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As microempresas no Brasil: uma interpretação do censo de 1985

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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS SISTEMA DE BIBLIOTECAS DA UNICAMP

REPOSITÓRIO DA PRODUÇÃO CIENTIFICA E INTELECTUAL DA UNICAMP

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(2)

AS MICROEMPI\ESAS NO BRASIL:

UMA INTERPRETAÇAO DO CENSO DE 1985

• José Newton Cabral Carpintéro • Maria Carolina A.F. de Souza • Miguel Juan Sacie

Professores do Instituto de Economia da UNICAMP.

RESUMO Este trabalho procura dar uma interpre-tação dos dados do Censo das Microempresas

(empre-sas com faturamento menor que US$ 40.000 em 1985), recentemente publicado. São destacados alguns aspec-tos relevantes deste estrato de empresas no pa(s, como caracter(sticas, desempenho, diferenças entre classes de atividade e estratos de tamanho. Procura-se, ainda,

caracterizar aquela que seria a microempresa média no Brasil.

PALAVRAS-CHAVE: Microempresas, desempenho, classe de atividade, microempresa média.

(3)

MICROEMPRESAS: CARACTERÍSTICAS GERAIS

A

publicação pioneira de um volume dos Cen-sos Econômicos (1985) voltada exclusiva-mente para as microempresas (ME)1 oferece

opor-tunidades para uma reflexão sobre o desempenho e lugar ocupado por essas unidades na atividade econômica.

De início, convém explicitar que a definição in-corporada pelo Censo é a do Estatuto da Mi-croempresa- empresas com receita bruta anual menor ou igual a 10.000 ORTNs, valores refe-rentes a janeiro do ano-base, Cr$ 245 milhões em 19852

• Este é o quesito básico que delimitou o

uni-verso de empresas a ser pesquisado e, por decor-rência, o número total de microempresas, divul-gado pelo Censo.3

A partir desse corte, chegou-se a um número de 1.007.833 microempresas em operação em 1985, empregando 2.736.770 pessoas e gerando receitas de Cr$ 75 bilhões. Tais valores correspondem, res-pectivamente, a 77,1 %, 20% e 3% do valor desses itens para o total de empresas englobadas pelos Censos Econômicos, 1985.4 A observação dos

da-Quadro 1

dos agrupados nos quadros 1, 2, e 3 permite evi-denciar alguns pontos sobre a distribuição das mi-croempresas por regiões e classes de atividade econômica de forma a melhor caracterizá-las.

A região Sudeste responde por praticamente 50% dos totais apurados para o conjunto de mi-croempresas, seja em termos de número de em-presas e pessoal ocupado, seja em termos de re-ceitas. Agregando-se os percentuais das regiões Nordeste e Sul, chega-se a 90% desse conjunto. A importância da região Sudeste é igualmente

acen-1. FUNDAÇÃO Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Censos Econômicos -1985 Microempre-sas, Rio de Janeiro, IBGE, 1989.

2. Considerando o dólar médio de 1985 (Cr$ 6.205), um faturamento anual de Cr$ 245 milhões em 1985 cor-respondia a US$ 39.500.

3. O número total de microempresas expressa o número de empresas pesquisadas, e em operação em 1985, com receita menor ou igual a Cr$ 245 milhões a" nuais, excluindo-se aquelas que, por atuarem em mais de um endereço, responderam o questionário completo.

4. IBGE. Op. cit., p. XV.

Distribuição Percentual de Variáveis Selecionadas para Microempresas, segundo

regiões e classes de atividade econômica -

Brasil 1985 (*)

Pessoal Ocupado

Despesas e

Regiões

Nº Empresas

em 31/12/85

Receitas

Custos

V.A.

%

V. A.

%

V.A.

%

V. A.

0 /o

Brasil

1007833 100.0

2736770

100.0

75304580219

100.0 59448479377 100.0

Norte

45035

4.5

130645

4.8

4350282737

5.8

3386972368

5.7

Nordeste

219069

21.7

613568

22.4

16119017499

21.4 13106576159

22.0

Sudeste

490404

48.7

1327092

48.5

36306172957

48.2 28809577609

48.5

Sul

190775

18.9

495884

18.1

13898365055

18.5 10546957369

17.8

Centro-Oeste

62550

6.2

169581

6.2

4630741971

6.1

3598395872

6.0

Atividades

Brasil

1007833 100.0

2736770

100.0

75304580219

100.0 59448479377 100.0

Indústria

111620

11.1

454712

16.6

9159278479

12.2

7041078209

11.8

Comércio

485571

48.2

1105205

40.4

39312431162

52.2 31735902433

53.4

Serviços

397200

39.4

1116762

40.8

25325083476

33.6 19519185745

32.8

Construção

6255

0.6

33676

1.2

654314060

0.9

524950246

0.9

Transportes

7187

0.7

26415

1.0

853472772

1.1

627362744

1.0

(4)

Quadro 2

Distribuição do número de microempresas por regiões e classes de atividade

econômica

(*)

Regiões Brasil Norte Nordeste Sudeste Sul Centro-Oeste

Atividades % V. A. % % V. A. % % V. A. % % V. A. % % V. A. % % V. A. % Indústria 100 111620 11.1 4.4 4960 11.0 26.1 29054 23.3 40.5 45218 9.2 22.1 24625 12.9 6.9 7763 12.4 Comércio 100 485571 48.2 5.2 25159 55.9 23.8 115400 52.7 46.3 225080 45.9 18.5 89595 47.0 6.2 30337 48.5 Serviços 100 397200 39.4 3.7 14695 32.6 18.5 73340 33.5 53.7 213165 43.5 18.1 71927 37.7 6.0 24073 38.5 Construção 100 6255 0.6 1.3 81 0.2 8.3 515 0.2 55.0 3442 0.7 32.3 2033 1.0 3.1 194 0.3 Transportes 100 7187 0.7 1.9 140 0.3 10.6 760 0.3 48.8 3499 0.7 36.2 2605 1.4 2.5 183 0.3 Total 100 1007833 100 4.5 45039 100 21.7 219069 100 48.7 490404 100 18.9 190775 100 6.2 62550 100

(*) Fonte: IBGE, op. cit., p. XVII.

