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O desafio do ensino do Português como língua estrangeira para Haitianos

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Academic year: 2021

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HAITIANOS Área temática: Educação

Coordenador da Ação: Flávia Walter1 Autoras: Luciana Colussi2, Rosana Cuba3, Helen Parnes Miranda4 RESUMO: O fluxo migratório haitiano teve início em 2010, após o terremoto, passando a constituir a nacionalidade de maior representatividade no país. Santa Catarina é um dos maiores estados na recepção desses imigrantes, exigindo políticas efetivas de acolhimento. Nesse sentido, este trabalho é um relato da experiência inédita no campus Camboriú, do Instituto Federal Catarinense, em que foi desenvolvido o projeto “Inclusão pelo português: Curso de Língua Portuguesa para os imigrantes haitianos na perspectiva da interculturalidade”. Para isso, foi proposto um curso de Língua Portuguesa, que tem como objetivo favorecer a qualificação, o desenvolvimento profissional e a demanda da formação de imigrantes haitianos, através do ensino de Língua Portuguesa como segunda língua, bem como fundamentos de informática e de cuidados no ambiente laboral. Pretende-se que os alunos sejam capazes de utilizar a língua portuguesa e informática em seu cotidiano e conhecer a dimensão cultural e social do Brasil, no que se refere ao processos de inclusão social e no trabalho. A inserção no ambiente acadêmico contribui diretamente com o aprendizado da língua, promove o convívio pelo qual as relações interculturais se constituem em um ambiente comprometido com a formação humana e reafirma o papel social do IFC na produção de paradigmas de cidadania mais inclusivos e democráticos e na percepção da instituição enquanto espaço público.

Palavras chave: Português; Língua Estrangeira; Haitianos.

1Professora Flávia Walter, Mestre em Ciências da Linguagem, Instituto Federal Catarinense, Campus Camboriú. flavia.walter@ifc.edu.br

2Professora Luciana Colussi, Mestre em Estudos Linguísticos, Instituto Federal Catarinense, Campus Camboriú.

3 Professora Rosana Cuba, Doutoranda da UFSC, Instituto Federal Catarinense, Campus São Bento. 4 Acadêmica de Licenciatura em Pedagogia, Instituto Federal Catarinense - Campus Camboriú.

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1 INTRODUÇÃO

Tendo-se em vista que o Instituto Federal Catarinense tem como base o tripé ensino-pesquisa-extensão, diante da intensificação do fluxo migratório haitiano no ano de 2013, constituindo a maior nacionalidade de empregados formais no país, e, sendo o Estado de Santa Catarina o segundo maior na recepção desse contingente, foi idealizado um projeto de extensão que atendesse esses imigrantes em uma perspectiva intercultural.

O panorama histórico da percepção das diferenças se caracteriza pela negação, em que o detentor de poder subjuga outras culturas ao seu sistema de valores sob a escusa da inferioridade que argumenta comprovar pela própria condição inferiorizada que os coloca. O próprio temor das anti-democracias à possibilidade de rupturas da ordem vigente por novas concepções encontra sua sombra nas proibições de ingresso de imigrantes em seus territórios, temor esse que se traduz pelo termo “xenofobia”. Muitos países, pelas próprias imposições políticas e econômicas decorrentes da globalização, tem aberto suas portas aos imigrantes. Por essa razão, procura-se pensar caminhos que, a partir das relações constituídas cotidianamente, promovam a inclusão no sentido de acolher as diferenças, e não amenizá-las em um processo de integração pelo qual as múltiplas identidades são subsumidas a uma unidade artificialmente forjada pela cultura dominante.

É nesse sentido, que a interculturalidade aparece não como uma metodologia acabada, mas como um novo ponto de vista baseado no respeito à diferença, que se concretiza no reconhecimento da paridade de direitos. (FLEURI, 2003, p.17), correspondendo a uma “educação para a alteridade”.

