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A alienação parental no âmbito da justiça brasileira

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Academic year: 2021

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FERNANDO SCHÄFER

A ALIENAÇÃO PARENTAL NO ÂMBITO DA JUSTIÇA BRASILEIRA

Ijuí (RS) 2019

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A ALIENAÇÃO PARENTAL NO ÂMBITO DA JUSTIÇA BRASILEIRA

Monografia final do Curso de Graduação em Direito objetivando a aprovação no componente curricular Monografia.UNIJUÍ – Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul.DCJS – Departamento de Ciências Jurídicas e Sociais.

Orientadora: Profª Dra. Janaína Machado Sturza

Ijuí (RS) 2019

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Aos meus pais que, com amor e incentivo, nunca mediram esforços para que eu chegasse até esta etapa da minha vida.

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Agradeço primeiramente aos meus pais, Guido e Maria, pelo incentivo de toda a vida, além do carinho, apoio e dedicação, fundamentais na construção do meu caráter, pois sem eles nada disso seria possível.

A minha namorada Carina, que me acompanhou em toda minha jornada acadêmica, sendo fundamental para o meu crescimento pessoal, muito obrigado por todo apoio, carinho e atenção que tiveram comigo nesta etapa importante.

Por fim, agradeço à minha orientadora, Janaína Machado Sturza, pela confiança em mim depositada durante o desenvolvimento deste estudo e por estar ao meu lado assessorando-me, e incentivando.

Enfim, a todos que colaboraram de uma maneira ou outra durante essa longa caminhada, meus sinceros agradecimentos.

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"A palavra progresso não terá qualquer sentido enquanto houver crianças infelizes."

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RESUMO

A presente monografia trata da temática da alienação parental no âmbito da justiça brasileira. Nesse sentido, a presente pesquisa tem como objetivo conhecer o instituto da alienação parental a partir da análise de diferentes instrumentos legislativos e do entendimento jurisprudencial. Nesse contexto, o problema de pesquisa indica a seguinte indagação: Quais os principais mecanismos da Constituição Federal, do ECA e da Lei 12.318/2010, como forma de proteção do infante e redução da incidência da SAP, bem como a atuação do Poder Judiciário nos casos de alienação parental? Para tanto, aborda-se o conceito de alienação parental, diferenciando-a da Síndrome da Alienação Parental, suas formas de identificação, características e condutas do genitor alienante como também as consequências da SAP para o menor alienado, observado sempre o princípio do melhor interesse da criança e do adolescente. Faz uma análise da Constituição Federal, do Estatuto da Criança e do Adolescente e da Lei 12.318/2010 como mecanismos de proteção aos direitos dos rebentos no âmbito familiar e de combate a SAP. Por fim, examina-se a jurisprudência a fim de verificar a o entendimento do Tribunal gaúcho acerca do instituto da alienação parental e suas especificidades. Seguindo o método hipotético dedutivo, a partir do estudo apoiado em pesquisa bibliográfica que se utilizou da doutrina física, digital e da jurisprudência para fundamentar as discussões abordadas nesse trabalho, conclui-se que a alienação parental configura-se como um efetivo abuso psicológico, que a criança ou adolescente sofre, geralmente diante de situações mal resolvidas entre os genitores, fazendo com que o alienador dificulte ou impeça o exercício da convivência familiar da prole com o ex-companheiro, sendo que este convívio é essencial para o desenvolvimento psíquico e pessoal do infante, reconhecendo dessa forma a importância da família na construção da personalidade de um sujeito de direito.

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ABSTRACT

The present monograph deals with the theme of parental alienation within the Brazilian justice. In this sense, this research aims to know the institute of parental alienation from the analysis of different legislative instruments and the jurisprudential understanding. In this context, the research problem indicates the following question: What are the main mechanisms of the Federal Constitution, ECA and Law 12.318 / 2010, as a way to protect the child and reduce the incidence of PAS, as well as the role of the judiciary in cases of parental alienation? To this end, the concept of parental alienation is approached, differentiating it from the Parental Alienation Syndrome, its forms of identification, characteristics and conduct of the alienating parent, as well as the consequences of SAP for the minor alienated, always observing the principle of best interest. of child and teenager. It analyzes the Federal Constitution, the Statute of the Child and the Adolescent and Law 12.318 / 2010 as mechanisms to protect the rights of children in the family and to combat SAP. Finally, the case law is examined in order to verify the Gaucho Court's understanding of the institute of parental alienation and its specificities. Following the hypothetical deductive method, from the study supported by bibliographical research that used the physical, digital doctrine and jurisprudence to support the discussions approached in this paper, it is concluded that parental alienation is an effective psychological abuse, which The child or adolescent suffers, usually in the face of poorly resolved situations between the parents, causing the alienator to hinder or prevent the exercise of family offspring with the former partner, and this coexistence is essential for the psychic and personal development of the child. infant, thus recognizing the importance of the family in the construction of the personality of a subject of law.

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LISTA DE SIGLAS AI – Agravo de Instrumento AP – Alienação Parental CC – Código Civil CF – Constituição Federal CP – Código Penal

CPC – Código de Processo Civil DJE – Diário de Justiça Eletrônico

ECA – Estatuto da Criança e do Adolescente RS – Rio Grande do Sul

SAP – Síndrome da Alienação Parental

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ... 10

1 ALIENAÇÂO PARENTAL...12

1.1 Conceito de Alienação Parental...13

1.2 Diferença entre Alienação Parental e Síndrome de Alienação parental...15

1.3 Como identificar a prática da Alienação Parental...16

1.4 Síndrome da Alienação Parental versus denuncia de abuso sexual...19

1.5 Características do agente alienador ...22

1.6 Consequências para o menor alienado...23

1.7 Medidas de combate a incidência da SAP...26

2 MECANISMOS CONSTITUCIONAIS E INFRACONSTITUCIONAIS COMO FORMA DE PROTEÇÃO INTEGRAL DOS INFANTES NO ÂMBITO FAMILIAR E DE COMBATE A SAP...31

2.1 Análise da Constituição Federal (CF/88)...31

2.2 Análise do Estatuto da Criança e do Adolescente (Lei nº 8.069/1990)...37

2.3 Análise da Lei da Síndrome da Alienação Parental (Lei 12.318/2010)...42

3 ANÁLISE DA JURISPRUDÊNCIA DO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL ACERCA DO TEMA...55

CONCLUSÃO ...71

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INTRODUÇÃO

A temática entorno da alienação parental é relativamente nova no Judiciário brasileiro uma vez que a Lei nº 12.318 fora promulgada somente em 2010. Contudo, o tema tem atraído cada vez mais a atenção dos profissionais da área do Direito e da Saúde, tendo em vista as consequências traumáticas que sua prática acarreta para os menores e, com isso, surgem novas demandas no Judiciário a fim de cessar essa campanha alienadora.

O Objetivo geral dessa monografia é estudar o instituto da Alienação Parental estabelecendo as diferenças entre alienação parental e a Síndrome de Alienação Parental, analisando os principais aspectos constitucionais e infraconstitucionais de proteção aos menores, bem como a atuação do Poder Judiciário frente ao tema, tendo em vista a fragilidade em detectá-la.

O problema a ser abordado no trabalho será a partir dos principais mecanismos da Lei 12.318/2010, do ECA e da Constituição Federal como forma de proteção do infante e redução da incidência da SAP, bem como a atuação do Poder Judiciário nos casos de alienação parental.

A metodologia proposta para o trabalho monográfico, quanto ao seu objetivo, será a do tipo exploratória. Utiliza no seu delineamento a coleta de dados em fontes bibliográficas disponíveis em meios físicos e na rede de computadores, utilizado o método de abordagem hipotético-dedutivo.

A alienação parental é difícil de ser comprovada, uma vez que não deixa marcas físicas, apenas psicológicas em todos os envolvidos nesse dilema familiar. Por isso, primeiramente no 1º capítulo, far-se-á uma abordagem sobre os aspectos conceituais acerca do tema, estabelecendo as diferenças entre alienação parental e Síndrome de Alienação Parental, identificando as características e condutas do agente alienador e as consequências para o alienado, bem como as medidas legais de combate a incidência da SAP.

