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Direito humano de acesso à água pelos palestinos: o problema hídrico no conflito árabe-israelense

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Academic year: 2021

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DIREITO HUMANO DE ACESSO À ÁGUA PELOS PALESTINOS:

O PROBLEMA HÍDRICO NO CONFLITO ÁRABE-ISRAELENSE

Dissertação submetida ao Curso de Pós-Graduação

stricto sensu, Programa de Mestrado em Direito,

área de concentração em Direito e Relações Internacionais da Universidade Federal de Santa Catarina, para a obtenção do Grau de Mestre em Direito.

Orientadora: Prof.a Dr.a Cristiane Derani

Florianópolis-SC 2018

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: O PROBLEMA HÍDRICO NO CONFLITO ÁRABE-ISRAELENSE / Gilberto Luciano Dos Santos ; orientador, Cristiane Derani, 2018.

270 p.

Dissertação (mestrado) - Universidade Federal de Santa Catarina, Centro de Ciências Jurídicas, Programa de Pós-Graduação em Direito, Florianópolis, 2018.

Inclui referências.

1. Direito. 2. Oriente Médio. 3. Conflito Árabe Israelense. 4. Problema hídrico. I. Derani, Cristiane. II. Universidade Federal de Santa

Catarina. Programa de Pós-Graduação em Direito. III. Título.

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Este trabalho é dedicado a todos aqueles que, de uma forma ou de outra, são vítimas da opressão e da injustiça.

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A vida de um indivíduo é uma constante construção, e por ela passa muita gente. Nesta caminhada de pesquisa e análise do tema abordado para esta dissertação, várias pessoas deixaram sua contribuição. Tentar apontar todos os nomes seria um grande risco, visto que cada pessoa que por aqui passou teria de ser devidamente homenageada por sua contribuição. Sou plenamente consciente de que este trabalho é fruto não apenas de um esforço pessoal, mas resultado da soma de contribuições deixadas por muitos amigos, colegas e familiares. A todos vocês o eterno agradecimento de uma pessoa que não sabe caminhar sozinha e sabe reconhecer o bem que lhe fazem.

De todas as formas, expresso meus sinceros agradecimentos a minha orientadora, doutora Cristiane Derani, pelo acompanhamento acadêmico sem o qual eu não teria chegado à conclusão e ao resultado deste trabalho.

Não poderia deixar de citar o saudoso professor, doutor e Reitor da Universidade Federal de Santa Catarina, Luiz Carlos Cancellier de Olivo, um homem que me orientou não apenas como acadêmico, mas também como pessoa, contribuindo significativamente com meu amadurecimento diante da problemática árabe-israelense. Nossas conversas, nossos debates e seus incentivos permanecem em minha memória.

Destaco aqui as palavras do professor doutor Samuel da Silva Mattos em memória do professor Cancellier:

São dez e meia de uma manhã ainda enlutada, setenta e duas horas após a ocorrência de uma tragédia anunciada que ceifou a vida de um amigo. Tudo ocorreu em frações de segundos a vinte metros de onde escrevo. Reflexões que se seguem. Uma tragédia anunciada, o desdobramento do estado policialesco e de exceção aí alongando seus tentáculos. Um estado acima da Constituição, desrespeitando os princípios maiores da presunção de inocência, do contraditório e da ampla defesa, pressupostos constitucionais para a instauração do devido processo legal, no âmbito judicial ou administrativo. O que dizer

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Direito? O que dizer do Reitor, que algemadas suas mãos e tornozelos acorrentando seus pés, colocado por detrás das grades, e despido de suas roupas e vestido com trajes de presidiário? Do Reitor que, nu, foi submetido à revista íntima e sem a menor complacência submetido aos vexames do encarceramento sem nada lhe perguntarem, encarcerado e sem processo? O que dizer do Reitor que, corpo em fragmentos, rumou para a eternidade? O que dizer do Reitor que partiu sem suas vestes de Reitor, o cadáver despedaçado que os familiares enlutados não puderam vesti-lo? O que dizer da morte brutal e prematura do Reitor, em início de seu mandato e reconhecido pela prática da conciliação, que fitava horizontes sem jamais deixar de morar as possibilidades da pacificação, lições que buscava cotidianamente na conexão que ordenava seu espírito na construção de uma sociedade justa, livre e solidária? Descansa em paz meu amigo! Descansa em paz enquanto sentimos que teu espírito permanece entre nós, teus amigos, aqui e em muitos lugares, e, entre aqueles que espedaçaram teu corpo, também estarás presente no tribunal implacável de suas consciências. Teu legado segue comigo, segue conosco; segue, também pragmática ou difusamente nos caminhos de nossa tão atormentada democracia e desta república com seus princípios nucleares nunca dantes tão menosprezados. Em tempos assim tão estranhos nos ensinas que há outros mundos possíveis. Que teu sacrifício seja causa eficiente para a construção de um mundo melhor, de vida digna para todos, sementes para refundação de um Estado

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Direito, e de Justiça!”1

Ao querido e formidável professor Cancellier, dedico minha eterna gratidão. Descanse em paz!

1 MATTOS, Samuel da Silva. Estado de Exceção: da república romana ao

limiar do século XXI – aspectos destacados. In: BALTHAZAR, Ubaldo Cesar. MOTA, Sergio Ricardo Ferreira. PILATI, José Isaac (Org.). Direito, Políticas

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Não deve considerar-se válido algum tratado de paz que tenha sido celebrado com a reserva secreta sobre alguma causa de guerra no futuro.

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O conflito árabe-israelense no Oriente Médio iniciou quando a Organização das Nações Unidas (ONU) declarou a intenção de criar um Lar Judeu na Palestina. A partir desse evento, surgiram várias reivindicações de direitos tanto do lado judaico quanto árabe, as quais resultaram em sucessivas guerras até os dias atuais. Este trabalho analisa o conflito sob o enfoque hídrico − uma questão que exerce muita influência na vida cotidiana desses dois povos, em especial nos processos de paz, por meio das legislações internacionais a respeito do direito humano de acesso à água, confrontando-as com as leis israelenses com o objetivo de verificar se estas estão de acordo com os tratados internacionais e se tutelam os direitos dos árabes de usufruírem água em quantidade e qualidade adequadas a sua sobrevivência.

Palavras-chave: Conflito Árabe-Israelense. Problemas hídricos. Direitos

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The Arab-Israeli conflict is a dispute taking place in the Middle East. It started when the United Nations declared its intention to create a Jewish Home in Palestine. From this event began to arise several claims of rights both from the Jewish side, as well as from the Arabic, resulting in successive wars. Various reasons are pointed out as the cause of wars between Arabs and Jews, be they religious, cultural or territorial reasons. This work analyzes the hydric approach, as it is one of the factors that exerts much influence in the dispute between these two peoples, as well as in all peace processes between Jews and Palestinians. This dissertation analyses the international legislation on the human right of access to water and verifies whether Israeli laws are in accordance with international treaties and whether they protect the Arabs' right to enjoy water in adequate quantities and of adequate quality.

Keywords: Arab-Israeli conflict. Hydric problems. Human rights. Middle East.

