EFEITO ANTIINFLAMATÓRIO, ANALGÉSICO E ANTIPIRÉTICO DO EXTRATO ETANÓLICO DE FOLHAS DE Passiflora edulis varo
flavicarpa (maracujá-amarelo)
Barbara Tereza Fonseca da Silva' Sandra Fernanda Loureiro de Castro Nunes'
Sônia Maria de Farias Freire"
RESUMO
A espécie de maracujá mais cultivada no nosso país,Passiflora edulis, é usada pela população para o tratamento de distúrbios do sistema nervoso, inflamações e infecções. O objetivo deste trabalho foiavaliar a atividade analgésica, antiinflamatória e antipirética do extrato etanólico (EE)de folhas daplanta. O tratamento com o EE (1 e 2 g/Kg, ip.) produziu aumento da reatividade térmica em camundongos, de 0,8 e 2,2 vezes (controle =5,2 ±0,8 segundos, n=8, p<0,05 - aos 30 minutos), e0,6 e1,8 vezes (controle =5,4±0,7segundos, n=8,p<0,05 -aos 60minutos). A administração do EE (0,5, 1e 2glKg, ip.) reduziu onúmero de contorções abdominais em camundongos em 36%,59% e 77%, respectivamente (veículo=38,9±7,8 contorções, n=8,p<0,05). A aplicação tópica do EE (20,40 e 80 mg) diminuiu o edema de orelha emcamundongos em 15%,35% e54%,respectivamente (salina =9,1
±0,5 mg, n=10, p<0,05). Houve redução do edema depata emratos após tratamento com o EE (1e 2g1Kg,ip.),diminuido em 24% e 40%, respectivamente, em relação ao veículo (0,80±0,03 mL,n=6,p<0,05 -3a.hora). Otratamento com o EE (1e 2 g/Kg, ip.) reduziu a febre em ratos em 5%e 8%, respectivamente, em relação ao controle (38,8 ± 0,04 °C, n=6, p<0,05 -2a.hora). Estes resultados sugerem apresença de compostos com atividade analgésica, antiinflamatória e antipirética emP edulis.
Palavras-chave: Passiflora edulis, analgésico, antiinflamatório, antipirético.
ABSTRACT
The aim ofthis study was toevaluate the analgesic, antiinflammatory and antipyretic activity of the ethanolic extract (EE) from leaves of Passiflora edulis, used for nervous system disturbances, inflammations and infections infolkmedicine. The treatrnent withEE (1and2 g/Kg, ip.) produced a significant prolongation ofthe reaction
*Mestres/Assistentes do Departamento de Ciências Fisiológicas - UFMA
**Especialista/Técnica do Departamento de Ciências Fisiológicas - UFMA
timein tailflickofmice, 80%and220%(controI=5.2±0.8 seconds, n=8,p<Ü.05- at30minutes),60%and 180%(controI=5.4± 0.7seconds, n=8,p<0.05 -at 60 minutes).The EE (0.5,1 and2 g/Kg,ip.)inhibited aceticacid-induced abdominal constrictions inmice in 36%, 59% and 77%,respectiveIy(vehicle=39.8± 9.8 constrictions,n=8,p<0.05). EEadministered topically (20,40 and 80 mg)reduced mice croton oil induced-ear edemain 15%,35%and 54%,respective1y(saline=9.1±
0.5 mg,n=10,p<0.05).Aftertreatmentwith EE(1and 2g/Kg,ip.), carrageenin-induced rat hind pawedema wasdecreasedin 24%and 40%,respectiveIy(vehicle=0.80±0.03 rnL,0=6,p<0.05 - thirdhour).
ThetreatrnentwithEE (1and2 g/Kg,ip.) reduced the yeast-induced fever in ratsin 5%and 8%,respectively (cont:roI=38.8±0.040C,n=6, p<0.05-second hour).Theseresults suggestthepresence of active principles withanalgesic,antiinflammatoryandantipyreticactivityin P edulis.
Key-words:Passiflora edulis,analgesic,antiinflammatory,antipyretic.
1 INTRODUÇÃO
o
maracujá é fruto de numerosas espécies da farru1ia Passifloraceae, ori -ginária das regiões tropicais e subtropicais do continente americano, sendo que a maioria das espécies é encontrada no Brasil. A espécie mais comum no nosso país é a Passifloraedulis, conhecida como maracujá-ama-relo, maracujá-redondo, maracujá-mi-rim, etc. Esta espécie é bastante cultivada pelos frutos saborosos e be-leza de suas flores ornamentais (CA-VALCANTE, 1976, p.1I3).
