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A PASTORAL DA CRIANÇA E OS AVANÇOS NOS CUIDADOS DA PRIMEIRA INFÂNCIA

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ISSN 2176-1396

A PASTORAL DA CRIANÇA E OS AVANÇOS NOS CUIDADOS DA

PRIMEIRA INFÂNCIA

Ednilson Cunico1 - PUCPR Eixo – Sociologia da Educação Agência Financiadora: não contou com financiamento Resumo

Esse trabalho analisa como é atuação da Pastoral da Criança, com os últimos estudos científicos, leis e programas governamentais de atenção a criança na Primeira Infância, período que compreende dos zero aos seis anos de vida. A Pastoral da Criança atua em milhares de comunidades no Brasil e no mundo, com o compromisso de combater a mortalidade infantil e estimular ações para que as crianças se desenvolvam integralmente. O trabalho procura fortalecer o compromisso com a construção da cidadania, conforme consta no Guia do Líder. A Organização Pastoral da Criança surgiu no Brasil no ano de 1983, fundada pela médica e sanitarista Dra. Zilda Arns Neumann. Depois de 34 anos de atuação, principalmente no campo da saúde e educação, a organização vem provando que com um programa flexível ajustado as necessidades da comunidade, com medidas simples e de baixo custo, podemos garantir um futuro melhor para toda sociedade. Dando mais atenção à criança, as famílias e comunidades estarão contribuindo para um futuro melhor, mais justo e menos violento. Nos últimos anos notamos que o mundo esta se preocupando com as crianças. Os estudos científicos desenvolvidos por pesquisadores de diferentes áreas do conhecimento tem evidenciado que se tivermos programas que priorizem a educação infantil, teremos uma sociedade com mais saúde, igualitária e com justiça social. Leis que foram criadas como o Estatuto da Criança e do Adolescente e o Marco Legal da Primeira Infância procuram oferecer garantias mínimas para que as crianças tenham seus direitos preservados e possam se desenvolver plenamente.

Palavras-chave: Pastoral da Criança. Primeira Infância. Marco Legal da Primeira Infância.

1 Mestre em Educação pela PUC/SP. Assessor Técnico da Coordenação Nacional da Pastoral da Criança.

Integrante do Grupo de Pesquisa “A Diferença, a Desigualdade e a Vulnerabilidade Social na Contemporaneidade: A Despatriação e Desinstitucionalização do Sujeito” da PUC/PR. E-mail: edcunico@gmail.com

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Introdução

A Pastoral da Criança desde décadas de 80 e 90 vem trabalhando intensamente no combate a mortalidade infantil e no desenvolvimento integral das crianças desde sua concepção até os 6 anos de idade. Em parceria com o poder público estimulou a formação de políticas que atendessem as necessidades de milhares de comunidades carentes. Podemos afirmar que uma das conquistas da sociedade brasileira é o Estatuto da Criança e Adolescente (ECA) que procura proteger milhares de crianças em situações de vulnerabilidade social. Agora depois de alguns anos de muito trabalho, pesquisas científicas, intensas discussões, debates, avançamos um pouco mais no cuidado e atenção das crianças na Primeira Infância. Ainda temos muito por fazer e queremos discutir nesse artigo ações que a Pastoral da Criança desenvolve concretamente desde sua fundação, com as pesquisas e políticas públicas governamentais, voltadas a Primeira Infância.

Partindo dos últimos estudos científicos notamos que a Primeira Infância tem ocupado um espaço de destaque nos dias atuais. Nos últimos 5 anos são vários estudos e pesquisas em diversas áreas do conhecimento que comprovam que se investirmos nossos esforços na educação das crianças nos primeiros anos de vida, a sociedade de uma forma geral terá ganhos. Notou-se que nos Primeiros Mil dias de Vida são fundamentais para que quando adulto cresça saudável. Há uma preocupação com a criança no seu desenvolvimento integral, ou seja, levando em conta a parte física, social, emocional e cognitiva.

