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UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALAGOAS CAMPUS ARAPIRACA UNIDADE EDUCACIONAL PALMEIRA DOS INDIOS CURSO DE SERVIÇO SOCIAL ROSA BEATRIZ DOS SANTOS VANDERLEI

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Academic year: 2021

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALAGOAS CAMPUS ARAPIRACA

UNIDADE EDUCACIONAL PALMEIRA DOS INDIOS CURSO DE SERVIÇO SOCIAL

ROSA BEATRIZ DOS SANTOS VANDERLEI

DESAFIOS POSTOS À POLÍTICA DE ASSISTÊNCIA SOCIAL NO BRASIL: O PAPEL HISTÓRICO DO ESTADO NO ENFRENTAMENTO DA POBREZA

PALMEIRA DOS INDIOS 2020

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DESAFIOS POSTOS À POLÍTICA DE ASSISTÊNCIA SOCIAL NO BRASIL: O papel histórico do Estado no enfrentamento da pobreza

Trabalho de Conclusão de Curso - TCC apresentado a Universidade Federal de Alagoas – UFAL, Campus de Arapiraca, Unidade Educacional Palmeira dos Índios, como requisito parcial para a obtenção do grau de Bacharel em Serviço Social.

Orientadora: Prof.ª Ma. Érika Flávia Soares da Costa.

PALMEIRA DOS ÍNDIOS 2020

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Catalogação na fonte Universidade Federal de Alagoas Biblioteca Unidade Palmeira dos Índios

Divisão de Tratamento Técnico

Bibliotecária Responsável: Kassandra Kallyna Nunes de Souza (CRB-4: 1844)

V235d Vanderlei, Rosa Beatriz dos Santos

Desafios postos à política de assistência social no Brasil: o papel histórico do Estado no enfrentamento da pobreza / Rosa Beatriz dos Santos Vanderlei, 2020.

75 f.

Orientadora: Érika Flávia Soares da Costa.

Monografia (Graduação em Serviço Social) – Universidade Federal de Alagoas. Campus Arapiraca. Unidade Educacional de Palmeira dos Índios. Palmeira dos Índios, 2020.

Bibliografia: f. 73 – 75

1. Serviço social. 2. Assistência social. 3. Pobreza. 4. Política social. 5. Capitalismo. I. Costa, Érika Flávia Soares da. II. Título. CDU: 364

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DESAFIOS POSTOS À POLÍTICA DE ASSISTÊNCIA SOCIAL NO BRASIL: o papel histó rico do Estado no enfrentamento da pobreza

Trabalho de Conclusão de Curso – TCC apresentado ao Curso de Serviço Social da Universidade Federal de Alagoas/ Unidade Educacional de Palmeira dos Índios, como requisito parcial para obtenção do grau de Bacharel em Serviço Social.

____________________________________________________ Profa. Ma. Érika Flávia Soares da Costa

(Orientadora)

_____________________________________________________

Profª. Drª. Angélica Luiza Silva Bezerra (Examinadora interna)

____________________________________________________ Profª. Ma. Heline Caroline Eloi Moura

(Examinadora externa)

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Dedico este trabalho a todos que lutam por uma educação pública e de qualidade mesmo diante da conjuntura adversa que vivenciamos na atualidade.

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Primeiramente, agradeço à Deus por me guiar em todos os momentos da minha vida, por ter me dado força e tranquilidade durante todas as etapas da construção desse trabalho.

Aos meus pais e minha irmã Julianna pelo auxílio e o incentivo que recebi ao longo dos anos, pois sem a compreensão de vocês não seria possível ter chegado até aqui. Ao meu sobrinho Noah Benício, que nasceu em 2019 e esteve presente nesse momento importante.

À minha amiga Nathalia que ouviu todas as minhas reclamações e por ajudar quando precisei. Em especial gostaria de agradecer as amigas que compartilharam comigo grandes momentos durante a graduação: Aline Lima, Anne Katerine, Daniela Lopes, Denise Kelly, Rayane Guerra e Rosa Maria.

Agradeço a assistente social Elane Patrícia, minha supervisora de estágio, pelos ensinamentos proporcionados acerca da vida profissional e também aos profissionais que trabalharam no Centro de Referência em Assistência Social – CRAS Canafístula em 2018.

À minha orientadora Erika que deu continuidade a esse trabalho, e contribuiu nas reflexões e orientações do melhor caminho para este estudo.

Por fim, agradeço ao Curso de Graduação em Serviço Social, pela oportunidade de ampliar meus conhecimentos. Aos professores da Unidade Palmeira dos Índios que muito contribuíram durante esses anos em minha formação.

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Amou daquela vez como se fosse a última Beijou sua mulher como se fosse a última E cada filho seu como se fosse o único E atravessou a rua com seu passo tímido Subiu a construção como se fosse máquina Ergueu no patamar quatro paredes sólidas Tijolo com tijolo num desenho mágico Seus olhos embotados de cimento e lágrima Sentou pra descansar como se fosse sábado Comeu feijão com arroz como se fosse um príncipe

Bebeu e soluçou como se fosse um náufrago Dançou e gargalhou como se ouvisse música E tropeçou no céu como se fosse um bêbado E flutuou no ar como se fosse um pássaro E se acabou no chão feito um pacote flácido Agonizou no meio do passeio público Morreu na contramão atrapalhando o tráfego

