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EXCELENTISSÍMO SENHOR CONSELHEIRO FABRÍCIO MACEDO MOTTA, DIRETOR DA 3ª REGIÃO DO TRIBUNAL DE CONTAS DOS MUNICÍPIOS DO ESTADO DE GOIÁS

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Rua 68, nº 727, Centro, Goiânia-GO, CEP: 74055-100-Fone: 3216-6243-www.tcmgo.tc.br/mpc

EXCELENTISSÍMO SENHOR CONSELHEIRO FABRÍCIO MACEDO

MOTTA, DIRETOR DA 3ª REGIÃO DO TRIBUNAL DE CONTAS DOS

MUNICÍPIOS DO ESTADO DE GOIÁS

O Ministério Público junto ao Tribunal de Contas dos Municípios do

Estado de Goiás, no uso das atribuições que lhe são conferidas pelo art. 94, I, da Lei

Orgânica do TCMGO (Lei Estadual nº 15.958/07) e pelo art. 115, I, do Regimento Interno do TCMGO (Resolução Administrativa n° 73/09), vem à presença de Vossa Excelência oferecer REPRESENTAÇÃO COM PEDIDO DE MEDIDA CAUTELAR, nos termos do art. 208, II, do RITCMGO, pelos fatos e fundamentos expostos seguir.

I – FATOS E FUNDAMENTOS

Este Ministério Público de Contas (MPC), no exercício de suas atividades rotineiras de guarda da lei e fiscal de sua execução, constatou vícios na estrutura remuneratória de cargos em comissão no Poder Executivo de Formosa.

Dados de 2019 informados pelo jurisdicionado ao SICOM1 revelam que vários ocupantes de cargos de provimento em comissão de órgãos e entidades do Poder Executivo receberam, adicionalmente aos vencimentos dos cargos, parcelas de “gratificação de função”. Ademais, os valores das parcelas diferem entre ocupantes de cargos idênticos, a indicar a fixação casuística dos valores e por ato infralegal.

O resumo detalhado da última folha de pagamento informada ao SICOM (dez/2019) relativa às unidades orçamentárias ligadas a órgãos e entidades do Poder

1 Os dados mais recentes, relativos a 2020, que passam a ser informados à nova plataforma Colare

ainda não são suficientes para o levantamento das parcelas remuneratórias componentes da folha de pagamento de órgãos e entidades do Poder Executivo de Formosa.

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Executivo de Formosa traz, entre outros componentes remuneratórios, a seguinte distribuição de parcelas pagas aos servidores comissionados do município:

Tabela 01 – Resumo Geral da Folha de Pagamento - Dez/2019

Id. Rubrica Quantidade Valor

1 Vencimento Base/Subsídio 304 R$ 763.107,48 6 Gratificação de função 106 R$ 155.229,96

77 Outras Gratificações 59 R$ 57.982,71

TOTAL 469 R$ 976.320,15

Fonte:SICOM- TCM - PESSOAL.

Critério de busca - Município: FORMOSA; Órgão: Todos (exceto Legislativo); C.P.F.: Todos; Nome: Todos; Tipo de Admissão: Comissionado; Período de 12 até 12 do ano de 2019; Cargo: Todos; Profissional do Magistério: Todos; Todos os Servidores; Todos os Servidores.

A tabela evidencia que, dos 304 vencimentos informados na folha de dezembro de 2019, 106 estão adicionados de “gratificação de função”, sem considerar outras vantagens classificadas genericamente como “outras gratificações” (59). Isso demonstra que pelo menos 34,8% dos comissionados vinculados à estrutura administrativa de órgãos e entidades do Poder Executivo de Formosa receberam gratificações de função adicionalmente à remuneração devida pelo exercício das atribuições de chefia, direção e assessoramento dos seus cargos (vencimentos).

