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O monitoramento eletrônico de presos

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Academic year: 2021

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UNIJUÍ – UNIVERSIDADE REGIONAL DO NOROESTE DO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL

DIEGO GEORG SCHMITZ

O MONITORAMENTO ELETRÔNICO DE PRESOS

Três Passos (RS) 2018

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DIEGO GEORG SCHMITZ

O MONITORAMENTO ELETRÔNICO DE PRESOS

Trabalho de Conclusão do Curso de Graduação em Direito objetivando a aprovação no componente curricular Trabalho de Curso – TC. UNIJUÍ – Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul.

DCJS – Departamento de Ciências Jurídicas e Sociais.

Orientadora: MSc. Marcia Cristina de Oliveira

Três Passos (RS) 2018

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Dedico este trabalho aos meus pais Elder e Rosecler, que sempre me apoiaram e me incentivaram para que eu chegasse até aqui.

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AGRADECIMENTOS

Em primeiro lugar eu quero agradecer à Deus, pela vida, família e amigos que tenho. Aos meus pais, Elder e Rosecler, que com muito esforço, me deram a oportunidade de chegar até aqui;

À minha namorada, Emanuelle, que sempre esteve ao meu lado me auxiliando e apoiando;

À minha orientadora, professora Marcia, pela sua dedicação e disponibilidade, sempre me auxiliando e compartilhando seus conhecimentos para fazer deste um bom trabalho de conclusão de curso; Aos demais professores e colegas, que durante esta jornada contribuíram e auxiliaram no meu crescimento como acadêmico e principalmente como pessoa, obrigado!

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RESUMO

O presente trabalho de conclusão de curso analisa um assunto que atualmente está em grande evidência, se trata de uma ferramenta praticamente nova no âmbito penal brasileiro, utilizada para monitorar detentos, chamada de tornozeleira eletrônica. O trabalho discorre da implementação do monitoramento eletrônico de presos no Direito Penal brasileiro, analisando os aspectos históricos e a sua evolução até os dias atuais. Já presente a alguns anos em outros países, o monitoramento eletrônico de presos surge no Brasil com a finalidade de ser uma alternativa para a redução do contingente carcerário, promover a ressocialização dos apenados, e minimizar os prejuízos que o sistema penitenciário brasileiro causa para a dignidade da pessoa humana. Neste trabalho também é demonstrado que o uso do monitoramento eletrônico vem crescendo em ritmo acelerado no país, pois é uma ferramenta que auxilia na redução de gastos no setor penitenciário, sendo uma opção econômica para o poder público. Assim, será demonstrado que o monitoramento eletrônico divide opiniões no sentido de afetar ou não o princípio da dignidade da pessoa humana, sendo que fica evidenciado a preferência pelo monitoramento, pois o mesmo possibilita ao apenado sua convivência no ambiente familiar enquanto cumpre a pena, e não estar preso em uma cela desumana e degradante.

Palavras-Chave: Tornozeleira Eletrônica. Monitoramento Eletrônico. Sistema Penitenciário Brasileiro. Dignidade da Pessoa Humana.

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ABSTRACT

The present work of conclusion of course analyzes a subject that is in great evidence, it is a tool that can be virtually new in Brazil, to call attention of inmates, call of electronic anzeleira. The work should be part of the electronic monitoring of presets in Brazilian criminal law, analyzing the current and future aspects of their current day. This content was presented in the content of human risk in the passport, in the early risk in the power of the penitentiary in Brazil, is the early risk in the passport of the human person. In this work, the use of the electronic pulse monitoring monitor is also presented at an accelerated pace in the country, since it is a tool that helps reduce costs in the penitentiary sector, being an economic option for the public power. Thus, it will be applied the hypothesis of dividing the opinions in the sense of no effect or the principle of the dignity of the human person, being evidenced the existence by the monitoring, because the same made it possible for the patient to live in the familiar environment while serving a sentence, and is not trapped in an inhuman and degrading cell.

Keywords: Electronic Ankle Support. Electronic Monitoring. Brazilian Prison System. Dignity Of Human Person.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ... 8

1 MONITORAMENTO ELETRÔNICO ... 10

1.1 Conceito e aspectos históricos ... 10

1.2 Experiências Internacionais... 13

1.3 Superlotação Carcerária ... 17

1.4 Princípio da Dignidade da Pessoa Humana ... 21

2 MONITORAMENTO ELETRÔNICO NO BRASIL ... 25

2.1 A Lei 12.258/2010 e a Lei 12.403/2011 ... 25

2.2 O Monitoramento Eletrônico na atualidade brasileira ... 27

2.3 O Monitoramento Eletrônico no Rio Grande do Sul ... 37

2.4 Uma análise jurisprudencial acerca do Monitoramento Eletrônico no Brasil ... 41

2.5 Decisões que renovam e reafirmam a importância e respeito ao Princípio da Dignidade da Pessoa Humana ... 45

CONCLUSÃO ... 48

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INTRODUÇÃO

O presente trabalho tem como objeto de estudo a implementação do monitoramento eletrônico de presos no Direito Penal brasileiro, analisando os aspectos históricos, definições, conceitos, funcionamento, e experiências internacionais desta tecnologia.

A superlotação carcerária no Brasil se tornou um problema tão grande que o Estado não está dando conta de controlar, tendo como consequência inúmeros problemas, como as más condições dos presídios, doenças contagiosas, violência, tentativas de fuga, rebeliões.

Em meio a essa situação apavorante do sistema penitenciário brasileiro, eis que surge o monitoramento eletrônico como um escape para desafogar a massa carcerária e tirar o preso desse caos que estão as penitenciárias atualmente. Muitos defendem a medida alegando ser uma alternativa para a redução do contingente carcerário, além de auxiliar na ressocialização dos apenados, possibilitando o preso ao convívio no ambiente familiar, ao trabalho e outras atividades devidamente autorizadas pelo judiciário. Por outro lado, existe um grande número de pessoas afirmando que a ferramenta seria uma afronta à princípios constitucionais como a dignidade da pessoa humana, por entenderem que o preso sofrerá constrangimentos perante a sociedade.

Para a realização do presente trabalho utilizou-se a técnica de pesquisa bibliográfica, especialmente pelo meio virtual, sendo através de sites contendo artigos, notícias publicadas na internet, doutrina e legislação vigente acerca do tema.

No primeiro capítulo, será estudado a parte conceitual e os aspectos históricos do monitoramento eletrônico. Também será realizada uma breve análise das experiências internacionais. Será verificada a questão da superlotação carcerária, apresentando dados

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sobre a população prisional brasileira. Ao final deste capítulo, é abordado opiniões favoráveis e adversas de doutrinadores acerca da polêmica entre a tecnologia e o princípio da dignidade da pessoa humana.

No segundo capítulo, serão verificados os dispositivos legais que regulam a utilização do monitoramento eletrônico no Brasil, conforme as leis 12.258/2010 e 12.403/2011, e ainda, a situação atual do monitoramento eletrônico no Brasil e no Rio Grande do Sul. Será apresentada uma análise jurisprudencial acerca do monitoramento eletrônico no Brasil, e por fim, serão analisadas decisões que renovam e reafirmam a importância e respeito ao Princípio da Dignidade da Pessoa Humana.

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1 MONITORAMENTO ELETRÔNICO

O Brasil vem passando por uma situação caótica no sistema penitenciário. A superlotação dos presídios é um problema que vem se agravando constantemente, os presídios que eram para ser uma solução de problemas, hoje está muito longe de ser isso, não atendendo as suas finalidades.

A consequência dessa falência no sistema agride sobremaneira o princípio da dignidade da pessoa humana, que é a norma máxima de proteção jurídica do ser humano. Também prejudica a ressocialização dos apenados e aumenta as taxas de reincidência, além de gerar violência, tentativas de fuga e rebeliões nos presídios.

Por outro lado, o monitoramento eletrônico vem com a proposta de ser uma alternativa para a redução do contingente carcerário, criando perspectivas para melhorar o sistema falido, bem como a sua estrutura precária, as péssimas condições de higiene, diminuir a violência, e ajudar na ressocialização do preso, tirando das celas os menos perigosos que cumprem suas penas com presos de alta periculosidade.

Nesse sentido, o primeiro capítulo da pesquisa irá abordar o conceito desta ferramenta, os aspectos históricos, as experiências em outros países, a superlotação carcerária e o princípio da dignidade da pessoa humana, tendo como base as Leis 12.258/2010 e 12.403/2011.

