PARECER
Assunto: “Igreja de São Francisco (Ordem Terceira), no Município de São Paulo. Estado de São Paulo”. Processo Nº 593‐T‐59 ‐ Nº Protocolo 01458.000278/2013‐02 Interessado: Arquivo Central do IPHAN – Seção Rio de Janeiro ‐ RJ Mário de Andrade, após alguns meses à frente dos trabalhos de organização do Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional em São Paulo, elabora um primeiro relatório sobre os bens arrolados até então no território paulista e nele apresenta nomeadamente o seu parecer sobre São Benedito e São Francisco – irmandades originariamente organizadas no interior da Ordem Primeira – como Igreja franciscana, situada paredes‐meias ao Convento de S. Francisco, onde se instalou a Faculdade de Direito de S. Paulo. A maneira como se refere às organizações religiosas nos dá a impressão de tratar as duas igrejas – a conventual e a das irmandades de S. Benedito e S. Francisco de Assis – como se fossem um só e único templo. Todavia, a menção aos dispositivos arquitetônicos internos nos leva imediatamente a identificá‐los àqueles só encontrados na igreja da Ordem Terceira (especialmente pelo zimbório localizado na abóbada central da capela de planta poligonal1), afastando assim qualquer hesitação que possamos ter quanto a identidade do templo a que está a descrever ao Diretor Geral do Serviço, Rodrigo Mello Franco de Andrade.2 Foi, entretanto, taxativo em seu julgamento: É uma das poucas relíquias coloniais existentes na cidade de S. Paulo, com interessantes dispositivos arquitetônicos internos, e boa talha nos altares. Merece tombamento imediato. 3 (Grifo nosso) Apesar desse peremptório juízo o tombamento não ocorreu. Os documentos constantes no processo 593‐T‐59 por sua vez demonstram o interesse do mencionado diretor geral em dar sequência aos procedimentos necessários ao acautelamento ainda que já houvesse decorrido mais de vinte anos da recomendação de Mário de Andrade. Salientam‐se na correspondência nele reunida o relatório apresentado pelo arquiteto Edgard Jacintho da Silva (também subscrito pelo fotógrafo Hermann Hugo Graeser e o arquiteto Armando Rebollo), em 14.01.1959, e a declaração do arquiteto Paulo Thedim1 TIRAPELLI, Percival – Igrejas Paulistas – Barroco e Rococó, S.P., Ed. UNESP/Imprensa Oficial do Estado,
2003.
2 “São Paulo Sexta Região Primeiro Relatório enviado pelo Assistente Técnico á Diretoria do S.P.H.A.N.”
(16/outubro/1937) in MÁRIO DE ANDRADE: cartas de trabalho. Correspondência com Rodrigo Mello Franco de Andrade (1936‐1945). MEC.SPHAN próMemória. Brasília.1981 p. 81.
3 O teor inteiro da identificação da igreja por Mário de Andrade é o seguinte: São Benedito e São Francisco / Igreja franciscana, situada paredes‐meias ao Convento de S. Francisco, onde se instalou a Faculdade de Direito de S. Paulo. O Convento de S. Francisco foi fundado aproximadamente em 1644. Em 1772 foram eretas na igreja do convento as irmandades de S. Benedito e S. Francisco de Assis. O aspecto atual, com leves modificações ulteriores que não o prejudicaram, data de 11 de setembro de 1788. É uma das poucas relíquias coloniais existentes na cidade de S. Paulo, com interessantes dispositivos arquitetônicos internos, e boa talha nos altares. Merece tombamento imediato. Faltam fotos.
Barreto, mencionada em ofício do mesmo diretor geral ao chefe do então 4º Distrito, Dr. Luís Saia, em 15.01.1962, solicitando‐lhe manifestação definitiva acerca da conveniência do tombamento.
Compulsando a documentação desse período nos arquivos de São Paulo, reunida na pasta da referida igreja (MNT00418), localizamos tão somente os originais mencionados da correspondência acima – o que nos leva a supor que a chefia do distrito, contrariando juízo do já falecido assistente técnico, não a reconhecia com as qualidades que justificassem seu tombamento.
Relendo os documentos, verificamos que o caso da Terceira franciscana fora tratado pelos citados arquitetos dentre outras igrejas por eles examinadas. Além desta igreja, o arquiteto Edgard Jacintho da Silva visitou também a Terceira do Carmo paulistana – sobre a qual era de opinião de que no seu caso a medida protetiva devia se restringir ao forro pintado, que por sua vez era objeto de outro processo constituído e igualmente dependente de manifestação final (Processo Nº 586‐T‐58).4
A menção a esta igreja carmelitana nos é de utilidade pois nela encontramos subsídios que nos permitem também analisar a pendente questão de tombar ou não a igreja franciscana, visto serem contemporâneas e encerrarem uma mesma problemática. No caso da carmelitana, o fato dela ser o único elemento a restar de um belo e harmonioso conjunto arquitetônico, constituía aos olhos dos técnicos do IPHAN, não só ao paulista como aos cariocas Edgard Jacintho da Silva e Paulo Thedim Barreto, razão já suficiente para desaboná‐la, perda que era agravada pelas deformações e acréscimos que sofreu em sua configuração original.
Mas havia as pinturas de seus forros, especialmente analisadas por Mário de Andrade: grandiosa obra de pintura do mulato Padre Jesuíno do Monte Carmelo5 (e recentemente restaurada pelo IPHAN com recursos do Monumenta). Neste caso não havia dúvida; o tombamento era consensual e se impunha pela importância do pintor. Mas como tombar apenas as pinturas? A medida acabou sendo protelada, o processo restou dentre aqueles inconclusos, como o da presente igreja franciscana. E o restante de sua ornamentação interior, também de nada valia? Aparentemente era produto contemporâneo às pinturas. As talhas carmelitanas por sua vez eram inferiores à qualidade das apresentadas pela Terceira franciscana. Mas a imaginária de ambas as igrejas denunciava qualidades inegáveis; algumas de procedência portuguesa.
4 A respeito deste último processo (Processo Nº 586‐T‐58), tivemos ocasião, quando ingressamos no
quadro técnico da Regional paulista, de estuda‐lo minuciosamente, elaborando Parecer conclusivo em 06.05.1988 enviado a coordenadora geral Dora Alcântara, favorável entretanto somente ao
tombamento restrito da igreja carmelitana, circunscrito ao edifício primitivo e sua frontaria faturada em
cantaria de pedra e sem os anexos, compreendendo todo o seu acervo artístico interior coetâneo às pinturas de Padre Jesuíno do Monte Carmelo – objeto de unânime reconhecimento dos técnicos; parecer que, submetido a análise técnica da Coordenadoria de Proteção, enfrentou polêmica questão sobre o caráter e dimensão do tombamento que só foi superada no Conselho do IPHAN com o memorável parecer do Professor Augusto Carlos da Silva Telles, de 26.08.1996.
5 ANDRADE, Mário de – PADRE JESUÍNO DO MONTE CARMELO. Publicação 14. DPHAN. Rio de Janeiro.
Todavia a questão mais problemática a enfrentar era a concernente ao valor arquitetônico propriamente dos monumentos, e que não se resumia, como queriam os técnicos que assessoravam o diretor geral, às perdas e adulterações por ventura sofridas por ambas as igrejas, mas à sua expressão estilística manifestamente diversa de tudo quanto houvera de mais característico até então na São Paulo Colonial. Como veremos, era exatamente essa a questão de fundo a distinguir o posicionamento dos arquitetos.