Quadro 3

Distribuição Percentual de Variáveis Selecionadas para Alguns Ramos da

Indús-tria e Áreas do Comércio e Serviços

(*)

Nº de Empresas % Indústria 100 Prod. Alimentares 21.1 Transf. de Minerais não-metálicos 20.2 Vestuário, calçados e artefatos de tecidos 1 0.8 Madeira 10.3 Metalurgia 10.0 Subtotal 72.4 Comércio 1 00

Prod. AI. e Bebidas e Fumo 49.2

Tecidos 19.7

Subtotal 68.9

Serviços 1 00

Serv. de Alimentação 48.0 Serv. de Rep. e Manutenção 23.3

Subtotal 71 .3

(*) Fonte: IBGE: Censos Econômicos de 1985- Microempresas.

tuada no que se refere à distribuição das ativi-dades econômicas por região. Assim, em relação ao número total de microempresas do comércio, serviços e indústria, tem-se que 46,3%, 53,7% e 40,5%, respectivamente, se concentram na região Sudeste, que por sua vez apresenta uma concen-tração de grandes centros urbanos. Evidencia-se,

Pessoal Despesas Ocupado Receitas E Custos % o;o % 100 100 100 20.0 24.0 24.6 22.1 14.3 13.9 11.4 11.5 11.5 10.7 10.1 10.1 8.5 10.3 10.5 72.7 70.2 70.4 100 100 100 43.8 45.8 46.2 20.0 18.8 18.7 63.8 64.6 64.9 100 100 100 40.6 48.2 50.4 22.9 20.0 19.1 63.5 68.2 69.5

assim, que as ME seguem a tendência geral de buscar capitalizar os benefícios oferecidos pela in-fra-estrutura desses centros urbanos.

Em termos da distribuição por atividade, so-bressai a participação das categorias comércio e serviços (87,6% do total de empresas). As mi-croempresas comerciais representam 48,2%,

(5)

destacando-se, dentro deste total, o pequeno comércio varejista de produtos alimentares, be-bidas e fumo. A participação das empresas de serviços é de 39,4%, sendo que, nesse total, os serviços relacionados à alimentação também aparecem com participação significativa. As mi-croempresas industriais representam 11,1% e no-vamente aqui o item produtos alimentares aparece em percentual relevante (ver quadro 3).

Considerando-se globalmente as microempre-sas comerciais, industriais e de serviços ligadas à alimentação, chega-se a aproximadamente 45% do número total de empresas e 37,5% do pessoal total ocupado pelo conjunto das microempresas. Esses dados representam 35% do número total de empresas levantadas pelos Censos Econômicos-1985, mas, do ponto de vista da contribuição para o emprego, representam apenas 7,5% do pessoal ocupado. Esses percentuais não são tão surpreen-dentes tendo-se presente quais são concretamente essas microempresas - pequenos armazéns, bares, restaurantes etc. - e associando-as a fa-tores tais como baixa renda, desemprego, subem-prego, característicos da realidade brasileira. Nes-sa perspectiva, sua proliferação e sobrevivência podem, em boa parte, ser justificadas pelo fato de apresentarem "uma certa funcionalidade" en-quanto forma alternativa de consumo de produ-tos básicos de consumo para boa parte da popu-lação (compras fiado, cadernetas ... ).

Dado que as necessidades básicas de consumo vão além do item alimentação, tem-se nessa "fun-cionalidade" um fator explicativo para o "tempo de vida" das microempresas: do total de empre-sas que declararam o ano de fundação, 23,5% foram fundadas antes de 1975 e 18,2% entre 1975 e 1979, ou seja 41,7% haviam, em 1985, superado o chamado período de "consolidação" da empre-sa (5 anos), conforme fica claro no quadro 4.

MICROEMPRESAS: INDICADORES SELECIONADOS

Considerando-se que a definição de ME no Censo envolveu fundamentalmente o critério de receita, a estratificação a partir do número de pes-soas ocupadas mostra-se útil no sentido de me-lhor compor o perfil desse segmento de empresas (ver quadro 5).

Observa-se que no Brasil (89,6%) e particular-mente para as ME do Comércio (95,2%) e de Serviços (88,5%), a categoria Microempresa

englo-Quadro 4

Ano de Fundação das Microempresas

-Censos Econômicos 85 (*)

Ano de Fundação Número de Empresas (**) VA % Antes de 1975 198.000 23,6 1975 a 1979 153.322 18,2 1980 50.460 6,0 1981 52.311 6,2 1982 65.819 7,8 1983 84.893 10,1 1984 104.211 12,3 1985 132.951 15,8

(*) Fonte: IBGE, op. cit., p. 152.

(**) Os percentuais referem-se ao número de empresas que declararam ano de fundação (841.967) e não ao total de mi-croempresas do Censo (1.007.833).

ba essencialmente empresas que ocupam até 4 pes-soas (incluindo os proprietários). É, portanto, sobre os dados relativos a esse estrato que deve recair a ênfase, seja quando se trata de analisar sua dinâmi-ca - comportamento, desempenho e participação nos resultados agregados dos setores em que se in-serem - seja nas discussões referidas à formulação de medidas de apoio que as contemplem.

Por outro lado, se este tamanho (até 4 pessoas ocupadas) é predominante nas ME comerciais e de serviços, nas ME industriais a participação das unidades que ocupam entre 5 a 9 pessoas é ex-pressiva, representando 24% dos estabelecimen-tos, e mais de 36% do pessoal ocupado e das re-ceitas geradas pelas ME industriais. Também nas atividades de transportes e de construção, este es-trato tem importância considerável. Em especial, na última (ME-construção) o estrato de empresas que ocupam entre 10 e 19 pessoas é ainda impor-tante, representando 24% do P.O. e 15% das re-ceitas geradas.

Para as ME do Brasil como um todo, indepen-dentemente de classe de atividade, os custos to-tais representam 79,1% da receita gerada. Nota-se que para os dados agregados, tanto os "salários +

retiradas" quanto os lucros representam cerca de 20% daquelas receitas. Porém, essa participação praticamente igual entre lucros e salários + reti-radas não se dá efetivamente em nenhuma das classes de atividade.