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Além disso, nos últimos anos houve um aumento significativo dos casos de alienação parental, desencadeada quase sempre durante o processo de separação litigiosa do casal, acarretando em um mal sociofamiliar que precisa ser extirpado, e não assim ocorrendo pelo comportamento do agente alienador, devem ser aplicadas as medidas legais constantes do nosso ordenamento jurídico, para que pais não percam anos de convívio com seus filhos, acarretando em gravíssimas consequências a este menor.

No Capítulo 2 (dois) será abordado alguns mecanismos constitucionais e infraconstitucionais de proteção da criança e do adolescente no âmbito familiar e de combate a Síndrome da alienação parental, discorrendo especificamente sobre a Constituição Federal, o Estatuado da Criança e do Adolescente e sobre a Lei da alienação Parental.

Já no capítulo 3 (três), após a conceituação e a análises realizada nos capítulos anteriores, será apresentado as jurisprudências do Tribunal do Rio Grande do Sul relacionadas ao tema proposto, com o objetivo de verificar quais decisões que o órgão julgador vem tomando no sentido de identificar e coibir os atos alienatórios,

Dessa forma, o tema proposto tem relevante importância, pois é preciso conhecer e discutir sobre esse fenômeno, no sentido de compreender e identificar a alienação parental e seus agentes alienantes, como uma forma de amparar o menor que é a vítima das alienações, que podem ser provocadas não somente por seus pais, mas também pelo respectivo companheiro, avós, padrinhos, tios e até pelos irmãos.

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1 ALIENAÇÂO PARENTAL

O fenômeno da alienação parental apesar de não ser um instituto novo no ordenamento jurídico de muitos países, no Brasil a divulgação acerca do tema passou a ter maior atenção do Poder Judiciário em 2003, quando surgiram as primeiras decisões reconhecendo a problemática em torno desse fenômeno (FREITAS, 2014, p. 23).

No entanto, somente em 2010 com o advento da Lei 12.318 é que houve uma resposta mais forte do Judiciário no que tange ao enfrentamento e combate a prática da alienação no âmbito familiar, tendo em vista as consequências traumáticas que sua prática acarreta para os menores durante e após o processo de separação litigiosa de seus pais e, consequentemente, surgem demandas no Judiciário objetivando cessar essa campanha alienadora de modo a preservar a integridade e o desenvolvimento psicológico desses menores.

Embora a Lei 12.318/2010 represente um marco histórico que insere na legislação brasileira um mecanismo jurídico de eficiente combate à Síndrome da Alienação Parental, ela ainda é corriqueira no âmbito das famílias brasileiras, o que vem acarretar em gravíssimas consequências para os menores envolvidos neste conflito familiar (MADALENO; MADALENO 2018, p. 88).

Importante ressaltar que o fim do casamento não pode obstar a continuidade dos laços de parentalidade, que se constituem na troca de afeto e são fundamentais para o desenvolvimento dos filhos, porém por motivos variados que vão desde a vingança em razão do inconformismo pelo fim do relacionamento ou, ainda, pela insatisfação com a nova condição econômica, ou até mesmo da busca pela pose exclusiva do filho, a alienação parental tem sido objeto de ações judiciais com o propósito de reivindicar e garantir os direitos do menor bem como os deveres do genitor alienado, o qual está sendo usurpado do convívio com a prole, como também impor ao agente alienador medidas judiciais a fim de coibir a prática da alienação garantindo a manutenção do convívio entre o filho e o genitor alienado.

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um casal possuir filhos lhe submete a alguns deveres que ultrapassam a dissolução de sua união ou casamento, sendo um compromisso legal e ético assegurar o sustento, a guarda e a educação dos filhos comuns, ou seja, atributos do poder familiar, que não é dissolvido com o desenlace do par.

1.1 Conceito de alienação parental

O conceito da Síndrome da Alienação Parental (SAP), foi definido em 1985 por Richard A. Gardner, professor e psiquiatra especialista do Departamento de Psiquiatria Infantil da Universidade de Columbia, para compreender os sintomas que crianças e adolescentes desenvolviam durante o processo de divórcio dos pais, quando estes tinham como objetivo principal ver o ex-cônjuge afastado dos filhos.

A Síndrome de Alienação Parental (SAP) é um distúrbio da infância que aparece quase exclusivamente no contexto de disputas de custódia de crianças. Sua manifestação preliminar é a campanha denegritória contra um dos genitores, uma campanha feita pela própria criança e que não tenha nenhuma justificação. Resulta da combinação das instruções de um genitor (o que faz a “lavagem cerebral, programação, doutrinação”) e contribuições da própria criança para caluniar o genitor-alvo. Quando o abuso e/ou a negligência parentais verdadeiros estão presentes, a animosidade da criança pode ser justificada, e assim a explicação de Síndrome de Alienação Parental para a hostilidade da criança não é aplicável (GARDNER, 2019).

Portanto, conforme a citação acima, pode-se concluir que a Síndrome de Alienação Parental, está associada a ruptura traumática do matrimônio para um dos cônjuges, em decorrência de desavenças que podem causar entre os mesmos, ou por parte de um deles, um sentimento de animosidade, desencadeando um processo de desmoralização e descrédito do ex-companheiro, condicionando o infante a romper os laços afetivos com o outro progenitor, podendo com isso, causar danos psicológicos e de personalidade irreversíveis, com trágicas consequências para sua vida. Como parte vulnerável da situação, a prole é utilizada de forma inconsequente pelos pais.

Trata-se de uma campanha liderada pelo genitor detentor da guarda da prole, no sentido de programar a criança para que odeie e repudie, sem justificativa, o outro genitor, transformando a sua consciência mediante diferentes estratégias, com o objetivo de obstruir, impedir, ou mesmo destruir os vínculos entre o menor e o pai não guardião, caracterizado, também, pelo conjunto de sintomas dela resultantes, causando, assim, uma forte relação

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de dependência e submissão do menor com o genitor alienante. E, uma vez instaurado o assédio, a própria criança contribui para a alienação (MADALENO; MADALENO, 2018, p.48).

Importante frisar que os Tribunais brasileiros já reconhecem a Síndrome da Alienação Parental como uma doença, ou seja, as sentenças proferidas demonstram que a Alienação Parental afeta o desenvolvimento psíquico das crianças e adolescentes submetidas a este tipo de lavagem cerebral, onde os mesmo aprendem a serem manipuladores, possuindo assim, uma tendência a repetir a mesma estratégia em suas furas relações.

Para entender completamente este cenário, é preciso compreender que o processo de implementação da SAP, manifesta-se numa atmosfera baseada sobre o terror psicológico. É a instalação do terror pelo genitor alienante com a criança que acaba alimentando as condutas denegritórias e, o medo decorrente disso, nos remete ao que a psicanálise estabelece como sendo a emoção mais fundamental e inerente à natureza humana; "o medo do abandono"(BONE; WALSH, 2019).

A jurista Maria Berenice Dias explica que a Síndrome da Alienação Parental pode ser chamada também de implantação de falsas memórias, pois o genitor alienador passa a implantar na mente do menor falsas ideias acerca do outro progenitor, onde a verdade do alienador passa a ser verdade para o filho, implantando-se, assim, as falsas memórias (DIAS, 2016, p. 909).

Muitas vezes, quando da ruptura da vida conjugal, se um dos cônjuges não consegue elaborar adequadamente o luto da separação, com o sentimento de rejeição, ou a raiva pela traição, surge o desejo de vingança que desencadeia um processo de destruição, de desmoralização, de descrédito do ex-parceiro. Sentir-se vencido, rejeitado, preterido, desqualificado como objeto de amor, pode fazer emergir impulsos destrutivos que ensejam desejo de vingança, dinâmica que faz com que muitos pais se utilizem de seus filhos para o acerto de contas do débito conjugal (DIAS, 2016, p. 907-908).

Já no ordenamento pátrio, o conceito da alienação parental está definido no artigo 2º da Lei 12.318/2010, bem como os sujeitos que podem incorrer na sua prática, não se restringindo apenas aos progenitores, mas também sendo vedada sua prática aos avós, padrinhos, irmãos ou a quem possa se valer de sua autoridade parental a fim de prejudicar um dos genitores, ou até mesmo os demais parentes citados anteriormente, pois também podem vir a ser vítimas dessa campanha denegritória.

