PERCEPÇÃO ENTOMOLÓGICA POR ALUNOS DO ENSINO MÉDIO NO MUNICÍPIO DE RIBEIRÃO DO PINHAL – PR, BRASIL
Richard Cordeiro da Silva (G–CCHE–UENP/CJ) Vanessa Delmônico (G–CCHE–UENP/CJ) Mateus Luiz Biancon (Orientador–CCHE–UENP/CJ)
RESUMO
A classe insecta destaca-se por ser o maior grupo de animais com cerca de 750.000 espécies descritas, estes animais possuem uma intensa relação com o ser humano, pois podem ser: insetos úteis, nocivos ou não interferirem na vida do homem. A falta de conhecimento sobre os insetos acaba construindo conceitos errôneos. O objetivo do trabalho foi mensurar o nível de percepção entomológica de alunos do ensino médio da rede pública de ensino. A pesquisa foi realizada com 44 alunos através de questionário fechado composto por sete questões. Quando questionados sobre a qual filo pertence os insetos, 66% definiram corretamente como Artrópodes. Dos animais percebidos como “insetos”, 88% dos pesquisados mostraram correto conhecimento. Ao realizar uma análise completa do questionário, onde os alunos teriam que acertar as cinco questões relacionadas aos insetos, observou-se que os mesmos apresentaram uma percepção incompleta, pois apenas 18,2% dos alunos obtiveram 100% de acerto, não possuindo um conhecimento geral, englobando morfologia, relação inseto/ser humano, representantes da classe Insecta e classificação.
Palavras-chave: Alunos. Insetos. Percepção Entomológica.
INTRODUÇÃO
A classe insecta destaca-se como o maior grupo de animais possuindo cerca de 750.000 espécies descritas. Tal sucesso tem como prova o enorme número de espécies e também sua radiação adaptativa, ocupando tanto o ambiente terrestre como também o aquático, ausentando-se somente em águas marinhas. O voo se destaca como o fator principal que proporcionou este sucesso, pois através dele foi possível realizar: a dispersão, fuga de predadores, acesso aos alimentos e a condições ambientais ideais (RUPPERT & BARNES, 1996).
Os insetos possuem uma intensa relação com a humanidade, sendo assim, pode-se afirmar que o homem não sobreviveria sem a presença dos insetos, pois o
bubônica não teriam controle sem a atuação dos mesmos. Em relação ao homem os insetos podem ser divididos em três categorias: os insetos úteis, que produzem o fio da seda, o mel, a cera e a laca , auxiliam na polinização das flores e também servem de alimento; Insetos nocivos, que atacam plantações, produtos estocados e são parasitos do homem e de animais; e demais insetos que não causam nenhum malefício ou benefício, porém fazem parte da cadeia alimentar de outros animais (BUZZI, 2002).
Como muitos outros animais, os insetos estão enfrentando uma enorme ameaça de extinção. Milhares de espécies tornaram-se extintas durante o século passado, e isso ocorreu através da desenfreada mudança na utilização da terra e como consequência do desflorestamento. Com esse rápido processo de perda biológica em todo o mundo, as estimativas sobre os números de espécies de insetos que se extinguirão no ano de 2025 chega aos milhões (BRUSCA, 2007).
As atitudes dos indivíduos com relação aos animais são influenciadas por uma gama de fatores como: a grande quantidade desses animais; a sensação tátil que o animal transmite; a visão que se tem dele; crença na espiritualidade atribuída a tal; a sensação de sujeira ou limpeza que ele transmite; doenças que são transmitidas e o conhecimento ou o desconhecimento sobre o animal (MORALES et al., 1997). Através desses fatores muitas pessoas criam conceitos errôneos, pois muitas vezes os invertebrados terrestres de hábito rasteiro são todos classificados como “insetos” (SILVA et al., 2010).