(6)

Quadro 5:

Participação Percentual no Total de Microempresas -

Por Estrato de Tamanho e

Classe de Atividades

Total Estrato de NE PO R Tamanho (N° Pessoas) 1 23.6 9.0 15.3 2 39.7 30.3 34.3 3 18.1 20.7 20.7 4 8.3 12.6 11.5 Subtotal 1-4 89.6 72.6 81.9 5a9 9.1 21.0 15.5 10a 19 u 5.3 2.4 +de20 0.1 u 0.7

Fonte: Censo Microempresas 1985. NE = Número de estabelecimentos. PO = Pessoal ocupado. R = Receitas totais. Indústria Comércio NE PO R NE PO 9.7 2.5 4.2 28.5 12.9 25.1 12.8 15.7 43.5 39.4 21.9 16.8 19.1 17.0 23.1 14.9 15.2 16.6 6.3 11.5 71.5 47.3 55.7 95.2 86.8 24.2 38.3 36.2 4.6 11.9 3.9 12.0 7.4 0.2 u 0.4 2.4 0.8 0.0 0.2

atividade percebem-se distintas distribuições daquilo que poderia ser chamado "valor adi-cionado". Assim, encontra-se desde uma partici-pação de 32,1% (para sal. + ret.) e 19,6% (para lu-cros) nas ME-construção até 14,8% (sal. + ret.) e 18,9% (lucro) nas ME-comerciais. Essas diferenças não chegam a ser surpreendentes, dadas as carac-terísticas de cada atividade. Dessa forma, uma análise por estrato de tamanho torna-se mais es-clarecedora.

Para as ME como um todo, já se nota a quase igualação dos custos com a receita a partir do es-trato com mais de 10 pessoas empregadas, chegando a atingir 99,7% nas ME com 20 ou mais pessoas ocupadas. Estas unidades, como será vis-to mais adiante, não são propriamente ME e sua inclusão no Censo deve ser qualificada.

Nas ME industriais e de serviços, essa perda da eficiência econômica com o aumento do porte, medida pela relação custo/receita, é acentuada, indo de 66,8%, no primeiro estrato. de tamanho (uma pessoa ocupada), a, aproximadamente, 73% (entre 2 e 3), até atingir cerca de 95% nas empre-sas com mais de 20 pessoas.

Essa perda não é tão acentuada no caso das ME comerciais, quanto a que ocorre nas ME de trans-portes e de construção, chegando as empresas com mais de 20 pessoas ocupadas a terem mar-gens de lucro negativas.

Ao se tomar o item salários e retiradas, pode-se perceber que sua participação nas reJ:eitas avança de cerca de 18%, nas unidades com até 4 pessoas

Serviços Transportes Construção

R NE PO R NE PO R NE PO R 19.1 21.8 8.1 13.8 14.1 4.0 10.8 10.6 2.2 5.8 40.6 39.7 29.3 32.2 30.3 17.3 25.3 21.7 8.9 15.6 21.6 18.3 20.2 20.1 22.3 18.2 21.4 17.4 10.7 15.3 9.9 8.7 12.8 12.0 12.3 14.1 13.4 13.6 11.1 14.1 91.2 88.5 70.3 78.1 78.0 53.5 71.0 63.3 32.9 50.9 8.4 10.0 22.4 18.2 18.9 33.3 24.8 25.9 33.6 31.5 0.4 1.4 6.1 3.4 2.7 9.6 4.1 9.2 24.0 14.6 0.0 0.1 1.2 0.3 0.4 3.6 0.6 1.7 9.5 3.0

ocupadas, para cerca de 41% (entre 10 e 19 pes-soas ocupadas) até atingir 55% naquelas com 20 e mais pessoas ocupadas. Essa participação é mais acentuada nas ME comerciais, de transportes e construção.

Esses dados a respeito do pior desempenho das ME de maior porte são corroborados pela análise dos indicadores a seguir:

Tomando-se valores gerados por pessoa ocupa-da tem-se inicialmente que as ME-comerciais e de transportes geram os maiores valores, bem acima das demais atividades. As de transportes, além de pagar os maiores "salários + retiradas", geram os maiores lucros por pessoa ocupada.

À medida que aumenta o tamanho dessas ME, percebe-se que, sem haver redução sensível dos salários+ retiradas por pessoa ocupada por estra-to (até a faixa de 10-19 pessoas ocupadas), reduz-se no geral o lucro por P.O. a partir do estrato de 5 a 9, tornando-se quase inexistente nas ME com 20 e mais pessoas ocupadas, principalmente nas ME de transporte e de construção.

Percebe-se que essas empresas maiores (es-tratos de 10 a 19 e especialmente com 20 e mais pessoas ocupadas), consideradas pelo Censo co-mo microempresas, são realmente empresas pe-quenas (e não ME) de baixo faturamento que não atingiram o limite máximo de vendas anuais que caracteriza, do ponto de vista jurídico, uma ME (10.000 ORTN's). Esse baixo faturamento (em pro-porção a seu porte) justifica o deficiente compor-tamento dos indicadores vistos nos quadros 6 e 7.

(7)

Quadro 6:

Indicadores Selecionados -

por Classe de Atividade e Estrato de Tamanho

(Em Percentuais) Geral Indústria Estrato (Pessoas) c S+R L c S+R - - - - -R R R R R Total 79.t 20.4 20.8 77.t 25.9 1 77.0 13.4 23.0 66.8 16.9 2 78.5 17.7 21.5 72.5 21.9 3 78.6 20.2 21.4 74.5 23.2 4 79.1 22.7 20.8 76.3 24.4 Subtotal 1·4 78.3 18.2 21.7 73.9 22.7 5a9 81.7 28.3 18.3 79.9 27.8 10 a 19 88.8 41.1 11.2 85.8 38.5 +de 20 99.7 55.1 0.3 94.3 49.4

Fonte: Censo Microempresas 1985 C = Custos totais. L= Lucro S + R = Salários + Retiradas R= Receitas totais.

Quadro 7

Comércio L c S+R -R R R 22.9 8t.t t4.8 33.2 78.9 11.7 27.5 80.9 14.1 25.5 81.2 15.2 23.7 81.9 16.7 26.1 80.7 14.1 20.1 84.4 20.6 14.2 92.9 33.9 5.6 99.2 50.1

Serviços Transportes Construção

L c S+R L c S+R L c S+R L - - - -

- -

- - - - -R R R R R R R R R R 18.9 77.t 26.9 22.9 73.5 21.1 26.5 80.4 32.1 19.6 21.1 74.5 16.7 25.5 63.8 11.1 36.1 61.2 16.8 38.8 19.0 75.1 24.2 24.9 68.1 15.7 31.8 68.5 22.1 31.5 18.8 76.0 27.5 24.0 70.8 18.6 29.2 75.6 24.5 24.4 18.1 77.3 29.3 22.6 75.5 22.5 24.4 75.6 28.5 24.4 19.3 75.5 24.5 24.4 69.7 17.2 30.3 71.8 24.0 28.2 15.6 81.1 33.8 18.9 80.6 28.4 19.4 82.9 34.7 17.0 7.0 89.4 43.7 10.6 92.1 40.1 7.9 96.0 48.1 3.9 0.8 97.8 58.5 2.1 112.9 61.1 ·12.9 122.5 63.5 ·22.5

