Fatores macroeconômicos e microeconômicos por detrás
da semiestagnação da economia brasileira
Bráulio Borges, economista-sênior da LCA e pesquisador-associado do IBRE/FGV
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Fato estilizado: elevada correlação entre variações do PIB per capita
brasileiro e variações de nossos termos de troca
- Correlação contemporânea de quase 50% em 1981-2016, elevando-se a 70% em 1999-2016 (período de regime de câmbio flutuante).
-11 -9 -7 -5 -3 -1 1 3 5 7 9 11 13 15 17 19 -25 -20 -15 -10 -5 0 5 10 15 20 25 30 35 40 45 1T8 1 1 T8 2 1 T8 3 1T8 4 1T8 5 1T8 6 1T8 7 1T8 8 1T8 9 1T9 0 1T9 1 1T9 2 1T9 3 1T9 4 1T9 5 1T9 6 1T9 7 1T9 8 1T9 9 1T0 0 1 T0 1 1T0 2 1T0 3 1T0 4 1T0 5 1T0 6 1T0 7 1T0 8 1T0 9 1T1 0 1T1 1 1T1 2 1T1 3 1T1 4 1T1 5 1T1 6
Brasil: PIB per capita vs Termos de troca
Var. % YoY. Fontes: Funcex e IBGE.
Termos de troca, var. % YoY (eixo esq.)
Quais os canais de transmissão? (I)
- Correlação entre oscilações dos termos de troca e variação em volume das exportações de
bens e serviços é baixa; ademais, peso das exportações no PIB brasileiro é modesto (12%);
- Oscilações de termos de troca se transmitem para o PIB principalmente por meio de efeitos
sobre demanda interna (Consumo das Famílias e FBCF respondem por cerca de 80% do PIB brasileiro). Consumo das Famílias Formação Bruta de Capital Fixo Exportações de bens
e serviços Termos de troca
Consumo das Famílias
1.00
0.79
-0.03
0.59
Formação Bruta de
Capital Fixo
0.79
1.00
0.21
0.74
Exportações de bens e
serviços
-0.03
0.21
1.00
0.20
Termos de troca
0.59
0.74
0.20
1.00
Quais os canais de transmissão? (II)
- Quais os canais de transmissão de elevações dos termos de troca? (o mesmo vale para
quedas, mas com sinal oposto):
- Efeito renda (setor exportador);
- Valorização cambial (seja em regime fixo ou, sobretudo, flutuante):
- barateia os investimentos em maquinário (metade é importado);
- barateira os bens de consumo durável;
- permite manter inflação baixa, abrindo espaço para pol. monetária mais relaxada;
- gera abertura comercial mais acelerada (“na marra”), permitindo, dentre outras
coisas, ganhos mais expressivos de produtividade;
- Booms de crédito: elevada correlação entre alta dos preços de commodities e ciclos de
fluxos de capitais para economias emergentes (Reinhart, Reinhart & Trebesch, 2016);
- Política fiscal pró-cíclica: forte elevação das receitas governamentais nos períodos de
Qual o problema disso?
- A combinação dos fatores acima gera crescimento expressivo durante o período do boom de
termos de troca, mas geralmente traz um grande choque negativo no estouro, ao combinar:
- Crises de balanço de pagamentos, com necessidade de expressivo realinhamento
cambial em um curto espaço de tempo;
- Forte aceleração da inflação (em grande medida por conta do câmbio), o que acaba
fazendo com que a política monetária tenha que atuar pró-ciclicamente;
- Crises fiscais (queda abrupta das receitas recorrentes, com despesas relativamente
rígidas), reforçando caráter pró-cíclico da política fiscal;
- Perda de participação da indústria (durante o período de valorização cambial);
- Estouro de bolhas de preços de ativos;
- Forte desaceleração do crescimento econômico corrente, afetando também o potencial
de crescimento (pela severidade das crises e pela elevada volatilidade do crescimento, inibindo investimentos);
- Crises políticas, a depender da severidade da crise econômica (com ambas se
Colapso dos termos de troca no momento atual é ainda maior do
que sugerem os dados efetivamente observados
- Embora os dados de termos de troca apontem que o período 2012-2016 representou o pior
colapso desde o início dos anos 80 (em duração e intensidade), a queda efetiva dos termos de troca brasileiros no momento atual foi ainda maior, pois havia ampla expectativa de que Brasil se tornasse um exportador líquido de petróleo e derivados até o final desta década (deixando de ser um importador líquido):
- Com cotação do petróleo em US$ 100/barril (até meados de 2014), pré-sal era
altamente viável, já que breakeven operacional está em torno de US$ 50. Hoje...
