O Centro Internacional de Negócios da
Madeira e a actividade de shipping
Clotilde Celorico Palma
Âncora: O mar com os pés assentes
na terra
• Origens do CINM
• Enquadramento legal do CINM
• O caso da actividade de shipping
• Conclusões
• O regime do CINM ou Zona Franca da Madeira
foi criado em 1980 por Portugal, através do DL
n.º 500/80, de 20.10, para fazer face às notórias
e persistentes dificuldades económicas de uma
pequena
ilha
ultraperiférica,
como
um
instrumento
fundamental
da
política
de
desenvolvimento da RAM.
• A RAM dispunha, à data, de um PIB per capita
que correspondia a 54% da média da CEE.
• A criação teve na sua origem a Zona Franca
Industrial, circunscrita a um enclave territorial.
• De Zona Franca Industrial evoluiu para Centro
Internacional de Negócios:
- O DR n.º 53/82, de 23.08, veio alargar o âmbito
da Zona Franca, passando a autorizar que
nesta se exercessem todas as actividades de
natureza industrial, comercial ou financeira.
- O DL n.º 165/86, definiu os incentivos fiscais para
promoção e captação de investimentos na ZFM.
- O regime, tal como foi depois acolhido no EBF, com
quatro sectores de actividade, é completado com o
DL n.º 96/89, de 28.03, que criou o Registo
Internacional
de
Navios
da
Madeira
(MAR),
determinando a aplicação de benefícios fiscais às
empresas e às tripulações (regulamentado na Portaria
715/89, de 23 de Agosto, para os navios, e no Decreto
n.º 192/2003, de 22 de Agosto, no que concerne ao
regime das embarcações de recreio).
- A adaptação do regime, sendo coligidos os diversos
benefícios fiscais, ocorre em 1989 com o EBF.
• Artigo 349.º, n.º2, do TFUE:
“ (...) Tendo em conta a situação social e económica estrutural dos Açores, da Madeira (…), agravada pelo grande afastamento, pela insularidade, pela pequena superfície, pelo relevo e clima difíceis e pela sua dependência económica em relação a um pequeno número de produtos, factores estes
cuja persistência e conjugação prejudicam gravemente o seu
desenvolvimento, o Conselho (...), adoptará medidas específicas destinadas, em especial, a estabelecer as condições de aplicação do presente Tratado a essas regiões, incluindo as políticas comuns.
As medidas a que se refere o primeiro parágrafo incidem designadamente sobre as políticas aduaneira e comercial, a política fiscal, as zonas francas, as políticas nos domínios da agricultura e das pescas, as condições de aprovisionamento em matérias-primas e bens de consumo de primeira necessidade, os auxílios estatais e as condições de acesso aos fundos estruturais e aos programas horizontais da União.”
• O regime do CINM configura-se como um regime de auxílios de Estado sob a forma fiscal, com objectivos de desenvolvimento regional de uma pequena ilha ultraperiférica, necessitando, enquanto tal, de ser devidamente notificado e aprovado pela Comissão Europeia.
• Neste contexto, o regime foi aprovada diversas vezes por períodos determinados, a primeira vez em a 26 de Maio de 1987, por um período de três anos com início em 1989 e produção de efeitos até 31 de Dezembro de 2011, como um regime de auxílios fiscais composto por um registo internacional de navios, uma zona franca industrial, um sector de serviços financeiros e um sector de serviços internacionais.
• Actualmente, o regime fiscal do CINM
consta essencialmente dos artigos 33.º e
36.º do EBF, tratando-se de um regime
global unitário que abrange três sectores
de actividade: os serviços internacionais,
o MAR e a Zona Franca Industrial.
• O Regime do artigo 36.º do EBF, é aplicável às
entidades que se licenciem para operar no
CINM no período entre 1.1.2007 e 31.12.2013 e
os benefícios fiscais aplicáveis mantêm-se até
31.12.2020.
• Mantém as linhas estruturantes do anterior
Regime II que entretanto caducou a 31.12.2011
(artigo 35.º do EBF): tributação a taxas
reduzidas de IRC e limitação da concessão do
benefício através da aplicação de plafonds
máximos à matéria colectável objecto do
benefício fiscal em sede de IRC.