Tratava‐se, primeiramente, de apreciar a questão numa perspectiva mais abrangente que, grosso modo, percorre todo o século XVIII estendendo‐se ainda por duas décadas do XIX, e representam esses monumentos exemplares de um interlúdio entre as expressões artísticas próprias dos dois primeiros séculos de colonização – tanto da arquitetura civil como da religiosa (embora, além das moradas e capelas bandeiristas, seiscentistas, e da capela jesuítica de São Miguel (1622), muito pouco se conheça efetivamente sobre exemplares anteriores ao XVIII, sobre tudo urbanas, a não ser as “casas” de Santana do Parnaíba, de origem rural, restauradas por Luís Saia) – até o surgimento de novas manifestações que só irão surgir com o revigoramento da economia e da sociedade paulista, após ultrapassar a fase açucareira, cuja prosperidade inseriu a Capitania de São Paulo nos quadros da Economia Colonial, mas não deixou exemplares íntegros à posteridade, até iniciar‐se um novo período que, a sobrepujando, configura‐se com a organização da monocultura do café no vale do rio Paraíba, onde embora ainda perseverasse o uso da taipa de pilão6, era zona de confluência de influências regionais (mineiras e cariocas), daí figurar como seu melhor representante um conjunto vigoroso e pioneiro de arquitetura produtiva – a Fazenda Pau d’Alho –, complexa unidade de beneficiamento de café que, ao se conservar relativamente íntegra, possibilitou a restauração de todas as suas edificações que associam a pedra argamassada ao pau‐a‐pique, conformando todo o conjunto produtivo.
Mas, durante todo esse longo intervalo de tempo, o que surgiu realmente como novidade no panorama paulista, e sobre tudo na cidade de S. Paulo, reformulando‐a em certa medida, foi notadamente o que sucedeu, a partir de meados do séc. XVIII, às principais igrejas e capelas das irmandades mais ricas que promoverem grandes reformas, e mesmo novas e vultosas obras de edificação, sob inspiração estilística renovada. 7
Assim, ao examinarmos a questão sob essa perspectiva mais larga, vamos nos deparar com um juízo do chefe do 4º Distrito, tornado público somente em publicação de 1963, expresso no texto Quadro Geral dos Monumentos Paulistas,8 no qual encontramos por fim, e
bem explicitada, a razão porque era contrário ao tombamento não somente desta igreja franciscana como de outros monumentos paulistanos coetâneos: As construções e instalações que cobrem o desenvolvimento regional desde 1765 até 1834 não explicitam partidos capazes de representar uma preferência coletiva ou representam a repercussão de soluções abstratas impostas ao sabor das circunstâncias, como é o caso de algumas residências urbanas e das construções 6 A taipa de pilão só começará a deixar de ter a preferência dos paulistas a partir de meados do século XIX. 7 Vale salientar que o fenômeno não se verificou somente na Capital, ocorrendo igualmente em outras importantes Vilas paulistas, tanto litorâneas como do interior. 8 Depois também publicado no livro MORADA PAULISTA.S. Paulo. Perspectiva. Debates: 63.
religiosas, ou estão irremediavelmente marcadas pela insubstância que procede da pobreza e da dependência. Luís Saia, rigoroso na análise, tomava‐as como produtos despatriados. E cita também como exemplares próprios desse período a capela do Pilar (Taubaté) e a capela jesuítica de S. Miguel, reformada então por Frei Mariano da Conceição Veloso, que trouxe das Minas Gerais o apego pelo adobe, técnica geralmente discrepante na área paulista, e nas construções religiosas executadas em São Paulo, em Mogi das Cruzes, Jacareí, Itu, Sorocaba, Taubaté, Santos, etc. e cuja inconsistência estilística apenas faz eco à própria inconsistência econômica que persegue este período da vida paulista. Para concluir: Isto explica a ausência do esplendor plástico, tão característico do século XVIII, e tão exuberante em Minas Gerais, na Bahia, no Rio de Janeiro e Pernambuco.9 Com esta avaliação depreciativa remete a eventual preservação desses monumentos a uma articulação política em que estava empenhado pessoalmente visando a criação de um órgão estadual – estratégia que acabaria logrando êxito com a formação do Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Artístico, Arqueológico e Turístico de São Paulo (CONDEPHAAT), cinco anos depois (22 de outubro de 1968), no qual iria figurar entre seus conselheiros, e onde procurará ditar suas diretrizes gerais, promovendo os tombamentos dos monumentos de valor regional10, bem como estabelecer os primeiros programas de levantamento dos monumentos passíveis de tombamento entre outras atividades.
9 SAIA, Luís – Quadro Geral dos Monumentos Paulistas: E prossegue a análise argumentando: Um confronto mais detido entre a arquitetura religiosa de Minas e São Paulo do século XVIII revela que abundava naquela o que faltava às construções paulistas: aquela riqueza proveniente da fartura do ouro e da nitidez das teses coletivas de instalação. Às matrizes mineiras do século XVIII, ricas como as de Sabará e Antonio Dias, se opõem as matrizes paulistas, mais pobres do que propriamente severas, como as de Porto Feliz e Taubaté; às igrejas Terceiras mineiras, vigorosas e decididas na sua formulação e na sua definição plástica, como as franciscanas de Ouro Preto ou São João Del Rey, se opõem as igrejas paulistas apoucadas e pobres, sem pretensão de representar coisa alguma que não fosse uma proteção governamental, interessada, mas pífia, e o natural fervor religioso da população da época. Enquanto nessa época, em Minas, as construções religiosas têm uma retaguarda armada numa forma gregária bem definida, carregada de intenções e com grande vivacidade no plano da emulação, em São Paulo representam um empenho do governo e do clero, ambos tentando aparentar vitalidade, sobretudo um desesperado esforço da população em luta contra a pobreza e a insolubilidade da vida coletiva falta de substância econômica. in MORADA PAULISTA.S. Paulo. Perspectiva. 2012. Debates: 63. pp. 45‐46. 10 A “Igreja das Chagas do Seráfico Pai São Francisco” teve processo aberto no CONDEPHAAT em 1971,
sob número 00041/71, e seu Tombamento só irá ocorrer com a Resolução 16 de 19/4/82, sete anos após a morte de Luís Saia. (Publicação do Diário Oficial Livro do Tombo Histórico: inscrição nº 335, p. 166, p. 38, 06/05/1982, com o histórico seguinte: A Igreja das Chagas do Seráfico Pai São Francisco da
Venerável Ordem Terceira de São Francisco da Penitência, foi inaugurada em 11/9/1787. Em 1676, frei João de São Francisco, comissário dos terceiros, iniciou a construção da capela da Ordem Terceira, que durou décadas, até ser ampliada e se tornar uma igreja independente. Na fase final das obras, decidiu‐se que a fachada seria um prolongamento da igreja conventual e que a antiga capela, com planta octogonal, seria transformada em transepto. A técnica construtiva utilizada é a taipa de pilão com embasamento de pedra. O seu interior encontra‐se bem conservado, com vários retábulos laterais em talhas de estilo rococó. A cúpula octogonal ostenta pinturas do final do século XVIII e, em outras dependências, trabalhos do mesmo período. Abriga, ainda, na Capela de Nossa Senhora da Conceição, o antigo retábulo executado por Luiz Rodrigues Lisboa, entre os anos de 1736 e 1740.)
