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(1)FACULDADE DE EDUCAÇÃO E LETRAS Programa de Pós-Graduação Mestrado em Educação. EDUCAÇÃO E HISTÓRIA A Escola Estadual Maria Iracema Munhoz, em São Bernardo do Campo, desde 1890 a 1930.. ROSA DE FÁTIMA MORAES FRANSSATTO. São Bernardo do Campo 2007.

(2) UNIVERSIDADE METODISTA DE SÃO PAULO. EDUCAÇÃO E HISTÓRIA A Escola Estadual Maria Iracema Munhoz, em São Bernardo do Campo, desde 1890 a 1930.. Dissertação apresentada como exigência parcial ao Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade Metodista de São Paulo, sob a orientação do Prof. Dr. Joaquim Gonçalves Barbosa, para obtenção do título de Mestre em Educação.. São Bernardo do Campo 2007.

(3) FICHA CATALOGRÁFICA Franssatto, Rosa de Fátima Moraes Educação e História : a Escola Estadual Maria Iracema Munhoz, em São Bernardo do Campo, desde 1890 a 1930 / Rosa de Fátima Moraes Franssatto. São Bernardo do Campo, 2007. 96 p. Dissertação (Mestrado) - Universidade Metodista de São Paulo, Faculdade de Educação e Letras, Curso de Pós-Graduação em Educação. Orientação: Joaquim Gonçalves Barbosa 1. Escola Estadual Maria Iracema Munhoz - São Bernardo do Campo (SP) - 1890-1930 2. Educação - História 3. Educação - Brasil I. Título. CDD 379.

(4)

(5) ii. Dedico à memória de meu pai que, quando presente, tinha palavras de otimismo, ensinandome que na vida, mais importante do que os resultados obtidos são os caminhos percorridos para obtê-los. Pois é a caminhada, a vida enquanto processo em curso, que nos transforma fortalecendo nosso espírito..

(6) iii. Agradecimentos. A Deus que me agraciou com a conclusão desse curso. Especialmente ao Prof. Dr. Joaquim Gonçalves Barbosa, pelas discussões e por sua visão aguçada e crítica da História do Brasil, de São Bernardo e da Educação Brasileira e, principalmente pela paciência, tolerância e carinho nas orientações. Ao apoio do Prof. Dr. Décio Azevedo Marques de Saes que, com a sua cientificidade e seriedade profissional, enriqueceu o meu trabalho, fazendo considerações que foram de fundamental importância para esta pesquisa. À Profª Drª Heloisa Helena Pimenta Rocha pelas contribuições significativas na defesa final desta pesquisa. A todos os professores da UMESP pela eficiência na validação de conteúdos que serviram de instrumento à pesquisa, mas especialmente pela amizade e carinho que nos uniu nestes dois anos de intenso trabalho. À diretora, aos professores e às professoras da Escola Maria Iracema Munhoz que enfrentam hoje o desafio cotidiano de dar significado ao ofício de ensinar, fazendo com que “nossa escola” não perca o que conquistou durante mais de um século - a construção da liberdade e da cidadania do outro, como condição de sua própria liberdade. À supervisora Helenir, minha grande amiga, durona e amável, responsável pelos professores mestrandos da Diretoria de São Bernardo do Campo que, durante todo tempo nos cobrou relatório, avaliação e pagamento. Gostamos muito dela. Ao Governo do Estado de São Paulo pela Bolsa-Mestrado e por me ajudar a realizar um sonho de tantos anos. Ao meu marido muito querido, José Augusto, companheiro de todas as horas; que com sua paciência e ternura, acompanhou-me em muitos lugares, para que pudesse fazer essa pesquisa. Soube me perdoar por deixá-lo de lado, por muitas vezes, nestes dois anos de dedicação e trabalho, sem reclamar e, me apoiando acima de tudo com muito amor e carinho. Ao meu filho, Anderson, muito querido e amável, pela sua paciência. Ao chegar com fome do trabalho, pedia “faz o meu pratinho”, eu não podia largar o meu trabalho para servi-lo, ainda bem que seu pai (meu marido) o servia sem reclamar. Dedico-lhe acima de tudo meu afeto e amor. Pois, tenho certeza que torceu o tempo todo para que tudo desse certo..

(7) iv. À Pamela, minha filha, muito adorável, carinhosa, alegre e divertida. Invadia meu quarto, várias vezes, para me pedir algo. Concentrada, pedia a ela que não me atrapalhasse, pois, não poderia lhe dar atenção naquele exato momento. Hoje, peço-lhe desculpas. Assim que terminar, prometo que vamos passear juntas e nos divertir, para recuperar o tempo perdido. Dedico acima de tudo meu afeto e amor a todos vocês, à minha família adorável, que partilharam comigo todos os momentos e me apoiaram; devo-lhes muito carinho e muito amor. Sempre lhes serei grata. Às minhas amigas Lúcia, Judith, Graça, Marjô e Sílvia agradeço de coração pela espontaneidade e entusiasmo com que cederam seus preciosos minutos para me ajudar, colaborar com meus estudos e também me incentivar nos momentos difíceis. Elas foram de fundamental importância para atingir minhas metas. Ao grande amigo, André, que me ajudou quando o meu computador insistia em me deixar na mão, fazendo-o funcionar novamente.. Muito obrigada a todos!.

(8) v. “A vida não somente se vive, ela se relata, se conta o tempo todo:vivemos o relato, relatamos a vida” CARDOSO, Ciro Flamarion (2005, p. 67)..

(9) vi. FRANSSATTO, Rosa de Fátima Moraes - EDUCAÇÃO E HISTÓRIA - A Escola Estadual Maria Iracema Munhoz, em São Bernardo do Campo, desde 1890 a 1930. São Bernardo do Campo: UMESP, 2007, 96 p.. RESUMO. Esta dissertação focaliza a trajetória do surgimento da Escola Estadual Maria Iracema Munhoz, apresentando o seu percurso desde 1890 até 1930. Para isso foi necessário fazer uma retrospectiva da educação brasileira, lembrar como surgiu São Bernardo, município onde está localizada a escola e, o surgimento da educação na cidade. O objetivo de reflexão e de pesquisa da presente dissertação foi buscar entender, pela história do passado, os problemas do presente, reconstruindo os avanços e os insucessos no processo da escolarização e das políticas públicas educacionais assumidas nesse período. A hipótese apresentada é que, nosso atraso educativo não vem tanto do que deixamos de fazer nas últimas décadas, mas do que fizemos nos séculos anteriores, em se tratando da educação.. Palavras-chave: história, educação, escola..

(10) vii. FRANSSATTO, Rosa de Fátima Moraes - EDUCATION and HISTORY- The School Maria Iracema Munhoz, in São Bernardo de Campo, since 1890 until 1930. São Bernardo do Campo: UMESP, 2007, 96 p.. ABSTRACT. This dissertation focuses the trajectory of the sprouting of the “Escola Estadual Maria Iracema Munhoz”, presenting its passage since the 1890 until 1930. For this was necessary to make a retrospect of the brazilian education, to remember, as it appeared São Bernardo, city where the school is located and, the sprouting of the education in the city. The objective of reflection and research of the present dissertation was to search to understand, for the history of the past, the problems of the gift, reconstructing the advances and failures in the process of the instruction and the politics publish educational assumed in this period. The presented hypothesis is that, our educative delay in such a way does not come of that we leave to make in the last decades, but of that we made in the previous centuries, in if treating to the education.. Word-keys: history, education, school..

