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ACOMPANHAMENTO ULTRA-SONOGRÁFICO TRANSABDOMINAL EM MODO-B DOS PRIMEIROS 60 DIAS DE GESTAÇÃO NA CABRA DOMÉSTICA

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Academic year: 2021

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ACOMPANHAMENTO ULTRA-SONOGRÁFICO

TRANSABDOMINAL EM MODO-B DOS PRIMEIROS

60 DIAS DE GESTAÇÃO NA CABRA DOMÉSTICA

(REAL-TIME TRANSABDOMINAL ULTRASOUND STUDY OF

FIRST SIXTY DAYS IN PREGNANT GOATS)

E. LÉGA

1

, G. H. TONIOLLO

2

, K. T. DE RESENDE

3

RESUMO

Neste estudo foram utilizadas 16 cabras da raça Saanen pertencentes a um grupo homogêneo, durante a estação reprodutiva, objetivando estudar o início do período gestacional nesta espécie, segundo as técnicas de diagnóstico precoce de gestação e fetometria, através da ultra-sonografia em modo-B. Foi avaliado o melhor momento para diagnóstico gestacional através da técnica de ultra-sonografia transabdominal. A mensurações fetal desde o diagnóstico da gestação até o 60o dia foi registrada Assim, verificou-se que o diagnóstico gestacional pela ultra-sonografia transabdominal em modo-B pode ser dado aos 30 dias, o diagnóstico de gestação gemelar podendo ser dado aos 42 dias e que, a partir da visualização do feto, a fetometria pode ser realizada, não havendo diferença significativa entre cabras gestando fetos únicos ou cabras com gestação gemelar.

PALAVRAS-CHAVE: Ultra-sonografia. Gestação. Cabra.

SUMMARY

In this study, 16 Saanen goats, belonging to a homogeneous group, were used during the breeding season, with the objective of studying the beginning of the gestation period in this specie, using the techniques of precocious diagnosis of gestation and fetometry, through the B-mode ultrasonography. The exact period for gestation diagnosis was evaluated using the technique of transabdominal ultrasonography. The fetuses measures were registered since the gestation diagnosis up to the 60th day. Thus, it was verified that the gestation diagnosis using the transabdominal B-mode ultrasonography can be given with 30 days, and the diagnosis of gemellary gestation can be given with 42 days and that starting from the visualization of the foetus and fetometry can be accomplished, there was no significant difference between goats with only one foetus or goats with gemellary gestation.

KEY-WORDS: Ultrasound. Pregnancy. Goat.

1 Pós-graduanda, Nível de Doutorado em Cirurgia Veterinária, FCAV, Jaboticabal, SP

2 Professor Adjunto, Depto. de Medicina Veterinária Preventiva e Reprodução Animal, FCAV, Jaboticabal, SP. 3 Professor Assistente Doutor, Depto. de Zootecnia, FCAV, Jaboticabal, SP.

(2)

INTRODUÇÃO

A importância da realização do diagnóstico de gestação em rebanhos caprinos é um exemplo de modernização do manejo para melhorar o índice de produtividade, visto que a cabra apresenta estacionalidade reprodutiva (HAFEZ, 1995; LEYVA-OCARIZ et al., 1995).

Vários métodos são utilizados para o diagnósti-co de gestação em cabras, dentre eles o sistema de ultra-som, por observação da imagem real (modo-B) (RESTALL et al., 1990; GOEL & AGRAWAL, 1992; KÄHN, 1994; ISHWAR, 1995), tem sido recomendado que para o diag-nóstico precoce da gestação.

KÄHN et al. (1994) referem que o exame ultra-sonográfico transretal é mais eficaz do que o método transcutâneo até o 35o dia de gestação. Entre os dias 35 e 70, ambos os métodos parecem ser igualmente acurados. Na segunda metade da gestação, o exame transcutâneo permite melhor e mais ampla visualização. A observação transcutânea ou transabdominal é executada com animal em posição quadrupedal. A cabeça do transdutor lubrificada é colocada contra a pele depilada na região inguinal. O tempo ideal para observação transabdominal está entre 40 a 75 dias de gestação e o número fetal a partir de 50 dias após a cobertura (FOWLER & WILKINS, 1984; WHITE et al., 1984 e DAVEY, 1986).