Com base nessas observações, no ano de 2015, foi criado o projeto de extensão “Inclusão pelo Português: Curso de Língua Portuguesa para os imigrantes haitianos na perspectiva da interculturalidade”, tendo sido aprovado e desenvolvido no ano de 2016, ao qual se dá continuidade no presente projeto.

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experiência em relação ao ensino de língua portuguesa como segunda língua para imigrantes e, portanto, constituiu-se como um desafio de múltiplos aspectos, dos quais se destaca a barreira linguística, se impondo a necessidade de uma leitura intercultural, sob um novo olhar a partir das relações estabelecidas. Essa etapa se desenvolveu em um processo que demandou reuniões de planejamento regulares, reconstrução de métodos a partir da experiência de cada docente e a escolha das temáticas a serem desenvolvidas. As discussões giravam em torno do que era mais significativo para os alunos e como proceder de forma que eles pudessem entender os conteúdos abordados, sem que nada fosse traduzido, já que o método utilizado era o audiolingual.

Acreditamos que, na aprendizagem de uma língua estrangeira, todos os métodos são eficazes, assim como, dentro de um curso, diferentes métodos são usados. Após discutirmos o objetivo que tínhamos para o projeto e as condições de trabalho que possuíamos, constatamos que seria mais viável trabalhar um método em que:

A língua não deve ser estudada formalmente; pelo contrário, deve ser assimilada. A forma e estrutura não devem ser prioridades e sim, a competência comunicativa. Os erros iniciais devem ser tolerados pois estes demonstram certo estágio do aprendizado do aluno, e isso significa que está ocorrendo a comunicação. (FILHO & LIMA, 2013, p. 2)

Nesta perspectiva, consideramos que o método comunicativo seria o mais apropriado já que:

A abordagem comunicativa defende que a unidade básica da língua é o ato comunicativo ao invés da frase. O mais importante passa a ser o significado e não a forma. A competência comunicativa é o objetivo e não a memorização de regras. Para que essa competência ocorra, afirma-se que devem ser usadas situações do dia-a-dia dos alunos, assim eles conseguirão aprender as formas gramaticais percebendo que estas possuem utilidade e podem ser usadas no cotidiano. (FILHO & LIMA, 2013, p 21)

Assim, as aulas são ministradas em português, sendo que os professores facilitam a compreensão da língua através do contexto real de comunicação. É interessante destacar que os professores usam expressões faciais ou gestos para

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que os alunos possam entender melhor o sentido das funções/ações comunicativas ensinadas em aula. O professor deve estar ciente que o aluno haitiano é um ser ativo deste processo e, portanto, devem ter voz em sala de aula, pois suas contribuições são importantes para que a língua não seja vista como uma imposição cultural ou como um imperialismo, e sim, como uma forma de comunicação. (SOUZA, 2008, p.80).

Atualmente, o curso está sendo ministrado por professoras de Língua Estrangeira trabalhando com cerca de 40 alunos em sala de aula. Este número não é ideal para trabalhar uma língua estrangeira, sobretudo com alunos cujas escolaridades divergem significativamente. Contudo, acreditamos que nossa função reside em uma perspectiva inclusiva pela qual objetivamos, além de ensinar a língua, promover a inclusão social no mundo do trabalho, para que sejam incluídos também no ambiente acadêmico.

O curso é ofertado em dois dias semanais, quais sejam terças e quartas-feiras e além das aulas de português, são ministradas aulas de informática por um acadêmico do último ano de Tecnologia em Sistemas para Internet, com experiência no ensino de informática para crianças, e de temáticas acerca da Segurança no Trabalho pela professora que coordena o curso Técnico de Segurança no Trabalho no campus.