(11) viii. SUMÁRIO. DEDICATÓRIA............................................................................................................ii AGRADECIMENTOS..................................................................................................iii RESUMO....................................................................................................................vi ABSTRACT................................................................................................................vii SUMÁRIO.................................................................................................................viii LISTA DE ABREVIATURAS.......................................................................................ix LISTA DE ILUSTRAÇÕES..........................................................................................x. INTRODUÇÃO ......................................................................................................... 01 CAPÍTULO 1 – A ESCOLA NO SISTEMA EDUCATIVO ..........................................12 1.1 Os Personagens que Fazem Parte da História da Escola..........................12 1.2 Buscando as Raízes...................................................................................20 1.3 A Educação Feminina.................................................................................42. CAPÍTULO 2 - A ESCOLA E AS PESSOAS..............................................................52 2.1 Os alunos ................................................................................................. 59 2.2 Os professores ........................................................................................ 74 2.3 Conteúdos ............................................................................................... 78. CONSIDERAÇÕES FINAIS ..................................................................................... 82 BIBLIOGRAFIA ......................................................................................................... 88. ANEXOS ....................................................................................................................91.

(12) ix. LISTA DE ABREVIATURAS. UMESP – Universidade Metodista de São Paulo FIAT – Fábrica Italiana de Automóveis de Turim CENP – Coordenadoria de Estudos Normas Pedagógicas FDE – Fundação para o Desenvolvimento da Educação USP – Universidade de São Paulo PUC – Pontifícia Universidade Católica de São Paulo ABC – Santo André, São Bernardo e São Caetano LDB – Lei de Diretrizes e Bases (nº 9394/96) RFFSA – Rede Ferroviária Federal de Santo André ABE – Associação Brasileira de Educação CPP – Órgão do Centro do Professorado Paulista.

(13) x. LISTA DE ILUSTRAÇÕES. Figura 1: Maria Iracema Munhoz - (1892-1946)................................................... 17. Figura 2: Estação ferroviária de São Bernardo, atual Santo André, 1867............ 31. Figura 3 : 1890 – O casarão.................................................................................. 54. Figura 4: Grupo Escolar – 1930............................................................................. 56. Figura 5: Praça Lauro Gomes – 1954................................................................... 56. Figura 6: 1896 – Carteira dupla, madeira e ferro fundido....................................... 63. Figura 7: 1890 – Fachada do casarão com duas bandeiras................................... 66. Figura 8: 1930 – O casarão já atendido com energia elétrica................................. 66. Figura 9:1906 – Grupo Escolar de São Bernardo................................................. 67. Figura 10:1909 – Grupo Escolar - 3ª Escola Pública – Vila de São Bernardo........ 68. Figura 11: Grupo Escolar de São Bernardo – 1912 - Turma Masculina.................. 69 Figura 12: Grupo Escolar de São Bernardo – 1915 – Turma feminina.................... 70 Figura 13: Grupo Escolar de Villa São Bernardo – 1918......................................... 70 Figura 14: Grupo Escolar de São Bernardo – 1928................................................. 71 Figura 15: Grupo Escolar 1929 – Classe feminina.................................................. 72 Figura 16: 1930 – Professores do Grupo Escolar de São Bernardo........................ 72 Figura 17: Matéria sobre Maria Iracema Munhoz..................................................... 73 Figura 18: O prédio do Grupo Escolar em 1930........................................................ 81.

(14) 1. INTRODUÇÃO. Retomando minha caminhada como profissional na área da educação e, como mestranda da UMESP, marcaram-me dois momentos que considero importantes. Primeiramente minha busca constante por respostas para problemas da gestão participativa nas escolas públicas Estaduais da cidade de São Bernardo do Campo, a serem esclarecidos com equilíbrio, eficiência, competência e responsabilidade. Esse era o tema da minha primeira inquietação em que eu encontrava certa dificuldade para dominar técnicas de estudos que permitissem disciplinar de forma acadêmica o meu trabalho, garantindo assim a produtividade. Mesmo estudando, refletindo e lendo alguns livros que falavam sobre o assunto, parecia não conseguir chegar a lugar nenhum, ou seja, tais técnicas mecanicamente aplicadas não me levaram a resultados objetivos. Sendo a minha área de atuação acadêmica a matemática, buscava dentro da escola a racionalidade e a objetividade para tratar dessa metodologia e problematização. Como em um período da minha vida estive como supervisora na Rede Estadual, aproveitei a lição da interatividade para aprimorar minhas experiências fora do contexto curricular, ou seja, com uma visão de fora da escola. Percebi que é uma arte o lidar com as diferenças, agregando talentos, contribuindo para a multiplicação de valores. Assim, enquanto procurava respostas para as minhas inquietações, passou-se um ano e meio. Por razões de desligamento profissional da universidade por parte da professora que me orientava ocorreu uma troca brusca e inesperada no trabalho de orientação, encerrando assim, minha difícil caminhada na busca por respostas para a questão da gestão educacional que a princípio me incomodava. A partir dessa mudança passei a vivenciar novos processos que determinariam um novo rumo à minha dissertação. Por isso, algumas informações são importantes para se entender o contexto em que a mudança de rumo tornou-se evidente..

(15) 2. No início de 2005, a escola em que trabalhava – Escola Estadual Maria Iracema Munhoz, objeto de estudo desta dissertação, participei de um concurso patrocinado pela FIAT (indústria automobilística), organizado e avaliado pela Tesouros do Brasil, do qual participei como coordenadora de um dos dois grupos formados por alunos das 6ª séries do período vespertino inscritos para participar. Entre as coordenadoras do trabalho, empenhei-me na coleta do acervo que resgatasse a história da escola. Durante meses, depois de uma árdua busca na qual envolveram-se ex-diretores e ex-professores, pais de alunos e alunos, foi gratificante perceber como tantas pessoas não mediram esforços e, com verdadeiro espírito de cooperação e. de. competição,. descobriram. fatos, documentos,. fotos que. desvendaram um passado pioneiro de lutas, de conquistas, de valorização do espaço da escola como palco de formação e desenvolvimento da cultura de um município em construção. Nesse segundo momento, ou seja, o da mudança de orientador, senti-me segura. O professor Doutor Joaquim Gonçalves Barbosa mostrou-se uma pessoa experiente e muito especial, que com seu olhar sensível e multireferencial, percebeu o que mais se identificava com minhas atuais preocupações. Em curto período de tempo, pude iniciar minha dissertação na esperança de terminar no espaço e tempo determinado pela universidade. Confesso que tive muito medo, mas enfrentei mais esse desafio com esperança e garra. Contava ao orientador sobre a minha experiência profissional e não demorou para ele perceber que eu poderia escrever minha dissertação, tendo como objeto de estudo a escola em que trabalho, aproveitando tudo que havia estudado e vivenciado, associando a outras leituras complementares. Comecei com entusiasmo e bastante dedicação um trabalho do ponto de vista histórico, que serviu de contexto para o desenvolvimento do meu pensamento e da minha pesquisa. Quando no decorrer da seleção de material das leituras teóricas, da organização do projeto inicial, tive que reconsiderar e buscar uma nova temática que, para minha sorte, estava ali bem próxima, diante dos olhos, bastou um primeiro contato com o novo orientador, para que se evidenciasse que já encontráramos um novo direcionamento que, na realidade, já me era familiar. Assim a mudança temática que poderia ser conflitante, tornou-se um processo natural. Da constatação e da escolha dos teóricos sugeridos pelo meu novo orientador, à escritura da.

