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Avaliação da exploração dos moluscos de concha nas praias do norte da província de Nampula, Moçambique.

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2 ______________________________________________________________________________________ MUALEQUE RIP No.35 pp 2-20, 2014

INSTITUTO NACIONAL DE INVESTIGAÇÃO PESQUEIRA

REVISTA MOÇAMBICANA DE INVESTIGAÇÃO

PESQUEIRA

RIP No.35 pp 2-20, 2014

Avaliação da exploração dos moluscos de concha nas praias do norte da

província de Nampula, Moçambique

Por

Daniel Oliveira Mualeque

Instituto Nacional de Investigação Pesqueira, Delegação de Nampula. Rua dos Batuqueiros, no 235 – Angoche- Moçambique,Telefax (+258) 26720134. E-mail: dnllvr7@gmail.com

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Índice Resumo ... 4 Abstract... 4 1.Introdução ... 5 2. Materiais e métodos ... 6 2.1. Área de estudo ... 6 2.2. Fonte de dados ... 7

2.3. Processamento das amostras no laboratório ... 7

2.4. Análise de dados ... 8

3. Resultados e discussão ... 9

3.1. Descrição da actividade de exploração de moluscos ... 9

3.2. Densidade e biomassa dos moluscos ... 9

3.3. Biomassa disponível, captura por colector e por dia ... 11

3.4. Descrição da estrutura da população dos moluscos ... 13

3.6. Avaliação da contribuição da actividade na renda familiar dos pescadores... 14

3.7. Outros invertebrados ... 16 4. Conclusões e recomendações... 17 4.1. Conclusões ... 17 4.2. Recomendações ... 18 5. Agradecimentos ... 18 6. Limitações ... 18 8. Referências bibliográficas ... 19

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Resumo

Neste trabalho foi estudada a exploração dos moluscos de concha nas praias do norte da província de Nampula, Moçambique, seu impacto sócio-economico e a biologia (densidade, biomassa e estrutura da população). Foram usados dados de exportação deste recurso; dados de amostragem biológica feita nas empresas que compram e exportam este recurso, inqueridos aos recolectores e amostradas as principais praias dos distritos de Ilha de Moçambique, Mossuril, Nacala-Porto e Memba. Os resultados indicam uma biomassa disponível de 1.248,6 t e uma exportação para o mercado asiático no período entre 2008 e 2012 cerca de 1.253,65 t, quantidade que poderá ter rendido 26.687,12 Mt e 8.339,73Mt aos comerciantes locais e recolectores, respectivamente. A espécie Cypraea annulus foi a mais importante nas amostras e a sua densidade e biomassa, cresceu do sul ao norte entre 1,5 a 8,9 ind./m2 e 2,7 a 158,9 g/m2, respectivamente. A moda do comprimento total dos indivíduos variou entre 1,5 e 2 cm, coincidindo com os tamanhos máximos descritos pela literatura para esta espécie. Contudo, devido a biomassa disponível que foi instantânea para aquela semana de estudo e por inexistência de dados históricos é difícil tirar ilações sobre o estado de exploração do recurso. Todavia, esta informação pode ser usada para o ordenamento da pescaria de moluscos de concha a norte de Nampula.

Palavras-chave: Exploração, Moluscos, Nampula, Moçambique.

Abstract

This work presents information on the exploitation, socio-economic impact of the activity and biology (density, biomass and population structure) of shellfishes collected in beaches of northern Nampula province, Mozambique. Data were obtained by biological sampling at shellfish collection sites, trading companies and by interviews to households in the districts of Ilha de Moçambique, Mossuril, Nacala-Porto, Nacala-à-velha and Memba. Export data were used analysed. The results indicate a biomass of 1,248.6 t of shellfish. Exported volume was estimated at 1,253.65 t primarily to the Asian market for the period 2008 – 2012. The revenue generated was estimated at 26,687.12 Mt for formal traders and 8,339,73Mt for local gatherers. Cypraea annulus was the most important species in the samples and its density and biomass, increase northward being 1,5 to 8,9 ind. /m2 and 2.7 to 158.9 g/m2, respectively. The modal lengths of shells were 1.5 and 2 cm, coinciding with the maximum sizes described in the literature for this species. Due to the fact that the biomass estimate is instantaneous and represents the situation during the week of study and in the absence of historical data it was difficult to draw conclusions about the state of exploitation of the resource. However, the results of this paper is sufficient for an informed development of the shellfish fishery in northern Nampula.

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1.Introdução

Apesar da ampla variação morfológica existente entre os moluscos, trata-se de um dos filos de mais clara definição (Hyman, 1967), por apresentar pelo menos duas características exclusivas: (i) o manto, uma membrana delgada que reveste o epitélio dorsal e secreta a concha; e (ii) a rádula, um órgão raspador utilizado normalmente para obtenção de alimentos.

Tradicionalmente os moluscos podem ser divididos em oito grupos, sendo as classes Gastropoda (caracóis e lesmas), Cephalopoda (polvos e lulas) e Bivalvia (ostras, mexilhões e mariscos) os mais representativos em abundância e número de espécies, e que apresentam maior importância econômica e para a saúde humana (Thiengo et al., (sd)). Os moluscos são muito explorados, principalmente nos países em que se impõe cada vez mais a procura de novas fontes de alimentação. Algumas espécies têm importância restrita em pequenas comunidades do litoral e interior, umas apresentam possibilidades de futura comercialização, enquanto outras ainda são encontradas nos mercados de grandes cidades (Boffi, 1979). O interesse pelos moluscos não só está relacionado à alimentação, mas à importância econômica ligada às pequenas indústrias de enfeites muito comuns nas cidades turísticas do litoral. Nessas indústrias, utilizam-se numerosas espécies de moluscos, escolhidas pela beleza de cor e forma (Lunetta, 1969; Boffi, 1979). De acordo com Aveiro et al., (2011), o uso dos bivalves como recurso alimentar pela população humana data desde o período Neolítico. E actividade acompanha a própria ocupação humana do litoral (Farias, 2000). Ecologicamente, os moluscos possuem importantes papeis. Muitas vezes participam da construção de ambientes recifais através da sedimentação em substrato moles de suas conchas mortas, inteiras ou quebradas, assim como de suas pelotas fecais aglutinadas por muco (Vilaça, 2002).