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O presente trabalho de conclusão de curso intitulado como “Desafios postos à política de Assistência Social no Brasil: o papel histórico do Estado no enfrentamento da pobreza”, tem como objeto de estudo a intervenção do Estado sobre a pobreza na sociedade capitalista. A pesquisa teve como objetivo refletir sobre a natureza, as contradições e os rebatimentos na efetivação da política de Assistência Social frente a ofensiva neoliberal. A metodologia utilizada para o estudo envolve uma pesquisa bibliográfica e documental, com base no método materialista histórico e dialético de Marx. Buscou-se explicitar acerca das iniciativas do Estado no trato da pobreza, e assimilar em uma perspectiva da totalidade sócio-histórica, a complexa conjuntura política, econômica e social da sociedade e o caminho realizado até a regulamentação da política no Brasil. Essa pesquisa propõe-se realizar na primeira seção um resgate histórico da sociedade capitalista, expondo os determinantes históricos e materiais da questão social; na segunda seção busca apresentar os aspectos sociopolíticos do Estado brasileiro para então analisar pós-Constituição Federal de 1988, marco legal nas conquistas dos direitos sociais, que diante da expansão da ideologia e política neoliberal no país, culminou em um processo de contrarreforma, no qual, houve uma retração dos direitos sociais recém-conquistados. Assim, a pesquisa analisou a política de assistência social, evidenciando quais as implicações que esse cenário político e econômico acarretou na sua efetivação.

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The present work of completion of a course entitled "Challenges posed to the social assistance policy in Brazil: the historical role of the State in coping with poverty", has as object of study the intervention of the State on poverty in capitalist society. The research aimed to reflect on the nature, contradictions and rebates in the implementation of the Social Assistance policy in the face of the neoliberal offensive. The methodology used for the study involves a bibliographic and documentary research, based on Marx's historical and dialectical materialist method. We sought to explain about óthe state's initiatives in the treatment of poverty, and to assimilate from a perspective of the historical totality, the complex political, economic and social conjuncture of society and the path taken to the regulation of politics in Brazil.. This research aims to carry out in the first section a historical rescue of capitalist society, exposing the historica land material determinants of the social issue; in the second section seeks to present the sociopolitical aspects of the Brazilian State to then analyze post-Federal Constitution of 1988, a legal framework in the achievements of social rights, which, in the face of the expansion of neoliberal ideology and politics in the country, culminated in a process of counter reform, in which there was a retraction of newly conquered social rights. Thus, the research analyzed the social assistance policy, evidencing the implications that this political and economic scenario had in its implementation. KEYWORDS: Poverty. Social Policy. Brazil. Neoliberalism. Social Assistance.

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II PND ANL ARENA BPC CAP’s CLT CNSS CRAS FHC FMI FUNABEM IAP’s INPS JK LBA LOAS MDB MDS MP MPAS MUT NOB/SUAS ONG OS OSCIP OSFL PBF PCFMV PCS PDRE PIS

Segundo Plano Nacional de Desenvolvimentto Aliança Nacional Libertadora

Aliança Renovadora Nacional Benefício de Prestação Continuada Caixas de Aposentadoria e Pensões Consolidação das Leis Trabalhistas Conselho Nacional de Serviço Social Centro de Referência em Assistência Social Fernando Henrique Cardoso

Fundo Monetário Internacional

Fundação Nacional para o Bem-estar do Menor Instituto de Aposentadorias e Pensões

Instituto Nacional de Previdência Social Juscelino Kubitschek

Legião Brasileira de Assistência Lei Orgânica de Assistência Social Movimento Democrático Brasileiro

Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome Medida Provisória

Ministério da Previdência e Assistência Social Movimento Unificado dos Trabalhadores

Norma Operacional Básica/ Sistema Único de Assistência Social Organização não governamental

Organizações Sociais

Organizações da Sociedade Civil de Interesse Público Organizações Sem Fins Lucrativos

Programa Bolsa Família

Plano de Combate à Fome e à Miséria pela Vida Programa Comunidade Solidária

Plano Diretor de Reforma do Aparelho do Estado Programa de Integração Social

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PT SENAC SENAI SESC SESI SINPAS SUAS UERJ

Partido dos Trabalhadores

Serviço Nacional de Aprendizagem do Comércio Sistema Nacional de Aprendizagem Industrial Serviço Social do Comércio

Serviço Social da Industria

Sistema Nacional de Previdência Social Sistema Único de Assistência Social Universidade do Estado do Rio de Janeiro

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1 INTRODUÇÃO 11

2 A ORIGEM DA SOCIEDADE CAPITALISTA E AS FORMAS DE

ENFRENTAMENTO DA POBREZA

14

2.1 O processo da acumulação primitiva do capital e os fundamentos sócios históricos da questão social

15

2.2 As primeiras ações no trato da pobreza e a origem das políticas sociais 27

3 ASPECTOS SOCIOPOLÍTICOS DO ESTADO BRASILEIRO:

UM BREVE HISTÓRICO SOBRE A ASSISTÊNCIA SOCIAL NO PAÍS

40

3.1 Brasil: a ação do Estado nas décadas de 1930 – 1980 41

3.2 A assistência social pós-Constituição Federal de 1988: impasses na efetivação de uma política pública

56

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS

REFERÊNCIAS

70 73

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1. INTRODUÇÃO

O presente trabalho de conclusão de curso tem como objeto de estudo a intervenção do Estado no enfrentamento a pobreza na sociedade capitalista, sendo um tema de fundamental relevância, pois ao buscar explicitar as iniciativas do Estado no trato a pobreza – uma das expressões da questão social –, permite assimilar em uma perspectiva da totalidade sócio-histórica, a complexa conjuntura política, econômica e social da sociedade e todo o caminho realizado até a consolidação da Política de Assistência Social. Assim, a pesquisa tem como objetivo principal refletir sobre a natureza, as contradições e os rebatimentos na efetivação da política frente a ofensiva neoliberal.