Indicadores Selecionados -

Microempresas -

por Classe de Atividade e Estrato

de Tamanho

(em valores de 1985)

Classe de Ativ. Total Indústria Indicadores R S+R L R - - - -Pessoal Ocupado P.O. P.O. P.O. P.O. Total 28507 5825 5942 20949 1 48499 6511 11160 35810 2 32313 5733 6953 25756 3 28582 5766 6111 23847 4 25950 5887 5411 22872 Subtotal 1·4 32147 5865 6966 24677 5a9 20963 5925 3838 19771 toa 19 13088 5378 1466 12833 +de 20 6087 3352 15 6845

Fonte: Censo Microempresas 1985. R = Receitas totais. L= Lucro S + R = Salários + Retiradas R = Receitas totais. S+R - -P.O. 5430 6074 5637 5525 5574 5600 5499 4945 3384 Comércio L R S+R L - - -P.O. P.O. P.O. P.O. 4799 36707 5417 6949 11888 54307 6367 11447 7085 37773 5311 7183 6077 34387 5217 6453 5429 31703 5290 5746 6446 38530 5440 7433 3976 25838 5330 4039 1821 14418 4893 1015 381 5049 2531 40

Serviços Transportes Construção

R S+R L R S+R L R S+R L - - - -- - - -P.O. P.O. P.O. P.O. P.O. P.O. P.O. P.O. P.O. 23499 6330 5384 33798 7123 8954 21485 6889 4219 40260 6717 10272 91196 10158 32968 57491 9686 22291 25881 6264 6455 49554 7780 15785 37746 8342 11879 25332 6407 5599 39921 7414 11647 30773 7530 7515 22t16 6489 5010 32322 7271 7907 27109 7734 6623 26109 6399 6383 44883 7700 13600 33190 7961 9372 19110 6453 3618 24687 7002 4795 20152 6990 3439 13019 5695 1377 14360 5765 1140 13066 6279 517 5490 3213 118 5423 3316 (702) 6845 4349 (1538)

(8)

A MICROEMPRESA MÉDIA

O estudo da microempresa média (MEM) possi-bilita observar aspectos relevantes da estrutura de custos e de ocupação dentro da unidade. Ao tra-balhar com números médios, caracteriza-se, de for-ma for-mais concreta, o que seria uma ME dentro de cada classe de atividade. Deve-se ressaltar que essa MEM não é exatamente igual à empresa represen-tativa marshalliana.5

Porém, dada a grande concen-tração de ME no estrato de 1-4 pessoas ocupadas (89,6% do total), pode-se afirmar a priori que a mé-dia não será muito influenciada pelos extremos e fornecerá um número razoavelmente representati-vo de uma ME para cada variável analisada.

A estrutura ocupacional dentro de cada unidade, segundo classe de atividade, aparece no quadro 8.

Nota-se a importância do trabalho dos proprie-tários e familiares, que representam 58% do pes-soal ocupado total. Isto indica que a função desem-penhada pelos proprietários é ligada diretamente à

ativida~e produtiva, não efetuando estes, mais que em carater marginal, tarefas administrativas. Estas não são funcionalmente separadas como em em-presas de maior porte, inclusive pequenas e

mé-di~s. O ,número médio de proprietários por unidade e de 1,27 pessoas e permanece relativa-mente estável em todas as classes de atividade. O mesmo fenômeno se verifica com os familiares sem remuneração (0,31 por empresa). Estes, porém, mantêm uma relação diferenciada com o número de empregados por classe de atividade. Observa-se

Quadro 8

uma relação de 1 familiar sem remuneração para cada 2 empregados no comércio contra 1 : 5 nos serviços, que é o caso mais próximo ao anterior, e 1:32 na construção, que é o caso extremo.

A diferença na ocupação total, segundo classe de atividade, deve-se à variação no número de empregados. Em média, as ME empregam uma pessoa por unidade. O maior número de empre-gados por MEM encontra-se na construção, in-dústria e transportes. Nas duas classes de ativi-dade nas quais se concentra a maior quantiativi-dade de ME (comércio e serviços 86,7% do total), os empregados representam menos da metade do to-tal de pessoas ocupadas, sendo mínima esta pro-porção no comércio, que é exatamente a classe mais numerosa de ME.

A importância do emprego como proporção da

~c':paç_ão total é inversamente proporcional à par-hctpaçao de cada classe de atividade no total de ME, como se vê no quadro 9.

5. A firma repesentativa (ou empesa típica) nos

ter-~o~ d~ Marshall"deve ser uma que tenha tido uma

e-x.ts~enCia bastante longa e razoável êxito, que seja di-ngtda com habilidade normal e que tenha acesso nor-mal às economias externas e internas pertencentes àquele volume global de produção, levando-se em con-ta a ~la~se ~e artigos produzidos, as condições de

co-n:'erctah~açao e o ambiente econômico em geral.

As-srm, pms, uma empresa típica é, em certo sentido

uma e~presa média. MARSHALL, A. Princípios d;

Economza. (Trad. port.) S. Paulo Abril Cultural Cal "Os Economistas", 1982, p. 267 (grifas nossos). ' ·

Estrutura Ocupacional por M.E. Média por Classe de Atividade

-Número de

Pessoas-TOTAL M.E. IND. COMER. SERV. TRANSP. CONSTA .

. Pessoal Ocupado

Total 2,72 4,13 2,28 2,81 3,68 5,40

. Proprietários 1,27 1,34 1,24 1,27 1,48 1,68

. Empregados 1 '15 2,46 0,69 1,29 2,08 3,61

. Familiar sem Rem. 0,31 0,33 0,35 0,26 0,13 O, 11

FONTE: IBGE, op. cit.

Quadro 9

Emprego por ME e Classe de Atividade

COMÉRCIO SERVIÇO INDÚSTRIA TRANSPORTE CONSTRUÇÃO

Part. classe ativ.

no Total ME 48,2% 39,4% 11,1% 0,7% 0,6%

Empregado r r ME/

P.O.T. por M 30,3% 45,9% 59,6% 56,5% 66,9%

(9)

Quadro 10

Estrutura de Custos e Receitas por Classe de Atividade e por M.E. (*)

-Cruzeiros Mil-1985- (Dólar Médio de 1985 =Cr$ 6

,

205)

TOTAL M.E. IND. COMER. SERV. TRANSP.