Várias espécies do gênero Passiflora são usadas com fins terapêuticos sob a forma de infuso de folhas. São recomendadas para ansie-dade, insônia,epilepsias, febre,cefaléia, nevralgia, tosse, asma, bronquite, pal-pitação, taquicardia, diarréia, desinteria e dorabdominal. Loções e cataplasmas são indicados para infecções e infla-mações cutâneas (CORRÊA, 1984, p.l08; CRUZ, 1995, p.447).
Com relação àespécie Passiflora eduLis, foram constatadas atividades farmacológicas referentes ao sistema nervoso: sedativa, hipnótica, analgési-ca, antipirética e parassimpaticolítica (VALE e LEITE, 1983, p.11; MALUF et al., 1991, p.262; SILVAeFRElRE, 2000, p.21).
Em outras espécies, como P.
alata, P.coerulea e P.incarnata, tam-bém foram descritas atividades relati-vas ao sistema nervoso, tais como, ansiolítica, sedativa, hipnótica e anticonvulsivante, além da analgésica e antiinflamatória (AOYAGI et al., 1974,p.l008; OGA etal., 1984,p.303; SPERONI e MINGHETTI, 1988, p.488; MEDINA et aI., 1990, p.2227; WOLFMAN et aI., 1994, p.l; BORRELI et al., 1996, p.sl04; SPERONI et aI., 1996, p.s92; SOULIMANI et al., 1997, p.lI).
Estudos químicos revelaram a pre-sença de alcalóides, flavonóides, álco-ois e glicosídeos cianogênicos nas
espécies citadas (TESKE e TRENTINI, 1995, p.207).
O objetivo deste trabalho foi ca-racterizar os efeitos farmacológicos do extrato etanólico de folhas de
Passiflora edulis em ratos e
camun-dongos, referentes às atividades antiinflamatória, analgésica e antipirética.
2 MATERIAL EMÉTODOS
2.1 Material botânico e coleta
A coleta de folhas íntegras de P edulis foi realizada no mês de setem-bro de 1997,numa plantação da comu
-nidade do bairro de São Cristóvão, em São Luís, MA.O material foi posto para secar na temperatura ambiente. Uma exsicata encontra-se registrada no Herbário "Ático Seabra" da UFMA, sobo número 1155.
2.2 Obtenção do extrato etanólico
As folhas secas foram fragmen-tadas e misturadas ao etanol (l:4). O solvente foi trocado diariamente, duran
-te 72horas. Após a adição do solvente, a mistura foi agitada mecanicamente
por 2horas embanho-maria a 450 C,e conservada a 40 C. As 3 extrações
fo-ram filtradas e concentradas a vácuo (500 C).O extrato etanólico (EE) apre -sentou cor verde, odor característico da planta, pH 4,4,e rendimento de 13,2%.
2.3 Animais
Foram utilizados camundongos su -íços (Mus musculus), de 25-35 g,adul -tos de ambos os sexos, e ratos albinos
(Rattus novergicus), de 80-150 g,
jo-vens com aproximadamente 45 dias de
idade, de ambos ossexos, oriundos do Biotério Central da UFMA.
2.4 Drogas, reagentes, sais e
solventes
Acetona, etanol e Tween 80 (Merck); ácido acético, bicarbonato de sódio, cloreto de sódio e éter sulfúrico (Vetec); carragenina (Sigma);
dexametasona e indometacina
(Prodome); dipirona (Neovita); fentanil (Janssen); levedo de cerveja (Alqui -mia); e óleo de cróton (Veado D'Ouro).
2.5 Preparo e administração do extrato etanólico e de soluções
O resíduo do EE evaporado sob ar quente (550 C) foi solubilizado em cloreto desódio a0,95 %(salina) mais Tween 80(30:1).
Solução salina mais Tween 80 (30:1) foi o veículo usado nos experi -mentos (controle negativo). Grupos de animais tratados com drogas analgési -cas (fen tanil), antiinflamatórias (indometacina e dexametasona) ou
febrífugas (dipirona) foram considera
-dos como os controles positivos dos
experimentos. O fentanil, a
dexametasona e a dipirina foram diluí
-dos emsalina. Aindometacina foidil u-ída em bicarbonato de sódio a5%.
As vias farmacológicas usadas nos testes foram a oral (p.o.), a intraperitoneal (ip.), asubcutânea (s.c.) e a tópica. A administração de solu -ções p.o.foi feita em animais mantidos em jejum de pelo menos 6 horas. Os volumes não excederam 0,1 rnLllO mg de peso corporal.