DAWSON et al. (1994) estudaram a enumeração fetal na quinta e sétima semanas de gestação através de ultra-sonografia transabdominal em modo-B, após detecção do estro por macho vasectomizado e acasalamento natural por outro macho, mostrando que o período ideal está na sétima semana, na qual encontraram uma sensibilidade de 82% para fetos únicos, 89% para gêmeos e 100% para trigêmeos. Evidenciaram, ainda, uma sensibilidade menor na quinta semana e uma dificuldade maior a partir da segunda metade da gestação em virtude de o tamanho fetal ter aumentado e a quantidade de líqui-dos amniótico e alantoideano ter sido reduzida, o que di-minuiu a movimentação individual, a qual constitui critério de fundamental importância para enumeração fetal.

O tamanho e o estádio de desenvolvimento de um feto podem ser determinados “in vivo” pela utilização da fetometria, porém deve ser realizada com precisão para que não haja interferência na avaliação da morfologia fetal (BONILLA-MUSOLES, 1984; BLAIR, 1996; MORENO et al., 1996). A fetometria inclui a mensuração do diâme-tro médio da vesícula gestacional, do comprimento crâ-nio-caudal, do diâmetro biparietal, diâmetro orbiculares, diâmetro de tórax e comprimento de ossos longos (HAIBEL et al., 1989; REICHLE & HAIBEL, 1991; BAILÃO

et al., 1998).

Com o objetivo de verificar diferenças entre raças caprinas, HAIBEL et al. (1989) mensuraram o diâmetro biparietal dos fetos do 40o ao 100o dia de gestação. Para tanto, utilizaram quatro animais da raça Toggenburg, qua-tro da raça Nubiana e seis da raça Angorá. Observaram uma relação linear entre a idade gestacional (GA) e o diâ-metro biparietal (BPD) representada pela equação [GA = 27.9 + 1.64 BDP] para Toggenburg, [GA = 26.8 + 1.74 BPD] para Nubiana e [GA= 28.6 = 1.77 BPD] para Angorá. Con-cluíram que as diferenças entre as raças no início do se-gundo trimestre da gestação são insignificantes para um mesmo diâmetro biparietal e que, ao final do segundo tri-mestre, são de +3 dias para as fêmeas da raça Nubiana e +6 dias para as da raça Angorá.

Como estudo da morfologia fetal, pode-se ava-liar coração, hemisférios e ventrículos cerebrais, parênquima pulmonar, fígado, diafragma, vesícula urinária, estômago, tubérculo genital e, mais tardiamente, rins (CURRAN et al.,1989; BARROS, 1997).

Assim, o presente estudo teve como objetivo ve-rificar a viabilidade do emprego da ultra-sonografia em modo-B como método eletivo no diagnóstico precoce de gestação, acompanhamento do desenvolvimento inicial do feto; realizar a fetometria, avaliar o perfil biofísico fetal e exame morfológico fetal (BONILA-MUSOLES, 1984) no terço inicial de gestação.

MATERIAL E MÉTODOS

Foram utilizadas 16 cabras, da raça Saanen, com idades entre 9 e 50 meses, pertencentes ao Setor de Caprinocultura da Faculdade de Ciências Agrárias e Vete-rinárias - Câmpus de Jaboticabal, nas quais, após detecção do estro com auxílio de macho vasectomizado, foi reali-zado acasalamento natural, considerando-se este o dia 0 de gestação. O experimento foi conduzido durante três estações de monta. No período de 15 de maio a 15 de junho de 1998, foi acompanhado um rebanho de 24 fêmeas colocadas junto com um macho sob condições a campo, sem controle de monta. No período compreendido entre 15 de setembro e 15 de outubro, foi acompanhado um reba-nho de 38 fêmeas colocadas com um macho sob condi-ções a campo, submetidas à monta controlada. Da mesma forma, no período de 01º de fevereiro a 01º de março de 1999, o mesmo rebanho também foi acompanhado. Nos três períodos, 35 fêmeas sendo cobertas, registrando-se-lhes a data do acasalamento, foram observadas, das quais foram selecionadas 16 para serem submetidos a exames ultra-sonográficos.