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Art. 2o Considera-se ato de alienação parental a interferência na formação psicológica da criança ou do adolescente promovida ou induzida por um dos genitores, pelos avós ou pelos que tenham a criança ou adolescente sob a sua autoridade, guarda ou vigilância para que repudie genitor ou que cause prejuízo ao estabelecimento ou à manutenção de vínculos com este (BRASIL, 2019).

Dessa forma, uma mãe ou um pai que se mostra indiferente, ausente e que abusa de uma autoridade sem justificativa e que não condiz com a realidade, ignorando o melhor interesse dos rebentos, acabam estes por serem afetados de diversas maneiras, sentindo-se abandonados e impotentes diante da ruptura e das mudanças da estrutura familiar, onde os pais representam segurança perante a sociedade, principalmente quando estão em idade escolar, onde saem da proteção do lar e ingressam no mundo de adversidades.

1.2 Diferenças entre alienação parental e síndrome da alienação parental

No conceito elaborado por Gardner, este fenômeno resultante da combinação de lavagem cerebral com a contribuição do próprio menor, no sentido de difamar o genitor não guardião, sem qualquer justificativa, caracteriza a Síndrome da Alienação Parental, e seu diagnóstico é ligado aos sintomas que são verificados no menor (MADALENO E MADALENO, 2018, p.48).

De acordo com a designação de Richard Gardner, existem diferenças entre a síndrome da alienação parental e apenas a alienação parental; a última pode ser fruto de uma real situação de abuso, de negligência, de maus-tratos ou de conflitos familiares, ou seja, a alienação, o alijamento do genitor é justificado por suas condutas (como alcoolismo, conduta antissocial, entre outras), não devendo se confundir com os comportamentos normais, como repreender a criança por algo que ela fez, fato que na SAP é exacerbado pelo outro genitor e utilizado como munição para injúrias. Podem, ainda, as condutas do filho ser fator de alienação, como a típica fase da adolescência ou meros transtornos de conduta. Alienação é, portanto, um termo geral que define apenas o afastamento justificado de um genitor pela criança, não se tratando de uma síndrome por não haver o conjunto de sintomas que aparecem simultaneamente para uma doença específica (MADALENO; MADALENO, 2018, p. 63).

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Segundo a conceituação acima, a Alienação Parental consistiria em uma campanha denegritória exercida por parte de um dos genitores em face do outro, onde a criança é induzida a romper relações com o progenitor alienado em decorrência de fatos que verdadeiramente ocorreram. Já a SAP, decorreria de um conjunto de sintomas decorrente da própria alienação, que leva o infante a se afastar do progenitor alienado de forma injustificada.

Na mesma linha de raciocínio, Major (2019) ressalta que na SAP não há nenhum abuso parental verdadeiro ou negligência por parte do genitor alienado que poderia justificar a animosidade por parte do infante, bem como também não é caso de SAP se a criança ainda possui um relacionamento positivo com o progenitor, ainda que o outro esteja tentando alienar a criança.

Como é verdadeiro em outras síndromes, há na SAP uma causa subjacente específica: a programação por um genitor alienante, conjuntamente com contribuições adicionais da criança programada. É por essas razões que a SAP é certamente uma síndrome, e é uma síndrome pela melhor definição médica do termo. Ao contrário, a AP não é uma síndrome e não tem nenhuma causa subjacente específica. Nem os proponentes do uso do termo AP alegam que seja uma síndrome. Realmente, a AP pode ser vista como um grupo de síndromes, que compartilham do fenômeno da alienação da criança de um genitor. Referir-se à AP como um grupo de síndromes levaria necessariamente à conclusão de que a SAP é uma das sub-síndromes sob a rubrica da AP e enfraqueceria desse modo o argumento daqueles que alegam que a SAP não é uma síndrome (GARDNER, 2019).

Neste sentido, podemos concluir que a Síndrome da Alienação Parental é um conjunto de sintomas que levam o infante a reduzir ou romper nos casos mais grave a relações com um de seus genitores, onde o próprio menor acaba contribuindo de forma injustificada para o processo de alienação em decorrência da programação psicológica exercida pelo genitor guardião contra o ex-cônjuge.

1.3 Como identificar a prática da alienação parental

O modo como se identifica e se explica as atitudes do genitor alienador está muitas vezes associada a uma modificação no status quo familiar, quer pelo novo relacionamento afetivo do ex companheiro, quer pelas condições econômicas advindas do fim do vínculo conjugal, discordância acerca do período de convivência

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com a prole e até pelo ingresso de ação revisional de alimentos (FREITAS, 2014, p.27-28).

Dito isto, um dos primeiros sintomas da instauração da SAP acorre quando a criança ou o adolescente aceita a campanha do genitor alienante contra o outro e passa, ela mesmo, a desencadear o papel de atacar o pai alienado com agressões, insultos, bem como a própria interrupção da convivência, passando a tratar seu genitor como um estranho, cultivando dentro de si um sentimento de desprezo em relação ao progenitor alienado, embora intimamente, ame da mesma forma que o outro genitor (MADALENO; MADALENO, 2018, p. 49).

Conforme assevera Maria Helena Diniz, a prole é utilizada como instrumento da hostilidade do genitor guardião em relação ao outro, desencadeando um processo de desmoralização, onde o infante é levado a afastar-se de quem ama e que também o ama (DIAS, 2016, p.908). Este fenômeno manifesta-se principalmente no ambiente da mãe, devido à tradição de que a mulher seria mais indicada para exercer a guarda dos filhos quando ainda pequenos (DIAS, 2016, p.908-909)

Assim, uma das técnicas mais importantes para a detecção da SAP é relativa à existência de uma relação profícua entre o menor e o genitor não guardião anteriormente a separação do casal, bem como a deterioração sistemática desta relação após o rompimento conjugal, sendo que a identificação desse afastamento progressivo entre a prole e o progenitor, é um indicador fundamental da presença da alienação (BONE; WALSH, 2019).

Dito isto, pode-se considerar a prática de alienação parental como sendo além de uma forma abuso moral, uma agressão dirigida contra o infante, onde a identificação desse processo de desmoralização do ex parceiro pode ser de extrema dificuldade haja visto que na maioria dos casos esse procedimento é desencadeado no ambiente materno, sendo o filho nesses casos, utilizado como instrumento da agressividade contra o ex-parceiro, o que poderá acarretar em graves danos psicológicos que poderão perdurar pelo resto da vida desse menor.

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geralmente está associada ao início da prática da alienação parental ou a sua realização em um nível diferente do que vinha comumente se realizando” (FREITAS, 2014, p. 28). Dessa forma, se o genitor alienado ou alguém da família identifica possíveis indícios de alienação, devem estes num primeiro momento, tentar chegar a um entendimento acerca do problema, exigindo-se de ambos os envolvidos uma mudança de comportamento e na maneira de viver a fim de impedir que os danos causados pela alienação se tornem irreversíveis a médio e a longo prazo.

No entendimento de Gardner (2019), é possível identificar a criança que sofre da Síndrome da Alienação Parental observando sintomas, que podem apresentar-se conjuntamente ou isoladamente, dependendo da gravidade, porém, na maioria dos casos, esses sintomas aparecem interligados na criança, especialmente nos tipos mais graves de alienação.

1.Uma campanha denegritória contra o genitor alienado. 2. Racionalizações fracas, absurdas ou frívolas para a depreciação. 3. Falta de ambivalência. 4. O fenômeno do “pensador independente”. 5. Apoio automático ao genitor alienador no conflito parental. 6. Ausência de culpa sobre a crueldade a e/ou a exploração contra o genitor alienado. 7. A presença de encenações ‘encomendadas’. 8. Propagação da animosidade aos amigos e/ou à família extensa do genitor alienado. (GARDNER, 2019)

Combater a SAP é extremamente difícil, tanto para o genitor alienado, que se vê impotente e por consequência acaba as vezes se desligando do filho, tanto para os profissionais do Direito, que muitas vezes não conhece as reais circunstâncias do caso, como também para os profissionais da área da psicologia e da psiquiatria que não possuam aptidão necessária para identificar e lidar com estes casos, podendo, inclusive, serem ludibriados pelo genitor alienante, neste caso, geralmente quando a SAP já está instalada e o menor possui pensamentos e escolhas autônomas, podendo o alienador nesses casos, desempenhar o papel de conciliador, desvirtuando a realidade dos fatos perante as esquipes multidisciplinares, que farão parte como um dos instrumentos no conjunto probatório da ação. (MADALENO; MADALENO, 2018, p. 67).