O interesse sobre o referido tema, resulta dos estudos realizados durante a graduação em Serviço Social e do estágio supervisionado obrigatório no Centro de Referência em Assistência Social (CRAS), o qual, possibilitou uma aproximação com a política e resultou em questionamentos acerca de sua efetivação em um contexto de expansão do neoliberalismo. Vale ressaltar que compreendê-la é pertinente, devido ao processo de agudização das expressões da questão social na atualidade e por seu caráter de expansão nas últimas décadas desde a sua regulamentação, por isso apreender a natureza e o perfil dessa política implantada no Brasil, demandou buscar as raízes dos determinantes históricos e materiais da questão social e explicitar as formas de intervenção do Estado no enfrentamento a pobreza ao longo da sociedade capitalista até a consolidação das políticas sociais.

À vista disso, levantaram-se as seguintes questões norteadoras do debate: Quais os determinantes sócio-históricos da questão social? Como são dadas as respostas do Estado para sua intervenção? Quais os desdobramentos na Política de Assistência Social em face do projeto hegemônico neoliberal que se expande na década de 1990 no Brasil?

A partir dessas indagações, a investigação foi orientada pelo método materialista histórico e dialético de Marx que assimila o objeto em uma perspectiva de totalidade, isto é, tendo em conta as determinações singulares, particulares e universais. O método engloba uma totalidade social, um complexo de complexos que são instituídos por interações sociais, no qual, se torna fundamental o entendimento sobre a origem e o processo que perpassa o objeto. Desse modo, apreende-se que para se conhecer o todo é indispensável conhecer as partes que o constituem, assim como as interações estabelecidas entre elas. Tendo em vista isso, o método possibilita expor o desenvolvimento da intervenção estatal sobre a pobreza e a implementação da política de assistência social no Brasil, compreendendo-a como o resultado de interesses e contradições oriundo do sistema capitalista.

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Os procedimentos metodológicos adotados são de natureza bibliográfica e documental, a partir da seleção de obras clássicas e contemporâneas, em livros, artigos, e dissertações de mestrados de autores do Serviço Social que debatem a temática abordada. Além de uma pesquisa documental que possibilitou o acesso à Constituição Federal de 1988 e os documentos acerca da política de Assistência Social, seja em materiais físicos ou por meio eletrônico. Para tanto, se faz necessário a seleção de obras clássicas como a de Karl Marx e Friedrich Engels, e de obras contemporâneas, como a dos autores Robert Castel; José Paulo Netto; Elaine Behring e Ivanete Boschetti; Berenice Rojas Couto; Maria Luiza Mestriner e entre outros.

Posto isto, pelo percurso metodológico escolhido, o trabalho é sistematizado da seguinte forma: a segunda seção analisa o processo da Acumulação Primitiva do Capital para situar a gênese histórica do capitalismo, que com base nos estudos de Marx (1984), se inicia a partir da expropriação violenta dos produtores rurais de suas terras, resultando na separação desse produtor rural de seus meios de produção, e posteriormente no surgimento de duas classes sociais fundamentais: a burguesia e o proletariado. Expor esse processo é indispensável para compreender a transformação da força de trabalho em mercadoria, no qual, propiciou a consolidação do modo de produção capitalista a partir do advento da grande indústria, esse desenvolvimento que intensificou a exploração dos trabalhadores, vai desmistificar os determinantes históricos e materiais da questão social, que tem como uma das suas principais expressões o pauperismo.

No segundo item apresenta que diante dessas transformações na sociedade, coube ao Estado o papel de administrar os conflitos sociais que surgem da relação capital x trabalho, visando a manutenção da ordem social e a extração da mais-valia. No mesmo item aborda-se o fato de que o Estado vai adequar a sua intervenção em momentos distintos de sua reprodução, mediante as necessidades impostas pelo capital, assim, pode-se compreender que na acumulação primitiva assume um viés punitivo e repressor e em sua fase madura, o Estado se reconfigura, tencionando garantir as condições necessárias para que houvesse a ampliação dos lucros e resultante das lutas reivindicativas dos trabalhadores, o enfrentamento dos problemas sociais seria realizado via políticas sociais.

Na terceira seção aborda o contexto brasileiro, e em linhas gerais é exposta a formação do Estado e a sua atuação no âmbito social que teve início na década de 1930 durante o governo de Getúlio Vargas. Vai ser apontado nas décadas analisadas no primeiro item, como a assistência passa a ser incorporada pelo Estado, conservando os traços vocacionais católicos e sem ser qualificada como uma política estatal, demonstrando qual a sua tencionalidade no processo de industrialização emergente.

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No segundo item, delimita-se a analisar o Brasil pós-Constituição Federal de 1988, apontando a regulamentação da Seguridade Social com o seu tripé composto pelas políticas de saúde, previdência e assistência social, buscando explicitar que mesmo com os avanços no que se refere aos direitos sociais, a entrada da década de 1990 data a expansão da ideologia e política neoliberal no país, que culminou em um processo de contra-reforma, no qual, houve uma retração dos direitos sociais recém-conquistados com a carta constitucional.