No campo das políticas públicas destacamos a criação do Marco Legal da Primeira Infância ou Lei 13.257, sancionada em 2016 que atualiza e aperfeiçoa o Estatuto da Criança e Adolescente (ECA), altera o Código de Processo Penal e Consolidação das Leis do Trabalho (CLT). As Leis de Diretrizes de Base de 1996 também organiza e regulamenta a educação infantil sendo a primeira etapa da educação básica. Com todo esse aparato legalmente estabelecido, reconhecendo e colocando a criança como prioridade nossa indagação fica por conta de como fazer que essas leis sejam aplicadas de forma equitativa para todas as crianças, principalmente aquelas em situação de vulnerabilidade social?

Pastoral da Criança como é atuação

Lembramos que os voluntários da Pastoral da Criança, desde a sua fundação em Florestópolis, norte do Paraná no ano de 1983, pela médica e sanitarista Dra. Zilda Arns Neumann, busca através de ações simples e de baixo custo financeiro desenvolver sua missão

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em famílias mais carentes. Hoje temos como meta central, que é garantir o desenvolvimento integral das crianças, desde o ventre materno. São três Ações Básicas: Visita Domiciliar, Celebração da Vida e Reunião de Reflexão e Avaliação. Além destas existem outras que chamamos de complementares: Brinquedos e Brincadeiras e Articuladores de Saúde e também as Campanhas: Mil Dias e Antibiótico Primeira Dose. Essas ações envolvem saúde, educação, cidadania e nutrição e tem como missão estimular as famílias a buscarem sua própria transformação por meio de orientações de seus voluntários. O trabalho é realizado com o esforço e zelo, por mais de 150 mil voluntários, mensalmente cerca de 735 mil famílias são acompanhadas, segundo dados do Extratos e Indicadores da Pastoral da Criança. Entendemos que esse momento é único na vida do ser humano, e, portanto é um período fundamental para todas as aprendizagens.

A Pastoral da Criança procura organizar a comunidade e formar líderes voluntários que lá moram. Abraçam o trabalho de acompanhar famílias para que estejam preparadas para assumir com responsabilidade a Missão de cuidar das crianças na sua integralidade, desde o ventre materno. Para isso forma lideranças comunitárias para que se integrem à comunidade e cada voluntário é convidado a acompanhar de 10 e 15 crianças vizinhas nas ações básicas. Identificando as necessidades sentidas de cada comunidade a Pastoral da Criança está comprometida com ações de fácil compreensão e entendimento que são capazes de serem realizadas por todos independente do conhecimento que carregam. A formação inicial de todos os voluntários que atuam na Pastoral da Criança é de 52 horas e 30 minutos e o material de apoio e referência é o Guia do Líder. Esta formação é um pilar para o trabalho do líder voluntário e porta de entrada para as outras formações, que têm um tempo menor e variam de 8 a 20 horas, em média.

Os materiais educativos desenvolvidos na Pastoral da Criança chegam aos voluntários acompanhados de uma formação. A estratégia usada para envolver os voluntários é fundamentada em necessidades sentidas na própria comunidade, assim espera-se que se tenha uma maior adesão. Dentre as condições para o exercício do trabalho voluntário, estão materiais educativos apropriados e simples, valorização das habilidades e conhecimento das pessoas, promoção das atividades o mais próximo de casa, avaliação dos resultados e celebração das conquistas.

