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ESTRUTURAÇÃODAPERSONALIDADE

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Academic year: 2021

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Texto

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Tradução adaptada do livro Du Conflit à la

Motivation - La Gestion Sociale, de Yves Enrègle,

Les Editions D'Organization, 1985

RM

(2)

1. A estrutura da personalidade

A psicanálise concebe a personalidade como estrutura dinâmica que integra três subsistemas que pela sua dinâmica interactiva garantem a adaptação constante do indivíduo às diversas situações sociais envolventes.

Cada um dos subsistemas referidos é um centro de forças que ora se aliam ora se opõem (conflitam). O equilíbrio do sistema humano não é portanto natural, mas decorre do processo interactivo de diferentes forças.

Embora os subsistemas referidos sejam construtos teóricos e não substâncias ou coisas materiais têm a vantagem de permitir visualizar e retratar as operações que ocorrem ao nível da personalidade individual. O seu funcionamento está estreitamente relacionado com o meio e com a realidade exterior que por isso mesmo não deixa de exercer profunda influência na sua desestruturação e reestruturação sucessivas.

Realça-se contudo que apesar da influência sofrida, a estrutura biológica do indivíduo preserva, no essencial, as diferenças inatas embora porventura modificadas pela acção do meio continuando assim a manter as suas características básicas.

Os subsistemas acima referidos são os seguintes:

1.1 A instância ou “subsistema id “- que representa o conjunto de pulsões típicas do organismo humano. É um reservatório de energia e o centro das pulsões. Estas pulsões podem ser de 2 (duas) naturezas. É seguro que toda a acção humana contém a mistura e a influência destas duas forças fundamentais.

A primeira força é responsável pelo desenvolvimento individual e pela reprodução da espécie. É portadora de relações positivas e construtivas entre as pessoas e é geradora da coesão e dos grupos. Esta força é designada como pulsão libidinal ou

pulsão de vida no sentido lato (eros, sexualidade).

A segunda força pode considerar-se simétrica da primeira, mas antagónica. Visa a destruição, a autodestruição, a heterodestruição, a destruição da espécie e luta pela sobrevivência. É esta força que origina tensões e conflitos. Esta segunda pulsão designa-se por thanatos, pulsão de morte, pulsão de agressividade, instinto de morte.

As duas forças mencionadas coexistem permanentemente no ser humano e são uma característica básica da instância id.

Assim, se a primeira característica do id é comportar-se como um reservatório de energia, a segunda é constituir-se como que um "armazém" de recordações que de algum modo foram reprimidas ou recalcadas e tendencialmente esquecidas.

Efectivamente há experiências vividas nos primeiros anos de vida que tanto podem ser agradáveis e gratificantes como desagradáveis e traumatizantes. Estas experiências não podem ser evocadas pela simples vontade das pessoas. Tais vivências podem ter sido esquecidas tornando-se quase inexistentes. Por isso não basta um esforço mental para as trazer à consciência. É preciso algo mais. Do ponto de vista de observação efectiva tudo se passa como se tivessem definitivamente desaparecido. Verifica-se porém que em certas circunstâncias "excepcionais", as tais recordações aparentemente esquecidas ascendem á consciência e revelam-se. Nestas circunstâncias excepcionais se enquadram as decorrentes da acção de certas drogas, da hipnose, o sonho em que ocorrem recordações de uma forma simbólica e a cura psicanalítica. Tal realidade prova que o esquecimento era apenas aparente pois os acontecimentos permaneceram "armazenados" mas intactos supostamento naquilo que se designa por id.

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Processo de funcionamento do id – este obedece ao "princípio do prazer". Procura

sempre o caminho mais curto, independentemente da realidade exterior, para satisfação e prazer que o ligam aos diferentes estados psicológicos do indivíduo. O

id visa apenas o prazer e é o grande fornecedor de energia ao aparelho psíquico. 1.2 A instância ou “subsistema eu” - este desenvolve-se e destaca-se do id por

diferenciação. E estrutura-se a partir do contacto com a realidade. O eu tem um papel de harmonizador tornando compatíveis as exigências do id com o constrangimento e instruções éticas do "super-eu" tomando em consideração as exigências do meio em que o indivíduo se desenvolve.

O eu funciona segundo o princípio da realidade, enquanto o id funciona segundo o

princípio do prazer. Aquele tenta controlar e garantir a oportunidade de expressão

deste.

O eu é por assim dizer o responsável por todas as actividades psíquicas, tais como: memória, atenção, organização, evitamento do perigo, integração de experiências anteriores em termos de aprendizagem, coordenação motora, pensamento lógico, inteligência etc.

