essencial à função jurisdicional do Estado.

16. Não se está diante de singela coincidência, ao contrário, a consolidação democrática exige um necessário e paritário fortalecimento das duas categorias profissionais que convergem suas atuações para a concretização do ideal de justiça.

17. Assim, comprovada a gravidade da ofensa a prerrogativas profissionais do Advogado Leonardo Ferreira Nunes, manifesta o relator pelo DEFERIMENTO do Desagravo Público como mecanismo necessário para assegurar a dignidade do profissional ora violado e para efetivar a reputação de toda a classe dos Advogados.

III. Conclusão

18. Diante dos fatos narrados e das provas colhidas, verifica-se a existência de ofensa a prerrogativas profissionais já supra descritas e, portanto, manifesto favoravelmente à realização do Desagravo proposto, nos termos do artigo 133 da Constituição da República, artigo 7º, XVII

10

e

10

Art. 7º São d ireito s do advo gado:

(...)

XVII – ser p ub licamente desagravado , q uando ofend ido no exercício d a profissão o u em

razão d ela;

(6)

seu § 5º

11

do Estatuto da Advocacia e da OAB, artigo 18 do Regulamento Geral do Estatuto da Advocacia e da OAB e artigo 123

12

do Novo Regimento Interno da OAB-MG.

Belo Horizonte, 16 de fevereiro de 2016.

Felipe Martins Pinto Conselheiro Relator

11

§ 5º No caso de o fensa a inscr ito na OAB, no exercício da pro fissão ou de car go o u função de ór gão da OAB, o conselho co mpetente deve pro mo ver o desagr avo p úblico do ofend ido, se m prej uízo da respo nsabilid ade cr iminal em q ue incorrer o infrato r.

12

Art. 123 . O desagravo é direito do ad vo gado e dever da Seccio nal, pod endo ser defer id o

a req uer imento do inter essado, d e o ficio, o u po r proposta de integr antes de q uaisq uer de

seus ó rgão s.

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