Receitas c/lmp. 78.105 87.181 85.027 65.807 122.628 (-) Impostos s/VDA 3.388 5.142 4.070 2.049 3.876 (=) Receitas s/IMP. 74.716 82.039 80.957 63.758 118.752 (-) Desp. Operac. 39.209 36.695 49.570 26.825 55.332 (-) Aluguéis 3.900 4.124 3.643 4.094 5.732 (-) Impostos e Taxas 1.170 1.466 1.037 1.236 1.573 (-) PIS/FINSOCIAL 915 1.056 913 849 1.458 (-) Salários 5.252 10.761 2.984 6.133 12.358 (-) Retiradas 10.074 10.551 9.015 11.103 12.751 (-) Encargos Sociais 2.667 4.093 2.142 2.794 4.869 (=)Lucro 11.530 13.294 11.653 10.726 24.679

Total Custos e Despesas 63.187 68.745 69.304 53.033 94.074

Lucros + Retiradas 21.603 23.845 20.668 21.828 37.429

FONTE: IBGE, op. cit.

CONSTA. 107.268 2.640 104.628 40.869 4.676 1.827 1.386 18.660 15.240 6.862 15.108 89.520 30.348

(*) Nota Metodológica: a abertura das contas é a máxima propiciada pelos dados do Censo. O valor médio de cada conta foi

calcula-do dividincalcula-do o valor total pelo número de informantes do quesito. No caso dos encargos sociais, foram aplicadas as taxas

encon-tradas nos quadros 28 a 33 do Censo sobre o valor de salários e retiradas dos quadros 16 a 21.

Quadro 11

Participação no Total dos Custos e Despesas

TOTAL M.E. IND. COMER. SERV. TRANSP. CONSTA.

Despesas operacionais 62,1 53,4 71,5 50,6 58,8 45,6

Retiradas 15,9 15,3 13,0 20,9 13,6 17,0

Salários 8,3 15,7 4,3 11,6 13,1 20,8

Outros 13,7 15,6 11,2 16,9 14,5 16,6

TOTAL 100 100 100 100 100 100

FONTE: IBGE, op. cit.

Quadro 12

MEM - Indicadores Selecionados - Participação em

%

(*)

TOTAL M.E. IND. COMER. SERV. TRANSP. CONSTA.

Lucro/receit.c/imp. 14,8 15,2 13,7 . 16,0 20,1 14,1

Lucro/Rec. s/imp. 15,4 16,2 14,4 16,8 20,8 14,4

Lucro/custo 18,3 19,3 16,8 20,2 26,2 16,9

Desp. Op./Rec. s/imp. 52,4 44,7 61,2 42,1 46,6 39,1

Salários/Rec. s/imp. 7,0 13,1 3,7 9,6 10,4 17,8 Retir./Rec. s/imp. 13,5 12,9 11 '1 17,4 10,7 14,6 Custo/Rec. s/imp. 80,9 78,9 81,5 80,6 76,7 83,5 Custo/Rec. s/imp. 84,6 83,8 85,6 83,2 79,2 85,6 Sai./Desp. e Custos 8,3 15,7 4,3 11,6 13,1 20,8 Ret./Desp. e Custos 16,0 15,4 13,0 20,9 13,6 17,2 Lucro/Salários 219,5 123,5 390,4 174,9 199,7 81,0 Lucro/Salários + Ret. 75,2 62,4 97,1 62,2 98,3 44,6

(*) A diferença existente entre os resultados aqui apresentados e os indicados na parte anterior deve-se à diferente metodologia

utilizada. Os Quadros 6 e 7 foram calculados a partir dos valores totais do Censo sem ser efetuado o ajuste para o número de

(10)

Quadro 13

Salários e Retiradas: Média Anual por Pessoa Ocupada segundo Tipo de Rendi·

mento em Salário Mínimo de 1985(*), Inclusive 13º Salário

TOTAL M.E. IND. COMER. SERV. TRANSP. CONSTA.

Salário por Empr. 1,02 0,98 0,97 1,06 1,33 1 '16

Retirada por Propr. 1,78 1,76 1,63 1,96 1,93 2,03

Retir. por Prop. +

Fam. s/rem. 1,43 1 ,41 1,27 1,63 1,77 1,91

Lucro + Ret. por

Prop. + Fam. s/rem. 3,06 3,20 2,91 3,20 5,21 3,80

FONTE: IBGE, op. cit.

(*) O salário mínimo anual total de 1985, inclusive o 13° salário, é de 4.465.000 cruzeiros o que corresponde aproximadamente a 60 dólares por mês.

Tanto o baixo número de empregados por unidade como a relação inversa entre a importân-cia do emprego por ME na classe de atividade e a importância da classe no total das ME mostram, claramente, que essas empresas aparentam ter di-ficuldade estrutural em oferecer, em média, em-prego a mais de uma pessoa, fora o proprietário e eventual familiar que colabora com o negócio. Es-sa constatação não surpreende, dada a definição do universo recenseado (empresas de baixo fatu-ramento).

A estrutura de custos e receitas por MEM aparece no quadro 10.

Observa-se (ver quadro 11) que as despesas operacionais representam a maior parcela dos custos para todas as classes de atividade, seguindo-se retiradas e salários em ordem de importância.

Uma comparação inter-classes quanto à receita média6 e massa de lucro gerada destaca as empre-sas de transporte e construção como as maiores, ficando as de serviços em último lugar.

A construção de alguns indicadores, no quadro 12, permite verificar o comportamento diferencia-do da MEM por classe de atividade.

No referente à margem de lucro, destaca-se, novamente, a classe transporte (20,1 %) assumin-do serviços um segunassumin-do lugar, próximo, porém, às margens das outras classes, que oscilam de 14 a 15%. Os salários representam 8,3% dos custos e despesas em média, com um mínimo de 4,3% no comércio e um máximo de 20,8% na construção. Isto justifica que a relação lucro/salários, que é, em média, de 219,5%, seja máxima no comércio (390,4%) e mínima na construção (81,0%). A menor participação dos salários no custo do

comércio deve-se ao menor número de emprega-dos por empresa dessa classe de atividade, mais que à diferença salarial, como demonstra o quadro 13.

Observa-se que o salário médio pago ao em-pregado é praticamente igual a um salário míni-mo, o que não é surpreendente dado que a retira-da média por proprietário não chega a dois salários mínimos. A soma do lucro às retiradas7 não altera muito essa situação. Nesse caso, a re-muneração média por proprietário situa-se em torno de três salários mínimos. Situação ainda pior é a do empregado, que beira, do ponto de vista salarial, o limiar da sua possibilidade de re-produção física.