A Entomologia é abordada em diversas disciplinas que fazem parte da matriz curricular dos cursos de ensino fundamental, médio e superior. Os insetos são importantes organismos utilizados como modelos para atender às diversas áreas de Ensino das Ciências Biológicas, sendo elas: Evolução, Ecologia, Comportamento, Anatomia, Fisiologia, Bioquímica e Genética (GULLAN & CRANSTON, 2008). Devido às diferentes formas de fascínio que os insetos provocam nas pessoas, e também pelas múltiplas representações nas diferentes sociedades, este estudo tem como objetivo identificar o nível de percepção entomológica apresentada por alunos do Ensino Médio no município de Ribeirão do Pinhal, Paraná.
MATERIAL E MÉTODOS
O presente estudo foi desenvolvido no município de Ribeirão do Pinhal, Paraná, localizado na região norte do estado. O município conta com 13.522 habitantes, apresentando uma área de 374,73 km² com bioma formado pela Mata Atlântica (BRASIL, 2007).
A pesquisa foi aplicada aos alunos do 3º ano do Ensino Médio do Colégio Estadual Hermínia Lupion que fornece o Ensino Fundamental – Séries Iniciais e Finais, o Ensino Médio e o Curso de Formação de Docentes da Educação Infantil e dos Anos Iniciais do Ensino Fundamental, na modalidade Normal, nível médio (PARANÁ, 2010). Foram escolhidos alunos do 3º ano do Ensino Médio por já terem estudado o Filo Arthropoda durante o decurso do 2º ano do Ensino Médio, e também por ser o último ano escolar, estando os mesmos ao término deste, habilitados para a realização do concurso vestibular.
Os dados foram coletados em 24 de março de 2011, após consentimento da diretora do estabelecimento e através de questionário composto por sete questões, sendo cinco de abordagem entomológica e duas sobre os métodos de ensino/aprendizagem do tema. O questionário foi estruturado pelos autores e aplicado de forma individual após o consentimento do aluno em participar da pesquisa. Do público-alvo delimitado para o estudo, 44 alunos concordaram em participar, apresentando grande interesse no objetivo da pesquisa.
As questões abordaram a percepção sobre os insetos, como: importância, definição e biologia, como também os métodos de aprendizagem e existência de aulas práticas. Após a coleta dos dados foi realizada a identificação, análise e correção das questões respondidas pelos alunos.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Após a apresentação dos autores e do objetivo da pesquisa: “Percepção Entomológica” aos alunos, no primeiro momento houve uma questão inicial dos estudantes sobre o significado do termo “Entomologia”. Em primeiro momento, os estudantes não conseguiram entender o significado do tema da pesquisa. Diante desta primeira observação foi explicado o que era Entomologia e o que ela abordava. E após o contato com a temática, os alunos comentaram que já haviam estudado os “insetos”, mas que não houve menção do termo Entomologia.
A primeira pergunta foi: a qual filo pertence os insetos?, 66% marcaram corretamente a alternativa Arthropoda, em seguida 23% assinalaram Anellida, 9% Protozoa, 2% Chordata e nenhum dos pesquisados assinalou a alternativa Mollusca (Fig. 01). Apesar de mais da metade dos alunos definirem de forma correta o filo dos insetos, 34% mostraram dúvida e desconhecimento de animais representantes dos demais filos. Em uma pesquisa realizada com alunos do Ensino Fundamental Rocha (2010), constatou
que 34,5% dos pesquisados se dividiram entre Arthropoda e Anellida, e 35% entre Echinodermata e Mollusca.
Figura 1 – A qual filo pertence os insetos?
Na segunda questão foi abordado o número de pernas que os insetos possuem, 36% dos pesquisados responderam de forma correta, que os insetos possuem 3 pares de pernas, 33% responderam 4 pares de pernas, 24% responderam 2 pares de pernas e 7% responderam que os insetos não possuem pernas. Esta grande parcela (64%) que não soube distinguir de forma correta a quantidade de pernas que os insetos possuem, pode estar relacionando outros animais como: aranhas e minhocas com os insetos. Outro provável motivo para essa percepção errada é a criação de insetos com características humanas (braços, pernas, bocas e olhos semelhantes aos humanos) apresentada por filmes como “Vida de Inseto” e “Bee movie – A história de uma abelha”. A indústria cinematográfica corrobora com a construção de uma percepção errada sobre os insetos através de imagens caricaturais (antropomorfizadas) e também projetando imagens sinistra de perigo ou morte, imagens chocantes que provocam medo e pavor (MERTINS, 1986).