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Figura 1: Mapa do Oriente Médio ... 77

Figura 2: Mapa da divisão territorial da Palestina ... 79

Figura 3: Mapa dos rios Banias e Hasbani ... 85

Figura 4: Estreito de Tirã ... 90

Figura 5: Frentes de confrontos na Guerra dos Seis Dias ... 91

Figura 6: Mapa dos territórios ocupados no pós-guerra ... 99

Figura 7: Mapa dos aquíferos de Israel ... 104

Figura 8: Principais rios da Palestina ... 105

Figura 9: Mapa do Mar da Galileia ... 107

Figura 10: Mapa de localização do Mar Morto ... 108

Figura 11: Yitzhak Rabin, Yasser Arafat e Bill Clinton, assinam

o Acordo de Oslo ... 125

Figura 12: Zonas dos Acordos de Oslo ... 131

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INTRODUÇÃO ... 23

1 A ÁGUA E SUAS IMPLICAÇÕES ... 30

1.2 A SUBSTÂNCIA ÁGUA ... 30

1.3 O USO DA ÁGUA ... 37

1.4 A ESCASSEZ DE ÁGUA ... 42

1.5 O DIREITO HUMANO À ÁGUA ... 48

1.5.1 Pacto Internacional dos Direitos Econômicos, Sociais e Culturais... 56

1.5.1.1 Comentário Geral n. 15 ... 60

1.5.1.2 Relatório do Relator Especial El Hadji Guissé ... 62

1.5.2 O Direito Humano de Acesso à Água para a ONU ... 69

2 A GUERRA PELA ÁGUA ... 75

2.1 ESCASSEZ HÍDRICA ... 75

2.2 A GUERRA DOS SEIS DIAS ... 83

2.3 RESOLUÇÕES DA ONU REFERENTES À GUERRA DOS SEIS DIAS 94 2.4 CONTROLE HÍDRICO PÓS-GUERRA ... 99

2.4.1 Aquíferos ... 103

2.4.2 Rios ... 105

2.4.3 Rio Jordão ... 106

2.4.4 Mar da Galileia ... 106

2.4.5 Mar Morto ... 107

2.5 REFLEXOS HÍDRICOS NA ECONOMIA ... 108

3 O SISTEMA JURÍDICO ISRAELENSE E OS DIREITOS HUMANOS DOS PALESTINOS DE ACESSO À ÁGUA... 120

3.1 LEGISLAÇÃO INTERNACIONAL ... 120

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3.1.3 Quarta Convenção de Genebra ... 123 3.1.4 Os Acordos de Oslo ... 125

3.2 REGIMENTO INTERNO ISRAELENSE ... 135

3.2.1 Lei da Água ... 135 3.2.2 Ordens militares ... 137 3.2.3 Comitê Conjunto da Água ... 138 3.2.4 Autoridade Palestiniana da Água ... 142

3.3 DIREITOS HUMANOS DOS PALESTINOS DE ACESSO À ÁGUA...144 3.3.1 Assentamentos ... 153 3.3.2 Muro da separação... 155 3.3.3 Faixa de Gaza ... 159 3.4 NEGOCIAÇÕES HÍDRICAS ... 163 CONCLUSÃO ... REFERÊNCIAS ... ANEXO A − Resolução da Assembleia Geral da ONU... ANEXO B – Declaração Universal dos Direitos Humanos...

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INTRODUÇÃO

A água é uma substância inerente à vida e sem ela nem homem, nem animais, nem plantas poderiam subsistir. Apesar de sua importância, os homens ainda não lhe dão o devido valor, ou seja, além de não a utilizarem de forma adequada, poluem rios e suas nascentes, ignorando os efeitos que esta conjectura produz no presente ou como afetará a todos no futuro.

Todas as civilizações do mundo dependeram desse recurso para seu desenvolvimento social, cultural, agrícola ou industrial. As antigas civilizações se desenvolveram à margem das águas. No Oriente Médio, o povo da Mesopotâmia se desenvolveu ao redor dos rios Tigre e Eufrates. Os antigos hebreus fixaram seu habitat nas terras que correm o rio Jordão. Os egípcios, por sua vez, construíram seu império à beira do rio Nilo, considerando esta fonte natural como presente dos Deuses.

Aponta-se que aproximadamente 70% do planeta terra esteja coberto de água, dos quais o maior volume é composto de água salgada e apenas uma porção de 2,5% consiste em água doce. Sabe-se que esse recurso natural doce provém de rios, poços, lagos, açudes, represas e que a maior quantidade está em aquíferos subterrâneos. Diante dessa realidade, constata-se que a quantidade de água que os seres vivos dispõem para consumo é mínima.

O que se observa é que os padrões de vida das sociedades vêm se modificando a cada dia. Essas mudanças estão exigindo mais quantidade de água, colocando em risco o uso sustentável dos recursos hídricos, bem como sua quantidade e qualidade. As nações têm empreendido esforços para o avanço de suas economias, o que não ocorrerá sem volumosas quantidades de água. Para se ter uma ideia da dimensão desse avanço, bem como o que é requerido para sua subsistência, destaca-se que a peça motriz do setor agrícola é a água, e que esta seara utiliza aproximadamente 70% da água doce disponível. Também a falta de tecnologia nesse domínio produz consideráveis desperdícios de água potável, causa impactos negativos sobre a vegetação e as matas ciliares, deixa o solo e os rios desprotegidos e gera poluição das águas, por exemplo, pela presença de agrotóxicos. Destaca-se

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ainda que as pastagens e o abastecimento para o gado demandam igualmente muita água disponível.

Nesse cenário de desperdício e escassez, a indústria também tem sido apontada como responsável pela má utilização da água, substância essencial para a manufatura da produção industrial, fazendo-se presente no processamento, na lavagem e no arrefecimento de maquinários. Ou seja, grandes grupos industriais como alimentício, de substâncias químicas e de refinação de petróleo, entre outros, consomem grande quantidade de água. Outro fenômeno que tem impactado a questão hídrica é o aquecimento global, que transtorna o clima e, consequentemente, afeta a natureza e gera a escassez do aludido recurso natural. Entende-se que diante do quadro de falta de água em que vive a sociedade moderna, são necessárias uma mudança de comportamento e uma tomada de consciência sobre sua utilização, caso contrário a humanidade estará colocando em risco sua própria subsistência. Pode-se afirmar que, se a forma de encarar os recursos hídricos não mudar, essa substância natural se tornará mais valiosa do que o próprio petróleo.

Outro quadro que demanda tomada de consciência e decisão diz respeito a nem todas as pessoas terem acesso adequado à água. Já em 2002, a Organização Mundial da Saúde (OMS) e o Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF) alertavam que o fornecimento de 20 litros diários por pessoa seria considerado adequado desde que as instalações dessa substância estivessem a menos de um quilometro da moradia do indivíduo. Levando esse registro em consideração, é certo afirmar que ter acesso à água é um direito de todos, um direito inerente à dignidade da pessoa humana, portanto, um direito humano.

O constitucionalismo moderno tutela os direitos de terceira geração, que são aqueles de solidariedade, também chamados de fraternidade, como o direito ao meio ambiente equilibrado, o direito a um nível de qualidade de vida saudável, o direito à autodeterminação dos povos, o direito ao progresso, à paz, entre outros diversos direitos difusos. Uma vez que esses direitos considerados essenciais à humanidade são positivados nas

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constituições dos Estados, passam à categoria de direitos fundamentais.

A forma de entender o direito de acesso à água vem evoluindo com o passar dos tempos. Há décadas não havia nada explícito nos documentos e tratados internacionais que dispusesse de forma explícita que esse recurso natural é um bem e direito de todos. No entanto, nas últimas décadas, começou a surgir uma preocupação com esse tema, e iniciativas foram empreendidas para que a água fosse encarada com a devida atenção como a Conferência de Mar del Plata, realizada na Argentina no ano de 1977, considerada o primeiro movimento multilateral abrangendo a aludida temática; e a Década Internacional da Água Potável e Saneamento, lançada em 1981 pela Organização das Nações Unidas (ONU).

Muitos outros eventos ganharam destaque na comunidade internacional a partir dessas importantes iniciativas, entre elas destacam-se: o Terceiro Fórum Mundial da Água, realizado no Japão, em 2003; o Ano Internacional da Água Doce; a Conferência Internacional sobre a Água e o Meio Ambiente, realizada na Irlanda, em 1992; a Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e o Desenvolvimento, em 1992; o Segundo Fórum Mundial da Água de Haia, realizado no ano de 2000; e a Conferência Internacional sobre a Água Doce de Bonn, na Alemanha, em 2001.

Como desdobramento desses movimentos, vários documentos passaram a ser produzidos para tratar da questão hídrica de forma mais explícita, como o Comentário Geral n. 15; o Direito à água, em 2002; o Relatório do Relator Especial El Hadji Guissé, de realização da Subcomissão de Promoção e Proteção dos Direitos Humanos, em 2004; o Relatório do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos sobre o alcance e o conteúdo das obrigações pertinentes em matéria de direitos humanos relacionadas com o acesso equitativo à água potável e o saneamento, em 2004.