(16) 3. dissertação, infelizmente, restou-me um prazo menor para executar uma tarefa que exige dedicação e discernimento, levando-se em conta que além do mestrado, sou professora de matemática que assume uma dupla jornada. Não foi um trabalho fácil, porém foi gratificante, através de muito esforço suplementar e superação das carências oriundas da formação acadêmica. Faltava, sobretudo, o conhecimento contextual nas áreas específicas, nas áreas afins e em termos de uma cultura geral bem ampla, que são condições indispensáveis para o saber e o contar a importância que a escola Maria Iracema Munhoz teve e ainda tem na cidade de São Bernardo do Campo. Não medi esforços e agilizei a busca por conhecimentos necessários, agora com o apoio do professor Joaquim que, a cada dificuldade, ajudava-me nas diretrizes metodológicas e didáticas apresentadas. Assim, de maneira intencionalmente prática, visei sistematizar e organizar a minha vida de estudos direcionados a um trabalho científico, mediante uma preparação adequada para manipulação dos instrumentos pertinentes à proposta. Iniciei uma disciplina de estudos com uma meta e conquista diárias. Foi a partir do olhar da profissional professora, que sempre busquei exercer minha vocação com responsabilidade e entusiasmo, com a intenção de analisar a caminhada do já vivido e ora revisitado, procurando resgatar situações permeadas de reflexão, retirando delas as lições para que também os novos professores e pesquisadores possam nelas se espelhar e aprender. Para atingir uma finalidade objetiva para a atividade educacional, busquei o embasamento teórico - científico em autores que vêm norteando seus estudos na temática da história da educação e da escola, dentro do contexto social brasileiro. A opção pelo foco dessa dissertação ser a trajetória da educação brasileira, atrelada à história da escola, pareceu-me a única forma de expressar minha preocupação com a urgência de se construir coletivamente a escola com que sempre sonhamos, onde haja autonomia intelectual e política dos educadores, em que se valorize a diversidade e a criatividade dos alunos, e que esteja aberta a mudanças e que crie condições de capitalizar experiências. Durante minha atuação como professora, sempre considerei a necessidade de uma transformação constante, mas nem sempre fui vista com bons olhos pelos conservadores. Era comum ouvir comentários em reuniões pedagógicas, nas quais.

(17) 4. incentivava novos direcionamentos, a experiência de alternativas mais ousadas: “fica na sua, suas idéias são utópicas, caia na real”. Questionava-me nessas ocasiões, por que não havia espaço para aqueles que ousavam discordar da maioria? Cheguei mesmo a optar pelo silêncio, pois acabei acreditando que não valeria a pena continuar insistindo com apartes e sugestões supostamente inexeqüíveis, causando constrangimentos. Em vista disso, as idéias passaram a proliferar na minha mente, loucas para serem postas fora. Nestes quinze anos como professora da rede estadual de São Paulo, sempre me preocupei com minha formação. Por isso sempre estudei muito, participei e participo de cursos pedagógicos em todas as oportunidades que me são oferecidas, seja pelo ministério público ou por vias particulares. O que é levado em conta é se a experiência agregará valores e maior capacitação profissional em meu currículo. Tive a chance de vivenciar desde cedo o cotidiano em sala de aula, em um ambiente democrático, onde o professor tinha autonomia para tomar iniciativas, para escolher a metodologia mais eficaz para o aprendizado desejado. Ainda não havia completado minha formação acadêmica e meu pai já me iniciara na arte de lecionar Matemática para o Ensino Fundamental. Com o casamento, me afastei da docência. Quando meus filhos tornaram-se mais independentes, senti que era o momento de retornar aos estudos e à minha antiga ocupação. Terminei a licenciatura de Matemática, e voltei a participar de novos cursos de aperfeiçoamento que eram ministrados sob a coordenação da CENP, FDE, USP, PUC1 e outras entidades ligadas ao Estado. Reconheço hoje que esses cursos foram essenciais à minha formação e à minha postura atual, considerando sempre as mudanças trazidas pela modernidade. Dessa forma ingressei no Programa de Mestrado em Políticas da Educação na Universidade Metodista. Depois deste breve relato, remeto-me às fundamentações desta pesquisa. A Escola Estadual Maria Iracema Munhoz e sua história, de início justificam a preocupação em recuperar e dar vida a ela; para tanto, convém retratá-la como um microcosmo, na sua integração à cidade em que está situada, daí partindo para um universo mais global, o que significa inseri-la no Estado e também no país e no 1. CENP - Coordenadoria de Estudos e Normas Pedagógicas FDE – Fundação para o Desenvolvimento da Educação USP - Universidade de São Paulo PUC – Pontifícia Universidade Católica.

(18) 5. mundo. Ao analisar uma instituição educacional, acompanhando o fluir dos acontecimentos em ordem ascendente, numa prospecção horizontal e linear, pretendeu-se traçar um paralelo, a partir dela, para um universo globalizante, que aproxime a escola pesquisada a tantas outras escolas particulares ou às demais escolas públicas brasileiras. Contar a história da Escola pública ou particular pode não ser tarefa fácil, pois, várias lacunas são encontradas por falta de registros; isso mostra como é importante assinalar cada movimento e momento de um povo, a sua história, preservando assim, sua memória, ao mesmo tempo em que a constitui de forma natural e a diferencie pela sua particularidade e natureza. Fazer um breve resumo da sua existência, a partir da primeira ata, traçando um paralelo entre o extra-oficial e o oficial, é importante para localizá-la no tempo. A partir daí, as idéias e as lógicas vão se encaixando e afirmando a sua existência, principalmente através das fotos que mostram a escola. Fotos de famílias de imigrantes e migrantes, da Europa e de outros Estados do Brasil, ajudam na reescritura da história tornando-a mais rica e concretizando a sua realidade. Uma nova historiografia educacional propõe-se a (re) historicizar o objeto “escola”, particularizando os dispositivos constituintes desse modelo ou forma escolares, compreendendo a escola como instituição da modernidade. A proposta básica delineada neste estudo é investigar, problematizar e analisar a primeira escola de São Bernardo do Campo, Escola Estadual Iracema Munhoz, tendo como ponto de partida o acervo documental da educação desde a colonização até o ano de 1930. Este procedimento serviu para interligar o nascimento da educação em São Bernardo do Campo. O olhar sensível à compreensão do significado sociopolítico e pedagógico foi o que permitiu traçar esse percurso, ao levantar as fontes e conseqüentemente, sua discussão, classificação e preservação. Convém salientar que a escola se diferencia de outras instituições porque ultrapassa limites, já que é uma produção universal, não se restringindo às necessidades que se revelam no seu cotidiano. Isso tudo é possível quando se acredita e se implementa uma administração e supervisão que se apóiem na interação e comunicação efetiva e bilateral entre a.

(19) 6. equipe escolar e comunidade. A transmissão dessas experiências e conhecimentos por meio da educação e da cultura que ela mesma construiu, permitirá que as novas gerações não voltem ao ponto de partida que a precedeu. Este processo depende da produção e da integração pelas quais os alunos vão se desenvolvendo dentro da escola, alterando aquilo que é necessário para a sua sobrevivência com dignidade. As velhas necessidades adquirem características diferentes, até mesmo as necessidades consideradas básicas. Refletir sobre as mudanças ocorridas na pessoa seja qual for a sua raça ou cor é fundamental para a escola, haja vista que, seus hábitos e necessidades são hoje muito diferentes dos seus antecessores. Alterações não podem se limitar à transformação de velhas necessidades, mas deve-se criar novas necessidades que passem a ser tão fundamentais quanto as chamadas necessidades básicas de sua sobrevivência. Espera-se que desde a implantação das primeiras escolas, desde a sua identificação como um espaço privilegiado de formação e de exercício da cidadania, construa-se o conhecimento, criem-se instrumentos e mecanismos para sua elaboração e desenvolvimento do planejamento, a formulação das idéias que desenvolvam o conhecimento, as crenças, os valores, para que se possa vivenciar a cultura para a paz dentro desse espaço, isto é, um lugar de aprendizado e de participação, seja para os alunos, seja para toda a comunidade. Ter uma história para contar é representar uma trajetória vivida pelos protagonistas dessa escola. É o relato de uma prática, da reflexão sobre ela e a sua organização escolar desde sua origem, em um processo da produção humana, buscando a fidelidade ao contar a verdadeira história da escola. Por mais particulares ou corriqueiros que sejam os acontecimentos vividos nessa escola, ela deve ter um historiador, um contador de história. Nesse contexto, procurou-se responder, a partir de um estudo empírico, a um dos questionamentos deste estudo: Qual a contribuição da perspectiva histórica para compreensão da escola e seu cotidiano nos dias atuais? O direcionamento foi no sentido de comprovar que foi preciso conhecer o percurso histórico da escola, para reconhecer suas limitações, sua acomodação diante dos desafios e das mudanças..