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Ficha 1 - Ficha de exame ultra-sonográfico obstétrico (Adaptado da ficha de ultra-som obstétrico da Faculdade de

Medi-cina de Ribeirão Preto – USP - SP).

ULTRA-SOM OBSTÉTRICO - Data: ___/___/___ - No Animal: _____

Data de acasalamento: ____/____/____ Dias de gestação : _______

Tipo de exame: ( ) Transabdominal ( ) Transretal

Exame realizado em modo bidimensional com equipamento _____________________, na freqüência de ________MHz.

Visualiza-se saco gestacional com contornos ( ) regulares ( ) irregulares, com diâmetro médio (DM) de _______ cm, contendo embrião(s) / feto(s) com comprimento crânio-nádega (CCN) ou crânio-caudal (CCC)

de _______ cm. DM = D1 + D2 + D3 3

Batimentos cardíacos ou área cardíaca: ( ) Sim ( ) Não - ________ bat/ min. Diferenciação do pólo cefálico do tronco: ( ) Sim ( ) Não

Esboço dos membros: ( ) Sim ( ) Não Sexagem: ( ) ( ) macho ( ) ( ) fêmea ( ) não visualizado Diferenciação das duas cavidades cerebrais: ( ) Sim ( ) Não

Enumeração fetal: ______ fetos Calcificação fetal: ( ) Sim ( ) Não PERFIL BIOFÍSICO FETAL (PBF)

Movimentos: ( ) cardíacos ( ) somáticos ( ) respiratórios ( ) tônus muscular Líquido amniótico: _______ Placentomas: _______ Membrana amniótica: _______ BIOMETRIA FETAL

• CRÂNIO Diâmetro biparietal (DBP): __________ Diâmetro occípito-frontal (DOF): __________

Circunferência craniana (CC): _________

Diâmetro inter-orbital (DIO): _________

Diâmetro biorbital (DBO): _________ Diâmetro orbital (DO): _________

•ABDÔMEM Circunferência abdominal (CA): _________

(estômago, inserção veia umbilical no fígado, corte transversal coluna) Medidas transversal: _________ Ântero-posterior: ________

(estimativa do peso)

• OSSOS LONGOS (diáfises) Comprimento fêmur (CF): ________

Comprimento úmero (CU): ________

Comprimento tíbia e fíbula: ________

Comprimento rádio e ulna: ________

O manejo empregado na rotina do Setor não so-freu nenhuma alteração. Três cabras, classificadas como não gestantes pela ultra-sonografia, foram consideradas grupo controle para comparação com fêmeas gestantes.

Foi realizada ultra-sonografia transabdominal em modo-B, em aparelho Pie-Medical Scanner 200 Vet., com transdutor mecânico setorial de 5,0 MHz e/ou transdutor linear de 5,0 MHz utilizado para exames transretais em gran-des animais, posicionado em região inguinal previamente tricotomizada após lubrificação com gel comercial, man-tendo-se o animal em posição quadrupedal, procurando evidenciar o volume e conteúdo uterino, bem como

enu-meração das vesículas embrionárias e crescimento fetal no início da gestação. A ultra-sonografia foi realizada a partir do 20° dia após a cobertura, seguindo-se de acompanha-mento através de varreduras seqüenciais às segundas, quartas e sextas-feiras até o 60° dia, registrando-se as ima-gens congeladas. Todos os exames seguiram uma seqüência padrão de anotações, conforme a Ficha 01, para o estudo da fetometria e perfil biofísico fetal e avaliação paralela da morfologia fetal, conforme a Ficha 02. A eficá-cia do diagnóstico de gestação e da determinação do nú-mero de fetos foram avaliadas no dia do parto.