Hoje, porém, quando volto ao conjunto dos monumentos desprezados e verifico que mesmo assim alguns acabaram recebendo a acolhida do IPHAN (as citadas capelas do Pilar/Taubaté e São Miguel/S. Paulo; e outras como as Carmos de Mogi das Cruzes; a Matriz e a de Na. Sra. do Carmo de Itu) enquanto outro, que nem havia sido citado entre os desvalidos, já há muito tinha recebido acolhida, e desde os primeiros anos de trabalho do órgão federal de preservação: a igreja e convento da Luz, tombados em 1943. E o que há de mais interessante a observar neste monumento é que este último, que nem fora citado pelo chefe do 4º Distrito, é o que reúne todas as características que desabonavam a todos. E ainda, é o que melhor corresponde à conceituação utilizada para desqualifica‐los: ausência de partido capaz de representar uma preferência coletiva, fruto somente do empenho do governo e do clero¸ e opção por soluções abstratas impostas ao sabor das circunstâncias.
Mas, se esta mereceu a proteção do IPHAN, porque não as demais? Teria se conservado com maior integridade, sem sofrer perdas consideráveis nem acréscimos descaracterizantes em sua unidade primitiva? Deixemos isso de lado e assinalemos apenas a razão ou as razões porque a chefia do 4º Distrito não se manifestara sobre a igreja dos Terceiros franciscanos, assim como a sua parceira dos frades capuchinhos, sobrestando a decisão de acolhe‐las ou não dentre os monumentos nacionais em vista de seus planos futuros: ausência de esplendor plástico, produtos apenas de empenho do governo e do clero e adoção de soluções abstratas impostas ao sabor das circunstâncias.
Era este o entendimento do diretor. A Terceira franciscana, como as demais, produto de uma época indistinta, pobre e sem vitalidade, carente de espírito gregário.
A historiografia paulista vem contraditando a visão de decadência da economia do período, com estudos importantes sobre a lavoura açucareira que precedeu em aproximadamente um século a cafeeira no interior e que teve seu centro dinâmico na região de Itu e, mais recentemente, sobre as atividades mercantis que interligaram São Paulo a outras regiões da Colônia, desvendando uma vitalidade antes apenas suposta no interior da Economia Colonial. 11
Luís Saia, aliás, em um segundo texto, este de 1967, dá já uma interpretação algo diferente, distinguindo o último quartel do século XVIII como um período de maior vitalidade, resultado não só do influxo das ações governamentais (criação de cidades, abertura de estradas, melhoramentos dos serviços públicos) mas principalmente da expansão da lavoura açucareira, sobrepujando as condições de atraso que haviam perseguido a região em seguida à descoberta das minas de ouro. E é sobre esse novo quadro econômico que reconheceu um
movimento de renovação estilístico que atingiu as igrejas paulistas.12
11 Marco inicial dessa revisão (no plano metodológico sobre tudo) foi o livro O Antigo Sistema Colonial,
de José Roberto do Amaral Lapa. Editora Brasilense. 1982, e, anteriormente, no plano propriamente historiográfico, o estupendo trabalho da Profa. Maria Thereza Schorer Petrone ‐ A lavoura canavieira
em São Paulo, DIFEL, 1968.
12 SAIA, Luís – A Arquitetura em São Paulo in São Paulo, Terra e Povo. (Org. Bruno, Ernani Silva) Ed.
Foi – diz enfaticamente – o tempo das reformas e das reconstruções. ... Tanto na cidade de São Paulo, onde se constrói o Recolhimento da Luz e são reformados os edifícios religiosos e substituídos altares e santos, como nas cidades do interior (Itu, Sorocaba, Mogi das Cruzes, Jacareí, Taubaté) como em Santos. E acrescenta: Salvo os casos de São Miguel, Embu, Capela do Pilar de Taubaté, onde as reformas profundas não conseguiram desfigurar o resistente arcabouço primitivo, todas as demais igrejas da capitania, novas ou antigas, se rendem a uma espécie de simulação de esplendor plástico oitocentista [sic] que tanto em Minas Gerais como no Nordeste e no Rio de Janeiro ganhavam legitimidade e pertinência face à maior expressão econômica e à maior importância política que desfrutavam tais centros. (Grifo nosso)
Embora reflitam as igrejas paulistas desse período uma superação do estágio decadente anterior (agora circunscrito à primeira metade do século XVIII), no seu entender a renovação atingida não consegue alcançar a mesma legitimidade, pertinência e esplendor atingidos à mesma época pelos centros mais dinâmicos e ricos.
É também perfeitamente perceptível nas palavras de Luís Saia um certo lamento pelas perdas irreversíveis que esse movimento de renovação acarretou em relação ao patrimônio urbano formado anteriormente na antiga Vila de São Paulo de Piratininga.13 O que havia de
mais antigo, da primeira metade daquela centúria ou mesmo quem sabe restos ainda do segundo século de colonização em S. Paulo, bem como nas demais vilas do planalto, perde‐se então irremediavelmente. Matrizes, igrejas conventuais e paroquiais foram objeto de amplas reformulações entre meados do século XVIII e início do XIX. E não só em termos de Arquitetura como de Artes integradas. O que poderá ter sobrevivido? De certo algumas imagens? Das talhas seiscentistas (do tipo das capelas de Vuturuna e da de Santo Antonio), tudo deve ter ido de roldão, substituídas por outras de estilo “novo”. Há, no entanto, a registrar a força da taipa de pilão como sistema construtivo básico no planalto paulista, que é mantida para estruturar as construções desse período, sejam nas novas edificações sejam nas de reforma e ampliação dos espaços originais, civis ou religiosos, por vezes associada à pedra argamassada que serve de alicerce às paredes que por sua vez se erguem a partir de trabalhos de cantaria de pedra, como portais ou arcos, de onde sobem as paredes de taipa revestidas com tijolos que permitem ainda o aplique de elementos de cantaria de pedra nas seções superiores de seus frontispícios – como na da mencionada igreja do convento da Luz, solução também utilizada nas igrejas das Ordens 1ª e 3ª tanto do Carmo como de São Francisco, na Capital.
Cabe observar sobre essas últimas que no caso das igrejas conventuais tratavam‐se de reformas com ampliações dos espaços originais e fatura de novas fachadas; porém as das Ordens Terceiras foram edificações inteiramente novas, realizadas em função do crescimento
13 “renovação” aliás que teve um momento precursor significativo, ainda nos recuados anos iniciais dos
setecentos (e que corresponde à elevação da Vila de S. Paulo à condição de Cidade) quando os jesuítas reformam pela segunda vez a decaída igreja do Colégio de S. Paulo e, patrocinados por duas senhoras da nobreza paulistana, erguem a primeira torre de igreja construída toda em pedra – assinalando desse modo uma principiante inovação no cenário dominado ainda pela simplicidade plástica própria do sistema construtivo vigente da taipa de pilão. Ver a respeito: JESUÍTAS E BANDEIRANTES – História, Arte e Arquitetura Coloniais in https://sites.google.com/site/resgatehistoriaearte/
e enriquecimento das respectivas irmandades; essas deixam os espaços originais que ocupavam no interior das igrejas conventuais – as chamadas capelas fundas – para então construir capelas de proporções muito maiores ao lado das conventuais recém reformadas. O histórico da Capela de Santa Teresa da V.O.T. do Carmo, que elaboramos para subsidiar o processo de seu tombamento reconstitui bem todas as etapas de sua construção,14 o qual irá
inspirar os Terceiros Franciscanos a realizarem projeto semelhante.