Dentre os gastrópodes, os prosobrânquios não apresentam produtos naturais interessantes, devido a proteção física da concha, com exceção dos animais pertencentes ao gênero Conus, predadores de peixes e outros organismos, de onde foram isolados peptídeos de 10 a 30 aminoácidos de acção neurotóxica (Teixeira, 2002). No entanto, alguns gastrópodes prosobrânquios são excelentes indicadores de poluição química, como por exemplo: Thais haemastoma que serve de indicadora da presença de contaminação por organoestânicos (Castro et al., 2000) enquanto as ostras e os mexilhões são usados para o monitoramento de hidrocarbonetos, de metais pesados e de compostos organoclorados (Marques et al., 2002).

As empresas MCM Import & Export e PNM, Lda, ambas sediadas na Cidade portuária de Nacala e a Chong Long, Lda., sediada na Ilha de Moçambique, têm vindo desde o ano de 2009 a solicitar ao Ministério das Pescas de Moçambique a autorização da licença de compra e exportação de conchas de moluscos para o mercado asiático. As autorizações do Ministério têm sido condicionadas a compra destes produtos dos pescadores artesanais licenciados, com a exclusão das conchas pertencentes às famílias Cassidae e Tridacnidae e um acompanhamento desta exploração pelas instituições do sector representadas na província, de entre elas, o Instituto Nacional de Investigação Pesqueira (IIP).

Fontes orais referem que nesta região, a colecta de moluscos é feita por mulheres e crianças. E, desde a implantação destas empresas, o número de recolectores tem vindo a aumentar, pois, para além de representar fonte de alimentação pode constituir-se também na principal fonte de renda familiar ou de complementação de renda oriunda de outras actividades, como a pesca exercida pelos maridos. Entretanto, esta actividade, por exigir pouco investimento de capital e compromisso de trabalho, funciona como surgimento de oportunidades.

Apesar da aparente exploração crescente deste recurso, não existem na região, estudos que subsidiem a sua regulamentação para uma exploração sustentável, o que pode, no futuro comprometer os estoques destes recursos. Neste contexto, o presente estudo pretende produzir informação sobre a distribuição espacial e exploração destes moluscos ao longo da costa destes distritos, convista a produzir subsídios técnicos para uma exploração sustentável. A pouca informação e aparente exploração crescente dos moluscos nesta região, conduziu a definição do objectivo geral de avaliar a exploração dos moluscos nas praias do norte da província de Nampula. Mais especificamente este trabalho pretende descrever a actividade de exploração dos bivalves na região; estimar a densidade populacional dos bivalves na região de estudo; estimar a biomassa dos moluscos na região de estudo; descrever a estrutura da

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população dos bivalves; avaliar a contribuição da actividade de colecta de moluscos ou bivalves na renda familiar dos pescadores.

2. Materiais e métodos 2.1. Área de estudo

Este estudo decorreu nos distritos de Ilha de Moçambique, Mossuril, Nacala-à-velha e Memba que ficam situados na região costeira a norte da província de Nampula. Trata-se de uma região onde a pesca artesanal é uma das principais actividades. De acordo com a descrição dos fundos da costa de Moçambique (Fischer et al., 1990), esta região está situada na primeira zona (Figura 1). Esta zona possuí orla marítima muito recortada e constituída por uma sucessão de pequenas praias de areia, bancos de coral, rocha e mangal. A plataforma continental é muito estreita, ponteada de coral, apenas com algumas milhas de largura na sua zona mais larga. A foz dos rios é rodeada de rochas e devido a esta característica particular, esta região é pouco arrastável (Fischer et al, 1990).

O clima é do tipo tropical húmido-seco, com duas estações, seca e chuvosa. A estação seca é a mais longa e começa desde Abril prolongando-se até ao mês de Outubro. A estação chuvosa começa em Novembro e termina em Março. A temperatura média anual é de 25ºC e precipitação média anual varia entre 800 à 1.000 mm (MAE, 2005a; MAE, 2005b; MAE, 2005c).

Figura 1: Área de estudo: os pontos azulados indicam as estações de amostragem (Fonte: cortesia de Celso

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2.2. Fonte de dados

De acordo com a sua natureza e origem foram usadas, neste trabalho, três fontes de dados: dados históricos de exportação e amostragem nas empresas; amostragem no terreno; e inquérito aos recolectores.

2.2.1. Dados históricos de exportação e amostragem nas empresas

Foram solicitados dados de exportação destes moluscos à Delegação Provincial do Instituto Nacional de Inspecção de Pescado para o período de 2009 à 2013.

Uma amostragem biológica foi feita nas instalações das empresas exportadoras, MCM Import & Export, PNM, Lda., e Chang Long, Lda., em 2013. Os dados registados foram de peso dos indivíduos, preços e locais de compra. Igualmente, foi feita a composição por tamanho das principais espécies. Os dados foram preenchidos nas fichas desenhadas para o efeito. Estes dados foram usados para estimar a biomassa dos bivalves exportados no período em análise e a contribuição desta quantidade na renda dos pescadores, bem como estimar o tamanho médio das principais espécies. Foram considerados também, os dados de amostragem feita nestas empresas no ano de 2009 pelos técnicos do IIP.

2.2.2 Amostragem no terreno

O método de quadrícula (Araújo e Rocha-Barreira, 2003) foi usado para a amostragem adicional no terreno no mês de Julho, um dos meses onde a actividade é intensa nos distritos de Ilha de Moçambique, Mossuril, Nacala-à-velha e Memba. Foram escolhidos no total seis locais (Sanculo, Areal, Cabaceira pequena, Cabaceira grande, Racine e Serissa) (Figura 1) e em cada local foram demarcadas três subáreas definidas:banco1, parte mais baixa, onde mesmo na maré baixa há acúmulo de água; banco2 a seguir a B1, mais seca e exposta durante as marés baixas e Banco3, banco de areia semelhante a B2, porém mais próximo aos acampamentos dos pescadores, para praias que têm acampamento. No total foram colhidas 90 amostras de sedimento, sendo 15 para cada local.

