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UNIVERSIDADE FEDERAL DE RORAIMA INSTITUTO DE CIÊNCIAS JURÍDICAS CURSO DE BACHARELADO EM DIREITO

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE RORAIMA

INSTITUTO DE CIÊNCIAS JURÍDICAS

CURSO DE BACHARELADO EM DIREITO

BRASILEIROS NATOS QUE PERDERAM A NACIONALIDADE:

CASO CLÁUDIA CRISTINA SOBRAL HOERIG

Fernanda Keller Gomes de Meneses 1

Herison Costa da Silva2

Pablo Matos Cavalcante 3

Coordenador: Prof. MsC. Edival Braga

Resumo: Este artigo científico tem como objetivo, analisar o caso Cláudia Cristina sobral hoerig que perdeu a nacionalidade brasileira em virtude da aquisição da nacionalidade americana nos termos do art. 12, § 4°, inciso II, da Constituição federativa do Brasil, onde serão abordados no decorrer do trabalho todo o procedimento jurídico e administrativo que levou a tal feito histórico, de primeiro caso de brasileiro nato que em virtude da perda da nacionalidade, sofreu o processo de extradição.

Palavras–chaves: Perda da nacionalidade de brasileiros natos. Procedimento administrativo. Acórdão do STF. Extradição.

Sumário: Introdução 1. Contexto histórico do caso 2. Brasileiros natos 2.1 Perda da nacionalidade no Direito Brasileiro 3. Cidadania americana 3.1 Perda da Nacionalidade no direito americano 4. Procedimento administrativo 4.1 Consequência do procedimento administrativo 5. Acórdão do STF em relação ao mandado de

1 Graduando em Direito, e-mail: keller.mille.fk@gmail.com 2 Graduando em Direito, e-mail: herisonps@gmail.com

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segurança 33.864/DF 6. Efeitos da perda da nacionalidade brasileira. Conclusão. Bibliografia.

Abstract: This scientific article aims to analyze the case Cláudia Cristina sobral hoerig who lost Brazilian nationality due to the acquisition of American nationality under the terms of art. 12, § 4, item II, of the Federal Constitution of Brazil, where all legal and administrative proceedings that led to this historical event will be addressed in the course of the work, the first case of a Brazilian born due to the loss of nationality, suffered the extradition procedure.

Keywords: Loss of nationality of born Brazilians. Administrative procedure. Accordion of the Supreme Court. Extradition.

Summary: Introduction 1. Historical context of the case 2. Born Brazilians 2.1 Loss of nationality in Brazilian law 2.2 Loss of Nationality in American law 3. Administrative procedure 3.1 Consequence of the administrative procedure 4. Judgment of the STF in relation to the security mandate 33,864 / DF 5. Effects of the loss of Brazilian nationality. Conclusion. Bibliography.

INTRODUÇÃO

O presente trabalho tem como objetivo, analisar o caso da primeira brasileira extraditada (Cláudia Cristina sobral hoerig), onde o motivo para a abertura do processo administrativo feito pelo ministro da justiça que ocasionou a sua extradição, está relacionado ao fato de a mesma ter adquirido sem necessidade a nacionalidade americana nas hipóteses do artigo. 12, § 4º, II da Constituição Federal, mesmo possuindo o green card que possibilitava a sua permanência legal no país.

Após a decretação pelo Ministro da Justiça da perda da nacionalidade da brasileira, ocorreu uma grande discussão jurídica e administrativa no que diz respeito a competência do ministro da justiça tratar sobre questões envolvendo perda da nacionalidade.

