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APROPRIAÇÃO DO CONHECIMENTO SOBRE ATIVIDADE DE ENSINO EM MOVIMENTOS DE FORMAÇÃO DOCENTE

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Academic year: 2021

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APROPRIAÇÃO DO CONHECIMENTO SOBRE ATIVIDADE DE ENSINO EM MOVIMENTOS DE FORMAÇÃO DOCENTE

Neiva Nazareth da Silva – UFMS/PPGEduMat Cristiane Trombini Bispo – UFMS/PPGEduMat Neusa Maria Marques de Souza – UFMS/PPGEduMat

Resumo: Este artigo trata de duas pesquisas em andamento, integradas ao Laboratório de Estudos e Investigação em Alfabetização, Letramento e Letramento Matemático (ALLEM), que têm a Teoria Histórico-Cultural como aporte teórico, com ênfase na Teoria da Atividade. O foco comum de tais pesquisas está na busca da compreensão de processos de formação docente a partir dos princípios e práticas propostos em movimentos de formação. As possibilidades de apropriação do conhecimento sobre atividade de ensino, geradas por tais movimentos, são objeto das discussões. A primeira pesquisa analisa um movimento formativo em um grupo composto de docentes em exercício e licenciandos do curso de Matemática e a segunda, direciona suas análises ao processo de formação de professores de Matemática nos enfrentamentos das necessidades que surgem no início da carreira docente. O campo de coleta dos dados compreende observação das ações desenvolvidas nos contextos de formação anteriormente apontados e o conteúdo dos documentos norteadores das propostas reguladoras de tais formações. Os dados levantados nas respectivas pesquisas indicam que os princípios e práticas desses movimentos de formação se fundamentam em bases epistemológicas que nem sempre consideram o sujeito na sua coletividade e na sua constituição histórica e social. Os movimentos formativos investigados revelaram que o contato dos sujeitos com a realidade escolar, tanto em formação inicial como em início de carreira, gera uma nova experiência para a formação deles, porém distante de propiciar alterações da consciência que possibilitem a esses indivíduos práticas educativas que se constituam em práxis transformadora. Segundo os aportes teóricos que fundamentam essas pesquisas, a formação humana dos sujeitos envolvidos na atividade educativa vincula-se à conscientização que se dá pela apropriação do conteúdo da atividade de ensino para a constituição da práxis docente.

Palavras-chave: Atividade de Ensino. Teoria Histórico-Cultural. Formação de Professores de Matemática.

Introdução

Discutir a formação docente no cenário brasileiro tem sido fomentado nas últimas décadas por diversas tendências teóricas. Embora tais movimentos teóricos se manifestem em momentos diferentes e uso de termologias também diferentes, as análises dos documentos – que norteiam esses movimentos formativos de professores – mostram que seus princípios são fundamentados em epistemologias que nem sempre consideram o sujeito na sua constituição histórica, cultural e inserido em um coletivo impregnado de significações culturais.

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Por entender a importância de uma nova compreensão de tais sujeitos, o conteúdo deste texto trata de duas pesquisas em andamento, integradas ao Laboratório de Estudos e Investigação em Alfabetização, Letramento e Letramento Matemático (ALLEM), que têm a Teoria Histórico-Cultural como aporte teórico, com ênfase na Teoria da Atividade. O foco comum de tais pesquisas está na busca da compreensão de processos de formação docente a partir dos princípios e práticas propostos em movimentos de formação.

A primeira pesquisa analisa um movimento formativo em um grupo composto de docentes em exercício e licenciandos do curso de Matemática, e a segunda, direciona suas análises ao processo de formação de professores de Matemática nos enfrentamentos das necessidades que surgem no início da carreira docente.

Tais pesquisas levam em consideração a formação dos sujeitos na perspectiva da condição de se fazer humano na sua trajetória de vida. Segundo Leontiev (1978), é no processo de apropriação da produção intelectual da humanidade que o sujeito desenvolve sua consciência e se sente parte integrante do coletivo. Nesse sentido, os fenômenos investigados buscam compreender o processo de formação docente a partir do que é possibilitado nesses movimentos formativos para a constituição do ser professor, do desenvolvimento da sua consciência enquanto responsável pelo desencadeamento da aprendizagem e desenvolvimento dos estudantes.