Isso confirma diversos estudos8

, nos quais as M.E. inseridas geralmente no chamado "setor

in-6. Ao expressar a receita total anual em dólares, que é de US$ 12.587 depara-se claramente com o reduzido volume de operações dessas empresas, pouco mais de 1.000 dólares por mês.

7. A inclusão do lucro junto com as retiradas per-mite eliminar o efeito da possível subestimação do va-lor das retiradas por parte dos microempresários. Por outro lado, fornece um indicador que tende a superes-timar a remuneração dos proprietários porque parte desse lucro provavelmente deverá ser destinado à manutenção do poder aquisitivo dos recursos destina-dos ao giro, vistas as condições de reduzido poder de negociação face a fornecedores e inclusive clientes que essas unidades apresentam.

8. Em especial, sugere-se a leitura de: ALMEIDA, A.L.O. "Subcontratação e 'Emprego Disfarçado' na ln-dustrializacão Brasileira". In.: PPE, Rio de Janeiro, vol. 9, n21, abril, 1979; e SOUZA, P.R.C. "Salário e Mão-de-Obra Excedente". In: Estudos CEBRAP 25, São Paulo, 1979.

(11)

Quadro 14

Impostos, Taxas, Contribuições ao lAPAS e FGTS em Proporção ao Lucro

TOTAL IND. COMER. SERV. TRANSP. CONSTA.

M.E.

Total/Lucro 70,6% 88,4% 70,4% 64,6% 47,7% 84,1%

FONTE; IBGE, op. cit.

Quadro 15

Pagamentos declarados de impostos e encargos

TOTAL I NO. COMER. SERV. TRANSP. CONSTA.

M.E.

E li/TE 48,2 44,2 49,6 47,3 51,4 52,5

Taxa Média de lmp. das E li 4,5 6,3 5,0 3,2 3,3 2,5

ElES/TE 71,7 67,3 73,6 70,0 89,2 91,9

FONTE; IBGE, op. cit.

E. I. I.: Empresas que informaram terem pago impostos sobre vendas e serviços prestados (ICM, IPI, ISS, ISTR etc.). T.E.: Total Microempresas.

E.I.E.S.: Empresas que informaram terem pago encargos sociais e trabalhistas (lAPAS, FGTS). formal"• não são assemelhadas a um investimento

capitalista stricto sensu, dado que a maior preocu-pação do proprietário é a sua sobrevivência e não o comportamento da taxa de lucro do capital in-vestido. As M.E., portanto, formam uma "rede de proteção" que impede que parte das pessoas que perderam o emprego ou que, dada sua baixa qualificação profissional, não encontram emprego em empresas de maior porte, batam no piso do desemprego. O nível de remuneração que essa "rede" oferece não é muito maior que aquela obti-da através do seguro-desemprego.

O padrão de simples sobrevivência verificado nessas unidades torna-as muito propensas a pa-garem o mínimo possível aos empregados (com o salário mínimo legal atuando como piso que im-pede queda maior) e a sonegarem o maior valor possível de impostos e outras contribuições ao governo e órgãos previdenciários. Esses paga-mentos "ao governo"10 representam elevada

pro-porção sobre o lucro e evidentemente qualquer ponto sonegado tem imediato e substancial efeito sobre o rendimento dos proprietários.

Sem dúvida, o Estatuto da Microempresa deve ter contribuído para que essa proporção apareça reduzida relativamente a valores passados. Porém, a baixa massa de lucro que as M.E.

apre-sentam torna-as muito sensíveis a qualquer valor pago de impostos, taxas, contribuições e pre-vidência etc. -que representam 70,6% do lucro em 1985, como se vê no quadro 14.

Alguns indicadores, extremamente grosseiros, sobre a proporção da sonegação podem ser vistos no quadro 15.

Menos da metade das M.E. informaram que pagaram algum tipo de imposto sobre vendas ou serviços prestados, com as informantes pagando uma taxa média de 4,5%. Nesse caso, confun-dem-se dois fenômenos, o da possível sonegação impositiva e o das isenções tributárias previstas no Estatuto das Microempresas.11 No referente às

9. Recorre-se à concepção de SOUZA (op. cit., p. 89) "formas de organização que se inserem na estrutura econômica, de forma intersticial junto com as formas propriamente capitalistas, mas atuando em espaços de mercado perfeitamente delimitados que são criados,

destruídos e recriados pela expansão do sistema hegemônico ... "

10. Incluem-se aqui os impostos sobre vendas e serviços prestados, as taxas municipais, os encargos so-ciais e trabalhistas lAPAS, FGTS, PIS e FINSOCIAL.

11. O nível de abrangência de isenção tributária foi definido de forma diferenciada em cada Estado e Mu

(12)

contribuições ao lAPAS e FGTS, nota-se que quase 30% dessas empresas não informaram ter efetuado qualquer recolhimento. Urna boa parcela desses 30% pode ser justificada pela existência de 25% de empresas com urna única pessoa ocupada (o proprietário) que não estava pagando sua con-tribuição ao lAPAS. Porém, corno não se pode su-por que esse fenômeno seja "universal", fica a constatação que um apreciável número de M.E. (de 5 a 30% do total) não declarou ter efetuado os recolhimentos devidos à Previdência Social no ano de 1985. Isso não significa que se esteja de-fendendo um maior rigor da fiscalização nesse segmento: sua pulverização torna muito custosa essa operação. Por outro lado, qualquer multa ele-vada pode ter o efeito de fechar a empresa dado o baixo rendimento médio dessas unidades. Ade-rnais, vista a baixa participação das receitas das ME no total das receitas dos Censos Econômicos · -85 (3%), os resultados serão irrisórios do ponto de vista de aumento da arrecadação.

MICROEMPRESA MÉDIA A NÍVEL REGIONAL

A análise regional permite caracterizar certos aspectos de ocupação e rendimento que ficaram obscuros no item anterior.

O quadro 16 mostra que as M.E. do Norte e Nordeste são as mais empregadoras por unidade, apresentando inclusive maior número de fami-liares sem remuneração:

A falta de melhores oportunidades de emprego leva a urna maior ocupação de não proprietários dentro das M.E. localizadas nas regiões de menor desenvolvimento econômico do país. Aparece aqui, novamente, o papel de "rede de proteção" que essas empresas desempenham frente ao de-semprego potencial.

