DUCAÇÃO E LEITURA
NOVAS LINGUAGENS, NOVOS LEITORES
E
MARLy AMARILhA (ORGANIzADORA)
DUCAÇÃO E LEITURA
NOVAS LINGUAGENS, NOVOS LEITORESE
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) (Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil) Educação e leitura : novas linguagens, novos leitores / Marly Amarilha (organizadora). – Campinas, SP : Mercado de Letras ; Natal, RN : UFRN – Universidade Federal do Rio Grande do Norte, 2012.
ISBN 978-85-7591-253-9 (Mercado de Letras)
1. Cibercultura 2. Comunicação e educação 3. Inovações tecnológicas 4. Leitores – Formação 5. Leitura 6. Literatura I. Amarilha, Marly.
12-14957 CDD-418.4 Índices para catálogo sistemático:
1. Linguagem e educação : Educação e leitura : Prática de leitura : Linguística aplicada 418.4
capa e gerência editorial: Vande Rotta Gomide preparação dos originais: Editora Mercado de Letras
DIREITOS RESERVADOS PARA A LÍNGUA PORTUGUESA: © MERCADO DE LETRAS®
V.R. GOMIDE ME Rua João da Cruz e Souza, 53 Telefax: (19) 3241-7514 – CEP 13070-116 Campinas SP Brasil www.mercado-de-letras.com.br livros@mercado-de-letras.com.br 1a edição agosto/2013 IMPRESSÃO DIGITAL IMPRESSO NO BRASIL
Esta obra está protegida pela Lei 9610/98. É proibida sua reprodução parcial ou total sem a autorização prévia do Editor. O infrator estará sujeito às penalidades previstas na Lei.
SUMáRIO APRESENTAÇÃO . . . 7 Marly Amarilha Capítulo 1 COMUNICAÇÃO E EDUCAÇÃO: LINGUAGENS EM CURSO . . . 13 Adilson Citelli Capítulo 2
NOVOS MODOS DE LER E DE ESCREVER . . . 25 Ana Maria Sá de Carvalho
Capítulo 3
RECUPERAR A PALAVRA PARA
DECODIFICAR AS IMAGENS . . . 39 Antonio Ventura
Capítulo 4
EDUCAÇÃO E CIBERCULTURA: LER E
ESCREVER NA CONTEMPORANEIDADE . . . 55 Maria Luiza Oswald e
Capítulo 5
TOPOLOLOGIAS SOCIOCOGNITIVAS
E NOVOS LETRAMENTOS . . . 75 Maria das Graças Pinto Coelho
Capítulo 6
E-BOOk E FORMAÇÃO DE
ACADêMICOS E PROFESSORES . . . 93 Vera Wannmacher Pereira
Capítulo 7
hISTóRIA EM qUADRINhOS E LITERATURA
NA FORMAÇÃO DO LEITOR DE FICÇÃO . . . 107 Marly Amarilha
Capítulo 8
VOCê CONCORDA COM O PERSONAGEM? VAMOS DISCUTIR? RELAÇõES INTERATIVAS EM DISCUSSÃO DE hISTóRIAS
MEDIADAS PELO PROFESSOR . . . 119 Alessandra Cardozo de Freitas e
Maria do Carmo Fernandes Lopes
EDUCAÇÃO E LEITURA: NOVAS LINGUAGENS, NOVOS LEITORES 7
APRESENTAÇÃO
Leitores formados na cultura do impresso, muitos profissionais da educação se sentem, hoje, desconfortáveis frente à desenvoltura dos seus jovens aprendizes na relação com as novas tecnologias.
É visível que muitos desses novos leitores parecem já adaptados ao ritmo das novas linguagens. Essa observação inicial exige, nesta segunda década do século XXI, mudanças simultâneas, no olhar para o mundo e nas práticas educativas. Esses jovens leitores, muitos nativos desse território de novas mídias, continuam a solicitar educadores qualificados para que potencializem essas habilidades recém-emergentes e os tornem argutos selecionadores dos materiais aos quais são expostos.
