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A Oração Complexa - Material de Apoio - 3ª Semana

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Academic year: 2021

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Universidade Aberta do Brasil

Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Alagoas Departamento de Ensino a Distância

__________________________________________________________________

A Oração Complexa

No presente capítulo examinaremos o caso especial em que são desempenhadas por sintagmas que encerram, eles próprios, orações; a esses sintagmas chamaremos de “sintagmas complexos”, e às orações que contêm sintagmas complexos daremos o nome de “orações complexas”. O termo “oração complexa” só corresponde ao termo tradicional “período composto” nos casos em que a oração complexa em questão não é parte de outra oração maior; em outros casos como, por exemplo, a oração grifada em (1),

(1) eu acho que você pensa que nós estamos brincando a oração complexa não é um “período” segundo a nomenclatura tradicional. Não utilizaremos o termo “período”, a não ser informalmente, porque a distinção entre “oração” e “período” não nos parece útil. Um período é uma oração em um ambiente particular (isto é, quando ocorre sozinha), e será também chamada “oração”.

1. RECURSIVIDADE

As línguas humanas têm a propriedade de possuir sintagmas de determinada classe que encerram como constituintes (imediatos ou não) outros sintagmas da mesma classe. Por exemplo, já conhecemos a classe dos sintagmas nominais. Ora, é possível encontrar SNs que contêm outro SN entre seus constituintes, como em

(2) a casa da avó de Chapeuzinho Vermelho

(2) é um SN, pois tem a distribuição típica dos SNs (pode ser sujeito, por exemplo); mas segundo os mesmos critérios a avó de Chapeuzinho Vermelho também é um SN, e Chapeuzinho Vermelho igualmente é um SN. Essa propriedade das línguas de encaixar elementos da mesma classe uns dentro dos outros se denomina recursividade. É uma propriedade altamente relevante, pois é principalmente graças ela que se torna possível gerar um número potencialmente infinito de frases nas línguas humanas. A

(2)

recursividade distingue as línguas humanas da linguagem de certos animais, que só dispõem de um número fixo de sinais (“frases”), e que portanto só podem transmitir um número limitado de mensagens.

Neste capítulo nos interessará em particular a propriedade de incluir orações dentro de outras orações (imediata ou mediatamente). Vamos partir do seguinte exemplo:

(3) o presidente declarou que o país vencerá a crise (4) o país vencerá a crise

Essa segmentação difere da usual, mas é a única que se harmoniza com a própria teoria tradicional de que uma oração subordinada é parte de outra oração.

Examinemos a oração maior, isto é, a íntegra de (3). Podemos encontrar funções já definidas: o presidente é o sujeito; declarou é o núcleo do predicado. Agora, resta uma sequência que parece formar um constituinte, como o mesmo pode ser confirmado. (...)

Assim, podemos concluir que a oração que o país vencerá a crise está incluída no objeto direto da oração maior: um caso de recursividade, portanto valendo para as classes das orações. Esse fenômeno denomina-se tradicionalmente “subordinação”, e podemos manter esse termo aqui, pois é conveniente e não- ambíguo (desde que seja tomado em seu sentido estritamente sintático; assim, a oração subordinada não é “menos importante” do que a principal, nem depende dela quanto ao sentido).

Em princípio, os constituintes complexos desempenham funções idênticas às dos constituintes não-complexos. Podemos falar então de uma recursividade de classes (constituinte da classe A dentro de outro constituinte da classe A) e também de funções (objeto direto dentro de objeto direto). No entanto, a noção de recursividade não exige que a função do constituinte maior seja idêntica à do menor. Assim, em (3) a oração subordinada é o objeto direto, o que a principal evidentemente não é.

Deixemos, pois, estabelecido o princípio segundo o qual é possível encontrar estruturas oracionais que encerram em si outras estruturas oracionais: aquelas se chamarão “orações complexas”. Ou seja, a formação das orações, assim como de muitos outros tipos de sintagmas, é recursiva.

2. UM CRITÉRIO DE CONTAGEM DE ORAÇÕES

(3)

Uma questão levantada no ensino da gramatical é a de que razões nos levam a considerar que determinada oração é complexa (isto é, que razões permitem identificar um período como composto). (...) Alguns autores parecem perceber a relevância da questão, embora o tratamento deixe a desejar. Martinet, 1979, dá como critério a estrutura interna das orações componentes da oração completa, ao que parece seguindo Jespersen, para quem uma oração subordinada é

“um membro de uma sentença que tem forma semelhante à de uma sentença.”

[JESPERSEN, 1933, p 166] Esse critério é apenas uma solução.

Por outro lado, a gramática tradicional só considera o aspecto semântico do problema; esse certamente tem importância, mas não supre a necessidade de se caracterizar o que é que faz uma oração ser complexa do ponto de vista sintático. Nesta seção procuraremos examinar esta última questão, para estabelecer e justificar um critério que nos autorize a ver dentro de uma oração outra ou outras subordinadas ou coordenadas.

O critério básico é o da estrutura interna, expresso por Jerpersen na citação acima, e por Martinet da seguinte forma:

“Entre os elementos determinantes de uma frase, encontra-se com frequência partes do enunciado que apresentam a mesma forma que uma frase completa [...]”