A construção do conjunto da Luz (igreja e convento) é coetânea a essas igrejas carmelitanas e franciscanas e faz uso dos mesmos recursos. Teve porém uma sorte melhor: conservou a sua unidade compositiva, a despeito de algumas modificações que sofreu ao longo do tempo. Sorte que a fez merecer do Chefe da 4º Distrito manifestação em prol de sua preservação.15
Não quis o destino premiar as comunidades carmelitana e franciscana de S. Paulo com a mesma sorte. Esta última teve o convento transformado em Faculdade de Direito ainda no início do século XIX, adaptado seus espaços interiores à nova função e finalmente reformulada a sua fachada simples em monumental composição no ano de 1930 – projeto do escritório Severo Villares; já a carmelitana perdeu metade do conjunto original, isto é, todas as edificações da Ordem Primeira (convento, igreja e torre), restando somente a igreja dos Terceiros, esta por sua vez lesionada profundamente com diminuição significativa no corpo da igreja devido ao alargamento da rua do Carmo e, depois, ainda mais adulterada com a construção da fachada lateral da igreja e dos edifícios anexos.16
A rigor, a maioria das igrejas, senão a sua totalidade, tiveram ao longo da história suas características originais alteradas, em menor ou maior grau.17 O problema, porém, não se
restringe a sua integridade, mas à maneira como nos posicionamos frente a essa questão; maneira que varia em conformidade com as opiniões mais ou menos fundamentadas em critérios objetivos, sejam de ordem ideológica ou científica, sejam de outras ordens quaisquer – embora geralmente acabemos por constatar existir uma certa mistura ou sobreposição dessas ordens.
14 A construção teve duas etapas: 1ª: de 1746 a 1758, com a edificação de todo o corpo da igreja em
taipa de pilão; 2ª etapa: 1772‐1778, edificação do frontispício em cantaria de pedra alinhado à torre e igreja da Ordem Primeira, configurando um partido arquitetônico inteiramente novo que despertou inclusive o interesse de Mário de Andrade como veremos adiante.
15 “por se tratar do único edifício paulistano realmente defensável do ponto de vista do Serviço”. Ofício
de Luís Saia a Rodrigo M. F. de Andrade, de 20 de julho de 1943.
16 A esse respeito escreveu o prof. Augusto Carlos da Silva Telles no citado Parecer de 26.08.1996: estamos de acordo com os que consideram impossível a preservação fragmentada da Igreja da Ordem Terceira do Carmo; por outro lado, a feição atual das frontarias laterais e posterior não apresenta qualquer interesse, seja como obra histórica, seja como solução arquitetônica contemporânea: Trata‐se de uma obra comum dos anos trinta e quarenta, de uma arquitetura comercial, projeto de firma construtora, entendendo então que para solucionar o impasse cumpririam as três frontarias e mais os acréscimos existentes à direita da igreja a função de “entorno” (Processo Nº 1.176‐T‐85).
17 Mesmo obras recentes por vezes recebem alterações. O exemplo contemporâneo é a Catedral de
Brasília que, no projeto original, tinha previsto vitrais transparentes, trinta anos depois ganharam colorido com a artista Marianne Peretti, em tons verde e azul em contraste com os pilares brancos e o piso de mármore da igreja. Neste caso, embora tombado, recebeu a aprovação do arquiteto Oscar Niemeyer, e o Conselho do IPHAN teve que rever os termos do ato.
Vimos, a partir dos textos de Luís Saia, que a questão para ele residiria na origem mesma dessas igrejas, na época em que surgiram, vale dizer no contexto histórico de que são produtos, e também e mais precisamente na concepção estilística em que se apoiam, ou para sermos mais fiéis ao seu entendimento, na falta de uma concepção estilística própria e não necessariamente na integridade do monumento.18
Como devemos enfrentar hoje todo esse conjunto de problemas?
Neste ponto, prefiro recorrer uma vez mais a Mário de Andrade. Este quando ainda realizava os primeiros levantamentos dos monumentos paulistas em carta a Rodrigo Mello Franco de Andrade apontou para o que considerava o problema geral de S. Paulo o qual partia de uma, àquela altura, inelutável constatação. Nada por aqui poderia se equiparar às maravilhas espantosas, do valor das mineiras, baianas, pernambucanas e paraibanas em principal. Mário de Andrade formula então o que deveria servir de mote a todos os trabalhos de preservação a serem desenvolvidos em terras paulistas, onde devia prevalecer o primado da história ao da beleza artística: A orientação paulista tem de se adaptar ao meio: primando a preocupação histórica à estética. Para adiante melhor esclarecer, especificando as questões e os rumos a tomar: Sob o ponto de vista estético, mais que a beleza propriamente (esta quase não existe) tombar os problemas, as soluções mais características ou originais.19
Essas as razões porque o critério em São Paulo teria de ser preferentemente o histórico, sem, todavia, ser o único, isto é, ter primazia sobre os aspectos estéticos, sem desconsiderá‐los, tomando‐os tal como surgiram e nas condições em que foram produzidos.
Mário invertia, desse modo, os termos da análise, condicionando o valor histórico (no sentido de “ser a condição de”) ao valor arquitetônico dos monumentos, sem, contudo, desprezar os elementos ou os aspectos artísticos, para os quais tinha especial interesse. Mais do que procurar maravilhas semelhantes às das regiões mais ricas, identificar e tombar sobre tudo o pouco que restou seiscentista ou setecentista no território paulista, com especial atenção aos problemas, as soluções arquitetônicas mais características ou originais, consistindo esses objetos de estudo a merecer a melhor das atenções, em face dos problemas de aplicabilidade técnica que tiveram de ser superados através das soluções encontradas à época em que foram concebidos, e hoje passíveis de serem reconhecidos pela investigação e análise.
18 Fosse este o único critério, a morada do Sítio Santo Antonio por exemplo não teria sido tombada e
muito menos reconstituído o edifício primitivo, só possível a partir das prospecções dos alicerces de taipa ainda preservados sob a casa do barão de Piratininga, quando Luís Saia desenvolveu os trabalhos de restauração, incluindo os da capela também bastante arruinada.
19 Carta de Mário de Andrade a Rodrigo Mello Franco de Andrade de 23‐V‐37. MÁRIO DE ANDRADE: cartas de trabalho. Correspondência com Rodrigo Mello Franco de Andrade (1936‐1945). MEC.SPHAN próMemória. Brasília.1981.
Sem o propugnar expressamente, Mário de Andrade indicava um caminho estritamente técnico de avaliação, ao tomar o monumento como objeto passível de análise tanto sob o aspecto histórico como artístico (arquitetônicos inclusive, visto serem concebidos e executados em conformidade com determinados parâmetros estéticos), para cuja compreensão passa necessariamente pela sua decomposição, tanto formal como material.