(20) 7. A hipótese apresentada era a de que a principal razão do nosso atraso, hoje, é o começo tardio do esforço sério de desenvolver a nossa educação. Isto significa que nosso atraso educativo não vem tanto do que deixamos de fazer nas últimas décadas, mas do que fizemos nos séculos anteriores. Com base nesses pressupostos, outros questionamentos se evidenciaram: Que lições esse olhar lançado ao passado poderá nos trazer, ao revisitarmos a escola primária não somente como uma organização administrativa pedagógica, mas como uma entidade viva e dinâmica, portadora de significado cultural próprio? Que experiência adveio da compreensão de como os grupos escolares sobreviveram, na memória positiva, pujante, mesmo com suas imperfeições? Na busca de tais objetivos, considerou-se relevante trazer para a discussão as concepções de uma docente com larga experiência na área de pesquisa em História da Educação, Rosa Fátima de Souza, mestre em Educação pela Universidade Estadual de Campinas, Unicamp, Doutora em Educação pela Universidade Autônoma de Barcelona, Espanha. Outros autores, não menos importantes e decisivos para o direcionamento do presente trabalho de pesquisa também foram mencionados como Maria Luiza Marcílio, pesquisadora sênior do Instituto Braudel Mundial, professora titular do departamento de História da Universidade de São Paulo, doutora pela Ecole dês Hautes Éudes em Sciences Sociales, Univesité de Paris; Raymundo Faoro, jurista, sociólogo, cientista político e, historiador, considerado meticuloso pesquisador da história do Brasil e de Portugal; Dermeval Saviani, Professor emérito da UNICAMP, pesquisador do CNPq e coordenador geral do Grupo Nacional de Estudos e Pesquisas “História, Sociedade e Educação no Brasil” (HISTEDBR). E ainda, Wanderley dos Santos, pesquisador da história regional, sócio-titular do Instituto Histórico e Geográfico de São Paulo e do Instituto Geográfico Brasileiro, presidente da Associação Regional de Pesquisa e Preservação do Acervo Municipal de Franca; Attilio Pessotti, ex-aluno da Escola Estadual Iracema Maria Munhoz,. atualmente escritor; Barbosa e Melges. contribuíram para a reescritura da história da Escola Estadual Maria Iracema Munhoz. Cardoso (2005) e Lombardi (2004) foram decisivos para a compreensão da necessidade e importância da historicização. Na medida do possível, foram alavancadas as implicações socioculturais referentes às mudanças nas práticas pedagógicas na Escola Estadual Iracema.

(21) 8. Munhoz e, paralelamente nas escolas paulistas de 1890 a 1930, dentro de um contexto espaço-temporal social mais abrangente. Na perspectiva deste olhar, que sofre a ação do tempo, pretendeu-se contar a história da Escola Estadual Maria Iracema Munhoz, considerando-se necessário conhecer o contexto histórico e socioeconômico do nosso país, partindo do ano de 1890, enredando os fatos com a história da educação, para mais adiante nos focarmos no estado de São Paulo e, mais especificamente, no município de São Bernardo do Campo, região onde está situada. Iniciou-se com o advento da República, ainda que sob a égide dos estados federados, quando a escola pública, fez-se presente na história da educação brasileira. Época também da reforma da instrução pública paulista, implementada entre 1890 e 1896, pioneira na organização do ensino primário na forma de grupos escolares, que não se consolidou, mas tornou-se referência para os demais estados ao longo da Primeira República. Os Grupos Escolares eram um símbolo do Estado Republicano que se organizava, representavam a idéia de modernidade através da mudança na concepção e organização da escola. Nessa época já começava a surgir uma pequena elite de educadores. Terminando em 1930, época dos sobressaltos advindos do governo Getúlio Vargas, evidenciando que a Revolução de 30 teve como conseqüência imediata uma inflexão na questão da laicidade, como apontam Saviani et al (2004), ao mesmo tempo em que direcionava a educação como uma questão nacional. Portanto, o objetivo de reflexão e de pesquisa da presente dissertação foi buscar entender, pela história do passado, os problemas do presente, reconstruindo os avanços e os insucessos no processo da escolarização e das políticas públicas educacionais assumidas no período que vai de 1890 a 1930, em meio a mudanças socioeconômicas e culturais vivenciadas nos contextos do Brasil e da cidade de São Paulo, partindo para o município de São Bernardo do Campo até a Escola Estadual Iracema Maria Munhoz. Delimitado o ponto de partida desta pesquisa, procurou-se explicitar ao leitor os caminhos percorridos no desenvolvimento de um trabalho que se vincula à temática da construção das memórias e da história local, nas articulações com a história da educação, e conseqüentemente a história da escola em questão..

(22) 9. O desenvolvimento ou subdesenvolvimento que caracterizam os países são resultados da história de cada um deles desde a sua formação. O modo, pois, como cada sociedade organizou sua vida econômica, política, social e cultural levou-a a ser desenvolvida ou subdesenvolvida. A escola primária foirevisada através do olhar da docente, envolvida objetiva sentimentalmente, pois hoje faz parte da História real. Por meio de personagens como Alferes Bonilha, proprietário do casarão onde foi fundada a Escola Estadual Iracema Munhoz; Padre Lustosa, educador, e a própria Iracema Munhoz, patrona da escola, traçou-se o retrato narrativo da instituição escolar. Esses personagens não são apenas os dirigentes da educação, mas educadores diretamente envolvidos no cotidiano da escola. Souza (1998) em seu livro Templos de Civilização: A Implantação da escola Primária Graduada no Estado de São Paulo (1890-1910) põe em foco as práticas e os dispositivos de (re)invenção da escola que resultaram na institucionalização dos Grupos Escolares em São Paulo. Embora a utilização da documentação escrita tenha sido preponderante na realização da dissertação, outras fontes foram necessárias, especialmente os relatos orais. Os autores se inserem dentro de um projeto de renovação da História da Educação. A forma pela qual uma sociedade lembra uma determinada experiência é sempre uma edição de idéias e imagens. Entre os documentos analisados encontram-se periódicos da época do Império e das primeiras décadas da República, os arquivos públicos do Estado, referências de outros estudos e outras fontes. As imagens iconográficas, especialmente as fotografias ajudaram na compreensão do passado, podendo-se aprofundar a leitura interrogando sobre quem as fotografou e por quais motivos, sobre os personagens aqui apresentados, ex-alunos da escola, e enfim, sobre as mudanças em relação aos diversos tempos históricos. Ao mesmo tempo em que podem “refletir” o real, essas imagens trazem uma riqueza de significados que vão além da questão da referência. De maneira intencionalmente prática, procurou-se sistematizar e organizar os estudos direcionados a um trabalho científico, mediante uma preparação adequada para manipulação dos instrumentos pertinentes à proposta, além da fundamentação.