Em resumo, Cláudia entrou com um mandado de segurança com o objetivo de anular a decisão do Ministro da justiça, devido não ser competência deste tratar sobre

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o assunto em tese, por conseguinte o STJ se posicionou acatando a justificativa de Cláudia e solicitando o declínio de competência para o STF. Após uma longa controvérsia de decisões do ministro Napoleão Nunes Maia Filho e do pronunciamento da Advocacia Geral da União, o STF por 3 votos a 2 emitiu um acórdão decretando a perda da nacionalidade de Cláudia juntamente com a decretação da prisão preventiva, onde hoerig foi extraditada no dia 17 de janeiro de 2018. Diante do exposto objetiva-se com o trabalho.

a) Compreender o contexto histórico da ida e permanência de Cláudia aos EUA; b) Analisar o processo administrativo instaurado pelo Ministro da Justiça e o

posicionamento do STJ e AGU a respeito da competência ou não do ministro da justiça para decidir sobre a perda da nacionalidade;

c) Abordar o acórdão proferido pelo STF, decretando definitivamente a perda da nacionalidade brasileira de Cláudia.

Ademais usaremos como fonte de pesquisa obras bibliográficas, artigos de conclusão de curso e conteúdos relacionados ao assunto publicado na internet. Utilizando-se uma abordagem qualitativa e expositiva jurídico-acadêmica na parte da elaboração e apresentação do trabalho.

1. O CONTEXTO HISTÓRICO DO CASO

Hoerig foi para os estados Unidos em 1989 com o objetivo de viver, casou-se com o americano thomas bolte e consequentemente ganhou o direito do visto permanente “green card” que é um processo de naturalização, no qual é necessário que sejam preenchidos alguns requisitos como a idade residência e permanência para que seja concedido, onde o serviço nacional de imigração (INA) determina que após o requerente se tornar residente legal no país começa o início de contagem do prazo mínimo para adquirir a cidadania americana que é de 5 anos, não podendo nesse período se ausentar do país por mais de seis meses, sendo necessário ter ficado nos EUA por pelo menos trinta meses, além de ter durante esse período uma boa conduta moral.

“Dez anos após sua chegada ao território norte-americano, Claudia se naturalizou estadunidense em 28 de setembro de 1999, adquirindo, pois, a nacionalidade daquele país. Para tanto, consoante as seções 316 3 e 319 do Immigrationand Nationality Act (INA), teve Claudia que jurar lealdade à pátria norte americana, em detrimento de quaisquer outras, ressalte-se, mesmo já obtendo a sua permanência assegurada pelo “greencard”. Segundo sua

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versão, queria se tornar uma norte-americana plena, para exercer os diversos direitos que separam os cidadãos norte-americanos daqueles que simplesmente obtêm uma autorização para lá permanecer”. (RAMOS, 2017, p.8)

Cláudia divorciou-se thomas bolte e em 2005, seis anos após a aquisição de sua cidadania casou-se novamente, onde foi acusada pela polícia americana de ter assassinado seu até então marido, ex-piloto da Força Aérea americana Karl Hoerig. O crime aconteceu em Newton Falls, um vilarejo de cerca de 5 mil habitantes no estado Americano de Ohio, no ano de 2007. Logo após o fato, a brasileira fugiu para o Brasil. Diante dos fatos a Promotoria local lhe denunciado perante o tribunal de júri do condado de Trumbull, constatando-se durante as diligências investigativas que a mesma teria comprado um revólver calibre 357, compatível com os ferimentos deixados no corpo do ex-oficial da força aérea norte-americana, possibilitando-se assim levar o caso a corte.

Após as ocorrências dos fatos o governo americano emitiu uma nota verbal que teve como consequência a instauração do procedimento administrativo com o objetivo de declarar a perda da nacionalidade de Cláudia, Porém, antes de se abordar o procedimento administrativo, trataremos das hipóteses de brasileiros natos e da perda da nacionalidade brasileira nos termos da CF/1988, para que se possa ter uma compreensão melhor acerca do assunto.

2. BRASILEIROS NATOS

A constituição federal de 1988 determina que são brasileiros natos (aquisição primária), primeiramente, os nascidos na república federativa do brasil, ainda que de pais estrangeiros, desde que estes não estejam a serviço do Brasil (critério ius solis). Percebe-se nessa alínea “a” do inciso “I” que há uma exceção ao critério da territorialidade, que é a ascendência de pais estrangeiros que estejam a serviço de seu país, concretizando o critério sanguíneo.