Método que utilizava na atividade de crítico de Arte, a exemplo das obras dos pintores e escultores modernistas e mesmo anteriormente com as de Aleijadinho20, da mesma forma
como faria depois com as pinturas de Padre Jesuíno do Monte Carmelo e de José Patrício da Silva Manso.21 Interessava‐lhe sobremodo o artista, moderno ou tradicional, sob o prisma de
sua ação social ou coletiva, o contexto em que concebe e produz a obra de arte, as condições em que produzia, enfim o panorama histórico e cultural no qual atuava, interessando‐se no mais das vezes sobre aspectos psicológicos, vivenciais dos artistas analisados.
Esse é outro viés do trabalho a que se propôs realizar já desde o tempo de organização do Serviço em São Paulo: efetuar o levantamento dos artífices coloniais, projeto que submeteu à aprovação do diretor geral, e que consistiria em recolher, ele próprio, dados biográficos sobre os artistas, quer paulistas quer aqueles por ventura vindos de fora, e sobre os produtos do trabalho que realizavam ou criavam – as obras de arte, os monumentos – o que implicava em pesquisas e fichamento de livros, revistas, documentos, etc. que ele próprio se propunha a realizar.22
O monumento assim encarado, como obra artística lato sensu, tem redimensionado seu conteúdo em aspectos diversos e não exclusivamente os de sua expressão arquitetônica que, todavia, não deixa de levar em conta especialmente quando essa se lhe apresenta com alguma distinção. É o que o levou a constatar de singular nos conjuntos carmelitanos coloniais paulistas. E sobre os quais logo chama a atenção do Diretor, expondo que, ao ler obra inédita de P. Pratt ... pude fazer uma observação de algum interesse a respeito da arquitetura tradicional carmelitana, pelo menos no Brasil. Dela fiz 20 ANDRADE, Mário de – A arte religiosa no Brasil. Revista do Brasil. Vol. 14. nº 54. 1920. 21 ANDRADE, Mário de – PADRE JESUÍNO DO MONTE CARMELO. Publicação Nº 14. SPHAN. MES. Rio de Janeiro. 1945. 22 Carta de Mário de Andrade a Rodrigo Mello Franco de Andrade de 7‐III‐41 [Mário de Andrade acabara de retornar a São Paulo, depois de permanecer cerca de três anos no Rio de Janeiro, quando a escreveu e da qual extraio o trecho seguinte]: Ainda não conversei com o Luiz Saia sobre isso, nem examinei como estão sendo feitos os fichários daqui. ... Quanto à pesquisa de artistas paulistas ou que aqui trabalharam provavelmente usarei o mesmo processo que emprego para os meus fichários particulares, que me parece mais rápido e de fácil consulta. Consiste em numerar pela ordem os livros, revistas, documentos pesquisados e na ficha retirada da leitura botar apenas esse número, em romano o número do tomo se a obra tiver vários volumes, e em seguida o número da página. A pesquisa fica fácil recorrendo à bibliografia numerada que abre o livro das fichas ou o compartimento do fichário. ... Mais importante me parece regularizar os livros por ler, pra que as pesquisas daqui não coincidam com as daí, com perda de tempo. ... Principiei pela Revista do Arquivo Municipal mas vou atacar concomitantemente os Inventários, as Atas da Câmara, a revista do Instituto [Histórico e Geográfico Brasileiro, bem como o de
São Paulo] me descansando de uma leitura, noutra. Até segunda‐feira cairei duro nesse trabalho. [Dois meses depois, dá conta dos trabalhos já realizados e pede orientação acerca do fichamento de Autos de Inventários e Testamentos de artífices, bem como dos objetos de arte, dos “casos mais característicos”, etc. e arremata]: Peço apenas a você me sugerir mais coisas que queira. Acho que a obtenção de um
participação ao dr. Lúcio Costa. Trata‐se do curioso dispositivo, tão bem exemplificado nas duas Carmos de Santos, nesta 6ª. Região, das igrejas Primeira e Terceira serem construídas como corpos gêmeos de um mesmo edifício, com uma torre só fazendo de corpo central. Esse era o dispositivo das Carmos, de S. Paulo, e das de Angra dos Reis. Não posso garantir ainda se este curioso partido é exclusivamente carmelitano, nem se só é observado no Brasil, e nesta região central do país. Mas julgo fornecer a V. Sª um problema por solucionar.23
Como se vê, Mário de Andrade reitera o postulado inicial, atento à identificação dos problemas, e ao estudo [d]as soluções mais características ou originais do patrimônio da região.
Preferimos, pois, aqui também reafirmar essas perspectivas de trabalho, não porque nos sintamos capazes de realiza‐las igualmente, mas para tê‐las como norte a direcionar as tarefas que desenvolvemos no IPHAN de São Paulo, dentre as quais sobressaem o estudo e a pesquisa, pressupostos à elaboração de juízo de valor que ora nos é solicitado.
De modo que ao atentarmos para este último problema apontado por Mário de Andrade – o dispositivo das Carmos –, este tornou‐se para nós objeto de especial interesse quando efetuávamos pesquisas na documentação da Ordem Terceira de S. Paulo, subsidiando o tombamento das pinturas de Padre Jesuíno nela localizadas, e pudemos então verificar o momento de sua criação: surgiu exatamente com a construção desta igreja (à época denominada simplesmente capela de Santa Teresa da V.O.T. do Carmo da cidade de S. Paulo), em 1758, não ainda em sua configuração final, visto que construído em taipa de pilão, compondo naquele momento (com a igreja da Ordem Primeira ao seu lado e também com frontaria de taipa) a configuração digamos “primitiva do conjunto”, sem os adereços que a cantaria de pedra lhe acrescentará depois.24 (A imagem mais próxima que penso corresponder à composição alcançada pelas Carmos paulistanas, em 1758, seria a das Carmos de Mogi das Cruzes depois das obras de restauro que resgataram suas fachadas originais, lisas, ainda sem os elementos de ornamentação aplicados nos anos iniciais do século XIX.25) Anos depois, com a
reforma e ampliação do conjunto arquitetônico da Ordem Primeira, os Terceiros paulistanos
23 MÁRIO DE ANDRADE: cartas de trabalho. ... p. 155. Rodrigo Mello Franco de Andrade, porém procura
animar Mário de Andrade a outra tarefa que considerava de muito maior importância: o estudo das pinturas do mulato Jesuíno Francisco de Paula Gusmão – o Padre Jesuíno do Monte Carmelo –, sobre quem havia se interessado desde os primeiros levantamentos realizados em 1937, figura destacada pela literatura histórica entre os artífices coloniais paulistas. Mário a partir daí, irá dedicar‐se especialmente ao padre mulato, e deixa de lado a “fichagem” dos artífices. 24 Sem, no entanto, abandonarem a pequena capela que possuíam no interior da igreja conventual que sobreviverá, inclusive, à destruição da igreja conventual em 1928, permanecendo por cerca de 30 anos ainda quando, ao ser demolida, o IPHAN promoveu o desmonte de seu forro em vista da possibilidade de nele haver uma pintura mais antiga, por debaixo da atual de 1922. Este é hoje conhecido pelo nome de forro da “Capela Esquecida” que corresponde exatamente à antiga capela funda da Ordem. 25 E acrescenta Danielle Manoel dos Santos Pereira: a construção [da igreja da Ordem 3ª] foi realizada entre os anos de 1776 a 1782, porém a conclusão das obras de ornamentação interna levaria mais 36 anos, sendo os últimos andaimes retirados por volta do ano de 1818. in O CONJUNTO CARMELITA NA
FORMAÇÃO DO PATRIMÔNIO DE MOGI DAS CRUZES. Terceiro Colóquio Íbero‐Americano. PAISAGEM CULTURAL, PATRIMÔNIO E PROJETO ‐ DESAFIOS E PERSPECTIVAS. Belo Horizonte maio de 2014.
