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Museu Vivo de São Bento: espaço de produção de memória na Baixada Fluminense

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Academic year: 2021

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1 Museu Vivo de São Bento: espaço de produção de memória na Baixada

Fluminense

Tatiane Oliveira de Assumpção Cordeiro

CONSIDERAÇÕES INICIAIS

O presente trabalho visa ressaltar o papel do Museu Vivo de São Bento para a constituição de uma identidade renovada da Baixada Fluminense já que recupera elementos da História nas suas diferentes modalidades vinculados à produção artística regional, ao artesanato, a tradição oral e as festividades. Esses elementos convergem para a construção de uma perspectiva de Educação Patrimonial e repensam os elementos constitutivos da memória coletiva local.

O Museu Vivo de São Bento pode ser considerado uma instituição que promove novas experiências e reflexões em torno da perspectiva do patrimônio. Criado em 2008 e vinculado ao Centro de Referência Patrimonial e Histórico do município de Duque de Caxias, o mesmo tem implementado um conjunto de práticas que difundem e renovam a perspectiva de Educação Patrimonial junto à sociedade civil.

Nesse sentido, o objeto da pesquisa aqui pretendida relaciona-se, com o campo de estudo do patrimônio, voltando-se, principalmente, para espaços institucionais que tomam a noção de patrimônio, como ferramenta político-pedagógica. O Museu Vivo de São Bento é na região da Baixada Fluminense, uma instituição precursora nas discussões da identidade local, haja vista que busca fazer a aproximação entre a História e memória da região com a sociedade.

Discente do curso de História da UFRRJ/IM – Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro –

Instituto Multidisciplinar Campus Nova Iguaçu. Orientação: Profa. Dra. Raquel Alvitos Pereira

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2 Faz-se necessário que a população conheça e vivencie a noção de patrimônio, pois a mesma contribui para (re)significar as identidades e o grau de pertencimento do indivíduo com as singularidades locais, resguardando a História e importância deste para o passado, presente e futuro. Ressalto-se que, através da preservação da História da Baixada Fluminense, é possível revitalizar e potencializar os lugares de memória e também dos patrimônios históricos e culturais.

É a partir desse viés, que o Museu Vivo de São Bento integra a Educação Patrimonial pensando-a como um processo que se dá nas relações sociais.

A EDUCAÇÃO PATRIMONIAL: ELEMENTO CONSTITUTIVO DE MEMÓRIA, IDENTIDADE E CIDADANIA

Em um mundo cada vez mais globalizado, valorizar e preservar o patrimônio resguarda o elo entre o passado (como uma “presença” constante) e o presente, sendo o mesmo, uma das facetas da própria memória social coletiva, o que contribui para o acesso a cultura e, ainda, para o próprio exercício da cidadania. O termo patrimônio é usado em analogia ao processo de herança familiar, quando os bens são passados de pais para filhos, e, isso não envolve apenas valores econômicos, mas também simbólicos. Nessa noção, o patrimônio torna-se um conjunto de ações humanas visando conservar, valorizar, transmitir determinados bens materiais e imateriais aos quais se atribuem, normalmente, valores e importância. A interação entre fatores econômicos e culturais, é que estabelece quais patrimônios devem ser preservados e valorizados.

Em virtude muitas vezes do padrão global, o patrimônio local, a exemplo da

Baixada Fluminense, acaba não sendo valorizado e, assim, o processo de construção

identitária pode se tornar algo imposto socialmente, ainda que a absorção desse padrão

seja de forma inconsciente, dado o grau de naturalização e interação que estabelecemos

com certos objetos e/ou fenômenos.

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3 Assim como demonstra a autora Márcia Chuva “na atualidade, a área do patrimônio engloba um conjunto significativo de questões de ordem política, de relações de poder, de campos de força e âmbitos do social” (CHUVA, 2012, p. 152), por isso, é preciso resgatar as especificidades entre os “choques” culturais, assim como, resgatar as memórias(s) associadas às localidades para que as pessoas possam se inserir primeiro num âmbito específico e, então, depois se incluam no âmbito do geral/global.

De acordo com Jorge Najjar (2010, p. 142) é preciso que “haja uma ampliação do espectro daquilo que é visto como patrimônio” e, essa definição de patrimônio “é algo definido socialmente”, nesse caso, há uma seleção para determinar o que se enquadra ou não como patrimônio. A partir desse viés, para algo ser considerado patrimônio é preciso que haja significação, que para a sociedade tenha atribuído a esse elemento valor simbólico e sentimento de identificação.

Há que se destacar que, o patrimônio e sua importância maior está no sentimento e na memória que ele abriga, que não engloba apenas valores econômicos, mas também e, principalmente, valores simbólicos, como a noção de memória afetiva que consolida a noção de patrimônio no indivíduo, despertando vínculos que o levam a querer exercer sua cidadania.

Nesse sentido, a educação patrimonial é de suma importância, pois leva o indivíduo a um processo de conhecimento, apropriação e valorização do patrimônio, bem como de seu significado para a compreensão sócio-histórica. Para tal, é preciso que exista diálogo entre as partes desse processo, para que os indivíduos se reconheçam e se identifiquem na história do patrimônio histórico material e/ou imaterial de sua sociedade.