[MARTINET, 1979, p17] Esse critério nos permite isolar duas orações em (3),

(3) o presidente declarou que o país vencerá a crise

Por um lado, (3) tem um sujeito e um núcleo do predicado; e há razões, que vimos acima, para crer que possui igualmente um objeto direto. Por outro lado, a parte de (3), a saber, o país vencerá a crise, tem também sujeito, núcleo do predicado e objeto direto, ou seja, a estrutura típica de uma oração. Além disso, esse segmento de (3) pode ocorrer como oração livre.

(4)

Exprimimos esses fatos dizendo que a oração (3) é complexa, porque compreende duas orações, uma dentro da outra:

(3) o presidente declarou que o país vencerá a crise

e (4) o país vencerá a crise

O mesmo procedimento nos faz classificar como complexas as sequências de orações tradicionalmente chamadas “coordenadas”, como em

(11) o país vencerá a crise e o povo receberá algumas migalhas – Aqui fica bem claro que, se retirarmos a conjunção e, o que resta são duas estruturas tipicamente sentenciais.

Esse critério, porém, no que pese sua clareza, não basta para justificar todos os casos em que a tradição postula a existência de orações dentro de orações (períodos compostos). Isso porque com frequência a oração menor (subordinada0 apresenta uma estrutura que não corresponde exatamente à das orações livres (“absolutas”). As discrepâncias são de diversas dimensões e de diversas naturezas, podendo ser classificadas em grupos, graduados em função da “gravidade” dos desvios.

Assim, temos, primeiramente, um grupo em que o desvio reside na forma do verbo. São os casos em que a oração menor só difere das livres por apresentar uma forma verbal que nunca, ou só excepcionalmente, aparece em orações livres. São orações com verbo no infinitivo, gerúndio ou subjuntivo, com ou sem sujeito expresso:

(12) o país deseja que o presidente renuncie

(13) Carminha decidiu ajudar Mariquinha

(14) ele sempre trabalha tomando café (...)

Em um segundo grupo, entram as chamadas orações “relativas” (ou “adjetivas”). Estas são sempre introduzidas por um elemento específico, chamado “pronome relativo”: que, o qual, cujo, quem, onde; e sempre têm um termo omitido, que é idêntico ao sintagma que imediatamente precede o relativo:

(15) encontrei uma aranha que meu menino colocou na geladeira

(5)

Diz-se que há um termo omitido, idêntico ao sintagma que precede o elemento relativo, por causa de indicações como as seguintes:

a) Em (15) temos o verbo, colocar, que nunca aparece em orações livres sem objeto direto; no entanto, parece estar sem OD nesse exemplo. Além disso, o sintagma que precede que é uma aranha, que tanto sintática como semanticamente é adequado a desempenhar o papel de OD do verbo colocar. Essa situação se repete (com várias funções além de objeto direto) em todos os casos de oração relativa.

b) Em (16) falta o sujeito da oração subordinada, mas o verbo concorda; sua forma não é livre, mas determinada por os cobradores. A análise tradicional resolve essa questão afirmando que o elemento que precede o relativo está presente na oração subordinada, através de uma retomada pronominal, que é o próprio relativo (daí ser chamado de “pronome”). (...) Por ora, observemos apenas a ausência sistemática de um termo, o que o distingue as subordinadas relativas das orações livres.

Finalmente, um último grupo inclui as chamadas “orações reduzidas de particípio”. Seria o caso de

(17) um queijo feito de leite de ovelha

Essas formas têm estrutura interna muito diferente da das orações absolutas (livres), e não se justifica sua análise como orações subordinadas. (...)

Os vários tipos de “deformações” acima listados constituem uma espécie de sequência de “graus de oracionalidade”; estes se distinguem uns dos outros pelo número de traços que apresentam diferenciando-os das orações absolutas. A questão prática que se coloca é a de traçar o limite entre orações e não-orações: em que altura da sequência as diferenças são tão grandes que já não vale a pena falar de “oração”?

A resposta não é muito difícil, acreditamos que dentro da sequência sugerida, isto é,

a) construção com verbo no indicativo, b) construção de subjuntivo ou infinitivo, c) construção relativas,

(6)

d) construção de gerúndio, e) construção de particípio,

a linha deve ser traçada de modo a excluir as construções de particípio, porque os termos que se encontram associados a particípios mostram invariavelmente um comportamento típico de termos suboracionais. Tudo se passa como se os particípios fossem adjetivos puros e simples, e como tais desempenham a função típica de NSA. Por exemplo,

(18) costumes trazidos da Europa

Aqui da Europa parece ser um CSA (complemento do sintagma adjetivo).

Em todos os casos, o comportamento sintático das construções com particípio e das construções com adjetivo é idêntico Em outras palavras, um particípio é, na superfície, um adjetivo. Exclui-se apenas o particípio que ocorre com complemento dos auxiliares ter e haver.

Talvez uma razão para que alguns considerem as construções de particípio como oracionais seja a possibilidade de se lhes antepor conjunções como embora,

mas...

(19) embora aceitas minhas objeções, houve resistências

Concluímos que as construções com particípio não são oracionais, e que, por conseguinte não existem as chamadas “orações reduzidas de particípio”. Por outro lado, o mesmo raciocínio nos autoriza a considerar oracionais as construções com gerúndio e com infinitivo.

Referências

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