promovem a substituição de sua frontaria por uma nova (1772‐1776), alinhando‐a à torre e igreja da Ordem Primeira, e fazendo uso igualmente da galilé em arcos de cantaria de pedra tal qual a dos frades, o que veio a dar origem a um partido arquitetônico singular, harmonioso e belo26 – partido que, por sua vez, será também adotado pelas comunidades carmelitanas de
Santos e de Mogi das Cruzes. Constituiria um “partido carmelitano paulista” não fosse a ocorrência do mesmo nas cariocas de Angra dos Reis. Todas, contudo, pertenciam a uma só Província, a de Santo Elias.
Ora, porque nos estendemos acerca desse dispositivo das Carmos quando estamos a tratar de uma igreja franciscana?
Olho para a capa de uma volumosa Publicação da DPHAN27 que conta exatamente a história desta igreja, e o que vejo? A foto que a ilustra (de Militão Augusto de Azevedo ‐ 1862) e percebo que os Terceiros franciscanos de S. Paulo se interessaram por adotar partido semelhante.
Eles, tal como os carmelitanos, tinham desde 1676 uma capela funda na igreja conventual, que se tornaria cem anos depois muito acanhada frente ao número cada vez maior de Irmãos, razão porque expuseram aos frades, em Mesa Redonda de 22 de outubro de 1783, a necessidade de construir uma nova, os quais reconhecendo e atendendo a angustura, e pequenez da sua Capela assentaram de unânime consenso o fazerem demolir a existente, e fabricar outra mais ampla, e capaz, aonde possam com desafogo exercitar os atos anexos a seu Instituto, e louváveis costumes, estabeleceram em comum acordo e no mesmo ato a maneira como deveria ser construída: intentando [quer seja: com a intenção de] ... que a nova Capela seja fundada emparelhando com a Igreja do nosso Convento, e formando para a frente dela semelhante perspectiva, mediante entre hum, e outro edifício o espaço de vinte e oito palmos de parede a parede. 28 (Grifo nosso)
Partido que se revelará senão igual, muito próximo ao dos carmelitanos, ainda que inspirado neste, com a diferença de que o dos franciscanos não tem a torre em meio aos templos, mas colocada entre o convento e a igreja da Ordem Primeira, a qual complementa a
26 Desenho de Thomas Ender retrata fielmente o partido então obtido. Pode‐se vê‐lo reproduzido no
histórico que elaboramos para o tombamento da igreja da Ordem Terceira in Capela de Santa Teresa da Venerável Ordem Terceira do Carmo da Cidade de São Paulo. p. 11. Arquivo IPHAN/SP.
27 ORTMANN, Frei Adalberto ‐ História da Antiga Capela da Ordem Terceira da Penitência de São Francisco em São Paulo, Publicação Nº 16. Diretoria do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional. MES.
Rio de Janeiro. 1951.
28 RÖWER, Frei Basílio O.F.M. – PÁGINAS DE HISTÓRIA FRANCISCANA NO BRASIL. Ed. Vozes Ltda.
bela composição de sua frontaria, elevando‐se um patamar acima do frontão da igreja em arremate singelo e gracioso, ladeado por dois grandes pináculos.
A igreja dos Terceiros, por sua vez construída ao lado, e que aparenta ter maior largura29, prolonga a composição assim formada, fazendo uso de elementos decorativos faturados igualmente em cantaria de pedra, a qual aplicada também no coroamento de sua portada obrigou a cimalha a elevar‐se discretamente acima da linha originada na igreja conventual, sem, contudo, comprometer a harmonia do conjunto e lhe serve para assinalar sua individualidade no concerto arquitetônico. Porém, visto na atualidade, o conjunto quase se desfaz em continuidade em razão do edifício complementar dos Terceiros não o acompanhar em altura, quebrando em parte a perspectiva, embora conserve os mesmos elementos decorativos nas esquadrias das portas e janelas. Todavia se atentarmos bem ao conjunto original – com o edifício primitivo do convento ainda a figurar inteiro na composição – recompõe‐se o equilíbrio do partido assim concebido na última quadra dos setecentos. Os edifícios franciscanos expressavam desse modo clara intenção estética que, por sua vez, revela a unidade de comunhão espiritual entre as comunidades.
Sem ser uma réplica do partido carmelitano, teve obviamente nele inspiração, ao alinhar os edifícios todos do conjunto, colados parede a parede, fazendo igualmente uso da cantaria de pedra, com as cimalhas, especialmente a superior (também chamada à época cimalha real) a acentuar a perspectiva pretendida.
Outras diferenças importantes: só uma fez uso da galilé – a da Ordem Primeira, aliás dispositivo mais típico e tradicional da arquitetura conventual franciscana. E também com três arcos faturados em pedra de cantaria. Já a igreja da Ordem Terceira tem uma só portada central, embora mais larga com acessos na fachada para os seus corredores laterais, todos faturados em cantaria de pedra, e da mesma forma as janelas do pavimento superior. A comunidade franciscana optou em suas respectivas igrejas por arrematar seus frontispícios diferentemente da carmelitana, ambas com frontões de feições mais modernas, mais ao estilo rococó, embora distinguidos.
Na verdade, as construções franciscanas valeram‐se dos mesmos recursos utilizados pelas demais igrejas construídas ou reformadas à época: estrutura do corpo das igrejas todo em taipa de pilão, com suas frontarias faturadas em associação ao tijolo (revestimento) que permitiu a aplicação da cantaria de pedra.
Fizeram igualmente uso do mesmo artífice que fora contratado pelos carmelitanos – o ex‐escravo do Mestre santista Bento de Oliveira, já por essa altura alforriado e que já alcançara também a condição de Mestre. Joaquim Pinto de Oliveira era o seu nome de batismo; Tebas, o
29 Aparenta somente, pois se observarmos bem, a torre integra o frontispício da igreja da Ordem
Primeira e assim a sua fachada alcança a mesma dimensão da dos Terceiros, ao mesmo tempo em que confere a mesma amplitude de espaço interior. Pode‐se observar ainda que a igreja dos Terceiros repetia a planta dos Terceiros carmelitanos, com a adição dos corredores laterais que aumenta o espaço interior e proporciona externamente a mesma impressão de largueza e horizontalidade ao edifício.
apelido.30 Além da fatura de elementos do frontispício terá provavelmente contribuído para a construção do zimbório no transepto da igreja, onde se localizam pinturas realizadas à mesma época por renomado artista sobre o qual falaremos adiante.