Dando continuidade, são também brasileiros natos os nascidos no estrangeiro, de pai brasileiro ou mãe brasileira, desde que qualquer deles esteja a serviço da república federativa do brasil (critério ius sanguinis + a serviço do Brasil). E por fim, são também brasileiros natos, os nascidos no estrangeiro de pai brasileiro ou de mãe brasileira, desde que sejam registrados em repartição brasileira competente (critério

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em qualquer tempo, depois de atingida a maioridade, pela nacionalidade brasileira (critério ius sanguinis + opção confirmativa).

Fonte CNJ

2.1 Perda de Nacionalidade no Direito Brasileiro

De acordo com o artigo 12, § 4º, da Constituição Federal, será declarada a perda da nacionalidade do brasileiro que:

I - tiver cancelada sua naturalização, por sentença judicial, em virtude de atividade nociva ao interesse nacional;

II - adquirir outra nacionalidade, salvo no casos:

a) de reconhecimento de nacionalidade originária pela lei estrangeira;

b) de imposição de naturalização, pela norma estrangeira, ao brasileiro residente em estado estrangeiro, como condição para permanência em seu território ou para o exercício de direitos civis.

Assim, nos termos do artigo 12, § 4º, inciso II da Constituição Federal, combinado com os artigos 249 e 250 do Decreto nº 9.199/2017, juntamente com o artigo 75 da Lei nº 13.445/2017 e artigo 26 da Portaria Interministerial nº 11, de 03/05/2018, dos Ministérios da Justiça e da Segurança Pública. o brasileiro que voluntariamente adotar outra nacionalidade, e não for de acordo com as exceções previstas no texto constitucional, poderá ser objeto de procedimento administrativo de perda da nacionalidade brasileira.

É garantido aos brasileiros nesta situação os princípios do contraditório e da ampla defesa, comprovando que não houve uma das hipóteses de exceção permitidas pela Constituição Federal, a perda da nacionalidade brasileira poderá ser decretada. Não se trata de processo automático, mas que pode vir a ser instaurado pelas autoridades do Ministério da Justiça.

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Fazendo uma análise à luz do direito comparado, nos estados unidos a cidadania americana é concedida aos nascidos no território americano, aos descendentes de cidadão americano e as pessoas pertencentes a outras nacionalidades que pleitearam cidadania americana pelo processo de naturalização. Em relação a cidadania dos nascidos em solo estadunidense, utiliza-se critério

jus solis, por meio do qual qualquer pessoa venha a nascer em seu território adquire

automaticamente a cidadania americana, não importando a nacionalidade dos pais da criança, nem mesmo se estão no país como turistas ou imigrantes ilegais, podendo os filhos pleitearem a residência dos pais ao completarem 21 anos.

Atualmente, a uma polêmica no que diz respeito ao planejamento do presidente Donald Trump acabar por meio de decreto a cidadania adquirida por nascimento, tipificada na 14° emenda da Constituição americana que prevê que "Todas as pessoas nascidas ou naturalizadas nos Estados Unidos, e sujeitas à sua jurisdição, são cidadãos dos Estados Unidos e do Estado em que residem.", porém, a maioria dos juristas afirmam ser ilegal a pretensão de trump, pois trata-se de um assunto que não pode ser decidido individualmente por meio de decreto.