Em cada subárea, foram retiradas aleatoriamente cinco amostras de sedimento utilizando-se um quadrado de madeira medindo 50 cm x 50 cm e escavando-se até uma profundidade de 5 cm. O sedimento foi peneirado em uma malha de nylon com 1 mm de abertura entre nós, e o material biológico retido foi colocado em sacos plásticos etiquetados e depois levados ao laboratório para a amostragem biológica. Os dados foram preenchidos num formulário concebido para o efeito.

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2.2.3. Inquérito

Foi feita uma entrevista semi-estruturadas envolvendo treze (13) recolectores em cada distritos e às empresas. O inquérito continha dados de preços de venda nos centros de pesca e todas outras questões que possam ajudar a perceber todo o processo da exploração destes bivalves desde a recolha até a comercialização.

2.3. Processamento das amostras no laboratório

Em laboratório, os exemplares dos moluscos foram separados nas amostras. Os demais organismos, pertencentes a outros grupos taxonômicos, que não eram objecto do presente projecto foram separados e não foram considerados no estudo. Uma identificação de todos os moluscos foi feita até ao nível taxonómico possivel usando guia de identificação descrita por Fischer et al., (1990). Para espécies não descritas neste guia, foi necessário o recurso de bibliografias electrônicas, com destaque para Chadwick (2014).

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2.4. Análise de dados

2.4.1. Descrição da actividade de exploração dos bivalves

A descrição do processo foi feita desde a recolha dos moluscos, processamento até a venda às empresas com base na análise do inquérito. Foi feita uma comparação entre os preços de venda fornecidos pelos recolectores e os de compra pelas empresas para as mesmas espécies para se avaliar a veracidade dos preços. Nos casos em que existiam discrepância, valiam os preços fornecidos pelos recolectores.

2.4.2. Estimação da densidade dos bivalves

A densidade populacional dos moluscos foi definida considerando a média de indivíduos colectados nas cinco amostras retiradas de cada uma das sub-áreas, B1, B2 e B3, sendo expressa em número de indivíduos/m2.

2.4.3. Estimação da biomassa dos moluscos por quadrícula

Assumiu-se a biomassa como a massa total de organismos vivos numa dada área, pois, as conchas mortas não foram consideradas durante o estudo, uma vez que não se conhecem as causas da morte. Devido as dificuldades de extração do manto, para o presente trabalho foi considerada a biomassa como sendo o peso total do indivíduo incluindo a concha. Aestimativa foi feita considerando o peso médio de indivíduos colectados nas cinco amostras retiradas de cada uma das sub-áreas, B1, B2 e B3, sendo expressa em g/m2, registado no período de amostragem.

B = Pt/Aq...(1)

Onde:

B - Biomassa média de indivíduos por quadrícula Pt – Peso fresco médio dos indivíduos por quadrícula Aq - Área da quadrícula (1 m²).

2.4.3.1. Estimação da biomassa disponível, captura por colector e por dia

A biomassa disponível, isto é, tamanho do recurso, foi estimado a partir da sugestão de Pereira e Bata (2006), na qual a biomassa disponível é o produto da densidade do recurso por m2 e a área total do substrato. Enquanto, a captura disponível por colector é o quociente entre o tamanho do recurso no período de estudo e o número de colectores activos no messmo período e a captura disponível por colector por dia, de acordo com esta autora, assume-se como o quociente entre a captura disponível por colector e o número de dias do período considerado. A área do local foi estimado grosseiramente multiplicando o comprimento (m) e a largura (m). Estes dados foram obtidos a partir do Google Earth. A biomassa disponível foi estimada apenas para a espécie C. annulus,pelas razões descritas anteriormente e de forma a evitar maior imprecisão não foi estimada a área do substrato, tendo se limitado na área do local.

2.4.4. Descrição da estrutura da população dos moluscos

Foram identificadas espécies indicadoras, aquelas que ocorreram mais nas amostras de campo, nas salas de processamento e nos dados de exportação. Estas espécies foram organizadas em classes de comprimento de 0,5 cm de amplitude para cada subárea definida. Usando o pacote estatístico, Statistica 10, foram calculadas estatísticas descritivas e construídos histogramas para descrever a estrutura da população dos moluscos por subárea ou distrito. Estes resultados foram comparados com os resultados da análise dos tamanhos das amostras obtidas nas empresas. Esta análise tem em vista saber em quais das subáreas ocorrem bivalves juvenis ou adultos e com base nisto orientar futuras explorações.

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2.4.5. Avaliação da contribuição da actividade na renda familiar dos pescadores

Os valores de preços (Mt) recolhidos durante o inquérito para cada espécie foram multiplicados às respectivas quantidades exportadas e ou armazenadas. A contribuição geral dos bivalves foi obtida somando os custos das diferentes espécies exportadas e ou armazenadas. Como se referiu anteriormente, nos casos em que havia diferenças dos valores fornecidos pelas empresas e recolectores, eram assumidos os valores fornecidos pelos recolectores. Esta análise foi feita por distrito e permitiu estimar a contribuição desta actividade na renda dos recolectores.

3. Resultados e discussão

3.1. Descrição da actividade de exploração de moluscos

A recolha de invertebrados (moluscos) nas praias da região norte de Nampula é feita durante as marés vazantes dos meses quentes com recurso à mão, enxadas ou outro material que ajude a sua extração. Esta actividade é praticada principalmente por mulheres e crianças de ambos os sexos, de idade que varia entre os cinco a 16 anos. Os invertebrados são postos nos baldes ou panelas.

Os moluscos depois de apanhados são colocados em sacos e armazenados num período que varia entre quatro e sete dias dependendo da intensidade do sol. Este processo tem em vista provocar a putrefação do manto. Depois da putrefação do manto, este desfaz-se da concha. As conchas separadas da massa visceral são lavadas e postas a secar ao sol. O tempo necessário para a secagem também depende da intensidade do sol.