- Arezki, Ramey & Sheng, FMI, 2015 (WP 15/209): evidência de antecipação de vários efeitos
macroeconômicos em função da descoberta de megacampos de petróleo:
- Investimentos se elevam (até mesmo para viabilizar a exploração);
- Consumo também é impactado positivamente (efeito indireto, via investimentos);
Maldição dos recursos naturais (Resource curse)
- Toda a história contada nos slides anteriores se encaixa muito bem no arcabouço teórico de
“maldição dos recursos naturais” (Frankel 2010, NBER 15836):
- Doença holandesa (já que ciclos de fluxos de capitais geralmente “permitem” que,
durante os booms, a taxa de câmbio se situe abaixo do equilíbrio por períodos relativamente longos);
- Rent-seeking (vide caso recente do petrolão);
- Má gestão/alocação de recursos (vide planos de investimentos da Petrobras; história do
trem-bala; padrão de gastos nos estados e municípios que recebem royalties; perda de participação da indústria em detrimento dos serviços etc.);
- Bolhas de preços de ativos (ações e imóveis), cujo estouro pode gerar sequelas reais
relevantes (e até mesmo crises sistêmicas);
- Instituições fracas / baixa propensão a reformas estruturais nos booms;
Como lidar com isso? (I)
- Chile é um bom exemplo a ser seguido na política fiscal: a partir de 2001, adotou metas de
resultado fiscal ajustado pelo ciclo econômico; ademais, projeções de arrecadação do governo passaram a ser feitas por especialistas externos; mais recentemente, criou Instituição Fiscal Independente (2013);
Como lidar com isso? (II)
- Outras possibilidades não excludentes:
- Controles seletivos de capitais (proposta que passou a ser defendida pelo FMI nos pós-crise), preferencialmente por meio de “estabilizadores automáticos”;
- Colchão de capital anticíclico (em implementação, no âmbito de Basiléia 3);
- Regime de metas de PIB nominal, ao invés de metas de inflação: Bhandari & Frankel 2015 (NBER 20898) apontam que um regime de metas de PIB nominal é superior ao regime de metas de inflação em países com maior suscetibilidade a choques.
E na microeconomia/lado da oferta?
- Produtividade do trabalho brasileira é baixa, mesmo comparando com “comparáveis”, e se
descolou para pior nas últimas décadas
0 10,000 20,000 30,000 40,000 50,000 60,000 70,000 80,000 90,000 19 95 19 96 19 97 19 98 19 99 20 00 2 0 0 1 20 02 20 03 20 04 20 05 20 06 20 07 20 08 20 09 20 10 20 11 20 12 20 13 20 14 20 15
Produtividade do trabalho (por pessoa ocupada)
Exclui países nos quais a renda do petróleo equivaleu a 5% ou mais do PIB na média 2005-2014.
Em US$ de 2015 (PPP de 2011). Média simples por grupo. Fonte: The Conference Board.
High-income Upper-middle income Low income Lower-middle income Brasil "Controle"
O que explica isso? (I)
2.5 3.0 3.5 4.0 4.5 5.0 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015Índice de qualidade da infraestrutura geral
Entre 1 (pior) e 7 (melhor). Fonte: WEF.
Brasil
Upper-middle income (ex grandes exportadores de petróleo)
O que explica isso? (II)
-0.20 -0.10 0.00 0.10 0.20 0.30 0.40 0.50 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014Índice de qualidade regulatória
Entre -2,5 (muito ruim) e +2,5 (muito boa). Fonte: WGI/Banco Mundial.
Brasil
Upper-middle income (ex grandes exportadores de petróleo) "Controle"
O que explica isso? (III)
2.2 2.4 2.6 2.8 3.0 3.2 3.4 3.6 3.8 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015Índice de qualidade do sistema educacional
Entre 1 (ruim) e 7 (muito bom). Fonte: WEF.
Brasil
Upper-middle income (ex grandes exportadores de petróleo)
O que explica isso? (IV)
1.0 1.5 2.0 2.5 3.0 3.5 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015Peso da regulamentação governamental
Entre 1 (muito alto) e 7 (muito baixo). Fonte: WEF.
Brasil
Upper-middle income (ex grandes exportadores de petróleo) "Controle"
O que explica isso? (V)
3.0 4.0 5.0 6.0 7.0 8.0 9.0 10.0 11.0 12.0 13.0 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015Tarifa mediana de importação de bens
Em %. Fonte: WEF.
Brasil
Upper-middle income (ex grandes exportadores de petróleo) "Controle"
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