Correla¸
c˜
oes entre parˆ
ametros de bulk
da mat´
eria nuclear para modelos
hadrˆ
onicos em uma abordagem
anal´ıtica (n˜
ao relativ´ıstica)
Autor:
Bianca Martins Santos
Orientador:
Dr. Antˆ
onio Delfino Jr.
Tese apresentada ao curso de P´os-Gradua¸c˜ao em F´ısica da Universidade Federal Fluminense como requisito parcial para obten¸c˜ao do t´ıtulo de doutor em F´ısica.
´
Area: F´ısica Nuclear Departamento de F´ısica
Niter´oi - RJ 19 de mar¸co de 2015
“Porque dele, e por meio dele, e para ele s˜ao todas as coisas. A ele, pois, a gl´oria eterna-mente. Am´em!”
Romanos 11:36
Universidade Federal Fluminense
Resumo
Doutorado em F´ısica
Correla¸c˜oes entre parˆametros de bulk da mat´eria nuclear para modelos hadrˆonicos em uma abordagem anal´ıtica (n˜ao relativ´ıstica)
por Bianca Martins Santos
Usando modelos hadrˆonicos FR-RMF (Finite-Range - Relativistic Mean-Field Models) es-tudamos v´arias propriedades de parˆametros de bulk para a mat´eria nuclear. Nosso interesse principal nesta investiga¸c˜ao foi analisar as poss´ıveis correla¸c˜oes entre tais parˆametros. Na busca de um melhor entendimento, optamos por fazer aproxima¸c˜oes em tais modelos que nos per-mitissem obter de forma anal´ıtica os parˆametros de bulk analisados. Isto foi feito atrav´es de duas aproxima¸c˜oes. Primeiro, o limite n˜ao relativ´ıstico (NR) dos modelos RMF. Segundo, a aproxima¸c˜ao na qual a densidade escalar ´e aproximada como sendo igual `a densidade vetorial, ρ = ρs. Ambas nos permitiram obter express˜oes anal´ıticas para os parˆametros de bulk e
investi-gar correla¸c˜oes entre estes. Mostramos a existˆencia de correla¸c˜ao entre a energia de simetria (J ) e sua inclina¸c˜ao (L), assim como entre a curvatura da energia de simetria ( Ksym) e L . Como
aplica¸c˜ao de tais correla¸c˜oes, constru´ımos v´ınculos para L e Ksym que s˜ao dois parˆametros
com grande incerteza na literatura. Identificamos pontos de cruzamentos nas curvas K(ρ) × ρ e L × ρ. Propomos uma rela¸c˜ao entre tais pontos de cruzamento e as correla¸c˜oes entre os parˆametros de bulk da mat´eria nuclear.
Universidade Federal Fluminense
Abstract
Doctorate in Physics
Correlation between nuclear matter bulk parameter for hadronics models in the analytical performace (nonrelativistic)
by Bianca Martins Santos
By using Finite-Range Relativistic Mean-Field Models (FR-RMF) we study nuclear matter bulk parameter properties. Correlations among such parameters were analysed in an analyti-cal perspective. In order to do that, we have performed two kinds of approximations. First, we approximate the scalar density to be equal to the vector density. Second, we perform a nonrelativistic (NR) limit of FR-RMF. With both approximations we have obtained analyti-cal expressions for several bulk parameters. With this, we present for the first time analytianalyti-cal correlations between the nuclear matter symmetry energy ( J ) versus its slope ( L ) as well as between the symmetry energy curvature ( Ksym) and L . As an application for such
correla-tions we propose constraints for L and Ksym, nowadays parameters with large uncertanties in
the literature. We have also identified cross-points in the curves K(ρ) × ρ and L × ρ. We conjecture the existence of a relation between such cross-points and the nuclear matter bulk parameter correlations.
Agradecimentos
• Agrade¸co primeiramente a Deus pelo dom da vida e pela oportunidade e privil´egio da realiza¸c˜ao de mais um objetivo. ”Bendirei ao Senhor em todo o tempo, o seu louvor estar´a continuamente na minha boca.”(Salmos 34:1)
• Agrade¸co ao meu esposo Carlos Eduardo, pelo amor e companheirismo dedicados durante esta jornada. Obrigada, por fazer parte da minha vida.
• Agrade¸co ao meu orientador Antˆonio Delfino por dedicar seu vasto conhecimento para minha forma¸c˜ao profissional. Sou grata pelas discuss˜oes e pela ajuda irrestrita dispensadas durante todo este tempo. Receba meu sincero agradecimento.
• Agrade¸co aos colaboradores Odilon Louren¸co e Mariana Dutra pelas discuss˜oes e pela ajuda dispensadas durante todo este tempo. Obrigada.
• Em mem´oria, agrade¸co ao meu pai Josu´e, a quem dedico esta tese, por n˜ao medir esfor¸cos em oferecer todo o apoio e ensinamento que me fez chegar at´e aqui. Aproveito para agradecer a minha m˜ae Sinhorinha que, juntamente com o meu pai, me educaram e me forneceram princ´ıpios que levarei durante a vida inteira. Obrigada por tudo que fizeram por mim.
• Agrade¸co ao meu irm˜ao Bruno por sempre estar presente e irrestritamente me ajudar em todos os momentos. Muito obrigada.
• Agrade¸co aos professores da P´os-Gradua¸c˜ao de F´ısica da UFF que contribu´ıram para minha forma¸c˜ao.
• Agrade¸co a todos os meus amigos pelo incentivo e ajuda necess´aria durante esta etapa.
• Agrade¸co `a secretaria de P´os-Gradua¸c˜ao do Instituto de F´ısica da UFF por todos os esclarecimentos e solicita¸c˜oes atendidas.
• Agrade¸co aos alunos de P´os-Gradua¸c˜ao em F´ısica da UFF por me proporcionarem uma boa convivˆencia durante esta jornada.
• Agrade¸co ao suporte fornecido pela Coordena¸c˜ao de Aperfei¸coamento de Pessoal de N´ıvel Superior (CAPES) e ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Cient´ıfico e Tecnol´ogico (CNPq).
Sum´
ario
Resumo iv
Abstract v
Agradecimentos vi
Sum´ario vii
Lista de Figuras ix
Lista de Tabelas xi
Introdu¸c˜ao 1
1 Modelos Hadrˆonicos 5
1.1 Modelos Relativ´ısticos de Campo M´edio . . . 7
2 Limite n˜ao-relativ´ıstico 15 2.1 Equa¸c˜oes de estado para o limite NR . . . 23
3 Aproxima¸c˜ao ρ = ρs 30 3.1 Comportamento de algumas grandezas f´ısicas em fun¸c˜ao da densidade . . . 34
3.2 Energia de simetria para aproxima¸c˜ao ρ = ρs . . . 37
4 Correla¸c˜oes 40 4.1 Correla¸c˜ao entre J e L . . . 42
4.1.1 Limite n˜ao relativ´ıstico, NR . . . 42
4.1.2 FR-RMF, resultados exatos . . . 44
4.1.3 Aplica¸c˜ao da correla¸c˜ao L × J . . . 45
4.2 Correla¸c˜ao entre Ksym com J e L . . . 47
4.2.1 Limite n˜ao relativ´ıstico, NR . . . 47
4.2.2 FR-RMF, resultados exatos . . . 49
4.2.3 Aplica¸c˜ao da correla¸c˜ao Ksym × L . . . 50
4.3 Correla¸c˜ao entre Qsym com J e L . . . 51
4.3.1 Limite n˜ao relativ´ıstico, NR . . . 51
4.3.2 Cruzamento nos parˆametros de bulk e as correla¸c˜oes Ksym× L e Qsym× L 54 4.4 Generaliza¸c˜ao e perspectivas para futuras correla¸c˜oes . . . 56
Conclus˜oes 62
SUM ´ARIO viii
A Passagens matem´aticas do limite n˜ao relativ´ıstico 65
A.1 Energia por part´ıcula . . . 65
A.2 Densidades vetorial e escalar . . . 66
A.3 Constantes de acoplamento A, B, G2S, G 2 V e G 2 TV . . . 67
A.4 Qo para o limite n˜ao relativ´ıstico . . . 71
B Passagens matem´aticas da aproxima¸c˜ao ρ = ρs 72 B.1 Constantes ∆o, Σo, α e β . . . 72
B.2 Coeficiente de skewness Qo . . . 81
B.3 Express˜ao para energia de simetria . . . 92
C C´alculo das correla¸c˜oes 95 C.1 Express˜ao para L × J . . . 95
C.2 Express˜ao para Ksym × L . . . 96
C.3 Express˜ao para Qsym × L . . . 100
C.4 Correla¸c˜ao Ko × Qo . . . 104
C.4.1 Resultado de Khan e Margueron . . . 104
Lista de Figuras
1.1 Curva da energia por part´ıcula em fun¸c˜ao de ρ/ρo, com modelos hadrˆonicos σ3+σ4
via c´alculo exato. S˜ao apresentadas trˆes parametriza¸c˜oes distintas apenas no valor da massa efetiva (0, 6, 0, 7 e 0, 8) e com valores fixos para energia de liga¸c˜ao Bo,
incompressibilidade Ko e densidade de satura¸c˜ao ρo dispostos na figura para a
mat´eria nuclear sim´etrica (y = 1/2). . . 12 1.2 Curva da press˜ao em fun¸c˜ao de ρ/ρo, com modelos hadrˆonicos σ3+ σ4 via c´alculo
exato. Dados usados s˜ao semelhantes ao da figura anterior. . . 12 1.3 Curva da incompressibilidade em fun¸c˜ao de ρ/ρo, com modelos hadrˆonicos σ3+σ4
via c´alculos exatos. S˜ao usadas massas efetivas distintas e extremas. . . 13 1.4 Curva da incompressibilidade em fun¸c˜ao de ρ/ρo, com modelos hadrˆonicos σ3+σ4
via c´alculos exatos. S˜ao usadas massas efetivas pr´oximas do intervalo 0, 58 ≤ m∗≤ 0, 64. . . 13
1.5 L × ρ/ρo, com modelos hadrˆonicos σ3 + σ4 via c´alculo exato. . . 14
2.1 Curva da energia por part´ıcula em fun¸c˜ao de ρ/ρo, com modelos hadrˆonicos σ3+σ4
via c´alculo exato (linha cheia) em compara¸c˜ao com sua vers˜ao n˜ao-relativ´ıstica (linha tracejada). S˜ao apresentados trˆes modelos distintos no valor de m∗ (0, 6, 0, 7 e 0, 8) e com valores fixos para energia de liga¸c˜ao Bo, incompressibilidade Ko,
e densidade de satura¸c˜ao ρo dispostos na figura, para mat´eria nuclear sim´etrica
(y = 1/2). . . 24 2.2 Curva da press˜ao em fun¸c˜ao de ρ/ρo, com modelos hadrˆonicos σ3+ σ4 via c´alculo
exato (linha cheia) em compara¸c˜ao com sua vers˜ao n˜ao-relativ´ıstica (linha trace-jada). Dados usados s˜ao semelhantes ao da figura anterior. . . 24 2.3 Incompressibilidade em fun¸c˜ao de ρ/ρo para limite NR. Dados usados est˜ao