No que concerne a filhos de americanos nascidos em outro país, podem ser concedida a cidadania americana a crianças nascidas no estrangeiro, contanto que ambos os pais sejam americanos e que um deles tenha morado por um tempo no país, como também aos nascidos no estrangeiro filho apenas de um cidadão americano, contanto que o ascendente americano da criança tenha morado 5 anos anteriores ao seu nascimento nos estados unidos , tendo que ser no mínimo dois dos cincos anos após o décimo quarto aniversário (14 anos) do pai ou mãe americano (a). Sobre a terceira e última hipótese para conseguir a cidadania americana, pelo processo de naturalização é necessário que sejam preenchidos alguns requisitos como a idade: devendo-se na data de preenchimento do formulário de requerimento o requerente ter no mínimo 18 anos de idade, residência e permanência legal: que ocorre pela obtenção Cartão de Registro de Recebimento de Estrangeiro mais conhecido como Green card que possibilita o direito da pessoa trabalhar no país, onde só após um certo período de tempo e que o requisito de ficar legalmente no país é preenchido.

Após o requerente se tornar residente legal no país começa o início de contagem do prazo mínimo para adquirir a cidadania americana que é de 5 anos, não podendo nesse período se ausentar do país por mais de seis meses, sendo

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necessário ter ficado nos EUA por pelo menos trinta meses, além de ter durante esse período uma boa conduta moral.

Segundo o Serviço de Imigração e Naturalização (INS), idoneidade moral é a forma média padrão de comportamento do membro de uma comunidade americana. Portanto, a fim de ser acolhido em seu requerimento de cidadania, é imprescindível a demonstração desta. O que é exigido não é a prova do bom caráter de uma pessoa, e sim que está, nos últimos cinco anos ou menos se beneficiado por qualquer das situações mencionadas, não tenha apresentado nenhum tipo de mau caráter. Quanto mais provas forem feitas a favor da pessoa, maiores serão as chances de aceitação. (BRAY, 2003) Durante esse período qualquer desvio de idoneidade moral desclassifica e impede a participação no processo de naturalização, onde é facultado analisar os antecedentes criminais antes da obtenção de residência permanente e após o juramento de lealdade.

Preenchidos todos os requisitos, realiza-se a próxima fase de entrevista e teste, no qual são analisados a habilidade ler, escrever e falar a língua inglesa, além do conhecimento fundamentais da história, formas e princípios do governo americano, no qual após aprovação do pedido, o requerente será notificado da data da a cerimônia de juramento à Constituição, para oficialmente tornar-se um cidadão.

3.1 Perda da nacionalidade no direito americano

A primeira maneira de se perder a nacionalidade americana é renunciando a cidadania pelo processo chamado de expatriação, feita formalmente na presença de um agente diplomático ou consular, sendo necessário que a renúncia se faça em país estrangeiro, pois é vedada a renúncia em território americano, ademais deve-se assinar um juramento de renúncia para torna-se eficaz a expatriação, podendo tal ato ser praticado a partir dos 14 anos de idade.

Outra hipótese de perda de nacionalidade, diz respeito a revogação da cidadania conhecida também com desnaturalização que é um ato praticado pelo governo quando requerente praticar os seguintes casos:

“Residência em país estrangeiro após cinco anos da naturalização; contratação ilegal para o processo de naturalização; ocultação intencional de fatos relacionados com o pedido de naturalização; recusa, no prazo de dez

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anos após a naturalização, para depor como testemunha perante o Congresso sobre atividades sediciosas”. (DUQUE, pg.105,2011)

Dentre os casos citados, perderá a cidadania americana aquele que voluntariamente tornar-se cidadão de outra nação, depois de completada a maioridade; quem servir nas forças armadas de outra nação; ou, ainda, quem cometer qualquer ato de traição contra os Estados Unidos ou tentar derrubar com o uso da força ou porte de armas o governo do país.

4. PROCEDIMENTO ADMINISTRATIVO

Após entendermos as hipóteses de brasileiros natos e a perda da nacionalidade elencados na CF/1988, daremos continuidade à explanação do tema a respeito do procedimento administrativo. Primeiramente o governo americano emitiu uma nota verbal n°466 pedindo a extradição de Cláudia, onde após tomar conhecimento da situação o ministro da justiça instaurou de ofício o procedimento administrativo nº 08018.011847/2011-01 com o intuito de declarar a perda da sua nacionalidade brasileira devido a naturalização americana.