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Ações que salvam Vidas

Na visita domiciliar, os Líderes podem conhecer melhor a situação de vida e as necessidades das famílias para poder ajudá-las com algumas orientações sobre alguns cuidados básicos. É uma oportunidade para conversar principalmente com as gestantes e se aproximar dos outros membros da família. Passado um tempo, as famílias e os Líderes desenvolvem laços de confiança mútua, o que proporciona uma abertura maior entre ambas. As gestantes recebem orientações sobre a importância de se fazer o pré-natal, de buscar ajuda nos primeiros sinais de perigo na gestação, de como ter uma gravidez tranquila e sobre seus direitos e deveres. O Líder através da observação procura identificar situações que não favorecem o desenvolvimento da criança e com algumas dicas conversam com a família para juntos buscar a soluções dos problemas que surgem. Em uma pesquisa realizada por Thunes (2004), foi desenvolvido os Indicadores de Oportunidade e Conquista (IOCS) que tem a preocupação com o desenvolvimento infantil. Esses indicadores foram inseridos no trabalho do voluntariado da Pastoral da Criança, pensando que o desenvolvimento infantil se dá num primeiro momento na interação da criança com seus cuidadores. A intenção destes indicadores é que o Líder consiga, depois de uma análise na situação de onde a criança e a família moram poder encontrar meios para um ambiente propício ao desenvolvimento, na primeira infância (Cunico, 2015). Entendemos que o desenvolvimento psicológico é um processo cultural que caminha do social para o individual, ou seja, o desenvolvimento da criança num primeiro momento se dá na interação da criança com as outras pessoas.

Na primeira visita, os Líderes explicam o que a Pastoral da Criança faz e deixam a família à vontade para decidir se desejam receber as visitas mensais. Em algumas situações vivenciadas pelas líderes, bastam algumas orientações, porém existem outras situações mais delicadas, pois se deparam com inúmeros problemas sociais, como alcoolismo, drogas, violência doméstica, desemprego. Nesses casos se recorre a outros grupos ou aos serviços públicos na área da assistência social, educação ou saúde. Na visita também são levados alguns materiais para serem consultados pelas famílias. Para as gestantes, em específico, são levados os Laços de Amor, que foi idealizado para os nove meses de gestação e os seis meses de vida da criança. Os Laços de Amor são cartões criados com o objetivo de envolver toda a família com a gravidez. Nessas cartelas são descritas algumas necessidades da gestante e da criança. Também há orientações sobre a amamentação e um importante estudo científico que aponta que os cuidados da gestante, durante a gestação e nos primeiros dois anos de vida da

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criança, que equivalem aos primeiros mil dias, têm influência direta nas condições de saúde da pessoa na vida adulta e por isso a importância de poder começar o acompanhamento antes desse período. Uma das ações propostas para que isso aconteça é o Mutirão pela Busca de Gestantes. A cada três meses, há o incentivo para que os Lideres visitem, unidades de saúde e novas famílias em busca de gestantes, conversando e fazendo o convite para serem acompanhadas. No dia da visita domiciliar, os Líderes então convidam para a outra Ação que é a Celebração da Vida.

No dia da Celebração da Vida é o dia do encontro entre Líderes, famílias e crianças. É atividade importante e fundamental que o Líder realiza na Pastoral da Criança. Nesse dia, que acontece uma vez ao mês, os voluntários e as famílias se reúnem para conversar, fazer perguntas sobre alguma dúvida sobre o bebê ou a criança e receber orientações de profissionais que também são voluntários e, assim, poder celebrar juntas com a comunidade as pequenas conquistas das suas crianças. Nos últimos anos, nota-se que a obesidade infantil é um grave problema e atinge um grande número dessa população. Por isso foram criadas duas ações: “Acompanhamento Nutricional” e “Hortas Caseiras” que visam combater a obesidade infantil. O primeiro, além de acompanhar o peso das crianças, os Líderes, durante a Celebração da Vida, a cada três meses, irão medir a altura das crianças e notando algum problema orientarão as mães a procurar ajuda médica. Já o segundo tem o objetivo de conversar sobre alimentação saudável e plantio e cultivo de hortas caseiras com as famílias acompanhadas. O local para acontecer a celebração pode variar de comunidade para comunidade, podendo ocorrer celebrações em praças públicas, salões paroquiais ou em casas que tenham um espaço, onde todos possam se reunir e favorecer a interação das crianças (Cunico, 2015). O importante é realizar num local que favoreça o comparecimento de todos. Realiza-se um momento de espiritualidade, respeitando todas as religiões, procurando evidenciar neste dia a solidariedade e a união da comunidade reunida em torno de um problema, buscando soluções.