Mediante a isso, se faz necessário um estudo com o enfoque na política de assistência social, evidenciando quais as implicações que esse cenário político e econômico acarreta para a efetivação dessa política, expondo sumariamente as medidas adotadas pelo Estado durante os governos de Fernando Collor de Mello (1990-1992), Itamar Franco (1992-1994), Fernando Henrique Cardoso (1995-2002), Luiz Inácio Lula da Silva (2003-2010), e nos primeiros anos do governo de Dilma Rousseff (2011-2016).

Assim, o presente trabalho visa contribuir com o debate da Política de Assistência Social, compreendendo que é um campo relevante para a análise das contradições da relação capital x trabalho, se propondo a retratar e discutir o processo histórico, os marcos legais, e sua funcionalidade frente às requisições do capital. Apreendendo que no cenário de avanço do neoliberalismo na atualidade, que resultou em um desmonte dos sistemas estatais, contrarreformas e perdas dos direitos sociais conquistados, tem conduzido o país a um grande retrocesso no âmbito político, econômico e social.

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2. A ORIGEM DA SOCIEDADE CAPITALISTA E AS FORMAS DE ENFRENTAMENTO SOBRE A POBREZA

A presente seção aborda o desenvolvimento do modo de produção capitalista resultante de um processo econômico, político e social que transformou as bases da sociedade. Para isso, propõe-se elucidar que a gênese desse novo modo de produção está relacionada com a expropriação violenta do produtor rural de suas terras, propiciando que novas relações de produção fossem instauradas, a partir das duas classes sociais fundamentais: a burguesia, detentora dos meios de produção; e o proletariado, possuidor apenas de sua força de trabalho. É mediante a tal contexto que se origina a relação capital x trabalho, marcada pela exploração do trabalhador que é condicionado a vender a sua força física como única forma de garantir a sua subsistência.

Assim, compreende-se que a partir da consolidação do modo de produção capitalista no século XVIII, a sociedade passa a produzir uma riqueza abundante, em contrapartida uma nova pobreza se gesta não mais pela escassez da produção, mas pela distribuição desigual da riqueza socialmente produzida. Desse modo, é em meio a crescente miséria que assolou a classe trabalhadora com o desenvolvimento industrial, que veio a resultar em uma série de problemas sociais, dentre os quais se destaca, o pauperismo1 crescente, a formação do exército industrial de reserva2, e a intervenção do Estado em vista a controlar os conflitos dos trabalhadores, esses são os principais fundamentos da questão social3.

É em meio ao pauperismo e da luta dos trabalhadores frente a sua condição de exploração, que surge a necessidade de uma intervenção social realizada pelo Estado, que seguiu em sua trajetória, a história política da humanidade e atingiu seu ápice com a institucionalização do Welfare State – período de consolidação dos direitos sociais de cidadania. Busca-se nessa seção ressaltar o processo de acumulação primitiva do capital até alcançar sua consolidação no século XVIII; e as implicações que essa consolidação inflige na classe trabalhadora, para assim compreender os determinantes socio históricos da questão social.

1 Para Pimentel (2012, p. 153) “o fenômeno do pauperismo de amplas camadas da população, tal como se expressa na sociedade burguesa, se manifesta desde o processo de industrialização originário da Inglaterra, no final do século XVIII, momento em que se observa uma transformação radical nos processos e nas relações de produção.” 2 O exército industrial de reserva se refere a força de trabalho excedente que não se encontra inserido dentro do processo produção.

3 Segundo Paulo Netto (2007) a questão social está intrinsecamente relacionada ao desenvolvimento do capitalismo, sendo um processo eminentemente econômico, histórico e social, resultante da relação capital x trabalho.

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2.1 O processo da acumulação primitiva do capital e os fundamentos sócios históricos da questão social

O modo de produção capitalista fundamentado na propriedade privada e na relação contraditória entre capital x trabalho, se distingue dos anteriores com base na formação de uma nova classe social – a classe trabalhadora. A construção dessa nova sociabilidade, segundo Marx (1984), possui como base o trabalho assalariado, particularizando-se pela transformação da força de trabalho em mercadoria. À vista disso, respaldado na exploração do trabalho humano, o capitalista compra a força de trabalho através do salário, e essa mercadoria é o que possibilita a extração da mais-valia4, isto é, o lucro que é apropriado pelo capitalista.

Todo esse processo que se origina na acumulação primitiva do capital deu-se através da expropriação dos produtores de seus meios de produção, dessa maneira, conforme os ditames capitalistas, um contingente de camponeses foi expulso de suas terras de forma coercitiva, sendo submetidos à lógica de venda da sua força de trabalho. Logo, o que se convencionou a chamar de “[...] acumulação primitiva é, portanto, nada mais que o processo histórico de separação entre produtor e o meio de produção. Ele aparece como “primitivo” porque constitui a pré-história do capital e do modo de produção que lhe corresponde” (MARX, 1984, p. 252).

Para que o/a leitor/a compreenda todo esse processo, se faz necessário adentrar no que Marx (1984) convencionou a chamar de acumulação primitiva do capital, segundo o autor, a mesma antecede o modo de produção capitalista, em vista que trata-se da gênese da sociedade vigente. É em meio a esse processo que o dinheiro e a mercadoria passam a serem transformados em capital, particularizando-se essa transformação com base em dois possuidores distintos de mercadorias, estando de um lado aqueles que eram detentores dos meios de produção e dos meios de subsistência, “[...] que se propõem a valorizar a soma-valor que possuem mediante a compra de força de trabalho alheia; do outro, trabalhadores livres, e vendedores da própria força de trabalho e, portanto, vendedores de trabalho” (MARX, 1984, p. 252).