dis-postos na figura. . . 25 2.4 Termos da Eq. (2.60) em fun¸c˜ao de ρ/ρo para limite NR. . . 25
2.5 Inclina¸c˜ao da energia de simetria em fun¸c˜ao de ρ/ρo para o limite NR. . . 29
3.1 Curva de ρs
ρo por
ρ
ρo para diferentes modelos RMF conhecidos na literatura. A
curva tracejada indica a reta ρ = ρs. . . 30
3.2 Curva ¯M × ρ/ρo para aproxima¸c˜ao ρ = ρs. Foram fixados na figura os valores
m∗= 0, 6, ρo= 0, 15 fm−3, Bo= 16 MeV e Ko= 250 MeV. . . 32
3.3 Curva da energia por part´ıcula em fun¸c˜ao de ρ/ρo, com modelos hadrˆonicos σ3+
σ4 segundo a aproxima¸c˜ao ρ = ρs (linha tra¸co-ponto) em compara¸c˜ao com o
limite NR (linha tracejada) e o c´alculo exato (linha cheia). S˜ao apresentados trˆes modelos distintos no valor de m∗ (0, 6, 0, 7 e 0, 8) e com valores fixos para energia de liga¸c˜ao Bo, incompressibilidade Ko, e densidade de satura¸c˜ao ρo dispostos na
figura para mat´eria nuclear sim´etrica (y = 1/2). . . 34
LISTA DE FIGURAS x
3.4 Curva da press˜ao em fun¸c˜ao de ρ/ρo, com modelos hadrˆonicos σ3+ σ4 segundo a
aproxima¸c˜ao ρ = ρs (linha tra¸co-ponto) em compara¸c˜ao com o limite NR (linha
tracejada) e o c´alculo exato (linha cheia). Dados usados s˜ao semelhantes ao da figura anterior. . . 35 3.5 Incompressibilidade em fun¸c˜ao de ρ/ρo para aproxima¸c˜ao ρ = ρs. Dados usados
est˜ao dispostos na figura. . . 35 3.6 Termos da Eq. (3.11) em fun¸c˜ao de ρ/ρo aproxima¸c˜ao ρ = ρs. . . 36
4.1 Efeito de ∆f na correla¸c˜ao L × J da Eq. (4.6) para (a) 0, 50 ≤ m∗ ≤ 0, 80, e (b) 250 ≤ Ko≤ 315 MeV. . . 43
4.2 L × J para as parametriza¸c˜oes (a) NLM5 [66], NL3 [57] e SMFT2 [67] (ver texto) e (b) parametriza¸c˜oes com o mesmo m∗. . . 44 4.3 Restri¸c˜ao para os valores de J e L no plano L × J (ver texto). . . 45 4.4 Compara¸c˜ao entre a dependˆencia de L com (a) Ko e (b) m∗ para modelos NR e
FR-RMF para J = 25, 30 e 35 MeV. . . 46 4.5 Compara¸c˜ao entre os limites de L obtidos na presente tese e os determinados por
Dong et al. [73], Carbone et al. [74], Liu et al. [75], Tsang et al. [76], Warda et al. [77], Danielewicz and Lee [78], Shetty et al. [79], Chen et al. [72], M¨oller et al. [80], and Chen [81]. . . 46 4.6 Limites de L obtidos na presente tese comparados com os limites obtidos a partir
de 33 referˆencias diferentes. As referˆencias utilizadas na figura s˜ao indicadas por letras do alfabeto onde cada letra representa uma correspondente bibliografia. Tais referˆencias s˜ao, respectivamente, A [72], B [78], C [73], D [79], E [77], F [82], G [75], H [83], I [80], J [81], K [84], L [85], M [55], N [86], O [24, 87], P [76, 88], Q [89], R [90], S [91], T [92], U [74], V [93], W [94], X [95], Y [96], Z [97], F [98], G [99], H [100], I [101], J [102], L [103], M [104]. . . 47 4.7 Correla¸c˜ao entre Ksym e L (ver o texto). . . 49
4.8 Restri¸c˜ao de Ksym no plano Ksym× L (ver texto). . . 50
4.9 Compara¸c˜ao entre a dependˆencia de (a) Ko e (b) m∗ de Ksym para modelos NR
e FR-RMF exatos. . . 51 4.10 Varia¸c˜ao de Qsym em rela¸c˜ao a L e m∗ para o limite n˜ao relativ´ıstico. Observe
que a varia¸c˜ao de Qsym ´e a mesma em ambas as curvas. . . 53
4.11 Varia¸c˜ao de Qsym em rela¸c˜ao a K para o limite n˜ao relativ´ıstico, para ρo =
0, 15 fm−3, Bo= 16 MeV, m∗ = 0, 6 e J = 30 MeV fixos. . . 53
4.12 L4 × Ksym,4(esquerda) e L4 × Qsym,4(direita), segundo o limite NR dos modelos
NLPC. Os dados utilizados est˜ao dispostos na figura. . . 59 4.13 L4 × ρ/ρo para valores grandes de ρ, segundo o limite NR dos modelos NLPC.
Os dados utilizados est˜ao dispostos na figura. . . 59 4.14 Qsym,4 × Ksym,4 (esquerda) e Isym,4 × Ksym,4 (direita), segundo o limite NR dos
modelos NLPC. Os dados utilizados est˜ao dispostos na figura. . . 60 4.15 Ksym,4× ρ/ρo para valores grandes de ρ, segundo o limite NR dos modelos NLPC.
Os dados utilizados est˜ao dispostos na figura. . . 61 4.16 Curva L × ρ/ρo, segundo o limite NR, calculada de forma exata pela Eq. (2.52),
em confronto com as contribui¸c˜oes de ordens superiores da Eq. (4.37). Os dados utilizados est˜ao dispostos na figura. . . 62 4.17 Curvas L4 × ρ/ρo (esquerda) e Ksym,4 × ρ/ρo (direita), segundo o limite NR,
calculada de forma exata pelas Eqs. (2.87) e (2.88), respectivamente, em confronto com as contribui¸c˜oes de ordens superiores da Eq. (4.57). Os dados utilizados est˜ao dispostos na figura. . . 62
Lista de Tabelas
4.1 Propriedades da mat´eria nuclear, na densidade de satura¸c˜ao, dos modelos FR-RMF usados na correla¸c˜ao L × J . . . 48 4.2 Propriedades da mat´eria nuclear, na densidade de satura¸c˜ao, dos modelos
FR-RMF usados para correla¸c˜ao Ksym × L. . . 51
Introdu¸
c˜
ao
Grande parte dos modelos e aproxima¸c˜oes em f´ısica nuclear reflete o fato que n˜ao h´a uma for¸ca nucleon-nucleon exata. Como consequˆencia, as for¸cas nucleares propostas tiveram que ser for-muladas para reproduzir dados experimentais de deslocamentos de fase para energias de at´e 200 MeV. Os primeiros potenciais nucleon-nucleon propostos, ditos realistas, foram fenomenol´ogicos. Um bom exemplar desta categoria ´e o potencial de Reid [1]. Potenciais realistas mais modernos e chamados te´oricos s˜ao baseados em teoria de campos. O ingrediente principal de tais potenci-ais ´e a troca de b´osons (m´esons). Chama-se tais potenciais de O.B.E.P. (One-Boson Exchange Potential) e seus representantes mais famosos s˜ao os potenciais de Bonn e de Paris (veja por exemplo a referˆencia [2]). Seja fenomenol´ogico ou te´orico, o potencial nucleon-nucleon cont´em na parte de curto alcance uma grande repuls˜ao. Isto faz com que a aproxima¸c˜ao de Hartree-Fock n˜ao possa ser usada diretamente pois n˜ao converge. Isto dificultou bastante os c´alculos em sis-temas com muitos nucleons na d´ecada de 50 at´e que Brueckner propˆos somar todas as intera¸c˜oes nucleon-nucleon de uma forma efetiva, onde neste caso a s´erie infinita convergeria. Assim, at´e hoje usa-se com relativo sucesso o m´etodo Brueckner-Hartree-Fock (BHF) [3], onde pode-se ou n˜ao incluir os estados do continuo, diagramas part´ıcula-buraco, bolhas etc [2]. Dessa forma, dada uma intera¸c˜ao que bem descreva os dados experimentais de dois nucleons, podem-se obter diferentes informa¸c˜oes quanto `a energia e ao ponto de satura¸c˜ao da mat´eria nuclear infinita, bem como diferentes espectros para n´ucleos finitos.
Nesta tese, estudaremos sistemas com muitos nucleons mas n˜ao usaremos o m´etodo BHF. Nossa abordagem para tais sistemas ser´a modelos efetivos baseados em teoria de campos, inicial-mente em uma perspectiva relativ´ıstica. Parte-se de uma densidade lagrangiana com invariˆancia de Lorentz onde os graus de liberdade s˜ao nucleons e m´esons. Intera¸c˜oes nucleon-nucleon s˜ao descritas via troca de m´esons escalares (parte atrativa) e vetoriais (parte repulsiva). As equa¸c˜oes de movimento s˜ao provenientes das equa¸c˜oes de Euler-Lagrange para os campos e sua solu¸c˜ao ser´a feita via aproxima¸c˜ao de campo m´edio. Uma vez que tais sistemas s˜ao tratados relativisti-camente, tais modelos s˜ao usualmente chamados de modelos RMF (iniciais de Relativistic Mean-Field). Posteriormente, adicionaremos `as intera¸c˜oes nucleon-nucleon termos de auto-intera¸c˜ao do m´eson escalar c´ubicos e qu´articos em que se espera simular for¸cas de trˆes e de quatro nucleons respectivamente. Estes modelos s˜ao conhecidos na literatura como modelos de Boguta-Bodmer [4].
Muitas aplica¸c˜oes para diferentes modelos RMF, via c´alculos exatos, dentro do que se pode esperar para modelos de campo m´edio, s˜ao apresentadas. Aqui, basicamente, nos referimos a c´alculos de parˆametros de bulk da mat´eria nuclear. Particularmente, no entanto, estaremos mais interessados em algum tipo de redu¸c˜ao dos modelos RMF que nos permita trat´a-los de forma anal´ıtica. Apesar de significar que isto nos levaria a resultados menos precisos, h´a uma l´ogica neste caminho. Isto porque nossa expectativa ´e que a forma anal´ıtica de tais modelos sirva como um bom guia para verificar aspectos interessantes que em sua forma exata, solucionada apenas numericamente, seria de percep¸c˜ao mais dif´ıcil. Nesta busca pela analiticidade dos modelos RMF, usamos de formas distintas:
(a) o limite n˜ao relativ´ıstico (NR) dos modelos RMF, e
Introdu¸c˜ao 2
(b) a aproxima¸c˜ao na qual a densidade escalar ´e aproximada como sendo igual `a densidade vetorial, ρ = ρs. No cap´ıtulo 3, apresentamos uma justificativa para tal aproxima¸c˜ao.
A partir dessas duas vertentes buscaremos investigar poss´ıveis correla¸c˜oes entre os parˆametros de bulk da mat´eria nuclear.