1.1 Conceito e aspectos históricos

Quando abordamos o tema monitoramento eletrônico, logo vem em mente uma pessoa, possivelmente cumprindo uma pena, sendo monitorada através de um computador. Para Naiara Antunes Dela-Bianca (2011) “o monitoramento eletrônico consiste na utilização de dispositivos, como pulseiras, chips, tornozeleiras, que servem para localizar e controlar presos que respondem a processo penal ou já estão em fase de cumprimento de pena privativa de liberdade”.

O sistema de monitoramento eletrônico consiste de um dispositivo transmissor que fica acoplado ao corpo do indivíduo monitorado, um receptor instalado na residência do apenado e

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a central, onde é repassado todas as informações em relação ao detento monitorado, dessa forma, sobre a sua localização, Dela-Bianca (2011) descreve:

A localização do indivíduo deve ser procedida do seguinte modo: o transmissor envia um sinal para o receptor, acusando a distância entre tais equipamentos. Logo, se conhecerá se o vigiado desrespeitou, ou não, a distância estabelecida pelo juiz, como condição de manter preservada a sua liberdade, ainda que limitada a tal critério físico.

Atualmente, o aparelho mais comum usado para monitorar presos é a tornozeleira eletrônica. De acordo com o Ministério da Justiça, a tornozeleira eletrônica é um dispositivo resistente acoplado à perna do apenado, que inclui um GPS para determinar a localização por satélite e um modem para transmissão de dados por sinal de celular. Todas as informações são passadas, em tempo real, para uma central de monitoramento. Um alarme é disparado caso haja ruptura da tornozeleira, ultrapassagem do perímetro estabelecido pela Justiça ou se o preso excedeu o horário combinado pela Justiça para estar em casa.

Para entender melhor o funcionamento do monitoramento eletrônico de presos, Luciano de Oliveira Souza Junior (2008) nos explica que:

O monitoramento eletrônico é uma espécie de prisão virtual, em que a pessoa apenada passa a utilizar um aparelho que permite seu rastreamento via satélite. Trata-se do Sistema de Acompanhamento de Custódia 24 horas – SAC 24, que funciona através de rádio frequência e informações criptografadas fornecedoras de dados sobre o posicionamento do apenado.

Dela-Bianca (2011) conceitua o monitoramento eletrônico como contínuo ou não contínuo. Para ela, o monitoramento eletrônico pode ser de duas formas, o contínuo consiste na hipótese de controlar continuamente a localização, as condutas e até costumes do apenado, já com relação ao não contínuo, pode-se entender no sentido de localizar apenas quando necessário a localização e os movimentos do preso.

Para Neves (2010) o monitoramento eletrônico é “uma alternativa tecnológica à prisão”, essa característica da medida torna possível a substituição do encarceramento do preso pela sua liberdade, possibilitando a sua ressocialização juntamente com o convívio familiar.

Portanto, o monitoramento eletrônico é a alternativa para presos que respondem a processo penal, ou seja, presos que ainda não foram sentenciados, sendo uma medida cautelar

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prevista na Lei nº 12.403/2011. Por outro lado, também se enquadra em presos que estão em fase de cumprimento de pena privativa de liberdade, expressa na Lei nº 12.258/2010.

Desta forma, Victor Eduardo Rios Gonçalves (2012) argumenta que o monitoramento eletrônico é uma ferramenta eficaz de fiscalização do indiciado, pois permite sua localização imediata através do rastreamento via satélite. Trazida como uma opção tecnológica ao encarceramento, os resultados positivos vêm elevando a fama da alternativa, já que fica concretado como uma restrição da liberdade e não um encarceramento. A pretensão é se alocar como um instrumento redutor de contingentes carcerários, permitindo desta forma, o distanciamento do ambiente prisional utilizando o meio eletrônico.

O monitoramento eletrônico surgiu na década de 60, após um grupo de estudiosos da Universidade de Harvard, nos Estados Unidos, dar origem ao transmissor portátil denominado “Behavior Transmitter-Reinforcer (BT-R)”. O equipamento era constituído por duas unidades, uma na cintura, abrigando bateria e um transmissor, e outra no pulso, que operava como um sensor, e tinha como desígnio emitir sinais à base do laboratório, o que permitia registrar a localização imediata do usuário (SOUZA, 2016).

Ainda para Bernardo de Azevedo e Souza (2016), a criação do dispositivo surgiu a partir do momento em que um dos pesquisadores do grupo citado, assistiu ao musical “West Wide Story” (1961), onde o amor de um casal floresce entre ódio e brigas de duas gangues. A morte do astro do musical deixa inconformado o estudioso, que afirma ser indispensável arquitetar um modo de comunicação que pudesse alertar e impedir o exercício do crime. Após esse momento, se deu início ao projeto “Streetcorner Research”, com a base acomodada no porão de uma igreja em Massachussetts, possuía uma tela que mapeava vários pontos da cidade.

O referido projeto possuía um sistema que sinalizava quando um dos participantes ultrapassava as áreas monitoradas, transmitindo o sinal de localização para a base. A experiência do monitoramento eletrônico era relatada pelos voluntários que recebiam uma ajuda de custo. Estes experimentos foram executados em um período pré-digital, momento em que poucos estavam prontos para acolher o novo sistema, tendo estes projetos reações extremamente negativas da comunidade.

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Um juiz americano da época de 1980, chamado Jack Love, idealizou um novo conceito de monitoramento eletrônico, inspirou-se em uma história em quadrinhos do Homem-Aranha, tornando real o conceito de vigilância. Sobre o feito, Neves (2010) afirma que:

[...] desde 1946, no Canadá, já haviam experiências de controle de presos em seu domicílio. No entanto, a sua pratica judicial é algo mais recente. Conforme anuncia CÉRE, a ideia partiu de uma história em quadrinhos, quando, em agosto de 1979, um magistrado americano, Jack Love, leu em um jornal local um trecho do “Homem Aranha” onde era mencionada a possibilidade de usar uma pulseira como transmissor, neste episódio, o bandido conseguiu localizar o herói graças a um dispositivo colocado em seu punho.

Por conseguinte, após testes e muito investimento, o monitoramento eletrônico ganhou a vez, e ao final dos anos 90 já monitorava quase 100 mil apenados nos Estados Unidos. O sistema vem se solidificando como uma ferramenta coligada aos atos de controle social e de renovação do poder punitivo. Há, portanto, muita evolução do sistema e avanços a fazer.

Atualmente, o monitoramento eletrônico está presente em diversos países, dentre eles podemos citar: “Itália, Alemanha, Escócia, Portugal, Austrália, Israel, Nova Zelândia, Canadá, Reino Unido, Suécia, Holanda, França, Andorra, Singapura, Bélgica, Taiwan, África do Sul e, recentemente a Argentina”, segundo estudo realizado por Paulo José Iasz de Morais (2012, p.20). Em especial, podemos citar os Estados Unidos, que foi o país pioneiro de projetos para a implementação do monitoramento eletrônico.

1.2 Experiências Internacionais

O monitoramento eletrônico como já foi dito, está presente em diversos países e na maioria deles vem satisfazendo as expectativas da medida. Uma curiosidade é que cada país conta com sua legislação específica e critérios peculiares. Muitas dessas nações buscam o mesmo objetivo, que é o desafogamento da massa carcerária, a diminuição de despesas com presos, a tentativa de ressocialização dos apenados e ainda, fazer valer o princípio da dignidade da pessoa humana, dentre outros princípios contidos em suas Constituições.

Segundo Dela-Bianca (2011), os Estados Unidos, país pioneiro a utilizar a tecnologia, ao ser ofertado o monitoramento eletrônico, é necessário a aceitação voluntária do preso, o tempo de duração da medida varia entre um e quatro meses, e as despesas do monitoramento é

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feita pelo apenado ou sua família. Também pode ser aplicado juntamente a outras medidas, como por exemplo o trabalho comunitário.

Ainda sobre o uso do monitoramento eletrônico norte-americano, José Paulo Sena de Jesus (2011) afirma que:

Antes da aplicação da medida, primeiro se faz um estudo do impacto do crime na sociedade para avaliar se essa medida é cabível. E sendo cabível, é feito um exame do perfil psicológico do indivíduo para verificar se o mesmo possui condições de se adaptar ao equipamento eletrônico, a fim de se preservar sua integridade não só física como também psicológica.

Na Inglaterra, as primeiras experiências com o monitoramento eletrônico começaram no ano de 1987, onde era aplicado para os réus de dezessete anos, com a condição de ficarem em liberdade em substituição a uma prisão provisória ou como medida de execução de penas de curta duração (OLIVEIRA, 2007, p.39).

Segundo Dela-Bianca (2011), na Inglaterra, o sistema foi implantado no ano de 1995, mas se consolidou somente em 1999, quando passou a abranger todo o território inglês.