Como afirma Marx (1984), os trabalhadores são considerados “livres” em razão que os indivíduos não pertencem aos meios de produção e tampouco os meios de produção os pertencem. Sendo assim, esse movimento histórico alterou os meios de subsistências e de produção em capital, e resultou na transformação dos produtores diretos em trabalhadores

4

A cerca da mais-valia, será exposto ao longo do texto como a mesma se apresenta no processo de exploração do capital sobre o trabalho, e que a mesma é dividida em: mais-valia absoluta (prolongamento da jornada do trabalho), e a mais-valia relativa (com a intensificação, a partir do incremento de novas tecnologias e relações de trabalho). Entretanto, dentro dos limites postos deste Trabalho de Conclusão de Curso, não será realizado um estudo detalhado sobre a referente categoria.

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assalariados. Diante dos fatos, a emergência da sociedade capitalista impôs aos “trabalhadores livres” que se transformassem em vendedores de sua força de trabalho como a única forma de sobrevivência.

Desse modo, o desenvolvimento da sociedade capitalista que acarretou no surgimento do trabalhador assalariado como também do capitalista, se originou a partir da servidão do trabalhador, segundo Marx (1984), essa mudança esteve pautada na transformação das bases feudais em capitalistas. Como já mencionado, o ponto culminante que impulsionou a formação dessa nova sociedade se deu com a expropriação do produtor rural de suas terras, isto é, a partir dos “[...] momentos em que grandes massas humanas são arrancadas súbita e violentamente de seus meios de subsistência e lançadas no mercado de trabalho como proletários livres como os pássaros” (MARX, 1984, p. 253).

Vale ressaltar que no século XV a parcela majoritária da população era composta por camponeses economicamente autônomos que cultivavam suas terras, usufruindo de um relativo bem-estar. Conforme o que Marx (1984) expõe, nesse período:

[...] Os trabalhadores assalariados da agricultura consistiam, em parte, em camponeses, que aproveitavam seu tempo de lazer trabalhando para os grandes proprietários, em parte numa classe independente, relativa e absolutamente pouco numerosa, de trabalhadores assalariados propriamente ditos. Também estes eram, ao mesmo tempo, de fato camponeses economicamente autônomos, pois recebiam, além de seu salário, um terreno arável de 4 ou mais acres [...] (MARX, 1984, p. 254). Essa realidade somente veio a ser transformada no final do século XV e início do século XVI, quando esses foram submetidos à lógica do processo de produção. Isso ocorreu inicialmente na Inglaterra em razão do desenvolvimento da manufatura flamenga de lã que converteu o que antes era destinado a lavoura em pastagens de ovelhas. Ainda conforme o autor,

O processo de expropriação violenta da massa do povo recebeu novo e terrível impulso, no século XVI, pela Reforma e, em consequência dela, pelo roubo colossal dos bens da Igreja. Na época da Reforma, a Igreja Católica era a proprietária feudal de grande parte da base fundiária inglesa. A supressão dos conventos etc. lançou seus moradores na proletarização. Os próprios bens da Igreja foram, em grande parte, dados a rapaces favoritos reais ou vendidos por um preço irrisório a arrendatários ou a habitantes das cidades especuladoras, que expulsaram em massa os antigos súditos hereditários, juntando suas explorações. A propriedade legalmente garantida a camponeses empobrecidos de uma parte dos dízimos da Igreja foi tacitamente confiscada [...] (MARX, 1984, p. 256).

Assim, esse período foi designado como Revolução Gloriosa (1688), em que as terras que antes eram do domínio da Igreja Católica foram roubadas e sendo vendidas por preços ínfimos, ou incorporadas a propriedades privadas. Segundo o autor, o patrimônio apropriado

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pelo o Estado como também os da Igreja nesse contexto, instituíram a base de sustentação dos domínios da oligarquia inglesa. Esse processo tencionava “[...] transformar a base fundiária em puro artigo de comércio, expandir a área da grande exploração agrícola, multiplicar sua oferta de proletários “livres como os pássaros”, provenientes do campo e etc [...]” (MARX, 1984, p. 258).

À vista disso, Marx (1984) expõe que nesse período a concentração de terra ocasionada pelo cercamento, viabilizou o surgimento do monopólio dos grandes arrendamentos e consequentemente a eliminação dos pequenos arrendatários. É importante destacar que durante o século XV foi iniciado o processo que transformou o que antes era destinado à lavoura em pastagem, e mediante a consolidação da sociedade capitalista no século XVIII, leis relacionadas ao cercamento da terra comunal foram estabelecidas, acarretando em uma forma encontrada pelos senhores fundiários de usurpar as terras do povo, convertendo-as em propriedade privada.