A investiga¸c˜ao de correla¸c˜oes entre observ´aveis em f´ısica ´e um tema importante. A raz˜ao ´e que a informa¸c˜ao sobre um observ´avel d´a informa¸c˜oes sobre o outro. Particularmente em f´ısica nuclear, quando n˜ao se tem uma intera¸c˜ao nucleon-nucleon bem estabelecida sua constru¸c˜ao ´e feita com ingredientes te´oricos na intera¸c˜ao nucleon-nucleon prevendo troca de m´esons. Este procedimento imp˜oe, no entanto, um grande n´umero de parˆametros livres. Tais parˆametros precisam ser ajustados para reproduzir observ´aveis experimentalmente bem conhecidos. Assim, tais correla¸c˜oes adquirem uma grande importˆancia nesta ´area pois evitam parametriza¸c˜oes re-dundantes. No caso de modelos efetivos do tipo RMF, assim como para modelos tipo Skyrme [5, 6], o estudo de correla¸c˜oes adquire grande importˆancia na medida em que h´a centenas de tais modelos na literatura [7, 8]. Um bom conhecimento sobre correla¸c˜oes permitir´a reduzir este grande n´umero de modelos. Este ´e o motivo primordial de nossa busca por correla¸c˜oes em f´ısica nuclear. Assim, na presente tese, discutiremos algumas correla¸c˜oes que julgamos relevantes no estudo da mat´eria nuclear.
No est´agio atual da f´ısica nuclear ainda h´a poucas correla¸c˜oes entre os parˆametros de bulk bem estabelecidas. Uma delas ´e usualmente conhecida como a linha de Coester [9] e correla-ciona a densidade de satura¸c˜ao (ρo) com a energia de liga¸c˜ao ( Bo). Isto ´e, diferentes for¸cas
nucleares produzem diferentes valores para o conjunto ( Bo, ρo). No entanto, verifica-se que
tais pontos est˜ao bem pr´oximos de uma linha reta (linha de Coester, na verdade uma banda). Uma outra correla¸c˜ao foi estudada por Furnstahl-Rusnak-Serot (FRS) [10] que reportou a cor-rela¸c˜ao entre o desdobramento de energia spin-´orbita de n´ucleos finitos com camada fechada (16O ,40Ca ,208P b ) e a massa efetiva do nucleon na densidade de satura¸c˜ao ρ = ρo. O
resul-tado de tal estudo mostra que bons valores para estes desdobramentos s˜ao obtidos para uma classe restrita de modelos RMF que apresentam m∗no intervalo 0, 58 ≤ m∗≤ 0, 64. Este v´ınculo ´
e muito importante porque relaciona de forma clara resultados obtidos para a mat´eria nuclear infinita (um modelo hipot´etico que considera o n´umero de pr´otons igual ao de nˆeutrons e que al´em disso despreza a intera¸c˜ao coulombiana) com resultados experimentais dos espectros de n´ucleos finitos. Recentemente, a correla¸c˜ao entre L e J foi proposta por Ducoin et al. [11] para um conjunto de modelos RMF e Skyrme. Tal estudo, entretanto, foi baseado em resultados num´ericos para J e L, obtidos a partir de selecionadas parametriza¸c˜oes. Chamamos tamb´em a aten¸c˜ao do leitor para investiga¸c˜oes extensas sobre os parˆametros de bulk J e L tanto em mod-elos relativ´ısticos quanto em n˜ao relativ´ısticos tipo Skyrme [12, 13]. Nesse contexto, correla¸c˜oes entre parˆametros de bulk ser˜ao estudados ao longo da tese, cuja organiza¸c˜ao est´a disposta da seguinte forma.
No cap´ıtulo 1 apresentamos os modelos hadrˆonicos utilizados nesta tese. Destacamos que embora exista uma vasta quantidades desses modelos, nos restringiremos apenas aos modelos relativ´ısticos de campo m´edio (RMF), cujo modelo gerador de todos foi o modelo de Walecka proposto em 1974 [14]. Nos modelos RMF, basicamente os b´arions interagem entre si atrav´es da troca de m´esons escalar (σ) e vetorial (ω). No entanto, quando os modelos s˜ao estendidos para descrever a mat´eria estelar, cujas densidades s˜ao elevadas, h´ıperons geralmente s˜ao tamb´em inclu´ıdos. Vers˜oes mais sofisticadas incluem outros m´esons tais como ρ, δ, etc. Assim, iden-tificamos sete tipos diferentes de parametriza¸c˜oes para os modelos chamados RMF. Equa¸c˜oes gerais para energia e press˜ao s˜ao apresentadas, onde tais express˜oes podem ser reduzidas a uma espec´ıfica parametriza¸c˜ao das sete que foram relacionadas. Basicamente s˜ao parametriza¸c˜oes distintas para o modelo de Walecka adicionado com termos n˜ao lineares de intera¸c˜oes mesˆonicas σ3 + σ4. Express˜oes para energia, press˜ao e incompressibilidade bem como ilustra¸c˜oes do com-portamento de algumas grandezas em fun¸c˜ao da densidade s˜ao apresentadas. Ao final deste
Introdu¸c˜ao 3
cap´ıtulo, mostramos que existe um cruzamento das incompressibilidades para os modelos RMF, generalizando igual achado para modelos tipo Skyrme feitas por Khan e Margueron [15]. Al´em disso, vemos que, curiosamente, tamb´em existe um ponto de cruzamento nas inclina¸c˜oes da energia de simetria para diferentes modelos. Estes dois pontos de cruzamento ser˜ao discutido novamente no cap´ıtulo 4 quando os conectarmos com a existˆencia de correla¸c˜oes.
O cap´ıtulo 2 abre o estudo do limite n˜ao-relativ´ıstico (NR). Constru´ımos este limite atrav´es de trˆes etapas. Primeiramente, selecionamos modelos RMF que contenham apenas n˜ao lineari-dades via intera¸c˜oes c´ubicas e qu´articas no campo escalar σ. De forma concisa, escolhemos modelos com contribui¸c˜oes σ3 e σ4 na densidade lagrangiana. Basicamente, tais modelos s˜ao conhecidos como modelos Boguta-Bodmer [4]. Em seguida, usamos suas vers˜oes de alcance nulo (intera¸c˜oes de contato), citados na literatura como modelos NLPC (do inglˆes, NonLinear Point-Coupling models) [16, 17, 18, 19, 20, 21], onde a justificativa para tais vers˜oes ´e apresentada. E em terceiro, realizamos o limite n˜ao relativ´ıstico dos modelos NLPC, agora de contato, baseados na normaliza¸c˜ao do spinor que descreve a fun¸c˜ao de onda relativ´ıstica, ap´os a redu¸c˜ao de sua pequena componente, exatamente o mesmo caminho desenvolvido na Ref. [22]. Em particular, apresentamos express˜oes totalmente anal´ıticas para as constantes do modelo bem como para os parˆametros de bulk que julgamos relevantes no estudo da mat´eria nuclear. Mostramos que os cruzamentos obtidos para incompressibilidade e inclina¸c˜ao da energia de simetria observados no c´alculo exato dos modelos RMF, como mostrado no cap´ıtulo 1, tamb´em acontecem no limite NR. Desenvolvemos neste cap´ıtulo uma express˜ao para determinar o valor do ponto de cruzamento das incompressibilidades (ρc)K. Esta express˜ao ´e obtida atrav´es da observa¸c˜ao do
compor-tamento dos termos da equa¸c˜ao para incompressibilidade K(ρ), segundo o limite NR. Desta forma, supondo dois modelos distintos apenas no valor da incompressibilidade de satura¸c˜ao Ko,
e fixando os outros parˆametros do modelo: energia de liga¸c˜ao (Bo), a densidade de satura¸c˜ao
(ρo) e massa efetiva (m∗), encontramos uma express˜ao anal´ıtica para (ρc)K.
Outra abordagem para os modelos RMF ´e apresentada no cap´ıtulo 3, a partir da aprox-ima¸c˜ao ρ = ρs. Esta aproxima¸c˜ao ´e um caso particular dos modelos NLPC. Uma vantagem
desta aproxima¸c˜ao, assim como tamb´em a do limite n˜ao relativ´ıstico (NR), apresentado no cap´ıtulo 2, ´e a simplifica¸c˜ao dos modelos RMF para vers˜oes anal´ıticas. Uma diferen¸ca que merece ser mencionada entre a aproxima¸c˜ao ρ = ρs e a NR ´e que a primeira ainda cont´em
um certo conte´udo relativ´ıstico do modelo, mais precisamente na sua massa efetiva. Escreve-mos neste cap´ıtulo express˜oes para algumas grandezas f´ısicas em fun¸c˜ao da densidade segundo a aproxima¸c˜ao ρ = ρs. Verificamos tamb´em a existˆencia do cruzamento das
incompressibili-dades para esta aproxima¸c˜ao. E em an´alise semelhante feita para o limite NR, determinamos uma express˜ao para a densidade de cruzamento das incompressibilidades (ρc)K, agora segundo
a aproxima¸c˜ao ρ = ρs. Comparamos as curvas apresentadas neste cap´ıtulo com as encontradas
em cap´ıtulos anteriores.
O estudo sobre as correla¸c˜oes entre os parˆametros de bulk, bem como os cruzamentos de alguns desses parˆametros ´e descrito no cap´ıtulo 4, ´ultimo desta tese. Como j´a mencionado, na f´ısica, correla¸c˜oes entre observ´aveis s˜ao uma importante quest˜ao. Isto porque, o conhecimento de uma grandeza cont´em informa¸c˜oes sobre outra e isto, por si s´o, organiza e simplifica o entendi-mento do que se est´a estudando. Neste cap´ıtulo, identificamos que os limites NR dos modelos NLPC podem ser usados como uma orienta¸c˜ao adequada para inferir poss´ıveis correla¸c˜oes rela-cionadas com modelos RMF exatos com intera¸c˜oes σ3 e σ4. Desta forma, as correla¸c˜oes entre as quantidades na densidade de satura¸c˜ao (ρ = ρo), obtidas a partir do limite n˜ao relativ´ıstico
s˜ao reproduzidas pelos modelos RMF. A partir do limite NR estabelecemos, pela primeira vez, uma correla¸c˜ao anal´ıtica entre a energia de simetria ( J ) e sua inclina¸c˜ao ( L ), assim como tamb´em entre outras grandezas. Como exemplos, a correla¸c˜ao entre a curvatura da energia de simetria ( Ksym) e L , assim como a entre a terceira derivada da energia de simetria ( Qsym)
Introdu¸c˜ao 4
como fun¸c˜ao de J , de acordo com a restri¸c˜ao FRS [10]. Este ´e um resultado muito importante da tese pois estabelece uma previs˜ao [23]. Analogamente, mas com base na situa¸c˜ao em que a correla¸c˜ao entre Ksym ´e L ´e obtida, propomos tamb´em um gr´afico que estabelece um v´ınculo no
plano Ksym× L. Isto ´e, modelos RMF que satisfa¸cam a condi¸c˜ao FRS e al´em disso apresentem
25 ≤ J ≤ 35 MeV, intervalo bem aceito na literatura [7, 8, 24], devem estar na regi˜ao de v´ınculo. Nas ´ultimas se¸c˜oes deste cap´ıtulo, estendemos o estudo de Khan e Margueron [15], feito para o cruzamento das incompressibilidades para modelos de Skyrme, para um novo parˆametro de bulk L , onde tamb´em, como mostramos, h´a um ponto de cruzamento (ρc)L. No final deste
cap´ıtulo, desenvolvemos uma fun¸c˜ao geral para descrever pontos de cruzamentos em parˆametros de bulk que exibem correla¸c˜oes. Com esta fun¸c˜ao, ´e poss´ıvel prever quais parˆametros poder˜ao exibir correla¸c˜oes e, consequentemente, qual parˆametro ter´a um cruzamento quando for disposto em fun¸c˜ao da densidade. Tamb´em discutimos a validade desta generaliza¸c˜ao e aplicamos esta generaliza¸c˜ao a outros dois parˆametros de bulk.