Esses dois movimentos de formação têm como característica principal o desenvolvimento de ações de ensino em ambientes de educação básica. Buscam, desta forma, identificar elementos que geram possibilidades da apropriação do conhecimento sobre a atividade de ensino, considerada como unidade básica da docência, que tanto possibilita a formação do professor rumo à constituição de sua práxis, como também assegura o aprendizado e desenvolvimento do aluno.

As análises neste texto concentram em compreender o fenômeno em sua totalidade, e, para isso, recorreu-se à análise das propostas teóricas que fundamentam os movimentos formativos, às ações desenvolvidas decorrentes dessas formações e às mudanças provocadas nos sujeitos.

Desenvolvimento humano dos sujeitos envolvidos na atividade educativa

A análise do percurso histórico da educação brasileira mostra que sua concepção de ensino e de educação formalizada inicia-se com base nos princípios e concepções de ensino dos jesuítas. O caráter de supervisão e ordenamento, que vigorou nas instituições brasileiras de ensino, continuou até por volta do século XX. Nesse sentido, Souza (2013, p. 13) ressalta:

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A forte influência religiosa sobre as concepções educacionais deixaria suas marcas com mitificações que relacionam a profissão de professor com algo parecido com sacerdócio, bastante arraigadas ao ideário educacional brasileiro e que surgem, ainda que de modo menos explícito, nos discursos que ideologicamente buscam minimizar a importância e papel social do professor.

Ainda segundo os estudos da autora, esse contexto passa por modificações por volta das décadas de 1930 e 1940, provocadas pelas discussões nacionais, que levariam à formulação da Lei das Diretrizes e Bases, sancionada em 1961. Nesse sentido, Saviani (2012, p.74) afirma que “a teoria da educação que orientou as principais atividades pedagógicas em nosso território corresponde à pedagogia derivada da concepção humanista tradicional na sua vertente religiosa”.

Na década de 1930, inicia-se também o movimento da Escola Nova despertado pelas teorias propostas por John Dewey. A expressão “aprender a aprender”, presente nas teorias dele, passa a ser utilizada em vários discursos teóricos da educação e ainda é evidenciada em muitas correntes teóricas atuais. A expressão “professor reflexivo”, que tomou conta dos discursos sobre formação depois da publicação do livro de Shön – Profissional Reflexivo –, é, segundo Zeichner (2008), fruto do pensamento teórico de Dewey. Nos estudos sobre as teorias de John Dewey, Eidt (2009, p.20) afirma que a influência do pragmatismo é evidente em suas teorias, limitando o pensamento aos “limites da utilidade da ação”.

No processo investigativo das duas pesquisas aqui abordadas, encontraram-se evidências de que os princípios e práticas de formação docente presentes no campo de observação trazem em seu conteúdo indícios de vertentes teóricas sustentadas com pensamentos deweyianos.

O grupo de docentes e licenciandos em formação, que substanciaram as análises da primeira pesquisa, mostra, em suas experiências com o contato escolar, inquietações no sentido de propor algo diferenciado nas ações de ensino desenvolvidas. Nas falas dos licenciandos há menções de que a “aula diferenciada contribui com o aprendizado”; no entanto, o processo de elaboração das ações de ensino diverge de tal proposição e se apresenta desprovido de estudos que possibilitem identificar elementos que fariam a tal “aula diferenciada” acontecer. O planejamento das ações de formação acontece sem a discussão de conceitos que estão presentes na essência da atividade de ensino.

No caso de professores iniciantes na carreira é notável que o início de sua trajetória profissional é marcado por descobertas que possibilitam encarar o novo e explorar possíveis ações que progressivamente podem, ou não, levá-los à tomada de consciência das suas responsabilidades e do seu papel de educador. Essa é uma fase essencial de se constituir

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professor de Matemática, em que a partilha de significados no seu campo de atuação pode contribuir para ampliar sua capacidade de planejar, organizar, colocar em prática e avaliar o ensino (SOUZA, 2013).

Entretanto, os indícios dos dados das duas pesquisas mostram que as vertentes teóricas que fundamentam os princípios e práticas de formação, investigados aqui, não dão conta de sustentar propostas de formação docente que possam explorar a principal atividade do professor, que é o ensino, e propiciar condições favorecedoras para apropriação do conhecimento sobre atividade de ensino que coloque o sujeito em um movimento de desenvolvimento da sua consciência e personalidade como ser, social e histórico.

