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O meio de se fazer pintor em tres horas, e de executar com o pincel as obras dos maiores mestres, sem se ter aprendido o desenho. Traduzido do francez

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O M E I O

DE SE F A Z E R P I N T O R

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O M E I O

DE SE FAZER PINTOR

EM T R Ê S H O R A S ,

E DE EXECUTAR COM O P I N C E L AS OBRAS DOS MAIORES M E S T R E S , SEM SE T E R A P R E N

-D I -D O O -D E S E N H O ,

T R A D T J Z I D O DO F R A N C E Z .

L I S B O A ,

fSA TYPOGRAPHIA CHALCOGRAPHICA , TYPOPLAS» TlCA* , E L1TTE11ARIA DO AIICO DO CEGO.

M . DCCCI.

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P R E F A C I O .

J\. PINTURA

feita em huma estampa j

applicada sobre o vidro , ou espelho ,

tem tantos encantos , e attractivos ,

que sobrepassa a miniatura, assim

pe-la viveza do seu lustre , como pepe-la

ma-cieza do seu toque. Todos o podem

sa-ber , sem terem d'antemaô aprendido

os, primeiros elementos do Desenho ;

mas esta mesma maneira de pintar, taô

divertida, e taô commoda, he

conhe-cida de muito poucas pessoas. O

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mei-m e i r o , que a inventou , só comei-mmei-muni-

communi-çou o seu segredo a alguns amigos em

particular , e ainda que muitos

procu-raô executalld , com tudo continua a

ser hum segredo. Mas como para m i m

naô h e , o quero descubrir com todas

as suas circumstancias , ou partes em

beneficio das Senhoras,

particularmen-te , das que encontraô no seu exercicio

hum divertimento bem engraçado. Naô

se" podendo ter sempre perto de si

pes-soas , que possaõ instruir de tudo

quanto lhe diz respeiquanto, neste caso, se p r o

-cure esta pequena obra , que contém

todas as instruccôes necessárias. As

obras , que tenho feito neste g ê n e r o ,

saô demasiadamente conhecidas, para

serem fiadoras da verdade que digo.

Eu somente' naô expuz o como se

colo-riaô as flores ; porque a sua variedade

infinita me obrigaria, a miudezas , que

naô teriaô fim. Além do q u e , ella

con-tém tudo isto até as differentes

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ras de cores , e mesmo de cada huma

das misturas , o que será de gf ande

uti-lidade aos pintores novos , tanto aos

que trabalhaô a óleo, como aos outros

gêneros, visto o embaraço, era que

el-les muitas vezes se achaô na escolha

das cores , que devem representar t a l ,

ou tal objecto.

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(13)

DIA-© Tí®T i DIA-© Ti DIA-© i í DIA-©71 DIA-©o® íi DIA-©1! DIA-©Ti DIA-©Ti DIA-©TfDIA-©

D I A L O G O I.

3B6-Marqueza.

J ) O M d i a , Senhor V i s p r é ; trazeis-me o meu espelho ?

Vispré.

Sim , Senhora ; ei Io aqui nesta c a i x a , t a l , qual mo encommendastes. Q u e vos pa-r e c e ?

Marqueza.

Muito bem ;, agora vejo ser verdnde , o que m e disseraô , que isto reunia os dois obfe-ctos mais agradáveis da graça , e do q u a d i o ; mas se em lugar destes dois p a r d a e s , que bat e n d o as azas , esbataõ unidos pelos bicos, h o u -vera hum s ó , naõ diminuiria a belleza da o -r bra ; que dizeis.

Vispré.

H e quasi impossível mudar-lhe n a d a , m a s , se for do vosso gosto , executarei n'outro vidro o m e s m o plano com a e m e n d a , que m e apon-t a r d e s .

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Mar-m D I A L O G O I. Marqueza.

Attendendo á vossa condescendência , e a esta grinalda de flores, pintada com h u m c o -lorido t a ô , n a t u r a l , que parece sobre sahir ao vidro , deixemos os pardaes , com a condição poiém , que haveis de satisfazer á algumas cu-riosidades femenis , a respeito da vossa arte ; pois confesso , que sou louca pela pintura , e se já naô estivesse para fazer vinte e cinco an-n o s , c e r t a m e an-n t e seria vossa discípula.

Vispré.

O vosso g o s t o , Senhora , que mostra a grande p i o p e n s a ó , está fortificado pela i d a d e , e cem poucas lições hcaiia a discípula , naô só capaz de se d i v e r t i r , mas de exceder, m u i -t o ao mes-tre.

Marqueza.

Sois muito obsequioso, S e n h o r ; e m e sin-to propensa a exercitar a vossa paciência.

Vispré.

Muito m e honro com a escolha , que de mim fnzeis, e heide c o r r e s p o n d e r , S e n h o r a , aos vossos desejos, o m e l h o r , que m e for possível.

>• Mçlrqueza. Pois bem ; principiemos pelo g ê n e r o , q u e t e m mais reloçaõ com o vosso talento ; q u e r o dizer a pintura e m vidro j instrui-me no aeu m e t h o d o , e execução.

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Vis-D I A L O G O I.' 5

Vispré.

i ígí Pintura e m vidro. ®

A arte de pintar o vidro foi conhecida dos antigos. Os preciosos restos , que achamos nas vidraças de alguns dos nossos templos , nos far zem lamentar a voracidade dos séculos , q u e destruirão a maior parte dellas , e quasi í e p u l -taraõ na sua ruina a T h e o i i a , e a Pratica. Al-guns q u e r e m , que sejaõ hoje totalmente igno-radas ; com tudo afirmaõ , que ha annos h u m Benedictino ressuscitou esta arte ; e que as suas obras em nada c e d e m ás dos antifos q u e admiramos. P o d e m o s fazer conceito dellas p e -las reparações , que elle fez nas vidiaças das Igrejas de S. Deniz , de S. G e r m a n o , des-Prés , e outros lugares.

Dizem , que este segredo nos veio de Ale-m a n h a ; e seAle-m duvida , que os Ale-m a t e r i a e s , d e q u e elles se serviaõ para. as suas cores , saõ os m e s m o s , de que hoje u s a m o s ; a s a b e r , os estilhaços que saltaõ das bigornas dos ferrei-ros , o sabaõ branco , as pedrinhas das ribeiras mais transparentes , mineral de c h u m b o , cpn-c h i n h a s . pedra negra , sarro , g e ç o , fezes d e p r a t a , e afé. a mesma p r a t a , e o u r o . Moaõ e s -tas cores , cada h u m a de per si n'huma c h r p a d e cobre c o m agoa , e m q u e haviaò desfeito goma Arábia ; punhao as cores assim destem-peradas sobre o vidro ; e os menos h á b e i s , pa-í ra dar os r e a l c e s , para sinalar os pelos da barba , os c a b e l o s , e os c l a r o s , ou fosse nas r o u -pagens , ou n'outra qualquer parte , usavaõ d e h u m páosinho aguçado para tirar m e t h o d i c a

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% D I A L O G O I.

m e n t e do vidro a cor , que lhe tinhaõ posto pouco m a i s , ou m e n o s , como fazem os a b n -üores em preto.

Sem duvida , que a carestia destes últimos , contribuio muito á d e c a d ê n c i a , por naô dizer ,ao esquecimento, desta arte. Estando as cores

postas no vidro , o metiaõ n'huin forno , e der-retendo ÍÍS o calor , uniaõ-se , e algumas até penetravaó ao interior do vidro.

Marqueza.

© Vidros raros. ©

Na verdade seria deplorável a perda de hum segredo taô belo. L e m b r a - m e de ter visto em R o u t n fr< gmentos deste gênero d'huma ri-queza de colorido fora d o c o m n m m : saõ os vi-dros da capella do cemitério de S, Maur. Os maioies conhecedores naõ tem alli m a i s , que desejar. Iguaes se admiraõ na capella do Gas-lelo de Yincennes.

Vispré.

T e n h o visto, S e n h o r a , esses primores da Antigüidade ; e nada temos taõ belo na Europa. Em vez de admirarme , de que Luiz G r a n -de pensasse ornar a capella -de Verssailles c o m estes vidros magníficos ; pelo contrario, causa-nie e s t r a n h e z a , naõ os ver alli.

'' Marqueza.

Contentemonos de admirar os r e s t o s , q u e nos ficáraõ . esperando , que este segredo ainda chegue a toda a sua perfeição. Mas , se vos r-grada , fallemos do vosso , que m e parece h u m ramo deste gênero.

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Vis-D I A L O G O I. 5

Vispré.

© Pinturaj sobre o espelho. ©

T a l v e z , S e n h o r a , que julgando perdido o p r i m e i r o , imaginassem o segundo. IS'hum , e ivoutro se põem as cores sobre o vidro , e esta hé a única relação , que tem entre si. O que vedes no vosso espelho , he a arte de pin-tar no vidro ,. mas sem fogo. Para a e x e r c i t a r , inverto a onlem g e r a l , que serve de regra i n -variável á todo o outro gênero de pinturas. P o n h o em primeiro lugar os realces , que saô ordinariamente os últimos , que se põem , quando pintamos em p;'to , ou pedra , panno , m e -t a e s , ou paredes ; e as cores que servem d e f u n d o , e. esbcço se põem sobre as o u t r a s , e saõ as ultimas.

Marqueza.