Se considerado todo exercício de 2019, a relação entre número de vencimentos e de “gratificações de função” manteve-se em proporção semelhante à observada em dezembro (35,6%). No ano, a rubrica “gratificação de função”, apenas, alcançou R$ 1.377.022,41(um milhão, trezentos e setenta e sete mil, vinte e dois reais e quarenta e um centavos) em pagamentos “extras” a comissionados. Observe-se:

Tabela 02 – Resumo Geral da Folha de Pagamento – 2019

Id. Rubrica Quantidade Valor

1 Vencimento Base/Subsídio 3436 R$ 5.637.106,96 6 Gratificação de função 1224 R$ 1.377.022,41 77 Outras Gratificações 609 R$ 478.070,32

TOTAL 5269 R$ 7.492.199,69

Fonte:SICOM- TCM - PESSOAL.

Critério de busca - Município: FORMOSA; Órgão: Todos (exceto Legislativo); C.P.F.: Todos; Nome: Todos; Tipo de Admissão: Comissionado; Período de 01 até 12 do ano de 2019; Cargo: Todos; Profissional do Magistério: Todos; Todos os Servidores; Todos os Servidores.

Os cargos em comissão dos órgãos e entidades do Poder Executivo do município de Formosa foram criados e são disciplinados pela Lei Municipal nº 55/01. E essa lei dispõe, de modo geral, que os cargos por ela criados se destinam ao

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exercício de atribuições de chefia, direção e assessoramento (art. 2º, caput2).

A citada lei também fixa os vencimentos dos cargos, vencimentos que correspondem, por certo, à contrapartida pelo exercício exclusivo das atribuições de chefia, direção e assessoramento. Todavia, em seu art. 29, § 2º3, a lei autoriza a concessão de “gratificação” de “até 100% sobre o valor do vencimento” aos ocupantes dos cargos em comissão, por ato próprio e a critério do chefe do Poder Executivo, indicando a possibilidade de cometimento de atribuições e remunerações “extras”.

Não foi possível encontrar os atos concessórios de gratificações com amparo na referida norma, na medida em o município não dá transparência a esses atos de gestão no seu site. Além de não publicar os atos concessórios, o município omite o detalhamento de sua folha de pagamento no portal da transparência (anexo), informando apenas os valores totais da remuneração pagos aos servidores.

No entanto, as informações do SICOM supracitadas deixam claro que o art. 29, § 2º, da Lei Municipal nº 55/01 está em franca aplicação, sendo certo que grande parte dos comissionados do Executivo de Formosa tem recebido, indevidamente, remuneração “extra”, em especial como “gratificação de função”.

Segundo o art. 37, V, da Constituição Federal (CF), os cargos em comissão se destinam apenas às atribuições de direção, chefia e assessoramento.

Nessa esteira, este TCMGO decidiu, no AC-CON nº 08/14, que é vedada

2 Art. 2º. A direção superior do Poder Executivo é exercida pelo Prefeito, com o auxílio dos Secretários

Municipais e autoridades equivalentes. Os cargos de Provimento em Comissão criados por esta Lei atendem às funções de Chefia, Direção e Assessoramento.

3 Art. 29. O Quadro de cargos de provimento em comissão do Poder Executivo do Município de

Formosa, passa a ser o definido no Anexo I desta Lei.

§ 1º Os vencimentos dos cargos de provimento em comissão obedecerão, além das normas legais e constitucionais aplicáveis à espécie, o disposto no Anexo II desta Lei.

§ 2º Aos ocupantes dos cargos de provimento em comissão, poderá a critério do Chefe do Poder Executivo e em atendimento as necessidades dos serviços e o interesse superior e predominante do Município, ser concedida gratificação de até 100% (cem por cento) sobre o valor do vencimento do cargo, através de ato próprio e com estrita observância as disponibilidades orçamentárias, segundo o Plano de Classificação Programática.

§ 3º A percentagem mínima estabelecida para ocupação dos cargos em comissão por servidores efetivos é de 10% (dez por cento).