2.6 Testes farmacológicos
2.6.1 Reatividade ao estímulo térmico
Camundongos pré-selecionados
quanto à reatividade ao estímulo
nociceptivo (» 3e< 7segundos) foram
divididos em 5 grupos e tratados com o
veículo (controle negativo) ou EE(0,5,
1e 2 g/Kg, ip.),oufentanil (0,2 mg/Kg,
s.c., controle positivo). O estímulo
nociceptivo consistiu na exposição da
cauda dos animais a um foco deluzde
70 Watts no analgesímetro (UGO
BASILE modelo DS-20). A reatividade
ao estímulo térmico (retirada rápida da
cauda ou tailflick) foi medida 60 e30
minutos antes, imediatamente após os
tratamentos (tempo zero), e aos 30, 60,
90 e 120 minutos (D' AMOUR e
SMITH, 1941,p.76).
2.6.2 Contorção abdominal induzida
por ácido acético
Os animais foram tratados com o
veículo (controle negativo) ouEE (0,5,
1 ou2g/Kg, ip.), ou indometacina (10
mg/Kg, p.o., controle positivo). Após
30 ou 60 minutos (controle positivo),
ácido acético diluído em salina (0,8%)
foi administrado intraperitonealmente
nos camundongos. As contorções ab
-dominais foram contadas durante 20
minutos (KOSTER etal., 1959, p.412;
VACHER et aI., 1964, p.51).
2.6.3 Edema deorelha induzido por
óleo de cróton
Oscamundongos foram divididos
em 5 grupos, tratados topicamente na
face interna das orelhas direitas (OD)
com veículo (controle negativo) ouEE
(20, 40 ou 80 mg), ou dexametasona
(0,08 mg,controle positivo), no volume de 10rnL. As orelhas esquerdas (OE) foram tratadas somente com salina. Decorridos 30 minutos, 10 rnL de óleo de cróton (2,5% em acetona) foram
aplicados nas OD, e o mesmo volume
de acetona nas OE dos animais. Os
animais foram sacrificados 4horas de
-pois por deslocamento cervical, e di
s-cos de 6 mm de diâmetro foram
removidos das orelhas e pesados em
balança analítica. A diferença de peso
entre asorelhas foiusada como indica -tivode edema (SWINGLE et al., 1981,
p.169).
2.6.4 Edema de pata induzido por carragenina
Este teste foi realizado em 4 gru
-posde ratos,tratados com veículo (con
-trolenegativo) ou EE (1 ou2 g/Kg, ip.),
ouindometacina (10 mg/Kg, p.o., con
-trolepositivo). Após 30ou 60 minutos
(controle positivo), 0,1 mL de
carragenina (1% em salina) foi injeta
-donaregião subplantar dapata direita
posterior, eo mesmo volume de solu
-ção salina foi administrado na pata
contralateral (WINTER et al., 1962,
p.544). A cada 60 minutos, durante 5
horas, oedema foiverificado peladife
-rença de volume entre as patas, medi
-da em pletismômetro (UGO BASILE modelo 7150).
2.6.5 Febre induzida por levedura de
cerveja
Após aidentificação datempera
-turaretal, ratos foram tratados com le
-vedo de cerveja (Saccharomyces cerevisae, 15% em salina, s.c.). Após
18horas, os animais com temperatura
acima de 38° C foram selecionados e distribuídos aleatoriamente em 4 gru -pos, sendo então tratados com veículo (controle negativo) ou EE (l ou 2 g/ Kg,ip.), ou dipirona (100 mglKg, p.o., controle positivo). Após 30 ou 60 mi-nutos (controle positivo), a temperatu -rafoi medida a cada 1 hora, durante 5 horas (WINDER et aI., 1961,p.1I7).
2.7 Análise estatística
Os resultados foram expressos
como média ±desvio padrão dasméd
i-as. As médias dos grupos foram co m-paradas pelo teste t de Student, com p
<0,05.
3 RESULTADOS 3.1 Reatividade ao calor
O tempo de reação ao calor dos camundongos do grupo controle nega-tivo permaneceu estável durante astrês horas de observação, com resultados similares àqueles determinados notem -po zero (5,3 ± 0,7 segundos, n=8,
p<0,05). O tratamento dosanimais com
amenor dose do EE (0,5glKg, ip.)não
alterou a resposta ao estímulo nociceptivo até duas horas após a.
gavagem. Mas aos 30 e 60 minutos, a reatividade ao estímulo térmico foi au -mentada de forma significante em 80%
e 60% (l g/Kg, ip.), e220% e180% (2
g/Kg, ip.), respectivamente, quando
comparada aos controles negativos (5,2
± 0,8 e 5,4 ± 0,7 segundos; n=8; p<0,05). A aplicação de fentanil (0,2 mglKg, s.c.), um opióide, aumentou a reatividade em 280% e 220%, respec -tivamente. Ver Figura 1.