No país inglês, só podem ser beneficiados com o monitoramento eletrônico os presos que não praticaram delitos violentos, podendo o monitoramento “[...] servir como prisão domiciliar, pena autônoma ou complemento de outras medidas, exigindo-se o consentimento do apenado, o qual pode até ser liberado da vigilância por alguns dias, visando não interferir em suas atividades religiosas, acadêmicas ou laborais” (DELA-BIANCA, 2011).

No Canadá, o monitoramento eletrônico teve início no ano de 1987. Atualmente existem duas categorias aos réus: os condenados a uma pena de sete dias e seis meses de prisão e os presos, cujas suas penas restantes não excedem quatro meses. Está descartada a medida para aqueles que cometeram crimes sexuais ou crimes com violência, bem como aos condenados que não tem uma atividade permanente (OLIVEIRA, 2007, p.38).

Comumente, essa medida é aceita para pessoas condenadas pelo crime de embriaguez ao volante ou por dirigir sem habilitação, delinquentes grávidas, infratores portadores do vírus da AIDS, doentes terminais ou idosos (OLIVEIRA, 2007, p.38).

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Na Suécia, o monitoramento eletrônico foi implementado no ano de 1994, que segundo Carlos Roberto Mariath (2007) substituiu aproximadamente 17 (dezessete) mil penas privativas de liberdade, sendo que 10 (dez) pequenas unidades prisionais com capacidade para 400 (quatrocentos) detentos foram fechadas no país. Isso quer dizer que o monitoramento eletrônico realmente foi uma medida positiva, alcançando ótimos resultados para desafogar a superlotação carcerária sueca.

Nesse país existem algumas peculiaridades, como por exemplo: os beneficiados com a medida não podem ingerir álcool e nem uso de entorpecentes durante a monitoração, sob pena de perder o benefício. Os condenados por crimes sexuais e violentos não tem direito ao monitoramento eletrônico, e, geralmente quem arca com os custos do aparelho é o próprio condenado (CARVALHO, 2010).

Em 1989, na França, já se tinha boatos sobre o monitoramento eletrônico. Mas foi no ano de 1997 que o monitoramento eletrônico foi implementado como uma medida autônoma, com a Lei n°. 97-1159, de 19 de dezembro de 1997 (OLIVEIRA, 2007, p.48). Segundo Edmundo Oliveira (2007), o grande diferencial do sistema francês é a grande interação e parceria entre os vigilantes e o pessoal do trabalho socioeducativo. Os vigilantes ficam encarregados do acompanhamento técnico ao passo que o pessoal do trabalho socioeducativo, faz o papel social aos detentos.

Ainda sobre a aplicação da medida na França, José Paulo Sena de Jesus (2011) ressalta que:

Importante ressaltar que o monitoramento eletrônico na França, a exemplo do que ocorre na Suécia, depende do consentimento do acusado para a sua aplicação. Além disso, ele precisa ter residência fixa e dispor de uma linha telefônica custeada por ele. Para alguns, o pagamento das despesas ocasionadas pela operacionalização do monitoramento pagas pelo infrator pode propiciar uma dinâmica de responsabilidade, além de uma maior rentabilidade do sistema. No entanto, tal exigência viola o princípio da isonomia, uma vez que os condenados que se encontram nas prisões não pagam as despesas que asseguram sua custódia.

Conforme Jesus (2011), “a França não considera o monitoramento eletrônico como pena principal, mas somente como uma modalidade de execução de uma pena privativa de liberdade”.

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Em Portugal, o monitoramento eletrônico iniciou-se no ano de 2002, mais precisamente na grande Lisboa, o objetivo era reduzir as altas taxas de aplicação da prisão preventiva e contribuir para a redução do elevado índice de população prisional (MARIATH, 2007).

Assegura Mariath (2007) que:

Lá, a vigilância eletrônica obteve significativos índices de adesão tanto por parte dos magistrados, advogados e demais operadores do direito quanto por parte dos presos e seus familiares e da comunidade em geral. A solução alcançou excelentes níveis de operacionalidade e eficácia, e os seus custos revelaram-se muito inferiores aos do sistema prisional, provando ser uma real alternativa à prisão preventiva.

Na Nova Zelândia, foi implantada a medida em seu território no ano de 1995, e existem duas possibilidades dos condenados receberem o benefício do monitoramento eletrônico, segundo Naiara Antunes Dela-Bianca (2011) “abrangendo os condenados passíveis de concessão da liberdade condicional, após o cumprimento de um terço de sua pena, bem como àqueles que não são candidatos a liberdade condicional, mas que tenham cumprido dois terços de sua pena”.

No mesmo ano, em 1995, o monitoramento eletrônico teve início na Holanda, lá a medida pode ser aplicada sem ser cumulativa a outra pena. “É o caso dos liberados condicionalmente, exigindo-se para tanto o consentimento do apenado, bem como que este possua residência fixa e alguma atividade ocupacional”, afirma Dela-Bianca (2011).

Na América Latina, em 1997, a primeira a usar o monitoramento eletrônico em seu sistema prisional foi a Argentina. “Trata-se de experiência única na América Latina, que visa a detenção de presos provisórios em suas respectivas casas” (MARIATH, 2007). Ainda conforme Mariath (2007), o custo operacional da medida gira em torno de 50% do valor gasto com o preso recluso em penitenciárias.

Para Luciano de Oliveira Souza Júnior (2008), “A experiência na América do Sul teve como pioneira a Província de Buenos Aires, na Argentina, onde se constatou a redução da reincidência criminal: o índice foi de 8% menor do que entre os apenados com a privação de liberdade”.

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Portanto, podemos concluir que o monitoramento eletrônico já existe em países estrangeiros muito antes de surgir no Brasil, tendo um efeito positivo na redução da massa carcerária, no custo operacional e na reincidência criminal.

1.3 Superlotação Carcerária

A superlotação carcerária é o maior problema encontrado hoje no sistema penitenciário brasileiro, e vem aumentando a cada ano desde que se têm números concretos sobre ela. Seres humanos são colocados em celas com condições desumanas, dividindo pequenos espaços com um grande número de pessoas. Nesse sentido, Camargo (2006) nos explica que:

A superlotação devido ao número elevado de presos, é talvez o mais grave problema envolvendo o sistema penal hoje. As prisões encontram-se abarrotadas, não fornecendo ao preso um mínimo de dignidade. Todos os esforços feitos para a diminuição do problema, não chegaram a nenhum resultado positivo, pois a disparidade entre a capacidade instalada e o número atual de presos tem apenas piorado. Devido a superlotação muitos dormem no chão de suas celas, às vezes no banheiro, próximo a buraco de esgoto. Nos estabelecimentos mais lotados, onde não existe nem lugar no chão, presos dormem amarrados às grades das celas ou pendurados em redes.

Presente em todo o sistema, a superlotação carcerária está conexa ao acréscimo de prisões executadas nos últimos anos, a demora do poder judiciário nos julgamentos, e ainda, se não bastasse, o descaso do Estado em investir em medidas auxiliares na reintegração do apenado. O ambiente favorável à violência dentro das prisões também é tido como um fator negativo quando se trata da ressocialização, haja vista que, a maioria das prisões são dominadas pela violência e desrespeito. (ROSSINI, 2015).

Conforme o último relatório sobre população carcerária brasileira, relativo a dezembro de 2014, feito pelo Sistema Integrado de Informações Penitenciárias (InfoPen) e divulgado pelo Ministério da Justiça, a população carcerária chegou a 607.731 encarcerados, para apenas 376.669 vagas, totalizando um déficit de aproximadamente 230 mil vagas e uma taxa de ocupação média dos estabelecimentos de 161%, ou seja, em um espaço para abrigar 10 presos, existem por volta de 16 indivíduos encarcerados (BRASIL, 2014).

São dados apavorantes, atualmente se contarmos que o total da população brasileira é de 207,7 milhões de habitantes (IBGE, 2017), serão aproximadamente 300 (trezentos) presos para cada 100.000 (cem mil) habitantes no país.

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Ainda, segundo o relatório sobre a população carcerária brasileira, feito pelo Sistema Integrado de Informações Penitenciárias (InfoPen) relativo a dezembro de 2014, em comparação com outros países, o Brasil tem a quarta maior população prisional, ficando atrás apenas dos Estados Unidos, da China e da Rússia (BRASIL, 2014).