§ 4º O servidor de Quadro Efetivo, desempenhando função de cargo de provimento em comissão, poderá optar por receber o vencimento do cargo comissionado ou do cargo efetivo, acrescido de função gratificada, com valor suficiente a atingir o valor do vencimento do cargo comissionado, excluídas as vantagens pessoais, calculadas sobre o vencimento do cargo efetivo

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a percepção de gratificações por servidores comissionados. Assim:

EMENTA: Ao servidor público comissionado é vedada a percepção

de gratificação pelo exercício de cargos de direção, chefia e assessoramento, pois o cargo já é destinado exclusivamente ao exercício de tais atribuições (art. 37, V, CF). Somente por lei específica

é possível a fixação ou a alteração de remuneração dos servidores, vedada a vinculação ou equiparação salarial. (TCMGO. AC-CON nº 08/14. Relator: Conselheiro Substituto Vasco C. A. Jambo. 17/09/14)

O TCE do Paraná também tem decisão nesse sentido:

I – Conhecer a Consulta e, no mérito respondê-la no seguinte sentido:

Não é possível a acumulação da remuneração de cargo em comissão com gratificação por função de confiança ou com outras instituídas em razão de condições excepcionais de serviço.

(TCE-PR. Acórdão nº 671/2018-Tribunal Pleno. Relator: IVAN LELIS BONILHA. 06/04/2018).

Os cargos em comissão, portanto, conforme as decisões citadas, têm as suas atribuições exclusivas remuneradas pelos vencimentos ou subsídios. Não é possível conferir-lhes funções distintas, a justificar plus remuneratório (gratificação).

Ainda, a criação dos cargos, empregos e funções na administração pública está sujeita à reserva de lei formal (art. 61, § 1º, II, “a”, da CF). Desse modo, a criação de feixes de atribuições “extras” a serem cometidos aos servidores jamais poderia ocorrer de modo casuístico e discricionário por ato próprio do prefeito.

A fixação dos valores das gratificações por ato infralegal também não encontra amparo constitucional. A remuneração na administração pública está sujeita à reserva de lei específica, vale dizer, a remuneração dos cargos e funções deve ser fixada em valor certo e mediante lei em sentido formal, não se admitindo

deslegalização ou remissão a ato infralegal para fixação de valores de parcelas, ao

contrário da disposição da lei local quando autoriza valores de “até 100% dos vencimentos” a serem definidos, casuística e discricionariamente, por ato do prefeito.

É nesse sentido a jurisprudência do Supremo Tribunal Federal:

"Em tema de remuneração dos servidores públicos, estabelece a

Constituição o princípio da reserva de lei. É dizer, em tema de remuneração dos servidores públicos, nada será feito senão mediante lei, lei específica. CF, art. 37, X; art. 51, IV; art. 52, XIII.

Inconstitucionalidade formal do Ato Conjunto 1, de 5-11-2004, das Mesas do Senado Federal e da Câmara dos Deputados." (ADI 3.369-MC, rel. min. Carlos Velloso, julgamento em 16-12-2004, Plenário, DJ de 1º-2-2005.) No mesmo sentido: AO 1.420, rel. min. Cármen Lúcia, julgamento Digitally Signed by REGIS GONCALVES LEITE:32972776100-AC SOLUTI Multipla

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em 2-8-2011, Primeira Turma, DJE de 22-8-2011.

“Decisão administrativa do TJ/RN (...). Extensão de concessão de gratificação de 100% aos agravantes aos servidores do Tribunal de Justiça. (...) A extensão da gratificação contrariou o inciso X do art. 37 da CR, pela inobservância de lei formal, promovendo equiparação remuneratória entre servidores, contrariando o art. 37, XIII, da CR.” (ADI 3.202, rel. min. Cármen Lúcia, julgamento em 5-2-2014, Plenário, DJEde 21-5-2014.)