Dessa maneira, os furtos sistematicamente realizados da propriedade comunal, contribuíram para ampliar os grandes arrendamentos e a transformar a população rural em proletários para as indústrias que surgiam. Posto isto, a usurpação dos bens da Igreja, o roubo a propriedade comunal, e a mudança do modelo que seguia os princípios feudais para a propriedade privada moderna, expõe os métodos da acumulação primitiva, no qual, a terra passa a ser apropriada para a agricultura capitalista, a base fundiária foi integrada ao capital e a indústria urbana torna-se o destino da massa de camponeses que foram separados de suas terras. Com essas mudanças, para disciplinar os proletários que surgiam a nova realidade, o Estado5 implementou a legislação sanguinária que se constituía em uma serie de punições contra os trabalhadores, visando enquadrá-los no sistema de trabalho assalariado, sendo a primeira medida de enfrentamento da pobreza. Marx (1984) expõe que com base nas leis sanguinárias:

[...] Esmoleiros velhos e incapacitados para o trabalho recebem uma licença para mendigar. Em contraposição, açoitamento e encarceramento para vagabundos válidos. Eles devem ser amarrados atrás de um carro e açoitados até que o sangue corra de seu corpo, em seguida devem prestar juramento de retornarem a sua terra natal ou ao lugar onde moraram nos últimos 3 anos e “se porem ao trabalho” (to put himself to labour). Que cruel ironia! Henrique VIII, o estatuto anterior é repetido mas agravado por novos adendos. Aquele que for apanhado pela segunda vez por vagabundagem deverá ser novamente açoitado e ter a metade da orelha cortada; na terceira reincidência, porém, o atingido, como criminoso grave e inimigo da comunidade, deverá ser executado (MARX, 1984, p. 265).

5 O Estado na sociedade capitalista assume como função ser o comitê executivo da burguesia, atua visando garantir o conjunto de condições necessárias para a acumulação e a valorização do capital. Desse modo, opera na reprodução ampliada do capital e busca assegurar a preservação da força de trabalho humana que como será visto no decorrer da seção, é submetida a uma superexploração visando sempre a acumulação do capital. Para um maior aprofundamento sobre a funcionalidade que o Estado assume na sociedade capitalista, ler: MARX, Karl. O

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No entanto, Bizerra (2016) evidencia que a intervenção estatal no decorrer da gênese do capital, não se limitou apenas o uso da força coercitiva, o Estado nesse momento também adquire a função de “regular” os salários dos trabalhadores, tornando-se um mecanismo que possibilita assegurar as condições necessárias para a extração do excedente produzido pelo trabalho.

[...] A burguesia nascente precisa e emprega a força do Estado para ‘regular’ o salário, isto é, para comprimi-lo dentro dos limites convenientes à extração da mais-valia, para prolongar a jornada de trabalho e manter o próprio trabalhador num grau normal de dependência. Esse é um movimento essencial da assim chamada acumulação primitiva (MARX, 1984, p. 267).

Torna-se possível o/a leitor/a apreender que o processo da acumulação primitiva não se originou da transformação direta de camponeses em trabalhadores assalariados, mas retrata a expulsão dos produtores diretos e o domínio da propriedade privada fundamentada no próprio trabalho. Desse modo, compreende-se que o surgimento da classe trabalhadora foi impulsionado por ações violentas da parte do Estado que transformou os camponeses em trabalhadores assalariados e promoveu um nível alto de exploração do trabalho visando à procura incessante pela acumulação do capital.

Nas palavras de Marx (1984), essas mudanças deram a base para a consolidação do modo de produção capitalista, e o surgimento das duas classes sociais fundamentais: a burguesia, identificada como os proprietários dos meios de produção, e o proletariado possuidor apenas de sua força de trabalho. É por intermédio dessa dinâmica que se origina a relação capital x trabalho, pautada na exploração do trabalhador que é condicionado a vender a sua força física ao capitalista, e o trabalho nessa nova sociedade adquire como função ser uma atividade criadora de valor.

De acordo com Marx (1996), somente é possível a criação de um novo valor com base no uso da força de trabalho, em vista que é a única mercadoria que possibilita a valorização do capital. No processo da acumulação do capital, essa mercadoria se diferencia das outras em razão que a mesma gera um valor maior do que seu custo, o trabalhador converte-se em um mero instrumento de produção da mais-valia.

O autor supracitado expõe que a busca incessante por essa acumulação do capital acarreta na intensificação da jornada de trabalho, e esse processo que é anterior ao capitalismo, vai possibilitar a expansão do sistema do capital. A extensão da jornada de trabalho que vai “[...] além do ponto em que o trabalhador teria produzido apenas um equivalente do valor de

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sua força de trabalho, acompanhada da apropriação desse mais-trabalho pelo capital – nisso consiste a produção do mais-valor absoluto” (MARX, 1996, p. 578).

Posto isto, a mais-valia absoluta que viabiliza o desenvolvimento e a consolidação do sistema do capital, ocorre mediante a intensificação da jornada de trabalho visando extrair o lucro, pois através do aumento dessa jornada é que torna-se possível a produção do trabalho excedente, ou seja, a ampliação do tempo de trabalho excedente que se constitui na extensão da jornada de trabalho “[...] sem alteração do salário: aumentando-se a duração da jornada [...] conserva-se a mesma duração do tempo de trabalho necessário e se acresce o tempo de trabalho excedente” (PAULO NETTO; BRAZ, 2006, p. 108, grifos dos autores).

Voltando-se a Marx (1996), o autor afirma que o modo de produção capitalista tem a sua consolidação com o advento da grande indústria e da maquinaria, o surgimento das máquinas e consequentemente a procura crescente das mesmas, veio a possibilitar a superação do artesanato e da manufatura como esferas de produção, desencadeando a expansão industrial que ficou conhecida como Revolução Industrial. Diante dessa realidade, essa expansão industrial somente foi possível a partir da inserção da classe proletária que surgia nesse cenário, tendo em vista que as máquinas, em si, não asseguravam a extração da mais-valia.