A Celebração da Vida deve ser realizada com poucas famílias para proporcionar que todas possam dialogar e se sentirem acolhidas. Se a criança apresentar abaixo do peso esperado, os Líderes conversam com a família com maior atenção e, se necessitar, orientam para que se procure o serviço público de saúde para consulta com um médico especialista. É um momento propício para realização de brincadeiras com as crianças, fazendo com que brinquem livremente, havendo interação entre elas. Para acompanhar esses momentos, existem voluntários conhecidos como “brinquedistas e brincadores” que desenvolvem as

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brincadeiras com as crianças. O brincar na Pastoral da Criança sempre foi abordado de um modo especial, pois é uma necessidade fundamental para o desenvolvimento da criança, sabendo que nos dias atuais os espaços para brincadeiras das crianças são reduzidos ou praticamente inexistentes.

A Reunião de Avaliação e Reflexão é considerada a terceira ação fundamental da atividade do Líder e fundamental para o processo de sua formação. Nos primeiros dez dias de cada mês, os Líderes e o coordenador comunitário devem promover a Reunião para Reflexão e Avaliação. Depois que todos visitaram as famílias e participaram da Celebração da Vida e puderam observar como foi o desenvolvimento das crianças, reúnem-se para conversar e estudar a situação das famílias que acompanham. Para que essa ação seja organizada e dinamizada é adotado o modelo ver-julgar-agir.

O momento de Ver propicia que um coordenador junto com o grupo definam o tema ou problema a ser analisado. Esta é a oportunidade das pessoas apresentarem os fatos, a sua experiência ou sua história em relação ao tema escolhido e com o grupo identificar as semelhanças, as diferenças e as contradições das experiências. Ao Ver a realidade da sua comunidade o coordenador de grupo é igual a um bom médico. Auxilia o seu grupo no diagnóstico, para depois ajudar a descobrir qual o remédio certo que irá contribuir para a cura. O Julgar significa analisar e estudar um tema ou história específica para descobrir a causa ou as causas e as soluções provisórias. Entender o porquê de esses fatos estarem acontecendo. Nessa compreensão, é preciso ter referências, normalmente definições, princípios, diretrizes, normas, leis ou convenções. No Agir a proposta é como fazer e como a prática vai acontecer. É o momento de definir prazos, recursos e estratégias. É ter um plano de ação, com alguns elementos:

a) objetivo – clareza sobre o que se quer;

b) planejamento participativo – todos contribuem para elaborar estratégias; c) distribuição das tarefas, responsabilidades e coordenação geral;

d) prazos para atingir o objetivo – curto, médio e longo prazo; e) etapas – o que é prioridade e qual será o primeiro passo; f) meios necessários – recursos humanos, materiais e financeiros; g) monitoramento da ação – avaliação durante todo processo.

Todo esse trabalho visa criar uma educação para uma cultura de paz, a redução da violência e da marginalidade e orientação sobre recursos da comunidade para que as famílias tenham acesso à renda (Cunico, 2015). As iniciativas da Pastoral da Criança desejam

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prevenir, na família, o abandono das crianças, o que pode levar à busca da sobrevivência nas ruas, e gera uma cultura que cuida do ser humano, do meio ambiente, da vida em sua plenitude para a construção da sociedade justa e fraterna. Esta construção coletiva das pessoas e da sociedade depende das ações integradas com todos os segmentos sociais, com a responsável atuação do poder público e sua função constitucional de garantir os direitos de todos os cidadãos.