"O tema concernente à disciplina jurídica da remuneração funcional

submete-se ao postulado constitucional da reserva absoluta de lei, vedando-se, em consequência, a intervenção de outros atos estatais revestidos de menor positividade jurídica, emanados de fontes normativas que se revelem estranhas, quanto à sua origem institucional, ao âmbito de atuação do Poder Legislativo, notadamente quando se tratar de imposições restritivas ou de fixação de limitações quantitativas ao estipêndio devido aos agentes públicos em geral. O princípio constitucional da reserva de lei

formal traduz limitação ao exercício das atividades administrativas e jurisdicionais do Estado. A reserva de lei – analisada sob tal perspectiva – constitui postulado revestido de função excludente, de caráter negativo, pois veda, nas matérias a ela sujeitas, quaisquer intervenções normativas, a título primário, de órgãos estatais não legislativos. Essa cláusula constitucional, por sua vez, projeta-se em uma dimensão positiva, eis que a sua incidência reforça o princípio, que, fundado na autoridade da Constituição, impõe à administração e à jurisdição a necessária submissão aos comandos estatais emanados, exclusivamente, do legislador. Não cabe ao Poder Executivo em tema regido pelo postulado da reserva de lei, atuar na anômala (e inconstitucional) condição de legislador, para, em assim agindo, proceder à imposição de seus próprios critérios, afastando, desse modo, os fatores que, no âmbito de nosso sistema constitucional, só podem ser legitimamente definidos pelo Parlamento. É que, se tal fosse possível, o Poder Executivo passaria a desempenhar atribuição que lhe é institucionalmente estranha (a de legislador), usurpando, desse modo, no contexto de um sistema de poderes essencialmente limitados, competência que não lhe pertence, com evidente transgressão ao princípio constitucional da separação de poderes." (ADI 2.075-MC, rel. min. Celso de Mello, julgamento em 7-2-2001, Plenário, DJ de 27-6-2003.)

Assim também dispõe a Constituição do Estado de Goiás:

Art. 69. À Câmara Municipal, com a sanção do Prefeito, ressalvadas as especificadas no art. 70, cabe dispor sobre todas as matérias da competência municipal, e especialmente sobre:

VI – regime jurídico dos servidores públicos municipais, criação, transformação e extinção de cargos, empregos e funções públicos, estabilidade e aposentadoria e fixação e alteração de remuneração ou subsídio;

O Tribunal de Justiça do Estado de Goiás em várias oportunidades já declarou a inconstitucionalidade de leis que conferiam ao chefe do Poder Executivo

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autorização para fixação do valor de gratificações, como se nota nas ementas abaixo:

Ementa: Ação Direta de Inconstitucionalidade. Lei Municipal. Provimento em Cargo Público. Acesso. Irredutibilidade de Vencimentos. Cargo de Provimento em Comissão. Instituição de Gratificação. Afronta a Texto Constitucional Federal e Estadual. 1- (...). 2- (...). 3- Compete ao Chefe

do Executivo, ao criar gratificação de cargos em comissão, fixar valor certo, sem deixar margem diversa da finalidade imposta à

Administração Pública ( art. 92, CE). 4 – (...). Ação Julgada Procedente.

(ADI nº 270-7/200, Rel. Des. Ney Teles de Paula)

Ementa: Ação Direta de Inconstitucionalidade. Julgamento Definitivo. Inexistência de Presunção Derivada da Concordância dos Sujeitos Processuais Quanto a Pontos do Ajuizamento. Acesso e Readmissão. Redução de Vencimentos. Gratificações de Representação e Produtividade. Função Gratificada. Prisão Administrativa. Efeitos da Declaração. I- (..). II (...). III- (...). IV- (...). V- A concessão de

gratificações de representação e produtividade, embora franqueada à lei, deve atender ao princípio da impessoalidade (art. 92, caput, da

CE, reproduzindo o 37, caput, CF). VI – Importa violação à reserva

legal a disposição que ao instituir função gratificada remete ao Chefe do Poder Executivo o estabelecimento de valores e critérios para fixação dos níveis ou símbolos da vantagem (CE, art. 69, VI). VI-

(...). VII – (...). VIII – Ação julgada procedente.( ADI nº 271-5/200, Rel. Desª. Beatriz Figueiredo Franco)

Ementa – Ação Direta de Inconstitucionalidade. Artigos da Lei nº 13.18, de 16.11.1993, da Lei nº 13.309, de 25.09.1993, e da Lei nº 1.510, de 29.12.2000, todas do Município de Paraúna. Preliminares afastadas. 1- (...). 2- (...). 3- (...). 4- A gratificação a ser concedida pelo Chefe do