Engels (2010) expõe que essas mudanças dos meios de produção acarretaram consequências para o trabalhador, dentre essas, a apropriação do trabalho feminino e infantil6, em que as famílias como uma forma de sobreviverem, são condicionadas a se tornarem trabalhadores assalariados. Cabe frisar que essa apropriação do trabalho feminino e infantil era rentável ao capitalista por se caracterizar como mão de obra barata. Outra consequência que se pode destacar é a intensificação da exploração da força de trabalho, por meio do prolongamento da jornada de trabalho, assim:

Se a maquinaria é o meio mais poderoso para aumentar a produtividade do trabalho, isto é, para diminuir o tempo de trabalho necessário à produção de uma mercadoria, em mãos do capital torna-se ela, de início nos ramos industriais de que diretamente se apodera, o meio mais potente para prolongar a jornada de trabalho além de todos os limites estabelecidos pela natureza humana. A maquinaria gera novas condições que capacitam o capital a dar plena vazão a essa tendência constante que o caracteriza, e cria novos motivos para aguçar-lhe a cobiça por trabalho alheio (MARX, 1996, p. 460).

Nas palavras de Marx (1996, p. 467), a exploração dos operários na grande indústria que foi originada pelo o aumento da jornada de trabalho tem:

6 A apropriação do trabalho feminino e infantil é evidenciada de forma detalhada em: ENGELS, Friedrich. A

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[...] produzido pela maquinaria nas mãos do capital, ao fim de certo tempo provoca, conforme já vimos, uma reação da sociedade, que, ameaçada em suas raízes vitais, estabelece uma jornada normal de trabalho, legalmente limitada. Em consequência dessa limitação, assume decisiva importância um fenômeno que já examinamos: a intensificação do trabalho. Na análise da mais-valia absoluta, preocupamo-nos primacialmente com a duração do trabalho e supusemos dado o grau de sua intensidade [...]

Assim sendo, para manter a acumulação do capital sempre elevada, o capitalista cria como estratégia o aprimoramento das máquinas, para que houvesse a intensificação do trabalho, visando extrair mais lucro. Com isso, o desenvolvimento da maquinaria resultou na ampliação da jornada de trabalho, no aumento da exploração da força física de trabalho, e posteriormente com a diminuição dessa jornada, tem-se a intensificação dessa exploração, proporcionando cada vez mais a produção de mercadorias em um tempo menor.

Esse aprimoramento das máquinas que resultou em um amplo desenvolvimento da produção capitalista veio a determinar um menor número de trabalhadores para o seu manuseio. Esse processo que culminou em uma diminuição do uso da força de trabalho, formou um crescente número de trabalhadores que não foram absorvidos pela grande indústria, portanto, a acumulação capitalista criou uma população trabalhadora excedente que passou a ser funcional ao desenvolvimento e apropriação da riqueza, a qual Marx (1984) caracteriza de “alavanca da acumulação capitalista”. Essa população excedente é denominada como exército industrial de reserva, fato esse que será aprofundado em um próximo momento.

Dessa maneira, pode-se compreender que essa relação mediada pela exploração e alienação do trabalho fomentou um controle no destino da classe trabalhadora, em vista que a mesma foi subordinada aos ditames da composição orgânica do capital (capital constante e capital variável) e as alterações que essa composição sofre ao longo do processo de acumulação. Diante dessa constatação, Marx (1984) afirma que quanto maior é a concentração e centralização do capital, maior é a massa de trabalhadores que são submetidos a condições de miséria, e os impactos do capital na classe trabalhadora são explicitados na composição orgânica do capital. O autor afirma que como consequência do desenvolvimento capitalista surge a,

[...] acumulação acelerada do capital. Com a acumulação do capital desenvolve-se, portanto, o modo de produção especificamente capitalista e, com modo de produção especificamente capitalista, a acumulação do capital. Esses dois fatores econômicos criam, de acordo com a relação conjugada dos impulsos que eles se dão mutuamente, a mudança na composição técnica do capital pela qual a componente variável se torna cada vez menor comparada à constante. (MARX, 1984, p. 196).

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As mudanças advindas da consolidação do modo de produção capitalista ocasionam a dependência da classe trabalhadora que precisa vender a sua força de trabalho como única forma de garantir a sua sobrevivência. Para o capitalista, a compra da força de trabalho possui em sua finalidade a valorização do capital, para que se perpetue a reprodução da riqueza, no entanto, como já mencionado o desenvolvimento das forças produtivas gera como nova configuração um menor número de trabalhadores manuseando a maquinaria e as matérias-primas, resultando em uma “[...] diminuição absoluta da demanda de trabalho [...]” (MARX, 1984, p. 198). Pimentel (2012) afirma que:

[...] o capital adicional formado no transcorrer da acumulação atrai, proporcionalmente ao seu tamanho, cada vez menos trabalhadores; de outro, “o velho capital que se reproduz periodicamente em nova composição, repele mais e mais trabalhadores anteriormente ocupados por ele” (p. 260). Com isso se dá o surgimento de um exército industrial de reserva, fenômeno que cria uma progressiva superpopulação relativa (MARX, 1996, p. 260 apud PIMENTEL, 2012, p. 30).

Assim sendo, o capital é dividido em duas partes no processo de produção, a primeira parte é convertida em meios de produção (matérias-primas e máquinas), em que se conserva o valor – sendo denominado como capital constante. A outra parte é destinada para força de trabalho humana, na qual possibilita a criação de um novo valor, pois ocorre mediante aos movimentos que a força de trabalho realiza na produção – sendo designado como capital variável.