4.1 Consequência Do Procedimento Administrativo

A consequência deste procedimento administrativo foi justamente a edição da Portaria nº 2.465, DE 3 DE JULHO DE 2013, que declarou a perda da nacionalidade brasileira de Cláudia Cristina Hoerig, com base nas hipóteses de perda da nacionalidade de brasileiros natos mencionado anteriormente no art. 12, § 4º, II da Constituição Federal, por ter adquirido outra nacionalidade, na forma do art. 23 da Lei nº 818/1949.

O MINISTRO DE ESTADO DA JUSTIÇA, usando da atribuição conferida pelo art. 1° do Decreto no 3.453, de 9 de maio de 2000, publicado no Diário Oficial da União de 10 de maio do mesmo ano, tendo em vista o constante dos respectivos processos administrativos que tramitaram no âmbito do Ministério da Justiça, resolve: DECLARAR a perda da nacionalidade brasileira da pessoa abaixo relacionada, nos termos do art. 12, § 4°, inciso II, da Constituição, por ter adquirido outra nacionalidade na forma do art. 23, da Lei no 818, de 18 de setembro de 1949: CLAUDIA CRISTINA SOBRAL, que passou a assinar CLAUDIA CRISTINA HOERIG, natural do Estado do Rio de Janeiro, nascida em 23 de agosto de 1964, filha de Antonio Jorge Sobral e

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de Claudette Claudia Gomes de Oliveira, adquirindo a nacionalidade norte-americana (Processo nº 08018.011847/2011-01).

Insatisfeita com a decisão administrativa ministerial, Hoerig entrou com um mandado de segurança de nº 20.439, perante o Superior Tribunal de Justiça requerendo a sua anulação. Diante da relevância o Ministério público Federal manifestou-se perante o STJ, onde o procurador geral da república Rodrigo Janot Monteiro de Barros, afirmou não ser competência do STJ processar julgamentos que versem sobre extradição, dessa forma solicitou o declínio da competência do Superior Tribunal de Justiça em favor do Supremo Tribunal Federal.

Após as manifestações citadas houve uma confusão de decisões, onde no dia 12 de agosto de 2015 o Ministro Napoleão Nunes Maia Filho, acatou o pedido de declínio de competência proferida pelo procurador geral da república, porém, após 14 dias o ministro napoleão chamou o efeito a ordem, tornando sem efeito a decisão que o mesmo tinha proferido anteriormente.

Quatro dias após a suspensão, o estados unidos entrou com um pedido de prisão preventiva para agilizar o processo de extradição, porém, como a medida de segurança impetrada por Cláudia foi deferida, impossibilitou que a prisão preventiva ocorresse. Sobre o pedido da prisão preventiva o ministro Luís Roberto Barroso decidiu da seguinte forma: “Suspensos os efeitos da decisão que declarou a perda de nacionalidade, a requerida deve ser considerada brasileira nata, o que impossibilita sua extradição, nos termos do art. 5°, LI, da CRFB/88. Isto posto, indefiro, por ora, o pedido de prisão preventiva”.

A advocacia geral da união interpôs Agravo Regimental contra essa decisão, que repristinou à concessão da liminar do Mandado de Segurança. Em suma, requereu a União a reforma da sentença, a fim de que se mantivesse incólume a Portaria de nº 2.465, declarando a perda da nacionalidade de Cláudia.