Novos desafios no Campo Educativo

Ao longo de sua existência a Pastoral da Criança luta para que a vida seja valorizada na sua integralidade, estimulando ações voltadas ao desenvolvimento da primeira infância. Atenta aos sinais dos tempos hoje tem focado suas ações no acompanhamento nutricional para prevenção da obesidade infantil, foi a primeira organização a promover a campanha sobre os cuidados nos primeiros mil dias (período da gestação mais os dois primeiros anos de vida) da criança. Usa então de novas tecnologias como um sistema de informação e comunicação para organizar e planejar ações de impacto nas comunidades.

Em 2014 em sua sede Nacional em Curitiba, a Pastoral da Criança inaugurou o Museu da Vida. Um dos objetivos é poder partilhar com a comunidade, todo o conhecimento e a experiência acumulada ao longo dos anos. Com uma visão de futuro, procura evidenciar a diversidade das populações acompanhadas, apontando os novos desafios a serem enfrentados pela sociedade, no desenvolvimento infantil na sua integralidade. O Museu conta com espaços cuidadosamente organizados para que os visitantes possam conhecer assuntos relacionados à promoção da saúde, da nutrição, da educação e da cidadania. Outro objetivo é preservar a memória da Dra. Zilda Arns Neumann. Existe um ambiente onde estão organizados objetos que descrevem a história da médica desde sua infância, até os seus últimos momentos de vida no Haiti, em janeiro 2010, data onde lá estava para partilhar suas experiências.

Pesquisas Sobre Primeira Infância

Destacamos que nos últimos trinta anos o Brasil conseguiu melhorar a saúde e a nutrição infantil e consequentemente diminui a mortalidade infantil. O primeiro a destacar a importância destes 1000 dias foi o Dr. David Barker (1980). Notou-se que as crianças nascidas de mães que passaram por um stress constante, alimentação precária, dentre outros problemas, durante a Segunda Guerra Mundial, nasciam com baixo peso e no decorrer da

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vida, desenvolviam doenças relacionadas às condições deste período de gravidez e primeiros anos da criança. Com os estudos e pesquisas que demonstram da importância dos 1000 dias, a Pastoral da Criança passou a abordar esse assunto com seu voluntariado.

Algumas ações entre o poder público e acompanhado por organizações sociais, focadas na saúde da criança como: hidratação oral, promoção de aleitamento materno e programação de vacinação foram determinantes para essa queda. (Victora et al, 2011). Ainda no campo da saúde destacamos a criação do SUS, agentes de saúde e o Programa Saúde da Família. Quanto aos desafios para o futuro ainda teremos que trabalhar no combate a obesidade infantil, excesso de cesarianas e prematuridade. No campo educacional o investimento na educação básica e a melhora na educação das mães também tiveram impacto na diminuição da mortalidade infantil. Com todo esse avanço ainda continuamos sendo um país, segundo o Fundo das Nações Unidas pela Infância (UNICEF, 2009) com mortalidade sete vezes maior que em países que já trabalham a mais tempo com programas voltados a atenção a Primeira Infância.

Estudos coordenados pelo Comitê Científico do Núcleo da Primeira Infância, que reúnem pesquisadores de várias áreas do conhecimento como, Neurociências, Ciências Sociais, Psicologia, Economia, Educação, apontam alguns fatores como fundamentais e de grande influência nos primeiros anos de vida:

a - educação – proporciona o bem-estar das pessoas ao longo da vida. As pessoas que alcançam uma maior escolaridade tem maior longevidade, possuem melhor nível socioeconômico e se envolvem menos com a criminalidade. Leva-se em consideração que a aprendizagem começa muito antes do período escolar, sendo que o ambiente onde a criança vive tem grande influência no seu desenvolvimento (Comitê Científico do Núcleo Ciência Pela Infância, Estudo Nº I, 2016);

b – vínculos familiares – para que os vínculos sejam fortalecidos a relação do adulto com a criança deve oferecer de segurança e acolhimento. Nessa etapa de vida das crianças os profissionais de saúde e da educação infantil precisam estar atentos para que sejam criados ambientes propícios para o bem-estar. A formação destes profissionais se torna fator de grande relevância para que sejam sensibilizados sobre a importância dos vínculos familiares (Comitê Científico do Núcleo Ciência Pela Infância, Estudo Nº II, 2016);

c – funções executivas e desenvolvimento: habilidades necessárias para a autonomia – as habilidades desenvolvidas nessa fase são cruciais para o desenvolvimento de funções chamadas de executivas. Nela o indivíduo constrói suas próprias reflexões, aprende a ter