Em 15 de junho de 2010, foi sancionada a Lei nº 12.258/10, que possibilita a utilização de equipamento de vigilância indireta pelo condenado em alguns casos específicos. A Lei estabelece que o juiz poderá definir a fiscalização por meio da monitoração eletrônica, as chamadas “tornozeleiras eletrônicas”, quando, autorizar a saída temporária no regime semiaberto, e, quando determinar a prisão domiciliar do apenado, conforme o disposto nos incisos II e IV, do art. 146-B da Lei de Execução Penal. Posteriormente, o monitoramento eletrônico foi introduzido pela Lei nº 12.403, de 04 de maio de 2011, a qual trouxe relevantes alterações no trato das prisões e da liberdade provisória, viabilizando a utilização da monitoração eletrônica como medida cautelar.

Essa medida cautelar foi criada para ser aplicada em presos provisórios, que não foram sentenciados, justamente para não permitir que estes presos provisórios sejam encarcerados com presos que estão cumprindo sentença, que são muitas vezes de alta periculosidade, dando a chance de voltar a sua rotina familiar e no trabalho, não caindo na reincidência, além do mais, contribuindo para a redução da massa carcerária.

Para Carvalho (2010):

As penitenciárias são consideradas como verdadeiras “faculdades do crime”, onde os presos aperfeiçoam suas habilidades para cometer novos delitos. Isso ocorre, principalmente, porque não há o cuidado de separar os presos de acordo com a pena imposta, ou a sua periculosidade para a sociedade, ou ainda, de acordo com o seu grau de instrução. Todos são considerados “farinha do mesmo saco”, e assim sendo, não são raros os casos em que pequenos delinquentes encontram o seu amadurecimento criminoso dentro dessas instituições.

Dentre os problemas existentes nos presídios, além da superlotação carcerária, podemos citar outros como a distribuição inadequada de presos, a violência física e moral, a completa falta de higiene e as doenças presentes como a AIDS, Hepatite e Sífilis. Assim Leal (2004, p. 57) descreve a realidade dos presos:

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Prisões onde estão enclausuradas milhares de pessoas, desprovidas de assistência, sem nenhuma separação, em absurda ociosidade; prisões infectadas, úmidas, por onde transitam livremente ratos e baratas e a falta de luz é rotineira; prisões onde vivem em celas coletivas, imundas e fétidas, dezenas de presos, alguns seriamente enfermos, como tuberculosos, hansenianos e aidéticos; prisões onde quadrilhas controlam o tráfico interno da maconha e da cocaína e firmam suas próprias leis; prisões onde vigora um código arbitrário de disciplina, com espancamentos frequentes; prisões onde detentos promovem uma loteria sinistra, em que o preso “sorteado” é morto, a pretexto de chamarem atenção para suas reivindicações; prisões onde muitos aguardam julgamento durante anos, enquanto outros são mantidos por tempo superior ao da sentença; prisões onde, por alegada inexistência de local próprio para a triagem, os recém-ingressos, que deveriam submeter-se a uma observação científica, são trancafiados em celas de castigo, ao lado de presos extremamente perigosos.

O problema da superlotação carcerária como se vê, agride o princípio da dignidade da pessoa humana, previsto no Art. 1º, inciso III,1 da Constituição Federal de 1988, que se constitui como o principal e mais importante princípio pelo qual o Estado se ergue.

Além do mais, ao ser inserido no cotidiano prisional, o preso acaba sofrendo violação em sua integridade física e moral, o sistema prisional que é para ser um recurso para o apenado, acaba sendo um problema, pois da forma que o mesmo é inserido no sistema acaba-se prejudicando o objetivo maior da pena, a ressocialização do apenado, submetendo o preso a um tratamento desumano e degradante durante o cárcere.

Um dos problemas que dificulta esta ressocialização é a falta de higiene no âmbito prisional em geral, da cela à cozinha. Presos disputando por um mínimo espaço limpo em meio ao lixo das celas, convivendo com animais em deterioração e canal de esgoto aberto, são cenas carcerárias habituais. Segundo Bitencourt (2011, p.166):

Nas prisões clássicas existem condições que podem exercer efeitos nefastos sobre a saúde dos internos. As deficiências de alojamentos e de alimentação facilitam o desenvolvimento da tuberculose, enfermidade por excelência das prisões. Contribuem igualmente para deteriorar a saúde dos reclusos as más condições de higiene dos locais, originadas na falta de ar, na umidade e nos odores nauseabundos. Além das doenças do corpo, esses locais auxiliam ainda mais para o desenvolvimento de doenças psicológicas, tais como depressão, demência e esquizofrenias, levando muitos deles ao suicídio.

1Art. 1º A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos Estados e Municípios

e do Distrito Federal, constitui-se em Estado Democrático de Direito e tem como fundamentos: III - a dignidade da pessoa humana (BRASIL, 1988).

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Mas, será que o monitoramento eletrônico realmente está cumprindo o seu papel de reduzir a massa carcerária? Atualmente, existem poucos dados disponíveis quanto a essa informação.

A utilização do monitoramento eletrônico aparece, muitas vezes, uma alternativa lógica, econômica e inovadora. Porém, o monitoramento eletrônico de presos vem sendo utilizado e expandido em vários estados brasileiros, mas não consegue cumprir seu principal objetivo: reduzir a superlotação nas cadeias.

A medida também se estende sem um padrão nacional de uso e em desrespeito à dignidade do apenado, que tem seus dados pessoais expostos e pode passar horas por dia diante de tomadas para recarregar os dispositivos. Essas são as conclusões do primeiro diagnóstico nacional, realizado no ano de 2015, sobre o uso da monitoração eletrônica para vigiar detentos no Brasil, encomendado pelo Ministério da Justiça ao PNUD (Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento).

Segundo o diagnóstico nacional de monitoração eletrônica de detentos no Brasil (2015), há 18.172 pessoas monitoradas no Brasil, sendo 88% homens e 12% mulheres, apenas 3% da população carcerária nacional, que é de 607.731 encarcerados (BRASIL, 2015).

O uso da tecnologia vem se multiplicando em ritmo acelerado pelo país. A explicação para o crescimento dessa tecnologia seria o custo que o monitoramento eletrônico tem para o poder público, enquanto um detento gera de despesa em torno de R$ 1.800,00 a R$ 4.000,00, o monitorado varia de R$ 167,00 a R$ 600,00 (BRASIL, 2015).

Além do mais, em relação ao desafogamento da superlotação carcerária, o diagnóstico nacional de monitoração eletrônica de detentos no Brasil (2015), mostra que o uso de tornozeleiras eletrônicas no país é determinado como medida diversa da prisão e protetiva de urgência, que são possibilidades reais de esvaziar as cadeias, mas é em apenas 12% dos casos, número muito baixo para reduzir a massa carcerária (BRASIL, 2015).

Ainda, de acordo com o diagnóstico de 2015 encomendado pelo Ministério da Justiça ao PNUD (Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento), a maioria das pessoas monitoradas encontram-se na fase de execução penal, ou seja, penas que já estavam previstas,

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e não alternativas à prisão. Do total de presos monitorados, predominam regime aberto em prisão domiciliar (25,9%), semiaberto em prisão domiciliar (21,8%), semiaberto em trabalho externo (19,8%), saída temporária (16,5%), fechado em prisão domiciliar (1,7%) e liberdade condicional (0,1%) (BRASIL, 2015).

Portanto, conforme o diagnóstico (BRASIL, 2015), o monitoramento eletrônico é insuficiente para reduzir o número de presos, e atualmente precisa de um aprimoramento de medidas que favoreçam o desencarceramento e a inserção social do monitorado, sendo assim, resultando em redução da superlotação carcerária.

1.4 Princípio da Dignidade da Pessoa Humana

Na Constituição de 1988, o princípio da dignidade da pessoa humana está previsto no Art 1º, inciso III, que define como um dos fundamentos da República Federativa do Brasil: “A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos Estados e Municípios e do Distrito Federal, constitui-se em Estado Democrático de Direito e tem como fundamentos: III - a dignidade da pessoa humana” (BRASIL, 1988).

Ainda que não exista um conceito bem definido e aceito, para Sarlet (2004, p. 59), a dignidade da pessoa humana é:

Qualidade intrínseca e distintiva reconhecida em cada ser humano que o faz merecedor do mesmo respeito e consideração por parte do Estado e da comunidade, implicando, neste sentido, um complexo de direitos e deveres fundamentais que assegurem a pessoa tanto contra todo e qualquer ato de cunho degradante e desumano, como venham a lhe garantir as condições existenciais mínimas para uma vida saudável, além de propiciar e promover sua participação ativa e corresponsável nos destinos da própria existência e da vida em comunhão com os demais seres humanos, mediante o devido respeito aos demais seres que integram a rede da vida.

Desde a inserção do monitoramento eletrônico, previsto na Lei nº 12.258/2010 e posteriormente introduzido pela Lei nº 12.403/2011, sempre foi criada uma polêmica entre a tecnologia e o princípio da dignidade da pessoa humana.