• Relativamente às entidades devidamente
licenciadas a partir de 1.1.2007 e até
31.12.2013 para o exercício de actividades
industriais,
comerciais,
de
transportes
marítimos
e
serviços
de
natureza
não
financeira, consagra-se um regime geral
degressivo
dos
benefícios
concedidos,
passando-se a tributar os rendimentos em IRC
às taxas de 3% nos anos 2007 a 2009, de 4%
nos anos 2010 a 2012 e de 5% nos anos 2013
e seguintes.
Registo de navios e embarcações comerciais/Vantagens:
• Registo comunitário com pleno acesso à cabotagem continental e insular no âmbito da UE, em consequência do estatuto do MAR como Registo Comunitário;
• Flexibilidade nos requisitos de nacionalidade das tripulações. O comandante e 50% da tripulação de segurança do navio deverão ser cidadãos do continente europeu ou de países de língua oficial portuguesa, podendo este requisito ser dispensado em casos
devidamente justificados;
• Um regime de segurança social competitivo. Os membros da tripulação de navios registados no MAR e respectivos
empregadores não estão obrigados a fazer descontos para o sistema português de segurança social. No entanto, um sistema alternativo de seguro deverá ser providenciado;
Registo de navios e embarcações comerciais/Vantagens:
• Os salários auferidos pelas tripulações dos navios
registados no MAR estão isentos de qualquer taxa ou
contribuição fiscal;
• Um regime de hipotecas competitivo, permitindo que
ambas as partes possam escolher o sistema legal de um
determinado país para regular a criação da hipoteca;
• Possibilidade de registo do navio em nome de uma
sociedade instalada no CINM ou de uma sociedade
sedeada no estrangeiro, caso em que um representante
legal deverá ser nomeado na Madeira;
• à taxa reduzida de 3 a 5%;
• Isenção de retenção na fonte de dividendos distribuídos quer a residentes quer a não residentes;
O shipping no CINM
Registo de navios e embarcações comerciais/Vantagens:
Acesso aos benefícios do regime CINM, como:
• Tributação à taxa reduzida de 3% a 5%;
• Isenção de retenção na fonte de dividendos distribuídos
quer a residentes quer a não residentes;
• Isenção de retenção na fonte de juros pagos a não
residentes;
• Isenção de ISP sobre o combustível;
• Isenção de IVA se a actividade for comercial e exercida
em alto mar, com direito a reembolso do IVA suportado;
• Isenção de imposto do selo;
• Acesso aos tratados de dupla tributação celebrados por
Portugal.
Registo de navios e embarcações comerciais/Vantagens:
O MAR não é considerado uma bandeira de
conveniência;
• O MAR está classificado na lista branca do Paris
MOU;
• Admissão de registos temporários, flag in e flag
out, pelo período de 5 anos, prorrogáveis por
períodos iguais e sucessivos; e
• Aplicação de convenções internacionais IMO e
OIT ratificadas por Portugal;
Registo de iates privados e comerciais/Vantagens:
• Registo comunitário com pleno acesso à navegação em águas de países da UE;
• Baixa tributação, incluindo o IVA;
• Reembolso do IVA no caso do iate desenvolver uma actividade comercial;
• Isenção de IVA na aquisição de combustível para iates comerciais assim como no desenvolvimento de operações de “charter”;
• Dispensa da obrigatoriedade de constituição de uma empresa local; • Inexistência de limitações à nacionalidade das tripulações dos iates
comerciais registados no MAR;
• Regime de segurança social flexível para a tripulação dos iates comerciais.
• Actualmente 70% da frota mundial está registada sob
um pavilhão estrangeiro, ou seja, os navios
encontram-se, via de regra, registados numa bandeira que não a
do estado de domicílio ou da sede dos seus
proprietários.
• Destes 70%, mais de 1/3 dos navios estão registados
em registos cujos custos de registo e tributação são
deveras reduzidos e onde os requisitos de tripulação
são flexíveis, designadamente na Libéria e no Panamá.
• Tem-se verificado que os armadores recorrem cada vez
mais a estes registos para reduzir os custos do registo
inicial dos navios e bem assim os custos de manutenção
dos mesmos.