(23) 10. teórica de autores que vêm norteando seus estudos na temática da história da educação e da escola, dentro do contexto social brasileiro. Há que se perceber as modificações que os anos acrescentaram à escola e o quanto de história está ali depositado. Ressaltou-se, então, um outro questionamento: Se era tão representativa a participação da população imigrante, em que medida o sistema público atendia a população nacional? Será que os estrangeiros valorizavam mais a formação cultural? Souza apud Azevedo (1987) assim se refere ao fato:. Ao se valorizar o imigrante como o tipo ideal de trabalhador e cidadão capaz de contribuir para a elevação moral e social da nação brasileira, construiu-se em torno do trabalhador nacional, especialmente o negro, representações que o apontam como incapaz e portador de todos os vícios. (p. 110). Foi assim que se solidificaram práticas racistas veladas, implícitas e até mesmo explícitas, que de vez em quando são denunciadas. Entretanto, um fato não pode deixar de ser mencionado: a falta de documentação onde se apresentam dados do negro no acesso à escola. Marcílio (2005) em entrevista à Revista Nova Escola esclarece que, com suas pesquisas, constatou que a escravidão e o descaso dos governantes foram dois grandes empecilhos para o desenvolvimento da educação brasileira, apontando que como nossa economia era agrária e a elite da época tinha mão-de-obra gratuita que não exigia qualificação, para que montar um sistema de ensino bem estruturado? E nosso colonizador era medíocre em termos de educação. Segundo Souza (1998), depois da abolição, muitos negros permaneceram nas fazendas e outros se dirigiram para as cidades onde as ofertas de emprego reduziam-se a locais de maior insalubridade e em serviços de baixa remuneração. Algumas figuras aqui apresentadas mostram a integração de mestiços negros, imigrantes na escola de São Bernardo do Campo. Tal fato nem sempre era conferido nas escolas paulistas. Souza (1998) denuncia que a diversidade dos grupos sociais atendidos nas escolas era de certa forma, seletiva e voltado a alguns setores mais bem integrados na sociedade urbana, mantendo excluídos os trabalhadores subalternos, os negros, os pobres, os miseráveis..

(24) 11. Esta dissertação teve, portanto, o objetivo de seguir as pegadas do ensino primário, desde o final do século XIX ao início do século XX, evidenciando a relação entre memória que ficou dos grupos escolares e a identidade visual das escolas. Promoveu o encontro entre o arquivo, o rigor da análise e as recordações difusas de muitos envolvidos. Com essa preocupação e refletindo sobre a pesquisa documental, na análise da vida cotidiana, constatou a dificuldade enfrentada pelo pesquisador, ao circunscrever suas investigações às fontes tradicionalmente utilizadas. A Escola Estadual Maria Iracema Munhoz está localizada atualmente na Praça Lauro Gomes, Rua Marechal Rondon, 100, Bairro Centro na cidade de São Bernardo do Campo. Antes de apresentar cada capítulo, faz-se necessário enfatizar que a história e memória se afiguram enquanto norteadores da pesquisa e, neste sentido, procurou-se resgatar os fatos importantes por ordem cronológica, destacando os mais significativos, citando as pessoas que deles participaram objetivando assim, uma melhor compreensão dos mesmos. O capítulo I traz os personagens que fizeram a história da Escola Estadual Maria Iracema Munhoz, as discórdias entre o Alferes Bonilha e o Padre Lustosa e o engajamento e dedicação da professora Maria Iracema Munhoz. Aborda ainda, a busca das raízes retrocedendo a história, localizando o período em questão (1890 a 1930), a economia e poder do país, o município de São Bernardo e, o aparecimento dos grupos escolares em 1890. O capítulo II analisa como era a educação feminina neste período. Dedicado à escola, retrata o surgimento do primeiro Grupo Escolar em São Bernardo do Campo, descrevendo os professores, as leis que os comandavam, os alunos, e os conteúdos..

(25) 12. CAPÍTULO I A ESCOLA NO SISTEMA EDUCATIVO. 1.1 Os personagens que fazem parte da história da escola. Neste capítulo apresentam-se os personagens que foram essenciais para o aparecimento da Escola em São Bernardo do Campo. Como diz Nóvoa (1998) apud Lombardi (2004, p. 27) a história dos atores educativos traz as pessoas para o retrato narrativo da instituição escolar. A história no Município, do Estado e da Nação foi uma divisão de poderes nas mãos dos grandes proprietários de terra e a igreja. Como representante dessas duas vertentes de um lado surge Alferes Bonilha que tinha a função de juiz, inspetor de ensino, grande proprietário de terras, e tesoureiro do dinheiro da igreja. Do outro lado Padre Lustosa, coadjutor e professor. Não se pode deixar de mencionar a professora Maria Iracema Munhoz, professora de família ilustre, da qual, por interesse político, a Escola recebeu o seu nome. Assim, Santos (1992) aponta Francisco Martins Bonilha, o Alferes Bonilha, como a presença mais constante desde antes da criação da freguesia de São Bernardo e até o início da década que trouxe a imigração européia à região. Em São Bernardo, é nome de rua central, paralela ao trecho da Marechal Deodoro, e do pico mais alto, no Montanhão, divisa com Santo André: Pico do Bonilha. Nascido em Porto Feliz, interior de São Paulo, em 1782, já no início de 1812 seu nome aparece como testemunha de um casamento realizado na Capela de São Bernardo. Santos (1992) diz que: "a memória oral preservou o nome Bonilha principalmente pelo seu lado patriarcal e senhor de escravos” (p.237). Uma figura perversa, segundo os muitos depoimentos, que castigava os escravos e os punia barbaramente. Vários depoimentos, apontam uma antiga escrava, Nhá Eva, que vivia de favores nas primeiras décadas deste século e que sempre invocava a Deus como ser supremo que puniria a Bonilha devidamente. Claro, a documentação.

(26) 13. disponível não traça esse perfil do velho alferes, mas deixa claro que ele foi uma das figuras mais poderosas do século XIX em toda a região.. Como fonte histórica, o depoimento oral possibilita, quando colocado ao lado de fontes tradicionais, acrescentar a elas, outras representações ou mesmo versões diferenciadas construídas acerca de uma determinada prática social ou de um acontecimento. Além disso, permite trazer à tona, debates e divergências travados (ou obscurecidos) entre atores de determinados grupos sociais e profissionais. O depoimento oral é, ao mesmo tempo, fonte de investigação para o pesquisador e ‘lócus’ de reflexão para este e para o próprio depoente, cuja narrativa traduz-se por um processo de reconstrução do passado sob a ótica do presente... (Fernandes,. 2000, p.160-1). Em 1814 foi inspetor da Estrada de Santos e, ainda nesse mesmo ano, colaborou com o Tenente-Coronel Engenheiro Daniel Pedro Muller na demarcação da área onde foi estabelecido o centro de São Bernardo, imediações do Largo da Matriz. Bonilha foi o 1º Juiz de Paz2 de São Bernardo, ocupando, entre 1828 e 1860, por diversas vezes essa função. Foi também Subdelegado de Polícia, Deputado Provincial e Inspetor de Ensino na Freguesia. De acordo com Médici (2004) no dia 02 de fevereiro de 1846, Dom Pedro II e Imperatriz Tereza Cristina passam pela Freguesia de São Bernardo, vencendo a Estrada da Maioridade, e são acolhidos pelo Alferes Bonilha em sua casa. Bonilha casou-se tarde, aos 52 anos de idade, com Escolástica Jacinta Branca, viúva. Dedicava-se ao plantio de café, milho e feijão e possuía quatro agregados e 60 escravos. Possuía um casarão, por ele construído, no centro da Vila de São Bernardo, no velho Caminho do Mar, hoje rua Marechal Deodoro, esquina com a rua Tenente Sales, no espaço ocupado pela praça Lauro Gomes. Esse casarão abrigou vários viajantes ilustres, inclusive o Imperador D. Pedro II e a Imperatriz Dona Teresa Cristina, quando estiveram em visita a São Bernardo. 2. O Juiz de Paz era eleito como o são os vereadores e tinha atribuição policial e judiciária..