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MORFOLOGIA FETAL

™ CRÂNIO

• anatomia intra-craniana

• face: olho, boca, cristalino, mandíbula • formato do crânio (incluindo medidas)

• ventrículos (no início da gestação são bem grandes) ™ TÓRAX

• secção das quatro câmaras cardíacas (observar batimentos)

• tamanho do coração : 1/3 ou até ½ do toráx estando, em sua maioria, à esquerda ™ ABDÔMEN

• diafragma (área de transição entre tórax e abdômen) • “bolha gástrica” equivalente aos compartimentos gástricos • fígado (inserção da veia umbilical)

• baço: dá a volta no estômago (fígado é mais ecogênico do que o baço) • artéria aorta passando paralela à coluna vertebral em secção sagital do feto • bexiga fetal: estrutura anecogênica

• ossos ilíacos (pelve)

•sexo : observar rafe ano-genital (RA) e tubérculo genital (TG) -( ) macho ( ) fêmea • preservação da parede abdominal: observar se não há hérnias

• rins: difícil de visualizar no início da gestação

™ CORDÃO UMBILICAL • secção transversal: uma veia e duas artérias ™ LÍQUIDOS • amniótico estimar volume e aspecto conforme distância

• alantoideano feto e membranas fetais ™ MEMBRANA AMNIÓTICA • mais fácil de visualizar no início da gestação

Ficha 2 - Seqüência de observações realizadas no ultra-som morfológico (Adaptado da ficha de ultra-som obstétrico da

Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto – USP –SP).

RESULTADOS E DISCUSSÃO

O exame ultra-sonográfico transabdominal per-mitiu diagnosticar 13 cabras gestantes (Figura 1) aos 28 dias em média, com 100% de eficácia pela visualização da(s) vesícula(s) gestacional(is) (KÄHN, 1994) e 3 cabras não gestantes (Figura 2) aos 31-32 dias de gestação com a mesma eficácia, não concordando com as observações feitas por RESTALL et al. (1990), que referiram ser o diag-nóstico realizado entre 53-60 dias. A enumeração fetal foi diagnosticada aos 29 dias em média para fetos únicos e 34

dias em média para fetos gemelares, contradizendo os es-tudos realizados por FOWLER & WILKINS (1984) e DAVEY (1986), porém nossos resultados são semelhantes aos re-feridos por DAWSON et al. (1994), pois encontramos vari-ações de 27 a 46 dias provavelmente decorrentes das difi-culdades na identificação do feto pela falta de repleção vesical, inquietação da fêmea durante o exame e, principal-mente, falta de jejum.

A avaliação ultra-sonográfica foi realizada e as medidas obtidas foram horizontais, transversais e sagitais. Pela mensuração da vesícula gestacional e da fetometria

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Tabela 1 - Valores médios da relação entre estruturas fetais

e idade gestacional em13 cabras da raça Saanen avaliadas através de ultra-sonografia transabdominal, FCAV, UNESP, Jaboticabal, SP, 2000.

Idade gestacional em dias Estruturas fetais 25 a 27 28 a 30 31 a 33 34 a 36 37 a 39 40 a 42 43 a 45 46 a 48 49 a 51 52 a 54 55 a 57 58 a 60 DM (cm) 1,6 2,0 2,1 2,4 2,5 2,7 3,2 3,6 4,3 4,7 4,8 5,1 CCC (cm) - 1,3 1,7 2,2 2,8 3,4 3,9 5,3 5,4 5,8 7,1 7,4 Movimentos cardíacos x x Enumeração fetal (feto único) x x Enumeração fetal (fetos múltiplos) x x Esboço de membros x x Freq. cardíaca (bat/min) 208 - 226 Placentomas x x Membrana amniótica x x Diferenciação do colo cefálico do tronco x x Diferenciação das 2 cavidades cerebrais x x Calcificação x x x Tubérculo genital x x Esboço do olho x x Movimentos somáticos x DBP 0,9 1,1 1,1 1,3 1,6 1,8 Costelas X Diâmetro tórax 1,4 1,4 1,6 1,7 2,0 Dígitos x Coluna vertebral X Cristalino X Mandíbula (cm) 1,06 1,2 Tíbia (cm) 0,5 Rádio (cm) 0,6 Úmero (cm) 0,7 0,8 0,9 0,9 0,9 DIO (cm) 0,5 0,6 DO (cm) 0,6 DBO (cm) 2,23 Bexiga x x Estômago x Fígado x Parênquima pulmonar x