Os apˆendices desta tese mostram as passagens matem´aticas de express˜oes totalmente anal´ıticas apresentadas nos cap´ıtulos anteriores e est˜ao assim organizados: O apˆendice A cont´em os c´alculos para determina¸c˜ao das constantes de acoplamento do modelo e de algumas quantidades que aju-dam a descrever propriedades da mat´eria nuclear, segundo o limite NR. O apˆendice B traz detalhes sobre as contas relacionadas `a obten¸c˜ao das constantes do modelo, assim como o coefi-ciente de skewness ( Qo) e a energia de simetria, segundo a aproxima¸c˜ao ρ = ρs. E o apˆendice
C ´e destinado a descrever os c´alculos envolvidos nas express˜oes anal´ıticas para as correla¸c˜oes, estudadas no cap´ıtulo 4. Os c´alculos apresentados aqui s˜ao referentes ao limite NR dos mode-los NLPC. E, ainda neste apˆendice, apresentamos uma formula¸c˜ao geral proposta por Khan e Margueron [15], que pode ser aplicada a qualquer modelo.
Cap´ıtulo 1
Modelos Hadrˆ
onicos
Na literatura existe uma vasta quantidades de modelos hadrˆonicos. Tais modelos tentam descrever a mat´eria nuclear constitu´ıda de hadrons. Estes, compostos por quarks, s˜ao trata-dos de forma simplificada como part´ıculas pontuais e sem estrutura. Os exemplos de hadrons mais conhecidos s˜ao pr´otons e nˆeutrons, tamb´em chamados de nucleons, que constituem ba-sicamente a mat´eria nuclear ordin´aria dos n´ucleos. Nucleons mantˆem-se internamente coesos no interior do n´ucleo devido `a intera¸c˜ao forte. Tal intera¸c˜ao ´e uma das quatro for¸cas fun-damentais da natureza. Diferentemente do caso coulombiano, onde a intera¸c˜ao ´e exatamente conhecida, a intera¸c˜ao nucleon-nucleon n˜ao ´e exatamente conhecida. Portanto, fez-se necess´aria uma modelagem baseada em dados experimentais de espalhamento nucleon-nucleon. Experi-mentos do espalhamento pr´oton-pr´oton, ainda na d´ecada de 50, mostraram haver uma troca de sinal no deslocamento de fase para energias em torno de 200 MeV. A partir disso, teoricamente, abriram-se duas possibilidades de constru¸c˜ao da intera¸c˜ao nucleon-nucleon que reproduzissem tais experimentos. A primeira exigia que a intera¸c˜ao contivesse uma parte repulsiva de curto alcance combinada com uma parte atrativa de alcance maior e a segunda propunha uma in-tera¸c˜ao nucleon-nucleon dependente da energia, ou seja, n˜ao local. Historicamente, a primeira possibilidade mostrou-se vitoriosa. Hoje, as intera¸c˜oes nucleon-nucleon consideradas como mais realistas s˜ao locais e dependem apenas da distˆancia relativa entre os nucleons, assim como de um conjunto de parˆametros ajustados. Exemplos de tais intera¸c˜oes s˜ao o potencial de Reid, o potencial de Bonn e o potencial de Paris. Todos eles cont´em ingredientes bem aceitos tais como, (1) uma forte repuls˜ao em distˆancias em torno de 0,4 fm e (2) uma parte atrativa para distˆancias de aproximadamente 2 fm que descreva a troca de um p´ıon, usualmente chamada em inglˆes OPEP (One Pion Exchange Potential) [3]. Pelo exposto acima, a descri¸c˜ao de sistemas nucleares ´e feita propondo-se uma intera¸c˜ao e a partir da´ı, seus parˆametros livres s˜ao ajusta-dos para reproduzir os observ´aveis de estado ligado (energia negativa) e espalhamento (energia positiva) que se conhecem da f´ısica de dois nucleons. Feito isso, os observ´aveis pertinentes a n´ucleos mais leves, mais pesados, mat´eria nuclear e estrela de nˆeutrons podem ser calculados com a intera¸c˜ao proposta. De um modo geral, a qualidade da intera¸c˜ao se associa com o n´umero de parˆametros livres existentes para ajuste. Todas as intera¸c˜oes propostas s˜ao baseadas na possibilidade da troca de m´esons entre os nucleons.
Para c´alculos com sistemas de muitos nucleons h´a pelo menos duas linhas competitivas de abordagem. A mais tradicional utiliza as intera¸c˜oes nucleon-nucleon mais representativas no m´etodo Brueckner-Hartree-Fock (BHF) [3], que ´e bem estabelecido para c´alculos de sistemas com muitos nucleons. Usando-se esta linha, toda a informa¸c˜ao da mat´eria nuclear fica restrita n˜ao apenas `a qualidade das intera¸c˜oes nucleon-nucleon mas tamb´em ao pr´oprio m´etodo em si. No m´etodo BHF, pode-se ou n˜ao incluir os estados do continuo, diagramas part´ıcula-buraco, bolhas etc [2]. Assim, dada uma intera¸c˜ao que bem descreva os dados experimentais de dois nucleons, pode-se obter diferentes informa¸c˜oes quanto `a energia e ao ponto de satura¸c˜ao da
1. Modelos Hadrˆonicos 6
mat´eria nuclear infinita, bem como diferentes espectros para n´ucleos finitos. A falta de uma boa sistematiza¸c˜ao dos resultados obtidos pelo m´etodo BHF propiciou que outros m´etodos baseados na teoria de campo m´edio surgissem com boa aceita¸c˜ao. Este ´e o caso das intera¸c˜oes de Skyrme [5], hoje sistematizadas em uma generalizada equa¸c˜ao de estado para descrever a mat´eria nu-clear sim´etrica e assim´etrica [7]. Estas intera¸c˜oes s˜ao o que pode haver de mais simplificado na intera¸c˜ao entre os nucleons: fun¸c˜oes delta de Dirac tanto para a intera¸c˜ao nucleon-nucleon quanto para uma for¸ca de trˆes corpos nucleon-nucleon-nucleon. Neste caso, os parˆametros livres do modelo s˜ao ajustados para reproduzir observ´aveis de muitos nucleons (energia de liga¸c˜ao da mat´eria nuclear, densidade de satura¸c˜ao, incompressibilidade etc). Uma vez ajustados, tais modelos podem ser usados para extrair informa¸c˜oes sobre diferentes n´ucleos. H´a hoje na liter-atura cerca de trezentos modelos de Skyrme. Um outro tipo de intera¸c˜ao proposta, pretendendo ser mais realista do que a de Skyrme, foi a de Gogny. Nesta, al´em das contribui¸c˜oes tipo Skyrme, adiciona-se uma parte contendo alcance finito tipo gaussiano [25].
Uma outra abordagem bem sucedida para uma boa descri¸c˜ao da mat´eria nuclear baseia-se na teoria quˆantica de campos como modelo e ´e conhecida como Hadrodinˆamica Quˆantica (QHD) [14]. Nesta teoria, os graus de liberdade s˜ao os nucleons e os m´esons, descritos por campos. Os campos de nucleon, ψ, s˜ao acoplados a campos mesˆonicos ω (m´eson vetorial, simulando a repuls˜ao) e σ (m´eson escalar, simulando a atra¸c˜ao). O modelo gerador de todo o seu desenvolvimento posterior foi o modelo de Walecka proposto em 1974 [14]. A base da teoria de Walecka ´e a Teoria Quˆantica de Campos e tem como ponto de partida uma densidade lagrangiana invariante de Lorentz, da qual v´arias propriedades do sistema s˜ao extra´ıdas, entre elas a forma da intera¸c˜ao, do tipo Yukawa [26],
V (r) = −gσ 4π e−mσr r + gω 4π e−mωr r , (1.1)
particular para o caso em que o n´umero de pr´otons ´e igual ao n´umero de nˆeutrons. O sinal negativo do primeiro termo do potencial ´e correspondente ao m´eson σ, de massa mσ, e representa
seu car´ater atrativo. A repuls˜ao ´e dada pelo segundo termo, caracterizada pelo m´eson ω. Note que o alcance da intera¸c˜ao ´e dado essencialmente pela massa de cada m´eson e, consequentemente, o limite em que tais massas s˜ao infinitas leva a um potencial puramente de contato, ou seja, nesse caso os nucleons interagem entre si via intera¸c˜oes pontuais.
A necessidade de desenvolvimento do modelo de Walecka tornou-se clara desde o in´ıcio. Isto porque havia apenas dois parˆametros livres no modelo: a constante de acoplamento ω-ψ, dada por gωe a constante de acoplamento σ-ψ, dada por gσ. Um vez que ambas foram ajustadas para
reproduzir os valores experimentais da energia de liga¸c˜ao da mat´eria nuclear infinita Bo = 16
MeV em seu ponto de satura¸c˜ao ρo = 0, 15 fm−3 n˜ao havia mais qualquer outro parˆametro livre.
Assim, quando se usou o modelo de Walecka para o c´alculo da incompressibilidade da mat´eria nuclear Ko obteve-se o valor Ko = 550 MeV, bastante discrepante do valor experimental
Ko = 210 ± 30 MeV [27]. Em fun¸c˜ao disso, uma s´erie de novos modelos foi proposta sempre no
sentido de incorporar novos campos ou acoplamentos. Assim, hoje h´a v´arias fam´ılias de modelos relativ´ısticos de campo m´edio – RMF. Nesses modelos, basicamente os b´arions interagem entre si atrav´es da troca de m´esons escalar (σ) e vetorial (ω). Para nossas an´alises de propriedades da mat´eria nuclear, s´o nucleons s˜ao necess´arios. No entanto, quando os modelos s˜ao estendidos para descrever a mat´eria estelar, h´ıperons geralmente s˜ao tamb´em inclu´ıdos. Vers˜oes mais sofisticadas incluem outros m´esons tais como ρ, δ etc. Exemplificamos aqui sete tipos diferentes de parametriza¸c˜oes para os modelos do tipo Walecka, chamados RMF,
• o modelo linear de Walecka original [14],
• o modelo n˜ao linear de Waleka para m´esons com intera¸c˜oes σ [4],
1.1. Modelos Relativ´ısticos de Campo M´edio 7
• o modelo n˜ao linear de Walecka para mes´ons com intera¸c˜oes σ e ω e poss´ıveis termos de cruzamento mesˆonicos [31, 32, 33],
• modelos onde os parˆametros que acoplam os b´arions com os m´esons s˜ao dependentes da densidade [34, 35, 36, 37, 38],
• modelos de contato, onde os b´arions interagem com outro sem a troca de m´esons, somente atrav´es de intera¸c˜oes efetivas de contato pontual [39, 40] e
• modelos com a inclus˜ao do m´eson δ [41, 42, 43, 44].