Quadro 16

Outro fenômeno interessante é que o número de proprietários por unidade é diretamente rela-cionado com o desenvolvimento econômico da região. Aspectos diferenciadores quanto às classes e gêneros de atividade podem ajudar a explicar esse fenômeno. Porém, outro fator que deve ser levado em conta é que a associação de esforços para abrir e gerir urna empresa, ou seja a so-ciedade jurídica coletiva, caracteriza formas mais avançadas de desenvolvimento organizacional, em contraposição à empresa individual. Nesse caso, fica em aberto a questão: se haveria um paralelo entre o grau de desenvolvimento econômico regional e o grau de desenvolvimento organizacional das M.E. A quantidade de pro-prietários + familiares sem remuneração é seme-lhante em todas as regiões, oscilando entre um mínimo de 1,48 e um máximo de 1,61 pessoas. Parece que as ME do Norte e Nordeste compen-sam, de certa maneira, o menor número de pro-prietários com um aumento dos familiares sem remuneração, os quais desempenhariam o papel de "agente de confiança" da unidade.

A análise do salário e da retirada média por pessoa ocupada revela claras diferenças regionais, que podem ser vistas no quadro 17.

Mesmo oscilando o salário por empregado em torno de um salário mínimo, existem diferenças entre as regiões. O Nordeste é quem paga menores valores, ficando inclusive abaixo do mínimo. A região Norte aparenta ser a que paga valores mais altos. Neste caso, cabe lembrar que podem estar influindo razões ligadas ao custo de reprodução da força de trabalho, que é bem supe-rior nessa região, comparativamente às outras do país.

Chama muito a atenção o comportamento diferenciado das retiradas por proprietário. A região Norte, seguida não muito de perto pelo

Estrutura Ocupacional por M.E. Média - Por Região- Número de Pessoas

Pessoal Ocupado Total Proprietários

Empregados Familiar s/remun. FONTE: IBGE, op. cit.

TOTAL M.E. BRASIL 2,72 1,27 1 '15 0,31 NORTE 2,91 1 '12 1,34 0,45 NORDESTE SUDESTE 2,81 1,09 1,33 0,39 2,71 1,38 1 '11 0,23 SUL 2,60 1,24 1,01 0,36 CENTRO-OESTE 2,72 1,20 1 '15 0,37

(13)

Quadro 17

Salários e Retiradas por Região: Média Anual por Pessoa segundo Tipo de

Rendi-mento- em Salário Mínimo de 1985 (inclusive 13

2)

Salário por empregado Ret. por proprietário Ret. por Propr. + Fam. s/rem.

Lucro+ ret. por prop.

+ fam. s/rem. FONTE: IBGE, op. cit.

TOTAL M.E. BRASIL 1,02 1,78 1,43 3,06 NORTE 1 '15 3,36 2,40 4,30

Nordeste, apresenta valores consideravelmente superiores à média nacional. Mesmo a inclusão dos familiares sem remuneração no divisor não altera essa ordenação. A razão de ambas regiões apresentarem o maior diferencial entre a retirada por proprietário e o salário por empregado deve estar ligada tanto a problemas de índole sócio-cultural como à situação de menor desenvolvi-mento relativo dessas regiões, onde o "efeito rede" das M.E. aparece mais cruamente, possibi-litando um maior poder de barganha do proprie-tário frente a seu empregado. Neste caso, o pro-prietário do Norte e Nordeste ocupa uma posição mais cômoda na "rede" do que o seu similar das outras regiões do país.

MICROEMPRESAS: ALGUMAS REFLEXÕES Em termos de participação no número total de empresas, o peso das microempresas é inques-tionável- 77,1% do total de empresas levantadas pelo Censo 85, chegando a 90,4% no caso de serviços. Todavia, não se pode daí derivar uma correlação direta no que se refere à sua efetiva contribuição para o conjunto de atividade econômica (por exemplo, a receita total desse es-trato representa apenas 3% do total de receitas apurado pelos Censos Econômicos - 1985). Em es-pecial a característica de "absorvedoras de mão-de-obra", que freqüentemente lhes é atribuída e usada como "carro chefe" na argumentação a fa-vor da manutenção e ampliação de medidas de apoio, não pode ser incorporada sem maiores qualificações. A baixa absorção de mão-de-obra

NORDESTE SUDESTE 0,85 2,38 1,75 3,07 1,08 1,50 1,29 2,97 SUL 1 '10 1,64 1,28 3,23 CENTRO-OESTE 1,00 1,74 1,33 2,97

que, em média, essas unidades apresentam não as habilita a serem consideradas como absorvedoras "naturais" de mão-de-obra desempregada. Note-se que para cada empregado Note-seria necessário, em média, um "microempresário". Portanto, a análise da possível solução do desemprego por essa via implicaria em dividir os desempregados em dois grandes grupos iguais: o primeiro, formado por aqueles que desejariam (e poderiam) ser proprie-tários e se aventurariam a abrir uma ME; o segun-do, daqueles aos quais caberia (ou restaria ape-nas) o papel de empregado desses "futuros" mi-croempresários.

Observe-se que se as ME representam 77,1 do total de empresas, seu peso (20%) é bem menos significativo no total de pessoas ocupadas. En-quanto a ocupação média por microempresa é de 2,7 pessoas, para as demais empresas (22,9%), que respondem por 80% do total de pessoal ocupado, a média é de 50 pessoas/ em-presa. Portanto, pode-se afirmar, a título de ilus-tração, que, no mínimo, o mesmo número de empregos gerado pelas 1.007.833 microempresas poderia ser atingido com 54.745 (18,5 vezes a menos) empresas não "micro". Os gráficos "a" e "b" sintetizam esse comportamento desba-lanceado entre o número de empresas e sua relevância na composição dos indicadores recei-ta e pessoal ocupado.

O gráfico a permite uma argumentação clara-mente favorável a medidas do tipo "desburocrati-zantes", ou mais precisamente, de eliminação da exigência de certos controles legais e/ ou fiscais. Afinal, mesmo no caso de um movimento de "sonegação em massa" por parte das

(14)

microem-presas, para o Estado isso representaria apenas a perda da parcela de tributos e impostos que even-tualmente tivessem sido gerados por uma receita que corresponde a tão somente 3% do total de re-ceitas do conjunto de empresas do Censo 85.

Por outro lado, o gráfico b inequivocamente aponta para a conveniência de os defensores ir-restritos de medidas de apoio indiscriminadas às microempresas buscarem argumentos mais sus-tentáveis que a simples capacidade de absorção de mão-de-obra. E aqui a questão é em relação a quantidade e qualidade do emprego oferecido pelas microempresas. Nesse sentido, deve-se ter presente que se é fato que, para esse segmento de empresas, a noção de "livre mobilidade" -ou ausência de barreiras à entrada - é válida, o que facilita sua proliferação, é fato também que os fatores que induzem a esse processo e seus condicionantes são diferenciados, em se tratando de momentos de expansão ou de retração econômica.