A fiscalização feita em detentos por meio de monitoramento por satélite e GPS (Global Position System) implantados em tornozeleiras acopladas ao corpo, gera uma discussão, se o

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monitoramento ofenderia a dignidade da pessoa humana, submetendo o monitorado a situações vexatórias e humilhantes.

Para Carvalho e Corazza (2014):

Constata-se que o uso de tornozeleira eletrônica, de alguma forma ou em algum grau, implica um severo desprezo de determinados direitos fundamentais de transcendental importância, podendo gerar a estigmatização, a discriminação, ferir o direito à intimidade e, principalmente, à dignidade da pessoa humana, entre outros direitos constitucionalmente assegurados, razão pela qual a sua admissibilidade em um Estado Democrático e Social poderia resultar incompatível com a Constituição brasileira.

A discussão parte do ponto de que a fiscalização do detento ingressa diretamente na intimidade, vida privada, honra e imagem do indivíduo (proteção garantida pela Constituição de 1988, art. 5º, X), que integram o princípio e é visto como fundamento do Estado Democrático de Direito (VILELA, 2013).

A tornozeleira eletrônica para muitos, agride a imagem, a honra e até a intimidade do condenado perante a sociedade, prejudicando a dignidade da pessoa humana, por outro lado, assegura Vilela (2013) que:

É comum que a aparelhagem, principalmente a tornozeleira, se apresente de forma tímida, bem discreta, evitando qualquer mácula na honra e imagem do condenado perante a sociedade. Ademais, na maior parte das vezes, o número de pessoas que saberão do equipamento se restringirá ao reeducando, o magistrado e aos membros familiares mais próximos, restando, portanto, inofensivo à dignidade do primeiro.

No mesmo sentido, assegura (Carvalho e Corazza, 2014) que é um equívoco imaginar que o monitoramento eletrônico não gere estresse ou uma sensação parecida a de um presídio, pois ser controlado todas as horas do dia, todos os dias, é difícil de ser suportado, no entanto, ser vigiado eletronicamente é sem dúvidas melhor do que estar preso a uma cela desumana e degradante.

Ainda para Carvalho e Corazza (2014):

Há os que defendem que a preocupação de que a tornozeleira possa ferir a dignidade da pessoa humana, ao impor ao cidadão a utilização de uma “coleira”, na forma como ocorria no período da escravatura, não merece prosperar, haja vista se estiver absolutamente convencido de que o atual sistema carcerário brasileiro é o maior elemento de ataque à dignidade humana. Aqueles que conhecem o sistema prisional

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sabem que ali a última coisa que podemos encontrar é o tratamento digno e correto de um ser humano.

Assim se pronuncia Karam (2007, p.5) sobre o tema:

Por mais paradoxal que possa parecer o discurso daqueles que são contra a utilização do monitoramento eletrônico por meio de braceletes, pulseiras ou tornozeleiras, é notório que tal prática concretiza a sombria perspectiva do controle total do Estado sobre os indivíduos. Dessa forma, não se pode pensar a questão sob os efeitos do desespero de quem está preventivamente privada de sua liberdade, pois, nessa condição, qualquer esmola de liberdade dada ao sujeito é uma dádiva.

Conforme assegura Greco (2012), o Estado de certa forma tentou se precaver do princípio da dignidade da pessoa humana, pois o monitoramento eletrônico é um meio discreto, que não ofende a dignidade do apenado.

Apesar de o Congresso Nacional sinalizar, de forma clara e inequívoca, ser favorável ao monitoramento eletrônico de presos, bem como as experiências internacionais apontarem no mesmo sentido (MARIATH, 2007), existem opiniões adversas e desfavoráveis ao monitoramento eletrônico referente ao princípio da dignidade da pessoa humana.

No parecer de Carlos Weis (2007), Conselheiro do Conselho Nacional de Política Criminal e Penitenciária (CNPCP), “a solução viola a intimidade, cria maiores entraves para obtenção da liberdade e viola a presunção de inocência” (MARIATH, 2007).

Resumidamente, entende Weis (2007) que a solução viola a intimidade por tratar-se de mecanismo que expõe o condenado à sociedade (MARIATH, 2007).

Para Fábio Tofic Simantob (2004), o monitoramento eletrônico gera uma odiosa estigmatização social e invade o "sagrado espaço da intimidade do lar", conforme exposto no seguinte trecho:

Afinal, não faria qualquer sentido aplicar penas restritivas de direitos no afã de eliminar as indignidades da pena de prisão, se as formas escolhidas para monitorá-las apenas fariam ressuscitar as mazelas e degradações próprias do encarceramento, como a violação da intimidade e da vida privada, além da odiosa estigmatização social do sentenciado, que teria de esconder sua letra escarlate - a pulseira eletrônica - durante o período de cumprimento da pena. Certo é, por outro lado, que o controle dos movimentos do condenado almejado pelos defensores do monitoramento eletrônico representaria forma das mais odiosas de restrição à liberdade, na medida em que

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permitiria, além de tudo, uma indecente penetração do olhar implacável da vigilância estatal no sagrado espaço da intimidade do lar.

Resta claro que existem pontos positivos e negativos referentes ao tema. Nesse contexto, ambas as condutas, seja colocar o detento em liberdade monitorada, seja manter o detento trancafiado em celas degradantes, são situações que violam de maneira expressiva o Princípio Constitucional da Dignidade da Pessoa Humana (PERES, 2014).

Nesse sentido, acredita-se que o uso do monitoramento eletrônico como forma de controle do preso não atentaria tanto a dignidade se considerados os elementos favoráveis dessa política criminal, como o fato de o detento ser posto em liberdade, voltando ao convívio familiar e não sendo obrigado a permanecer em ambientes desumanos, como é o caso dos estabelecimentos prisionais. Assim, não se pode falar em ferir o princípio da dignidade da pessoa humana utilizando o monitoramento eletrônico, sendo que o atual sistema falido fere tantos outros princípios.

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2 MONITORAMENTO ELETRÔNICO NO BRASIL

O monitoramento eletrônico é um dos temas de maior interesse na atualidade para as Ciências Criminais. Trata-se de um dispositivo recente que está em pleno funcionamento no sistema jurídico brasileiro. Esta importante ferramenta tem como objetivo auxiliar o Estado na fiscalização quanto ao cumprimento das decisões judiciais, no controle de presos e a evitar o ingresso do sujeito no cárcere.

Muitas dúvidas, questionamentos e discussões foram geradas após a implementação do monitoramento eletrônico no país, principalmente as questões relacionadas ao seu funcionamento, a eficácia e a dignidade da pessoa humana. Esta temática chamou a atenção de respeitados doutrinadores, legisladores e penalistas, que dividem opiniões favoráveis e desfavoráveis.

Previsto na legislação brasileira desde 2010, a Lei Federal nº 12.258/2010 alterou dispositivos da Lei de Execução Penal e previu a possibilidade de vigilância indireta pelo preso sentenciado por meio da monitoração eletrônica nas hipóteses de saída temporária e prisão domiciliar. Já no ano de 2011, passa a vigorar a Lei nº 12.403, que altera dispositivos do Código de Processo Penal, relativos a medidas cautelares diversas da prisão.

Nesse sentido, além das leis que sancionam o monitoramento eletrônico, será abordado neste capítulo a atual situação em que se encontra o monitoramento eletrônico no Brasil, como também a sua aplicabilidade e funcionalidade no estado do Rio Grande do Sul. Ainda, constará uma análise jurisprudencial comentada acerca do tema e de decisões que renovam e reafirmam a importância e respeito ao Princípio da Dignidade da Pessoa Humana.

2.1 A Lei 12.258/2010 e a Lei 12.403/2011

No Brasil, foi sancionada em 15 de junho de 2010 a lei nº 12.258/2010 que altera dispositivos do Código Penal e Lei de Execução Penal, prevendo a possibilidade da utilização de equipamentos de vigilância indireta pelo preso, nos casos em que a lei especifica, sendo criada nesta lei a seção VI, artigo 146-A, a monitoração eletrônica.

Ainda, na referida lei, o artigo 146-B estabeleceu as duas situações possíveis de monitoramento eletrônico, no qual o juiz poderá definir a fiscalização por meio da monitoração

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eletrônica quando for autorizada a saída temporária do condenado no regime semiaberto ou quando for determinada a prisão domiciliar.

Sobre as situações possíveis de monitoramento previstas no artigo 146-B, Luiz Flávio Gomes (2010) afirma que:

Ambas visam a suavizar ou a evitar (ou substituir) a prisão (o encarceramento). Diante de todos os malefícios (comprovados) da pena de prisão, tudo que se puder fazer para suavizá-la ou evitá-la é bem-vindo. Todas as medidas alternativas à prisão (de suavização ou de eliminação), desde que razoáveis, devem merecer nossa mais acurada atenção (porque isso significa não piorar nem degradar mais o ser humano).