A vossa arte podia chamar-se pintura ás-vessas , pois principiais , por onde os outrqs a-cabaõ. Hum pintor perito naô faria o m e . s m o , seguindo o seu m e t h o d o ordinário ?

Vispré,

Naô , Senhora ; por muito perito , que o suponhais na arte seductora de enganar os nos-sos olhos pela destreza da mistura , e applica-çaõ das cores ; até pela imitação perfeita da-quellas , de que se revestem os objectos na-t u r a e s , e pela disna-tribuição e c o n ô m i c a , e vfin-tajosa , que dellas soubesse fazer , já mais con-seguiria este fim , senaò invertesse a ordem usual da posição das tintas.

Isto naõ he tudo. A i n d a , que saiba fixar as

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Õ D I A L O G O I.

es tintas c o m a q u e l l a mesma tenacidade', com q u e as applica ao panno , se naô c o n h e c e o vinculo invisível, q u e as liga i n t i m a m e n t e ao polido do v i d r o , que naõ tem poros a b e r t o s , para segurar a pintura , a qual se aferra per si mesma aos outros c o r p o s , nunca a sua ar-t e , por mais perfeiar-ta, que fora , lhe subminis-traria meios de saber , corno em vidros esta-n h a d o s , taes como o vosso espelho t i r a esta-n a ar-tificiosamente o aço naquelle só lugar , em que tivesse necessidade de pintar do n a t u r a l , q u a d r ú p e d e s , a v e s , flores , frutos , efornatos, seja da C h i n a , seja de outro qualquer c l i m a , de m o d o , que a pintura , e o estanho , que fi-c a r , façaõ hum todo sem intervallos , e nos possamos ver nestes espelhos trabalhados do m e s m o m o d o , que em outros quaes quer.

Marqueza.

Pelo que dizeis, percebo toda a belleza do vosso t a l e n t o , porém á proporção , que sinto crescer em mim o desejo de a p r e n d e r , vejo augmentaremse as dificuldades de o c o n s e -guir. Descubri vós o segredo de m e ensinar t u d o , o que respeita a esta arte em taô pouco t e m p o , como eu gasto em pôr o c a r m i m , que. eu vos pagarei este precioso talento por tu-d o , quanto quizertu-des.

T e n h o hum gênio taô frenético , q u e naô poderia , sem impaciência , «pplicnrme m u i -to tempo á mesma cousa ; além de q u e , os elementos das artes e sciencias saõ taô fastidiosos , que naõ s e i , como pôde alguém e x -por-se ao trabalho de os estudar. Com t u d o baciificarei hum dia i n t e i r o , se podesse

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D I A L O G O I . 7

der a pintar somente huma rosa taô v i v a ,

co-JÍÍO aquelia , que executastes n o meu

espe-lho.

Vispré.

Se faílasseis serio , responder-vos-hia', se» nhora , que paia pintar huma rosa he preci-so aprender a desenhalla , mas tecei cuidadoí de vos livrar dos princípios enfadonhos , c a -pazes de descorar as mesmas ros;.s , mil vezes mais bellas, que e s t a s , que vos ensinarei a pintar.

Marqueza.

O senhor falia taô b e m , como pinta ; mas quando abristes a vossa boceta , naô vi h u m q u a d r o ?

Vispré.

Sim , senhora , vai para huma estimavel v i u v a , he huma Magdalena, gravada confor-m e o faconfor-moso quadro de l e B r u n , beconfor-m conhe-cido por todos. Fazei-me a graça de dar-mô o vosso p a r e c e r .

Marqueza.

Bella copia ! Naô se podia exprimir m e -lhor hum original. Já mais deixo de ir admi-rallo aos C irmelitas, todas as vezes que subo ao valle da G r a ç a , onde tenho alguns conhe-cimentos. Na v e r d a d e , he bem feliz essa viu-v a , p o i s , com tal q u a d r o , será impossíviu-vel q u e naõ aprenda a chorar com graça a morte de seu marido. Mas que nae qnereis dizer com a vossa Magdalena gravada? Naõ he pintada em

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vi-8 D I A L O G O I .

Widro pe'o quadro de le B r u n , do mesmo m o -d o , que pintastes sobre o m e u espelho. Kx.-plicai-me este mysterio.

Vispré.

N a õ , S e n h o r a , h e totalmente outro gê-nero ; o que julgais ser h u m q u a d r o , naõ he unais , do huma estampa gravada , segundo o quadro de le Brun. {Vede atravez do v i d r o , como esta pegada.

Marqueza.

Que dizeis ! Sera duvida fazeis esca.irteo d e mim ; quanto mais o l h o , menos vejo a es-tampa. Vós naõ pintastes esta Magdalena?

Vispré. >

Sim , s e n h o r a , mas foi sobre a estampa.

Marqueza.

Acabai por huma vez. Dai-me o l h o s , ou explicai-vos.

Vispré.

Com muito g o s t o , senhora. Disseste-me em ar de brinco , que sacrificareis de boa-m e n t e huboa-m dia para aprender a pintar huboa-ma rosa em vidro ; e eu r e s p o n d o , que naõ peço snais que três horas para vos ensinar a pintar em vidro, naõ só huma Magdalena i g u a l a es-ta , mas quaesquer outros o b j e c t o s , q u e qui-zerdes.

Marqueza.

Eis-aqui o que se chama hum homem es?

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ti-D I A L O G O I . 9

timavel. Senhor Vispré , lembrai-vos da pro-messa , a que vos obrigastes ; concedo-vos as tr<:s lioras, que pedis , e ficais penhorado pe-la pape-lavra.

Vispré.

Sim , senhora , se me fizerdes a honra de nttender-me , firareis convencida , de que naõ sou impost.or. Previsto pois em sustentar, que oqnfi v e d e s , he huma estampa , e hum retra-to feiretra-to a p i n c e l , pintado por delrás ãa mes-ma estampa. A prova será fácil. Escolhei se-nhora , nesta caixa a e s t r m p a , que vos agra-dar , ou , para vos fazer isto mais sensível , pe-g«i d'hurna semelhante á esta , que v e d e s , pintada por detrás deste vidro.

Marqueza.

Aqui e s t á , e por ora só v e j o , que tenho huma estampa , das que vendem os estampa-dores , a qual representa a Magdalena : e naô lhe acho outra semelhança com a vossa pin-tura , m a i s , que nas proporções.

Vispré.

© Pintura por detrás do vidro. © H e toda a c o m p a r a ç ã o , que por ora exi-jo de vós. Está b o m , s e n h o r a , a e s t a m p a , q u e tendes , naõ differe da outra sua i g u a l , q u e está debaixo do v i d r o , senaõ em que es-ta naõ teve ainda os preparos , que a fizeraõ transparente , nem foi pintada pelo r e v e r s o , d e maneira , que fizesse d e s a p p a r e c e r , ou fu-gir todo o escuro ,desta mesma estampa, para

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mos-«o D I A L O G O I.

mostrar só as c o r e s , que a d i s f a r ç a ô , a ponto d e fazer p e n s a r , .como vos aconteceo , que era huma copia, da Magdalena de le B r u n , trabalhada a p i n c e l , conforme o original.

Marqueza.

Sois taõ persuasivo, que estou quasi t e n -tada a dar-vos credito.

> , Vispré.

Naõ tendes necessidade , senhora , de r e -ferir-vos , senaõ a vós mesma neste particu-l a r , se mediarem as três horas , que p e d i , para vos fazer executar h u m a tal methamorforse.

Marqueza.

Eia , Senhora , nao percamos tempo em palavras, ensinai me p r o m p t a m e u t e esta m á - , gia, que nre ha' de fazer pintora e m taõ pou-cas horas.

Vispré.

Esta magia vos subministrará h u m meio de variar os vossos divertimentos.

Marqueza.

Por certo que os naõ hei de variar , por-que daqui em diante naô por-quero applícar-me a outra cousa. Dai-me a vossa palavra, que ha-vemos de principiar a trabalhar nisto depois de jantar ? ;

Vispré.

\

Quando quizerdes, Senhora. Nesta boce-ta tenho t u d o , o que p r e c i s a m o s ; mandai só

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D I A L O G O I. 1 1

vir hum grande vaso d'agua a ferver, e eu res» pondo "pelo mais.

Marqueza.

Hum vaso de água a ferver ? Depressa sereis servido. Dizei lá d e n t r o , da minha par-t e , que vaõ cuidando n i s s o , a fim de que es-ja tudo prompto , quando se principiar a obra. Mas olhai, Senhor Vispré , naô vades publicar a minha inadvertencia , que m e podem es-carnecer.

Vispré.

Executarei fielmente as vossas ordens. Es-se engano «naõ vos deve assustar, porque , desde que me appliquei a este gênero de pin-t u r a , pin-t e n h o pin-tido a honra de apresenpin-tar as mi-nhas obras ás Senhoras da primeira grandeza , a quem esta novidade illudio. O e x e m -plo mais próximo h e a Senhora Duqueza d e

. . , a cuja casa me enviastes naquelle dia , em que me mandastes pintar este e s p e -lho'; e , levando-lhe eu hontem , o que ella m e e n c o m m e n d á r a , mostreilhe huma A n d r o m e -da p i n t a d a , assim como esta Mag-dalena, jul-gou t a m b é m , q u e era hum quadro ; e tive bastante trabalho em persuadir-lhe , ser h u m a estampa illuminada. Conhecendo o sen enga-no naô se fartou de rir , até que manifestou c o m grande admiração o seu i n n o c e h t e erro á numerosa assembléa , que chegava a t e m -p o , que eu m e hia r e t i r a n d o ; e de t o d o s , Senhora , recebi taõ grandes elogios , que m e estaria mal repetillos.