Tem papel relevante na modificação e adaptação à realidade. Na perspectiva freudiana, o eu é acima de tudo o servidor do id.

1.3 A instância ou “subsistema Super-eu" aparece, como uma diferenciação do "eu",

por volta dos cinco anos de idade através da interiorização de forças repressivas que a criança encontrou ao longo dos primeiros anos de vida.

Esta interiorização atinge o seu momento mais significativo, quando o indivíduo pretende uma relação privilegiada e intensa com os pais (pai ou mãe) de sexo oposto, vendo o do mesmo sexo como rival - complexo de édipo ou eletra:

O super-eu é constituído pela interiorização do conjunto de interdições, de normas de conduta e de preceitos de comportamento inculcados no indivíduo pela sociedade em que vive. Estas forças repressivas opõem-se ou pelo menos orientam as pulsões do id. Sendo indispensáveis no processo de socialização do indivíduo, provavelmente terão efeito nocivo, podendo originar comportamentos neuróticos.

É através da acção da família e da escola que o indivíduo, integra as normas de conduta e os preceitos aceites socialmente e por isso, requeridos para viver em sociedade.

O super-eu acaba por vir perturbar ou pelos menos complicar uma situação que tinha sido minimamente resolvida entre o id e o eu.

Vejamos uma esquematização do funcionamento do aparelho psíquico.

2. Consciente e inconsciente

Uma das grandes descobertas da psicanálise foi a do inconsciente. Os fenómenos psíquicos podem agora ser atribuídos não só a causas conscientes mas também a causas

Eu

(realidade do meio envolvente)

Id

(centro de pulsões)

Super-eu

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inconscientes. Os trabalhos de Charcot, de Breuer e sobretudo de Sigmund Freud permitiram compreender aquela realidade e explicar muitos dos comportamentos até então completamente inultrapassáveis por não terem explicação física ou fisiológica compreensível como se pretendia. Estes fenómenos quase sempre de índole patológica preocuparam os psicanalistas. As primeiras tentativas terapêuticas para agir sobre casos patológicos foram ensaiadas ora com recurso ao hipnotismo ora à associação livre, mais tarde. Os trabalhos desenvolvidos permitiram concluir que para além de uma personalidade consciente, existiria também uma personalidade inconsciente que não deixava de intervir no comportamento e nas atitudes do indivíduo, revelando de algum modo capacidade de decisão. Esta manifestação comportamental foi designada por Freud como "inconsciente"1.

Desta forma o aparelho psíquico poderia ser representado pelo esquema simplificado, seguinte:

Uma visão mais completa da estruturação da personalidade e da origem dos fenómenos psíquicos levaria a construir o esquema a seguir apresentado:

Este esquema evidência que a totalidade do id é inconsciente. Com efeito o indivíduo não é consciente das suas pulsões, nem pode agir directamente sobre elas. Pode ter-se consciência das consequências das pulsões de id, mas não se pode actuar directamente sobre as pulsões. Uma outra característica do id é funcionar como armazém de experiências entretanto esquecidas e tornadas inconscientes.

O super-eu engloba uma parte consciente na qual se integram interdições legais, princípios religiosos, códigos morais e deontológicos etc. e uma parte inconsciente que é representada por interdições inconscientes como tabus (instintivos) etc...

O modelo ideal do comportamento ou seja o Eu-ideal é em parte consciente (traduzido na imagem que se desejaria atingir) e em parte inconsciente representado por certos comportamentos mantidos mesmo na ausência das razões que lhe deram origem.

1 A este respeito convém referir que num dos seus discursos Freud refere que não terá descoberto o

inconsciente pois sabia que há muito os poetas o tinham descoberto. O que Freud considerava era que tinha descobriu o caminho para o estudo do inconsciente

Eu

Id

Super-eu

Consciente

Inconsciente

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O eu é na sua maior parte consciente. A articulação que opera entre as exigências pulsionais (id), os constrangimentos éticos (super eu) e a realidade na qual o indivíduo age, ocorre essencialmente ao nível do consciente.

São sobretudo as faculdades de raciocínio do indivíduo, a sua coordenação motora e as capacidades intelectuais que vão desempenhar o papel de controlo. Há contudo uma pequena parte do eu que é inconsciente e que actua ao nível mesmo da harmonização e do controlo que se designará por Mecanismo de Defesa.