Nessa nova geografia tecnológica e humana, o papel da educação e dos educadores permanece fundamental para que as novas gerações dele se beneficiem. Da mediação crítica depende o desenvolvimento intelectual, científico, ético e social do cidadão.
Neste volume, colocamos em foco a relação dos jovens com as novas linguagens, seu impacto na formação leitora diante de dispositivos tão maravilhosos e o trabalho seminal a ser realizado pelos educadores. O encantamento de ter ao toque dos dedos sobre o teclado, tal qual novo Midas, uma biblioteca, filmes emocionantes, séries televisivas intrigantes, jogos cativantes, a imagem e a voz do
8 EDITORA MERCADO DE LETRAS – COLEÇÃO LEITURAS NO BRASIL seu bem amado precisa estar acompanhado de razão e sensibilidade para acolher e dialogar de maneira competente com toda essa magia. A natureza das questões que emergem nessa cultura do ciberespaço, em simultâneo diálogo com a cultura secular do impresso, propõe uma discussão, necessariamente, inter e transdisciplinar da leitura nos novos meios e nos novos ambientes de aprendizagem. A escola, a sala de aula e seus principais protagonistas, o professor e os alunos veem-se provocados a se mobilizarem e aprenderem a transitar de um tempo a outro, de uma linguagem a outra buscando aprender e ensinar, não mais linearmente, mas compartilhando perplexidades, desafios e solidariedade.
A necessária articulação entre os novos meios de comunicação, aí implicadas as novas linguagens e processos educativos que daí se instauram é amplamente discutida no artigo do pesquisador Adilson Citelli. O autor assinala o surgimento de novas sensibilidades, novas habilidades. Nesse contexto, o autor chama a atenção para o circuito limitado que a cultura escolar explora, como por exemplo, a redação que circula apenas entre o professor e o aluno, quando a produção de um texto pressupõe a conquista de audiência mais ampla. No movimento dialético de ser portadora do conhecimento sistematizado a escola também é influenciada pela cultura dos novos tempos, e não é verdade que a ela está refratária. Seus protagonistas vivem simultaneamente ambos os espaços promovendo deslocamentos com os quais os novos educadores estão sendo desafiados.
É essa também a preocupação do artigo de Maria das Graças Coelho que estabelecendo descrições topográficas das convocações feitas à cognição e à sociabilidade explora os caminhos para novos letramentos. Desde o trânsito nas redes sociais aos planos de políticas públicas voltadas para a Educação a distância, a autora evidencia a mobilidade dos espaços de aprendizagem, que ganham com a virtualidade configurações flutuantes e também expansionistas. No contexto do capitalismo global, a qualidade da educação, visando à cidadania, à crítica precisa estar atenta aos mecanismos que se instauram e que podem continuar promovendo uma hegemonia controladora.
EDUCAÇÃO E LEITURA: NOVAS LINGUAGENS, NOVOS LEITORES 9 Decorrente desses novos tempos, novos gestos de leitura se estabelecem. Assim, Ana Maria Sá de Carvalho orienta sua reflexão para os caminhos da leitura como processo histórico e gestual em busca de se firmar como valor social. Recuperando a trajetória da Biblioteca dos Reis, aquela que herdamos do império português por força da mudança de D. João VI ao Brasil, o artigo mostra o percurso que se reafirma na busca por cidadania, informação e conhecimento com a chegada das novas tecnologias em nosso contexto educativo.
Ao tecer as articulações das vozes que compõem esta coletânea, a perspectiva do escritor e do editor se materializa na visão cortante de Antonio Ventura. O escritor e editor espanhol retoma o pensamento de Wittgenstein “Os limites do meu mundo são os limites da minha linguagem” para assinalar o empobrecimento das novas gerações no uso da linguagem e na construção do simbólico frente ao uso maciço das novas tecnologias e os valores que as acompanham. Argumenta o autor que há uma lacuna simbólica que tem dominado a cultura contemporânea, em que os jovens são os mais afetados, visto que no pouco domínio da linguagem também se perdem as ricas concepções de mundo, as nuances dos afetos.