DM: diâmetro médio da vesícula gestacional CCC: comprimento crânio-caudal do embrião DBP: diâmetro biparietal

DO: diâmetro orbital DIO: diâmetro interorbital DBO: diâmetro biorbital

x: indica a idade gestacional a partir da qual a estrutura pode ser visualizada

Figura 1 - Visualização do útero cranial à bexiga (BX),

com aspecto multilocular em uma cabra aos 29 dias de gestação.

Figura 2 - Visualização do útero cranial à bexiga (BX)

em uma cabra não gestante 30 dias após o acasalamento.

Figura 3 - Visualização do tubérculo genital localizado

em secção horizontal entre os membros pélvicos, a cauda e o cordão umbilical em um feto com dias.

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Figura 4 - Placentomas em secção transversal indicados

nas setas em uma cabra com 40 dias de gesta-ção.

Figura 6 - Visualização das fossas orbitárias em um feto

de 60 dias em secção horizontal

Figura 5 - Comprimento crânio-caudal (4,63 cm) em um

feto de 43 dias com diferenciação do pólo cefálico de tronco.

pode-se criar uma relação entre estruturas fetais com intui-to de determinar a idade gestaciona conforme a Tabela 1. O batimento cardíaco (Figura 10) é um dos aspec-tos para avaliação da viabilidade fetal e pode ser aferido, a partir da observação do feto, aos 27-30 dias (ISHWAR, 1995). Em nosso estudo, a freqüência cardíaca somente pôde ser mensurada pelo equipamento após 37 dias de gestação, e os valores variaram de 208 a 226 batimentos por minuto; porém MORENO et al. (1996), comentam que à medida que se aproxima o momento do parto, esta freqüência diminui.

Os movimentos embrionários somáticos apare-ceram inicialmente como movimentos bruscos e puderam ser observados a partir de 37-39 dias. Segundo BONILLA-MUSOLES (1984), estes movimentos associam-se a ou-tros mais lentos a partir de 43-45 dias. Esta atividade cinética é outro parâmetro importante para avaliação da viabilida-de fetal; uma vez que comumente observarmos momentos de arreatividade que, segundo a literatura em Medicina Humana, pode durar 30 minutos. A arreatividade também ocorre com freqüência dando a impressão de que o feto dorme por um curto período de tempo; e com a movimen-tação da fêmea aliado à manipulação do transdutor contra o abdômen, faz retornar a atividade cinética. A observação dos batimentos cardíacos é, neste caso, de fundamental importância para concluir diagnóstico de morte fetal.

Da mesma forma que MORENO et al. (1996) estu-daram os parâmetros fetométricos em ovelhas, este experi-mento, em que há visualização do feto até completar 60 dias, permitiu que fosse realizada a fetometria, sendo reali-zado um total de 30 exames por animal. O tempo dispensa-do durante o exame variou de 3 a 10 minutos por animal para diagnóstico de gestação e de 30 a 60 minutos para avaliação do desenvolvimento fetal, incluindo fetometria, avaliação do perfil biofísico e morfologia fetais conforme demonstra BAILÃO et al. (1998) ao estudar fetos huma-nos.