As conchas já secas são armazenadas em sacos a espera de comerciantes que compram e revendem às empresas. De acordo com os recolectores inqueridos, nalgumas vezes os comerciantes compram quando vivas e procedem o processamento nas suas casas.

3.2. Densidade e biomassa dos moluscos

A densidade média das diferentes espécies dos moluscos amostrados (ind./m2) está apresentada por distrito e subárea nas tabelas 1 e 3, respectivamente. A espécie Cypraea annulus (cowri), foi a mais importante nas amostras de todos os distritos. A densidade média foi estimada em 4 ind/m2 (variando entre 1,5 a 8,9 ind./m2). Esta é a principal espécie exportada pelas empresas. A sua densidade cresce do sul a norte da área estudada. Isto pressupõe que os distritos mais a sul foram alvos de uma exploração intensa no passado por estarem próximos às empresas de compra e exportação deste recurso, tendo, então, reduzido a sua densidade. Este pressuposto foi fundamentado por vários comerciantes inqueridos em Serissa, distrito de Memba. Estes comerciantes referiram-se terem comprado ―cowri‖ nos anos anteriores, nos distritos da Ilha de Moçambique, Mossuril e Nacala-à-velha e que nos dois últimos anos as quantidades baixaram consideravelmente de modos que para obter saco de 50 kg tem sido difícil, o que lhes obriga a fazerem viagens longas de Nacala-Porto à Serissa, onde em um dia consegue um saco de 50 kg. Outras espécies, como a Terebra maculata, tiveram uma ocorrência esporádica e apenas no distrito da Ilha de Moçambique.

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Tabela 1: Densidade média (ind/m2) das espécies de moluscos amostradas no mês de Julho de 2013 nos distritos da Ilha de Moçambique, Mossuril, Nacala-à-velha e Memba (d.p.=desvio padrão)

Espécie Ilha de

Moçambique Mossuril

Nacala-à-velha Memba Média ± d.p.

Conus betulinus 0,0 0,1 0,0 0,0 0,0 ± 0,1 Conus generalis 0,1 0,1 0,0 0,0 0,1 ± 0,1 Conus litteratus 0,1 0,0 0,0 0,0 0,0 ± 0,1 Cypreae erosa 1,0 0,0 0,0 0,0 0,2 ± 0,4 Cypraea annulus 1,5 1,8 6,6 8,9 4,7 ± 3,1 Donas faba 0,9 0,0 0,0 0,0 0,2 ± 0,4 Mactra crenata 0,3 0,0 0,0 0,0 0,1 ± 0,1 Mactra lilacea 0,2 0,0 0,0 0,0 0,0 ± 0,1 Matrix matrix 0,2 0,0 0,0 0,0 0,0 ± 0,1 Chicoreus ramossus 0,0 0,0 0,0 0,1 0,0 ± 0,1 Modiolus philipinarum 0,5 0,0 0,0 0,0 0,1 ± 0,2 Polinices tumidus 0,5 0,0 0,0 0,0 0,0 ± 0,2 Terebralia palustris 0,0 0,0 0,0 0,1 0,0 ± 0,1 Cymatium pileare 0,0 0,1 0,0 0,0 0,0 ± 0,1 Solen cylindracens 0,1 0,0 0,0 0,0 0,0 ± 0,1 Lambis chiraga 0,0 0,0 0,0 0,1 0,0 ± 0,1 Strombus giberelus 0,8 0,0 0,0 0,0 0,2 ± 0,3 Terebra maculata 3,5 0,0 0,0 0,0 0,9 ± 1,5 Tonna canaliculata 0,1 0,0 0,0 0,0 0,0 ± 0,1 Meretrix meretrix 0,1 0,0 0,0 0,0 0,0 ± 0,1 Paphia gallus 0,5 0,0 0,0 0,0 0,1 ± 0,2

A biomassa média (g/m2) de Cypraea annulus e outras espécies amostradas durante o estudo está apresentada por distrito na tabela 2 e por subárea na tabela 3. A biomassa média foi estimada para todos os distritos em 45,6 g/m2 (tendo variado entre 2,7 a 158,9 g/m2). Esta biomassa, conforme se referiram Silva e Costa (2010), pode estar subestimada pela estimativa inicial da densidade, pois, a densidade da espécie teve muita variação e a sua distribuição ocorreu de forma agregada na subárea 1 (Tabela 3).

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Tabela 2: Biomassa média (g/m2) das espécies de moluscos amostradas no mês de Julho de 2013 nos distritos da Ilha de Moçambique, Mossuril, Nacala-à-velha e Memba.

Espécie Ilha de

Moçambique Mossuril

Nacala-à-velha Memba Med ± D.P.

Conus betulinus 0,0 0,1 0,0 0,0 0,0 ± 0,0 Conus generalis 1,2 0,6 0,0 0,0 0,5 ± 0,5 Conus litteratus 1,0 0,0 0,0 0,0 0,3± 0,4 Cypraea annulus 2,7 3,9 16,8 158,9 45,6 ± 66,7 Cypraea erosa 4,7 0,0 0,0 0,0 1,2 ± 2,0 Donas faba 1,2 0,0 0,0 0,0 0,3 ± 0,5 Mactra crenata 0,1 0,0 0,0 0,0 0,0 ± 0,0 Mactra lilacea 0,8 0,0 0,0 0,0 0,2 ± 0,3 Matrix matrix 0,3 0,0 0,0 0,0 0,1 ± 0,1 Chicoreus ramossus 0,0 0,0 0,0 9,0 2,3 ± 3,9 Modiolus philipinarum 1,8 0,0 0,0 0,0 0,5 ± 0,8 Polinices tumidus 0,5 0,0 0,0 0,0 0,1± 0,2 Terebralia palustris 0,8 0,0 0,0 0,6 0,3± 0,3 Cymatium pileare 0,0 0,1 0,0 0,0 0,0 ± 0,0 Solen cylindracens 1,0 0,0 0,0 0,0 0,3 ± 0,4 Lambis chiraga 0,0 0,0 0,0 8,0 2,0 ± 3,5 Strombus giberelus 2,4 0,0 0,0 0,0 0,6 ± 1,0 Terebra maculata 31,3 0,0 0,0 0,0 7,8 ± 13,5 Tonna canaliculata 0,4 0,0 0,0 0,0 0,1 ± 0,2 Meretrix meretrix 0,2 0,0 0,0 0,0 0,1 ± 0,1 Paphia gallus 0,4 0,0 0,0 0,0 0,1± 0,2