Ainda, referindo-se sobre a lei, Luiz Flávio Gomes (2010) assegura que:

Em tese, o monitoramento eletrônico (vigilância eletrônica) é muito melhor que o presídio tradicional (com muros). Na prática, no entanto, pode ser tão penoso (ou mais) que o presídio tradicional. De qualquer modo, a tendência claríssima (na era da sociedade telemática) passa pela ideia do fim do presídio tradicional, para dar lugar para o presídio eletrônico.

Para Morais (2012, p.47), a lei nº 12.258/2010 “instituiu condições que não beneficiam o condenado, porque antes não havia vigilância para os casos descritos, de modo que lhe impõe sujeitar-se a ser monitorado, o que não ocorria antes”.

Quanto à redução da massa carcerária, não há grandes mudanças, conforme afirma Morais (2012, p.48):

[...] não haverá diminuição da população carcerária e nem economia de recursos, pois as pessoas sujeitas ao monitoramento eletrônico já não estavam mais no sistema prisional, no caso da prisão domiciliar, ou retornarão ao estabelecimento, no caso da saída temporária do regime semiaberto.

Contudo, no que se refere à lei e a sociedade, Sousa (2011) entende que “ela se beneficia, pois os crimes não deixam de ser punidos e a paz social se torna mais tangível, pois o uso do monitoramento eletrônico impõe uma certa limitação aos ânimos daqueles (apenados) que pensam em uma recaída”.

Portanto, Medeiros e Neto (2011) concluem que, “com o avanço tecnológico, cada vez mais acentuado, a monitoração eletrônica ganha terreno, consolidando-se como uma eficiente medida substitutiva ao sistema prisional tradicional”.

Posteriormente, entrou em vigor no dia 04 de julho de 2011 a lei nº 12.403/2011, criada com o objetivo de evitar o encarceramento do indiciado ou acusado antes de transitar em

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julgado a sentença penal condenatória. A referida lei trouxe relevantes alterações no trato das prisões e da liberdade provisória, viabilizando a utilização da monitoração eletrônica como medida cautelar, segundo artigo 319, inciso IX.

Conforme explica Barros (2013):

Se, antes da Lei nº 12.403/11, o juiz trabalhava apenas com duas soluções extremas, ou a prisão ou a liberdade, agora tem à disposição várias soluções intermediárias, destacando-se que a prisão preventiva somente deve ser decretada em último caso. Trata-se de mais uma medida legislativa que busca reduzir o encarceramento de pessoas acusadas da prática de crimes considerados menos graves.

O sistema da lei nº 12.403/2011 é igualmente ao de outros países, como o de Portugal, aborda Azevedo e Oliveira (2011):

Trata-se de sistematização similar àquela havida em outros países, como Portugal, em que, ao lado da prisão preventiva, há um vasto conjunto de medidas de coação, constituindo-se a prisão preventiva como última alternativa dentro do rol das medidas a serem aplicadas, quando as menos gravosas mostrarem-se inadequadas ou insuficientes, no caso concreto.

Como já foi observado, a lei trouxe mudanças expressivas no que diz respeito a prisões e a liberdade provisória, visando a liberdade como regra de fato, nesse sentido Lisboa (2016) conclui que:

Podemos concluir que a inclusão de novas medidas cautelares no ordenamento jurídico foi um grande avanço para a efetivação do princípio do devido processo legal, pois a lei visa resguardar a liberdade do acusado até que o mesmo tenha uma sentença definitiva e possa cumprir realmente a pena que é cabível ao crime cometido.

A lei veio para frear o encarceramento desnecessário, principalmente de presos provisórios aguardando julgamento, pois em vários casos não há necessidade de manter um acusado preso, e mesmo assim por vontade do juiz não para de crescer esse tipo de prisão. (LISBOA, 2016).

Por fim, Barros (2013) conclui que a lei deva ser usada com bom senso pelos operadores do Direito, “a fim de atingir o que se espera de uma Justiça justa, evitando-se o cárcere nas hipóteses em que ele não é necessário, mas sem perder de vista o imperioso combate à criminalidade, que tantos danos acarreta à população em geral”.

2.2 O Monitoramento Eletrônico na atualidade brasileira

Desde que foi sancionada a lei nº 12.258/2010, já se passaram 08 (oito) anos da inserção do monitoramento eletrônico no Brasil, e, muito se ouve falar desta medida tão polêmica,

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principalmente após o início da Operação Lava Jato, onde muitos políticos e empresários de grandes empresas brasileiras foram condenados e passaram a ser monitorados com as tornozeleiras eletrônicas.

Ademais, o monitoramento eletrônico vem crescendo de um modo acelerado, mas, o que transparece é que não consegue cumprir seu principal objetivo: reduzir a superlotação nas cadeias. A superlotação carcerária se tornou um grande problema de difícil reversão, no qual levará muitos anos para ser resolvida, e não mudará da noite para o dia, pois exige-se tempo, dinheiro e ajustes a serem feitos na lei.

Segundo dados do Departamento Penitenciário Nacional (DEPEN), no ano de 2013 os estados que firmaram parcerias e passaram a utilizar o monitoramento eletrônico de presos foram: Alagoas, Bahia, Goiás e Paraíba. Em 2014, os estados conveniados foram Distrito Federal, Espírito Santo, Maranhão, Mato Grasso do Sul, Santa Catarina e Tocantins. Já no exercício de 2015, foram celebrados 12 convênios com os estados de Acre, Ceará, Mato Grosso, Pará, Pernambuco, Piauí, Rio Grande do Norte, Rondônia, Roraima, Sergipe, Rio de Janeiro e São Paulo.

O site G1, portal de notícias realizou um levantamento de dados sobre o monitoramento eletrônico em todo país, baseado em consultas a todos os governos estaduais. A notícia publicada mostra que até a presente data o levantamento apresentou dados de que pelo menos 24.203 (vinte e quatro mil duzentos e três) presos estavam sendo monitorados por meio de tornozeleira eletrônica e ao menos 821 (oitocentos e vinte e um) aguardam a concessão de tornozeleira para deixar a prisão. A mesma matéria traz a informação do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), de que o Brasil no ano de 2017 tinha 622 mil presos. (MODZELESKI, 2017).

Enquanto que o G1 do Amapá no mesmo ano noticiou que o Estado do Amapá tem dificuldades de monitorar aproximadamente 1.700 (um mil e setecentos) presos que estão em prisão domiciliar, em razão de não ter as tornozeleiras eletrônicas disponíveis, por falta de condições financeiras para comprar o equipamento. Conforme a Secretaria de Estado da Justiça e Segurança Pública (SEJUSP), “Ainda não há prazo para compra e nem instalação do aparato necessário ao monitoramento”. (FIGUEIREDO, 2017).

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Já no Acre, o monitoramento eletrônico de presos está em pleno funcionamento, conforme notícia do mesmo site e mesmo ano, são 773 (setecentos e setenta e três) presos monitorados pela tornozeleira eletrônica. Segundo explica Marcelo Lopes, coordenador de monitoramento eletrônico do Instituto de Administração Penitenciária do Acre (IAPEN-AC), “É um sistema eficaz que fez com que nossas ocorrências diminuíssem em 80%. Não temos presos monitorados envolvidos em crimes graves! A gente sempre trabalha em parceria com o Poder Judiciário, PM, PC e MP, para tentar reduzir ao máximo os incidentes com monitorados”. (G1 AC, 2017).

Na Bahia, segundo a Secretaria de Estado de Administração Prisional (SEAP), das 300 (trezentas) tornozeleiras eletrônicas obtidas pelo Estado para monitoramento de presos, 48 (quarenta e oito) já estão em pleno funcionamento na cidade de Salvador e na região metropolitana. O valor mensal de locação de cada tornozeleira é de R$ 250,83 (duzentos e cinquenta reais e oitenta e três centavos), conforme notícia publicada recentemente (2018) pelo site do G1. (MENDES, 2018).

No Distrito Federal, conforme notícia publicada pelo site Metrópoles, ainda está em falta as tornozeleiras eletrônicas para monitorar presos na capital do país, A ausência do aparelho expõe mais uma fragilidade no sistema penitenciário local, o que ameaça a segurança dos brasilienses. Sobre o atraso da aquisição no Distrito Federal, o especialista em segurança pública Nelson Gonçalves de Souza, da Universidade Católica de Brasília (UCB) argumenta que “Não dá para saber quais são as razões, mas a disponibilidade traria muitos benefícios, especialmente no controle dos presos”. (ALMEIDA, 2016).