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Mar-i a D I A L O G O í.

Marqueza.

Pois a Duqueza deixou-se e n g a n a r , ain-da em cima alardeou ? Já naõ quero segre-dos , S e n h o r ; podeis dizer t u d o , e até no-m e a r a pessoa se quizerdes.

Porém occorre me huma d u v i d a , e l i e , que estou para ser pintora ; ao menos assim mo-affinnais : e nunca direi, que adquiri es-ta prenda em três h o r a s ; ao contrario queria impor com ella ; e para me sahir bem , de-via , segundo p e n s o , saber fia liar alguma cou-sa a respeito da pintura , e por desgraça naô t e n h o noticia alguma. Q u a n d o mostrar as mi-nhas o b r a s , o que firei a todo o m u n d o , he n a t u r a l , que se falle á cerca de p i n t o r e s , e pintura ; a minha lingua trahirá o meu pin-c e l , e vos pin-confesso , que isto humilharia bem o meu p e q u e n o amor próprio.

Vispré.

Se essa h e toda a difficuldade , que vos embaraça de acceitar o presente , que t e n h o a honra de offerecer-vos, será fácil de fazeiia. Vós naõ fazeis justiça a essa aguda p e n e tração , que ros faz c o m p r e h e n d e r tudo , d e -c o r a r , e dis-correr -com o melhor a -c e r t o . De-mais naõ vos embaraceis com isso , que vos dou a minha palavra , de que em menos de huma hora h e i de familiarizar-vos tanto c o m a p i n t u r a , que em caso de n e c e s s i d a d e , po-dereis defender conclusões nella.

Marqueza.

v Fareis mais esse milagre? E m fim vaieis

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pe-D I A L O G O I . l 3

pezado a ouro. Ainda temos huma hora a n -t e s , que vamos para a meza ; concedo-vos es-te es-tempo para m e dardes as luzes necessá-rias. . ,

Vispré.

Hei de conseguir esta empreza , e naõ esmoreço , pois me fundo na grandeza do vos-so discernimento. Pois onde q u e r e i s , Senho-v ra , principiar?

Marqueza.

Figurai primeiramente , que eu naõ d e -sftjo ser sabia , mas só parecello , e brilhar na c o n v e r s a ç ã o ; he tudo o que vos peço. T o -quemos da passagem a nossa matéria , e sé vos parece , vamos á origem da pintura , q u e estas memórias me bastaráõ.

, Vispré.

© Definição da pintura. ©

* A p i n t u r a , Senhora, esta lingua m u d a , que naõ falia mais qué aos o l h o s , he arte de traçar, por meio de cores , huma imagem pa-recida á todas as c o u s a s , que saõ sujeitas aos sentidos. T e m quatro p a r t e s : i n v e n ç ã o , dis-posição , ou ordem , d e s e n h o , e colorido. A invenção he a escolha dos objectos, que d e -vem entrar fia composição do a s s u m p t o , q u e a pintura quer, tratar. A disposição h e o a r -ranjamento das seis partes de economia d e b u m q u a d r o , que s a õ , a distribuição dos o b -jectos , os grupos , a escolha das posições , a variedades d a s ' c o r e s , o traçado das r o u p a s ,

(26)

J 4 D I A L O G O I.

e a execução de tudo geralmente. Consiste o d e , s e n h o ' e m bosquejar no p i n n o , pao , ou outra m a t é r i a , os deliniamentos e x t r e m o s , ou linhas características de todas as cousas. O colorido he a mistura das cores , a sciencia davsua u n i a õ , e o c o n h e c i m e n t o d a a l l i a n ç a , que ellas tem e n t r e si , em fim o modo de servir-se dellas , para representar a cor dos objectosnaturaes , que se q u e r e m pintar. To-da a sciencia To-da pintura se c o m p r e h e n d e nes-tas poucas palavras, que vos bastaõ p^ra sus-tentar hunm conversação b r i l h a n t e , com os nossos maiores m e s t r e s .

Marqueza.

T e n h o decorado tudo sto , e m e alegro por serem estes objectos próprios de revesti-r e m de muitas frevesti-ranjas.

Vispré.

Passo á origem da pintura. Ainda os au-thores mais antigos, que tratarão delia , naô conhecerão a sua primeira época ; porém t o -dos c o n c o r d a õ , em que h e muito antiga. Di-z e m - n o s , que o p r i m e i r o , q u e e m p r e h e n d e o d e s e n h a r , o fez n ' h u m a p a r e d e , traçando a sombra de hum homem alli representada pela luz. Diodoro de Sicilia ( reparai bem , Senhor r a , nos nomes dos authores ; podeis citamos sem p e r i g o ; e os temos todos em Francez ) como hia dizendo , Diodoro de Sicilia , para demarcar a idade da pintura , escreveo , q u e n o tempo de Semiramis havia em Babylonia > Cidade que esta Princeza mandou edificar, dous muros de desmedida g r a n d e z a , cujos ia«j

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-D I A L O G O I. i 5

drilhos foraõ pintadps , antes de serem cozi-' dos , onde se via toda a sorte de a n i m a e s , pintados , e illuminados ao natural. Accres-centa , que ella tinha no seu palácio dous q u a d r o s , que representavaò cassadas, e c o m -bates. Se damos credito aos Egypeios, a pin-tuHi foi conhecida pòr elles muitos secuJos a n t e s , que o fosse dos G r e g o s ; mas os G r e -gos querem , que fosse inventada em Sicyo-^ í e , ou em Corintho. Está no vosso arbítrio,

Senhora , adoptar huma destas opiniões , e ."té podeis inventar outra , pois os authores naõ se concordaõ , e agora andaõ em moda os sistemas , que nos daõ novos soccorros pa-ra a conversação.

Marqueza.

Bellos conhecimentos / N u n c a deixareis de os impingir á q u e l l e s , que virem as minhasí obras.

Vispré.

Aqui tendes hum bello artificio para ser-des a d m i r a d a , - s e m receio de engano. Agora vamos entrar n ' h u m campo , hum pouco mais espinhoso. Cuidai em naõ confundir a ordem dos t e m p o s , n e m os pintores antigos com os m o d e r n o s , porque sem isto vos exporeis a a-nachronismos , e parachfonismos , que vos deitaráõ a perder.

Marqueza.

Anachronismos , parachronismos! N u n c a poderei lembrar-me destas palavras.

(28)

Vis-i 6 D I A L o G o I.

Vispré.

Estes dous estrangeiros , ainda q u e vos parecem bárbaros , saõ dous Gregos respeitá-veis , vertidos á F r a n c e z a ; se tomardes ami-zade com elles , saõ bem capazes de estabe-lecer a vossa reputação scientifica. Anachro-nismo he o erro que se c o m e t t e , collocando hum facto a n t e s , que elle acontece ; ao con-t r a r i o , parachronisino he hum d e f e i con-t o , quan-do o fixamos, depoisdelle succeder Que ta-lento he necessário, S e n h o r a , para dizer tan-tas cousas em duas palavras.

Marqueza.

T e n d e s razaõ , he absolutamente necesj sario ornar a minha memória de anachronis-mos ,. e parachronisanachronis-mos; mas torneanachronis-mos á nos-sa pintura.

Vispré.

Ainda m e r e s t a , S e n h o r a , darvos a c o n h e c e r a pintura nos seus differentes g ê n e -ros ; e também diremos alguma cousa á cerca dos p i n t o r e s , que mais se avantejaraõ. Pinta-se a fresco, a t e m p e r a , ém miniatura , á pe-n a , a lápis, a ó l e o , em esmalre . em fim so-b r e o vidro, e por detrás do vidro. Já t e n d e s idéa da pintura sobre o v i d r o , e reservo para quando trabalharmos, fallar a este respeito.

® Pintura a fresco. ©

A pintura a fresco , cuja invenção se at-tribue á Pausias de Sicijone , he muito antir ga ; fazse nas p a r e d e s , e abobadas r e b o c a

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D I A L O G O I. 17*

das de argamassa ainda fresca , só com as co* res de terra , ou esmalte destemperadas n'a-, g u a , e misturadas com a casca de ovo.

© Pintura á tempera. ©

Pintura á t e m p e r a , faz-se diluindo as c oJ res com água de c o l a , ou água g o m a d a , as-sim como praticavaõ os antigos , que ignora-vaõ a,pintura a óleo. Aristides foi o primei*-ro , que representou nos semblantes todas as paixões d'alma. Zeuxis , e Parrasio, a q u e m notavaõ de serem muito demorados em tudo o que faziaõ, disculpavaõ-se, d i z e n d o : que tra-balhavaõ para a eternidade. Apeles foi o pin-tor de Alexandre , o qual já mais c o n s e n t i o , que outrem tirasse o seu retrato.