Poder Executivo para os ocupantes de cargos em comissão deverá ser fixada em valores certos, sem margem a atuação ilegal, pessoal e diversa da finalidade pública, sendo o art. 58, os parágrafos 1 e 2 do art. 59, o art. 62, da Lei nº 1.318/93, e o art. 23, parágrafos 1 e 2, da Lei nº 1.510/00 incompatíveis com o art. 92 da Constituição Estadual justamente por propiciarem a atuação personalista do

Administrador. 5 – o Caput do art. 59 da Lei nº 1.318/93 não foi

recepcionado pela ordem constitucional estadual ditada pela Emenda nº 19/98 a CF, que a ela incorporou, estando ineficaz no mundo jurídico. 6- (...). 7 (...). Ação julgada parcialmente procedente” (ADI nº 275-8/200, Rel. Des. Leobino Valente Chaves).

ACAO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE. LEI MUNICIPAL. IMPOSSIBILIDADE JURÍDICA DO PEDIDO. NÃO CONFIGURADA. CARGOS COMISSIONADOS. GRATIFICACAO. AFRONTA AOS PRECEITOS DA CARTA ESTADUAL PERTINENTES A MATÉRIA. INCONSTITUCIONALIDADE DECLARADA. I - COMPETE AO TRIBUNAL DE JUSTICA O EXAME DE ADIN DE DISPOSITIVO QUE AFRONTA A CONSTITUICAO ESTADUAL, MESMO QUE MALFIRA TAMBEM A CONSTITUICAO FEDERAL; ASSIM SENDO, NAO HA QUE SE FALAR EM IMPOSSIBILIDADE JURIDICA DO PEDIDO SOB O FUNDAMENTO DE AUSÊNCIA DE OFENSA A CARTA ESTADUAL. PRELIMINAR REJEITADA. II - A CRIAÇÃO DE CARGOS EM COMISSÃO DEVE SER PROCEDIDA EM OBSERVÂNCIA AOS ATRIBUTOS ESPECIAIS DE CHEFIA, DIREÇÃO E Digitally Signed by REGIS GONCALVES LEITE:32972776100-AC SOLUTI Multipla

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ASSESSORAMENTO, INDICATIVOS DA ESPECIALIDADE INERENTE A TAL PROVIMENTO, A PONTO DE SE DISPENSAR O CONCURSO PÚBLICO, SENDO PASSÍVEL DE NOMEAÇÃO E EXONERAÇÃO A QUALQUER TEMPO. DESSE FORMA, PATENTEIA-SE A INCONSTITUCIONALIDADE DE LEI MUNICIPAL QUE CRIA CARGOS COMISSIONADOS, SEM A OBSERVÂNCIA DE TAIS REQUISITOS ESPECÍFICOS; MORMENTE QUANDO NÃO EVIDENCIAM VÍNCULO DE CONFIANÇA QUE JUSTIFIQUE O REGIME DE LIVRE NOMEAÇÃO QUE OS CARACTERIZA, IMPLICANDO EM BURLA A REGRA DO CONCURSO PÚBLICO. II - E INADMISSÍVEL A CONCESSÃO DE

GRATIFICAÇÃO DE FORMA ALEATÓRIA PELO CHEFE DO EXECUTIVO, SEM QUE PREVISTO O NECESSÁRIO FATOR

DIFERENCIADOR NA ATIVIDADE PRESTADA E/OU NAS

CONDIÇÕES ANORMAIS DE EXECUÇÃO DE TAREFAS. III - A CONCESSÃO DE GRATIFICAÇÃO A SERVIDOR MUNICIPAL EXIGE REGULAR E INDIVIDUADA PREVISÃO DE PAGAMENTO NA LEI DE DIRETRIZES ORÇAMENTÁRIAS DO MUNICÍPIO, SOB PENA DE VIOLAÇÃO A DIRETRIZ ÍNSITA NO PARÁGRAFO ÚNICO, DO ART.