Apesar de sua importância, esses documentos permaneceram na esfera de recomendações, não dispondo de capacidade jurídica para converter esse recurso natural à categoria

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de direito humano. Fato que veio a ocorrer somente 28 de julho de 2010, quando a Assembleia Geral da ONU, por meio da Resolução A/RES/64/292, aprovada pelo voto de 122 nações, reconheceu o acesso à água de qualidade e a instalações sanitárias como direito humano essencial ao desfrute de uma vida digna.

Baseando-se no exposto, esta dissertação analisa a questão hídrica no âmbito do conflito árabe-israelense, disputa entre árabes e judeus que foi tomando forma a partir de 1880, data em que judeus europeus começaram a emigrar para a Palestina devido às perseguições na Europa. Nesse mesmo período, surge o movimento sionista que idealizou a autodeterminação do povo judeu, fundamentando que, se os judeus tivessem um Estado, este deveria ser na Palestina, por questões históricas e religiosas. A chegada dos primeiros imigrantes judeus na Palestina, em um primeiro momento, não resultou conflitos com os habitantes locais, pois estes não interpretavam os novos habitantes como ameaça.

Quando da Segunda Guerra Mundial, os judeus se encontravam espalhados pelo mundo e não tinham uma nação propriamente dita, contudo, conforme a Alemanha ia avançando nessa guerra, aplicava uma política de perseguição e extermínio dos judeus que culminou no holocausto de Hitler. A estimativa é que cerca de 6 milhões de judeus tenham morrido vítimas da perseguição nazista.

Em 1948, anos depois do término da Segunda Guerra Mundial, a Assembleia Geral da ONU votou a Resolução 181, que partilhou a Palestina em dois Estados, um judeu e outro árabe, e converteu Jerusalém em uma cidade internacional. O documento dispunha que 57% do território formaria o Estado judeu, enquanto os restantes 43%, o Estado árabe. Estes não aceitaram a partilha da ONU, iniciando a Primeira Guerra Árabe-Israelense naquele mesmo ano. Essa guerra resultou em vitória judaica não somente na esfera bélica mas também na seara territorial, haja vista ter aumentado a extensão do território judeu para 73%.

Em 1967, ocorreu a Guerra dos Seis Dias, conflito entre Israel e as nações árabes Egito, Síria e Jordânia que resultou mais uma vez em vitória israelense, consequentemente em novo aumento territorial do Estado judeu, que passou a dominar a

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península do Sinai, a Cisjordânia, as Colinas do Golã e a Faixa de Gaza. A última guerra árabe-israelense foi em 1973, a denominada Guerra do Yom Kipour (Dia do Perdão). Desde 1967, Estados Unidos, Rússia e outras nações têm realizado iniciativas que visam solucionar o conflito nessa região e promover uma paz duradoura entre árabes e judeus. Esses esforços convergiram para, em 1993, serem assinados os Acordos de Oslo, na Noruega, uma iniciativa bilateral entre os implicados que resultou no reconhecimento da existência do Estado de Israel, por parte dos palestinos, e a criação da Autoridade Nacional Palestina, um poder interino, embrião de um futuro governo para o Estado árabe.

A partir dessas informações, este trabalho centra-se em analisar o domínio israelense nos territórios ocupados e de que forma isso repercute na vida da população árabe da Cisjordânia e da Faixa de Gaza, principalmente no que tange aos direitos humanos desse povo.

Utiliza-se como fundamentação teórica para abordar a água como um direito humano a Carta dos Direitos Humanos da ONU e relatórios desta organização internacional como o Comentário Geral 15, o Relatório do Relator Especial El Hadji Guissé e a Resolução A/RES/64/292. A fundamentação histórica sobre a Palestina foi construída a partir de textos de Ilan Papper, Rolf Reichert e Dan Smith.

Sobre a problemática entre árabes e judeus no Oriente Médio, estabeleceu-se como objetivo principal desta pesquisa verificar a questão hídrica no conflito árabe-israelense, ou seja, observar se o regime jurídico israelense aplicado à Cisjordânia e à Faixa de Gaza ajusta-se aos direitos humanos e ao direito humanitário vigentes no Direito Internacional e se tem sido um instrumento de tutela e garantia ao direito humano de acesso à água pelos palestinos. Especificamente, pretende-se explicar o direito humano à água potável essencial à vida e ao desenvolvimento do gênero humano a partir de documentos jurídicos da ONU; discutir o regime jurídico israelense, bem como sua atuação militar nos territórios ocupados; e verificar se as ordens militares do Estado de Israel impostas aos palestinos são limitadoras do acesso à água.

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Esta pesquisa se justifica pela importância da problemática da água como bem em disputa pelos povos árabes e judeus no Oriente Médio. Esse litígio se transformou em um obstáculo ao estabelecimento da paz naquele território, bem como possível limitador ao acesso a uma quantidade mínima e adequada de água potável pelos palestinos, sendo necessária uma verificação do regime jurídico excepcional aplicado por Israel à aludida região no que tange a tais limitações.

É fato que a disputa por água no Oriente Médio constitui uma ameaça à paz naquela região, sendo também necessário investir em uma análise da regulamentação civil e militar vigente na Cisjordânia e na Faixa de Gaza, tendo em vista que árabes e judeus são regidos por diferentes leis que têm não apenas gerado discriminação entre os dois povos mas violado frontalmente tratados da ONU, como a Convenção Internacional Sobre a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação Racial. Um estudo da situação hídrica na Palestina pode produzir soluções razoáveis e proporcionais ao estabelecimento da paz na região.

Na seara metodológica, sublinha-se que, entre os diversos direitos humanos existentes, optou-se por delimitar a pesquisa ao tema do direito ao acesso à água na Palestina. O método de abordagem utilizado nesta pesquisa foi o indutivo, que toma como específico a problemática judaico-palestina para substanciar uma questão mais ampla que é o conflito árabe-israelense, entendendo-se que ela é resultado de obentendendo-servações de casos concretos, ou entendendo-seja, consiste na verificação de uma situação real que envolve a população palestina nos territórios ocupados por Israel.

O meio técnico utilizado nesta investigação foi o monográfico. Entretanto, é de suma importância destacar que, em se tratando do conflito na Palestina, o método Histórico se intercala ao monográfico em vários momentos, bem como o observacional não permanece inativo no todo, pela complexidade do tema em evidência. Além disso, a dissertação foi elaborada a partir de investigação em documentação indireta.

A estrutura do trabalho consta de uma parte introdutória, três capítulos e conclusão. No Capítulo 1, aborda-se a água tal como sua constituição molecular, usos e escassez. Discute-se o

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direito humano de acesso à água, apresentando uma breve evolução da temática, que abrange desde encontros internacionais até a confecção de documentos para a normatização da questão em pauta. No Capítulo 2, apresenta-se a água como uma substância que se converte em arma e objeto de guerra. Analisa-se a Guerra dos Seis Dias, que mudou a geopolítica da Palestina. Esta observação é realizada a partir da perspectiva hídrica, demonstrando que a disputa entre palestinos e judeus tem seu fator principal no acesso à água. Descreve-se como ficaram moldados a divisão e o domínio dos recursos naturais depois da Guerra da Água e como isso repercutiu na economia palestina e judaica. No Capítulo 3, verifica-se se o regime jurídico israelense aplicado à Cisjordânia e à Faixa de Gaza está de acordo com as normas internacionais, principalmente no que tange ao direito humano de acesso à água e ao direito humanitário. Aborda-se os óbices à tutela e às garantias desses direitos, dando-se ênfase à presença militar judaica, aos assentamentos judaicos e ao muro de separação na aludida região. Por fim, depois de levantar todas essas questões envolvendo a água no conflito árabe-israelense, em conclusão, sublinha-se a necessidade de uma cooperação conjunta da comunidade internacional para a resolução da problemática judaico-palestina, bem como de medidas de coibição para as violações do direito internacional, principalmente referentes ao direito humano de acesso à água na Palestina.