Essas informações, todas elas evidenciam propósitos levados a efeito à época, dentre as quais se destacam os projetos arquitetônicos aqui citado, isto é, construções que se realizaram naquele último quarto do século XVIII devido ao empenho das comunidades carmelitanas e franciscanas da cidade de S. Paulo. No caso desta última, ora em análise, restou maior número de elementos que o constituiu, ausente tão somente o convento – não por destruição como ocorreu com o carmelita, mas por desfiguração causada pela mudança de função que a revestiu posteriormente com uma fachada. Porém, o núcleo do partido – as duas igrejas, alinhadas e irmanadas pela nova estética que a cantaria de pedra lhes proporcionou – preservou‐se intacto, figurando como um verdadeiro documento colonial no centro histórico da cidade, resistindo bravamente às transformações que ocorrem em seu entorno.31 Essa é a razão porque entendemos se deva estudar que a proteção pretendida não se limite a um só elemento desse conjunto arquitetônico religioso, estendo‐a a igreja da Ordem Primeira, num só processo se possível. * Aquele propósito de Mário de Andrade de efetuar, através da leitura de livros, revistas e documentos, o levantamento dos artífices atuantes em São Paulo, revelar‐se‐ia tarefa difícil não só a ele como posteriormente a tantos outros que intentaram. As causas que explicam essa dificuldade são muitas mas podem se reduzir a duas somente: a perda irremediável dos acervos documentais, sejam públicos sejam particulares (das organizações da igreja, secular e regular inclusive), e a penosa tarefa de garimpar, do pouco que restou, os registros que efetivamente atestam a presença desses artífices, pois houve períodos em que os responsáveis por tais apontamentos, eram generosos nas informações, em outros pelo contrário econômicos, resumidos ao máximo, ou nem sequer registrados. Daí propugnarmos sempre pelas ações de preservação e habilitação da documentação dessas instituições.32
30 A respeito de Tebas, ver Nuto Santana em São Paulo histórico (Aspectos, Lendas e Costumes). S.
Paulo. Departamento de Cultura da Pref. Mun. de S. Paulo. 1937. V. 1. Ver também artigo TEBAS – Vida e Atuação na São Paulo Colonial in https://sites.google.com/site/resgatehistoriaearte/, de nossa autoria.
31 Interessante o comentário de Percival Tirapelli: O Largo de São Francisco é o único que preserva feição colonial, apesar das reformas. Sua iconografia fotográfica é rica, desde Militão Augusto de Azevedo (1837‐1905), em 1862. As transformações do largo são constantes: a fachada do convento, a nova Faculdade de Direito em estilo neocolonial de 1937, o monumento a José Bonifácio, o Moço; ao fundo, a Escola Armando Álvares Penteado em linhas arquitetônicas austríacas e, por fim, os edifícios neocoloniais que ladeiam o conjunto colonial franciscano das igrejas das ordens primeira e terceira. E
sobre o partido: A aparência atual resulta de reformas efetuadas em fins do séc. XVIII, constituindo o
mais belo conjunto colonial de S. Paulo, ao lado do Mosteiro e Igreja da Luz (os dois conjuntos apresentam nítidas afinidades estilísticas. São Paulo Artes e Etnias. UNESP/ Impr. Oficial. S. Paulo. 2007. p. 80. 32 Atualmente, a política correta (pensamos nós) é a de se promover a preservação desses acervos,
incluindo os das corporações religiosas, estejam ou não tombados os templos. Pois, como a Arte no período Colonial era sobretudo consubstanciada nas igrejas, ricas e pobres, é na sua documentação que se poderá resgatar informações sobre os artífices e as obras que nelas realizaram, como pretendia Mário de Andrade. Aliás, quando cuidamos do tombamento da igreja dos Terceiros Carmelitanos de S. Paulo, incluímos o arquivo documental da Ordem.
Da mesma forma ocorre no caso presente da igreja dos Terceiros franciscanos. Podemos, todavia, ainda nos valer dos dados disponibilizados acerca dos artífices que participaram das obras tanto de edificação como de ornamentação. O estudo realizado por Frei Adalberto Ortmann sobre essa igreja está documentado tão detalhadamente quanto lhe foi possível coletar nos livros de Atas e de Receita e Despesas, com transcrição de inúmeros registros de deliberações da Mesa Administrativa da Ordem e de lançamentos de pagamentos efetuados a artífices e a fornecedores dos materiais utilizados, trabalho árduo que realizou a ponto de nos parecer obra encomendada ao Autor para subsidiar processo de acautelamento ou mesmo possíveis obras de conservação e restauro futuras. História da Antiga Capela da Ordem Terceira da Penitência de São Francisco em São Paulo é o título da publicação, aliás, levada a efeito pela Diretoria do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, em 1951.33 Todavia, apesar da extensa documentação, não satisfez nem mesmo ao próprio Autor.
Mesmo assim vamos a ela. E primeiramente para constatar uma ausência esperada. Não há na relação dos artífices que atuaram na Terceira franciscana registro da presença do mulato Jesuíno Francisco de Paula Gusmão – confirmando o fato de ter esse pintor dedicado praticamente quase toda a sua arte a representar os santos e doutores da Ordem carmelita, a exceção das telas da sua igreja de N. Sra. do Patrocínio e as da Matriz de Itu. Vemos, isso sim, a presença de José Patrício da Silva Manso e que Frei Ortmann tratou apenas como o pintor José Patrício.34 Este, depois de atender a convocação do Bispo Dom Manuel da Ressureição de pintar o magnífico painel do forro da Matriz de Itu (1786‐1790), já de retorno a cidade de S. Paulo, em 1791, o encontramos na Terceira franciscana, contratado para representar a subida de São Francisco num carro de fogo ao céu, bem como outros painéis grandes da capela‐mor.
No ano seguinte mais 77$240 réis ainda de resto a receber desses painéis. Importâncias muito pequenas tendo em vista a dimensão das obras de pintura realizadas que, todavia, englobavam ou deviam englobar as pinturas do zimbório que lhe são atribuídas pelos especialistas em Pintura Barroca Paulista. Ganho bem mais expressivo deve ter auferido com os trabalhos que realizou na capela da Senhora da Conceição. Em 1793 Frei Ortmann apurou no livro correspondente que foi pago A José Patrício com que se ajustou todo o dourado da capela‐mor e retábulo, dando ele todo o ouro e tintas, e só obrigada a Ordem a fazer andaimes por preço e quantia de 600$000 rs. 33 ORTMANN, Frei Adalberto – op. cit. 34 E que Mário de Andrade supõe ter desempenhado papel equivalente ao de mestre daquele quando esteve em Itu pintando o Mistério da Purificação – e que para muitos constitui a sua pintura de maior esplendor artístico, sua obra‐prima – e possivelmente os painéis das paredes laterais da capela‐mor da Matriz. Este mesmo painel recebeu recentemente atenção de profissionais especializados em restauro, removendo as grossas camadas escurecidas de verniz, reavivamento de cores e dourados que o fizeram resplandecer tal qual foi executado. Por esse painel e mais o douramento e pintura do retábulo mor da matriz recebeu um conto e duzentos mil réis, dinheiro considerável à época.