3.2 Contorção abdominal
O número de contorções abdomi
-nais induzidas por ácido acético em
camundongos foi reduzido
significantemente pela administração
do extrato etanólico de P edulis, nas
doses de 0,5, 1 e2 g/Kg (via ip.), em
36%,59% e 77%, respectivamente, em
relação ao controle negativo (38,9±7,8 contorções, n=8, p<0,05). O tratamen
-25 * ~ 20 * "O " :::> 0Jl 15 ! '" "O '" 10 "O .:;: '.0 '" 5 '" cr: o 30
Tempo deobservação (minutos)
60 * DEE2gIKg OFenlanil 0,2mg/Kg • Veículo êI EE 0,5g/Kg DEE Ig/Kg
Fig. 1: Efeitos dotratamento com extrato etanólico de folhas deP. edulis (ip.)na
reatividade aocalor em camundongos (n=6-8).
*
= p<O,05to comindometacina (l
°
mg/Kg)dimi-nuiu o número de contorções em 69%.
VerFigura 2.
3.3 Edema de orelha
o
edema de orelha de camundon-gos,induzido pela ação irritativa do óleo de cróton, foi diminuido de forma ex
-pressiva pela aplicação tópica do EE nas doses de 20,40 e 80 mg/orelha, em relação ao controle negativo (9,1±0,5 mg,n=lO, p<0,05). A redução do edema foi de 15%, 35% e 54%, respectiva
-mente. A administração local de
dexametasona (0,08 mg/orelha) dimi
-nuiu o edema em 56%. Ver Figura 3.
3.4 Edema de pata
Os valores do edema de pata em
ratos, induzido por injeção subplantar de carragenina a 1%,foram diminuidos
significantemente pelos tratamentos
com o EE (1e 2 g/Kg, ip.), nas cinco medidas tomadas, quando comparados
aos controles negativos respectivos. A
administração de indometacina (10mgl Kg) reduziu o edema nas cinco horas de observação. Ver Tabela 1.
3.5 Febre
A febre de ratos provocada por aplicação subcutânea de levedo de
cer-veja a 15%, foi reduzida de forma sig
-nificante pelos tratamentos com o EE de P edulis, nas doses de 1 e 2 g/Kg (ip.), nas cinco medidas tomadas, quan -do comparada aos controles negativos respectivos. A administração de dipirona (100 mg/Kg) reduziu a febre
nas cinco horas de observação. Ver
Tabela 2. '" oVeículo DEEO,5g/Kg []EE I g/Kg li!llEE2g/Kg • Indorretacina !Omg/Kg Número de contorções o 10 20 30 40 50 '" '" *
Fig. 2: Efeitosdo tratamento com o extrato etanólico de folhasde P.edulis (ip.)na
contorção abdominal em camundongos (n=7-8).
*
=p<O,OS oVeículo DFE20mg I!!!lEE40mg J:i!lFE80mg • Dexametasona 0,08mg Edema (rng) 6 4 2o
10 8 '"Fig.3:Efeitos do tratamento tópico como extrato etanólico defolhas de P.edulis no edema de orelha em camundongos (n=8-1O). *=p<O,05
Tabela 1 -Efeitos da administração do extrato etanólico de folhas deP. edulis (íp.) no edema depata induzido por carragenina a1 %em ratos (n=5-6).
MEDIDAS
TRATAMENTOS Ia. 2a. 3a. 4a. Sa.
1. Veículo 0,32 ±0,05 0,59 ±0,08 0,80 ±0,03 0,66 ±0,04 0,56 ±0,04
2.EE 1 g/Kg * 0,25 ±0,03 0,48 ±0,03 0,61 ±0,06 0,52 ±0,03 0,40 ±0,04
3.EE2g/Kg* 0,22 ±0,06 0,43 ±0,03 0,48 ±0,03 0,45 ±0,04 0,32 ±0,05
4. Indometacina 10 mg/Kg * 0,20 ±0,03 0,32 ±0,04 0,41 ±0,04 0,34 ±0,05 0,26 ±0,03
*
=P<0,05Tabela 2-Efeitos da administração do extrato etanólico de folhas deP. edulis (ip.)na hipertermia induzida por levedo decerveja a15%em ratos (n=5-6).