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1 A ÁGUA E SUAS IMPLICAÇÕES

Nesta primeira parte do estudo, será abordado o tema “água”, começando por sua descrição científica, sua composição. Posteriormente, será analisada a importância desse recurso, explicando-se de que maneira vem sendo utilizado; serão apresentadas as searas mais dependentes da água e explicitada como essa dependência repercute na natureza e na vida do ser humano.

No que se refere à regulamentação jurídica da água, será apresentada, ainda que de maneira breve, a forma como esse ordenamento vem sendo tratado. A posição da OMS e do UNICEF a respeito da quantia adequada e das condições ideais de oferta de água a que cada indivíduo tem direito também será discutida.

Entre as várias manifestações dos órgãos internacionais e os diferentes documentos escritos que indicam implicitamente que a água consiste em um direito humano, foram selecionados para a discussão deste estudo: o Comentário Geral n. 15, do Comitê dos Direitos Econômicos, Sociais e Culturais; o Argumento para uma Convenção Internacional da Água; Relatório do Relator Especial El Hadji Guissé; e o Relatório do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direito Humanos.

Por fim, destaca-se a posição da ONU a respeito do reconhecimento da água como um direito humano, não mais simplesmente como uma interpretação extensiva de vários textos jurídicos internacionais, mas a partir de sua Resolução A/RES/64/292, que reconhece o direito de acesso à água como um direito humano inerente à dignidade da pessoa humana.

1.2 A SUBSTÂNCIA ÁGUA

O termo água é empregado para designar o estado líquido da composição de hidrogênio mais oxigênio. Foi no ano de 1804 que o químico francês Joseph Louis Gay-Lussac e o naturalista alemão Alexander Von Humboldt classificaram essa substância por meio de documento científico como constituído de dois

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volumes de hidrogênio e um de oxigênio, representando-o pela fórmula H2O, ou seja, a molécula da água.2

A água no planeta Terra segue um curso que pode ser denominado de “ciclo hidrológico”. Esse fenômeno nada mais é do que a movimentação desse recurso por diferentes estados físicos − sólido, líquido e gasoso − que variam de um para outro conforme a quantidade de calor emanada pelo sol. Uma parte dessa substância hídrica que chega à superfície terrestre se evapora e o que permanece pode seguir percursos bem diferenciados. Um exemplo disso é a infiltração da água no solo, que possibilita seu consumo pelas plantas e a formação de lençóis freáticos, também conhecidos como águas subterrâneas. Um segundo exemplo de percurso que se destaca é seu escoamento pelas encostas dos morros, responsável pela formação dos sulcos e canais de drenagem que vão atingir lagos, córregos, rios e oceanos. Aponta-se também a formação de camadas de gelo em regiões frias, Aponta-sem se esquecer que, por meio da transpiração dos seres vivos, boa parte da água absorvida pelo homem volta para a atmosfera.3

A Terra pode ser chamada o planeta da água, mas 97% dessa água está nos mares e nos oceanos. A maior parte da água está retida nos gelos da Antártida ou subterrada nas camadas profundas do subsolo, deixando disponível menos de 1% para consumo humano, em lagos e rios de água doce de acesso fácil. Ao contrário do petróleo ou da hulha, a água é um recurso infinitamente renovável. Ela segue um ciclo natural:

2 MINISTÉRIO DA SAÚDE (Brasil). Fundação Nacional de Saúde. Manual de controle da qualidade da água para técnicos que trabalham em ETAS. Brasília, DF: Funasa, 2017. p. 9.

3 MINISTÉRIO DO MEIO AMBIENTE (Brasil). Águaμ manual de uso −

vamos cuidar de nossas águas. Brasília, DF: Ministério do Meio Ambiente, 2006. p. 17.

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a água da chuva cai proveniente das nuvens, regressa ao mar salgado através das correntes dos rios de água doce, para voltar depois a evaporar-se e a formar nuvens. Este ciclo pode explicar o motivo pelo qual não se pode dizer que a água está a acabar, mas as reservas disponíveis são, de facto, limitadas. O sistema hidrológico do planeta Terra bombeia e transfere

anualmente para o solo

aproximadamente 44.000 quilómetros cúbicos de água, o equivalente a 6.900 metros cúbicos por cada habitante do planeta. Uma grande parte desta água não corresponde a caudais de cheias incontroláveis ou a água demasiado inacessível para poder ser utilizada pelo homem. Mesmo assim, o mundo dispõe de mais água do que 1.700 metros cúbicos por pessoa definidos pelos hidrologistas (embora seja arbitrário) convencionando-se como a quantidade mínima necessária para garantir a alimentação, manter as indústrias em funcionamento e conservar o meio ambiente.4

4

PROGRAMA DAS NAÇÕES UNIDAS PARA O

DESENVOLVIMENTO (PNUD). Relatório do Desenvolvimento Humano. Escassez de Água − riscos e vulnerabilidades associados. 2006.

p. 135. Disponível em:

<http://www.br.undp.org/content/brazil/pt/home/library/relatorios-de- desenvolvimento-humano/relatorio-do-desenvolvimento-humano-20006.html>. Acesso em: 2 jan. 2017.

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Em se tratando dos seres vivos, observa-se que vários recursos são indispensáveis para sua sobrevivência, entre os quais se destaca a água. Substância essencial à vida na Terra, precisa ser encarada e tratada de forma especial, caso contrário pode ocasionar situações que coloquem em risco a existência do homem, dos animais e das plantas.

A água bem como o ar são os únicos recursos naturais que o homem não pode passar sem; ela é verdadeiramente indispensável para a sobrevivência humana. Água, fonte de vida, merece ser tratada da mesma forma que outros recursos naturais menos essenciais.5 O planeta Terra tem sua superfície coberta por uma quantidade considerável de água localizada em oceanos, rios, lagos, arroios, sangas, entre outros. Noventa e sete por cento dessa água é salgada e apenas 1% é doce, tornando o tema ainda mais importante e preocupante.6

Afirma-se, sem sombra de dúvida, que a água pode exercer várias funções e ser útil para uma pluralidade de aspectos na vida do homem. É utilizada na agricultura, na indústria, bem como para consumo direto, abrangendo esferas como a alimentação, a higiene pessoal, o saneamento básico.

Nos últimos tempos, a população mundial não apenas cresceu consideravelmente como passou a demandar mais água

5 L’eau est avec l’air la seule ressource naturelle dont l’homme ne puisse

se passerν elle est véritablement indispensable à la survie de l’homme. L’eau, source de vie, mérite d’être traitée autrement que comme les autres ressources naturelles moins indispensables. (Tradução nossa). SMETS, Henri. Le Droit à l´eau. Conseil Européen du Droit de L’environnement,

2002. Disponível

em:<http://www.worldwatercouncil.org/fileadmin/wwc/Programs/Right _to_Water/Pdf_doct/eau_CEDE_20021.pdf>. Acesso em: 10 dez. 2016.

6 VICTORINO, Célia Jurema Aito. Planeta Água Morrendo de Sede: uma

visão analítica na metodologia do uso e abuso dos recursos hídricos. Porto Alegre: EDIPUCRS, 2017. p. 16.

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para suprir sua necessidade de consumo. Na contramão do crescimento populacional, observa-se que as fontes desse recurso têm diminuído de maneira substancial, gerando uma grande preocupação para o homem.7

Outro exemplo negativo desse crescimento populacional decorre não do aumento do número de instalação de fábricas em quase todos os países, mas do expressivo desperdício de água causado pelos processos fabris. Nas lavouras, o desperdício desse recurso e o descaso com o ecossistema agravam o quadro de escassez. Nas cidades, a urbanização avança sem planejamento e sem o devido cuidado com saneamento e ocupação territorial, comprometendo o abastecimento hídrico e colocando o meio ambiente sob pressão.