No Estado do Mato Grosso, inicialmente foram implantadas 18 (dezoito) tornozeleiras em apenados. Atualmente, o número de presos que utilizam o monitoramento eletrônico é de aproximadamente 2.857 (dois mil oitocentos e cinquenta e sete), e o custo mensal de cada tornozeleira fica em torno de R$ 255,76, os dados são referentes ao levantamento realizado pelo site do G1 da Globo em todo o País, baseados em consulta a todos os governos estaduais. (MODZELESKI, 2017).

Em Minas Gerais, o monitoramento eletrônico começou a ser utilizado em dezembro de 2012. O site Hoje em Dia de Minas Gerais, publicou uma notícia, constando que a fragilidade da tornozeleira eletrônica permite que muitos detentos monitorados continuem praticando

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crimes. Segundo dados da Secretaria de Estado de Administração Prisional (SEAP), dois a cada dez presos conseguem retirar ou desligar a própria tornozeleira. (MARIANO, 2017).

Ainda, de acordo com a notícia veiculada pelo site Hoje em Dia (2017):

Em outras palavras, é como se, dos 1.651 presos que usufruem do benefício da tornozeleira atualmente em Minas, 330 conseguissem burlar o sistema de vigilância. Apesar do alerta recebido pela Unidade Gestora de Monitoração Eletrônica (UGME) quando o equipamento é desligado ou destruído, a recondução do detento ao regime fechado depende de decisão judicial. (MARIANO, 2017).

A tecnologia utilizada nas tornozeleiras de Minas Gerais é deficiente e apresenta falhas, é o que explica Fábio Piló, Presidente da Comissão de Assuntos Carcerários da Ordem do Advogados do Brasil (OAB-MG), “Há também várias denúncias sobre pessoas que estão sendo recolhidas ao cárcere por descumprimento das medidas, quando o fato não aconteceu. Muitas vezes foi um erro do equipamento”.

No Estado do Pará, o monitoramento eletrônico é controlado pela SUSIPE – Superintendência do Sistema Penitenciário. O serviço que começou há quatro anos e com vigilância de apenas 110 (cento e dez) detentos, hoje monitora 1.484 (um mil quatrocentos e oitenta e quatro) internos que usam a tornozeleira eletrônica, são dados levantados do site paraense Diario Online (2018).

Ainda, conforme o site:

Somadas às recém-adquiridas pelo DEPEN, a Susipe possui 2.459 tornozeleiras eletrônicas disponíveis para uso. Cada equipamento custa ao estado o valor de R$ 9,00 por dia. O novo convênio com o DEPEN garantiu um preço diário menor, de R$ 6,90. Um valor bem inferior ao custo de um preso dentro dos centros de recuperação, que

corresponde a R$ 1.350,00 mensais.

A tornozeleira funciona por meio do Sistema de Posicionamento Global (GPS) com dois Sim Card’s - no caso de falha de uma operadora, o outro Sim busca a empresa de telefonia com o melhor sinal. Já o sistema de Serviços Gerais de Pacote por Rádio (GPRS) é o responsável pela transmissão de dados que apontam se a tornozeleira está sendo carregada, quantos por cento e se o equipamento foi violado ou retirado. (DIARIO ONLINE, 2018).

O Estado da Paraíba traz recentemente um novo modelo de monitoramento de presos, que promete ser uma alternativa à tornozeleira eletrônica. Chamada de IDBio, a nova ferramenta monitora o preso usando o reconhecimento biométrico, facial e detecção de digitais e voz. As informações sobre o seu funcionamento são do site G1 da Paraíba:

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ser do próprio preso ou fornecido pelo Estado -, que vai acompanhar a trajetória do albergado fora da prisão, por meio da geolocalização.

O monitorado deverá realizar check-ins solicitados de forma aleatória, por meio do reconhecimento biométrico, para ser localizado diversas vezes ao dia, sendo acompanhado digitalmente por uma central de monitoramento e adquirindo uma pontuação por bom comportamento e cumprimento das normas definidas em sua pena. Caso não responda ao registro em tempo hábil, vai ser considerado foragido. (CARNEIRO, 2018)

Segundo o site G1 da Paraíba, os testes vão ser iniciados a partir do dia 30 de abril de 2018. A tecnologia foi idealizada pelo juiz da Vara de Sucessões de Campina Grande, Bruno Azevedo (o mesmo que iniciou o uso de tornozeleiras eletrônicas em presos no Brasil), em parceria com o curso de direito da Universidade Estadual da Paraíba (UEPB) em Guarabira, e desenvolvida pela empresa de tecnologia Himni e o aplicativo Mundo Jurídico. “Tivemos a ideia de aprimorar essa tecnologia, criando um sistema capaz de realizar a leitura facial, o reconhecimento de voz e detecção de digital, através de um dispositivo similar a um aparelho celular”, afirmou o juiz.

A nova ferramenta ainda pode auxiliar na ressocialização do preso, evitando os constrangimentos públicos que a tornozeleira eletrônica muitas vezes causa, pois trata de um aplicativo instalado em um celular, e não enfatiza o usuário como detento.

Ainda, pontua o juiz Bruno Azevedo (2018):

Logo de cara, um grande benefício é o ganho na imagem. Tem também a questão ergonômica, de não ter o incômodo de usar a tornozeleira. Em terceiro lugar, o custo. Ele vai custar pelo menos 50% do que custa uma tornozeleira. E é ainda mais evoluído, porque tem outros dispositivos tecnológicos, tem maior segurança na proposta de controle.

O Estado do Paraná lidera o ranking de monitoramento eletrônico no país, contando atualmente com 5.875 (cinco mil oitocentos e setenta e cinco) presos monitorados por tornozeleira eletrônica. Foi aprovada pela Assembleia Legislativa do Paraná (ALEP), um projeto de lei, de autoria dos deputados Marcio Pacheco (PPL) e Gilberto Ribeiro (PRB), que determina aos presos à arcarem com os custos das próprias tornozeleiras eletrônicas, com isso, o equipamento do estado ficará destinado apenas a quem não tenha efetivamente condições de custeá-lo, conforme notícia publicada pelo site G1 do Paraná. (G1 PR, 2018).

O mesmo fato aconteceu no Rio Grande do Norte, onde foi promulgada pela Assembleia Legislativa do estado, uma lei que obriga os presos com renda média ou alta a pagarem pelo

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uso das tornozeleiras eletrônicas. De acordo com a Secretaria de Justiça e Cidadania do Rio Grande do Norte, são 570 (quinhentos e setenta) presos monitorados, e o custo mensal é de R$ 156.000,00 (cento e cinquenta e seis mil reais) para o Estado. São dados levantados da notícia publicada pelo site G1 do Rio Grande do Norte. (G1 RN, 2018).

O monitoramento de presos no Estado do Pernambuco conta com um Centro de Monitoramento Eletrônico de Reeducandos (CEMER), considerado pelo Ministério da Justiça e Segurança Pública, através do Departamento Penitenciário Nacional (DEPEN), o mais desenvolvido do país. Segundo a matéria publicada no site JC Online (2017) de Pernambuco:

O Centro de Monitoramento funciona na sede da Seres e foi implantado em setembro de 2011. As tornozeleiras eletrônicas são utilizadas para monitorar o detento do regime semiaberto (primordialmente), medidas cautelares, prisões domiciliares e violências domésticas, respaldadas em decisão judicial. Na central, as equipes acompanham a movimentação das pessoas monitoradas, além de se responsabilizarem pela criação de áreas, agendamentos e análise de comportamento dos reeducandos. Caso o detento tente ou viole a área estabelecida de circulação, o Cemer aciona o Centro Integrado de Operações de Defesa Social (CIODS), da Polícia Militar, responsável pelo recolhimento dos violadores e recapturas de evadidos. Também um relatório de tentativa ou violação de área é enviado ao Judiciário para providências que podem ser desde uma advertência escrita a uma regressão de regime ou suspensão do benefício. (JC ONLINE, 2017).

No Estado do Mato Grosso do Sul, o monitoramento eletrônico já é uma realidade, e vai mais que triplicar o número de tornozeleiras eletrônicas em uso, que é de 155 (cento e cinquenta e cinco). Conforme o site G1, o Estado irá receber mais 350 (trezentos e cinquenta) equipamentos para o monitoramento de presos. (G1 MS, 2017).

No Estado de Roraima, o monitoramento eletrônico foi implantado no ano de 2015. No início, a fase de testes começou com 13 (treze) presos, após foi pedido pelo Estado mais 360 (trezentos e sessenta) tornozeleiras eletrônicas, conforme notícia publicada pelo site G1 de Roraima. (G1 RR, 2015).