Figura 2 – (A) Insetos do filme “Vida de Insetos”, (B) Abelha com características humanas do filme “Bee Movie”.
66% 9% 23% 0%2% Chordata Arthropoda Annelida Protozoa Mollusca
Fonte: http://fezinhafe.blogspot.com/2011/05/domingofriofilme.html
De acordo com 77% dos alunos, podemos reconhecer os insetos através do número de pernas, antenas, olhos e as divisões do corpo, 23% dividiram entre as alternativas: “Tamanho” e “Aparência asquerosa”. Nenhum dos alunos assinalou as alternativas: “Pelo número de asas” e “Pelas cores desses animais”. Porém a escolha da alternativa correta (77%) pode ter sido influenciada pela segunda questão do questionário, que perguntava “Quantos pares de pernas os insetos possuem?”.
Grande parte dos pesquisados demonstraram conhecimento das relações entre os homens e os insetos, pois quando questionados sobre a “Alternativa que eles achavam correta em relação aos insetos”, 76% responderam que: “Existem insetos que causam malefícios ao homem como doenças e pragas, porém muitos deles trazem benefícios como: alimentos e produtos utilizados em nosso dia-a-dia”. Este resultado diverge dos dados apresentados por Modro et al., (2009) que pesquisaram a percepção entomológica por docentes e discentes do município de Xingu e avaliaram que 100% dos discentes do Ensino Fundamental consideraram os insetos como animais sem importância positiva. Rocha (2010), ressalta a necessidade de conhecimento da importância dos insetos, pois os mesmos participam de vários processos ecológicos presentes em seu habitat, sendo necessário a sociedade conhecer a natureza desses organismos, seu equilíbrio e desequilíbrio no meio, devido a inserção no dia-a-dia da vida do homem.
Na quinta questão os alunos tinham que marcar os animais que eles sabiam ser insetos, 88% realmente assinalaram exemplos de insetos, sendo destaque a alternativa “mosca” que foi assinalada por 95,4% dos alunos, 86,4% assinalou a alternativa “barata”, 84,1% a alternativa “besouro”, 81,8% assinalou a alternativa “cigarra”, 52,3% assinalou “borboleta e 34,1% assinalou “piolho” como exemplo de inseto. Apenas 12% consideram as aranhas, escorpiões e piolhos-de-cobra como representantes da classe Insecta. Modro et al., (2009), após pesquisa sobre percepção entomológica com alunos do ensino fundamental, concluiu que existe uma forte tendência em relacionar organismos classificados como insetos e não-insetos (anfíbios, répteis, mamíferos, quilópodes, diplópodes, gastrópodes, oligoquetas e fungos) em uma mesma etnocategoria “inseto”. De acordo com Posey (1983), popularmente os “insetos” abrangem outros animais que não pertencem à classe Insecta, como aranhas, cobras e ratos. Rocha et al., (2010), observaram em sua pesquisa sobre a utilização de modelos didáticos no ensino médio, que 61,45% dos educandos tiveram um excelente desenvolvimento na discussão e compreensão sobre as diferenças entre as classes Insecta, Crustácea e Chelicerata através da construção de modelos didáticos pelos
Os estudantes mencionaram as aulas de Biologia (79%), o dia-a-dia (14%), televisão (5%) e livros (2%) como os principais meios de aprendizado sobre os insetos. Nenhum aluno assinalou a alternativa “Internet” como meio de aprendizagem. Apesar de grande parcela ter mencionado as aulas de Biologia como o meio de maior aprendizagem a pesquisa demonstrou que certa parcela dos alunos não apresenta pleno conhecimento sobre os insetos. De acordo com Modro et al., (2009), a escolha das aulas de Biologia como principal meio de conhecimento pode mostrar o resultado de uma aprendizagem mecânica, na qual os alunos recebem as informações através da escola ou pelos livros, mas não conseguem relacioná-las com os seus conhecimentos prévios. Segundo Rego (1996), Vygotski afirma que a aprendizagem construtivista procura dar sentido a realidade que se conhece, dessa forma, a aprendizagem que os alunos adquirem na escola são significativas quando eles conseguem fazer uma relação das experiências do cotidiano com o conteúdo escolar, mas para que isto ocorra de forma aproveitável é necessário que o professor compreenda seu papel de mediador durante este processo.