O problema está no aumento da população mundial. Só no século passado este aumento triplicou, o que ocasionou o aumento de fábricas, mais desperdício e mais irrigação nas lavouras. De acordo com o Banco Mundial, cerca de 80 países enfrentam hoje problemas de abastecimento. A situação mais crítica está na Ásia, onde 60% da população vive com apenas 32% da água doce disponível. O crescimento da população mundial e da produção, associado ao consumo insustentável, impõe pressões cada vez mais intensas sobre o meio ambiente. Torna-se necessário desenvolver estratégias para mitigar esses impactos, pois está prevista uma população superior a oito bilhões de pessoas para o ano de 2020: 65% em áreas litorâneas

7 JANUARIA, Ana Celeste; FRANÇA, Luís. Informação sobre os direitos

humanos e o trabalho do Mosaiko. Mosaiko Informativo, Luanda, v. 14, p. 6, 2012.

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e 60% em cidades com mais de 2,5 milhões de pessoas.8

A preocupação com a água não é um fenômeno novo, está presente no dia a dia do homem desde milênios. Evidentemente, não com a mesma intensidade que nos dias atuais. Trata-se de um assunto que sempre esteve em pauta, seja na mesa de governantes, seja na de militantes, seja na do cidadão comum, com maior ou menor nível de preocupação. Povos mais antigos como os sumérios criaram códigos para regulamentar a questão. Os maias, por desconhecimento do trato desse recurso, que resultou seu fim, tiveram de deixar a cidade de Tical. No México, os maias cultuavam o deus da chuva e, nas épocas de estiagem, aumentavam sua adoração a tal entidade.

O homem sempre se preocupou com a água. Já há 4.000 anos a.C. as primeiras leis que se têm conhecimento eram códigos que regulavam o uso das águas, escritas pelos sumérios. Mas, nem todas as civilizações foram cuidadosas quanto a isso. Os Maias tiveram que abandonar a cidade de Tical, localizada em plena mata tropical, onde se encontram as ruínas da Pirâmide do Sol, porque não souberam armazenar corretamente a água, além de produzirem erosões cada vez maiores e grandes desmatamentos porque usavam madeira até nas estruturas internas das colunas de seus gigantescos templos. No México, na península de Yucatan, o deus da chuva, Chac, era reverenciado e, sempre que a água se tornava escassa, novos templos eram erguidos na esperança de que o

8 MINISTÉRIO DO MEIO AMBIENTE, loc. cit.

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deus das águas salvasse os Maias das secas.9

É necessário sublinhar que o simples fato de o homem ter acesso à água não implica que sua vida não venha a ser afetada pela escassez hídrica, visto que não basta ter quantidade suficiente dela, é preciso que esteja em estado adequado ao consumo, isto é, que seja potável, esteja isenta de impurezas e tenha recebido o devido tratamento sanitário, caso contrário se torna um veículo transmissor de doenças. Destaca-se que aproximadamente 2 milhões de pessoas no mundo, entre elas uma quantidade considerável de crianças, morrem todos os anos por doenças e males causados por água contaminada. Apontam-se como moléstias dessa natureza a diarreia, a cólera, a disenteria, o tifo, a hepatite, a pólio, o tracoma, o parasitismo, entre outras.10

Muitas destas mortes podem ser prevenidas. Calcula-se que seria possível prevenir quase a metade dos milhões de disfunções que ocorrem todos os anos por causa da diarreia se houvesse um conhecimento básico da higiene. A escassez de água obriga as pessoas a consumir águas contaminadas portadoras de doenças. Em 2005, 500 milhões de pessoas viviam em países definidos como em situação crítica em relação à água ou à escassez desta. Estima-se que esse número aumente de 2.400 a 3.400 milhões, respectivamente para 2015, e

9 Ibid., p. 19.

10 NACIONES UNIDAS. El agua, fuente de vida. 2015. Disponível em:

<http://www.un.org/waterforlifedecade/pdf/waterforlifebklt-s.pdf>. Acesso em: 23 out. 2016.

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que a África Setentrional e a Ásia Ocidental se encontrarão afetadas. 11 Evidencia-se ainda que a preocupação se estende para além do contexto da quantidade disponível de água no planeta, atentando-se também para a qualidade desse recurso. Assim, entende-se que o essencial para a vida humana é que à quantidade da água seja somada sua qualidade.

1.3 O USO DA ÁGUA

Em 2002, a OMS e o UNICEF lançaram uma publicação que versa sobre o uso da água, especificando que um fornecimento adequado desse recurso corresponde aproximadamente a 20 litros diários por pessoa e que suas instalações devem estar a menos de um quilômetro da moradia do usuário.12 Em 2011, a OMS estipulou nova cifra que consistia de 50 a 100 litros diários.13

11 Muchas de esas muertes se pueden prevenir. Se calcula que podría

prevenirse casi la mitad de los dos millones de defunciones que se producen todos los años a causa de la diarrea si se tuviera un conocimiento básico de la higiene. La escasez de agua obliga a las personas a consumir aguas contaminadas portadoras de enfermedades. En 2005, 500 millones de personas vivían en países definidos como en situación crítica en relación con el agua o con escasez de ésta. Se prevé que esta cifra aumente de 2.400 a 3.400 millones respectivamente para 2025, y que África septentrional y Asia occidental se verán especialmente afectadas.

12 Id. Agua para todos, agua para la vida. Informe de las Naciones Unidas

sobre el desarrollo de los recursos hídricos en el mundo. 2003. p. 15. Disponível em:

<http://www.un.org/esa/sustdev/sdissues/water/WWDR-spanish-129556s.pdf>. Acesso em: 22 dez. 2016.

13 KOUITTAB, Alexander. Thinking Strategically About Water: Future

Scenarios for the Palestinian Water Sector. In: THE BIRZERT

STRATEGIC STUDIES FORUM. Water in Palestine. Palestine: Birzeit University, p, 10. 2013. Disponível em:

<http://ialiis.birzeit.edu/sites/default/files/Water%20in%20Palestine.pdf >. Acesso em: 5 jan. 2018.

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Sabe-se que a quantidade de água doce disponível na natureza é pequena e que a quantidade adequada para consumo chega a patamares menores de 1%. Outro fator comprometedor é o próprio uso que se faz desse recurso, visto que não consiste em uma utilização sustentável, sendo usado de muitas formas e com diversas finalidades.

O problema se agrava, quando a quantidade de água doce, de que também necessita a própria natureza, tem múltiplos usos, sendo utilizada, ao mesmo tempo, por todos os habitantes do planeta e muitas vezes de forma pouco sustentável. Só a agricultura consome 70% da água doce mundial. A irrigação sem tecnologia gera grandes desperdícios e, considerando- se a pecuária, os pastos e a água para os rebanhos, o consumo é ainda maior. Essas atividades, juntas, também geram outros impactos, como a remoção de grandes áreas de vegetação e das matas ciliares, que protegem os rios e o solo, e causam a poluição das águas pelo despejo dos agrotóxicos. Estaríamos em melhor situação, se houvesse bom uso e boa gestão dos recursos hídricos.14

Diante do exposto, vê-se a agricultura, consumidora de uma quantidade expressiva de água doce do planeta, como uma das grandes responsáveis pelo escasseamento de recursos hídricos, sendo necessário que essa seara disponha de um planejamento sustentável de manuseio desse recurso, em especial, de eliminação

14 VIEIRA, Andrée de Ridder. Água para vida, água para todos – livro

das águas. Brasília, DF: WWF-Brasil, 2006. p. 9. (Cadernos de Educação Ambiental).

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de seu desperdício. Esse mesmo tratamento alcança o domínio da pecuária, que necessita de restruturação em seu mecanismo de funcionamento. A essas situações comprometedoras se somam outras, como desmatamentos, assoreamento15 de rios, degradação do solo, contaminação de bacias hidrográficas.