Perante o Poder Judiciário deve haver cuidado ao serem feitas vistas grossas para determinadas situações, que, se examinadas com maior afinco e tomadas as devidas precauções, ainda não evoluiriam para um quadro mais grave de SAP. Os Juízes de família devem ter informação suficiente acerca dos elementos que identificam a síndrome, para, assim que surgirem os

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sintomas, ordenarem rigorosa e compulsória perícia psicossocial (MADALENO; MADALENO, 2018, p. 68).

Nesse contexto, torna-se evidente a importância da perícia multidisciplinar nos casos em que há indícios da prática de Alienação Parental a fim de que o Magistrado possa formar sua convicção referente aos fatos como eles realmente se apresentam e, com isso, embasar sua decisão com fundamentos robustos, tendo em vista serem essas perícias, elaboradas por uma equipe de profissionais da área da psicologia, medicina, assistência social, entre outros.

A equipe multidisciplinar possui o prazo de 90 dias para apresentar um laudo em relação à ocorrência de alienação e, caso seja constatada a prática, o processo passa a ter tramitação prioritária e o juiz determinará com urgência as medidas provisórias visando a preservação da integridade psicológica da criança, inclusive para assegurar a sua convivência com o genitor e efetivar a reaproximação de ambos (CNJ, 2019).

A perícia multidisciplinar consiste na designação genérica das perícias que poderão ser realizadas em conjunto ou separadamente em determinada ação judicial. É composta por perícias socias, psicológicas, médicas, entre outras que se fizerem necessárias para o subsidio e certeza da decisão judicia (FREITAS, 2014, p. 40).

Dito isto, torna-se necessário que tanto o Poder Judiciário quanto as equipes multidisciplinares envolvidas, obtenham o maior número de informações possíveis sobre o caso concreto, sendo que só detectá-la não basta, porquanto medidas enérgicas precisam ser tomadas para combatê-la de frente a fim de evitar maiores danos aos infantes.

1.4 Síndrome da alienação parental versus denúncia de abuso sexual

Normalmente quando o comportamento do agente alienador, no sentido de obstruir o contato e as visitas entre o menor alienado e o outro progenitor não surte efeito, é comum a falsa imputação de abuso sexual cometida contra o infante. Nesse caso, infelizmente a criança é convencida da ocorrência de fatos que na verdade não ocorreram.

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Neste jogo de manipulações todas as armas são utilizadas, inclusive a denúncia de abuso sexual. A narrativa de um episódio durante o período de visitas que possa configurar indícios de tentativa de aproximação incestuosa é o que basta. O filho é convencido da existência do acontecimento e levado a repetir o que lhe é afirmado como tendo realmente ocorrido (DIAS, 2019, pg. 04).

Nesse contexto, conclui-se a necessidade de se identificar os sintomas que possibilitem constatar que se está a frente da SAP e que a falsa imputação de abuso sexual foi proferida com o intuito de vingança do ex-campanheiro, objetivando obstruir o contato entre o filho e o genitor alienado. Para isso, se faz necessário a designação de perícias multidisciplinares conforme abordado anteriormente, onde haverá o envolvimento de profissionais da área da psiquiatria, psicologia, assistência social, entre outros, no intuito de identificar a ocorrência ou não do abuso, distinguindo o que é verdade, e o que é falso nas alegações, bem como a necessidade do Magistrado possuir elevado conhecimento acerca da temática para que possa fundamentar sua decisão com convicção.

No caso de falsa alegação de abuso sexual, o genitor alienante programa falsas memórias na criança e a faz repetir como se realmente tivesse sido vítima do incesto, e dificilmente a criança percebe a manipulação que sofre , e acredita piamente serem verdadeiras as alegações forjadas pelo alienador, sendo que, com o tempo, até mesmo o alienador confunde a verdade da história fictícia (MADALENO; MADALENO, 2018, p. 54).

Assim, pode-se concluir que estas falsas memórias podem ser provocadas a partir de informações falsas que são apresentadas aos menores. O que se denomina de Implantação de Falsas Memórias advém, justamente, da conduta doentia do genitor alienador, que começa a fazer com o filho uma verdadeira lavagem cerebral, com a finalidade de denegrir a imagem do outro alienado, e, pior ainda, usa a narrativa do infante acrescentando maliciosamente fatos não exatamente como estes se sucederam, e ele aos poucos vai se convencendo da versão que lhe foi implantada.

A criança nem sempre consegue discernir que está sendo manipulada e acredita naquilo que lhe foi dito de forma insistente e repetida. Com o tempo, nem a mãe consegue distinguir a diferença entre a verdade e a mentira. A sua verdade passa a ser verdade para o filho, que vive com falsas personagens de uma falsa existência. Implantam-se, assim, falsas memórias (DIAS, 2019).

Assim, com o objetivo de afastar a criança de quem o ama, objetivando a destruição do vínculo afetivo entre genitor e filho, o alienador acaba provocando o

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Poder Judiciário, esperando exclusivamente a interrupção das visitas, pois o magistrado diante da gravidade da denúncia, não tem outra opção senão suspender por hora o contato entre a criança e o denunciado e determinar como medida urgente a realização da perícia multidisciplinar a fim de averiguar a veracidade do que foi imputado.

Importante ressaltar que o juiz não está obrigado por força de Lei, a tomar decisões nos autos conforme o parecer pericial, contudo é obrigado a fundamentar sua decisão caso contrarie o laudo pericial, uma vez que os profissionais envolvidos na perícia multidisciplinar interpretam os fatos de acordo com seu conhecimento técnico (FREITAS, 2014, pg. 70).

Quando tais acusações são narradas, por exemplo, em ações de redução ou de suspensão de período de convivência ou modificação de guarda, o magistrado, ainda que desconfie de sua veracidade, deve prezar pelo melhor interesse do menor, devendo dar a tutela necessária para evitar majoração do dano ante a possível veracidade da acusação. Outrossim, salvo raros casos, não se justifica a cessação total do contato com o genitor acusado, devendo, por exemplo, manter períodos de convivência vigiados até a conclusão da investigação (FREITAS, 2014, pg. 38).

Porém, quando há indícios de que se está havendo falsas alegações de abuso por parte do genitor alienante, não há justificativa segundo os profissionais especializados e envolvidos na área, para que haja o interrompimento total do contato entre o infante e o genitor alienado, devendo nesse caso, manter períodos de convivência assistidas até a conclusão da investigação e para que o Magistrado possa formar seu convencimento.

Dito isto, de um lado, existe o dever de se tomar uma atitude num menor espaço de tempo a fim de resguardar e proteger o infante de futuros abusos, de outro, há o receio de que, se a denúncia for falsa, traumática será a situação em que o menor estará envolvido, pois ficará privado do convívio com o genitor que eventualmente não lhe causou qualquer mal. (DIAS, 2016, p. 909-910).

No entanto, é preciso ter prudência quando se trata de alegação dessa natureza, pois o infante pode realmente estar sendo vítima de abuso por parte do progenitor que em muitos casos se utiliza da própria SAP para justificar e culpar o ex-

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cônjuge pelo afastamento e a animosidade entre ele e sua prole (MADALENO; MADALENO, 2018, p.54).

Importante frisar que nos casos de denúncia falsa de abuso sexual por parte de um dos progenitores, a avaliação para diagnosticar a incidência da síndrome ou mesmo a terapia mal conduzida podem contribuir para o crescimento destas mentiras, incumbindo aos profissionais que trabalham com a temática o máximo de conhecimento e preparo, a fim de averiguar a procedência da denúncia e evitar maiores danos, tanto para o infante como para o genitor alienado.