A fetometria mostrou ser o aspecto mais apropri-ado para determinação da idade gestacional, sendo as mensurações consideradas fidedignas, visto que as datas de acasalamento e de parto foram conhecidas em todos os animais, porém não encontramos valores que permitissem comparaçõesfalta de estudos dessa natureza na espécie caprina não houve valores comparativos. Observando-se a Tabela 1, podemos afirmar que, entre os parâmetros fetométricos estudados, os mais eficazes para determina-ção da idade gestacional no período avaliado foram o com-primento crânio-caudal a partir de 27-30 dias, também aferido na Medicina Humana em início de gestação (BAILÃO et al., 1998) e o diâmetro biparietal a partir de 43-45 dias, cujos valores concordam com aqueles realizados por HAIBEL (1989) e REICHLE & HAIBEL (1991). A

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Figura 7 - Diâmetro biparietal (1,58 cm) em um feto com

49 dias. Observar o septo inter-hemisférico.

Figura 8 - Visualização da escápula e úmero de um feto

de 51 dias. Mensuração do comprimento do úmero (0,82 cm).

Figura 9 - Visualização do parênquima pulmonar (seta).

Note uma estrutura anecóica na região cau-dal, estrutura arredondada anecóica, que corresponde à bexiga de um feto de 54 dias. mensuração dos diâmetros orbitais e dos comprimentos

de ossos longos pode ser aferida a partir de 49 dias, com variação de 0,1 a 0,2 cm até o 60o dia de gestação, muita pequena para determinar a idade gestacional no período estudado.

O tempo ideal para observação das estruturas fetais é fundamental para avaliação da morfologia fetal, porquanto a ultra-sonografia morfológica reflete a inte-gridade das estruturas examinadas e permite diagnosticar precocemente afecções ou defeitos congênitos que por ventura possam ocorrer. BAILÃO et al. (1998), em Medici-na HumaMedici-na, comentam que várias anomalias podem ser observadas pelo estudo morfológico do feto; entretanto, em Medicina Veterinária, pouca importância tem sido des-tinada para esses aspectos e, a exemplo do nosso traba-lho, propõe-se difundir este estudo para outras espécies. Da mesma forma, o perfil biofísico fetal permite avaliar a viabilidade fetal observando-se movimentos car-díacos desde o momento da identificação do feto; movi-mentos somáticos a partir de 37-39 dias; tônus muscular a partir de 49-51 dias e os movimentos respiratórios, que não foram avaliados neste estudo por serem um parâmetro de final de gestação, conforme estudos realizados em hu-manos (BAILÃO et al., 1998).

A visualização do tubérculo genital (Figura 3) pode ser realizada a partir da observação do mesmo aos 43-45 dias, sendo esta estrutura uma das mais difíceis de registrar devido à grande movimentação somática do feto neste período, devendo-se realizar secção horizontal iden-tificando num mesmo plano o cordão umbilical, os mem-bros pélvicos e a cauda, conforme explicam CURRAN et al. (1989) e BARROS (1997). O tubérculo genital, por en-contrar-se entre estas estruturas, permite informar que quanto mais perto da cauda, considera-se o feto como fê-mea e quanto mais perto do cordão umbilical, como ma-cho. A sexagem neste trabalho não foi considerada pelo fato de que a maioria das fêmeas gestavam fetos gemelares de sexos diferentes confirmados no momento do parto, tornando a eficácia desta sexagem pouco fidedigna, pois nem sempre os tubérculos genitais de ambos fetos eram identificados. Este parâmetro fez parte do aprendizado, visto que somente a presença ou ausência do tubérculo genital próximo do cordão umbilical não é suficiente para a determinação do sexo. Ademais, a literatura consultada realizava os exames via transretal o que permite uma maior facilidade de manipulação do transdutor e maior pre-cocidade no diagnóstico.

Aos 31-33 dias, os placentomas (Figura 4) foram visualizados como estruturas ecogênicas com núcleo anecóico, em secção transversal, na qual adquirem aspec-to de anel. Em secção horizontal ou sagital adquirem for-mato de foice, aspectos esses semelhantes aos

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encontra-Figura 10 - Mensuração da freqüência cardíaca fetal em

modo-M (218 bat/min) em um feto com 60 dias.

dos por HAIBEL (1989).