113, DA CARTA ESTADUAL. PEDIDO PROCEDENTE.

INCONSTITUCIONALIDADE DECLARADA. (ADI 204-5/200

(200101836362), Rel. Des. Arivaldo da Silva Chaves)

Este TCM também tem várias decisões4 em processos de fiscalização

nas quais entendeu irregular a fixação de valores de gratificações por atos infralegais.

Mais recentemente, o TCM encontrou prática semelhante de fixação de valores por

atos infralegais na Câmara Municipal de Anápolis, tendo determinado, em sede cautelar, a abstenção de novas concessões e de alterações de valores. Cita-se:

EMENTA. REPRESENTAÇÃO COM PEDIDO DE MEDIDA CAUTELAR. CÂMARA MUNICIPAL DE ANÁPOLIS. IRREGULARIDADES RELATIVAS À CONCESSÃO DE GRATIFICAÇÕES EM PERCENTUAL VARIÁVEL NO PODER LEGISLATIVO MUNICIPAL. FIXAÇÃO POR ATO INFRALEGAL E EM PERCENTUAL VARIÁVEL. PREENCHIMENTO DOS REQUISITOS LEGAIS. FUMUS BONI IURIS E PERICULUM IN MORA. DEFERIMENTO (Acórdão) 2. CONCEDER medida cautelar (inaudita altera pars), para determinar ao Sr. LEANDRO RIBEIRO DA SILVA, Presidente da Câmara Municipal de Anápolis, que se abstenha imediatamente de conferir gratificações com valores definidos por ato infralegal e de aumentar, por ato infralegal, valores de gratificações já conferidas aos servidores efetivos e comissionados da Câmara Municipal, até decisão posterior deste Tribunal; (TCMGO. Acórdão nº

02748/2020 - Tribunal Pleno. Relator: Cons. Daniel Augusto Goulart. 10/06/20)

Situação semelhante foi observada também na Câmara Municipal de Formosa (Processo nº 07458/20), fiscalização em andamento, a partir de

4 Acórdãos nº 6054/2016, 00888/18 e 02494/19.

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representação deste MPC, na qual o Tribunal reconheceu, em sede perfunctória, a irregularidade da concessão de gratificações a comissionados e promoveu determinação cautelar (Acórdão nº 04112/20) para impedir novas concessões.

Ressalta-se, além disso, que irregularidades semelhantes nos sistemas remuneratórios municipais estão sendo objeto de ações judiciais do Ministério Público de Goiás (MPGO), que também questionou tais práticas no âmbito da Câmara Municipal de Formosa5 e, mais recentemente, no município de Quirinópolis6.

As informações colhidas do SICOM também mostram diversos casos de ocupantes do mesmo cargo em comissão que receberam, em determinados meses, “gratificação de função” em valores distintos ou que nem receberam gratificação, mas apenas vencimentos. Alguns desses casos foram arrolados na Tabela 03 (anexo).

As folhas de pagamento mais recentes, publicadas no portal da transparência do município, indicam também grande variação nos valores brutos das remunerações de ocupantes dos mesmos cargos (Tabela 04, anexo), o que leva a crer que as distorções no sistema remuneratório continuam se reproduzindo em 2020. As distintas remunerações para ocupantes de cargos idênticos denotam que a concessão de gratificações aos comissionados em Formosa e a fixação dos valores não são orientadas por critérios objetivos, em descompasso com as diretrizes

do sistema remuneratório da administração pública previstas no art. 39 da CF7.

Mais além: a atribuição de gratificações e a fixação dos seus valores pautadas por critérios subjetivos implica abuso de discricionariedade e violação aos princípios da moralidade, da isonomia e da impessoalidade, a exigir pronta correção.

Em arremate, cabe destacar que a concessão de gratificações aos

5

http://www.mpgo.mp.br/portal/noticia/mp-aciona-camara-de-formosa-para-suspender-o-pagamento-de-gratificacoes-indevidas#.X2JhkGhKgdU. Acesso em: 17/09/20

6 http://www.mpgo.mp.br/portal/noticia/mp-aciona-municipio-de-quirinopolis-para-suspender-pagame

nto-indevido-de-beneficios-a-comissionados#.X2PRX2hKgdU. Acesso em:17/09/20.