1.1
Modelos Relativ´ısticos de Campo M´
edio
Modelos RMF tˆem sido amplamente utilizados para descrever a mat´eria nuclear infinita, n´ucleos finitos, e propriedades da mat´eria estelar. O primeiro representante de tais modelos ´
e o modelo de Walecka que ajustou seus parˆametros livres, dois no caso, para reproduzir pro-priedades bem estabelecidos da mat´eria nuclear infinita, como a energia de liga¸c˜ao (Bo ∼ 16
MeV) e a densidade de satura¸c˜ao (ρo ∼ 0, 15 fm−3). Entretanto, estendido para calcular
out-ros observ´aveis n˜ao fornece resultados razo´aveis. Este ´e o caso da incompressibilidade (Ko),
mencionada anteriormente. O modelo de Walecka prediz 550 MeV, enquanto o resultado experi-mental ´e 210 ± 30MeV. Este problema foi contornado por Boguta e Bodmer [4], que adicionaram ao modelo original de Walecka, auto-intera¸c˜oes c´ubicas (A/3)σ3 e qu´articas (B/4)σ4. Estas duas novas constantes A e B poder˜ao ser eliminadas para reprodu¸c˜ao de valores experimentais, como a incompressibilidade, por exemplo, e um outro observ´avel a se escolher. Teoricamente, sup˜oe-se que os termos c´ubicos e qu´articos possam representar for¸cas de trˆes e de quatro nu-cleons. No mesmo caminho, de melhoria do modelo, novos termos de intera¸c˜ao podem ser adicionados ao modelo de Boguta-Bodmer a fim de torn´a-lo compat´ıvel com um maior n´umero de observ´aveis, incorporando aqueles relacionados aos n´ucleos finitos. Atualmente, muitos mod-elos RMF e parametriza¸c˜oes foram constru´ıdos seguindo este m´etodo. Aqui, consideramos de forma geral um conjunto finito de modelos RMF n˜ao lineares, por consider´a-lo representativo da categoria. Descrevemos aqui tais modelos em termos de suas densidades Lagrangianas,
LNL= Lnm+ Lσ+ Lω+ Lρ+ Lδ+ Lσωδ, (1.2) onde Lnm = ψ(iγµ∂µ− M )ψ + gσσψψ − gωψγµωµψ − gρ 2 ψγ µ~ρ µ~τ ψ + gδψ~δ~τ ψ, (1.3) Lσ = 1 2 ∂µσ∂µσ − m2σσ2 −A 3σ 3−B 4σ 4, (1.4) Lω = − 1 4F µvF µv+ 1 2m 2 ωωµωµ+ C 4 g2ωωµωµ 2 , (1.5) Lρ = −1 4B~ µvB~ µv+ 1 2m 2 ρ~ρµ~ρµ, (1.6) Lδ = 1 2 ∂µ~δ∂µ~δ − m2δ~δ2 , (1.7) Lσωρ = gσgω2σωµωµ α1+ 1 2α 0 1gσσ + gσg2ρσ~ρµρ~µ α2+ 1 2α 0 2gσσ +1 2α 0 3gω2g2ρωµωµρ~µ~ρµ. (1.8)
Nessa densidade Lagrangiana, Lnm representa a parte cin´etica de nucleons adicionada com
termos que representam a intera¸c˜ao entre nucleons e m´esons σ, δ, ω e ρ. Lj representa
1.1. Modelos Relativ´ısticos de Campo M´edio 8
considera intera¸c˜oes cruzadas entre os campos mesˆonicos. Os tensores de campo anti-sim´etricos Fµv e ~Bµv s˜ao dados por Fµv = ∂vωµ− ∂µωv e ~Bµv = ∂v~ρµ− ∂µ~ρv− gρ(~ρµ× ~ρv). A massa do
nucleon ´e M e as massas dos m´esons s˜ao mj.
Na aproxima¸c˜ao de campo m´edio os campos mesˆonicos s˜ao tratados como campos cl´assicos,
σ → hσi = σ, ωµ→ hωµi = ω0, ρ~µ→ h~ρµi = ρ0(3), e ~δ →
D
~δE
= ~δ(3). (1.9)
Usando as equa¸c˜oes de Euler-Lagrange para os campos obtemos o seguinte conjunto de equa¸c˜oes auto-consistentes,
m2σσ = gσρs− Aσ2− Bσ3+ gσgω2ω02 α1+ α01gσσ+ gσg2ρρ20(3) α2+ α02gσσ, (1.10) m2ωω0 = gωρ − Cgω(gωω0)3− gσg2ωσω0 2α1+ α10gσσ− α03gω2gρ2ρ20(3)ω0, (1.11) m2ρρ0(3) = gρ 2 ρ3− gσg 2 ρσρ0(3) 2α2+ α20gσσ− α30gω2g2ρρ0(3)ω20, (1.12) m2δδ(3) = gδρs3, (1.13) 0 = [γµ(i∂µ− Vτ) − (M + Sτ)] ψ. (1.14)
Note-se que a simetria rotacional da mat´eria nuclear infinita faz com que somente a com-ponente zero dos quatro campos vetoriais sejam n˜ao nulos. Ainda considerando a invariˆancia rotacional em torno do terceiro eixo no espa¸co de isospin, mantemos apenas a terceira compo-nente dos vetores do espa¸co de isospin ~ρµ e ~δ.
As densidades escalares e vetoriais s˜ao dadas por
ρs= D ψψE= ρsp+ ρsn, ρs3 = D ψ~τ ψE= ρsp− ρsn, (1.15) ρ =DψγµψE= ρp+ ρn, ρ3 = D ψγµ~τ ψE= ρp− ρn= (2y − 1)ρ, (1.16) com ρsp,n = γMp,n∗ 2π2 Z kFp,n 0 k2dk q k2+ M∗2 p,n = γM ∗ p,nkF2p,n 2π2 Z 1 0 ξdξ p ξ2+ z2 = γ 2π2 "√ 1 + z2 2 − z2 2 ln 1 +√1 + z2 z !# , (1.17) e ρp,n= γ 2π2 Z kFp,n 0 k2dk = γ 6π2k 3 Fp,n (1.18) para ξ = k/kFp,n e z = M ∗
p,n/kFp,n, com os ´ındices p e n para pr´otons e nˆeutrons, respectivamente.
O fator de degenerescˆencia γ ´e igual a 2 para mat´eria assim´etrica e igual a 4 para a mat´eria sim´etrica. A fra¸c˜ao de pr´otons do sistema ´e definida como y = ρp/ρ e kFp,n ´e o momento de
Fermi em unidades de ¯h = c = 1.
A partir da equa¸c˜ao de Dirac (1.14), reconhecemos os potenciais vetoriais e escalares escritos como,
Vτ N L = gωωo+
gρ
2ρoτ3 e (1.19) Sτ N L = −gσσ − gρδ(3)τ3, (1.20)
com τ3 = 1 e −1 para pr´otons e nˆeutrons, respectivamente. Podemos tamb´em definir a massa
efetiva do nucleon como Mτ∗= M + Sτ N L,
1.1. Modelos Relativ´ısticos de Campo M´edio 9
Notavelmente, observamos o efeito do m´eson δ, separando a massa em Mp∗ e Mn∗. Para a mat´eria nuclear sim´etrica, δ(3) desaparece j´a que ρsp = ρsn e, conseq¨uentemente, Mp∗ = Mn∗ = M∗ =
M − gσσ.
A partir do tensor momento-energia Tµv, calculado atrav´es da densidade lagrangiana, Eq. (1.2), ´e poss´ıvel obter-se a densidade de energia assim como a press˜ao para um sistema as-sim´etrico [45], pois E = hT00i e P = hTiii /3. Essas quantidades s˜ao
EN L = 1 2m 2 σσ2+ A 3σ 3+B 4σ 4−1 2m 2 ωω20− C 4 gω2ω022−1 2m 2 ρρ20(3) +gωω0ρ + gp 2ρ0(3)ρ3+ 1 2m 2 δδ(3)2 − gσgω2σω02 α1+ 1 2α 0 1gσσ −gσgρ2σρ20(3) α2+ 1 2α 0 2gσσ −1 2α 0 3g2ωgρ2ω02ρ20(3)+ E p kin+ E n kin, (1.22) onde Ep,n kin = γ 2π2 Z kFp,n 0 k2k2+ Mp,n∗21/2dk = γk 4 Fp,n 2π2 Z 1 0 ξ2ξ2+ z21/2dξ = γk 4 Fp,n 2π2 " 1 +z 2 2 !√ 1 + z2 4 − z4 8 ln 1 +√1 + z2 z !# = 3 4EFp,nρp,n+ 1 4M ∗ p,nρsp,n, (1.23) e PN L = − 1 2m 2 σσ2− A 3σ 3− B 4σ 4+1 2m 2 ωω02+ C 4 g2ωω202+1 2m 2 ρρ20(3) +1 2α 0 3gω2gρ2ω20ρ20(3)− 1 2m 2 δδ2(3)+ gσg 2 ωσω02 α1+ 1 2α 0 1gσσ +gσgρ2σρ20(3) α2+ 1 2α 0 2gσσ + Pkinp + Pkin,n (1.24) onde Pkinp,n = γ 6π2 Z kFp,n 0 k4dk k2+ M∗2 p,n 1/2 = γk4Fp,n 6π2 Z 1 0 ξ4dξ (ξ2+ z2)1/2 = γk 4 Fp,n 6π2 " 1 −3z 2 2 !√ 1 + z2 4 + 3z4 8 ln 1 +√1 + z2 z !# = 1 4EFp,nρp,n− 1 4M ∗ p,nρsp,n (1.25) e EFp,n = q kFp,n 2 + (Mp,n∗ )2. (1.26)
Nos modelos descritos a partir da Eq. (1.2) podemos identificar sete diferentes tipos de parametriza¸c˜oes. Estas parametriza¸c˜oes podem ser apontadas como: 1) o original modelo linear de Walecka, 2) o modelo n˜ao linear de Waleka para m´esons com intera¸c˜oes σ, 3) o modelo n˜ao linear de Waleka para m´esons com intera¸c˜ao σ e ω, 4) o modelo n˜ao linear de Walecka para m´esons com intera¸c˜oes σ e ω e poss´ıveis termos de cruzamento mesˆonicos, 5) modelos onde os parˆametros que acoplam os b´arions com os m´esons s˜ao dependentes da densidade, 6) modelos de contato, onde os b´arions interagem com outro sem a troca de m´esons, somente atrav´es de intera¸c˜oes efetivas de contato pontual e 7) modelos com a inclus˜ao do m´eson δ. Detalhes desse estudo podem ser encontrados na Ref. [8]. Aqui, estudaremos apenas o Tipo
1.1. Modelos Relativ´ısticos de Campo M´edio 10
2 (modelos σ3+ σ4), ou seja, selecionamos modelos FR-RMF (FR para Finite Range e RMF para Relativistic Mean-Field) contendo al´em dos acoplamentos usuais do modelo de Walecka, apresentado anteriormente, acoplamentos escalares e n˜ao lineares σ3 e σ4, isto ´e, modelos tipo Boguta-Bodmer [4]. Esta categoria particular de modelo restringe algumas constantes,
C = α1 = α2= α01 = α 0 2 = α
0
3= gδ = 0. (1.27)
Este caso corresponde ao modelo de Boguta-Bodmer que tem apenas quatro parˆametros livres (gσ, gω, A e B). Tais constantes poder˜ao ser eliminadas com a escolha de quatro observ´aveis.