(27) 14. em 1846. Recebeu do Imperador na, ocasião, a nomeação "Cavaleiro da Ordem de Cristo". De acordo com Leme (1904) em 17 de janeiro de 1864, Francisco Martins Bonilha, voltando ao cargo de inspetor, envia uma carta ao Vigário Geral de São Paulo Joaquim Manuel Gonçalves Andrade. Ele exercia a função de fabriqueiro, ou seja, era ele quem tomava conta do dinheiro da igreja e sua função o incumbia de relatar às autoridades eclesiásticas de São Paulo sobre as atividades da Paróquia. O conteúdo dessa carta era uma reclamação:. Tenho o desprazer de participar a V.Sª que o frontispício (frente) da Igreja matriz desta freguesia ameaça ruína, o que parece resultado do vício de construção por ser de muro a cima das janelas do coro e daí para cima de pedra. Mandei examinar por um pedreiro o qual assegurou que a parede desce, e tem mais de 4 dedos de inclinação para fora, como se vê das fendas que apresenta. Não há meio de segurar com pés direito, porque não há ponto de apoio, em que ele possa firmar na parece, nem meios de consertar por causa dos materiais heterogêneos empregados na construção. Este mal necessita de prontos remédios a demora pode ser fatal e o desabamento pode comprometer algumas vidas e parte do corpo do edifício. Aguardo, pois as ordens de V.sª a respeito, prevenindo desde já, que a demolição pode se fazer logo, mas a reconstrução não pela humildade da estação e, falta de matérias. Carta extraída de documento original, encontrada nas pastas de São Bernardo Cúria Metropolitana de São Paulo, Bairro Ipiranga.. Apesar das divergências com o Padre Lustosa, foi o maior benfeitor da igreja onde esteve à frente de obras, da organização de festas etc... E, trabalhou para a reconstrução da Capelinha de Nossa Senhora da Boa Viagem, nos anos 40 do século dezenove. Alferes Bonilha faleceu em São Paulo, em 10 de maio de 1871 e suas terras foram adquiridas pelo governo para a implantação de linhas coloniais. (Santos, 1992)..

(28) 15. O velho casarão de taipa funcionou, posteriormente, como Hospedaria dos imigrantes, Intendência, Câmara Municipal, Cadeia, Correio, Seção Eleitoral e Grupo Escolar. Foi demolido em meados dos anos 50 desse século. Tomas Inocêncio Lustosa, o Padre Lustosa, foi outro personagem que fez parte da história da escola, educador, nasceu em 11 de outubro de 1802, nasceu natural de São Paulo, filho de Benta Maria do Espírito Santo, também natural dessa cidade, neto paterno de pais incógnitos e maternos de Joana Antunes. Ela era natural do país da África, e de avó incógnita. É comum encontrar documentos (cartas) originais escritos pelo Príncipe Regente de Portugal ao padre Lustosa. Tem vocação ao Estado Sacerdotal. Logo depois de receber as ordens de presbiterado, assumiu a Paróquia, em 1828, como coadjutor, passando a vigário colado em 1863. Ainda hoje a rua ao lado da Igreja matriz tem seu nome. Em 23 de abril de 1830, o padre Tomás Inocêncio Lustosa é aprovado em todas as matérias e considerado apto a ocupar a cadeira da escola criada na comunidade são bernardense, conforme a lei de 15 de outubro de 1827, que foi estabelecida a partir das discussões realizadas no Conselho da Presidência da Província, na sessão de 3 de novembro de 1825. Foi o único professor a responder ao. edital. para. ocupar. a. cadeira. na. escola. criada. na. Freguesia,. que. coincidentemente marca a comemoração do Dia do Professor. Além de exercer o cargo de juiz de paz, foi responsável pela construção do templo que serviu de matriz até meados da década de 1940-50 e depois foi derrubado para dar lugar à atual matriz. A confirmação da posse do professor foi feita pelo marquês de Caravellas, em 11 de junho 1830, com salário anual de duzentos mil réis. As aulas começaram em março de 1830 e em 1832, contava já com trinta alunos matriculados. Santos (1992) cita que Bonilha enviou para o Estado, em 1842, um relatório opondo-se ao trabalho de Lustosa, contendo as seguintes informações:. Transmito a V.Sa. a relação inclusa do professor de primeiras letras desta Freguesia, a qual não satisfaz os quesitos exigidos em seu ofício. Pois que faltando a filiação dos alunos não se pode ajuizar se.

(29) 16. eles são reais ou quiméricos. Na minha informação do ano próximo passado já disse o que entendia sobre este professor, e sobre o estado de sua aula, ordinariamente freqüentada por três ou quatro meninos. E por isso me refiro à dita informação, restando-me somente acrescentar que esta Freguesia pouco ou nada perderia com a extinção desta escola. (p. 202). Confirmando tal declaração, ainda tem-se a informação de que a escola de São Bernardo contava na época com 16 alunos, mas não passavam de 6 os que freqüentavam regularmente, o que se atribui “em parte à inabilidade do mestre e parte à pobreza dos moradores.” (Marcilio, 2005, p.60) A população da época era muito pobre e não havia escolas públicas e nem particulares para meninas; os pais sentiam dificuldades para mandar seus filhos para a escola, desculpando-se pelas faltas de seus filhos. Nota-se nas observações acerca dos depoimentos referentes ao professor Lustosa, a sua preocupação com os alunos que moravam longe devido ao tempo de permanência dos alunos na escola e preocupado com os que moravam longe, costumava dispensá-los mais cedo, durante o inverno. O professor continua, justificando que o material impresso usado em aulas é adquirido às suas custas e teria pedido para vir do Rio de Janeiro, para os alunos utilizarem. Justifica que não poderia ensinar a Gramática Nacional para os seus alunos porque seus pais os tirariam da escola, já que mal sabiam escrever ou fazer contas. Também mostra sua preocupação com o ensino regional. O que fariam eles com a Gramática Nacional, se falavam uma linguagem popular, coloquial? Tinham aulas de catecismo e de correção física e moral. A sala de aula é na sua própria casa, mas se justifica por não morar nela, por não estar acabada, mas que era suficiente para os alunos. Apesar das críticas, Lustosa permaneceu no exercício das Primeiras Letras durante 33 anos. Seu desempenho, como vimos, recebeu críticas, mas também elogios. Das críticas, as do Inspetor de Ensino, o poderoso Francisco Martins Bonilha em 1842 julgou o ensino “a desejar”, deixando relatórios “ácidos” sobre o aproveitamento dos alunos, chegando mesmo a sugerir a extinção da única escola de SBC..

(30) 17. Finalmente, o padre Lustosa lecionou por mais 10 anos até 7 de outubro de 1863, alcançando a aposentadoria. Ele suspendeu as aulas e ficou aguardando o novo professor que chegou para ocupar o seu posto em 2 de julho de 1864. A escola pública era destinada para os meninos, mas o padre Lustosa sempre incluía meninas na sua turma. Faleceu em 1892. Os dados da biografia foram retirados da seção 1 de 1822, processo de habilitação de genere e moribus Tomas Inocêncio Lustosa – Estante 2 gaveta 64 - nº 1297 da Cúria Metropolitana de São Paulo. Outro personagem importante na história de São Bernardo do Campo, que mereceu destaque e representa o mote deste estudo, foi Maria Iracema Munhoz, a figura central que deu sua denominação à instituição escolar em questão. Mas, quem foi Maria Iracema Munhoz? Se a pergunta for dirigida a antigos moradores de São Bernardo, poucos terão a resposta.. Figura 1 : Maria Iracema Munhoz - (1892-1946). Fonte: Acervo da EE. Maria Iracema Munhoz. A figura mostra uma professora séria, despida de qualquer adorno, sem nenhuma maquiagem, e é assim que ela aparece em quase todas as fotos e que,.