Nesse caso, Jorge Najjar demonstra que:

“a dialogicidade não é um “truque” pedagógico, mas um princípio

educacional a nortear todo o escopo do trabalho realizado. É justamente esse

diálogo que pode tencionar o “campo das forças” no qual ocorrem as disputas

acerca das memórias, dos patrimônios e das identidades que serão vistas como

legítimas.” (NAJJAR, 2010, p. 150)

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4 Portanto, a educação patrimonial ajuda a fortalecer as memória(s) coletiva(s), constitutivas da comunidade local, auxiliando na criação de vínculos e proximidade, o que corrobora para o fortalecimento de laços de identitários.

SABERES, HISTÓRIA E EXPERIÊNCIAS CONSTITUÍDAS E DIFUNDIDAS PELO MUSEU VIVO DE SÃO BENTO

O Museu Vivo de São Bento é uma instituição recente

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, e, que trabalha com a noção de patrimônio. Além de, orientado pela noção de Educação Patrimonial, estabelece parcerias com escolas e, se utiliza de ferramentas que integrem a sociedade a favor da preservação do patrimônio histórico material e imaterial da região. Com a finalidade de fortalecer o movimento em defesa do patrimônio material e imaterial do território da fazenda Grande São Bento, e afirmar o território como lugar de memória e História, assegura a importância dos agentes sociais construtores de seu tempo na região e garante a construção de sentimentos de pertencimento e de coletividade.

Com esse intuito, o Museu e o Centro de Referência Patrimonial e Histórico do Município de Duque de Caxias, como ações no âmbito da educação patrimonial, destaca- se o projeto “Jovens agentes do patrimônio” construído em 2013 que visa uma formação continuada desenvolvida a partir de oficinas, grupos de estudo e trabalhos de campo, bem como com abordagens que se apoiam nas vertentes da(s) memória(s), da história e do patrimônio.

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O Museu foi Criado em 2008 e, é administrado pelo Centro de Referência Patrimonial

e Histórico do Município de Duque de Caxias. Foi o primeiro museu de percurso da Baixada

Fluminense, e hoje além de abrigar a Fundação Educacional de Duque de Caxias é constituído

por um sítio arqueológico com sambaquis. E, ainda, pela Igreja Nossa Senhora do Rosário e

pelo Casarão Beneditino- sede da Antiga Fazenda de São Bento- tombados pelo IPHAN.

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5 Esse projeto contribui para que os jovens construam um referencial de valorização e preservação. Mário Chagas

2

em seu texto “Patrimônio é o caminho das formigas...

3

” destaca que:

“esse programa, criado em 2009, compreende que a patrimonialização é um campo de disputa pela ocupação do passado, do presente e do futuro, logo tem papel estratégico na formação educacional e cultural das novas gerações.

Além disso, para o Programa a patrimonialização tem caráter processual, não sendo suficiente, portanto, no que tange à preservação, o estabelecimento de uma lista oficial definidora do que é ou não é patrimônio; é preciso ir além, é preciso construir conceitos coletivos e a partir deles desenvolver ações coletivas e participativas de defesa, proteção e preservação da herança cultural.” (CHAGAS, 2015, p. 5)

Assim, o Museu promove a construção coletiva da noção de patrimônio para que através dessa os jovens possam se reconhecer, para fomentar a preservação e valorização do patrimônio. Nesse sentido:

“a noção de patrimônio tem um componente discursivo que lhe dá sentido e do qual não se liberta. A vivência de um museu de percurso espalhado pelo território, um museu pelo qual se pode caminhar, ao ar livre, de dia e de noite, contribui para a construção de um conceito de patrimônio que nos envolve por todos os lados, afeta todos os nossos sentidos e cuja construção é afetada por valores e princípios que regem a vida social, em suas dimensões individual e coletiva.” (CHAGAS, 2015, p. 12)

2

Mario Chagas é poeta, museólogo, mestre em Memória Social e doutor em Ciências Sociais.

Professor do Departamento de Estudos e Processos Museológicos da UniRio, com atuação na Escola de Museologia, no Programa de Pós-graduação em Memória Social, no programa de Pós-graduação em Museologia e Patrimônio. Professor visitante da ULHT e Assessor Cultural do Museu da República, Ibram/MinC.

3

Em seu texto Mario Chagas traz uma abordagem sobre a atuação no Museu Vivo de São

Bento em Duque de Caxias no desenvolvimento de novas práticas e abordagens conceituais no

campo do patrimônio. Para tanto examina o conceito construído pelos participantes do programa

Jovens Agentes do Patrimônio.