A proliferação de microempresas associada a momentos de acentuada crise econômica não pode ser interpretada diretamente de forma posi-tiva ou como "um bom sinal" e nem sempre re-presenta a melhor ou mais racional alternativa. Não raras vezes, a intensa expansão de tal seg-mento traduz o resultado final das tentativas in-dividuais de "reinserção" na atividade econômi-ca por parte daqueles que foram sendo expulsos pelo movimento de "ajuste" dos demais agentes

TOTAL RECEITAS

100% 97%

GRÁFICO a

econômicos. É a partir dessa perspectiva que as microempresas podem ser vistas enquanto uma "rede de proteção" a qual impede que parte dos que perderam o emprego (e, em primeiro lugar, saem os pouco ou não qualificados) "caiam" até à categoria de desempregados. Dessa forma é muito mais a manifestação de uma "disfunção" do sistema do que uma alternativa natural de emprego. Apesar de sua aparente limitação, os dados do Censo permitem extrair alguns indica-tivos disso: a baixa ocupação média; a natureza de atividade - em escala diminuta - exigindo pouco capital inicial, e pouca ou nenhuma quali-ficação (no comércio e serviços, pequenos bares e restaurantes; na indústria, fabricação de doces ca-seiros, pequenas confecções etc.); os baixos salários e retiradas; o número de pessoas da família ocupadas sem remuneração; a presença de empresas não oficialmente registradas etc.

A partir desse quadro, a questão que se coloca é: quais são as oportunidades de uma inserção mais positiva dessas empresas enquanto conjunto na estrutura econômica? Tem sentido pensar em incentivar seu crescimento? Em direção a quê e com qual objetivo? Certamente que sua capaci-dade de absorver mão-de-obra é limitada por suas próprias características. O proprietário pouco tem a ver com a figura de um empresário capitalista, aproximando-se muito mais do "tra-balhador por conta própria". Nessas circunstân-cias, que mecanismo iria conduzir ao aumento de

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emprego? Incentivar a criação de novas microem-presas? O crescimento das já existentes?

Há que se considerar ainda que pouco ou ne-nhum dinamismo existe nesse setor e que a intro-dução de técnicas modernas de prointro-dução ou de gestão administrativa é praticamente nula. As ME "dinâmicas" (se as há) devem ser em número re-duzido e certamente não fazem parte do rol de empresas do volume microempresas do IBGE, da-dos os critérios de inserção aí adotada-dos (privile-giando o baixo faturamento). Visto isso, julga-se que seria útil uma revisão de tais critérios, pas-sando-se, por exemplo, a incluir como ME empre-sas com menos de 10 pessoas ocupadas, indepen-dente do faturamento. O corte formal e legal pela "pobreza" faz com que ME dinâmicas (poucas pessoas ocupadas, sem divisão formal de tarefas, proprietários que atuam diretamente na produção etc., mas com faturamento acima daquele definido legalmente) fiquem fora da categoria ME e, talvez, fossem exatamente estas as que possibi-litariam um maior retorno econômico e social (re-ceita, emprego etc.) às chamadas medidas de in-centivos às ME.

Defende-se aqui, portanto, uma reflexão no sentido de superar-se a concepção de medidas de apoio - em especial no que tange a subsídios governamentais - genéricas e indiscriminadas às ME. Essas são, de maneira geral, unidades de re-duzido (ou nulo) poder de mercado em relação a seus fornecedores e clientes. A causa desse débil poder de negociação encontra-se em fatores tais como o grande número de empresas concorrendo nos mesmos mercados; o seu reduzido porte; o fa-to de serem produfa-toras de produfa-tos (e serviços) não diferenciáveis e a constante utilização da re-dução de preço como arma competitiva principal. Uma das manifestações mais claras desta fragili-dade é a redução da remuneração dos proprie-tários das ME a níveis mínimos, compatíveis uni-camente com a sua manutenção como agente econômico "independente". Portanto, é muito provável que qualquer subsídio ou vantagem fi-nanceira oferecidos pelo governo a essas empre-sas acabem sendo apropriadas pelos agentes de maior poder de mercado com os quais essas unidades se relacionam12

Sendo assim, uma política de subsídios deve levar em conta esses condicionantes e ser clara-mente delimitada quanto à sua abrangência, obje-tivos e implicações, em termos econômicos e soci-ais. Talvez a política mais "sábia" seja a de não

subsidiar esses empreendimentos, simplificando, por outro lado, o máximo possível todos os requi-sitos legais para a sua abertura e funcionamento, deixando que o próprio mercado encontre as condições que permitam ou não a reprodução desse tipo de empresas.

Por outro lado podem ser pensadas políticas de apoio ou promoção mais eficazes, que inclu-sive possam vir a aumentar o poder de mercado destas empresas, com resultados benéficos no longo prazo sobre a remuneração do proprie-tário (e talvez indiretamente sobre a dos empre-gados). Tais políticas deveriam contemplar o de-senvolvimento de programas de assistência tec-nológica para ramos de atividades selecionados, de forma a possibilitar o acesso das ME a tec-nologias mais modernas, no que tange a produ-to, processo e gestão. Nesse caso, o oferecimento de linhas de crédito de longo prazo para finan-ciar a implementação de programas de melhoria e desenvolvimento tecnológico encontraria maiores justificativas, pois é de se esperar que a incorporação de tecnologia por uma ME a co-loque em condições diferenciadas frente a suas concorrentes, impedindo, simultaneamente, a apropriação do diferencial de produtividade pe-lqs outros agentes de maior poder de mercado com que a unidade transaciona. Deve ficar claro que o resultado de uma política desse tipo será, no médio prazo, a de possibilitar a empresa beneficiada pelo programa o deslocamento da categoria microempresa para a de pequena em-presa.•

ABSTRACT: This paper aims at analyzing the re-cently published 1985 Census of Small Firms data ( entreprises wíth total receípts amounting to less than US$ 40.000 in 1985). Over all profile and per-formance, as well as characteristics of small firms from different branches of actívity and size groups are the focus of the analysis. An attempt ís made to de-scribe the profile of the "average small firm" in Brazil.

KEY TERMS: Small firms, performance, branches of activity, "average small firm".

12. A esse respeito ver PORTER, M. Estratégia Com-petitiva. (Trad. port.) Rio de Janeiro, Ed. Campus, 1986, cap. 1 e 6.

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