Algumas Considerações

Assim, buscou-se a compreensão da formação docente a partir das necessidades dos sujeitos envolvidos no processo, considerada na sua unidade básica, a atividade de ensino e na ideia de que o desenvolvimento humano depende da ação do sujeito sobre a natureza, de forma que este a transforma e se transforma, em um processo contínuo que propicia sua evolução. Para isso, ele cria, recria e se apropria daquilo que gerações anteriores produziram (LEONTIEV, 1978).

A atividade humana, como forma do sujeito relacionar-se com o mundo, tem o caráter intencional e também coletivo; o homem age em busca de atender suas necessidades e interesses como um ser individual, porém, para satisfazê-las, ele se vê diante da precisão de se apropriar de instrumentos e signos pertencentes a uma produção material e intelectual daquele grupo social ao qual ele está inserido. Nesse processo de apropriação, a atividade, que era coletiva e externa, passa a ser individual e internalizada (LEONTIEV, 1978).

Com esse fundamento teórico é que se discute a atividade de ensino como uma atividade humana intencional, movida pelo objeto a ser alcançado, tendo o professor como sujeito ativo e indispensável nesse processo. A apropriação do conhecimento produzido pela humanidade é premissa para o desenvolvimento intelectual do indivíduo.

Desse modo, vale assegurar que se “[...] o homem encontra um sistema de significações pronto, elaborado historicamente, e apropria-se dele tal como se apropria de um instrumento” (LEONTIEV, 1978, p.96), cabe à formação docente propiciar meios ao professor em formação para se apropriar do fenômeno da educação em sua totalidade, essência e significação e, dessa forma, planejar ações motivadas a partir do significado do todo - a atividade educativa.

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A intencionalidade da atividade de ensino, objeto de trabalho do professor, é a aprendizagem do estudante e “[...] requer um plano para sua concretização: partimos de um objetivo, definimos estratégia, elegemos materiais de ensino adequados, estabelecemos formas de desenvolver os conteúdos em sala de aula e realizamos avaliação” (MOURA, 2013, p.88). Tais pressupostos, que fazem com que o trabalho docente assuma a dimensão de práxis, não se confirmam nas ações materializadas pelos sujeitos envolvidos nas pesquisas aqui abordadas.

O contato dos sujeitos com a realidade escolar gera uma nova experiência para sua formação, porém distante de propiciar alterações da consciência desses indivíduos que lhes possibilitem práticas educativas que se constituam em práxis transformadora. É necessário, então, que se acrescentem, a esse cenário, elementos com possibilidades de provocar discussões que ultrapassem o nível de propostas de simples ações para a dimensão de formação humanizadora.

Nesse sentido, as ações desenvolvidas no contexto formativo devem ser desencadeadoras de uma reflexão que conduza os sujeitos nela envolvidos à apropriação da essência da atividade de ensino como propulsora do desenvolvimento humano.

REFERÊNCIAS

EIDT, N. M. A Educação Escolar e a Relação entre o Desenvolvimento do Pensamento e a Apropriação da Cultura: a psicologia de A. N. Leontiev como referência nuclear de análise. Tese (Doutorado em Educação Escolar). Faculdade de Ciências e Letras de Araraquara, Universidade Estadual Paulista, Araraquara/SP, 2009.

LEONTIEV, A. N. O desenvolvimento do psiquismo. Lisboa: Livros Horizonte, 1978.

MOURA, M. O. Educação Escolar: uma atividade? In: SOUZA, N. M. M. (Org.) Formação Continuada e as Dimensões do Currículo. Campo Grande/MS: Editora UFMS, 2013.

SAVIANI, D. A Pedagogia no Brasil, História e Teoria. Campinas/SP: Autores associados, 2012.

SOUZA, N. M. M. de. Professores que Ensinam Alunos que não Aprendem: paradoxos em contextos de escolarização básica e a busca da compreensão do papel da atividade de ensino em matemática. Relatório (Pós-Doutorado). Faculdade de Educação, Universidade de São Paulo. São Paulo, 2013.

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ZEICHNER, K. Uma análise crítica sobre “reflexão” como conceito estruturante na formação docente. Educ. Soc., Campinas, vol. 29, n. 103, p. 535-554, maio/ago. 2008.

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