3 ANÁLISE E DISCUSSÃO

No ano de 2016, houve 30 inscrições no período formal estabelecido, preenchendo o número de vagas. No entanto, ao longo do ano, o número de inscritos duplicou. Essa demanda por eles levantada, junto da percepção de que há uma grande rotatividade de alunos, nos leva a efetuar novas matrículas ao longo do curso, já tendo sido feitas até o presente momento 76 inscrições.

Em relação às atividades em sala de aula de Português como língua estrangeira, quando falamos no tema ‘dar voz’ aos estudantes, destacamos que um dos nossos maiores desafios é dar voz às mulheres, pois foi percebido desde os períodos das inscrições, que além de constituírem minoria dentre os inscritos, elas

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grupo, elas silenciam e não participam de nenhuma atividade.

Quanto às dificuldades próprias do ensino da Língua Portuguesa identifica-se nos casos dos encontros consonantais de “p” + /r/ e dos dígrafos consonantais /R/, a pronúncia do /r/ ou /R/ como “l”; a identificação das sílabas tônicas, o que acreditamos dever-se a uma associação com o funcionamento da língua materna (creole) ou o francesa.

Já no sentido de diferenciar os níveis de ensino haitiano, descobrimos que o sistema formal haitiano possui um formato bem diferente do brasileiro, o que dificulta a classificação profissional deles em nível técnico e superior.

Atividades lúdicas, como jogo da memória ou cruzadinha ou atividades com músicas, bem como utilizar recursos audiovisuais, revelam-se como uma metodologia eficaz na promoção do ensino-aprendizagem de forma lúdica e que abrange a todos os perfis que compõem a turma.

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS

A docência sempre foi e sempre será um desafio constante. Atualmente, descobrir a melhor forma de atrair o interesse dos estudantes nesta era digital, onde tudo é pronto e acabado, usar uma metodologia adequada a esse público é o maior desafio. No caso dos haitianos, constatamos que os desafios são diferentes, pois estes alunos já vêm munidos com a principal característica para que haja o aprendizado, isto é, o interesse pelo aprender. No entanto, acreditamos que, por maior que seja o desafio diário, entrar naquela turma e ver aqueles olhares de esperança, ver aqueles sorrisos nos rostos, ter aquela receptividade na entrada e vivenciar aquelas experiências interculturais, são aprendizados únicos e, muitas vezes, inenarráveis.

AGRADECIMENTOS

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acolheu o presente projeto, às associações de imigrantes da Região do Vale do Itajaí, ao escritório de Relações Internacionais da Univali - Balneário Camboriú, à professora Flávia de Souza Fernandes, ao estudante do curso de Tecnologia em Sistemas para Internet, bolsista do CNPQ e professor de informática do projeto Sérgio Henrique atuantes no projeto, e aos voluntários Gabriel Moura Brasil, Karoline Wolff da Silva Arruda e Sérgio Feldemann de Quadros, às professoras Daniele Soares, Débora Jara Einhardt, Lívia Vetter, Nádia Veriguine e ao servidor Edson Pagliocchi, que iniciaram esse projeto conosco.

REFERÊNCIAS

BRASIL. Lei Nº 11.892, de 29 de dezembro de 2008, que institui a Rede Federal de Educação Profissional, Científica e Tecnológica, cria os Institutos Federais de Educação, Ciência e Tecnologia, e dá outras providências. Brasília: Presidência da República, 2008.

FLEURI, R.M. Intercultura e educação. Revista Brasileira de Educação, Rio de Janeiro, v. 10, n. 23, p. 16-35, maio/ago. 2003.

FILHO, Marcelo Nicomedes dos Reis Silva; LIMA, Nayra Silva Lima. A abordagem

comunicativa no processo de aquisição de língua Inglesa. Web-Revista SOCIODIALÉTICA, Campo Grande, v.3, p.1-27, mar 2013.

SOUZA, Melissa Lima de. A Abordagem comunicativa: influências e reflexos no Ensino-aprendizagem de Língua Inglesa. São Luís, [s.n], 2005.

Referências

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