Pecuária fornecimento de água para os animais e na manutenção das pastagens. Falta de manutenção dos bebedouros dos animais, desperdício de água nos chuveiros para aliviar o calor, na lavagem dos estábulos, vazamentos nos encanamentos e redes de irrigação das pastagens, técnicas de irrigação que gastam muita água. Causando erosão nos pastos, assoreando os cursos d´água, jogando lixo, restos de animais e fezes nos rios e córregos. Desmatando grandes áreas de vegetação.16

A Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura, devido à importância da água na produção de alimentos e em outras searas, tem empreendido uma revisão de

15 Assoreamento é o processo em que cursos d'água são afetados pelo

acúmulo de sedimentos, o que resulta no excesso de material sobre o seu leito e dificulta a navegabilidade e o seu aproveitamento. Originalmente, esse é um processo natural, mas que é intensificado pelas ações humanas, sobretudo a partir da remoção da vegetação das margens dos rios. PENA, Rodolfo Alves. BRASIL ESCOLA, [2016]. Disponível em:

<http://brasilescola.uol.com.br/geografia/assoreamento-rios.htm>. Acesso em: 29 dez. 2016.

16 VIEIRA, Andrée de Ridder. Água para vida, água para todos – livro

das águas. Brasília, DF: WWF-Brasil, 2006. p. 10. (Cadernos de Educação Ambiental).

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todo seu programa referente aos recursos hídricos, para propor estratégias e soluções efetivas no combate à escassez de água.17

A indústria também se insere nesse cenário de escassez como umas das responsáveis pela má utilização da água, sublinhando-se que esse recurso é essencial para a manufatura fabril, fazendo-se presente no processamento, na lavagem e no arrefecimento de maquinários. Além disso, grandes grupos industriais como o alimentício, de substâncias químicas e de refino de petróleo respondem pela maior parte de seu consumo.18 Um dado interessante consiste que os maiores consumidores de água são os mais industrializados, as nações desenvolvidas, visto que seu avanço tecnológico exige maior quantidade dessa substância.19

É correto afirmar que é possível atingir um desenvolvimento industrial sem comprometer o abastecimento de água, tendo em vista avanços científicos no desenvolvimento de mecanismos que possam ajudar na preservação e limpeza da água. Seguindo essa linha de raciocínio, conclui-se que o agente inicialmente pernicioso pode se tornar um aliado desse recurso hídrico, e isso já é realidade em vários países onde foram aplicadas táticas que reduziram o desperdício de água, diminuindo também o impacto econômico nos setores envolvidos.

A indústria pode dar contribuições positivas; por exemplo: localizando as operações que utilizam muita água em regiões onde o seu suprimento seja suficiente, adotando técnicas conservacionistas tais como o uso de águas “cinzentas” nos processos que não exigem água de melhor qualidade,

17 VIEIRA, op. cit., p. 3.

18 SELBORNE. Lord. A ética do uso da água doce: um levantamento.

Brasília, DF: Unesco, 2001. p. 35. (Cadernos Unesco Brasil: Série Meio Ambiente, v. 3).

19 NACIONES UNIDAS. El agua, fuente de vida. 2015. Disponível em:

<http://www.un.org/waterforlifedecade/pdf/waterforlifebklt-s.pdf>. Acesso em: 09/04/2018

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e melhorando a qualidade da água esgotada após o uso. Só o recurso à reciclagem pode reduzir o consumo de muitas indústrias em 50% ou mais, com a vantagem adicional de diminuir a poluição resultante. A indústria pode promover o gerenciamento social da água, em cooperação com outras partes interessadas, com base no respeito recíproco pelas necessidades e valores de todos os interessados e iniciando um diálogo permanente sobre os temas relacionados com o recurso hídrico e o respectivo intercâmbio de informação.20

É necessário sublinhar que o fator desperdício compromete a disponibilidade dessa substância e, consequentemente, a vida do ser humano. Aludida conjectura é resultado do mau uso da água, da falta de educação sanitária e de orientação aos cidadãos, tanto no âmbito industrial quanto doméstico. Sabe-se também que há consideráveis perdas desse recurso natural como consequência de deficiências técnicas e administrativas nos serviços de abastecimento de água, nos vazamentos e rompimentos de redes, na falta de investimentos em programas de reutilização de água destinados à indústria e ao comércio.21

20 MINISTÉRIO DO MEIO AMBIENTE, op. cit., p. 36.

21 FUNDAÇÃO S.O.S MATA ATLÂNTICA. Núcleo Pró-Tietê. Água: o

ouro azul do planeta. Disponível em:

<http://www.professorelian.com.br/downloads/Agua%20ouro%20azul% 20power%20point.pdf>. Acesso em: 10 jan. 2017. p. 9.

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1.4 A ESCASSEZ DE ÁGUA

O aumento da necessidade humana pela água, devido ao crescimento vegetativo e às crises globais que afetaram o planeta recentemente como mudança climática, problemas de energia, segurança alimentícia, recessão econômica, traz inevitável impacto sobre esse valioso recurso. Em várias partes do mundo se entende a água como uma substância escassa, apontando para o que se chamará de “crise da água”.

Em 2007, o Banco Mundial emitiu relatório sobre insuficiência de água descrevendo, para efeitos pedagógicos, três tipos: escassez do recurso físico, escassez organizacional e escassez de mecanismos de prestação de contas. A “organizacional” se refere a “levar água ao lugar adequado no momento certo”, enquanto a “prestação de contas” se refere à responsabilidade que os governos têm em prestar contas à sociedade, relacionando-a à falta de informação aos usuários por parte de seus provedores.

Em se tratando da modalidade de “escassez do recurso físico”, destacam-se:

a) escassez da disponibilidade de água de qualidade aceitável relativa à demanda exigida no simples caso de desabastecimento de água física;

b) escassez resultante da falta de infraestruturas adequadas, independentemente do nível dos recursos hídricos, consequência das limitações financeiras, técnicas ou de outra espécie;

c) escassez no acesso a serviços hídricos, resultado do fracasso das instituições (inclusive dos direitos legais) encarregadas de assegurar uma ministração de água confiável, segura e adequada para os usuários. Esse aspecto também reúne os elementos

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organizacionais e de prestação de contas propostos pelo Banco Mundial no ano de 2007.22

Diante dos estudos realizados a respeito do impacto que os fatores mencionados refletem sobre a água, surge um problema, uma preocupação no que tange à quantidade de água disponível para o consumo mundial daqui a 50 anos. Encontrar uma solução para essa questão não consiste em tarefa simples, em especial porque as circunstâncias que ameaçam essa substância parecem estar interligadas. Um exemplo disso é o desenvolvimento e o crescimento econômicos, principalmente nos mercados emergentes, nos quais há o aumento da adoção de dieta mais variada, que contenha carne e produtos laticínios, os quais exigem grandes recursos hídricos.23 Entende-se que diante da aludida conjectura, os centros urbanos desenvolvem um papel importante referente às exigências no consumo de água e ao combate a sua escassez.

Kobiyama (2000) definiu a urbanização como o conjunto de três ações: (1) retirada da vegetação e do solo, (2) revestimento do terreno com concreto e asfalto, e (3) rejeição de água (escoar a água da chuva o mais rápido possível). Na hidrologia, o grau de urbanização é avaliado através da taxa de áreas impermeabilizadas. Portanto, aparentemente a urbanização em excesso e sem controle apresenta efeitos hidrologicamente negativos. Assim, as áreas urbanas vêm frequentemente sofrendo inundações. Procurando um maior conforto, a população passou a viver em um meio

22 FAO INFORME SOBRE TEMAS HÍDRICOS. Afrontar la escassez de agua: un marco de acción para la agricultura y la seguridade alimentaria.

Roma: Fiat Panis, 2013. p. 7, v. 38.