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6 Nesse sentido, o projeto “Jovens Agentes do Patrimônio” pode ser tomado como um expoente, haja vista que integra um conjunto mais amplo de atividades que o Museu Vivo de São Bento promove. Essas atividades contribuem para a difusão de memórias locais em associação com a construção de uma identidade regional criando mecanismos que possibilitem novas noções para a abordagem do conceito de patrimônio. Isso tornar- se evidente com o conceito

4

criado por esses jovens:

“Patrimônio é o caminho das formigas...os botões que a Jacqueline achou enterrados

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, é a tristeza e é a morte

6

, é a comunidade

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. Todas as coisas ao nosso redor são patrimônio: o que é importante e o que parece não ser importante

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, a conversa com a amiga, o dia-a-dia, as pessoas, a vergonha. É um patrimônio saber que a gente é uma comunidade...” (CHAGAS, 2015, p. 3)

O Museu articula, dessa forma, juntamente com as suas oficinas e projetos, novos caminhos para se pensar a noção de patrimônio. Assim, entende o patrimônio como algo natural e cultural, material e imaterial, como a própria História e a memória. Essas atividades promovem conhecimento, reconhecimento e identificação com o cotidiano. O Museu pensa o conceito de patrimônio a partir de uma construção coletiva para que tal noção não seja baseada apenas em discursos, em disputas políticas e de poder, mas sim, no envolvimento da comunidade local que identifica e (re)ssignifica estabelecendo uma

4

Esse conceito criado coletivamente pelos jovens, como destaca Mario Chagas, tem uma dimensão poética de Manuel de Barros (“é no ínfimo que vejo a exuberância”). O caminho das formigas perpassa a dimensão natural e cultural, nos possibilita repensar caminhos a serem descobertos.

5

Em referência aos Sambaquis

6

Em referência aos exemplos de patrimonialização ancorados na dor, tristeza e morte, como as cidades de Pompéia e Herculano, na atual Itália, destruídas pelo Vulcão Vesúvio.

7

A noção de pertencimento a comunidade, as relações sociais também constitui a noção de patrimônio.

8

Patrimônio não está restrito apenas àqueles reconhecidos em caráter oficial (IPHAN,

INEPAC...)

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7 relação de proximidade com o patrimônio vendo-o como parte da e de sua história e, assim, valorizando-o.

O projeto “Jovens Agentes do Patrimônio” é marcado por atividades como teatro e estudos de campo. Os jovens entram em contado direto com a História, aprendem a proteger e cuidar do patrimônio presentificando o passado no presente e, vivenciam novas perspectiva para a História da Baixada Fluminense, possibilitando maior conhecimento e aproximação dos jovens com a localidade e suas especificidades.

De acordo com Mário Chagas:

“desde a sua criação até a atualidade o Museu vem desenvolvendo ações de mapeamento, identificação, pesquisa e proteção do patrimonial cultural de Duque de Caxias e, por esse caminho, vem produzindo impactos notáveis para o melhor conhecimento da história local e para a preservação do patrimônio cultural.” (CHAGAS, 2015, p. 5)

O Museu Vivo de São Bento exerce uma ação político-pedagógica na Baixada Fluminense, na medida em que torna possível um novo educar no viés do direito à memória, à História e ao patrimônio, com a afirmação de identidade individual e ao mesmo tempo coletiva. Marlúcia Santos, diretora do Museu, faz uma reflexão acerca do interesse do Museu em se preocupara não apenas com a preservação do patrimônio, mas com quem irá preservá-lo: “O Museu está preocupado com o homem de hoje e não só com os sambaquianos.” (CHAGAS, 2015, p. 16)

Atua, assim, na valorização das identidades e memórias que compõem o

Patrimônio Histórico material e imaterial da Baixada Fluminense, a partir de atividades,

debates, cursos e palestras voltadas para a noção de patrimônio. E, a partir do

desenvolvimento da Educação Patrimonial, contribui para que se possibilite o

entendimento em torno da importância da apropriação, salvaguarda e preservação do seu

patrimônio.

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8 CONCLUSÃO

Partindo da premissa de que para preservar é preciso conhecer, essa será possível a partir de experiências no âmbito da construção do patrimônio cultural e da sua consequente valorização. Os saberes, Histórias e práticas difundidas pelo Museu corroboram para a formação do sentimento de pertencimento à região, levando aos indivíduos a conhecerem seu espaço físico e social, e, assim, a questionar também seu papel enquanto sujeito civil e político.

Assim, o Museu Vivo de São Bento enuncia as questões relativas ao patrimônio, a partir da interação com a sociedade local, entendo-a como protagonista no processo de valorização, preservação e reconhecimento (a partir de uma nova noção construída coletivamente) do que se considera patrimônio, resguardando, a partir da educação patrimonial, a História, memória, identidade e cidadania.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

CHAGAS, Mario Souza. Patrimônio é o caminho das formigas.... In: Anais do Museu Histórico Nacional , 2016.

CHUVA, Márcia. Por uma História da noção de patrimônio cultural no Brasil.

Revista do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, Brasília, n° 33, p. 147-165, 2012.

NAJJAR, Jorge. Educação Patrimonial e Identidade: Algumas questões em debate. In: CARNEIRO, Waldeck (et al) (org). Movimentos Instituintes em Educação:

políticas e práticas. Niterói, Intertexto, p. 141-153, 2010.

Referências

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