(31) 18. está na entrada da escola até hoje. Os professores da época se vestiam assim para impor respeito aos alunos. Na verdade, atualmente a cidade desconhece maiores detalhes acerca da vida desta professora e muitos arriscam dizer que ela nunca lecionou na região. A própria escola tem poucos dados sobre a biografia de Maria Iracema Munhoz. Não sabemos muito sobre sua pessoa, mas ficou conhecida, apesar do pouco tempo em São Bernardo, como pessoa enérgica, bondosa e justa, amante das artes como a pintura e a música. A escola reconhece que a biografia de Maria Iracema Munhoz precisa ser enriquecida. Mas foi com muito esforço que restaurou a foto da patrona, em preto e branco. Sempre que há exposição pode-se ver a foto da antiga professora. Estes e outros materiais, a professora pesquisadora de história Lúcia Cristóvão Melges, que lecionou na EE. Iracema Maria Munhoz por 19 anos, recolheu na década de 80 e enriqueceu a memória da primeira escola da cidade, um trabalho que envolveu toda a comunidade e os próprios alunos e que recebeu o apoio da biblioteca pública Monteiro Lobato, através da sala de Pesquisa e Estudos da História Local. Foram muitas conversas a este respeito, mantidas pela diretora da época Maria Aparecida Moraes com a responsável pela sala, Doraci Spochiato e a socióloga Arlete Ferani Cruz. De acordo com a matéria publicada pelo Jornal dos Professores-CPP (Órgão do Centro do Professorado Paulista) Nº 227 - ano XXIII - fevereiro de 1988, Iracema Munhoz nasceu em Santos aos 17 de agosto de 1892 e faleceu em São Paulo a 7 de janeiro de 1946. Pertencente à tradicional família paulistana Munhoz, fez-se professora pela Escola Caetano de Campos, sendo nomeada como professora. Maria Iracema Munhoz formou-se em 1916, com distinção, pela tradicional Escola Normal da “Praça", ao tempo da direção do inesquecível, Dr. Oscar Thompson. A sua carreira no magistério público teve início em 1917 com sua nomeação para a 2a Escola Urbana da "Vila de São Bernardo". Passou dois anos, 1917 e 1918, lecionando em São Bernardo, viajando de trem. A cidade não era ainda agitada como é hoje, berço de importantes indústrias, altos edifícios e belas propriedades, a atestar a sua prosperidade econômica e a sua grandeza. Não passava então de.

(32) 19. uma pequena e modesta "vila", situada a vários quilômetros da estação de São Paulo Railway, hoje Estrada de Ferro Santos-Jundiaí, o que obrigava as professoras a penosas caminhadas diárias, ao sol e à chuva, por estradas precaríssimas, bem diferentes das modernas rodovias de concreto e asfalto. Após concurso de provas, no qual foi classificada em primeiro lugar, com distinção, passou para a Capital, como adjunta dos Grupos Escolares "D. Pedro II", e "Consolação" hoje "São Paulo", e Escola Modelo "Caetano de Campos" respectivamente. Maria Iracema Munhoz foi sempre a educadora cônscia de sua bela e patriótica missão. Militando no ensino público por quase três décadas, mais da metade desse espaço de tempo na Escola Modelo "Caetano de Campos", foi igualmente elemento preponderante do ensino privado, enviando anualmente através do seu curso de preparatórios "Santa Rita", brilhantes turmas de admissão às escolas normais, ginásios e escolas de comércio, turmas essas que se destacaram sempre, quer moral quer intelectualmente. Católica fervorosa, fez parte do pugilo de professoras que na Escola "Caetano de Campos", sob orientação do saudoso D. Castão Liberal Pinto, então vigário de Santa Ifigênia, iniciou o ensino religioso nas escolas públicas do Estado. Aliou sempre ao seu sacerdócio pedagógico uma intensa dedicação de verdadeira ação católica. Escritora didática deixou vários trabalhos esparsos e uma coleção de magníficos cadernos de cartografia. Seu nome foi escolhido para denominar a escola que substituiria o antigo Grupo Escolar de São Bernardo, então demolido em 1953. Foi indicado por sua contemporânea: a professora Milena Calderazzo, sua colega e amiga, que conseguiu assim homenageá-la. Assim, pois, o ato do Exmo. Sr. Governador do Estado, dando o nome de Maria Iracema Munhoz ao então Grupo Escolar em São Bernardo do Campo, não representa apenas uma homenagem a quem dedicou o melhor de sua vida ao magistério público, dando de si os mais belos exemplos de capacidade de trabalho e de amor ao Brasil, mas constitui-se também em um ato de público de reconhecimento ao trabalho anônimo, porém bendito, do mestre-escola paulista..

(33) 20. Antônio D' Ávila incluiu, na Galeria dos Patronos de Escolas, Maria Iracema Munhoz pelo Decreto nº 20.457. de 26 de abril de 1951. Lucas Nogueira Garcez, Governador do Estado de São Paulo, usando de suas atribuições: Artigo 1º - “O Grupo Escolar de Vila Santa Adelaide, de Bernardo do Campo, passa a denominar-se “Maria Iracema Munhoz “. 2º - Este Decreto entrará em vigor na data de sua publicação.. 1.2 Buscando as Raízes. Não é que atribuamos à instrução elementar a propriedade mágica de eliminar diretamente a imoralidade de cada espírito, de onde elimine a ignorância. Mas, além de que nada tende mais a inspirar o sentimento da ordem, o amor do bem e a submissão às amargas necessidades da vida, do que a noção clara das leis naturais que regem o universo e a sociedade, acresce que o ensino desentranha, em cada um dos indivíduos cuja inteligência desenvolve, forças de produção, elementos de riqueza, energias morais e aptidões práticas de invenção e a aplicação, que o revestem de meios para a luta da existência, o endurecem contra as dificuldades, e lhe preparam probabilidades mais seguras contra a má fortuna. O homem cheio de precisões e destituído de recursos vai já a meio caminho do mal; e os delitos mais comuns são menos vezes fruto de predisposições perversas do que a ausência dessa confiança robusta no trabalho, que só a consciência do merecimento, adquirida pela educação, sabe inspirar entre as provações de cada dia. (Rui Barbosa extraído de Souza,1998, p. 26). A nossa história da educação tem primado por focalizar a escola seja sob a lente da legislação e organização escolar, seja sob a lente das demandas de escolarização da sociedade brasileira, seja sob a perspectiva do pensamento pedagógico ou do ideário. As maiores alterações, com o passar do tempo, ocorreram na esfera políticoadministrativa e na educação. Antes de focalizar o período estudado é necessário que se faça uma retrospectiva resumida da história do país, do município e da educação de nosso país..

(34) 21. Na educação, através do alvará de 28 de junho de 1759, ao mesmo tempo em que suprimia as escolas jesuíticas de Portugal e de todas as colônias, Pombal criava as aulas régias de Latim, Grego e Retórica. Criou também a Diretoria de Estudos que só passou a funcionar após o afastamento de Pombal. Cada aula régia era autônoma e isolada, com professor único e uma não se articulava com as outras. O que se observa, entretanto, é o abandono em que ficou relegada a colônia, no campo educacional, após a saída dos jesuítas. A partir daí começaram a surgir a instrução pública, de uma forma muito precária. O ensino torna-se cada vez mais distante da realidade brasileira, passam a estudar apenas os que querem se tornar padres, militares ou os que querem bacharelar-se em Coimbra, formando-se doutores em Direito ou em Medicina. Na ausência das ordens religiosas, sobretudo a dos jesuítas, a situação do ensino em todo o Brasil tornou-se inteiramente caótica. Nenhuma instituição foi capaz de manter e ampliar ou de substituir o sistema educacional implantado pelos jesuítas. O conhecimento e a boa formação intelectual abrigaram-se em alguns poucos conventos e seminários mantidos pela Igreja, representando uma exceção no cenário educacional brasileiro. Entre eles, podemos citar os seminários Nossa Senhora da Lapa, São José e São Joaquim, no Rio; o Episcopal e o de Caraça, em Minas Gerais; o Episcopal e o dos Órfãos, na Bahia; o de Olinda, em Pernambuco; o de Belém, no Pará e os Seminários de Itu, de Santana e de Nossa Senhora da Glória, em São Paulo. A educação era centrada nos estudos literários, com ausência quase completa das ciências, das atividades técnicas e artísticas e, destinava-se somente aos senhores de engenho e donos de terra, grupo do qual também se excluíam as mulheres e os primogênitos, a quem era reservada a função de dirigir os negócios da família. Os colégios dos padres não difundiam cultura humanística, e sim, cultura formal. A educação era literária, abstrata, além de dogmática, afastada dos interesses materiais, utilitários e, conduzida com o padrão da Europa. Eram.