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autonomia, aprende a tomar decisões e a ter domínio sobre o seu comportamento. Por isso a primeira infância é fundamental no desenvolvimento do ser humano e se perdermos essa etapa de vida dificilmente poderemos reverter em etapas no futuro (Comitê Científico do Núcleo Ciência Pela Infância, Estudo Nº III, 2016);

A Neurociência nos revelou que o cérebro infantil até os cinco anos de idade tem grande plasticidade e é capaz de desenvolver rapidamente. São cerca de 700 mil novas sinapses por segundo que se formam no cérebro de um bebê. (Shonkoff, 2000). Com o passar dos anos essa flexibilidade vai diminuindo e esta aí a grande importância de se oferecer os estímulos adequados nessa faixa etária que vai até os seis anos de vida.

Segundo James Heckman (2006), renomado economista e ganhador do Prêmio Nobel em seus estudos demonstrou a importância dos primeiros anos de vida das crianças e nos apontou através de evidências que este período é bastante delicado, pois é nele que as habilidades e capacidades são formados. Na pesquisa, constatou-se que a cada dólar investido na Primeira Infância o retorno é de sete dólares. Essa fase do desenvolvimento humano é uma das melhores para se investir. Aqui nossa preocupação não é somente com retorno em dinheiro, mas sim das oportunidades que são oferecidas, pensando na construção de uma sociedade com mais equidade e justiça social. Sua conclusão é que a acumulação de capital humano é um processo onde habilidades geram habilidades.

Temos a consciência que a educação é uma ferramenta fundamental na formação humana e para o desenvolvimento da sociedade. A educação também é responsável por divulgar o saber, levar o conhecimento, ampliar, desenvolver e reinventar nosso tempo. A porta de entrada é a primeira infância e por isso a educação básica é necessária para que toda pessoa se integre na dinâmica da sociedade atual. Notamos que o desenvolvimento humano é capaz de gerar oportunidades. Os investimentos nos primeiros anos de vida se tornam fundamental, pois podem, se pensarmos, em longo prazo, gerar benefícios bastante significativos. O que discutimos no Brasil é como gerar oportunidade para que as crianças tenham acesso e a qualidade da educação. As políticas sociais frequentemente são fragmentadas e paliativas, foca apenas um problema por vez. Sabemos que uma grande parcela das crianças nasce e vive em comunidades carentes, onde não existe saneamento, com uma nutrição pouco adequada nos primeiros anos de vida, ficam doentes com frequência o que repercute diretamente na aprendizagem, e isso é determinante no começo da vida justamente o período que começamos a aprender.

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Leis da Primeira Infância e Marco Legal Primeira Infância

Notamos que o mundo nas últimas décadas tem se preocupado com a primeira infância. Fica claro na Declaração dos Direitos da Criança em 1959 e depois na Convenção dos Direitos da Criança, em 1989, a sociedade mundial criou e organizou algumas diretrizes garantindo que as crianças tivessem direitos como o acesso aos meios de saúde com qualidade e brincar livremente, artigos 24 e 31 respectivamente. Muitos países então realizaram estudos e pesquisas que evidenciam e comprovam os benefícios de ações voltadas nessa fase do desenvolvimento humano. Aqui no Brasil destacamos a Constituição brasileira de 1988, o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA 1990), as Leis de Diretrizes de Base da Educação, (LDB 1996) e o Marco Legal da Primeira Infância em 2015, do qual abordaremos com maior amplitude.