A União interpôs agravo regimental contra a decisão liminar do Superior Tribunal de Justiça, com base no argumento de que a impetrante casou-se com nacional norte-americano em 1990, em razão do que adquiriu o green card, cuja natureza jurídica é a de visto de residência permanente concedido pelas autoridades americanas, o que lhe conferia “não só o direito de manter residência nos EUA, mas também da grande maioria dos direitos civis e políticos assegurados pelo direito norte-americano, dentre os quais os direitos de livre manifestação, de privacidade, de liberdade religiosa, de acesso à

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Justiça, de ampla defesa, de propriedade, de trabalhar, de praticar atos da vida civil etc”. Assim, segundo a AGU, o processo de naturalização por parte da impetrante visava, não à aquisição do direito de permanência no território estrangeiro ou o gozo de direitos civis, mas à aquisição da nacionalidade norte-americana, notadamente a participação na vida político partidária da comunidade estadunidense. (Relatório do Mandado de Segurança 33.864

Distrito Federal).

O ministro do Superior Tribunal de Justiça acatando o posicionamento dos ministros do STF e da AGU declinou definitivamente a competência para processamento e julgamento do feito ao Supremo Tribunal Federal. Decorrido os prazos legais, o mandado de segurança foi distribuído, onde o pedido de prisão preventiva ficou sob relatoria do ministro Luís Roberto Barroso sob o número 33.864, foi proferida a decisão no dia 19 de abril de 2016:

CONSTITUCIONAL. MANDADO DE SEGURANÇA. BRASILEIRA

NATURALIZADA AMERICANA. ACUSAÇÃO DE HOMICÍDIO NO

EXTERIOR. FUGA PARA O BRASIL. PERDA DE NACIONALIDADE

ORIGINÁRIA EM PROCEDIMENTO ADMINISTRATIVO REGULAR.

HIPÓTESE CONSTITUCIONALMENTE PREVISTA. NÃO OCORRÊNCIA DE ILEGALIDADE OU ABUSO DE PODER. DENEGAÇÃO DA ORDEM. 1. O Supremo Tribunal Federal é competente para o julgamento de mandado de segurança impetrado contra ato do Ministro da Justiça em matéria extradicional. (HC 83.113/DF, Rel. Min. Celso de Mello).

2. A Constituição Federal, ao cuidar da perda da nacionalidade brasileira, estabelece duas hipóteses: (i) o cancelamento judicial da naturalização (art. 12, § 4º, I); e (ii) a aquisição de outra nacionalidade. Nesta última hipótese, a nacionalidade brasileira só não será perdida em duas situações que constituem exceção à regra: (i) reconhecimento de outra nacionalidade originária (art. 12, § 4º, II, a); e (ii) ter sido a outra nacionalidade imposta pelo Estado estrangeiro como condição de permanência em seu território ou para o exercício de direitos civis (art. 12,§ 4º, II, b).

3. No caso sob exame, a situação da impetrante não se subsume a qualquer das exceções constitucionalmente previstas para a aquisição de outra nacionalidade, sem perda da nacionalidade brasileira.

4. Denegação da ordem com a revogação da liminar concedida.

Participaram do julgamento, o Ministro Relator, Luís Roberto Barroso, a Ministra Rosa Weber, Ministro Luiz Fux, Ministro Marco Aurélio Mello e o Ministro Edson

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Fachin, onde foi emitido um acórdão que declarou a perda da nacionalidade de Cláudia.

5. ACÓRDÃO DO STF EM RELAÇÃO AO DO MANDADO DE SEGURANÇA 33.864/DF.

A primeira turma do STF, pela maioria dos votos (por 3 votos a 2), revogou a liminar concedida pelo STJ que deferiu o mandado de segurança impetrado por Cláudia, ou seja, o STF negou o pedido feito por hoerig que visava proteger seu direito líquido e certo e convalidou a decisão do Ministério da Justiça que declarou a perda de sua nacionalidade, consubstanciada na Portaria nº 2.465, revogando-se , assim, a liminar concedida pelo Superior Tribunal de Justiça. De modo que no mesmo dia da revogação da liminar concedida foi expedido foi decretado a prisão de Cláudia, cujo o mandado foi cumprido no dia seguinte.