1.5 Características do agente alienador

O modo como se identifica e se explica as atitudes do genitor alienador está muitas vezes associada a uma modificação no status quo familiar, quer pelo novo relacionamento afetivo do genitor, quer pelas condições econômicas advindas do fim do vínculo conjugal e até pelo ingresso de ação revisional de alimentos ou discordância acerca do período de convivência com a prole (FREITAS, 2014, p.27-28).

Esses procedimentos que são levados a cabo pelo alienador no processo de implementação da SAP, costumam iniciar com pequenas atitudes como por exemplo, não passar o telefone para o filho quando o outro genitor telefona, não informar o genitor acerca dos compromissos importantes da escola, onde geralmente se faz necessária a presença de ambos, como também nos casos onde o genitor alienante denigre a imagem do genitor alienado com o objetivo covarde de usurpar o sadio e fundamental contato entre pais e filhos, o qual é de fundamental importância na formação psicológica e no desenvolvimento da personalidade desse menor (MADALENO; MADALENO, 2018, p. 51). Assim, nos casos severos de alienação parental, a criança recebe uma lavagem cerebral intensa acerca do pai alienado (MAJOR, 2019).

Nesse sentido, apesar de o genitor alienador acusar o outro de maus tratos, negligência e desinteresse em relação aos filhos, ele é o que causa maiores danos, sendo que a alienação parental se constitui em uma verdadeira forma de abuso psicológico contra crianças e adolescentes que são a eles submetidos. Assim, essas atitudes que objetivam excluir o genitor alienado do convívio não se limitam somente

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a pessoa do genitor alienador, mas ao contrário, estendem-se aos avós ou aos que tenham a criança ou adolescente sob a sua guarda, autoridade ou vigilância.

Freitas (2014, p. 34) adverte que o rol do art. 2 da Lei de Alienação Parental é exemplificativo, pois tanto o conceito como as hipóteses e os sujeitos que podem incorrer na prática de alienação, não se restringem apenas aos genitores, mas levando a vedação de tal prática a tios, avós, padrinhos, tutores, enfim, todos os que possam se valer de sua autoridade parental ou afetiva com o intuito de prejudicar um dos genitores.

Ressalto que, após a leitura e análise de diferentes doutrinas e artigos científicos, percebe-se que a prática da alienação parental pode ocorrer em alguns casos quando o casal ainda vive no mesmo lar, e que o ato da alienação não se restringe somente a pessoa da mãe ou do pai ou com quem está com a guarda do filho, mas também pode ocorrer frente a avós, padrinhos e até entre irmãos.

Dessa forma, por acarretar gravíssimas consequências ao infante, a síndrome da alienação parental, assim que forem detectados indícios de sua ocorrência pelo alienador, necessita-se de imediata e efetiva intervenção do Poder Judiciário no sentido de impedir que este mal acabe se instalando e acabe inevitavelmente prejudicando o desenvolvimento psicológico do menor vítima desse ilícito.

1.6 Consequências para o menor alienado

Durante o processo de separação litigiosa de um casal, é comum que exista certo grau de conflito entre os cônjuges devido a ruptura da vida em comum. Contudo, por motivos que vão desde o desejo de vingança pela traição ou pelo abandono, esse grau de desentendimento em muitos casos alcança níveis perigosos, acabando inevitavelmente por atingir direta ou indiretamente o elo mais fraco que são os filhos.

Segundo Madaleno e Madaleno (2018, p.66), o modo como o casal enfrenta a dissolução do matrimônio é determinante para verificar a maneira como sua prole se comportará no futuro em suas próprias relações pessoais e tanto a ansiedade como a angústia que os menores sentem durante esse processo de adaptação, tendem a

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desaparecer se os pais no decorrer da separação retomam a rotina.

Importante ressaltar que o menor nesse contexto, dificilmente consegue distinguir o que de fato é verdade nas argumentações dos pais, porém acaba sendo convencido através da manipulação exercida pelo alienador da “veracidade’’ dos acontecimentos, e com isso é levado a reproduzir o que lhe foi dito como sendo a verdade, e no decorrer do tempo acabam por auxiliar no afastamento daquele genitor não detentor da guarda, pois temem perder o amor daquele que dissimuladamente o protege.

Pessoas submetidas à alienação mostram-se propensas a atitudes antissociais, violentas ou criminosas; depressão, suicídio e, na maturidade, revelasse o remorso de ter alienado e desprezado um genitor ou parente, assim padecendo de forma crônica de desvio comportamental ou moléstia mental, por ambivalência de afetos (DIAS, 2016, p. 909). “Elas amadurecem antes do tempo, ficam espertas e aprendem a interpretar a atmosfera emocional, dizer meias verdades até o estágio em que as mentiras farão parte do cotidiano” (BONE; WALSH, 2019).

Muitas vezes ela vai deixar de conviver com um dos pais da forma como convivia, diariamente, ela vai ter que estar na casa de um ou de outro e essa divisão para a criança, numa fase em que ela ainda não tem maturidade, o cérebro ainda está em desenvolvimento, causa uma ansiedade, um estresse e, dependendo da estrutura familiar, esse estresse pode ser tolerável ou pode ser tóxico (ARAÚJO, 2019).

Nesse contexto, percebe o quão gravoso torna-se para criança ou adolescente conviver em um ambiente com este tipo de conflito familiar, tanto na infância e juventude e, a longo prazo em suas relações pessoais, como também pode gerar problemas que de certa forma acabam por “respingar’’ na sociedade, devendo o Judiciário tomar as providencias necessárias a fim de estancar este mal sociofamiliar..

Já no caso de pais superprotetores, algo comum no comportamento do genitor alienador, os filhos tendem a se tornar inseguros e dependentes podendo surgir a longo prazo um inevitável sentimento de culpa, onde esse filho se vê conivente com esta campanha infundada e inverídica contra seu progenitor (MADALENO; MADALENO, 2018, p. 67). Porém, podemos observar que nos casos em que a SAP

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está em um nível mais avançado, não existe qualquer sentimento de culpa do infante acerca dos sentimentos gerados no genitor alienado, onde os sacrifícios são vistos como mera obrigação do genitor.

Pode-se observar, que este sentimento de insegurança e dependência dos rebentos em relação ao agente alienador, decorre muitas vezes da própria superproteção da mãe ou do pai, pois os mesmos mostram-se ansiosos e inseguros no sentido de não fracassarem na educação do filho e principalmente temendo que sua prole deixe de amá-lo.

Na área psicológica, também são afetados o desenvolvimento e a noção do autoconceito e autoestima, carências que podem desencadear depressão crônica, desespero, transtorno de identidade, incapacidade de adaptação, consumo de álcool e drogas e, em casos extremos, pode levar até mesmo ao suicídio. A criança afetada aprende a manipular e utilizar a adesão a determinadas pessoas como forma de ser valorizada, tem também uma tendência muito forte a repetir a mesma estratégia com as pessoas de suas posteriores relações, além de ser propenso a desenvolver desvios de conduta, com a personalidade antissocial, fruto de um comportamento com baixa capacidade de suportar frustrações e controlar seus impulsos, somado, ainda, à agressividade com único meio de resolver conflitos [...] (MADALENO; MADALENO, 2018, p. 66).

Outros problemas que podem surgir em decorrencia dessa triste realidade são o desinteresse e a desatenção da criança e adolescente no ambiente escolar, prejuízos em relação ao sono, dores de cabeça, entre outros sintomas, como sendo uma forma de manifestação física por parte da prole (ARAÚJO, 2019).

Assim, nos casos em que o processo de instalação da SAP encontra-se consolidado, constata-se conforme abordado anteriormente, a inexistência de qualquer sentimento de culpa por parte do menor em relação ao progenitor alienado e, não havendo nenhuma atitude que cesse essa conduta alienadora, a criança irá inevitavelmente se afastar do pai alienado, interrompendo seu processo normal de desenvolvimento, podendo desencadear dificuldades na formação e na manutenção

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de vínculos afetivos, isolamento, depressão e outros entre outros transtornos que vão afetar toda a vida da pessoa.