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totalmente inorgânico, de concreto, no qual os rios se tornaram o lugar de destino da água pluvial (uma espécie de aterro sanitário para água). Dessa maneira, as cidades vêm abandonando os preciosos recursos hídricos, crescendo economicamente e demograficamente sem planejamento. A atitude de rejeitar a água da chuva agravou ainda mais o problema da falta e excesso da água. Ironicamente, quanto mais avança a drenagem urbana na cidade, mais frequentemente ocorrem racionamentos e inundações.24

A boa gestão da água nas cidades é uma tarefa complexa que demanda planejamento integrado para sua administração, tanto no que diz respeito às necessidades domésticas e às industriais, ao controle da contaminação, ao tratamento das águas residuais, ao gerenciamento das águas pluviais, à prevenção de inundações como ao uso sustentável dos recursos hídricos.25

Outro fator que tem se tornado pauta de discussão mundial é o aquecimento global, pelo fato de acarretar diversas consequências negativas sobre a vida na Terra, como contribuir com a escassez de água. Do mesmo modo, as variações no clima estão transformando a natureza, em especial os padrões hídricos, e gerando insegurança global em relação à disponibilidade e à qualidade da água potável para os seres vivos.26

A respeito desse tratamento, a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO)

24 CORSEUIL, Claudia Weber; MOTA, Aline de Almeida; KOBIYAMA,

Masato. Recursos hídricos e saneamento. Curitiba: Organic Trading, 2008. p. 35.

25 NACIONES UNIDAS, op. cit., p. 15.

26 PROGRAMA DAS NAÇÕES UNIDAS PARA O

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afirmou, em 2015, que a elevação da temperatura no globo terrestre e a maior variação nas precipitações resultarão em maiores níveis de evaporação e de transpiração da vegetação. Além disso, destaca que a elevação do nível do mar ameaça invadir os lençóis freáticos nas áreas costeiras, comprometendo-os com águas salgadas, ou seja, poluindo-os.

Outra consequência do aquecimento global é o aumento da quantidade de água na atmosfera, a qual, em excesso, pode levar ao aumento gradativo das chuvas, o que nem sempre significa mais disponibilidade de água doce, pois chuvas mais fortes geralmente levam a um movimento mais rápido da água da atmosfera de volta aos oceanos, comprometendo a capacidade de armazená-la e utilizá-la. Com o ar mais quente, a queda de neve é substituída por chuvas, aumentando as taxas de evaporação. Nos subtrópicos, a mudança climática provavelmente levará à redução das chuvas em regiões já secas e o efeito geral é uma intensificação do ciclo da água com inundações e secas mais extremas globalmente.27

O aquecimento da temperatura também pode afetar as águas subterrâneas, interferindo diretamente na redução da recarga dos aquíferos e indiretamente na redução da disponibilidade de água na superfície, provocando maiores períodos de estiagem. Isso, por sua vez, acaba incentivando a exploração das águas com perfurações de poços artesianos.28

De acordo com observações de sensoriamento remoto da missão satélite Gravity Recovery and Climate Experiment (GRACE), um terço dos maiores sistemas de águas subterrâneas do mundo já está em perigo.29 Essas mudanças se combinam para

27 THE GARDIAN, 2012. Disponível em:

<https://www.theguardian.com/environment/2012/nov/30/climate-change-water>. Acesso em 11/04/2018.

28 NOSCHANG, Patrícia Grazziotin. Escassez hídrica no sistema jurídico

internacional. 2015. 376 f. Tese (Doutorado em Direito e Relações Internacionais) – Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Direito, Florianópolis, Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, 2015.

29 WATER RESOURCES RESEARCH. Quantifying renewable groundwater stress with GRACE. 2015. Disponível em:

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disponibilizar menos água para agricultura, geração de energia, cidades e ecossistemas ao redor do mundo.

A escassez de água já apresenta impacto em todos os continentes. Os hidrólogos normalmente avaliam a escassez analisando a equação população-água. Assim, uma área está passando por estresse hídrico quando o abastecimento anual de água cai abaixo de 1.700 m3 por pessoa. No momento em que o abastecimento anual de água cai abaixo de 1.000 m3 por pessoa, a população confronta-se com a escassez hídrica e, abaixo de 500 metros cúbicos, com a "escassez absoluta".30

Quando se observa a relação entre o uso de água e o aumento populacional, verifica-se que o uso da água cresceu com mais intensidade do que o dobro do aumento populacional do século passado. Segundo dados da UN Water, há um crescimento no número de regiões cujos serviços de água providos de maneira sustentável estão chegando no limite, sobretudo em regiões áridas.31

Atualmente, cerca de dois terços da população mundial vivem em áreas com escassez de água por pelo menos um mês por ano.32 Até 2025, estima-se que 1,8 bilhão de pessoas viverão em países ou regiões com escassez absoluta de água, e dois terços da população mundial poderão estar sob condições de estresse

<https://agupubs.onlinelibrary.wiley.com/doi/abs/10.1002/2015WR0173 49>. Acesso em: 6 abr. 2018.

30 UNITED NATIONS DEPARTMENT OF ECONOMIC AND

SOCIAL AFFIARS. Water scarcity. Disponível em:

<http://www.un.org/waterforlifedecade/scarcity.shtml>. Acesso em: 7 abr. 2018.

31 UNITED NATIONS. Water ScarcityDisponível. Disponível em:

<http://www.unwater.org/water-facts/scarcity/>. Acesso em: 6 abr. 2018.

32 SCIENCES ADVANCE. Four billion people facing severe water

scarcity. 2016. Disponível em:

<http://advances.sciencemag.org/content/2/2/e1500323/tab-figures-data>. Acesso em: 6 abr. 2018.

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hídrico.33 Também aponta-se que não existe uma escassez global de água como tal, porém regiões e países individualmente precisam enfrentar problemas críticos advindos do estresse hídrico34, e a água deve ser tratada como um recurso escasso, que necessita de gerenciamento em todo seu ciclo hidrológico.

Com uma gestão integrada dos recursos hídricos, os governos podem garantir a sustentabilidade da água e as necessidades de diferentes usuários, incluindo as do meio ambiente. À medida que a pessoas demandam cada vez mais suprimentos limitados, o custo e o esforço para construir ou até mesmo manter o acesso à água aumentarão, assim como aumentará a importância da questão da escassez de água para a estabilidade política e social de um país.35 Além de uma gestão integrada, a solução mais comum para o aumento da demanda desse recurso e uma maneira de garantir possíveis impactos da mudança climática será um grande investimento em economia hídrica e tecnologia de educação e pesquisa.

O investimento contínuo em educação e pesquisa será essencial para fornecer o conhecimento, as habilidades e a tecnologia necessários ao combate da escassez de água doce hoje e amanhã, e assim garantir a preservação das mais diferentes espécies, humanas ou não.

33 UNITED NATIONS EDUCATIONAL, SCIENTIFIC AND

CULTURAL ORGANIZATION. The 4th edition of the UN World

Water Development Report (WWDR4). 2012. Disponível em:

<http://www.unesco.org/new/en/natural-sciences/environment/water/wwap/wwdr/wwdr4-2012/>. Acesso em: 6 abr. 2018.

34 UNITED NATIONS. Water ScarcityDisponível. Disponível em:

<http://www.unwater.org/water-facts/scarcity/>. Acesso em: 7 abr. 2018.

35 THE WATER PROJETC. Disponível em:

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1.5 O DIREITO HUMANO À ÁGUA

São classificados como direitos humanos aqueles direitos inerentes a todos os seres humanos, independentemente de sua raça, religião, sexo, nacionalidade, etnia, idioma ou qualquer outra condição, a saber: o direito à vida, à liberdade, à liberdade de opinião e de expressão, ao trabalho, à educação e uma série de outros direitos que integram esse corpo jurídico.

O Direito Internacional dos Direitos Humanos dispõe sobre as obrigações de cada Estado no que tange à atuação deste em promover e proteger os direitos humanos e as liberdades de grupos ou indivíduos. A Assembleia Geral das Nações Unidas, em 10 de dezembro de 1948, oficializou a Declaração Universal dos Direitos Humanos, documento que resultou das experiências anteriores de conflitos armados.36

A Declaração Universal dos Direitos Humanos foi inspirada na Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão37, da Revolução Francesa de 1789. Menciona os direitos fundamentais de todo indivíduo, principalmente o direito à dignidade, que se origina com o nascimento do ser humano. A Declaração não tem força jurídica, servindo de orientação para as nações. O documento dispõe que todos os seres humanos têm

36 NAÇÕES UNIDAS NO BRASIL. O que são os direitos humanos.

Disponível em: <https://nacoesunidas.org/direitoshumanos/>. Acesso em: 10 jan. 2017.