7 Art. 39. A União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios instituirão, no âmbito de sua

competência, regime jurídico único e planos de carreira para os servidores da administração pública direta, das autarquias e das fundações públicas.

§ 1º A fixação dos padrões de vencimento e dos demais componentes do sistema remuneratório observará:

I - a natureza, o grau de responsabilidade e a complexidade dos cargos componentes de cada carreira; II - os requisitos para a investidura;

III - as peculiaridades dos cargos.

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comissionados do Poder Executivo do município de Formosa, pelas razões já referidas, tem ocorrido de modo irregular não apenas sob os aspectos da legalidade e da legitimidade, mas também sob o prisma da economicidade, na medida em que configuram pagamentos impróprios, em duplicidade, e importam lesão ao erário.

Por todo o exposto, é de suma importância que o TCMGO promova uma ampla fiscalização dessas gratificações pagas em duplicidade a comissionados do Poder Executivo do município de Formosa, a fim de apurar os danos ao erário e determinar providências visando ao mais célere saneamento da situação.

a) Necessidade de medida cautelar

Tendo em vista que a concessão irregular dessas gratificações é prática corrente no município, torna-se necessário o deferimento de medida cautelar, em caráter liminar, para obstar novas concessões, como também para evitar eventuais acréscimos nos valores de parcelas já irregularmente concedidas.

No caso, o risco de agravamento da situação e de lesão ao erário é iminente, pois as concessões dependem apenas de atos prefeito, de eficácia imediata. Esse risco ganha relevo no contexto da pandemia de Covid-19, na medida em que o cenário de abuso de discricionariedade permite o aumento de despesas não relacionadas ao combate da doença, em descompasso com as medidas prudenciais referidas na Recomendação Conjunta nº 01/2020 – TCMGO – MPC/TCMGO.

Assim, restam preenchidos os requisitos do art. 568 da LOTCMGO para

determinação cautelar, sendo providência urgente de tutela à legalidade e ao erário.

b) Legitimidade do Ministério Público de Contas

O artigo 94, inciso I, da Lei Orgânica do TCMGO (Lei Estadual n° 15.958/07) dispõe sobre a atribuição dos Procuradores de Contas para promoverem a defesa da ordem jurídica, requerendo perante o Tribunal de Contas dos Municípios, as medidas de interesse da Justiça, da Administração e do Erário.

8 LOTCMGO. Art. 56. O Tribunal Pleno ou o relator, em caso de urgência, de fundado receio de grave

lesão ao erário ou a direito alheio, ou de risco de ineficácia da decisão de mérito, poderá, de ofício ou mediante provocação, adotar medida cautelar, com ou sem a prévia oitiva da parte, determinando, entre outras providências, a suspensão do ato ou do procedimento impugnado, até que o Tribunal decida sobre o mérito da questão suscitada.

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Já o artigo 208, inciso II, do RITCMGO, ao tratar especificamente sobre os legitimados para representarem perante o Tribunal, estabelece que:

Art. 208. Têm legitimidade para representar ao Tribunal de Contas dos Municípios:

(...)

II – Membros do Ministério Público de Contas junto a este Tribunal;

Portanto, é inequívoca a aptidão do autor para provocar o Tribunal.

c) Competência do TCM-GO

A Lei Orgânica do TCMGO dispõe que compete ao Tribunal “exercer a

fiscalização contábil, financeira, orçamentária, operacional e patrimonial das prefeituras e câmaras municipais demais entidades instituídas e mantidas pelo Poder Público Municipal” (Art. 1º, inciso II, da Lei Estadual nº 15.958/07).

Além disso, a Lei Orgânica do TCMGO autoriza, expressamente, a iniciativa desta Corte para realizar fiscalizações e auditorias, nos seguintes termos:

Art. 1º Ao Tribunal de Contas dos Municípios, órgão de controle externo, compete, nos termos da Constituição Estadual e na forma estabelecida nesta Lei:

(...)