Em secção horizontal do feto, pôde-se observar o esboço dos membros, ainda sem evidência de calcificação, a partir de 34 a 36 dias.

A diferenciação do pólo cefálico do tronco (Fi-gura 5) ocorreu a partir do 34o dia de gestação, avaliando-se a diferenciação das duas cavidades cerebrais pelo avaliando-septo inter-hemisférico, em secção horizontal, a partir do 40o dia; nessa fase, os ventrículos aparecem como estruturas anecóicas proporcionalmente maiores, quando compara-das aos de um recém-nascido (BONILLA-MUSOLES, 1984). O esboço dos olhos pôde ser identificado a partir de 40 dias de gestação como pontos anecóicos bem defi-nidos em secção sagital do pólo cefálico. As fossas orbitárias podem ser identificadas como áreas redondas anecóicas (BONILLA-MUSOLES, 1984) a partir da calcificação do feto, porém, os diâmetros orbitais , interorbitais e biorbitais propostos por BAILÃO et al. (1998) puderam ser aferidos a partir de 52 dias, mensurados num mesmo plano coronal; dessa forma, ao movimentar discretamente o transdutor, pôde-se observar o cristalino dentro da órbita como um halo com densidade ecogênica (Figura 6).

Ao identificarmos as fossas orbitárias, a base nasal também pode ser avaliada por estar situada entre estas estruturas (BONILLA-MUSOLES, 1984), permitindo observar que os mesmos detalhes, que até então eram freqüentemente avaliados em humanos, também pudes-sem ser estendidos para a Medicina Veterinária.

A calcificação dos ossos aparece com aspecto hiperecóico a partir de 46 dias, sendo primeiramente identificada nas costelas e crânio, seguido da coluna ver-tebral e esqueleto apendicular, período em que será possí-vel realizar a biometria fetal.

O diâmetro biparietal (Figura 7) é aferido por

sec-ção horizontal do crânio como demonstra HAIBEL (1989), não sendo possível realizar essa mensuração em corte coronal como naquela realizada na medicina humana e de-monstrada por BAILÃO et al. (1998), porquanto nos caprinos a presença de seios nasais longos não permite essa secção.

REICHLE & HAIBEL (1991) referem baixa eficácia em aferir o diâmetro biparietal em fetos muito jovens pela profundidade de localização do útero no abdômen. Atra-vés da experiência obtida neste estudo, isto pode ser ex-plicado pelo fato de que a acurácia nesta mensuração é melhor observada a partir do início da calcificação do es-queleto fetal, através da qual se pode determinar com exatidão o local a ser aferido. Em períodos precoces, esse parâmetro pode implicar erros exacerbados, mesmo quan-do os marcaquan-dores eletrônicos interajam em milímetros, vis-to que o diâmetro biparietal é muivis-to pequeno nesta fase.

Ao utilizarmos os valores encontrados para o diâ-metro biparietal nas equações propostas por HAIBEL et al. (1989) e REICHLE & HAIBEL (1991), observamos que em todas elas a variação é de até três dias, intervalo este também utilizado na Tabela 1. Essa diferença, para a alteração do manejo devido à previsão do parto, não se torna de fundamental importância, pois a separação das fêmeas do rebanho para uma maternidade é realizada no mínimo uma semana antes da previsão do parto.

O diâmetro do tórax pode ser medido pela distân-cia entre as últimas costelas, com o feto em posição hori-zontal, não sendo possível, nesta fase gestacional, realizar as medidas realizadas em secção sagital, propostas por KÄHN (1994) no último terço de gestação, para estimativa do peso fetal, uma vez que este não era um dos objetivos deste trabalho.