(35) 22. excluídos do ensino além das mulheres, os negros, cujos filhos nunca despertaram o interesse dos padres, e também, os curumins. A educação era mais para a classe dirigente como ornamento e erudição. Dáse o incidente conhecido como “questão dos moços pardos” que queriam também aprender e eram discriminados. Nesse período a atividade econômica ficou restrita à subsistência e à locação de pastagens para as tropas. As duas fazendas dos beneditinos, São Bernardo e São Caetano, tinham uma atividade mais regular: a primeira produzia gêneros alimentícios e na segunda fabricavam-se tijolos e artefatos de cerâmica. Essas fazendas ficaram sob a propriedade dos beneditinos até 1870, quando foram compradas pelo Estado para a criação de colônias de imigrantes. Antes disso, porém, ao redor da fazenda São Bernardo foi se criando um pequeno núcleo urbano, que mais tarde iria garantir a criação do município de São Bernardo. As donatárias fracassaram como plano político, sendo a última desfeita em 1759.. Segundo Faoro (2004) no aspecto econômico e financeiro a conquista. prometia muito, mas, houve malogro administrativo. Martim Afonso de Souza, donatário de São Vicente, pouco se interessou pelos seus domínios. Dois núcleos prosperaram, Pernambuco e São Vicente. Pernambuco, cujo donatário era Duarte Coelho, conseguiu fixar outro pólo de desenvolvimento, com o cultivo de algodão, cana e mantimentos. Esse empreendimento visava a melhoria do transporte de produtos agrícolas do interior para o Porto de Santos, em especial o café, que começava a ser produzido em larga escala na Província de São Paulo. Tal situação começou a atrair indústrias que se aproveitavam das facilidades de transporte, da disponibilidade de áreas próximas à linha férrea e ao rio, além dos incentivos fiscais apresentados pelo município. Diante do fracasso do sistema de capitanias, a metrópole procurou recorrer à centralização do poder, criando-se o governo-geral para centralizar a administração, pois os interesses dos donatários chocavam-se com os interesses do estado português. Conforme Faoro (2004) com a transferência da Corte Portuguesa em 1808 para o Brasil, é consolidado o estamento burocrático3. Uma estrutura administrativa 3. Grupo de membros cuja elevação se calca na desigualdade social..

(36) 23. obsoleta e inoperante vai ser mantida com a Independência. Assim o autor retrata: “[...] uma ordem metropolitana, reorganizada no estamento de aristocratas improvisados, servidores nomeados e conselheiros escolhidos, se superporia a um mundo desconhecido, calado, distante” (p. 229). Na verdade não se conseguiu implantar um sistema educacional nas terras brasileiras, mas a vinda da Família Real permitiu uma nova ruptura com a situação anterior. Para preparar terreno para sua estadia no Brasil, D. João VI abriu Academias Militares, Escolas de Direito e Medicina, a Biblioteca Real, o Jardim Botânico e, sua iniciativa mais marcante em termos de mudança, a Imprensa Régia. Segundo alguns autores, o Brasil foi finalmente "descoberto" e a nossa História passou a ter uma complexidade maior. O resultado do governo de Pombal foi que, no princípio do século XIX, a educação brasileira estava reduzida a praticamente nada. Persistia o panorama do analfabetismo e do ensino precário. A educação estava à deriva. Durante o longo período do Brasil-Colônia, aumenta o fosso entre os letrados e a maioria da população analfabeta. De acordo com Marcílio (2005) os primeiros cursos superiores foram criados também após a vinda da Família real para o Brasil, nas primeiras décadas do século XIX. No que se refere à fé, em São Bernardo, segundo Médici (2000), a Paróquia de São Bernardo foi a primeira de São Paulo confiada aos Missionários de São Carlos. Foi criada no dia 21 de outubro de 1812, quando desmembrou-se da freguesia da Sé. A Paróquia, durante 99 anos, até 1911, abrangeu quase todo o espaço do território que hoje forma o grande ABC, a exceção foi São Caetano, núcleo ligado à Paróquia do Brás e, a partir de 1900, visitada por scalabrinianos que residiam no Ipiranga. De acordo com Santos (1992) o bairro de São Bernardo, que até 1812 integrava a freguesia da Sé, requeria seu desmembramento: seus moradores reivindicavam maior autonomia, pois já possuíam autoridades como policiais das Ordenanças e inspetor da estrada, mas faltava a figura do pároco para que fosse criada uma Freguesia correspondente a esse bairro disperso. Isso ocorreu através.

(37) 24. do alvará do príncipe regente de 21 de outubro de 1812, registrado no livro Tombo nº. 1 da Catedral de São Paulo. Como a capela de São Bernardo da fazenda dos beneditinos era particular, e pertencia à Ordem, os monges cederam ao vigário da nova paróquia um terreno distante da sede da fazenda para que ali fosse construída nova matriz com outro orago. Com isto houve a mudança do nome da paróquia para Nossa Senhora da Conceição da Boa Viagem. Em 1813, o governo adquiriu terras de um certo Sr. Manoel Rodrigues de Barros para criação do novo povoado e edificação do novo templo. Havia naquela época, na freguesia, 1.423 habitantes e 218 habitações, mas ainda não havia sido construída a igreja. Apesar das tentativas do Pe. José Basílio, somente em agosto de 1814 é enviado à freguesia o Tenente Coronel Engenheiro da Corte, Pedro Muller. Ele constatou que tanto a capela estava sem condições, como o local era impróprio para fundar um povoado. Escolheram um local mais aprazível, distante dali por uns 600 pés, cortado pela estrada geral, atual Avenida Marechal Deodoro. Em 1814, também a sede e as primeiras ruas da recém-criada Freguesia de São Bernardo foram instaladas às margens do Caminho do Mar, que foi retificado no trecho que deu origem à Rua Marechal Deodoro, onde foi edificada a Igreja Matriz. Possivelmente o início da construção tenha ocorrido entre 1815 e 1818. Presume-se que sua conclusão só tenha ocorrido por volta de 1848. Segundo Lima (1971) em 1820 o povo português mostra-se descontente com a demora do retorno da Família Real e iniciou-se a Revolução Constitucionalista, na cidade do Porto. Isto apressa a volta de D. João VI a Portugal em 1821. Em 1822, a 7 de setembro, seu filho D. Pedro I declara a Independência do Brasil e, inspirada na Constituição francesa, de cunho liberal, em 1824 é outorgada a primeira Constituição Brasileira. O Art. 179 desta Lei Magna prevê "instrução primária e gratuita para todos os cidadãos". A Independência não extinguiu o regime colonial, que apenas se modernizou. Permaneceu o divórcio entre o Estado monumental, aparatoso, pesado e a nação, informe, indefinida, inquieta. Com respeito ao Segundo Reinado, Faoro (2004) relata: “A reação centralizadora e monárquica, conservadora e oligárquica, trilhou o.

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