© Pintura em miniatura. ©

A pintura em miniatura naõ difere , da que he feita á tempera , senaõ em que esta se serve de toda a liberdade do pincel i e a miniatura só trabalha em p o n t i n h o s , quer ser vista de perto , naô se pôde fazer facilmente senaõ em ponto p e q u e n o , e devem nella e m -pregar-se ás cores mais finas.

fé> Pintura á pena. ©

A pintura á pena h e assim c h a m a d a , por-q u e a pena serve de pincel para e s b o ç a r , e acabar . a obra , seja com tinta ordinária lu-z e n t e , ou da China , seja com cores desfei-tas n'agua. . '

© Pintura a lápis. ©

Pintura a lápis Le aquella , que fie finali»

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l S D I A L b G O Ií

sa sobre o p a p e l , pergáminho , ou p á o , só com o lápis, que algumas vezes h e huma p e -drinha natural , ou c o m p o s t a , e outras car-vão , ou mineral.

I© Pintura a lápis de pasta. © A pintura a lápis de pasta tem muita r e -lação com a de lápis. A pasta h e a massa de muitas cores g o m a d a s , e moidas j u n t a m e n t e , ou cada huma d e per .si, de que se c o m p õ e m todas as sortes de lápis para fazer retratos , ou outros objectos em p a p e l , \ o u pergáminho.

\A pintura em esmalte , bem como aquellá feita a fresco, nos vem da mais r e m o t a anti-,. guidade. Demorar-me-hei neste gênero de pin-t u r a m a i s , do q u e nos o u pin-t r o s ; p o r q u e , sendo ,menos conhecido , será ouvido com maior

curiosidade.

Marqueza.

Isso h e justamente o que desejo.

Vispré.

N o s primeiros tempos se usava a pintura em esmalte , pois que aquelles muros de Ba-bilônia , de qüe ha pouco vos fallei , eraõ de ladrilho esmaltado ; e lemos , que P o r c e n a , Hei da E t r u r i a , que fez guerra aos R o m a n o s , para restabelecer T a r q u i n i o , m a n d o u fabricar nos seus estados vasos esmaltados. Os C h i n s , este povo entuziasmado da sua antigüidade fa-1 bulosa , que conserva nos seus arquivos h u m a

succeçaõ dos seus Reis de mais de quatro mil annos , ha tempos imemoraveis pintaõ em es-jnaice. Avizinhemo-nos mais ás nossas é p o c a s ,

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D I A L O G O I .

*0

e veremos , q u e na de Miguel  n g e l o , e Ra-fael, Roma moderna sobre sahia neste gênero. Em França no Reinado de Francisco 1 . , r e s taUrador das l e t r a s , e pai das bellas artes „ t r a -b. lhava-se em esmalte com toda a perfeição. Pariz , compêndio do u n i v e r s o , se gloria c o m os dois maiores pintores em esmalte , que já mais existirão . os quaes sáõ Bordier , e Peti* l o t , os p r i m e i r o s , que nos deraõ retratos e m e s m a l t e , e faziaõ os e s m a l t e s , taõ flexíveis, q u e os dobavaõ n ' h u m a dobadoira , para for-mar com elles , for-martinetes , ou plumas. T a l he em summa a historia da pintura em esmal-te ; vamos agora á differir os e s m a l t e s , e veja-mos , como se põem em uso. A sua matéria h e estanho , e c h u m b o em partes iguaes calcina-dos no fogo de reverberio , á que ajuntaô somente as cores metálicas , q u e s a õ , o aca-fraõ de V e n u s , que faz o verde ; a ferrugem .de f e r r o , que faz o amarello , a cal do estanho

que produz o b r a n c o , e do cobre , limadura do f e r r o , e do ouro pimente , o e n c a r n a d o ; com o salitre , se faz a cor de p é r o l a , e c o m oazeviche o preto. Estes nvateriaes, assim p r e -parados , pisados, e reduzidos a pó se appli«caõ , como as outras c o r e s , sobre o o i r o , p r a ta , ou cobre , para alli se derreterem , r e c o -zerem , e vitrificarem c o m a força do fogo. Pintura muito mais preciosa, por naõ temer as calamidades do tempo.

Marqueza. >

Em quanto vos estive ouvindo com t a n t o gosto , me excitastes o desejo de pintar era

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es-ao D I A L O G O I.

esmalte , o que deve ser cousa por e x t r e m o curiosa.

Vispré.

' Sim , Senhora ; estou certo de que seria para vós hum bonito e n t e r t e n i m e n t o . Conheço em Pariz hum esmaltador , q u e , s e q u i z e r -d e s , me ficará na obrigação -de r e c e b e r a honra d e vos divertir no seu laboratório.

Marqueza.

Naõ vos esqueça l e m b r a r - m o , quando eu voltar para Pariz.

Vispré.

© Pintura a óleo. ©

Sereis o b e d e c i d a , Senhora ; e insenrivel-rnente temos chegado á pintura a óleo ; ainda que he a mais i n t e r e s s a n t e , reserveia para a ultima c l a s s e , por ser mais moderna. F a z - s e , pisando as cores com óleo de nozes , ou óleo d e l i n h r ç a . Este s e g r e d o , S e n h o r a , como ve-d e s , he muito simples , e a p e s a r ve-d i s s o , ve-de to-dos os pintores-, que vivérífò até ao meio do século décimo quinto (cousa pasmosa! ) a p e -nas houve h u m , que o achasse.

Devemos esta descoberta a Joaõ de Bru-ges , Flamengo , taõ g r a n d e chimico , c o m o insighe pintor. T a n t o he v e r d a d e , que as artes se daõ a s m à o s m u t u a m e n t e ! Elle c o n l i e c e o , q u e pisando as cores com o óleo de nozes , ou de linhaça , se fazia huma pintura solida, q u e naõ só resistia'á agoa , mas conservava huma Yiveza descores , que podia servir d e

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ver-D I A L O G O I. 2 1

verniz; p e r c e b e o , q u e , naõ se seccando o óleo taõ depressa , como a agoa , resultaria h u m proveito maior do que tiveraõ os antigos , o qual era , poder retocar muitas vezes as suas obras , emendar as figuras á sua vontade ; e ter, mais tempo para as acabar. Vio que as suas cores faziaò hum colorido mais macio , deli-cado , e agradável , dando maior uniaõ , e maiores affectos a toda a obra ; em fim pa-gou-se tanto do seu primeiro quadro pintado a óleo , q u e julgando-o digno d'huma T e s t a Coroada , o offereceo a Affonso I. Rei d e Nápoles.

© Pintura encaustica. f$

Nos nossos dias ressuscitou a p i n t u r a , c h a -mada pintura encaustica , por ser necessário o fogo para a preparação das c o r e s , que alli se empregaô. Segundo Plinio , foi conhecida dos antigos ; naõ tem h u m luzente taõ desa-gradável , como a pintura a ó l e o , porém teu* mais viveza. Os Senhores Vien , ' e Lórrain , da Academia R e a l , fizeraõ cousas admiráveis neste gênero.

Marqueza.

Pois todos esses quadros consagrados á imortalidade , alguns ha mais de mil e q u i n h e n -tos a n n o s , jforaô pintados a óleo ? Fazeis-me muito favor, em advertir-me.; por c e r t o , q u e com a preocupação da probabilidade teria sus-tentado o contrario. Como estou sabia? Nun-ca i m a g i n e i , que podesse aprender tanta cou-sa em taõ pouco tempo. Saberei pintar , e discorrer sobre a p i n t u r a , e tudo em três

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ftz D I A L O G O I.

ras. Certamente haÕ de cuidar , que tive scien-cia infusa. Peco-vos , que me citeis agora al-guns nomes dos authores , que tratarão da pin-tura , e alguns pintores mais famosos , fora os q u e já me tendes n o m e a d o , que isto m e bas-tará para sustentar afoitamente^que t e n h o lid o h u n s , e visto as obras lidos outros , e lid e -pois me concidero pela mais sabia de todas as Marquezas.

Vispré.

(rj Tratados da pintura. $>

Senhora , os que escreverão das vidas , e obras dos pintores saõ Carlodati , que recopi-lou tudo , o que os authores antigos disseraõ dos mais afamados pintores da a n t i g ü i d a d e ; Vitruvio , e F e l i b i a n o tratarão da pintura mui-t o por exmui-tenso ; Affonso Dufrenoy escreveo todas as suas p a r t e s ; Vasar, que vive o no Pon-tificado de Leaõ X. , e discípulo d e Miguel  n g e l o , fez h u m tratado em três v o l u m e s , q u e foi continuado por Bagliori, e Pedro Bel-l o n i ; RodoBel-lfo pubBel-licou os pintores de V e n e z a ;

Rafael S o p h r a n i , os de Genòva ; o Conde d e Malvasia , os de Bolonha; Mander os de Flan-dres ; e nos nossos dias o Senhor de Argenvil-l e , e muitos outros.

Marqueza.

Já tenho authores de sobejo; passemos aos Pintores:

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D I A L O G O I. s 3

Vispré.

© Grandes Pintores. ©

T e m o s , Senhora , Rafael, o Ticíano , Pau-lo de Verona , Cimaubué , os três Carraches , o Guido , o Dominiquin , Albani , R u b e n s , o Poussin ,' J u v e n e t ; e em miniatura G u e r n i e r , A n c e , Bernard , etc.

Marqueza.

O h ! naõ me citeis m a i s , que naõ t e n h o , onde acomniodar tanta gente.

Vispré.

Deixemos pois os p i n t o r e s , de que já naõ resta mais , que o nome i m m o r t a l , que adqui-rirão , e vamos aos vivos , que saõ .

Marqueza.

H e escusado fallar n e l l e s , p o r q u e

conhe-ç o os mais celebres.

Vispré.