MEDIDAS TRATAMENTOS Ia. 2a. 3a. 4a. Sa. 1.Veículo 38,5 ±0,05 38,8 ±0,04 38,4 ±0,03 38,6 ±0,02 38,6 ±0,04 2.EE 1 g/Kg * 37,3 ±0,06 36,9 ±0,05 36,9 ±0,06 37,0 ±0,04 37,4 ±0,08 3.EE2g/Kg * 36,2 ±0,06 35,8 ±0,03 35,9 ±0,05 36,5 ±0,09 36,9 ±0,05 4.Dipirona 100 mg/Kg * 37,2 ±0,01 37,0 ±0,02 37,2 ±0,04 37,1 ±0,04 37,3 ±0,09
*
=p < 0,054 DISCUSSÃO
o
aumento significativo dalatência na resposta dos camundongos ao estímulo nociceptivo, aos 30 e 60 minutos de observação, sugere a pre -sença de compostos no extrato etanólico em P eduZis com atividade analgésica.
O aumento do tempo de resposta dos
animais ao calor foi dependente da
dose, e o tratamento com a maior dose
(2 g/Kg, ip.) produziu efeito similar ao controle positivo, o fentanil,um opióide sintético. A presença decompostos si-milares foisugerida também por Vale e Leite (1983, p.14),queavaliaram inclu
-sive a analgesia induzida por morfina
em testes de taiZflick.
de partes aéreas de P incarnata
pro-moveu analgesia em testes de
reatividade ao calor Speroni e Minghetti
(1988, p.490), oque não foi
confirma-do por Sopranzi et al. (1990, p.330).
Outra espécie, P alata, não
demons-trou analgesia (OGA et al., 1984,
p.305).
Ao mesmo tempo, esta planta
apresenta atividade sedativa
compro-vada Vale e Leite (1983, p.13); Maluf et al.(1991,p.263); Silva e Freire (2000,
p.23), e algumasdrogas sedativas,como
o diazepam, podem mimetizar a
analgesia, com resultados falsos-posi
-tivos (SALGUEIRO etal.,1997, p.890).
A redução do número decontor
-ções abdominais em camundongos,
após tratamento com o extrato etanólico
deP edulis, assim como a diminuição
do edema de orelha em camundongos
e aredução do edema de pata em ra
-tos, sugerem apresença de compostos
químicos relacionados com a atividade
analgésica e antiinflamatória,
caracte-rística de antiinflamatórios não
esteroidais (AINES), que diminuem a
dor por inibição da biossíntese de
eicosanóides, mediadores deprocessos
inflamatórios (BOTTING eBOTTING,
2000, p.l).
A diminuição da dor e da infla
-mação foi dependente das doses. A
ad-ministração da maior dose do extrato
(2g/Kg, ip.), noteste de contorção
ab-dominal, produziu nos animais efeitos
semelhantes aos da indometacina, um
AINES considerado como o mais
po-tente inibidor da biossíntese de
eicosanóides (BOTIING eBOTTING,
2000, p.l). Já o tratamento local das
orelhas dos camundongos com 80 mg
do extrato etanólico diminuiu o edema
em 54%, semelhante à dexametasona
(56%), um corticosteróide que também
interfere em várias etapas na síntese
de eicosanóides, inibindo o processo
inflamatório (SALMON et al., 1983,
p.809).
A atividade antiinflamatória foi
descrita em uma única espécie do gê
-nero, P incarnata (BORRELLI et al.,
1996,p.s105).
Complementando as ações
cons-tatadas, o efeito antipirético, dependente
dadose, infere mais uma vez a
presen-çadeprincípios ativos com
proprieda-des farmacológicas semelhantes aos
AINES, já que a maior parte destas
drogas possui atividade antipirética. O
tratamento com adose! g/Kg,ip.,
pro-duziu efeitos similares aosdo controle
positivo, enquanto que a maior dose(2g!
Kg,ip.), apresentou ação febrífuga 67%
maior que a dipirona. Estes dados
con-firmam os resultados encontrados por
Vale e Leite (1983, p.15).
Estes estudos devem ser
acresci-dos do fracionamento do extrato
etanólico, purificação e isolamento dos
compostos relacionados às atividades
farmacológicas demonstradas.
5 CONCLUSÃO
Os resultados obtidos permitem
sugerir que o extrato etanólico de
fo-lhas de P edulis apresenta atividade
analgésica, antiinflamatória e
antipirética. Estes resultados
corrobo-ramalgumas propriedades terapêuticas
propaladas pela população para este
gênero.
AGRADECIMENTOS
Agradecemos à UFMA e CAPES, pelo
apoio financeiro, e ao Prof. Francisco
N óbrega, do curso de Agronomia da UEMA, pela indicação daárea decoleta
de P edulis.
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