O Registo Internacional de Navios da Madeira
147 Navios de comércio 39 Iates comerciais 48 Embarcações de recreio 2.775 Tripulantes TAL: 665.680 TAB: 1.419.441 RIN-MAR dados a 30/06/2012:Tipo de Navios: Carga geral Passageiros Ro-Ro/Ferries Graneleiros Químicos Rebocadores Petroleiros Cimenteiros Barcaças Dragas Plataforma móvel Transportadores de gás liquefeito
Origem dos navios de comércio: Itália 43 Espanha 26 Alemanha 25 Portugal 17 Noruega 10 Outros 26 Nota: dados a 30/06/2012.
*30 de Junho 2012
Evolução dos Navios
Alemães Registados no
RIN-MAR, nos últimos 5
anos
2007 2008 2009 2010 2011 2012* 25 20 18 20 23 26RIN-MAR 2007 Navios de Comércio Embarcações de Recreio Total de Entidades Registadas no MAR 150 54 14 218 Iates Comerciais
Evolução RIN-MAR últimos 5 anos
2011 141 51 36 228 2008 156 61 21 238 2009 154 65 21 240 2010 142 55 31 228
Nota: Dados a 31 de Dezembro de cada ano.
Contributos do CINM
N.º de sociedades licenciadas no CINM:31 de Dezembro de 2011 Total
Serviços Internacionais 2.207
Zona Franca Industrial 52
Serviços Financeiros 22
Entidades registadas no MAR 228
Total 2.509*
Capital social * 10.852.143.154,00 €
* Não inclui os fundos afectos das sucursais licenciadas, nomeadamente das SFE e SFI, nem os fundos afectos à operação dos navios registados.
*Inclui 304 sociedades que não transitaram para o Regime III.
O shipping no CINM
• Actualmente, poucos são os EM da UE que ainda não
têm um tonnage tax regime em vigor, designadamente o
Luxemburgo, Portugal e a Hungria (a falta de actuação
das autoridades portuguesas no sentido da
implementação de um regime deste tipo deve-se à
existência do MAR, de per si já deveras atractivo para
armadores nacionais e internacionais a operar em águas
internacionais).
• Analisados os regimes de tonnage tax da UE, verifica-se
que em regra não contendem com o regime do CINM,
dado não exigirem que as embarcações estejam
• O regime do CINM não é um regime típico de
um paraíso fiscal.
• A Madeira nunca figurou em nenhuma lista
oficial de territórios ou regiões qualificadas
como paraísos fiscais, quer da OCDE, quer do
Grupo de Acção Financeira (GAFI), instituído
pelo G-7 para o combate ao branqueamento de
capitais proveniente do tráfico de droga.
• De acordo com os indicadores económicos, o
CINM representa cerca de um quinto da
economia da Madeira.
• Em 2006 e 2007, os sectores com melhor
desempenho foram a zona franca industrial e o
registo internacional de navios.
• Em 2012, o sector do CINM com melhor
desempenho tem sido o do registo internacional
de navios.
Conclusões:
• O CINM é um instrumento indispensável ao desenvolvimento económico e social da RAM (Estudo elaborado pelo Centre for
European Policy Studies, de Bruxelas, The Madeira International Business Centre: The Economic Context and European Interests,
report prepared by Wolfgang Hager and Matthias Levin, January 2002:confirma as conclusões de um relatório entregue por Portugal junto da União Europeia quanto ao mérito e indispensabilidade da prossecução do programa do CINM).
• Não existindo impedimentos de natureza legal à existência de controlos, a credibilidade do funcionamento de um regime como o do CINM passa, por uma correcta inspecção do seu funcionamento, como tem sido prática.
Conclusões:
• O regime do CINM apresenta-se como uma alternativa fundamental de desenvolvimento económico e social da RAM especialmente neste momento de crise que atravessamos, com sectores como o do turismo fortemente afectados.
• O MAR, como registo português, tem-se afirmado entre os registos de maior qualidade, assegurando que todos os requisitos técnicos, de segurança, estabilidade e funcionamento do navio estão em conformidade com as convenções internacionais que vinculam nesta matéria o Estado português.