1.7 Medidas de combate a incidência da SAP

‘’No contexto histórico, a prole sempre esteve sob a proteção e os cuidados da mãe, pois os homens foram educados para serem provedores da família, enquanto as mulheres eram educadas para desempenharem as atividades domésticas’’ (DIAS, 2016, pg. 875). “Contudo, com o ingresso das mulheres do mercado de trabalho, os maridos foram convocados a participar mais da vida dos filhos e, consequentemente, passaram a reivindicar maior convívio com a prole, quando da separação do casal’’ (DIAS, 2016, pg. 876).

Desse modo, os membros que compõem esse seio familiar precisam se adaptar a essa nova realidade, o que torna complexa essa possibilidade quando o casal possui filhos, e um dos cônjuges não aceita separação, ou mesmo concordando, cultiva dentro de si, sentimentos de desprezo em relação ao ex-companheiro, podendo esse desapreço ser o gatilho para a prática da alienação.

Quando a SAP já está instalada, em seu estágio mais grave, a manipulação do filho alienado é diária e sistemática, destruindo qualquer avanço que a terapia possa conseguir, bem como a mediação, uma vez que o alienador resiste a qualquer prova que contrarie sua visão irracional. Portanto

Nesse sentido, é pacífico o entendimento de que é preciso buscar medidas que garantam o direito da criança à ampla convivência com ambos os pais após o rompimento conjugal. Além disso, entende-se que se deve privilegiar medidas que venham a evitar que desavenças os pais atinjam e se instalem no menor, reconhecendo-se que a adoção da guarda compartilhada pode vir a facilitar a compreensão da importância do convívio da criança com ambos os pais, mesmo que estejam separados.

Com efeito, na guarda compartilhada, é assegurado a ambos os cônjuges os deveres inerentes do poder familiar, não havendo nenhuma divisão quanto a tais direitos. De maneira que não existe estabelecimento de dias e horário de

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visitas, com que os filhos devam passar às férias ou o final de ano; tudo é decidido em comum acordo entre os cônjuges com o decorrer do tempo (SILVA, 2014, pg. 611).

Assim, a aplicação da guarda compartilhada exige de ambos os genitores e de forma consensual, como já abordado anteriormente, as decisões referentes a criação dos filhos, proporcionando aos pais que não possuem a guarda física, um maior contato com a prole e com isso venham a estabelecer um ambiente onde o menor sente-se protegido e consequentemente, absorve de maneira mais natural os efeitos da separação dos pais, evitando-se assim a instalação da SAP, pois o progenitor que não detém a guarda física, terá livre acesso ou pelo menos maior contato com o filho.

[...] a responsabilização conjunta e o exercício de direitos e deveres do pai e da mãe, que não vivam sob o mesmo teto, concernentes ao poder familiar dos filhos comuns, ou seja, o pai e a mãe detém o poder familiar dos filhos havidos na união conjugal, e, conjuntamente, ambos dever exercer os direitos e deveres em relação aos filhos comuns, muito embora não vivam sob o mesmo teto (SILVA, 2014, p. 611).

Nesse contexto é pacífico o entendimento de que todo infante é merecedor e detentor de direitos próprios e especiais que, devido a sua condição de pessoa em pleno desenvolvimento, necessita assim de uma proteção, especializada e integral e, o Poder Judiciário através de seu ordenamento jurídico bem como a família e a sociedade possuem o dever de proteger o elo hipossuficiente do ceio familiar que são as crianças e os adolescentes, a fim de garantir o pleno desenvolvimento dos mesmos.

Para a Jurista Ana Maria Milano Silva “(...) o exercício do poder familiar por ambos os genitores enquanto a família continua unida, não cria qualquer dificuldade. Porém, quando emerge o conflito, pelo rompimento do vínculo da convivência, a situação é completamente diferente e a guarda compartilhada vem para minorar os efeitos do conflito existente sobre a pessoa dos filhos (SILVA, 2008, pg. 105).

Dito isto, pode-se concluir que seja necessário uma radical mudança de atitude de todos envolvidos no caso concreto, tanto da família, das equipes multidisciplinares, quanto do Poder Judiciário, na busca de distintos mecanismos e de políticas públicas

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que colaborem para que haja maior engajamento dos pais no cotidiano da vida dos filhos, tornando-se esse fato uma prioridade.

Em relato pessoal, objetivando trazer sua experiencia pessoal para os profissionais que combatem a Alienação Parental, Podevyn, (2019) pai de família e também vítima da Alienação Parental, relata que após o seu divórcio, percebeu um progressivo afastamento de seus três filhos em relação a ele, apesar dos esforços que fazia para manter a proximidade com as crianças.

Há seis meses, ignorava tudo sobre Síndrome de Alienação Parental. Depois que me separei da mãe de meus 3 filhos, vejo-os afastarem-se de mim cada vez mais, apesar de todos os meus esforços. Graças à Internet encontrei - como outros - uma abundante literatura sobre este assunto (PODEVYN, 2019).

No entanto, Podevyn (2019) alerta para o fato que a convicção de que o interesse do infante é prioridade em qualquer circunstância e que o melhor genitor na verdade são ambos os pais, podem ter um efeito danoso para o menor caso o casal não consiga superar o processo da separação, onde cada um procura demonstrar que o outro é mau exemplo pra o filho, o que coloca a criança em um disputa da qual ela não consegue discernir o que de fato é verdade.

Diante desse cenário, “a mediação torna-se uma importante ferramenta, uma vez que seu objetivo é reestabelecer a comunicação entre as partes, onde o mediador deverá estar apto a conduzir o procedimento, onde após ouvir as partes e analisar os fatos, tentará achar alternativas a fim de que os genitores possam chegar a um consenso nem que provisoriamente (MADALENO; MADALENO, 2018, pg. 69).

Quando a SAP já está instalada, em seu estágio mais grave, a manipulação do filho alienado é diária e sistemática, destruindo qualquer avanço que a terapia possa conseguir, bem como a mediação, uma vez que o alienador resiste a qualquer prova que contrarie sua visão irracional. Portanto, permitir que seja mantido o contato diário e exclusivo do genitor alienante com a criança é compactuar com o abuso emocional exercido sobre ele (MADALENO; MADALENO, 2018, pg. 69).

Contudo, o artigo 9º do então projeto de Lei 12.318/2010 que tratava da possibilidade de se utilizar do procedimento da mediação para solução do conflito, antes ou durante o processo judicial foi vetado, pois entendeu-se que o direito da

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criança e do adolescente à convivência familiar é indisponível, nos termos do artigo 227 da Constituição Federal, não cabendo sua apreciação por mecanismos extrajudiciais de solução de conflito, bem como o dispositivo contraria a lei 8069 de 1990 (ECA), que prevê a aplicação do princípio da intervenção mínima, segundo o qual, eventual medida para a proteção do infante deve ser exercida exclusivamente pelas autoridades e instituições cuja ação seja indispensável (BRASIL, 2019).

No entanto, o veto a este artigo pode ser considerado um erro importante, pois não há ilegalidade jurídica em possibilitar que as próprias partes envolvidas, discutam, mediadas por uma terceira pessoa e, que, através de seu conhecimento técnico acerca do tema, auxilia as partes conflitantes a encontrarem um consenso acerca do problema. Nesse caso o mediador facilitaria a comunicação de modo a auxiliar a melhor compreensão dos pais referente às questões da prole, não configurando assim uma agressão ao princípio da intervenção mínima e do direito indisponível da criança e do adolescente, pois seria uma forma mais saudável de sanar o conflito existente, fazendo com que as partes reconheçam os prejuízos causados aos infantes, objetivando a proteção integram dos mesmos.

Outra medida a ser imposta pelo Judiciário a fim de combater ou amenizar os efeitos da SAP, vão desde uma simples advertência ao genitor até a ampliação do regime de convivência familiar em favor do genitor alienado, estipulação de multa ao alienador, determinação de acompanhamento psicológico ou biopsicossocial, alteração da guarda compartilhada ou a sua inversão e declarar a suspensão da autoridade parental (MPPR, 2019).

Dessa forma, por acarretar gravíssimas consequências ao infante, violando o princípio da proteção integral do menor, artigo 1o do ECA, bem como o direito fundamental à dignidade, cláusula pétrea da constituição, a síndrome da alienação parental, assim que forem detectados indícios de sua ocorrência, necessita-se de imediata e efetiva intervenção do Poder Judiciário no sentido de impedir que a síndrome se instale e crie corpo.