A seguir definimos o primeiro desses observ´aveis, a incompressibilidade
K = 9 ∂(E + P ) ∂ρ − E + P ρ . (1.28)
Tal grandeza est´a associada com o movimento coletivo [46] dos pr´otons e nˆeutrons de um n´ucleo e experimentalmente ´e determinada pela an´alise da chamada ressonˆancia de monopolo gigante GMR (Giant Monopole Ressonance) em n´ucleos pesados [47]. De uma forma geral, est´a associada a quanto o volume (ou densidade) de um sistema varia devido `a press˜ao exercida sobre o mesmo. Existem algumas express˜oes, todas equivalentes, para a determina¸c˜ao da incompressibilidade da mat´eria nuclear, mas devido `a estrutura das Eqs. (1.23) e (1.25) torna-se mais conveniente calcular tal quantidade utilizando a seguinte forma
K = 9∂P
∂ρ. (1.29)
Como estamos interessados no valor de K para mat´eria sim´etrica, os c´alculos ser˜ao realizados j´a levando em conta o valor de y = 1/2, o que gera kFp= kFn = kF, ou equivalente, ρ3 = 0, nas
express˜oes (1.23) e (1.25). Com isso, temos
K = 9 " gωρ ∂ω0 ∂ρ + kF2 3(k2 F + M∗2)1/2 + ρM ∗ 3(k2 F + M∗2)1/2 ∂M∗ ∂ρ # , (1.30)
onde foi usada a rela¸c˜ao Ekin + Pkin = (kF2 + M∗)1/2ρ. A derivada da massa efetiva em rela¸c˜ao ` a densidade ´e ∂M∗ ∂ρ = gσ ∂σ ∂ρ. (1.31)
As derivadas dos campos mesˆonicos ∂σ/∂ρ e ∂ω0/∂ρ, considerando a mat´eria nuclear sim´etrica
onde y = 1/2 (ou seja, ρ0 = 0), s˜ao dados por ∂σ/∂ρ = a1b2+ a2b3 a1b1− a3b3 e ∂ω0/∂ρ = a2b1+ a3b2 a1b1− a3b3 , (1.32) onde a1 = m2ω+ 3cgω4ω20− gσgω2σ 2α1− α01gσσ, (1.33) a2 = gω, (1.34) a3 = 2gσgω2ω0 α1− α01gσσ , (1.35) b1 = m2σ+ 2Aσ + 3Bσ2− gσ2g2ωω20α 0 1+ 3gσ2 ρs M∗ − ρ EF∗ ! , (1.36) b2 = − gσM∗ EF∗ e (1.37) b3 = −a3. (1.38)
1.1. Modelos Relativ´ısticos de Campo M´edio 11
O c´alculo realizado para obten¸c˜ao de ∂σ/∂ρ deve levar em conta a derivada da densidade escalar ρs, dada por
∂ρs ∂ρ = M∗ EF∗ + 3gσ ρs M∗ − ρ EF∗ ! ∂σ ∂ρ, (1.39)
encontradas a partir das express˜oes (1.17) e (1.31).
Como estamos interessados nos modelos do tipo σ3 + σ4, tais derivadas, nesse caso s˜ao escritas como ∂σ ∂ρ = − dσM∗ EF∗ hm2 σ+ 2Aσ + 3Bσ2+ 3gσ2 ρ s M∗− ρ E∗ F i e ∂ω0/∂ρ = gω m2 ω . (1.40)
Assim, a incompressibilidade do sistema ´e dada por
K = 9G2ωρ +3k 2 F EF∗ − 9M∗2ρ EF∗2hG12 σ + 2a∆M + 3b(∆M ) 2+ 3 ρs M∗− Eρ∗ F i, (1.41) lembrando que EF∗ = kF2 + M∗21/2 , a = A/gσ3, b = B/gσ4, ∆M = M∗− M e G2 i = gi2/m2i para i = σ, ω.
As demais equa¸c˜oes que definem completamente o modelo s˜ao obtidas como casos particulares do conjunto (1.10) - (1.14) que reapresentamos,
m2σσ = gσρs− Aσ2− Bσ3, (1.42)
m2ωω0 = gωρ, (1.43)
M∗ = M − gσσ. (1.44)
O procedimento de solu¸c˜ao ´e o seguinte. Eliminamos as constantes do modelo (gσ, gω, A e
B) atrav´es da escolha de quatro observ´aveis que reproduzam valores experimentais. Para este fim, adotamos a energia de liga¸c˜ao Bo, a incompressibilidade Ko na densidade de satura¸c˜ao ρo
e a massa efetiva M∗. Esta ´ultima quantidade, apesar de n˜ao ser um observ´avel diretamente inferido, guarda uma estreita correla¸c˜ao com os n´ıveis de desdobramento no acoplamento L-S para n´ucleos finitos [10]. Isto ´e, para os modelos σ3 + σ4, valores de m∗ = M∗/M contidos no intervalo [0, 58 , 0, 64] produzem bons valores para os desdobramento de n´ıveis L-S nas ondas parciais L = 1 , 1p3/2− 1p1/2assim como para L = 2 , 1d5/2− 1d3/2. A equa¸c˜oes (1.41) - (1.44)
comp˜oem um sistema de equa¸c˜oes que ´e resolvido de forma auto consistente, conjuntamente com as equa¸c˜oes (1.18, 1.22, 1.24). A fixa¸c˜ao de ρo = 0, 15 fm−3 estabelece de forma un´ıvoca,
via Eq. (1.18) o valor de kF = 1, 3 fm−1. Com este valor, a Eq. (1.44) pode ser resolvida
para um certo valor fixo de M∗/M obtendo-se o valor de σ = gσ/(M − M∗), assim como, a Eq.
(1.43) determina ωo = gωρo/m2ω. Observe que gσ e gω n˜ao foram determinados completamente.
As rela¸c˜oes para σ e ωo em fun¸c˜ao de gσ e gω, s˜ao usadas para eliminarmos a dependˆencia com
os campos mesˆonicos nas equa¸c˜oes e mantermos apenas a dependˆencia com as constantes de acoplamento. Feito isso, ficamos com quatro equa¸c˜oes e quatro constantes para serem definidas. Uma delas ´e a equa¸c˜ao para incompressibilidade, escrita para modelos σ3 + σ4, Eq. (1.41), onde
fixamos Ko. A outra ´e a equa¸c˜ao (1.42), j´a escrita de forma compat´ıvel para modelos σ3 + σ4,
onde a massa efetiva ´e fixada. E as duas ´ultimas equa¸c˜oes s˜ao as vers˜oes para modelos σ3 + σ4 da energia e press˜ao, definidas a seguir a partir das Eqs. (1.22) e (1.24), respectivamente. Nesse caso, usamos v´ınculos para a energia de liga¸c˜ao fixada para a mat´eria nuclear infinita em 16 MeV na satura¸c˜ao ρo = 0, 15 fm−3, e a press˜ao nula na satura¸c˜ao, P (ρo) = 0. Tais express˜oes,
para energia e press˜ao de modelos σ3 + σ4, s˜ao escritas como
EN L = 1 2m 2 σσ2+ A 3σ 3+B 4σ 4−1 2m 2 ωω20+ gωω0ρ + Ekinp + Ekinn (1.45)
1.1. Modelos Relativ´ısticos de Campo M´edio 12 e PN L = − 1 2m 2 σσ2− A 3σ 3−B 4σ 4+1 2m 2 ωω02+ P p kin+ P n kin. (1.46) Uma vez posto o modelo, ilustramos esta se¸c˜ao com as curvas de energia por nucleon e press˜ao nas figuras (1.1) e (1.2), respectivamente. As curvas foram constru´ıdas usando trˆes parametriza¸c˜oes distintas apenas na massa efetiva (0, 6, 0, 7 e 0, 8) e considerando os mesmos valores para energia de liga¸c˜ao (Bo= 16 MeV), incompressibilidade (Ko = 250 MeV) e densidade
de satura¸c˜ao (ρo= 0, 15 fm−3) para mat´eria nuclear sim´etrica (y = 1/2).
Figura 1.1: Curva da energia por part´ıcula em fun¸c˜ao de ρ/ρo, com modelos hadrˆonicos σ3+ σ4
via c´alculo exato. S˜ao apresentadas trˆes parametriza¸c˜oes distintas apenas no valor da massa efetiva (0, 6, 0, 7 e 0, 8) e com valores fixos para energia de liga¸c˜ao Bo, incompressibilidade Ko
e densidade de satura¸c˜ao ρo dispostos na figura para a mat´eria nuclear sim´etrica (y = 1/2).
Figura 1.2: Curva da press˜ao em fun¸c˜ao de ρ/ρo, com modelos hadrˆonicos σ3+ σ4 via c´alculo
exato. Dados usados s˜ao semelhantes ao da figura anterior.
A curva da incompressibilidade em fun¸c˜ao da densidade para modelos com diferentes valores de massa efetiva s˜ao apresentados nas figuras 1.3 e 1.4. Nessas figuras podemos observar que existe um ponto de cruzamento (ρc)K. Observe que as figuras mostram o mesmo comportamento
1.1. Modelos Relativ´ısticos de Campo M´edio 13
Vejam ainda que (ρc)K praticamente n˜ao muda mesmo com essa varia¸c˜ao de m∗. Em um
intervalo ainda menor de m∗(0, 58 ≤ m∗≤ 0, 64), que se prestar´a posteriormente para predi¸c˜oes
te´oricas do modelo, a varia¸c˜ao de (ρc)K ´e ainda menor, conforme mostra a figura 1.4.
Figura 1.3: Curva da incompressibilidade em fun¸c˜ao de ρ/ρo, com modelos hadrˆonicos σ3+ σ4
via c´alculos exatos. S˜ao usadas massas efetivas distintas e extremas.
Figura 1.4: Curva da incompressibilidade em fun¸c˜ao de ρ/ρo, com modelos hadrˆonicos σ3+ σ4
via c´alculos exatos. S˜ao usadas massas efetivas pr´oximas do intervalo 0, 58 ≤ m∗≤ 0, 64.
as-1.1. Modelos Relativ´ısticos de Campo M´edio 14
simetria do sistema, ´e a energia de simetria e sua inclina¸c˜ao, definidas, respectivamente, como S(ρ) = 12∂2∂y(E/ρ)2 |y=1/2 e L = 3ρo∂S(ρ)∂ρ |ρ=ρo. Na figura 1.5 apresentamos o gr´afico de L × ρ/ρo
para os modelos do tipo σ3 + σ4 calculados exatamente.