Figura 3 – Realização de aulas práticas para o ensino de Entomologia
Quanto à existência de aulas práticas ou mesmo a simples visualização de insetos reais em aula, 29 dos 44 alunos pesquisados afirmaram que isso não aconteceu (Fig. 3). Muitas vezes os alunos não conseguem associar o desenho de um inseto exposto nos livros didáticos com um exemplar real. Labinas et al., (2010) afirma que se torna importante uma observação direta do tema proposto pelo professor e que tal observação remete ao aluno o contato direto com o objeto de análise. E as atividades compostas por observação podem ser realizadas sob forma de passeio pela escola, visitando jardins e hortas, ou podem ser realizadas dentro da sala de aula quando for apresentar pequenos animais ou plantas que podem ser expostas em ambiente fechado.
14 29 0 5 10 15 20 25 30 SIM NÃO SIM NÃO
Grande parte das escolas apresenta escassez de material para as aulas práticas de Biologia e também há uma falta de estrutura dos laboratórios. Diante dessa dificuldade observada, pesquisadores da área de ensino têm desenvolvido Kits de materiais didático-pedagógicos. Estes materiais tornam-se instrumentos auxiliares para a prática pedagógica, com a utilização de materiais de baixo custo, encontrados no cotidiano, o professor pode tornar as aulas mais atraentes e motivadoras, envolvendo o aluno da construção de seu conhecimento (MATOS et al., 2009).
Outra forma de aumentar o interesse e o aprendizado do aluno é a elaboração de uma metodologia lúdica, com a criação de jogos educativos, quebra-cabeça, folders, brincadeiras, cartilhas e cartazes para utilização durante as aulas e maior fixação da teoria, tal método se destaca por ser uma forma de apresentar o conteúdo supurando os obstáculos e transmitindo o conhecimento com entusiasmo (CURSINO et al., 2010).
CONCLUSÃO
Analisando individualmente as cinco questões referentes aos insetos, os alunos tiveram um índice de respostas corretas superior a 50%. Um dos destaques foi a questão sobre quais animais são insetos, na qual 88% dos alunos realmente conhecem exemplos de insetos. Porém ao analisar profundamente o questionário, onde os alunos teriam que acertar as cinco questões relacionadas aos insetos, observamos que os mesmos apresentaram uma percepção incompleta, pois apenas 18,2% dos alunos obtiveram 100% de acerto, não possuindo um conhecimento geral, que engloba a morfologia, relação inseto/ser humano, representantes da classe Insecta e classificação.
Visto que a maioria dos alunos considera as aulas de Biologia como maior meio de aprendizagem sobre os insetos, percebemos a importância de propormos aos professores: (1) construção de caixas entomológicas, na qual cada aluno pode ser responsável pela coleta de um inseto de uma determinada ordem, e diante da sala de aula montar e expor uma apresentação, (2) criação de modelos didáticos com materiais de fácil acesso, (3) aulas em ambientes abertos, na qual os insetos podem ser vistos em seu habitat; (4) jogos lúdicos e (5) documentários.
Desta forma, cabe aos professores de Ciências a promoção de aulas com uma ação informada e consciente, proporcionando a alfabetização científica dos estudantes como parte integrante da formação dos futuros cidadãos.
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Para citar este artigo:
SILVA, Richard Cordeiro da; DELMÔNICO, Vanessa. Percepção entomológica por
alunos do ensino médio no município de Ribeirão do Pinhal – PR, Brasil. In: XI
CONGRESSO DE EDUCAÇÃO DO NORTE PIONEIRO Jacarezinho. 2011. Anais. ..UENP – Universidade Estadual do Norte do Paraná – Centro de Ciências Humanas e da Educação e Centro de Letras Comunicação e Artes. Jacarezinho, 2011. ISSN – 18083579. p.595 – 603.