Não podemos deixar de estar atentos, pois inúmeros casos de alienação parental têm ocorrido cada vez mais, estão no dia a dia afetando crianças e

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adolescentes em nossa sociedade devido ao enfraquecimento das relações familiares, e as consequências destas praticas chegam até o Judiciário que fica obrigado e responsável por tomar decisões a fim de afastar a criança da situação de risco em que se encontra

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2. MECANISMOS CONSTITUCIONAIS E INFRACONSTITUCIONAIS COMO FORMA DE PROTEÇÃO INTEGRAL DOS INFANTES NO ÂMBITO FAMILIAR E DE COMBATE A SAP

Por acarretar gravíssimas consequências ao infante, o legislador previu na lei 12.318/2010, que partes, magistrado ou representante do Ministério Público, ao identificarem a prática da alienação, devem conferir tramitação prioritária ao processo, como também promover medidas assecuratórias dos direitos do infante e em defesa do genitor alienado pois está pacificado o entendimento de que todo infante é merecedor e detentor de direitos próprios e especiais que, devido a sua condição de pessoa em pleno desenvolvimento, necessita assim de uma proteção, especializada e integral.

Assim, o Poder Judiciário através de seu ordenamento jurídico bem como a família e a sociedade possuem o dever de proteger o elo hipossuficiente do ceio familiar que são as crianças e os adolescentes, a fim de garantir o pleno desenvolvimento dos mesmos.

2.1 Análise da Constituição Federal (CF/88)

Os direitos humanos da criança e do adolescente podem ser compreendidos como uma série de direitos fundamentais que primeiramente foram reconhecidos em textos universais, diante do consenso da maioria das nações do mundo acerca da importância da cooperação internacional para a melhoria das condições de vida das crianças em todo mundo. Dentre esses acordos internacionais, destacam-se a Declaração Universal dos Direitos Humanos e a Convenção sobre os Direitos da Criança, considerada um dos documentos mais importantes referente as garantias e aos direitos humanos dos infantes, sendo adotada pela Assembleia Geral da ONU em 20 de novembro de 1989, entrando em vigor em 02 de setembro de 1990, onde ficou estabelecido que as decisões públicas relacionadas as crianças devem ser tomadas atendendo o princípio do interesse superior delas (UNICEF, 2019).

Importante mencionar que crianças e adolescentes, nos termos da aludida Convenção Internacional e à luz do contido no próprio ECA (cf. art. 100, par. único, inciso I), não podem ser vistos ou tratados como meros “objetos (ou

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destinatários) de medidas de proteção”, mas sim devem ser reconhecidos como titulares de direitos fundamentais, dotados de autonomia e identidade próprias, aos quais deve ser facultada a participação na tomada das decisões que lhe afetarão diretamente (UNICEF, 2019).

Dessa forma, no Brasil, a criança e o adolescente além de terem seus direitos garantidos por tratados internacionais dos quais o Brasil é signatário, também lhes são resguardados principalmente pela Constituição Federal, pelo Estatuto da Criança e do Adolescente e pela Lei da Alienação Parental, sendo esta última, uma ferramenta específica de combate a violência física e psicológica no âmbito familiar conforme veremos no decorrer do trabalho.

Embora a Constituição Federal em seu texto pudesse ter assegurado mais direitos no que tange ao direito de família, a mesma em seu artigo 227 veio assegurar a todas as crianças e adolescentes, os direitos fundamentais da pessoa humana, a fim de protegê-las da violência e de abusos que milhares sofrem no âmbito familiar, a saber: direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária, além de colocá-los a salvo de toda forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão (BRASIL, 1988). Consagra a responsabilidade da família, sociedade e do Estado, no dever de assegurar com prioridade absoluta, o uso e gozo desses direitos fundamentais, reconhecendo a necessidade de uma proteção individualizada e integral diante da vulnerabilidade em que se encontram (DIAS, 2016, p. 79).

Ao gerar deveres recíprocos entre os integrantes do grupo familiar, safa-se o Estado do encargo de prover toda a gama de direitos que são assegurados constitucionalmente ao cidadão. Basta atentar que, em se tratando de crianças e de adolescentes, é atribuído primeiro à família, depois à sociedade e finalmente ao Estado o dever de garantir com absoluta prioridade os direitos inerentes aos cidadãos em formação (CF 227) (DIAS, 2016, p. 79).

Nesse sentido, para Dias (2016, pg 49), a família é considerada o primeiro agente socializador do ser humano, bem como a base da sociedade e, por essa razão, deve receber especial proteção do Estado, incumbindo-o dever de preservar o organismo familiar sobre o qual repousam suas bases.

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Diante disso, a criança e o adolescente conservam uma condição especial pelo fato de se encontrarem numa situação vulnerável em relação aos adultos, tanto fisicamente como psicologicamente, diferenciando-se por lhes serem conferidos direitos específicos, como o direito a convivência familiar e na comunidade na qual está inserido, sendo respeitado assim, o princípio fundamental da dignidade da pessoa humana que garante o dever dos responsáveis em levar em consideração o que a criança ou o adolescente tem a dizer, exceto quando estes não quiserem exprimir sua vontade ou ainda quando, em casos mais complexos, como no caso de alienação parental e denuncia de abuso sexual, se entenda, que tal procedimento, ainda que realizada por intermédio de profissionais especializados, poderá lhe ser prejudicial (IBDFAM, 2019).

Nesse contexto de proteção da família (que não é somente aquela dentro do casamento) e de todos os seus integrantes, as crianças e adolescentes foram reconhecidos como membros da entidade familiar e com direito de opinar sobre os assuntos da família e sobre seu melhor interesse (IBDFAM, 2019). Assim, quando violado o direito do convívio ou da integração familiar, que ocorre quando um dos genitores ou quem detêm a responsabilidade sobre o infante, priva-o do convívio com o outro genitor ou familiar, configura-se como uma verdadeira forma de abuso e violência psicológica, devendo a criança ser tratada com igualdade em todos os sentidos, sendo obrigação dos pais não apenas fornecer assistência material, mas também moral (PEREIRA, 2019).

Diante do texto constitucional de 1988, surgiram elementos a fim de consolidar, o efetivo exercício dos direitos dos infantes, integrando uma série de princípios que garantem o melhor interesse de crianças e adolescentes, e que buscam protegê-los, a fim de tornar a passagem pela infância, um momento especial, bem como servindo de ferramenta para o reconhecimento da criança como pessoa em condição peculiar em desenvolvimento, tendo em vista que encontram-se em pleno desenvolvimento físico e psicológico, garantindo a efetiva aplicação do princípio da proteção integral em todos os ambientes em que se encontram, especialmente no âmbito familiar, onde se presume haver afeto e proteção com a prole, mesmo os pais estando separados, tendo em vista serem atributos inerentes do poder familiar (JUSBRASIL, 2019).

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Segundo Madaleno e Madaleno (2018, p. 88), o foco constitucional da proteção do melhor interesse da criança e do adolescente, objetiva o desenvolvimento pessoal do menor, não só com a sua adequada inserção no núcleo familiar, mas também, procura promover uma articulação tanto pública como privada de proteção dos interesses superiores do infante, que não é mais uma continuação da personalidade dos pais como se considerava a tempos atrás, onde exerciam o poder sobre a prole sem qualquer intervenção dos órgãos públicos.

De acordo com o psicólogo português José Manuel Aguilar Cuenca (2012, p. 06), é dever dos pais comunicarem a separação aos filhos, escolhendo o momento adequado em que estejam próximos deles, devendo-se evitar expressões emocionais por parte dos genitores, bem como não achar culpados pelo fim do relacionamento, como também não usar de mentiras a fim de esconder os fatos, não devendo dar mais explicações que as necessárias, pois o que precisam saber é que os pais continuam a gostar deles e que estarão sempre disponíveis.