Mas talvez , Senhora , que rwò saibais , a q u e m elles saõ devedores da sua fortuna , e dos seus talentos , e h e huma faita de c o n h e -c i m e n t o , que ninguém vos perdoará.

Marqueza.

N a õ ; eu naõ sei nada disso.

Vispré.

% Academia Real da Pintura. ?§?

Senhora , elles saõ devedores aos benefí-cios

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24 D I A L O G O I .

cios do R e i , que á todos facilita meios de a-prender1, pagando a Mestres , que estaõ na Academia da Pintura , onde saõ recebidos os discípulos, segundo os seus talentos , e com dis-tinção aquelles, que pintaõ a historia, q u e fa-zem r e t r a t o s , p i n t a õ b a t a l h a s , paizagens , ani-m a e s , f r u t o s , flores, ou que pintaõ e ani-m ani- minia-t u r a , ou desempenhaõ ouminia-tra qualquer p a r minia-t e , que diz respeito ao d e s e n h o ; o que lhe supre o tempo de Aprendiz, é Mestre. Este Grande R e i , Conservador dasbellas a r t e s , bem certi-ficado , de que a emulação h e mãi dos talen-tos , propõem , e faz distribuir prêmios , que saõ medalhas d e o i r o , e p r a t a ; e , abrindo ca-da vez mais a sua maõ liberal aquelles , que os alcançarão , os conserva , sustenta , e ac-commoda no L o u v r e , donde os m a n d a , á sua custa , á outra igual Academia de R o m a , onde achaõ os mesmos soccorros, e dalli naõ voltaõ, senaõ para receber novos benefícios , entran-do „ como pensionarios , nesta mesma Acade-mia em qualidade de Mestres,

Marqueza.

Já conhecia o nosso Monarca pela sua bondade , e por mil outras circumstancias ,• que o fazem estimavel ; amava-o de todo o meu coração , mas depois , que m e t e n d e s contado delle cousas taõ b e l i a s , ainda mais o amo. Vamos para a m e s a , que será este o uh timo jantar , que coma antes de ser pintora.

F I M D O D I A L O G O I.

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*5

D I A L O G O II.

Wr-Vispré.

O Enhora , e m quanto estivestes occupada com a vossa visita , disse que accerídessem fogo no vosso q u a r t o , e que.trouxessem h u m vaso d'agua a ferver , onde lancei duas es-tampas , para se irem embebendo , as quaes representaõ a sentença de Paris. Trabalhare-mos cada hum de nós a s u a , a fim de q u e possais executar na vossa as mesmas pincela-das , que m e virdes dar na m i n h a ; e,em quan-to vos e s p e r o , irei preparando as cores.

Marqueza.

Pois naõ pintaremos h u m a Magdalena? .'" Vispré.

Naõ , Senhora ; porque naõ t e n h o mais do que huma e s t a m p a ; além de que , esse as-sunipto h e muito s i n g e l o , e naõ he susceptí-vel de tantas variações como este , que va-mos tratar. Ora sendo o m e u desígnio fazer ainda mais do que vos p r o m e t t i , preferi este passo histórico á outro qualquer.

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Mar-a 6 D I A L O G O I I .

Ma?'queza.

Lembra-me por alto. Naõ se trata d ' h u m p o m o ?

yispre.

Sim , Senhora. Naõ sendo a Discórdia convidada para as Bodas de Peleo , Rei de T e s s a l i a , " e da Deosa T h e t i s , filha de N e -r e o , á que todos os Deoses , e Deosas assis-tirão ; ella , para se vingar, lançou no meio da sala do festim hum pomo de ouro , sobre o qual estavaõ gravadas estas palavras : Para a

mais formosa : P a r i s , filho de Priamo ,

pas-tor da Phrigia, foi escolhido por J ú p i t e r , pa-ra ser arbitro entre J u n o , Venus , e Miner-va , que o disputaMiner-vaõ. Ainda m e ficou huma e s t a m p a , irmã das d u a s , que estaõ n ' a g u a ; ei-la aqui : vede Paris encostado a h u m a ar-vore , pelo pé da qual corre h u m regato , e Venus meia nua , que r e c e b e o pomo fatal, que virá a ser causa algum dia do incêndio d e Tróia ; este bello Pastor lho d á , como á mais formosa das três concorrentes ao prêmio da belleza , em ' q u a n t o o Amor , adejando p o r cima da cabeça da M à i , tem n ' h u m a das mãos h u m a palma , e na outra h u m a coroa.

Marqiieza.

Pois imaginais, que hei de pintar h u m Paris quasi n ú , hum Paris , que naõ tem mais do que huma espécie de banda , q u e a todo o instante receio , que escorregue ? H e i d e pintar huma Venus , que em se r e m e c h e n d o qualquer c o u s a , deixaria cahir esse resto de

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ves-D I A L O G O I I . 2.7 ~

vestido, que na v e r d a d e , quasi que lhe naô serve de nada. O Amor h e hum desafora di-nho. A i ! estou taõ enraivada , que naõ posso acabar. Apos:o e u , q u e vos aproveitastes do tempo , em que eu estive com a Baroneza , q u e nunca a vi taõ enfadonha , para hirdes lançar n'agua q u e n t e as nossas duas estam-pas , a fim de que eu -naõ podesse desdizer-íue ?

Vispré.

Já vos d i s s e , Senhora , que naõ tive o u tro motivo , senaõ porque esta estampa r e ú -n e quasi todos os differe-ntes o b j e c t o s , que se trataõ nas outras. Este magnífico palácio , q u e vedes no fundo do quadro , m e dará lu-gar d e vos e n s i n a r , quaes saõ as c o r e s , e qual a mistura , q u e dellas he preciso fazer ; para pintar as p e d r a s , è formar hum pedaço de ar-q u i t e c t u r a , segundo a riar-queza dos seus orna-tos , e harmonia das suas proporções. Esta m o n t a n h a , que vai sumir-se pelas n u v e n s , m e offerece occasiaõ de dizer-vos , qual h e a tinta necessária para a fazer , e igualmente estas nuvens , donde deceremos hum instan-t e , para achar na instan-t e r r a , com. que copiar-mõs o horisonte , e o Ceo. Nestas arvores , q u e parecem furtar á vinha a purpura , e prata dos seus cachos , e sustentar a fraqueza da v i d e , mais por v a i d a d e , que por c o m p a i x ã o , teremos occasiaõ de illuminar as uvas bran-c a s , e t i n t a s , o tronbran-co, das arvores, e os seus ramos , e folhas. Estas paisagens nos faraó c o n h e c e r os longes , e* pertos de hum qua-dro , para exprimillos depois , enganando f r*

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ti-a8 D i A L o G o I I .

tificiosamente á v i s t a , conforme as regras da prespectiva. Esta cabana rústica , este velho curioso , que parece m e n o s sensível ao ex-plendor do oiro da m a ç ã a , que vé na maõ de P a r i s , do que ás graças de V e n u s , e que está g o z a n d o , a m e d o , o furto dos o l h o s , por de-traz daquella arvorezinha, onde parece escon-der-se. Mesmo esta V e n u s , seu filho, e seu J u i z , todos estes objectos m e apresenta© hum vasto campo para fazer correr do vosso pin-cel o o i r o , o c o l m o , a p a l h a , o l i n h o , e as roupagens susceptíveis de todas as c o r e s , tan-t o simplices , como c o m p o s tan-t a s , os cabellos, em fim os coloridos das carnes nas quatro ida-des da vida. Por todas estas considerações to-lerai V e n u s , de quem sois i m a g e m , desculpai o A m o r , que he h u m m e n i n o , e naõ despre-zeis o P a r i s , que h e b r a n d o , terno , e respei-toso. A vós hé que elle offerece o p o m o , pois o julga á bellezâ. Permitti além disto , que vos r e p r e s e n t e , que neste q u a d r o , naõ se vè mais do que huma nudez m o d e s t a , que abso-l u t a m e n t e naõ offende o p&abso-lt;jo. Naõ o abso-l h e i s , Senhora , para esta estampa com olhos mais severos , do que para aquella quadro magní-fico da vossa sala de visitas, digno objecto da vossa afeição , o qual representa a casta Su-7ana no b a n h o , e a louca temeridade da ve-lhice fastidiosa.

Marqueza.

Quero satisfazer-me com as vossas razões; mais ficai persuadido , que cedo contra mi-n h a vomi-ntade. Comecemos a trabalhar.

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Vis-D I A L O G O I I . « 9

Vispré.

Senhora , as nossas estampas ainda naõ> «estaõ bem repassadas. Quando se molhaõ e m água a ferver, he necessário deixallas ?lli hu-ma hora , e se for em água fria pelo menos doze ; p o r é m , em quanto passa este t e m p o , naõ estaremos ociosos.

Eis-aqui , Senhora , as primeiras cores moidas com óleo de nozes , e linhaça , que saõ necessárias para pintar np. reverso da es-tampa , quando estiver p r o m p t a , e pegada ao vidro ; aqui as vedes todas separadas nestas tigelinhas de b a r r o , e postas pela o r d e m , q u e as vou nomearido. Dellas h e que d e p e n d e m todas as outras cores compostas.

Alvaiade. Azul celeste. Jadelino. Azul da Prusia. Ocre amarello. T e r r a de Sombra. Ocre da rua. T e r r a de Itália. Amarello claro. T e r r a verde.