Desafiando a lógica linear que a cultura do impresso e a escola cultivam, o artigo de Maria Luiza Oswald e Helenice Mirabelli Cassino Ferreira mostra resultados de pesquisas de seu grupo em que os novos leitores e novos escritores desenham práticas compartilhadas de ler e de escrever no contexto da cultura digital. Esse horizonte revela que os jovens têm se apropriado dos dispositivos a seu alcance para se tornarem sujeitos de conhecimento, seja na produção de uma sintaxe hipermidiática, seja na constituição de um sujeito mais autônomo e interativo. Reconhecendo essa configuração dinâmica, as autoras sugerem que professores e a escola precisam estar atentos aos vínculos que já estão vigentes entre educação e comunicação na vida das novas gerações.
No artigo da pesquisadora Vera Wannmacher destaca-se a produção de e-books como materiais que passam a compor a formação de acadêmicos e de professores. A ênfase permanece nas operações cognitivas envolvidas na leitura, que fundamentadas na psicolinguística evidenciam o uso dos movimentos ascendente e
10 EDITORA MERCADO DE LETRAS – COLEÇÃO LEITURAS NO BRASIL descendente no acercamento da compreensão textual. Decorrente da produção de e-books a autora mostra resultados de pesquisa realizada como esse material e comprova que ele já faz parte do circuito de formação de novos professores.
No artigo que assino, destaco a importância da habilidade intertextual no contexto contemporâneo da formação do leitor jovem. Os resultados que nosso grupo obteve com a pesquisa sobre a leitura de histórias em quadrinhos que mantêm relação intertextual com contos de fadas clássicos demonstram que, quando as práticas de leitura na escola acolhem a cultura que o aluno já vivencia o avanço qualitativo em interesse e formação pode ser conquistado. Depois de dez sessões de leitura de pares de histórias, uma em quadrinhos da Turma da Mônica e outra de um conto de fada, a maioria dos alunos já percebia a diferença entre os gêneros e se encantava com o diálogo entre o material que já dominava os quadrinhos e, a literatura, que era a novidade.
A coletânea se encerra mostrando uma sessão de leitura da pesquisa sobre os quadrinhos e dos contos de fadas na formação de alunos da escola fundamental, acima citada. No artigo assinado por Alessandra Freitas e Maria do Carmo Lopes fica evidenciada a participação seminal da mediação para desenvolver nos aprendizes habilidades de expressão de pensamento e defesa de suas ideias, exercício de argumentação e avanço na identidade cidadã desde a leitura prazerosa de quadrinhos e de literatura. Implicando, assim, que ao responder às provocações dos textos lidos os leitores se tornam interlocutores, ganhando dessa forma voz e autonomia; resultado esperado na formação desses novos leitores que se confrontam com a profusão das novas linguagens.
Educação e Leitura: novas linguagens, novos leitores procura
mostrar a relação mais próxima entre os saberes e, dessa forma, ampliar visões e vislumbrar mudanças necessárias na maneira como formamos os novos leitores, nesse novo maravilhoso mundo. Sem essa mudança, sem o enfrentamento do desconforto, a escola, por natureza, guardiã do conhecimento sistematizado, caminhará cada vez mais em descompasso com os novos tempos. Carregar 500 anos de tradição impressa e estabelecer uma tranquila convivência
EDUCAÇÃO E LEITURA: NOVAS LINGUAGENS, NOVOS LEITORES 11 com o mundo nas novas linguagens e das novas tecnologias, com lucidez, parece ser uma problemática necessária a ser debatida entre pesquisadores e profissionais de educação.
O Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade Federal do Rio Grande do Norte se sente gratificado em contar com interlocutores sensíveis, problematizadores, criativos na composição desta coletânea e espera que os seus leitores se sintam igualmente engajados neste fórum de ideias, problemas e inovações que se apresenta.1
Marly Amarilha
1. Este volume dá sequência à série Educação e Leitura, produção do Progra-ma de Pós-Graduação em Educação da Universidade Federal do Rio Grande do Norte; passa a integrar a Coleção Leituras no Brasil da Editora Mercado de Letras.