Talvez tenha também redoirado o retábulo feito cinquenta anos antes (1736/40), entalhado, de acordo com Frei Ortmann, por Luís Rodrigues Lisboa – então o único entalhador existente em São Paulo.35
Se era esse o quadro na primeira metade do século XVIII, poucos artífices disponíveis para realizar os trabalhos artísticos, as coisas parecem mudar de meados do século adiante. Cresce aos poucos o número de profissionais não só na Capital como nas principais Vilas da Capitania. Nem todos, porém gozaram do mesmo prestígio. Pelas tarefas que foram contratados a realizar nas igrejas pode‐se perceber duas categorias: o artista propriamente dito e o artesão, o que era capaz de criar e produzir obra de Arte e o que executava serviços artísticos menores e mais simples execução. E dentre os primeiros, parece que alguns apenas passaram por aqui, executando um ou outro trabalho, e quase não deixaram rastos de sua presença.36
Outros alcançaram grande prestígio e foram disputados pelas principais corporações religiosas. Neste caso estava José Patrício da Silva Manso. Não houve naquelas décadas derradeiras do século XVIII dourador mais competente do que ele, não obstante a sua excelente qualificação como Pintor que justificara a manifesta preferência de Dom Manoel da Ressurreição para pintar o forro da Matriz de Itu. José Patrício continuou a prestar seus serviços de pintor e dourador a Ordem Terceira franciscana nos anos seguintes, ao menos até 1797 quando ainda recebe 100$000 réis do que se devia ao pintor. Porém antes, no tempo ainda de escassez de artífices, Frei Ortmann aponta a presença do pintor Caetano da Costa Coelho, executando grandiosas e deslumbrantes pinturas na igreja quando essa era ainda apenas uma capela funda na igreja conventual (entre 1732 e 1743).
Outras mais existiam nesta antiga capela em 1756, e em grande número, painéis e pinturas de parede na capela‐mor, no corpo da igreja, na sacristia, e no consistório37, mas não foi possível precisar seus autores.38
Houve também a participação do pintor João Pereira da Silva que sabemos ter pintado também para os Terceiros do Carmo, por essa mesma altura. Como não era ainda costume aos pintores, tanto nesta como em época anterior, assinar as obras que realizavam, ficamos na 35 O entalhador Luís Rodrigues Lisboa filiou‐se à Ordem Terceira de São Francisco e nela fez sua profissão em primeiro de janeiro de 1745. Ocupou os cargos da Mesa em 1748 e 1752, de presidente zelador em 1745 e o de secretário em 1755, vindo a falecer aos 18 de novembro de 1761. Conf. Ortmann, op. cit. p. 66. 36 Assim pode ter ocorrido com o entalhador Bartholomeu Teixeira, recentemente descoberto por nós.
Ver artigo Entalhador do retábulo da Matriz revela‐se em inventário do mecenas da Itu Colonial in
CADERNOS DO PATRIMÔNIO DE ITU. Prefeitura da Estância de Itu – Secretaria de Cultura. Ano 1 – Nº 1 – 2015. pp. 16‐21. 37 Ortmann – op. cit. p. 81. 38 Diz Frei Ortmann a esse respeito: Os ... documentos são redigidos em termos tão vagos e indecisos que não permitem, com certeza incontestável, atribuir‐lhes painéis determinados. / Quanto ao tema ou conteúdo das pinturas falam apenas de seis painéis da Paixão, quatro dos novíssimos e um do fundador da ordem, este pintado no teto do consistório. ... Afora destas onze pinturas, sabemos que em 1756 havia ainda no corpo da igreja, seis ou oito painéis. ... op. cit. p. 83.
dependência de quem os contratava para conhecermos seus nomes (embora não tivessem em conta os contratantes a importância que seus registros teriam no futuro). Vê‐se, por exemplo, o pagamento feito ao pintor mais afamado de então, o preferido do bispo Dom Manuel, tanto na Terceira Franciscana como na Terceira carmelitana, lançado apenas José Patrício nos livros de despesa. Da mesma forma, vimos ocorrer na Terceira do Carmo com Jesuíno Francisco de Paula Gusmão, nos anos 1796‐1798 quando pintou os forros de madeira da igreja inteira, desde a capela‐mor até o coro; por esse imenso trabalho encontramos alguns poucos registros de pagamento efetuados a Jesuíno apenas.39
Frei Adalberto Ortmann enumera todos os painéis da igreja, em cada uma das localidades onde se encontram, descrevendo‐os e nomeando‐os de acordo com os temas ou personagens representados, buscando identificar seus possíveis autores.40 Tal descrição
poderá ser de utilidade quando tratarmos do efetuar o inventário de todo o acervo artístico da Ordem, incluindo retábulos e alfaias, pressupondo que se obtenha aprovação para o seu acautelamento.
Destaque especial merece desde já o retábulo da capela de Na. Sra. da Conceição que apresenta, de acordo com o Historiador de Arte Percival Tirapelli, qualidades que o diferenciam, confeccionado em estilo Joanino, de
talha erudita com anjos atlantes sustentando colunas salomônicas, anjos assentes sobre volutas, ampla camarinha com trono escalonado e, no coroamento sobre o lambrequim, primorosa tarja com motivos florais.41
Aponta ainda o mesmo historiador dois elementos estranhos à arte franciscana propriamente dita e hoje integrados a Igreja dos Terceiros: o altar de São Miguel e a porta principal da igreja, ambos originários da segunda das quatro igrejas do Mosteiro de São Bento.42 Não deixam de ser fatos controversos, todavia. De tal modo que, na contabilidade artística dessa igreja, se por um lado a incorporação desses elementos pôde creditar mais valor documentário ao seu acervo ornamental, por outro concorreu contrariamente à sua unidade conceptiva original.43
39 É o caso de se pensar se teria havido outras formas de remuneração aos trabalhos de pintura por ele
executado a Ordem. Hospedagem, alimentação, estudos que fazia então para o sacerdócio com os frades, quem sabe até mesmo aulas de música com André da Silva Gomes, como supõe Régis Duprat? Deviam ser procedimentos possíveis, negociados sem escrituração alguma, apenas cumpridos pelas partes sem qualquer expediente burocrático. Também os serviços notariais deviam ser caros, e tal como hoje, a eles se recorria somente em última instância. 40 Ortmann, Frei Adalberto – op. cit. Capítulo III – Os painéis da capela. Pp 81‐112. 41 Tirapelli, Percival – IGREJAS PAULISTAS: Barro e Rococó. Ed. UNESP Imprensa Oficial. S. Paulo. 2007. p. 45. 42 Tirapelli, Percival. Op cit. p. 46. Não menciona, entretanto, a fonte de onde extraiu tais informações. 43 Verificou‐se o mesmo com a igreja da VOT do Carmo, com a transferência de elementos de talha da antiga igreja do Recolhimento das Irmãs carmelitas, doadas por Dom Leopoldo Duarte a Ordem Terceira que os incorporou na reforma de 1922, que esteve à cargo do arquiteto Ricardo Severo. Porém, ao contrário da franciscana, tal incorporação não chega a afetar a unidade original, pois que talhados mediante o mesmo estilo. À mesma época foram também transferidas as pinturas em caixotões que ornavam o teto da capela mor daquela igreja, executadas por Padre Jesuíno do Monte Carmelo, e que hoje ornam um corredor lateral da Ordem Terceira do Carmo. Menos compreensível, todavia, é a presença de uma bela imagem de São Francisco na sala da diretoria desta igreja que, perguntado a