Amarello escuro. Ouro pimente junqui-Carmim. lho. Cinabrio , ou verme- Negro de1 peixe. (1)

lhaõ. Negro de marfim. Avermelhado, escuro. Negro d e ossos. Laça fina.

Ouro pimente averme* lhado.

Costumai b e m , S e n h o r a , os vossos ojhos, á çstas differentes cores , para vos naõ

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3o D I A L 0 G O I I .

e q u i v o c a r d e s , quando eu as n o m e a r , para compor as differentes t i n t a s , de que tiverdes necessidade.

Marqueza.

Naõ conheço mais q u e o carmim , e o v e r m e l h a õ , quanto ás o u t r a s , só pelos no-mes poderei acertar com

ellas-Vispré.

Vou agora explicar-vos , Senhora , o que e n t e n d e m o s por tinta. H e h u m modo de com-binar as c o r e s , de applicallas ás figuras, e formar os c l a r o s , as sombras , e ás distancias. As differentes gradações das tintas , saõ ou-tras tantas economias da luz , relativamente ao claro , e escuro. Saõ em fim todos os meios entre a s o m b r a , e a luz. Lernbr; i-vos da ex-plicação , que vos fiz da arte de pintar no re-verso do v i d r o ; disse-vos, que mudava rela-tivamente ás tintas a ordem seguida nos ou-tros gêneros de p i n t u r a ; pondo primeiramen-te por ordem de retro gradaçaõ, aquellas que daô os realces , e depois as que servem de f u n d o , ou esboço; porque bem v e d e s , q u e , virando o vidro , debaixo do qual se acha a pintura, os objectos saõ vistos atravéz , e , por conseqüência , já naô apparece aos olhos a desordem da retrogradaçaò das tintas , pois saõ vistos os realces postos sobre os f u n d o s , ou esboços.

Marqueza:

Lembra-me muito b e m ; e por signal lhe chamei pintura ásvessas.

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Vis-D I A L O G O U . 5 I

Vispré.

Pois agora pintando no reverso das nossas estampas , postas sobre o vidro , vamos seguir esta t r a n s m u t a ç ã o , que deve produzir o m e s v mo effeito , como se fofa executada no vosso próprio espelho ; o que observareis , q u a n d o virdes a estampa taõ t r a n s p a r e n t e , como O V H di o , ao qual nós a pegaremos. Faço-vos esta advertência , taõ circumstanciada , a fim d e que possais c o m p r e h e n d e r , q u e , de todas as tintas , que vamos compor , a que devia ser primeira por o r d e m , h e , a que deveis pór e m ultimo l u g a r , e assim consecutivamente as o u -tras . pois o uso de pintar sobre o reverso da estampa por detraz do vidro pôde habituar-vos de tal sorte á pintura , que possais diver-tir-vos pintando em panno , ou em outro qual-quer.

Marqueza.

Seria possível , que algum dia viesse a pintar em panno.

Vispré.

O h a b i t o , que hireis adquirindo de pintar h u m olho sobre outro o l h o , huma boca sobre outra boca , que estaò na estampa , poderá fazer com que pinteis estas mesmas cousas em p a n n o , e sem modelo.

Marqueza.

Como ficarei c o n t e n t e ? Mas fallemos d a s nossas estampas.

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Ves-5a D I A L O G O U .

Vispré.

® Escolha das estampas. {§&

Podem metamorphozear-se em quadros c o m ' t o d a a perfeição. Vamos ás nossas , q u e já estarão bem repassadas. D e v e m o s escolher estampas em fumo , taes como e s t a s , que va-mos pintar. Saõ m e l h o r e s , que as outras para o nosso intento ; por que saõ gravadas mais superficialmente, e m e n o s sombreadas. As me-lhores vem de Inglaterra.

O que vedes nesta tigelinha , h e t e r m e n -t i n a , e na ou-tra óleo de nozes. . •

í§í Q u a l i d a d e , e preparação do vidro. í§J Tomai o vosso p i n c e l ; eis aqui o meu. Pe-gai com este guardanapo., para vos naõ quei-m a r d e s , equei-m huquei-m destes dois vidros de Ale-m a n h a , que se teAle-m a q u e c i d o l e n t a Ale-m e n t e ao lado da chaminé. Aíimpai-o bem ; olhai , naõ tenha alguma bolha , ou defeito : em h u m a palavra, deve ser taõ polido , como este , que eu estou alimpando.

Marqueza.

*•• Por c e r t o , que naô pôde haver hum

vidro-mais branco , n e m vidro-mais bello.

Vispré.

Os momentos saõ preciosos ; em quanto o vidro está quente , estendei com o Vosso pincel a termentina em huma das suas super-fícies -r espalhaio, assim como eu f a ç o , de ma-neira que naõ fique em godilhões * mas quta esteja bem igual por toda a parte.

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V D I A L O G O II, 5 5 Marqueza. F a ç o b e m assim? > ' Vispré. O p t i m a m e n t e . C o n t i n u a i , S e n h o r a , 5 es^ t e n d e r a vossa t e r m e n t i n a . Naquelles dois bra-zeiros está q u e n t e , ponde em cima o vosso v i d r o , para conservar o c a l o r , que eu faço o mesmo ao meu. Müifo bem , Senhora.

í§? Segunda preparação da estampa, ígí Agora cada h u m de nós da sua* banda , es-tenda sobre a mesa dois guardanapos , h u m sobre o outro. Vamos ao nosso vaso , e v e r m e -hei1 tirar a estampa. Eila a q u i , S e n h o r a ; p e -gai-lhe com as pontas dos d e d o s , e hide pôlla sobre os vossos guardartapos ; em quanto eu vou tirar a o u t r a , que ficou n'agua para tam-bém a pôr sobre os meus.

Marqueza.

Está bem assim ?

Vispré.

Agora v e i e i s , Senhoraj Está c o m o , se e u mesmo a tivera posto. Peguemos cada hum de nós n'outros g u a r d a n a p o s , è cubramos as nos-sas estampas , carfegando-lhe levemente e m cima com a maõ , a fim de que naõ estejaõ-muito ensopadas ; e demos t e m p o , a q u e os guardanapos ppssaõ enibeber a água das es-tampas ; entre tanto t o m e m o s a passar os pin-ccià por cima dos vidros ; por que h e muito

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cs-54 D I A L O G O U .

essencial, que a t e r m e n t i n a esteja b e m espa-lhada por toda a parte.

Marqueza.

Já sei fazer esta operação ', parece-me , q u e a termentina está igualmente ciai a , pu-r a , e bem distpu-ribuída.

Vispré.

0$ Applicaçaõ da estampa ao vidro. %

Naõ ha d u v i d a , S e n h o r a ; agora podemos tirar os guardanapos , q u e estaõ sobre as nos-sas estampas. Levantai a e s t a m p a com as pon-tas dos dedos assim como eu faço; e ponde a face estampada sobre o vidro barrado de ter-mentina ; minto levemente , Senhora : princi-piai por huma parte , e acabai pela o u t r a , e tomai bem sentido, naõ fique algum ar , ou v -sio , entre a estampa , e o v i d r o ; p o r q u e isso nos deitaria a perder toda a operação..

Marqueza.

Creio , que se naõ podia pôr com mais igualdade. N e m o vidro excede á estampa , n e m a estampa o vidro. T o d o o papel me pa-r e c e unido , e popa-r conseqüência julgo , que * está igualmente colado.

Vispré.

% Terceira preparação dá estampa. %

T e n d e s trabalhado como hum Anjo. Agof ra he necessário o c u i d a d o , e ligeireza. P o n

-de o nosso yidro com a estampa sobre os dois

(47)

guar-D I A L O G O If, 35

guardanapos , que ficárâõ estendidos na mesa ; em quanto a estampa está humida , esfregai-a l e v e m e n t e , e levantai com o dedo as camas , de que se compõem o p a p e l , as quaes se h i -íáõ despegando a bocadinhos , á excepçaõ da ultima , que está pegada com a termentina a toda a superfície do vidro. Segui-me exacta*

m e n t e nesta operação.

Marqueza.

Isto vai d'huma vez. Naõ lhe acho diffícul-dade alguma ; todas as camas do papel se despegaõ com a m e n o r esfregaçáõ dos meus d e -dos , á excepçaõ da ultima , que está pegada com a termentina ao vidro. Q u e observo ? Ago-ra p a r e c e - m e a-estampa gAgo-ravada por ambas as partes. Vejo todo o quadro de Paris sobre o reverso da ultima cama taõ perfeitamente , c o -mo da outra parte a travéz do vidro. T a m b é m lá vos succedeo o m e s m o ? He bonita invenção,

Vispré.

D a q u i a h u m m o m e n t o crescerá a vossa admiração. Em quanto secca a ultima c a m a , que ficou do papel da e s t a m p a , teremos tem-! po de preparar a vossa palheta. Atravessai-lhe o dedo polegar para sustentalla na maô.

Marqueza.

A palheta h e m u i t o delicada ; vejamos, se lhe pego b e m . ,

(48)

Vis-56 D i A L o G o •-' II»

" Vispré. {§) Palheta. ©

Muito b e m , naõ ha duvida ; s o m e n t e he preciso profundar h u m pouco mais o dedo poliegar n o buraco. Bom. Vamos a isto.