3. Os mecanismos de defesa

Os mecanismos de defesa actuam juntamente com mecanismos racionais de adaptação sempre que estes por si sós não conseguem equilibrar de um modo satisfatório o id, o

super-eu e a realidade (eu). A sua actuação é sempre precedida de um sinal de alarme

proveniente de um estado desconfortável de ansiedade. Esta ansiedade pode manifestar-se de três modos:

1. Se no processo de harmonização do eu-consciente a realidade foi maltratada, a

ansiedade assume a forma de medo.

2. Se é o super-eu que não foi respeitado, então a ansiedade toma a forma de

culpabilidade.

3. Finalmente, se é o id que é muito frustrado na expressão das suas pulsões agressivas

ou libidinais, tal ansiedade assume a forma de angústia

Na vida corrente das pessoas não há estados de equilíbrio perfeito nem de estabilidade emocional completa ainda que tal pareça. Cada um desenvolve uma permanente luta para manter o seu equilíbrio psicológico recorrendo a mecanismos de defesa dos quais se salientam entre outros os seguintes:

 Racionalização – processo através do qual se procura encontrar razões sólidas, inatacáveis, lógicas e racionais, para justificar antes de mais a si próprio e depois aos outros, um comportamento que é essencialmente emocional ou efectivo.

 Deslocamento – procedimento que se traduz no direccionamento sobre um objecto ou pessoa, sentimentos, afectos, pulsões que deveriam ser destinadas a outras pessoas ou objectos.

 Identificação – processo que se caracteriza por se assimilar a um aspecto de outrem em vez da totalidade de aspectos da sua personalidade e a partir daí adoptá-lo. É um mecanismo essencial no desenvolvimento individual.

 Projecção – processo que consiste na atribuição inconsciente a outrem dos seus próprios sentimentos ou afectos.

Outros mecanismos são também importantes e por isso referenciados aqui, tais como:  Isolamento - Processo que consiste em desligar um pensamento ou um

comportamento de suas sequências normais suprimindo os laços existentes entre o pensamento e comportamento por outros pensamentos ou outros comportamentos.

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 Negação - Esta consiste em fazer actuar um desejo exprimindo pensamentos e sentimentos que recusam aceitar aqueles que lhe queriam impor.

 Recalcamento – consiste no bloqueamento de uma pulsão libidinal ou agressiva, impedindo-a de se manifestar e impelindo-a para o esquecimento ou inactividade. Contudo acabará mais cedo ou mais tarde por se manifestar.

4. A gestão das pulsões

Pode afirmar-se que o indivíduo é permanentemente confrontado com a árdua tarefa psicológica de integrar e fundir as duas pulsões básicas que são a libido (eros), pulsão criativa e a agressividade, pulsão destrutiva (thanatos) constituindo um todo coerente, fornecedor da energia adequada aos problemas da realidade que o "eu" deve resolver. Para o efeito o "eu" deve saber dosear as quantidades de energia destas duas pulsões como se mostra seguidamente.

pulsão libidinal

energia pulsão agressiva

O doseamento inadequado ou desequilibrado provoca uma resolução inapropriada do problema. A gestão da fusão das pulsões é um trabalho essencial para formar as atitudes e os comportamentos.

Realça-se porém que às vezes se ultrapassa o simples mecanismo de defesa e se dá lugar ao aparecimento da formação reactiva. Esta consiste num comportamento perfeitamente simétrico do que se deseja ter por receio excessivo das consequências da pulsão que se procura exprimir. Por isso certas pessoas receiam de tal modo as suas pulsões agressivas que se comportam permanentemente de modo calmo, sorridente, amável e gentil manifestando acordo com tudo e com todos, não respondendo a agressões ainda que o merecessem. Pelo contrário manifestam geralmente comportamento de disponibilidade para com o agressor. Tudo se passa como se a pulsão agressiva tivesse desaparecido por completo. São exemplo disso, os comportamentos de pudor extremo e rígido como a

reacção à própria sexualidade, considerada como perigosa.

Contrariamente, o recalcamento não terá aparecimento repentino. Apresentará uma outra manifestação que poderia qualificar-se de permanente pulsão receosa, ou seja de uma acção sobre si mesmo do tipo masoquista ou pelo contrário de carácter narcísico.

Nota conclusiva

A partir do conteúdo do presente documento pode inferir-se que a pessoa funciona sob a égide da inter-influência e convergência de 3 instâncias que são:

O id, eu, e super-eu. A totalidade do id, uma parte do eu e uma parte do super-eu, são inconscientes;

O eu tem como função compatibilizar as pulsões do id com a ética do super-eu e com a realidade;

O eu recorre para simplificar o seu trabalho de harmonização às suas funções de

origem inconsciente - os mecanismos de defesa.

Referências

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