Dessa forma, quando um casal que possui filhos menores de idade e resolvem se divorciar, existem questões que precisam ser discutidas e definidas em ralação aos filhos, como guarda, alimentos, visitação, educação, dentre outras responsabilidades, uma vez que o casamento implica obrigações que, na separação, devem ser revistas e atribuídas a cada um dos cônjuges, incumbindo a eles, definirem estas questões de comum acordo, e se assim não o fizerem, caberá ao Magistrado decidir o que venha atender ao melhor interesse da criança ou do adolescente (MADALENO, 2018, p.37).

O fato de um casal possuir filhos lhe submete a alguns deveres que ultrapassam a dissolução de sua união ou casamento, sendo um compromisso legal e ético assegurar sustento, a guarda e a educação dos filhos comuns, ou seja, atributos do poder familiar, que não é dissolvido com o desenlace do par (MADALENO, 2018, p. 37).

Esse exercício do poder familiar possui características específicas, dentre elas a irrenunciabilidade, pois não poderá os pais desobrigar-se dos atributos do poder familiar tendo em vista ser uma corresponsabilidade e por isso uma obrigação do casal; a imprescritibilidade, pois o fato de em alguns casos os pais não exercer o poder familiar, isso não os destitui da obrigação de exerce-lo, bem como a indisponibilidade, pois o exercício do poder familiar não poderá ser transferido a terceiros pelos pais, a

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título oneroso ou gratuito, pelo contrário, a realização dessas tarefas legais pelos genitores devem ser cumpridas com amor e zelo, necessários afim de possibilitar o pleno e sadio desenvolvimento, tanto físico como mental dos filhos, a fim de evitar prejuízos irreversíveis para a vida (FREITAS, 2014, p. 86-87).

Art. 1.634. Compete a ambos os pais, qualquer que seja a sua situação conjugal, o pleno exercício do poder familiar, que consiste em, quanto aos filhos I - dirigir-lhes a criação e a educação; II - exercer a guarda unilateral ou compartilhada nos termos do art. 1.584; III - conceder-lhes ou negar-lhes consentimento para casarem; IV - conceder-lhes ou negar-lhes consentimento para viajarem ao exterior; V - conceder-lhes ou negar-lhes consentimento para mudarem sua residência permanente para outro Município; VI - nomear-lhes tutor por testamento ou documento autêntico, se o outro dos pais não lhe sobreviver, ou o sobrevivo não puder exercer o poder familiar; VII - representá-los judicial e extrajudicialmente até os 16 (dezesseis) anos, nos atos da vida civil, e assisti-los, após essa idade, nos atos em que forem partes, suprindo-lhes o consentimento; VIII - reclamá-los de quem ilegalmente os detenha; IX - exigir que lhes prestem obediência, respeito e os serviços próprios de sua idade e condição (BRASIL, 2002).

Esse atributo conferido a ambos os genitores, e, em casos excepcionais a um deles, na falta do outro, advém de uma necessidade natural, uma vez que todo ser humano durante sua infância, necessite de alguém que o crie, eduque, defenda, guarde e cuide de seus interesses (DINIZ, 2018, p. 642). Ainda, o genitor que não reside com a prole, tem, não apenas o direito em virtude da própria condição como genitor, mas também o dever de, visitá-la, de ter os filhos em sua companhia e de fiscalizar sua manutenção, educação, no sentindo de fazer valer os interesses do menor em qualquer circunstância, preparando-o assim para o futuro (MADALENO e MADALENO, 2018, p. 32-33)

Dessa forma, quando tratamos da separação dos pais, os filhos não são os únicos atingidos pelo rompimento conjugal, onde em muitos casos e por diversos motivos, o ex companheiro imputa situações e acontecimentos que desqualificam o outro genitor que também torna-se vítima, objetivando literalmente destruir os laços entre filho e genitor alienado, sendo necessário um esforço de ambos genitores, apesar de serem os provedores do conflito, para que a criança ou adolescente cresça em um ambiente que lhe proporcione pleno e sadio desenvolvimento respeitando assim o melhor interesse desse infante.

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Dito isso, pode-se dizer que o foco da Alienação Parental é a criança em meio ao conflito dos pais, que, apesar de separados, a parentalidade entre a prole e os genitores permanece, incumbindo a eles, o dever de proporcionar o pleno desenvolvimento daqueles, pois as obrigações resultantes dessa união, como do respeito, assistência, educação, sustento, guarda, entre outros, são irrenunciáveis pois envolvem sujeitos ainda em formação, que desfrutam de tutela especial, ou seja, do Estado (PEREIRA, 2019).

Nesse mesmo sentido, DIAS (2016, p. 81) ressalta que esse estado de vulnerabilidade e fragilidade que se encontram os cidadãos até os 18 anos, como pessoas ainda em desenvolvimento, os torna destinatários de um tratamento especial e salvo de toda forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão.

Assim, tão logo seja identificada, a prática alienadora deve ser coibida, devendo ser adotadas as medidas para a preservação da integridade psicológica da criança e do adolescente, sendo importante o acompanhamento psicológico de todos os envolvidos, devendo o Estado primar pelo atendimento ao melhor interesse do menor, respeitando a sua idade, sua personalidade e principalmente seu desenvolvimento. (MPPR, 2019).

Na ocorrência de indícios de ato de alienação parental em ações conduzidas pelas Varas de Família, é conferida prioridade na tramitação do processo, com a participação obrigatória do Ministério Público, sendo adotadas pelo juiz as medidas necessárias à preservação da integridade psicológica da criança ou do adolescente (MPPR, 2019).

Por tudo isso, torna-se essencial a participação de todos, seja da família, da sociedade e do Estado, no sentido de propiciar condições a fim de possibilitar o desenvolvimento e execuções de políticas públicas capazes de tornar verdadeiramente crianças e adolescentes, sujeitos de direito, garantindo-se a integral efetivação de seus direitos fundamentais, com a mais absoluta prioridade, tal qual preconizado de maneira expressa pelo já citado artigo 227, caput, de nossa Constituição e, em, consonância com o princípio fundamental da dignidade da pessoa humana e, caso, os genitores não exerçam a titularidade do poder familiar seguindo estes princípios, caberá ao Estado fiscalizar, podendo aplicar sanções a quem

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descumprir, como a suspensão ou a própria destituição do poder familiar, medidas estas que serão abordadas a posteriori quando tratarei especificamente da Lei de Alienação Parental.

2.2 Análise do Estatuto da Criança e do Adolescente (Lei nº 8.069/1990)

A proteção integral da criança e do adolescente é reconhecida e tipificada numa série de documentos internacionais como anteriormente citados, bem como no Estatuto da Criança e do adolescente em seu artigo 1º (Lei n. 8 .069-90), tendo por base o artigo 227 da Constituição Federal, com a redação da Emenda Constitucional n. 65-2010, que veio ressalva guardar integralmente a criança até doze anos incompletos e o adolescente entre doze e dezoito anos, sendo-lhes assegurados todos os direitos fundamentais inerentes à pessoa humana, devendo ser respeitados com prioridade pela família, pela sociedade bem como pelo Estado (DINIZ, 2018, p. 784).

Art. 2º Considera-se criança, para os efeitos desta Lei, a pessoa até doze anos de idade incompletos, e adolescente aquela entre doze e dezoito anos de idade. Parágrafo único. Nos casos expressos em lei, aplica-se excepcionalmente este Estatuto às pessoas entre dezoito e vinte e um anos de idade (BRASIL, 1990).

Ao incorporar a doutrina da proteção integral da criança e do adolescente, que á época já havia sido integrada pela Constituição Federal, em seu artigo 227, o ECA também previu um sistema de responsabilidade compartilhada entre a família, sociedade e o Estado, a partir de ações específicas executadas através do orçamento público, no emprego e cumprimento do princípio da proteção integral da criança e do adolescente, possibilitando assim verificar se os indivíduos mais vulneráveis da sociedade são realmente prioridade para o Estado.

Art. 3º A criança e o adolescente gozam de todos os direitos fundamentais inerentes à pessoa humana, sem prejuízo da proteção integral de que trata esta Lei, assegurando-se-lhes, por lei ou por outros meios, todas as oportunidades e facilidades, a fim de lhes facultar o desenvolvimento físico, mental, moral, espiritual e social, em condições de liberdade e de dignidade (BRASIL, 1990).

Referências

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