O relator Luís Roberto Barroso, afirmou em sua decisão que concorda com o posicionamento do ministro da justiça proferido em 2013, pela portaria n° 2.465, no qual argumentava que ao se naturalizar americana, hoerig abriu mão de sua naturalidade brasileira, nos termos do artigo 12, parágrafo 4º, inciso II, da Constituição Federal.

O ministro Edson Fachin, se opôs sobre o posicionamento de Barroso, com o fundamento de que Cláudia é acusada de ter cometido um crime, porém, não foi denunciada formalmente, segundo ele Cláudia não pode perder a nacionalidade brasileira, mas se caso perdesse a sua nacionalidade o governo deveria dar oportunidade da mesma escolher continuar ou não com a nacionalidade americana.

“Jamais declarar a perda da nacionalidade brasileira pelo simples fato de a estrangeira ter sido adquirida posteriormente e concluiu seus argumentos sobre a justificativa que o inciso LI do artigo 5º da Constituição diz que “nenhum brasileiro será extraditado, salvo o naturalizado”.

Além de fachin, o ministro Marco Aurélio também teve o seu voto vencido, primeiramente o mesmo argumentou não ser competência do STF julgar a matéria já que a CF/1988 estabelece como sendo competência do STJ e justificou o seu voto afirmando que a condição de brasileiro nato é indisponível, concluiu dizendo que “a perda da nacionalidade brasileira nata não fica submetida ao fato de uma lei

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estrangeira deixar de reconhecer essa mesma nacionalidade.” Portanto, apesar das oposições a liminar concedida foi revogada e a prisão de Cláudia decretada.

Acórdão

“Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros da Primeira Turma do Supremo Tribunal Federal, sob a Presidência do Ministro Luís Roberto Barroso, na conformidade da ata de julgamento e das notas taquigráficas, por maioria de votos, em denegar a segurança e revogar a liminar deferida, nos termos do voto do Relator, vencidos os Ministros Edson Fachin e Marco Aurélio. Brasília, 19 de abril de 2016”. MINISTRO LUÍS ROBERTO BARROSO - RELATOR

Em 7 de junho de 2016, o governo dos Estados Unidos protocolou um Pedido de Extradição formal, através da nota verbal 436, no qual foi julgado em 28 de março de 2017, onde por maioria dos votos, o Supremo Tribunal Federal autorizou a extradição de Claudia Cristina Hoerig para os Estados Unidos, sendo esta extraditada no dia 17 de janeiro de 2018.

6. EFEITOS DA PERDA DA NACIONALIDADE BRASILEIRA

Como já foi explicado, a perda da nacionalidade brasileira só terá efeitos a partir da publicação da portaria declaratória do Ministro da Justiça e Segurança Pública no Diário Oficial da União. Após a publicação desse ato, o interessado será considerado, para todos os efeitos, estrangeiro perante o Estado brasileiro. dessa forma, gozará apenas dos direito relacionados aos estrangeiros residentes ou de passagem pelo país. um dos principais efeitos da perda da nacionalidade brasileira, seria a possibilidade de uma eventual extradição.

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CONCLUSÃO

Diante do exposto é fato que a decisão proferida pela primeira turma do STF foi histórica, nunca antes no Brasil um Brasileiro nato perdeu sua nacionalidade e como consequência jurídica, foi extraditado para outro país. talvez por isso, essa decisão causou várias críticas de juristas pelo brasil, muito se perguntou se essa decisão que foi proferida no Supremo tribunal federal agiu-se por impulso, por se tratar de um caso que gerou grande repercussão onde cláudia cometeu o homicídio.

Entende-se que a decisão apenas demonstrou o que estava na constituição (Art 12, §4º,) e ninguém acreditava. pouco se conhecia sobre o tema da perda de nacionalidade, porém “Ninguém se escusa de cumprir a lei, alegando que não a conhece” (Art. 3 Lindb). Possivelmente o caso de cláudia cristina fará com que as pessoas que passam por situações semelhantes tenham um pouco mais de atenção, em verdade, as práticas administrativas que aconteciam antes do processo de cláudia colaboraram com essa desinformação, muito se criticou o site do itamaraty, pois o mesmo não deixava claro os reais efeitos administrativos de uma eventual aquisição de outra nacionalidade,entretanto atualmente já se encontra claro essa informação.