Considerando as subáreas amostradas, foi observada uma diferença significativa na densidade e consequentemente na biomassa de Cypraea annulus e outras espécies amostradas durante a pesquisa. A maior ocorrência de densidade e biomassa média foi registada nas subáreas 1 que foi de 9 ind./m2 e 62,9 g/m2, respectivamente (Tabela 3). De acordo com Rhoads e Boyer (1984), a natureza do substrato pode ser considerada como um parâmetro ambiental para a fauna bentônica, fornecendo abrigo, alimento e proteção. Os organismos, em geral, apresentam, uma intrínseca relação com o substrato, podendo modificar suas características mas, em geral, é o substrato que determina a composição específica, riqueza, abundância e biomassa da fauna betónica. Neste estudo, os indivíduos apresentaram uma distribuição bem definida, tendo havido uma concentração de indivíduos na subárea 1, a área mais húmida, mesmo na maré baixa. Este padrão de distribuição foi evidenciado em todos os distritos.

3.3. Biomassa disponível, captura por colector e por dia

Foi estimado o tamanho do recurso e a captura teoricamente disponível por colector e dia, e os resultados estão apresentados na Tabela 4 que indica uma biomassa total para os seis locais em 1.248,6 t. Embora, o tamanho do recurso seja uma função da área, tende a confirmar os resultados da densidade que crescem do sul para o norte da área de estudo, sugerindo que os distritos de Nacala-à-velha e Memba serem os que apresentam maior biomassa disponível para a recolha. No entanto, a captura disponível por colector acaba sendo a mesma captura por colector por dia, uma vez que a amostragem teria sido maximizada para um dia em cada um dos locais, aspecto este que pode ter influenciado nas amostras obtidas. A biomassa média por local pelos mesmos motivos acaba sendo uma biomassa instatânea média. Contudo, dá uma indicação quanto a disponibilidade do recurso, uma vez que vários comerciantes inqueridos durante a amostragem referiram-se desta tendência do recurso ocorrer mais para os distritos do norte, conforme indica a Tabela 4. Foi estimada na Baía de Inhambane (Filipe e Fernando, in press), a biomassa disponível de moluscos na zona entre-marés em 166 t numa área de cerca de 182 ha, o que representa 0,8% da biomassa estimada no presente trabalho. Não havendo trabalhos anteriores para comparações e devido a

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dificuldadesde amostragem referidas anteriormente, é difícil tirar ilações quanto ao estado de exploração deste recurso na área estudo.

Tabela 3: Densidade (ind./m2) e biomassa (g/m2) média por subáreas (agregadas) das espécies dos moluscos amostrados nos quatro distritos durante o estudo.

Espécie

Densidade média (nr ind/m2) por sub-área e desvio padrão

Densidade média (nr ind/m2) por sub-área e desvio padrão

1 2 3 1 2 3 Conus betulinus 0,1± 2,0 0,0± 0,0 0,0± 0,0 0,1± 2,0 0,0± 0,0 0,0± 0,0 Conus generalis 0,4± 2,1 0,8± 1,8 0,0± 0,0 0,1± 2,0 0,1± 0,3 0,0± 0,0 Conus litteratus 0,0± 2,0 0,7± 1,5 0,0± 0,0 0,0± 2,0 0,1± 0,3 0,0± 0,0 Cypreae erosa 0,3± 2,0 2,0± 4,5 0,0± 0,0 0,2± 2,0 0,7± 1,5 0,1± 0,3 Cypraea annulus 62,5± 116,4 0,0± 0,0 0,0± 0,0 9,6± 9,4 1,4± 2,2 0,1± 0,3 Donas faba 0,0± 2,0 0,8± 1,8 0,0± 0,0 0,0± 2,0 0,9± 2,1 0,0± 0,0 Mactra crenata 0,0± 2,0 0,1± 0,2 0,0± 0,0 0,0± 2,0 0,3± 0,6 0,0± 0,0 Mactra lilacea 0,5± 2,1 0,0± 0,0 0,0± 0,0 0,2± 2,0 0,0± 0,0 0,0± 0,0 Matrix matrix 0,2± 2,0 0,0± 0,0 0,0± 0,0 0,2± 2,0 0,0± 0,0 0,0± 0,0 C. ramossus 3,0± 6,6 0,0± 0,0 0,0± 0,0 0,1± 2,0 0,0± 0,0 0,0± 0,0 M. philipinarum 0,0± 2,0 1,2± 1,8 0,0± 0,0 0,0± 2,0 0,5± 0,9 0,0± 0,0 Polinices tumidus 0,0± 2,0 0,3± 0,6 0,0± 0,0 0,0± 2,0 0,4± 0,6 0,1± 0,3 T. palustris 0,7± 2,1 0,0± 0,0 0,0± 0,0 0,1± 2,0 0,0± 0,0 0,0± 0,0 Cymatium pileare 0,1± 2,0 0,0± 0,0 0,0± 0,0 0,1± 2,0 0,0± 0,0 0,0± 0,0 S. cylindracens 0,0± 2,0 0,7± 1,5 0,0± 0,0 0,0± 2,0 0,1± 0,3 0,0± 0,0 Lambis chiraga 2,7± 5,9 0,0± 0,0 0,0± 0,0 0,1± 2,0 0,0± 0,0 0,0± 0,0 S. giberelus 1,6± 3,8 0,0± 0,0 0,0± 0,0 0,8± 2,5 0,0± 0,0 0,0± 0,0 Terebra maculata 20,8± 46,3 0,0± 0,0 0,0± 0,0 3,5± 7,7 0,0± 0,0 0,0± 0,0 T. canaliculata 0,3± 2,0 0,0± 0,0 0,0± 0,0 0,1± 2,0 0,0± 0,0 0,0± 0,0 Meretrix meretrix 0,0± 2,0 0,1± 0,3 0,0± 0,0 0,0± 2,0 0,1± 0,3 0,0± 0,0 Paphia gallus 0,0± 2,0 0,3± 0,6 0,0± 0,0 0,0± 2,0 0,4± 0,9 0,1± 0,3

Legenda: Os números 1, 2 e 3 representam subáreas onde foram feitas as amostragens, nomeadamente: 1- Banco

Inferior, onde ainda na maré baixa há acúmulo de água; 2 – Banco intermédio, 3 – Banco Superior, mais próximo aos acampamentos dos pescadores, para praias que têm acampamentos.