© Disposição das cores. ©

Tomai s e n t i d o , Senhora. D e v e m o s e n c h e r íi parte anterior da paltíeta, assim como eu fa-ço , de alvaiade ; pôr-lhe ao lado as cores ama-relas ; logo ao pé as encarnadas ; depois as p a r d a s , e pretas. Q u a n t o ás outras tintas , que t a m b é m coloco na vossa palheta , ao mesmo t e m p o , que nos formos servindo dellas , vos hirei explicando a sua composição taõ clara-m e n t e , que , acabado o q u a d r o , naõ só pode-rois preparar h u m a palheta , mas a t é . dai li-ç õ e s neste particular.

Marqueza.

Naõ preparais t a m b é m a vossa ?

Vispré.

Sim , Senhora ; pois vos prometfi huma liçaõ de theôria , e pratica. E m quanto traba-lho n i s t o , diverti-vos em v e r , se as estampas

estaõ seccas.

Marqueza.

Pois já ! Elias assim o mostr^õ. Mas pa-rece-me que se, naõ vê agora também o dese-n h o , como quadese-ndo estavaõ sobre os fogareiros.

(49)

Vis-D I A L O G O I I . 37

' Vispré.

. í

Naõ vos amofineis por isso", que já l h e vamos^dar o remédio. P e g a i , S e n h o r a , d'hum pincel ; rnolhaio neste pleò de n o z e s , e pas-. sai com elle toda a superfície do vosso p a p e l , assim c o m o fizestes c o m a termentina sobr-e o vidro. 3. ~h

Marqueza'.

A h ! S e n h o r , que estamos,perdidos ! D e s -fez-se inteiramente a ultima cama do p a p e l , e nada mais resta sobre o vidro , que a tinta da e s t a m p a , que mostra todas as figuras.

.Vispré.

E u bem vos a d v e r t i , S e n h o r a , q u e oínda havia ser maior a vossa a d m i r a ç ã o , mas agora vereis que o papel^naõ se derrete© ; o óleo h e que o fez taô transparente como o vidro , e isto occasionou o vosso engano.

Marqueza.x

Por certo , que este. h e o Rei dos diver*., timentos. Vou t a m b é m passar a óleo a vossa estampa ; por_que isto m e r e c e ser visto duas vezes. Oh ! succedeo-lhe o mesmo ! Na verda-d e he cousa bem curiosa.

Vispré.

N Examinemos a g o r a , Senhora , com t o d a a attençaõ a nossa estampa ; recordni-vos da descripçaõ, que vos fiz, das parres do dese-i n h o , t e n d e presente a definição das t i n t a s , e das suas g r a d a ç õ e s , e observai as proporções

(50)

38 D i A i/ o G o I I .

das p a r t e s , cuja uniaõ exprime , já"hum h o -m e -m , já a -mulher , hu-m velho , hu-m -menino , h u m rio , huma arvore , huma paisagem, h u m edifício, em fim , qualquer outra figuia , gra-vada na estampa , que se quer illuininar. Quan-do vos familiarisardes tanto com ella , que a possais ver em todas as suas p a r t e s , mesmo com os olhos da i m a g i n a ç ã o , pegaremos cada h u m de nós em seu p i n c e l , para pintar hum homem sobre outro h o m e m , huma roupagem sobre outra roupagem , huma arvore sobre ou-t r a a r v o r e , e assim os mais lugares da esou-tam- estam-pa , segundo as cores , de que saõ susceptíveis 'todos estes differentes objectos.

Marqueza.

Principiemos , quando qulzerdes ;'poís vos a s s e g u r o , que a çstampa er-tá taõ gravada na m i n h a cabeça , como no papel.

T / . • , ' Í

yispre.

P e g a i , Senhora , outra vez na vossa pa-lheta , e pincéis. Cada hum de nós precisava

de seu cavalete , porém remediar-nos-hemos j com estás duas estantes da China. Assentai*

vos nesta cadeira de braços , que eu m e po-nho ao vosso l a d o ; e em quanto trabalharmos no reverso da estampa , t e n d e cuidado de m o -lhar o pincel nas mesmas tintas , em que m e virdes molhar o meu. Elias estaò na vossa pa-lheta pela mesma ordem , que estaõ na minha ; assim naõ podeis,enganarvos. A' m e d i -da , que formos m u d a n d o de tintas , hir-vos-hei explicando as c e i e s , de que se c o m p õ e m .

(51)

D i A-t o G /O I. 5g

Marqueza.

Estou prompta a seguir-vos com o u v i d o s , 0l h o s , e mãos.

Vispré.

vg) Gradações das cores das carnes. ^ Corfíeoando pelas encarnações, V e n u s , e Amor devem ser os primeiros objectos dp vosso pincel. Está muito bem principiado , Senhora : continuai. As encarnações mais d e -licadrs , como dé mulheres , meninos , ou ge-n i o s i ge-n h ò s , se fazem, desfazege-ndo com a faca huma .pequena quantidade de azul no alvaia-de ; o que serve para os granalvaia-des claros1 das carnes.

'% Tintas das encarnações de m u l h e r e s ,

e meninos. ©

H e necessário pôr sempre esta tinta a h u m canto da palheta , como vedes na vossa. Estoutra , onde agora molhamos o pincel h e composta de h u m a c e r t a porçaõ de a l v a i a d e , á qual se a junta quasi h u m a oitava parte do jaldelino, e e s t a , Senhora , faz a base de t o -das as tintas -das carnes. A que se segue h e huma parte da p r e c e d e n t e , a que se ajunia muito pouco carmim , de modo que h e qua^,i parecida com a primeira , que h e composta de b r a n c o , e azul.

(52)

Mar-4 0 D . I A L O G O I I .

Marqueza.

E ú vos e s c u t o , olho para v ó s , t r a b a l h o , e admiro-me naõ /estar acanhada.

Vispré.

Para qualquer aproveitar neste gênero de p i n t u r a , Senhora , naô precisa m a i s , que ter vontade de se divertir. Sirva-mo-nos, agora da segunda tinta d a s . c a r n e s , a qual h e compos-ta , como a p r e c e d e n t e t> d e ^Ivaiade , e de huma oitava parte de jsld^íin-o , com a differ e n ç a , de que em lugadiffer da quantidade d e c a differ -mim , que l e v a v a , se lhe substitua o dóoro de vermèlhaò; e se vai a u g m ê n ^ n d o esre gra-dualmente até á sexta parte , podendo-se fa-zer deste modo -tintas infinitas.

Marqueza.

Pois naô tem n u m e r o limitado as tintas das encarnações das mulheres ?

Vispré.

© Carnes sombreadas. $)

Se as circumferencias das carnes saõ l e -v e m e n t e sombreadas , ba\taõseis tintas ; m a s , ou;rçido tem muitas s o m b r a s , fazem-se ordina-riamente o i t o , das quaes a sétima e oitava 'saõ compostas de vermelhaõ, e jaldelino. E s

tas duas tintas me fazem lembrar huma o b -servarão i m p o r t a n t e , que necessito fazer-vos. Quando Aird-es huma sombra espessa, e logo no pé hum clnro, fareis huma tinta azulada , composta de b r a n c o , e azul , a qual poreis

(53)

só-D I A 1 0 C ' 0 ' II. 41

sobre o claro , de sorte que ei!" se vá sumir com a tinta da sombra , qi\e haveis de com-por de v e r m e l h a ô , e jaldelino.

Marqueza. ,

C o m p r e h e n d o , o "que dizois, e naõ a c h o , que tenha maior difficuldade de e x e c u t a r , do que o mais que temos feito.

Vispré,

© Tinta das encarnações dos homens , e velhos. t?5

Esfaõ acabados o nosso Cupidinho, e sua mài , pelo que respeita ás encarnações ; va-mos agora ás de P a r i s , e do nosso vejho cu-rioso. As primeira/5 tintas , de que nos servire-mos , saõ as cores d e c a r n e dos homens , e dos velhos. A primeira tinta he composta de al-vaiade , e de huma quarta parte de jaldelino; esta serve para os raios de luz. A segunda h e composta "de huma parte da primeira t i n t a , ajuntando-se-lh-e hum pouco de vermelhaô. A terceira leva mais yermelh<aô. A quarta-leva

também avermelhado escuro. A quinta aver-melhado escuro sem vermelhaô. A sexta ain-da mais avermelhado escuro , e es!a ultima tinta serve para todos os sombreados dás car-nes.

Marqueza.

C o m p r e h e n d o , q u e , a vossa primeira tin-ta h e a base das outras , e ' q u e naõ tenno m a i s , que ir-lhe ajuntando as c o r e s , r(ue me

(54)

-'4a D I A L O G O I I .

nomear-deâ. Naõ ha cousa alguma mais sim-p l e s , que esta osim-peração.

, Vispré. Discorreis , S e n h o r a , com muito acerto. Ornemos estas quatro cabeças de cabellos , e e m primeiro lugar vamos a fazer-lhes os olhos. Só o Amorzinho podia passar sem e l l e s ; mas se lhe posessemos huma venda , como atina-ria com sua m à i , a q u e m vem coroar!

Marqueza.

O Senhor Vispré sempre está gracejando. V a m o s aos nossos olhos.

Vispré.

© Olhos azues. ©

Q u a n d o os cabellos saô louros , devem os olhos ser azues , grandes , vivos, e bem ras-gados , taes como saõ os vossos , e como se-rão os de Venus. Reparai no ponto de vista, e ponde ahi hum ponto branco , e sobre a menina do olho hum ponto preto. Carregue-mos a circumferencia d'huma tinta escura , e o resto da luz de tinta a z u l , composta de hu-ma pequena quantidade de azul misturado com alvaiade. O Amorzinho ha de parecer-se cora sua m a i , e terá também olhos azues.