Destaca-se também, o modo de como as mídias jornalísticas noticiaram a decisão do STF. Diversos jornais, dentre eles o Site G1 da globo trouxe no título da matéria: “Acusada de assassinar marido americano, carioca é a 1ª brasileira a ser extraditada para ser julgada no exterior” grifo nosso. talvez por falta de inobservância de termo jurídico ou apenas como uma ferramenta para atrair a atenção dos leitores, o site, que não foi o único, trouxe consigo um equívoco, pois como sabemos, claudia cristina perdeu sua nacionalidade, dessa forma, não foi uma brasileira que foi extraditada para os EUA, e sim uma americana. até porque a Constituição Veda a extradição de Brasileiro. (Art.5º LI ).

Portanto, diante de toda a situação explanada no trabalho, pode-se concluir que a perda da nacionalidade de Cláudia Cristina sobral hoerig, determinada pelo ministro da justiça e validade pelo STF, foi decretada de acordo com o ordenamento jurídico, não havendo o que se questionar sobre sua legalidade.

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LIVROS:

BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil.

Brasília, DF: Senado Federal

ARTIGOS E TESES:

DUQUE, Camila Cristina Panegossi . Considerações sobre o direito da nacionalidade nos estados unidos da américa. Revista matiz online. 2011.

RAMOS, Luiz Henrique Pinto. A perda da nacionalidade por brasileiro nato: a inédita decisão do supremo tribunal federal no caso hoerig. UFPE. 2017

SITES:

BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Pedido de Prisão preventiva para fins Extradicionais nº 694. Estado requerente: Governo dos Estados Unidos da América. Relatoria: Ministro Luís Roberto Barroso. Disponível em : <www.stf.jus.br/portal/processo/verProcessoPeca.asp?id=310741837&tipoApp> Acesso em : 10/12/2018.

BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Habeas Corpus nº 83.113. Impetrante: Maria de Fátima da Cunha Felgueiras, Impetrado Ministro da Justiça. Relator: Ministro Celso de Mello. Disponível em :

<https://stf.jusbrasil.com.br/.../questao-de-ordem-no-habeas-corpus-hc-83113-d.> Acesso em: 10/12/2018

BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Mandado de Segurança nº 33.864. Impetrante: Claudia C. Hoerig, Impetrado: Ministro da Justiça. Disponível em : redir.stf.jus.br/paginadorpub/paginador.jsp?docTP=TP&docID=11685796. Acesso em: 10/12/20188

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BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Pedido de Prisão preventiva para fins Extradicionais nº 694. Estado requerente: Governo dos Estados Unidos da América. Relatoria: Ministro Luís Roberto Barroso.

CONJUR, STF publica acórdão que declarou perda de nacionalidade de brasileira. Disponível em:<https://www.conjur.com.br/2016-set-22/stf-publica-acordao-declarou-perda-nacionalidade-brasileira> Acesso em: 10/12/2018.

EBC, Brasileira que perdeu nacionalidade é extraditada e já está presa nos EUA. Disponível em :

<http://agenciabrasil.ebc.com.br/direitos- humanos/noticia/2018-01/brasileira-que-perdeu-nacionalidade-e-extraditada-e-ja-esta-presa> Acesso em: 10/12/2018

G1, 1ª brasileira a ser extraditada para ser julgada no exterior

<https://g1.globo.com/rj/rio-de-janeiro/noticia/acusada-de-assassinar-marido- americano-carioca-e-a-1-brasileira-a-ser-extraditada-para-ser-julgada-no-exterior.ghtml> Acesso em 01/11/2018

Referências

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