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Tabela 4: Biomassa estimada por local e a captura disponível por colector e por dia da espécie Cypraea annulus nos

distritos de Ilha de Moçambique, Mossuril, Nacala-à-velha e Memba.

Descrição

Ilha de

Moçambique Mossuril

Nacala-à-velha Memba

Areal Sanculo Cabaceira Pequena

Cabaceira

Grande Racine Serissa

Área estimada (m2) 169,4 792,0 1.254,0 1.410,0 1.755,0 3.675,0

Biomassa média /local (g/m 2) 1,6 1,1 9,6 6,0 33,6 317,8

Biomassa disponível /local (g) 271,0 897,6 12.038,4 8.460,0 58.968,0 116.7915,0

Colectores/dia 4 3 18 13 20 25

Captura disponível/collector.dia 67,8 299,2 668,8 650,8 2.948,4 46.716,6

3.4. Descrição da estrutura da população dos moluscos

O tamanho médio dos indivíduos variou entre 1,3±0,5 e 1,9±0,4 cm. NA Ilha de Moçambique (Sanculo) e Mossuril (Cabaceira grande), respectivamente. Na Ilha de Moçambique foram registadas duas modas de 1 e 1,5 cm, no Areal e Sanculo, respectivamente. No entanto, em Mossuril, a moda dois locais foi de 2 cm (Tabela 5).

Tabela 5: Resumo das estatísticas descritivas da estrutura da população de Cypraea annulus amostrada nos distritos

da Ilha de Moçambique, Mossuril, Nacala-à-velha e Memba amostradas durante o estudo. (L=comprimento, min, max, med se refere a mínimos, máximos e médios, respectivamente. D.P.=desvio padrão)

Estatísticas

Ilha de

Moçambique Mossuril Nacala-à-velha Memba

Areal Sanculo Cabaceira Pequena

Cabaceira

Grande Napazo Racine Serissa

n 7 6 6 6 — 5 17 Lmin 1,0 1,0 1,0 1,5 — 1,0 1,0 Lmax 2,0 2,0 2,5 2,5 — 2,0 3,0 Lmodal 1,5 1,0 2,0 2,0 — 2,0 1,5 Lmed ± D.P. 1,7±0,3 1,3±0,5 1,8±0,5 1,9±0,4 — 1,6±0,4 1,8±0,5 IC 95% 1,2-1,8 0,8-1,7 1,2-2,3 1,5-2,3 — 1,0-2,1 1,5-2,0

O comprimento médio dos indivíduos da espécie Cypraea annulus, amostrados na empresa MCM Export Ltd, variou entre 1 e 2,5 cm (Figura 2) e é similar a da tabela 6. Estes resultados corroboram os dados da literatura que referem um tamanho máximo desta espécie entre 1,5 e 2 cm (Chadwick, 2014). As pequenas variações de tamanhos desta espécie verificadas nos diferentes distritos podem ser devidas à diferença de salinidade, tipo de sedimento, disponibilidade de alimento e pesca, conforme se referiu Rodriguez e tal., (2010), estudando Anomalocardia brasiliana, um outro molusco muito capturado nas praias do litoral brasileiro. No entanto, não foi feita a relação destes factores com os tamanhos da espécie no presente estudo. C. annulus ocorreu mais nas amostras de campo em todos os distritos onde foi feita a amostragem, razão pela qual foi assumida como indicadora e os dados a se confirmarem podem significar que as amostras encontradas nos armazéns desta empresa foram compradas em todos os distritos amostrados.

O tamanho máximo da espécie C. annulus, como foi referido anteriormente, varia entre 1,5-2 cm (Chadwick, 2014). Neste trabalho não foi estimado o tamanho da primeira maturação. Contudo, a distribuição dos tamanhos (Tabela 5 e Figura 2), embora o tamanho de primeira maturação dependa das condições ecológicas do local de ocorrência,

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sugerem que a espécie pode não estar sobre-explorada, pois, os tamanhos de captura coincidem com o tamanho máximo descrito na literatura o que sugere ter contribuído para reposição do manancial desovante.

0 25 50 75 100 0-1 1-2 2-3 3-4 4-5 Intervalo de comprimento (cm) % % MCM (n = 721) % AMOST (n = 49)

Figura 2: Frequência de comprimento de Cypreae annulus amostrada na empresa MCN Import & Export na cidade

de Nacala Porto (%MCM) e amostrada nos quatro distritos (%AMOST) durante o presente estudo.

3.6. Avaliação da contribuição da actividade na renda familiar dos pescadores

Os dados de exportação de bivalves mostram que no período entre 2008 e 2012, foram exportadas cerca de 1.256,65 t de conchas de variadas espécies. Desta quantidade, cerca de 77,5 e 16,1% provém das empresas Chong Long, Lda e MCM Import e Export, respectivamente. De acordo com o Instituto Nacional de Inspecção de Pescado, a empresa PNM (Produtos Naturais de Moçambique) exportou apenas 80 t no ano de 2009. Esta empresa, já extinta, comprou e exportou espécies de conchas proibidas por lei, como é o caso das famílias Cassidae e Tridacnidae (Tabela 6). A Chong Long, Ltd, foi a empresa que mais comprou e exportou os moluscos. Contudo, não houve registo desta actividade no ano de 2012. Durante os trabalhos de amostragem na empresa os trabalhadores e os patrões referiram ter deixado a actividade passando a comprar e processar holotúrias (Tabela 10). Estes dados podem ser confirmados pelas tabelas 6 e 7, nas quais parece haver uma tendência no tempo da empresa Chong Long Lda abandonar a actividade de compra e exportações dos moluscos á favor da empresa MCM, Export.