Marqueza.

x Pintemos olhos a z u e s , que saõ muito da vossa p a i x a õ ; mas os vossos saõ pretos.

(55)

Vis-D I A L O C O l i . 4 3

Vispré.

$) Olhos pardos. ǣ

Os m e u s , S e n h o r a , como saõ feitos para a d m i r a r , seraõ para Paris , o qual deve ser-vir-se delles para dar com justiça o pomo. D e v e m o s pintar-lhe cahellos escuros , pois quando os olhos saõ escuros , t a m b é m .0 de-vem ser os cabellos. Façamos-lhe, S e n h o r a , os. olhos pardos. Marcai o ponto de l u z , e a menina do olho como praticastes nos olhos azues. Carregai a oircumferencia do olho de huma tinta escura , e pintai os restos da luz com huma pequena porçaõ de p r e t o , tnistu-do com a sexta tinta das carnes.

Marqueza.

Faremos t a m b é m os1 olhos prçtos a este velho ?

Vispré.

Sim , Senhora , e quando todas estas fi-guras tiverem o l h o s , entaõ faremos os cabel-los , q u e havemos repartir , segundo a cor dos olhos.

Marqueza. *.

NVou acabar este ultimo olho , q u e falta.

Vispré.

Sim , Senhora , e quando todas estas fi-guras tiverem olhos , entaõ lhe farerríos os cabellos , q u e havemos repartir , segundo a c o r dos dos olhos.

(56)

44 D I A L O G O I I .

Marqueza.

Vou acabar este ultimo olho que falta.

,, Vispré.

© Cabellos l o u r o s . ' ©

Façamos pois os cabellos ; os louros fa-zem-se com esta tinta composta de alvaiade , e jaldelino , huma p e q u e n a q u a n t i d a d e de ne-, gro d'osso.

© Cabellos pretos. ©

j

A tinta dos cabellos pretos se faz com huma pequena quantidade de negro , mistu-rado com a sexta tinta das c a r n e s . ,

/

© Cabellos brarícos. »1|t

Para os cabellos b r a n c o s , que por e x c e -pçaõ vamos pôr na cabeça do nosso v e l h o , nos serviremos' do alvaiade misturada com hu» ma pequena porçaô de negro de p e i x e , e pa-ra as sombpa-ras deve ser m e n o s quantidade de b r a n c o , e maior de preto.

© Cabellos apdlvilhados. ©

Deveis observar , Senhora , que a tinta dos cabellos ^brancos , serve igualmente para os cabellos apolvilhados.

Marqueza.

Ainda que naô mo dissereis , eu o teria adevinhado.

(57)

Vis-D I A L O e o I I , 45

Vispré.

© Linho. ©

Vistamos o nosso velho do pescoço até ás espadoas , já que a arvorezinha , que lhe , occúlta o resto do corpo , b e m contra nossa v o n t a d e , nos serve de obstáculo para o com-p l e t a r m o s , com-pintemos lhe com-pois a com-parte sucom-perior de huma camisa desabotoada ; para imitar a côr do linho, saõ necessárias três tintas; a pri-meira he composta de alvaiade , e de h u m a pequena porçaõ de azul ; a segunda -de al-vaiade , e muito pouca quantidade, de negro t l e marfim; a terceira de alvaiade , de h u m a - oitava parte de negro de marfim , e igual

por-ção de ó c r e a m a r e l l a . A primeira t i n t a , Se-nhora , he para os primeiros claros ; a segun-da para. as meias cores ; e a terceira para as sombras.

Marqueza. >

Eis-me livre da minha camisa sem cos-turas.

Vispré.

Passemos ás roupagens.

Marqueza.

Naõ gastaremos muito tempo , e ainda conservo h u m r e s e n t i m e n t o , que naõ m e p ô -de passar.

Vispré.

Isto que vós chamais banda de Paris ,

(58)

GOr-46 D i A L o G o I I . >

cordo que he insignificante, mas a r o u p a g e m d a ' i m ã dos Amores h e mais considerável. Naõ lho pintaremos t o d o , pois naõ ficou mais q u e o necessário para lhe resguardar o p e j o , q u a n d o se de? pio á vista do seu juiz , o qual queria examinar bem a causa , antes de pro-nunciar a s e n t e n ç a .

Marqueza.

Naõ voscalareis? R i o , mas h e de raiva.

Vispré.

S e n h o r a , que cor daremos ao nosso ves-t i d o ?

Marqueza.

Para mim h e indifferente que seja cor d e roza , ou de outra qualquer , só o que naõ q u e r o h e ter o trabalho de estar pensando na escolha.

Vispré.

E a b a n d a , S e n h o r a ?

Marqueza.

Fareis a vossa tinta cor de fogo , e nel-la molharei o m e u pincel , c o m o em outra qualquer.

Vispré.

Em quanto estais indecisa , S e n h o r a , vou nomear as tintas , e compor as tintas das dif-ferentes roupagens . que requer a pintura , tereis a bondade de m e apontar aquellas, que-mais vos agradaõ para a vossa e s t a m p a , e da-qui

(59)

3

D I A L O G O I I . 4-7

1

ui vos resultarão duas vantagens ; huma h e escançar hum p o u c o , outra aprender a com-posição das differentes tintas , de que,

preci-samos c o n t i n u a m e n t e , e cuja variedade faz hum taõ bello effeito n ' h u m quadro.

ígí Roupagem em geral. (3*

He a representação dos vestidos,tapeçarias, l i n h o s , e outros e s t o f o s ; o seu effeito he dar a conhecer , o que ellas recataô , ou exprimir o

seu nó ; a sciencia d e as formar consiste na e x e c u ç õ ' d o s traçados , ou d o b r a s , n a adherepr cia m jor , ou menor aos corpos , e no cara-cter , seja de ligeireza, seja de m o v i m e n t o , rela-tivamente ás figuras que estaõ em agitação, ou expostas ao v e n t o .

?§J Roupagem branca. ^

A primeira tinta só consiste em alvaiade, e n a õ serve senaõ para os claros. Para formar a segunda , se. lhe ajunta huma pequena porçaõ de negro de marfim , e usanlos delia para as meias sombras ; na terceira entra alguma quan-tidade mais de negro de marfim , que na

segunda ; esta ultima tinta h e para as som-bras.

J

<*v íg} Observação em geral. ©

1 Lembrai-vos , S e n h o r a , de que para cada roupagem sempre saõ necessárias três t i n t a s ,

e que das tintas que deveis pôr sobre o rever-so da vossa estampa , segundo a o r d e m , q u e sigo na sua composição ; a primeira serve

(60)

48 D I A L O G O I I .

• 1

pre paa-a os claros ; a segunda para as meias c o r e s , e a terceira para os sombreados.

O ouro pimente , e o azul de Alemanha nunca se usa senaõ puro.

^ Roupagem azul. ?§J

Para a primeira tinta saõ necessárias outo, partes iguaes , tanto de alvaiade c o m o de azul; parax a segunda tinta huma parte de azul , e quatro de alvaiade ; para a terceira tinta huma parte de a z u l , e duas de alvaiade.

0 Roupagem cor de violeta. ®

'' ' *.

D e v e m o s principiar pela composição de huma primeira t i n t a , que forma os outras >, a qual he composta de huma parte de azul , e quatro partes de carmim , ou ócre fino.

Huma parte desta primeira tinta , que ser-ve de base as outras com quatro partes mais de alvaiade , forma a segunda t i n t a : hunia par-t e da segunda par-tinpar-ta com oupar-tra parpar-te de alvaia-de compõem a terceira tinta ; e esta pçalvaia-derá ir servindo de base para as outras , que se quizerem fazer.

% Roupagem verde. í§í'

H u m a parte de azul de Alemanha , e qua-tro partes de amarello claro produzem h u m verde muito bonito , a differença das vossas tintas se fará mistuivndo-lhe mais , ou menos alvaiade para as partes mais c l a r a s , ou

(61)

D i i i o o o I I , 49 r a s , e nas sombras vós servirei* da primeira

tinta.

Podereis compor os differentes verdes com maior , ou menor quantidade de ama-rello , ou azul de Alemanha;

© Roupagem cinzenta. ©

Alvaiade4com preto ' d e peixe ; mais al-vaiade para os claros , e mais preto para as sombras.

© Roupagem de ouro. ©

Ouro pimente junquilho para os brilhan-tes j ouro pimente encarnado para as meia* i tintas ; encarnado escuro para as sombras mais espessas.

Aproveitemo-nós, Senhora, desta última mistura de cores, para pintar o pomo da DisJ

• cordia, antes que Venus lance maô delle. Marqueza.

Consinto; e , em quanto o íllumirnrnos, dizei-me como elle Veio a, ser causa do incên-dio de Troya.

Vispré. \ *»;

P^rís, havendo dado o pomo aVerhià em preferencia de Juno e Minerva , foi para o Reino de Meneláo Réi de Argos, e lhe rou-bou a mulher, que era Helena , filha de Ju-> piter e de Leda. Agnmenon, Rei de Mèòtna'.*, e irmaõ deste Meneláo ; para vingar-se do rapto, partio á frente dos Piincipes, e êxer-t cito confederado, que o haviaô eleito rfiefe»

Referências

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