Figura 1.5: L × ρ/ρo, com modelos hadrˆonicos σ3 + σ4 via c´alculo exato.
Posteriormente, no cap´ıtulo onde tomaremos o limite n˜ao relativ´ıstico (NR) dos modelos RMF, observaremos que para a energia de simetria para este limite tamb´em acontece tal cruza-mento em modelos que apresentem Ko e J fixos com m∗ variando. Ressalte-se aqui que a
densidade de cruzamento das inclina¸c˜oes da energia de simetria (ρc)L ´e diferente daquela que
encontramos no cruzamento das incompressibilidades em K × ρ/ρo, para m∗ fixos. Nesse caso,
(ρc)L ≈ 0, 56ρo. Notem ainda que (ρc)L n˜ao varia com Ko (figuras a e b) e varia muito pouco
com J (figuras a e c).
Os cruzamentos das incompressibilidades, mas n˜ao das inclina¸c˜oes das energias de simetria, de diferentes parametriza¸c˜oes de modelos foram investigados recentemente para os modelos tipo Skyrme [15]. Nesta tese, estendemos tais estudos para modelos RMF (ainda n˜ao investigados), assim como para seus limites n˜ao relativ´ısticos que nos permitir˜ao abordagens mais anal´ıticas das express˜oes e das correla¸c˜oes.
Cap´ıtulo 2
Limite n˜
ao-relativ´ıstico
Uma vez apresentados no cap´ıtulo anterior os modelos hadrˆonicos, trataremos neste de suas vers˜oes n˜ao relativ´ısticas. Isto ´e importante na medida em que h´a v´arios modelos n˜ao rela-tiv´ısticos na abordagem de sistemas com muitos nucleons. Este ´e o caso, por exemplo, dos modelos de Skyrme [5, 6, 7]. Na verdade, um estudo prospectivo relacionando a vers˜ao n˜ao relativ´ıstica dos modelos RMF (NR-RMF) com os modelos tipo Skyrme j´a foi proposto ante-riormente [48]. Vale ressaltar que nesta tese n˜ao trataremos desta rela¸c˜ao ou da continuidade desse estudo, mas sim da explora¸c˜ao dos modelos NR-RMF em toda sua plenitude e poten-cial. Isto ´e, como veremos adiante, os modelos NR-RMF permitem abordagem anal´ıticas para v´arias express˜oes presentes no estudo da mat´eria nuclear ordin´aria. Neste sentido, a quest˜ao que colocamos ´e se tais express˜oes poderiam ajudar no melhor entendimento de algumas cor-rela¸c˜oes at´e ent˜ao obtidas apenas via procedimento num´erico. O estudo de tais correla¸c˜oes, o mais importante da presente tese, ser´a apresentado no cap´ıtulo 4.
Abaixo, detalharemos os principais passos para obten¸c˜ao de modelos NR-RMF. S˜ao eles:
• Primeiramente, selecionamos modelos RMF que contenham apenas intera¸c˜oes c´ubicas e qu´articas no campo escalar σ. Isto ´e uma simplifica¸c˜ao, mas que mesmo assim abrange um n´umero expressivo de modelos at´e ent˜ao apresentados na literatura [8]. De forma concisa, escolhemos modelos com contribui¸c˜oes σ3 e σ4 na densidade lagrangiana. Basicamente, tais modelos s˜ao conhecidos como modelos Boguta-Bodmer [4].
• Em seguida, usamos suas vers˜oes de alcance nulo (intera¸c˜oes de contato), citados na liter-atura como modelos NLPC [17, 18, 19, 20, 21, 16]. A justificativa para tais vers˜oes ser´a apresentada.
• E em terceiro, realizamos o limite n˜ao relativ´ıstico dos modelos NLPC, agora de contato, baseados na normaliza¸c˜ao do spinor que descreve a fun¸c˜ao de onda relativ´ıstica, ap´os a redu¸c˜ao de sua pequena componente, exatamente o mesmo caminho desenvolvido na Ref. [22]. Tal procedimento foi usado tamb´em na Ref. [48], na qual bons resultados foram encontrados na regi˜ao de baixas densidades, ρ ≤ ρo.
Agora, apresentamos a justificativa para as vers˜oes NLPC dos modelos RMF. Consideremos inicialmente a vers˜ao mais simplificada de todas dos modelos RMF, isto ´e, o caso particular A = B = 0 do cap´ıtulo anterior. Esta simplica¸c˜ao reduz os modelos RMF ao modelo de Walecka, pioneiro de todos eles. Das equa¸c˜oes de movimento apresentadas no cap´ıtulo anterior obtemos as rela¸c˜oes m2σσ = gσρs, mω2ω0 = gωρ e M∗ = M − gσσ. Com estas rela¸c˜oes, reescrevemos as
equa¸c˜oes de estado para o modelo de Walecka (W) como
EW = 1 2 g2 σ m2 σ ρ2s+1 2 g2 ω m2 ω ρ2+ Ekin, (2.1) 15
2. Limite n˜ao-relativ´ıstico 16 e PW = − 1 2 gσ2 m2 σ ρ2s+1 2 gω2 m2 ω ρ2+ Pkin. (2.2) onde se define Cσ2 = g 2 σM2 m2 σ , e (2.3) Cω2 = g 2 ωM2 m2 ω . (2.4)
As equa¸c˜oes acima, juntamente com a gap equation abaixo, definem completamente o modelo.
1 − Cσ2 γ 2π2 Z kF/M 0 x2dx p (1 + x2) = 0, (2.5)
onde x = k/M ´e uma grandeza adimensional.
Um aspecto curioso deste modelo ´e que a massa escalar (vetorial) mσ (mω) e a constante
de acoplamento gσ (gω) nas equa¸c˜oes de estado para mat´eria nuclear infinita apresentam-se de
forma conjunta e de tal forma que, as ´unicas constantes livres do modelo s˜ao Cσ2 e Cω2. Com isto, uma vez estabelecidas tais constantes, o modelo est´a completamente definido. De forma mais clara, este modelo n˜ao pode distinguir valores arbitr´arios para as massas mesˆonicas. Tal arbitrariedade pode ser estendida para incluir massas mesˆonicas cada vez maiores desde que tais constantes permane¸cam fixas. Claramente, ao aumentarmos as massas mesˆonicas estaremos diminuindo o alcance da intera¸c˜ao. Assim, pode-se tomar um limite para massas mesˆonicas muito grandes desde que se arbitre valores tamb´em muito altos para gσ e gω de tal forma a
deixar Cσ2 e Cω2 imut´aveis. Neste caso, o modelo seria o mesmo e foi neste sentido que se imaginou os modelos NLPC. A dinˆamica contida em tais modelos de campo m´edio n˜ao poderia distinguir bem a quest˜ao do alcance das intera¸c˜oes. De fato, no caso particular do modelo de Walecka ambas as vers˜oes, de alcance finito ou de alcance zero, s˜ao iguais em todos os c´alculos envolvendo as propriedades da mat´eria nuclear. Portanto, a extens˜ao de vers˜oes NLPC para os demais modelos RMF d´a-se de forma natural [16, 17, 18, 19].
Assim, a vers˜ao para o modelo NLPC de Boguta-Bodmer, que inclui intera¸c˜oes σ3 e σ4, ´e descrito pela seguinte densidade lagrangiana
LNLPC = ¯ψ(iγµ∂µ− M )ψ − 1 2G 2 V( ¯ψγ µψ)2+1 2G 2 S( ¯ψψ) 2+ A 3( ¯ψψ) 3+B 4( ¯ψψ) 4−1 2G 2 TV( ¯ψγ µ~τ ψ)2, (2.6) que simula intera¸c˜oes de dois, trˆes e quatro corpos com o spinor para campo fermiˆonico ψ associado ao nucleon de massa M . Nesta equa¸c˜ao, o ´ultimo termo foi inclu´ıdo para poder considerar a assimetria do sistema (diferen¸ca entre o n´umero de pr´otons e de nˆeutrons). Note que o isospin do nucleon ´e representado por ~τ e a seta nesta quantidade indica que esta grandeza ´
e de origem vetorial tamb´em no espa¸co de isospin. Usando a equa¸c˜ao de Euler-Lagrange para o spinor ¯ψ, encontramos (iγµ∂µ−M )ψ−G2V( ¯ψγ µψ)γµψ+G2 S( ¯ψψ)ψ+A( ¯ψψ) 2ψ+B( ¯ψψ)3ψ−G2 TV( ¯ψγ µ~τ ψ)γµ~τ ψ = 0. (2.7)
Definindo ρ3 = ¯ψγµ~τ ψ, ρ = ¯ψγµψ e ρs= ¯ψψ, ficamos com
[iγµ∂µ− M − G2Vργ µ+ G2 Sρs+ Aρ 2 s+ Bρ3s− G2TVρ3γ µ~τ ]ψ = 0. (2.8)
Uma abordagem amplamente utilizada ´e a chamada aproxima¸c˜ao de campo m´edio, onde os campos da teoria, mesˆonicos escalar e vetorial, s˜ao substitu´ıdos por seus respectivos valores
2. Limite n˜ao-relativ´ıstico 17 m´edios, σ → hσi = σ ψψ →¯ ¯ ψψ = ¯ψψ = ρs; wµ→ hwµi = w0 ψγ¯ µψ →ψγ¯ µψ= ¯ψγ0ψ = ρ, ¯ ψγµ~τ ψ →¯ ψγµ~τ ψ = ¯ψγ0τ3ψ = ρ3.
Usando esta aproxima¸c˜ao, obtemos
h iγ0∂0+ iγa∂a− M − γ0G2Vρ + G 2 Sρs+ Aρ 2 s+ Bρ3s− γ0G2TVρ3τ3 i ψ = 0. (2.9)
Multiplicando a esquerda por γ0 e fazendo γ0γa= αa e ∂0 = ∂t∂ ficamos com
h −iαa∂a+ γ0 M − G2Sρs− Aρ 2 s− Bρ3s + G2Vρ + G 2 TVρ3τ3 i ψ = i∂ψ ∂t. (2.10) A equa¸c˜ao acima pode ser reescrita em termos de S e V , com ka= i∂a,
h ~ α.~k + γ0M + S+ Viψ = Eψ, onde S = −G2Sρs− Aρ 2 s− Bρ3s (2.11) e V = G2Vρ + G2TVρ3τ3. (2.12) Sabendo que ψ = φ χ ! e ~α.~k = 02×2 ~σ.~k ~ σ.~k 02×2 ! , escrevemos M + S + V ~σ.~k ~ σ.~k −M − S + V ! φ χ ! = E φ χ ! .