A coluna vertebral pode ser visualizada em sec-ção sagital, como pontos hiperecóicos em aspecto de “bam-bu” como refere BONILLA-MUSOLES, (1984), podendo-se identificar o canal medular anecogênico. Paralela à co-luna vertebral, em mesmo plano seccional, pode-se evi-denciar a artéria aorta abdominal, que, pelo conteúdo flui-do, aparece como estrutura anecóica. Como observamos na literatura, o posicionamento das estruturas fetais pode ser avaliado conforme referido na Medicina Humana.

O comprimento de ossos longos (Figura 8) foi aferido nas diáfises de rádio, tíbia, fêmur e úmero, a partir de 46 dias. Como nesta fase gestacional o feto apresenta muita movimentação e estes ossos ainda têm tamanho di-minuto, a mensuração fica mais difícil (BONILLA-MUSOLES, 1984), devendo-se dedicar maior tempo de exa-me para que todos os ossos sejam exa-mensurados. Ainda assim, fêmur e úmero, por serem anatomicamente maiores, são mensurados com maior facilidade.

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A vesícula urinária pode ser identificada na por-ção caudal do abdômen, apresentando-se com aspecto anecóico, discretamente repleta. O fígado aparece com parênquima de aspecto homogêneo ecogênico, localizado logo abaixo da transição entre tórax e abdômen, e como os ventrículos cerebrais, também é maior proporcional-mente do que em filhotes ou adultos (BONILLA-MUSOLES, 1984).

A “bolha gástrica” corresponde ao estômago e apresenta-se como uma estrutura anecóica na região cranial do abdômen (BONILLA-MUSOLES, 1984), próxima ao fígado, contendo invaginações em seu lúmen relaciona-dos à diferenciação relaciona-dos quatro compartimentos gástricos característicos de ruminantes.

O parênquima pulmonar (Figura 9) foi a última estrutura fetal a ser observada durante este período de estudo, aparecendo com aspecto homogêneo, bem defini-do no tórax, tomandefini-do-se como parâmetro a identificação da área cardíaca. Sua densidade é hipoecóica em relação ao fígado. Segundo BONILLA-MUSOLES (1984), à medi-da que o final medi-da gestação se aproxima, aumenta a ecogenicidade pulmonar, sendo este um parâmetro ade-quado para avaliação da maturação pulmonar e da proximi-dade do parto.

DAWSON et al. (1994) referem que o tempo para duração do exame é de 5 a 30 segundos para diferenciação de fêmeas gestantes de não gestantes e de dois a três minutos para estimar o número de fetos. Neste estudo, observamos que o número de animais que podem ser exa-minados por hora depende da finalidade do exame: para diagnóstico de gestação, registramos tempo de até 60 se-gundos; para enumeração fetal, até seis minutos; para fetometria, avaliação do perfil biofísico e morfologia fetais, o tempo de exame pode chegar a 60 minutos, salientando que os animais devem ser examinados em ambos os lados em qualquer um dos casos.

As aplicações práticas da técnica de ultra-sonografia permitem que cabras não gestantes possam re-ceber manejo adequado de forma que tenham um período de ciclo estral diminuído e ainda retornem ao estro na mesma estação ou sejam vendidas para minimizar os cus-tos de manutenção, promovendo resultados imediacus-tos den-tro de uma criação com fins econômicos.

Um exame realizado com paciência e precisão não implica erros de interpretação como os referidos por HAIBEL (1989). É importante, por exemplo, diferenciar o aspecto multilocular do útero com a vesícula urinária re-pleta e avaliar sempre a viabilidade fetal pela observação dos batimentos cardíacos ou movimentos somáticos para que o aborto recente ou morte embrionária precoce e reabsorção fetal possam também ser diagnosticados.

Con-tudo, não resta, dúvidas de que a acurácia dos resultados está diretamente associada à experiência do operador e à qualidade de resolução da imagem dos aparelhos utiliza-dos em Medicina Veterinária de grandes e médios animais, visto que a eficácia na identificação das estruturas fetais aumenta sempre que a resolução da imagem é melhor, como pode ser observado em avaliações de morfologia fetal hu-mana.

ARTIGO RECEBIDO: Agosto/2002 APROVADO: Março/2003

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