No Estado do Sergipe, o uso do monitoramento eletrônico em presos está crescendo, segundo o site sergipano A Tribuna Cultural, o número de detentos monitorados subiu de 357 (trezentos e cinquenta e sete) para 426 (quatrocentos e vinte e seis) em 8 (oito) meses. (MELO, 2018).

Sobre o funcionamento da tornozeleira no Sergipe, o assessor da Assessoria de Comunicação da Sejuc, Antonio Carlos Garcia (2018) explica:

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Quem autoriza a tornozeleira é a Justiça e a depender do caso ela delimita a circulação da pessoa. Por exemplo, diz que o condenado só tem autorização para circular no bairro em que mora. Se ele sair da área, quem está na Central de Monitoramento percebe porque emite um alerta.

O assessor Antonio Carlos Garcia (2018) ainda aborda que:

Se o condenado romper o lacre, o sistema vai saber e então a Sejuc vai entrar em contato com a pessoa para ter certeza do que ocorreu. Se realmente ela não responder, automaticamente é avisado ao juiz e essa pessoa é considerada fugitiva. O uso da tornozeleira é uma relação de confiança entre a pessoa que vai usar e o juiz que determinou. É um compromisso que a pessoa assume perante o juiz para que não fique na prisão.

No Estado do Tocantins, conforme a notícia pelo site G1, mais de 50% dos presos monitorados por tornozeleiras eletrônicas descumprem regras. Atualmente, o Estado tem 384 (trezentos e oitenta e quatro) presos monitorados, porém, no ano de 2017, pelo menos 115 (cento e quinze) detentos foram flagrados fora do perímetro permitido, descumprindo a determinação da Justiça. (G1 TO, 2017).

Um levantamento realizado pela Secretaria de Cidadania e Justiça do Tocantins, a pedido do site G1, mostrou que 99 (noventa e nove) tornozeleiras eletrônicas foram violadas em 2017, ou seja, dos 384 (trezentos e oitenta e quatro) presos monitorados, 214 (duzentos e quatorze) descumpriram as regras de alguma forma.

Em Alagoas, um levantamento feito pelo site G1, mostra que 813 (oitocentos e treze) presos são monitorados eletronicamente no Estado. Conforme o site, mais de 350 (trezentos e cinquenta) presos ainda aguardam tornozeleira eletrônica, e, o custo mensal de cada equipamento é de R$ 340,00 (trezentos e quarenta reais). (LINS, 2017).

No Amazonas, o custo das tornozeleiras eletrônicas para o Estado é de R$ 5 milhões por ano. De acordo com a Secretaria de Estado de Administração Penitenciária (SEAP), ao todo, 506 (quinhentos e seis) presos são monitorados pelo dispositivo. São dados da notícia publicada pelo site G1 do Amazonas. (SEVERIANO, 2017).

No Ceará, a tornozeleira eletrônica é usada em 1.100 (um mil e cem) presos que estão em regime aberto e semiaberto. O índice de reincidência dos presos no Estado é de 5%, mesmo monitorados, muitos detentos continuam a cometer crimes, conforme a notícia publicada pelo site G1 do Ceará. (G1 CE, 2016).

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Em Rondônia, segundo o site Tudo Rondonia (2013), as exigências básicas de descumprimento do monitoramento são:

Violação leve: Será considerada violação leve quando o sentenciado sair e retornar de seu itinerário regular sem autorização, por prazo inferior 10 minutos durante o dia e afastar-se do GPS por menos de 10 minutos, durante o dia. Violação média: Esta violação ocorrerá quando o preso sair e retornar de seu itinerário regular sem autorização, por prazo inferior a 10 minutos durante a noite e superior a 10 minutos durante o dia, permanecer com o equipamento em chamada perdida sem comunicar imediatamente a Unidade de Monitoramento, afastar-se por menos de 10 minutos em horário noturno, receber duas advertências por violações

leves e tentar romper a tornozeleira.

Violação Grave: Afasta-se do GPS por tempo superior a 10 minutos em qualquer horário, permanecer com o GPS desligado, sair e retornar de seu itinerário regular, sem autorização, por prazo superior a 10 minutos, durante a noite, romper o lacre e retirar a tornozeleira do corpo e receber duas advertências por violação média. O preso que incorrer nas violações graves deverá ser imediatamente recolhido e levado à penitenciária, suspendendo o monitoramento. (TUDO RONDÔNIA, 2013).

No Estado do Rio de Janeiro, a Superintendência de Inteligência da Sistema Prisional (SISPEN) é o órgão que fiscaliza o monitoramento eletrônico de presos, conforme afirma Souza (2014, p.147):

O monitoramento eletrônico é atualmente operacionalizado no Rio de Janeiro pela Superintendência de Inteligência do Sistema Prisional (SISPEN), órgão da Secretaria de Estado da Administração Penitenciária (SEAP). Em contato com o Superintendente Geral da SISPEN, Luiz Otávio Altmayer Odawara, recebemos a informação de que o monitoramento eletrônico vem sendo aplicado na prisão domiciliar e como medida cautelar.

Segundo levantamento realizado pelo site G1, o Estado do Rio de Janeiro possui 705 (setecentos e cinco) detentos monitorados, e o custo mensal de cada tornozeleira eletrônica é de R$ 252,19 (duzentos e cinquenta e dois reais e dezenove centavos). (MODZELESKI, 2017).

No Estado do Piauí, de acordo com dados da Unidade de Monitoramento Eletrônico da Secretaria Estadual da Justiça (SEJUS), 14% dos presos monitorados por tornozeleiras eletrônicas reincidem em crimes. Das 1.600 (um mil e seiscentas) pessoas monitoradas até hoje, destas, 207 (duzentos e sete) foram presas por descumprimento da medida cautelar ou por outros crimes, segundo a notícia veiculada pelo site Portal O Dia (2017).

No Estado do Espírito Santo, são 115 (cento e quinze) presos monitorados por tornozeleiras eletrônicas. Cada tornozeleira custa mensalmente R$ 210,00 (duzentos e dez reais) para o Estado, portanto, o dispositivo chega a custar R$ 289.000,00 (duzentos e oitenta e nove mil reais) por ano.

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Para a Defensora Pública do Núcleo de Presos Provisórios, da Defensoria Pública do Espírito Santo, Sattva Goltara (2017), “O custo da monitoração eletrônica é cerca de 10 vezes menor que o custo de um preso, e, com menos presos, é possível proporcionar um ambiente prisional em que se garanta melhor a dignidade dos que ali permanecerem", afirma a defensora para o site G1 do Espírito Santo. (VALFRÉ, 2017).

No Estado de Goiás, segundo o site G1, a empresa responsável em fornecer os equipamentos eletrônicos para o Estado, parou de repassar informações relativas aos 893 (oitocentos e noventa e três) presos monitorados. De acordo com a notícia do site G1, o Governo do Estado deve aproximadamente R$ 1 milhão desde o ano de 2016 para a empresa fornecedora, que suspendeu os seus serviços. (MARTINS, 2017).

O Estado do Maranhão inovou em seu sistema, e adotou um aplicativo para celulares que auxilia na localização de presos foragidos, e a monitorar quem cumpre pena de liberdade condicional, com ou sem uso da tornozeleira eletrônica. Conforme explica o secretário de Administração Penitenciária, Murilo Andrade (2017):

O aplicativo vai auxiliar os agentes da segurança pública durante suas abordagens do dia a dia. Ele conta com um banco de dados que inclui presos foragidos e os que estão em liberdade condicional, com o uso de tornozeleira eletrônica, por exemplo, que têm que cumprir limites geográficos estabelecidos e horários de retorno para suas casas.

Ainda, em notícia publicada pelo site do Governo do Maranhão (2017), o secretário finaliza, “Se uma dessas pessoas descumprir o estabelecido pelos órgãos de segurança e for identificado durante uma abordagem policial, poderá ser levado para uma delegacia mais próxima, onde as medidas necessárias serão tomadas”.

O Estado de São Paulo reincidiu o contrato com a empresa responsável pelo monitoramento de até 7.000 (sete mil) presos. Conforme notícia veiculada pelo site G1, a rescisão foi publicada no Diário Oficial do Estado após o governo constatar falhas nos aparelhos. (G1 SP, 2017).

Os problemas detectados foram: rompimento de lacre sem acionamento de alerta, mau funcionamento dentro de residências, dificuldade de conexão com operadoras, funcionamento intermitente, problema na bateria do equipamento, superaquecimento do aparelho e não entrega de todos os aparelhos previstos em contrato. (G1 SP, 2017).

Referências

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