V - realizar, por iniciativa própria ou da Câmara Municipal, inspeções e auditorias de natureza contábil, financeira, orçamentária, operacional e patrimonial, nas unidades administrativas dos Poderes Legislativo e Executivo municipais e demais entidades instituídas e mantidas pelo erário municipal;

(...)

Art. 19. O Tribunal exercerá a fiscalização contábil, financeira, orçamentária, operacional e patrimonial das unidades dos Poderes Municipais e das entidades da administração indireta, inclusive das fundações e sociedades instituídas e mantidas pelo Poder Público Municipal, na forma estabelecida no Regimento Interno, para verificar a legalidade, a legitimidade e a economicidade de atos, contratos, convênios, termos de parceria e outros ajustes, das aplicações das subvenções e renúncias de receitas, com vistas a assegurar a eficácia do controle que lhe compete e a instruir o julgamento de contas de gestão.

Explícita, assim, no caso, a competência do TCMGO para a matéria

d) Requisitos específicos da RA nº 76/2019

Também restam satisfeitos os requisitos de seletividade em razão de

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risco, materialidade e relevância, nos termos dos art. 6º e 11 da RA nº 76/20199. Isso porque o objeto da presente representação não se refere a atos isolados, mas a vícios essenciais e recorrentes com impacto em toda a estrutura remuneratória relativa aos servidores comissionados no Poder Executivo de Formosa, envolvendo valores que, como observado em 2019, apenas a título de “gratificação de função”, superaram um milhão de reais (R$ 1.377.022,41 - Tabela 02, acima).

Além disso, as irregularidades apontadas ganham maior relevo considerando-se a calamidade pública decorrente da pandemia de Covid-19, situação que impõe rigor ainda maior na gestão do gasto público não relacionado ao enfrentamento da doença, em especial com a folha de pagamento, conforme

destacado na Recomendação Conjunta nº 01/2020 – TCMGO – MPC/TCMGO.

II – PEDIDOS

Ante o exposto, requer este Ministério Público de Contas:

a) o deferimento de medida cautelar, em caráter liminar, para determinar ao prefeito do município de Formosa, senhor Gustavo Marques de Oliveira, que imediatamente se abstenha de conferir gratificações a servidores comissionados com base no art. 29, § 2º, da Lei Municipal nº 55/01, e outras normas que tragam disposições semelhantes, como também de aumentar por ato infralegal os valores de gratificações já conferidas, devendo perdurar a abstenção até decisão posterior deste Tribunal, sob pena de multa (art. 47-A, X, da LOTCM) em caso de descumprimento;

b) a fiscalização da regularidade de todas as gratificações concedidas aos ocupantes de cargos em comissão no Poder Executivo de Formosa, com requisição dos quantitativos, dos atos concessórios e modificativos, da motivação utilizada para sua prática, entre outros documentos e informações considerados

9 Art. 6º O Relator adotará, ainda, seletividade pautada em risco, materialidade e relevância de modo

que as denúncias e representações que se refiram a irregularidades de menor relevância e risco, e àquelas cujo valor mínimo relativo ao dano ao erário apurado ou estimado seja igual ou inferior ao valor de alçada, terão parecer pela inadmissibilidade.

(...)

Art. 11 Atendidos os pressupostos previstos no art. 203 do RITCMGO e não configuradas irregularidades de menor relevância e risco ou não sendo o valor estimado do dano inferior ao valor de alçada, o Relator decidirá pela admissibilidade, expondo detalhadamente o preenchimento de cada um deles e a necessidade ou não de apuração em caráter sigiloso.

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relevantes pelas unidades técnicas deste TCMGO, com vistas a determinar a correção de atos cuja irregularidade reste confirmada, bem como para determinar a correta

disciplina remuneratória no município, em conformidade com os art. 37, V e X, 39, §

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Pede deferimento.

Ministério Público de Contas, em 17 de setembro de 2020.

REGIS GONÇALVES LEITE Procurador de Contas

Marco Aurélio

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