De acordo com os recolectores entrevistados o preço de bivalves varia por espécie. As conchas de bivalves com boa coloração ou de formato muito apreciado (famílias Cassidae e Tridacnidae) variavam entre 5 e 10,00Mt cada concha, dependendo do tamanho. Ultimamente, de acordo com os nossos entrevistados, já não compram estas conchas. De facto, durante a amostragem nas empresas em 2013 não foi encontrada nenhuma concha pertencente a estas famílias, pressupondo que as actuais empresas de compra e exportação de conchas estão cumprindo com condições impostas pelo Ministério das Pescas de não exploração das conchas da família Cassidae e Tridacnidae. De acordo com os resultados (Tabela 6), as famílias Cassidade e Tridacnidade ocorreram apenas em 2009 na extinta empresa PNM Lda. A espécie C. annulus é comprada nos centros de pesca por 5,00Mt e revendida à empresa MCN Export por 16,00Mt o quilo. Tendo em conta que os comerciantes e as empresas podem ter alguns custos operacionais, é difícil afirmar se os ganhos são ou não desregrados entre os recolectores, revendedores e as empresas.

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Tabela 6: Composição específica (t) dos moluscos amostrados nas empresas Chong Long, Lda, MCM Import &

Export e PNM, Lda. no ano de 2009.

Espécie Chong Long Lda MCM Import &

Export PNM, Lda Total

Bohadschia marmorata 0,0 0,0 0,0 0,0

Cjaronia tritonis tritonis 0,0 0,0 0,0 0,0

Conus tessulatus 0,0 0,0 0,0 0,0

Cypraea arabica 0,0 0,0 0,1 0,1

Cypraea caputserpentis 0,0 0,0 0,0 0,0

Cypraea erosa 0,0 0,0 0,2 0,2

Cypraea tigris 0,0 0,0 0,0 0,0

Cypraea cassis rufa 0,0 0,0 1,5 1,5

Cyprea anullus 11,2 0,0 0,1 11,3 Cyprea erosa 0,0 1,0 0,0 1,0 Cyprea histrio 2,4 0,0 0,0 2,4 Cypraea isabella 1,6 0,0 0,0 1,6 Cypraea mauritane 0,0 0,8 0,0 0,8 Cyprea onyx 0,0 0,7 0,0 0,7 Cypraea tigris 0,0 0,0 1,3 1,3 Cypraea vitellus 39,0 0,0 0,0 39,0 Holuthuria edulis 0,0 0,0 0,0 0,0 Holuthuria scabra 0,0 0,0 0,0 0,0 Lambis chiraga 0,6 0,0 47,1 47,7 Meretrix meretrix 0,0 0,0 0,0 0,0 Oliva oliva 0,0 0,0 0,0 0,0 Oliva tigrina 0,0 0,0 0,0 0,0 Ovula ovum 0,0 0,0 0,0 0,0 Polinices tumidus 0,0 0,0 0,0 0,0 Stichopus chloronotus 0,0 0,0 0,0 0,0 Stichopus variegatus 0,0 0,0 0,0 0,0 Terebra maculata 0,0 0,0 0,0 0,0 Tridacna maxima 0,0 0,0 1,0 1,0 Total 54,8 2,4 51,3 108,4

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Tabela 7: Conchas de moluscos (t) exportadas pelas empresas Chong Long, Lda., MCM, Import & Export e PNM,

Lda. entre os anos 2008 e 2011 (Fonte: INIP, Delegação de Nampula).

Ano Chong Long, Lda MCM Import & Export PNM, Lda Total

2008 324,0 37,7 - 37,7 2009 460,5 94,3 80,0 634,8 2010 90,0 82,0 - 90,0 2011 421,5 69,7 - 491,2 2012 - 8,32 - Total 972,0 201,7 80,0 1.253,7

Tabela 8: Estimação do rendimento (Mt) dos comerciantes relativo a venda das conchas dos moluscos as empresas

Chong Long, Lda, MCM, Import & Export e PNM, Lda. entre os anos 2008 e 2012.

Ano Chong Long, Lda MCM Import & Export PNM, Lda Total

2008 5.184,0 603,2 - 5.787,2 2009 7.368,0 1.508,0 1.280,0 10.156.0 2010 1.440,0 1.311,6 - 2.751,6 2011 6.744,0 1.115,2 - 7.859,2 2012 - 133,1 - 133,1 Total 20.736,0 4.538,0 1.280,0 26.687.1

Tabela 9: Estimação do rendimento (Mt) dos recolectores relativo a venda das conchas dos moluscos aos

comerciantes entre os anos 2008 e 2012.

Ano Chong Long, Lda MCM Import & Export PNM, Lda Total

2008 1.620,0 188,5 0,0 1.808,5 2009 2.302,5 471,3 400,0 3.173,7 2010 450,0 409,9 0,0 859,9 2011 2.107,5 348,5 0,0 2.456,0 2012 0,0 41,6 0,0 41,6 Total 6.480,0 1.418,2 400,0 8.339,7

De acordo com os recolectores entrevistados, o dinheiro resultante desta actividade é usado na compra de produtos básicos e algum material escolar e roupa usada. O conteúdo visceral (manto) dos gastrópodes da família Cypraeidae não é consumido pelas comunidades locais. O consumo das vísceras e outros tecidos moles acontece apenas para outros molusco como Cymatium pilear e Lambis chiraga.