O Marco Legal da Primeira Infância, foi sancionado em março de 2016 e preenche as lacunas deixadas pelo ECA e as crianças, serão beneficiadas com uma legislação específica, pois apresenta propostas mais claras de políticas públicas, procurando envolver ações nas áreas de saúde, educação entre outras. Uma novidade importante é que esta sendo investidos esforços para que a intersetorialidade aconteça efetivamente. São vários órgãos públicos, trabalhando em conjunto, com foco na Primeira Infância, trazendo uma visão holística da criança, ou seja, uma visão da criança na sua integralidade. Vejamos a seguir algumas das principais alterações:

Estatuto da Criança e Adolescente:

a Acrescenta um parágrafo que explicita a corresponsabilidade dos pais e mães no cuidado e educação dos filhos;

b Determina que a União apoie a implementação de serviços de acolhimento em família acolhedora como política pública e oferece atenção especial à atuação de educadores de referência nos serviços de acolhimento institucional de crianças até três anos;

c Garante o direito de pelo menos um dos pais permanecer em tempo integral como acompanhantes em unidades de terapias intensivas neonatais;

d Assegura às gestantes em situação de privação de liberdade ambientes adequados às normas sanitárias e assistenciais do SUS para o acolhimento do filho, e garante

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a alta hospitalar responsável, contrarreferência na Atenção Básica, acesso a serviços de apoio à amamentação, os mesmos direitos das demais gestantes;

e Inclui o direito da gestante a receber orientações sobre aleitamento materno, alimentação complementar saudável, crescimento e desenvolvimento infantil;

Na Consolidação da Lei Trabalhista:

a O empregado poderá deixar de comparecer ao trabalho, sem que seja descontado no salário, até dois dias para acompanhar consultas médicas e demais exames durante o período de gravidez da sua esposa ou companheira. Também é possível que um dia por ano, possa acompanhar o seu filho de até seis anos em consulta médica.

Lei 11.770, lei da “Empresa Cidadã”:

a A licença paternidade passa de 5 para 20 dias para empregados cujas empresas participam do programa “Empresa Cidadã”. Medida válida também para funcionários que adotam uma criança.

Código de Processo Penal:

a Existe a possibilidade de o magistrado trocar a prisão preventiva pela prisão domiciliar no caso de gestantes, mulheres com filhos de até 12 anos incompletos e homens responsáveis pelos cuidados do filho de até 12 anos incompletos;

b Prevê que as autoridades policiais colham informações sobre a existência de filhos dos indiciados, e que a informação conste no auto de prisão em flagrante;

Com essas alterações o Marco Legal da Primeira Infância deseja programar e efetivar políticas públicas na primeira infância. Neste sentido quer evidenciar a importância dos primeiros anos de vida no desenvolvimento humano. Destacamos que esse projeto de lei cria uma Política Nacional Integrada para a Primeira Infância. Para isso trabalha com uma visão intersetorial, ou seja, procura integrar vários órgãos governamentais, envolvendo união, estados e municípios. Todos voltados a garantir os direitos da criança na primeira infância.

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Conclusão

A humanidade tem feito avanços importantes nos últimos anos, em relação aos cuidados das crianças. É inegável que nas últimas décadas existe uma preocupação com a primeira infância de uma forma mais incisiva. Notamos esse movimento através dos inúmeros estudos científicos, leis e programas governamentais específicos para as crianças até seis anos de idade. A Pastoral da Criança desde sua fundação em 1983 incentiva esse cuidado com a criança e por saber acumulado tem consciência que num primeiro momento a participação da família no cuidado da criança é muito importante, porém num segundo momento é preciso acontecer o envolvimento e a adesão da comunidade, de forma coletiva. Para isso procura através da partilha do saber e do envolvimento da comunidade fazer com que as crianças tenham os seus direitos garantidos. Entende também que a comunidade só será transformada se for organizada e estiver ciente dos seus direitos e deveres. Além dessa organização o Estado deve garantir o acesso com equidade a todos os cidadãos, garantido os mínimos dos direitos sociais.

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Referências

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