Com isso, obtemos as equa¸c˜oes
~
σ.~kχ + (M + S + V )φ = Eφ, (2.13) ~
σ.~kφ − (M + S − V )χ = Eχ. (2.14)
Introduzindo as constantes Σ = V + S e ∆ = V − S, obtemos
~
σ.~kχ + (M + Σ)φ = Eφ, (2.15) ~
σ.~kφ − (M − ∆)χ = Eχ. (2.16)
Com o intuito de prosseguir na dedu¸c˜ao do limite n˜ao relativ´ıstico, aplicamos ao modelo NLPC na aproxima¸c˜ao de campo m´edio, a redu¸c˜ao da pequena componente da equa¸c˜ao de Dirac. Esta redu¸c˜ao pode ser aplicada para estudo da mat´eria nuclear por diferentes vertentes. Uma delas ´e a aproxima¸c˜ao ρ = ρs, que em princ´ıpio ´e um limite n˜ao-relativ´ıstico, pois como
vimos, a fun¸c˜ao de onda relativ´ıstica pode ser representada em termos da grande componente ( φ ) e da pequena componente ( χ ). Em termos destas componentes, a densidade vetorial ρ e a densidade escalar ρs podem ser representas como
ρ ∝ |φ|2+ |χ|2, (2.17) e
2. Limite n˜ao-relativ´ıstico 18
A aproxima¸c˜ao ρ = ρs consiste em desprezar completamente a pequena componente, respons´avel
pelo efeito relativ´ıstico, χ . Mesmo assim, tal aproxima¸c˜ao ainda guarda informa¸c˜oes rela-tiv´ısticas sobre o modelo, mais precisamente atrav´es da massa efetiva ¯M . Como exemplifica¸c˜ao `
a parte, vamos mostrar a dedu¸c˜ao de ¯M para a aproxima¸c˜ao ρ = ρs a partir da redu¸c˜ao da
pequena componente da equa¸c˜ao de Dirac. A dedu¸c˜ao completa desta aproxima¸c˜ao ser´a apre-sentado no Cap´ıtulo 3. Assim, a partir da Eq. (2.16), reescrevemos a componente χ em fun¸c˜ao da componente φ como
χ = ~σ.~k
E + M − ∆φ = B~σ.~kφ, (2.19) onde B = [E + M − ∆]−1. Substituindo a Eq. (2.19) na (2.15), encontramos
k2
2M − ∆ − + Σ
!
φ = −φ, (2.20)
com = M − E sendo a energia do nucleon. Observe que esta express˜ao pode ser descrita pelo hamiltoniano
H = k
2
2 ¯M + Σ, (2.21)
com uma correspondente massa efetiva
¯ M = M 1 −∆ + 2M . (2.22)
Note que a Eq. (2.21) indica uma semelhan¸ca com hamiltonianos tipo Schr¨odinger. Antes de darmos continuidade ao c´alculo da massa efetiva para a aproxima¸c˜ao ρ = ρs dos modelos
NLPC, definimos a grandeza adimensional m∗ = M∗/M como a raz˜ao entre a massa efetiva de um nucleon no meio nuclear (M∗) e a massa pura nucleon no v´acuo (M ). Esta raz˜ao ´e largamente usada na literatura para definir o valor da massa efetiva para modelos relativ´ısticos que descrevem a mat´eria nuclear. Observe que ¯M aparece quando o modelo ´e tratado no formalismo descrito acima e relaciona-se de alguma forma com a raz˜ao m∗. Para estabelecer tal rela¸c˜ao entre ¯M e m∗ utilizamos trˆes etapas. A primeira ´e reescrever ¯M como
¯ M = 1 2 2M + S − V − . (2.23)
A segunda ´e extrair uma rela¸c˜ao de dispers˜ao para o modelo, na qual a massa efetiva para o nucleon relativ´ıstico possa ser facilmente visualizada. Para isso escrevemos a Eq. (2.15) em termos de χ como
~ σ.~k2
E + M − V + Sφ + (M + V + S − E)φ = 0.
Agora, multiplicando-se esta ´ultima equa¸c˜ao por (E + M − V + S) encontra-se
~σ.~k2+h(M + S) − (E − V )ih(M + S) + (E − V )i
φ = 0
e pode-se determinar a rela¸c˜ao de dispers˜ao,
h
(E − V )2− (M + S)2− k2iφ = 0, (2.24) que descreve um nucleon relativ´ıstico com massa efetiva M∗ = M + S e energia E∗ = E − V . A terceira etapa consiste em substituir S = M∗− M na Eq. (2.23), para determinar a rela¸c˜ao entre ¯M e m∗, escrita como
¯ M M = 1 2 1 + m∗− V M − M . (2.25)
2. Limite n˜ao-relativ´ıstico 19
Esta rela¸c˜ao se far´a necess´aria quando avaliarmos a aproxima¸c˜ao ρ = ρs para os modelos NLPC
no cap´ıtulo 3. Tal rela¸c˜ao ´e importante quando, a partir da aproxima¸c˜ao ρ = ρs, procura-se
reproduzir os valores de alguns parˆametros de bulk calculados via modelos RMF exatos. Cor-rigindo a massa do modelo atrav´es da Eq. (2.25), esta aproxima¸c˜ao reproduz os valores de alguns parˆametros de bulk pr´oximos do encontrado atrav´es do c´alculo exato dos modelos FR-RMF, como por exemplo, o coeficiente de skewness Qo na densidade de satura¸c˜ao. Entretanto, este estudo
n˜ao ´e apresentado nesta tese. Concentramos nossos esfor¸cos em desenvolver express˜oes anal´ıticas para o limite NR dos modelos NLPC. De forma que, resultados encontrados para o limite NR podem ser usados como uma orienta¸c˜ao adequada para inferir poss´ıveis resultados em modelos RMF com intera¸c˜oes σ3 e σ4.
Retornando a dedu¸c˜ao do limite n˜ao relativ´ıstico, a redu¸c˜ao da pequena componente da equa¸c˜ao de Dirac, nas Eqs. (2.13)-(2.14), pode ser escrita como
(~σ.~kB~σ.~k + M + S + V )φ = Eφ, (2.26) onde B = B0 1 1 + (ε − S − V )B0 ' B0+ (S + V − ε)B02, (2.27) B0 = 1 2(M + S) (2.28)
e ε = E −M . Observe que a expans˜ao usada em B foi em torno do parˆametro x = (ε−S −V )B0.
Usando esta expans˜ao na Eq. (2.26) encontramos
h ~ σ.~kB0~σ.~k + ~σ.~k(S + V )B02~σ.~k − ~σ.~kεB02~σ.~k + M + S + V i φ = Eφ h ~σ.~kB0~σ.~k + ~σ.~k(S + V )B02~σ.~k + S + V i φ = εh1 + ~σ.~kB02~σ.~kiφ h ~ σ.~kB0~σ.~k + ~σ.~k(S + V )B02~σ.~k + S + V i φ = ε ˆIφ, (2.29)
onde definimos o operador ˆI = 1 + ~σ.~kB02~σ.~k. Multiplicando ambos os membros da equa¸c˜ao a esquerda por ˆI−1/2 e, introduzindo o operador identidade, escrito convenientemente como ˆ
1 = ˆI−1/2Iˆ1/2, antes da fun¸c˜ao φ do primeiro membro na Eq. (2.29), obtemos ˆ
I−1/2h~σ.~kB0σ.~~ k + ~σ.~k(S + V )B02~σ.~k + S + V
i
ˆ
I−1/2Iˆ1/2φ = ε ˆI1/2φ. Note que a rela¸c˜ao acima sugere a equa¸c˜ao de Schr¨odinger dada por
ˆ
Hclassϕclass= εϕclass (2.30) para ˆ Hclass = ˆI−1/2h~σ.~kB0~σ.~k + ~σ.~k(S + V )B20~σ.~k + S + V i ˆ I−1/2, ϕclass= ˆI1/2φ (2.31) e com ˆI−1/2 e ˆI1/2 definidos respectivamente como
ˆ I−1/2 = (1 + ~σ.~kB02~σ.~k)−1/2≡ 1 − 1 2~σ.~kB 2 0~σ.~k + 3 8~σ.~kB 2 0~σ.~k + · · · (2.32) ˆ I1/2 = (1 + ~σ.~kB02~σ.~k)1/2≡ 1 + 1 2~σ.~kB 2 0~σ.~k − 1 8~σ.~kB 2 0~σ.~k + · · · (2.33)
Ressaltamos ainda que ϕclass´e a quantidade que descreve a fun¸c˜ao de onda n˜ao relativ´ıstica. Isso ´e devido ao fato que ϕclass ´e uma grandeza propriamente normalizada. Al´em disso, como
2. Limite n˜ao-relativ´ıstico 20
pode ser visto no Apˆendice A, expandindo-se o operador ˆHclass e tomando apenas termos at´e a ordem de k2, obtemos a energia por part´ıcula ´unica igual a
Hclass= k
2
2(M + S)+ S + V. (2.34)
Inserindo os valores de S = −G2Sρs− Aρ
2
s− Bρ3s e V = G2Vρ + G
2
TVρ3τ3 na rela¸c˜ao acima e
aproximando de forma grosseira
M + S = M 1 + S M ≈ M, (2.35)
encontramos Hclass em fun¸c˜ao das densidades vetorial e escalar, Hclass= k 2 2M − G 2 Sρs− Aρ 2 s− Bρ3s+ G2Vρ + G 2 TVρ3τ3. (2.36)
A normaliza¸c˜ao do spinor que representa a fun¸c˜ao de onda, ap´os a redu¸c˜ao de sua pequena componente, gera modifica¸c˜oes nas densidades vetorial e escalar. No Apˆendice A ´e detalhada a dedu¸c˜ao das novas equa¸c˜oes para as densidades vetorial e escalar, respectivamente, dadas por
ρ = |ϕclass|2, (2.37) ρs = ρ(1 − 2B20k2). (2.38)
Comparando, observe que a aproxima¸c˜ao ρ = ρs consiste em usar apenas o primeiro termo
da expans˜ao (2.38). Usando-se este resultado para o c´alculo da energia de part´ıcula ´unica, a Eq. (2.36) torna-se Hclass= k 2 2M + (G 2 V− G 2 S)ρ − Aρ 2− Bρ3+ 2B2 0k2ρ(G2S+ 2Aρ + 3Bρ 2) + G2 TVρ3τ3.
Como τ3´e 1 para pr´otons e −1 para nˆeutrons, teremos diferentes express˜oes para energia de
part´ıcula ´unica, Hpclass= k 2 2M + (G 2 V− G 2 S)ρ − Aρ 2− Bρ3+ 2B2 0k2ρ(G2S+ 2Aρ + 3Bρ 2) + G2 TVρ3 para pr´otons e Hnclass= k 2 2M + (G 2 V− G 2 S)ρ − Aρ 2− Bρ3+ 2B2 0k2ρ(G2S+ 2Aρ + 3Bρ 2) − G2 TVρ3 para nˆeutrons.
Assim, as energias de pr´otons e nˆeutrons de um sistema de N part´ıculas s˜ao dadas, respec-tivamente, por Ep= γ 2M kF X i=0 k2i+Nh(G2V−G 2 S)ρ−Aρ2−Bρ3 i +2B20ρ(G2S+2Aρ+3Bρ 2)γ kF X i=0 ki2+G2TVρ3N, (2.39) En= γ 2M kF X i=0 k2i+Nh(G2V−G 2 S)ρ−Aρ 2−Bρ3i+2B2 0ρ(G2S+2Aρ+3Bρ 2)γ kF X i=0 ki2−G2TVρ3N, (2.40)
onde kF ´e o momento de Fermi, γ ´e o n´umero de nucleons em cada n´ıvel de energia, respeitando