37 A Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão foi anunciada ao

público em 26 de agosto de 1789, na França. "Ela está intimamente relacionada com a Revolução Francesa. Para ter uma ideia da importância que os revolucionários atribuíam ao tema dos direitos, basta constatar que os deputados passaram cerca de 10 dias reunidos na Assembleia Nacional francesa debatendo os artigos que compõem o texto da declaração”. COSTA, Renata. NOVA ESCOLA. Como surgiu a Declaração dos

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direito à vida, à liberdade, à educação, à saúde, à habitação, à propriedade, à participação política, ao lazer.38

A Declaração Universal dos Direitos Humanos da Organização das Nações Unidas afirma que todos os seres humanos nascem livres e iguais em dignidade e em direitos, dotados de razão e de consciência, e devem agir uns para com os outros em espírito de fraternidade. A ONU adotou a Declaração Universal dos Direitos Humanos com o objetivo de evitar guerras, promover a paz mundial e de fortalecer os direitos humanitários. A Declaração Universal dos Direitos Humanos tem uma importância mundial, apesar de não obrigar juridicamente que todos os Estados a respeitem. Para a Assembleia Geral da ONU, a Declaração Universal dos Direitos Humanos tem como ideal ser atingido por todos os povos e todas as nações, com o objetivo de que todos tenham sempre em mente a Declaração,

38 ALTMAN, Max. OPERAMUNDI. Hoje na História: 1948 - ONU adota a Declaração Universal dos Direitos Humanos. São Paulo, SP,

2010. Disponível em:

<http://operamundi.uol.com.br/conteudo/noticias/8146/hoje+na+historia +1948++onu+adota+a+declaracao+universal+dos+direitos+humanos.sht ml>. Acesso em: 10 jan. 2017

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para promover o respeito a esses direitos e liberdades. 39

O direito humano à água é um assunto importante, haja vista estar ligado diretamente à dignidade da pessoa humana. Em certo momento da história, acreditou-se que a água não necessitaria de reconhecimento explícito ou documental devido ao seu caráter fundamental à vida, o que, por sua vez, dispensaria considerações formais. No entanto, é pacífico que esse direito deva ser entendido como uma condição prévia necessária a outros direitos, os quais somente seriam possíveis de serem alcançados por meio do acesso equitativo de quantidade mínima de água potável.40

O direito humano à água também está relacionado com o direito à saúde e à moradia, visto que dependem do primeiro para sua efetivação, como dispõe o artigo 3º da Declaração Universal dos Direitos Humanos quando esta afirma que todos têm direito a níveis de vida adequados para que tenham saúde e bem-estar garantidos.41

O artigo 8º da Declaração sobre o Direito ao Desenvolvimento dispõe que os Estados devem adotar o que for necessário para garantir a igualdade de oportunidades para todos em relação ao acesso a recursos básicos como serviços de saúde, alimentação, moradia etc. Enquanto a Convenção dos Direitos da Criança versa sobre o acesso a serviços sanitários, o combate às doenças e a má nutrição, para que seja garantida a sobrevivência das crianças por meio da alimentação e da disponibilidade de água potável.42

39 SIGNIFICADOS. Significado de direitos humanos. [201-?]. Disponível

em: <https://www.significados.com.br/direitos-humanos/>. Acesso em: 26 dez. 2016.

40 HOYOS, Elena Isabel Patricia Valdés de; ARZATE, Enrique Uribe. El

derecho humano al agua: una cuestión de interpretación o de reconocimiento. Cuestiones Constitucionales, México, v. 32, p. 5, 2016.

41 Ibid., p. 6.

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Pode-se afirmar que, a partir de 1977, a visão e a percepção a respeito do direito humano à água mudaram bastante. Destaca-se, como exemplo, a Conferência de Mar del Plata43, realizada no ano mencionado, que marcou o começo de uma série de atividades globais sobre a água. Em 1981, a ONU lançou a campanha “Década Internacional da Água Potável e Saneamento”44, a qual promoveu, até 1990, uma ampliação

43 I Conferência das Nações Unidas sobre a Água que foi realizada em

março de 1977, em Mar del Plata, Argentina. Esta Conferência foi o primeiro encontro especializado para tratar os problemas da água. O crescente consumo de água em dimensão planetária e a pressão exercida pelas instituições oficiais sobre os recursos hídricos em algumas áreas indicavam o surgimento de uma crise de água em médio prazo que só poderia ser atenuada mediante a adoção de programas de gerenciamento integrado desses recursos. O Plano de Ação de Mar del Plata, foi considerado o mais completo documento referencial sobre recursos hídricos, até a elaboração do capítulo específico sobre a água da Agenda 21. AMBIENTE BRASIL. Meio Século de Lutas: uma visão histórica da

água. Disponível em:

<http://ambientes.ambientebrasil.com.br/agua/artigos_agua_doce/meio_ seculo_de_lutas%3A_uma_visao_historica_da_agua.html>. Acesso em: 10 jan. 2017.

44 No dia 10 de novembro de 1980, a Organização das Nações Unidas

instituiu a Década da Água Potável, como campanha em prol de uma utilização mais responsável do precioso líquido. A meta era que, entre 1981 e 1990, o abastecimento de água melhorasse em todo o mundo e, sobretudo, que fossem contidos a poluição e o desperdício de água. Durante esse período, diversas instituições da ONU, inúmeros governos e ONGs investiram cerca de 300 bilhões de dólares na proteção da água. As verbas foram empregadas, por exemplo, para furar poços artesianos, construir instalações de dessalinização de água marítima, introduzir medidas mais eficientes de irrigação e conter o avanço das estepes em diversas partes do mundo. DW NOTÍCIAS MEDIATECA. 1980: ONU institui Década da Água Potável. [19-?] Disponível em: < https://nacoesunidas.org/direitoshumanos/>. Acesso em: 12 jan. 2017.

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substancial no abastecimento dos serviços básicos para as povoações pobres.

Ainda nesse sentido, sobre o direito humano à água, nos últimos 20 anos foram organizados vários eventos abordando o aludido tema e envolvendo de forma direta ou indireta a comunidade internacional. Um exemplo claro disso foi o Terceiro Fórum Mundial da Água45, no Japão, em 2003, que lançou a campanha “Ano Internacional da Água Doce”. Outro exemplo foi a Conferência Internacional sobre a Água e o Meio Ambiente46,

45 O III Fórum Mundial da Água ocorre concomitantemente em três

cidades japonesas (Quioto, Shiga e Osaka) no período de 16 a 23 de março de 2003. O Fórum discute as ações tomadas pelos diferentes países para implementar o manejo integrado dos recursos hídricos e busca soluções que permitam à comunidade internacional atingir os objetivos da Declaração do Milênio e da Cúpula Mundial de Desenvolvimento Sustentável, realizada em Joanesburgo, em setembro de 2002, de reduzir pela metade, até 2015, o número de pessoas sem acesso a água potável e a saneamento básico. AGÊNCIA BRASIL. Começa o Fórum Mundial da Água no Japão. 2003. Disponível em:

<http://ambientes.ambientebrasil.com.br/agua/artigos_agua_doce/meio_ seculo_de_lutas%3A_uma_visao_historica_da_agua.html>. Acesso em: 12 jan. 2017

46 Organizada pela ONU, como evento preparatório da Conferência Rio

92, pela primeira vez apontou que a situação dos recursos hídricos se aproximava de um estágio insustentável. O aproveitamento e a gestão dos recursos hídricos passaram a ser percebidos como um pacto político com o necessário comprometimento dos governos e da sociedade civil. O relatório "A Água e o Desenvolvimento Sustentável", conhecido como Declaração de Dublin, expressou de forma incisiva a relação entre a água, a pobreza, as doenças, o desenvolvimento sustentável e a produção agropecuária. Além disso, pela primeira vez, foram apontadas a importância de proteção contra desastres naturais, de conservação e de reaproveitamento, da proteção dos sistemas aquáticos e se admitiu a possibilidade de conflitos pela posse das bacias hidrográficas. MONITOR

Referências

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