3.7. Outros invertebrados

Foram amostradas na empresa Chong Long, Lda, sete espécies de invertebrados, todos da família Holuthuridae, com destaque para a espécie Holuthuria fusjilva que contribuiu com cerca de 39% de um total de 1.218 t de diferentes espécies de holotúrias (Tabela 10). De acordo com os funcionários entrevistados, nos últimos anos a empresa dedica-se apenas à compra e exportação de magajojos (Holotúrias) para o mercado asiático, em particular Hong

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Kong. Estes dados explicam o facto de não ter havido registo de exportações de moluscos no ano de 2012 pela empresa Chong Long, Lda (Tabela 7). A aquisição destes invertebrados segue o mesmo circuito dos moluscos. As holotúrias são compradas aos recolectores nos centros de pesca pelos comerciantes e estes por sua vez vão revender a empresa que processa e exporta para os mercados de preferência.

Durante o processo de amostragem no distrito de Memba (Serissa) foram encontrados funcionários da Diamante Mariscos, Lda, a adquirirem moluscos e holotúrias. Portanto, para uma avaliação das quantidades exportadas deste grupo de invertebrados é necessário um acompanhamento das actividades nestas duas empresas.

Tabela 10: Composição específica (t) das holotúrias amostradas durante o presente estudo na empresa Chong Long,

Lda, em Junho de 2013.

Família Espécie Quantidade

(Kg) Empresa Destino

Holothuriidae Holothuria fusjilva 450 Chong Long, Lda Hong Kong

Holothuriidae Holothuria scabra 252 Chong Long, Lda Hong Kong

Itichopodidae Steichopus variegatus 252 Chong Long, Lda Hong Kong

Holothuriidae Bohadschia marmorata 48 Chong Long, Lda Hong Kong

Holothuriidae Holothuria nobilis 180 Chong Long, Lda Hong Kong

Holothuriidae Holothuria atra 16 Chong Long, Lda Hong Kong

Holothuriidae Bohadschia argus 20 Chong Long, Lda Hong Kong

Total 1.218

4. Conclusões e recomendações 4.1. Conclusões

De acordo com os resultados, pode-se concluir o seguinte:

 O tamanho do recurso foi estimado em 1.248,6 t. Tratando-se duma biomassa instantânea apenas de um dia de amostragem por local não é apresentado o estado de exploração deste recurso na região.

A espécie Cypraea annulus foi a mais importante nas amostras de campo, nas empresas bem como nos dados de exportação fornecidos pelo INIP. A sua densidade e biomassa, agregada na subárea 1, aumentam do sul ao norte de 1,5 a 8,9 ind./m2 e 2,7 a 158,9 g/m2, respectivamente.

 Foram exportadas para o mercado asiático no período entre 2008 e 2012 cerca de 1.253,65 t, quantidade que poderá ter rendido 26.687,12 e 8.339,73Mt aos comerciantes e recolectores, respectivamente.

 O nível de ordenamento desta actividade é baixo. Apenas as empresas são licenciadas para a compra e exportação de conchas vazias, o mesmo não acontece para os recolectores e os comerciantes que compram dos recolectores e vendem as empresas.

A moda de comprimento dos indivíduos da espécie mais importante, Cypraea annulus, variou entre 1,5 e 2 cm de comprimento total para um crescimento total da espécie que também varia entre 1,5 e 2 cm.

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4.2. Recomendações

 Um programa de monitoramento do esforço e da produção destes moluscos num período mais amplo em cada distrito podia ser conduzido para avaliar a distribuição espacial e temporal da CPUE e a biomassa disponível para a captura. Desta forma seria possível avaliar as mudanças na abundância provocadas pela actividade dos recolectores e o impacto desta actividade sobre a biomassa disponível para a captura.

 O agregamento dos indivíduos na subárea 1, pode ser indicativo de subáreas de colecta, todavia, poderá ser prestada uma atenção especial, pois, há co-habitação de indivíduos de diferentes tamanhos, pequenos e grandes na mesma subárea.

 No futuro estudo, deverá ser estimado o tamanho de primeira maturação através do Índice de Estabilização do Formato da Concha (IEF), pois, um dos critérios usados no ordenamento pesqueiro para além do controle da mortalidade por regulamentação da quantidade, dos períodos de captura, usam-se os tamanhos ou idade nos quais os indivíduos são capturados.

 Há necessidade de expandir o ordenamento desta actividade abrangendo a recolectores e comerciantes que compram destes recolectores e revendem as empresas. Desta forma, será fácil desenhar e implementar uma estratégia de gestão do recurso.

 Um monitoramento da exploração das holutúrias nas salas de processamento das empresas Chong Long, Lda e Diamante Mariscos seria necessário para estimar as quantidades exportadas deste grupo de invertebrados.

5. Agradecimentos

A amostragem biológica para este trabalho foi financiada pela Delegação provincial do IIP em Nampula. Por isso, o autor deixa uma palavra de agradecimento ao Delegado (dr. Neto Borge Sulemane) por este efeito. O agradecimento é extensivo para a Delegação Provincial do Instituto de Inspecção do Pescado, em Nampula, por fornecer dados históricos de exportação dos moluscos, e às empresas MCM Export, Lda e Chong Long Lda, por permitir a amostragem biológica nas suas instalações. Aos amostradores dos distritos de Ilha de Moçambique (sr. Nazário), Mossuril (sr. Orlando), Nacala-à-velha (sr. Bias de Fátima) e Memba (sr. Virane), pelo apoio durante a amostragem biológica, muitíssimo obrigado. E, finalmente, ao mais velho (sr. Cululo) pelo seu empenho e paciência durante os dias de amostragem e ao dr. Celso Montanha, oceanógrafo do IIP, Delegação da Zambézia, pelo mapa da área de estudo, o meu muito obrigado.

6. Limitações

Teria sido recomendável efectuar uma amostragem biológica mais intensiva no terreno. Isto é, a amostragem poderia ser feita em todos os meses da época seca o que permitiria obtenção de dados com maior qualidade e consistência. No entanto, dificuldades financeiras determinaram que a amostragem fosse feita em uma semana, portanto, um dia por cada local. A amostra obtida pode não ter sido suficiente. Contudo, foi possível usar os dados colhidos para estimar a biomassa, a densidade do recurso, descrever a estrutura da população naqueles distritos bem como avaliar a contribuição desta actividade na renda das pessoas envolvidas (recolectores e comerciantes locais).

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