Marx (1984) evidencia que essa especificidade se caracteriza como a composição orgânica do capital, no entanto, através do desenvolvimento do capitalismo, ocorre uma modificação na proporção do capital constante e do variável. Dessa forma, o investimento no capital constante passa a ser superior ao capital variável, impulsionando a expulsão de um grande número de trabalhadores da esfera da produção. Diante desse quadro, compreende-se que essa mudança no processo de trabalho, vinculada à Lei Geral da Acumulação Capitalista objetiva uma maior extração da mais-valia, e é válido ressaltar que a mesma resulta da exploração da força de trabalho, sendo primordial para a acumulação do capital.

Essa redução do capital variável em comparação ao constante veio a promover um maior desenvolvimento do sistema do capital, através da utilização da maquinaria. A nova configuração evidenciou uma exploração cada vez mais intensa dos operários, em vista que a mais-valia somente é extraída a partir do capital variável, isto é, ao trabalho humano.

Dessa maneira, com a redução do número de trabalhadores, e compreendendo que a mais-valia é determinada pela divisão da jornada de trabalho em: trabalho necessário (valor

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destinado à subsistência dos trabalhadores) e mais-trabalho (o trabalho excedente que gera o lucro), o capitalista intensifica o trabalho visando o aumento da produtividade, é com base nesse movimento que se é produzido a mais-valia relativa.

Marx (1996) afirma que diante das revoltas dos operários que impulsionaram a redução da jornada de trabalho pelo Estado, uma das estratégias utilizadas pelo capital foi à inserção da maquinaria no processo de produção que fomentou as bases para a produção da mais-valia relativa. Essa mudança resultou em consequências desastrosas para a classe trabalhadora, em vista que essa exigência de intensificar a força de trabalho almejava uma maior produtividade, substituindo assim, as longas jornadas de trabalho.

Marx (1996) expõe que é na jornada de trabalho que ocorre a extração da mais-valia absoluta, na qual o trabalhador produz um valor superior ao da sua força de trabalho, e essa configuração que propicia as bases para a produção da mais-valia relativa que é determinada pela divisão da jornada de trabalho em trabalho necessário e mais trabalho. Em face do exposto, compreende-se que a mais-valia absoluta e a mais-valia relativa se relacionam.

À vista disso, o/a leitor/a pode perceber que para a extração sempre elevada da mais-valia se fez necessário uma redução da procura por força de trabalho, vindo a originar o exército industrial de reserva. Posto isto, com a acumulação desenfreada, os trabalhadores tornam-se uma população excedente não inserida no processo de produção, essa referida classe que consiste em ser um produto destinado para acumulação e desenvolvimento da riqueza capitalista,

[...] constitui um exército industrial de reserva disponível, que pertence ao capital de maneira tão absoluta, como se ele o tivesse criado à sua própria custa. Ela proporciona às suas mutáveis necessidades de valorização o material humano sempre pronto para ser explorado, independente dos limites do verdadeiro acréscimo populacional (MARX, 1984, p. 200).

Pimentel (2012) apresenta que a superpopulação relativa, se consolida como a razão de ser do sistema capitalista, se torna um poderoso instrumento de exploração da força de trabalho e permanente na dinâmica capitalista. A partir dos estudos de Marx (1984), compreende-se que a superpopulação relativa é todo o trabalhador que se encontra desocupado de forma parcial ou inteiramente e é primordial para a acumulação capitalista, haja vista que impulsiona em um aumento do domínio do capital sobre o trabalho.

Diante dos fatos, Marx (1984, p. 205) ainda prossegue afirmando que “O exército industrial de reserva pressiona durante os períodos de estagnação e prosperidade média o exército ativo de trabalhadores [...]”, assim, trata-se de uma base em que se sustenta a lei da

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oferta e da procura por mão de obra, pois a mesma regula os salários visto que os trabalhadores empregados são condicionados a aceitar salários inferiores em virtude da pressão que o exército industrial de reserva realiza sobre o exército ativo.

Conforme o que autor expõe, todos os trabalhadores em algum momento estiveram inseridos nesse processo – de forma parcial ou totalmente – tornando-se evidente em períodos agudos de crises e em momentos de negócios fracos. Essa superpopulação relativa se caracteriza em três aspectos: fluente, latente e estagnada.

Portanto, com os avanços das forças produtivas em que cada vez mais tem-se a modernização das grandes industrias, muitos trabalhadores se tornaram dispensáveis no processo de produção mediante as mudanças ocorridas na composição orgânica do capital. Tendo em vista isso, os “[...] trabalhadores são ora repelidos, ora atraídos em maior proporção, de modo que, ao todo, o número de ocupados cresce, ainda que em proporção sempre decrescente em relação à escala da produção” (MARX, 1984, p. 207). O autor supracitado atribuiu essa forma como superpopulação fluente.

Acerca do tema, Marx (1984) elucidou que:

Tanto nas fábricas propriamente ditas como em todas as grandes oficinas, em que a maquinaria entra como fator ou em que ao menos a moderna divisão do trabalho é aplicada, precisa-se de trabalhadores masculinos até ultrapassarem a juventude. Uma vez atingido esse termo, só um número muito reduzido continua sendo empregado no mesmo ramo de atividade, enquanto a maioria é regularmente demitida. Esta constitui um elemento da superpopulação fluente, que cresce com o tamanho da indústria. Parte emigra e, de fato, apenas segue atrás o capital emigrante (MARX, 1984, p. 207). Já aqueles trabalhadores das zonas rurais expropriados de suas terras ao longo do processo de acumulação primitiva do capital, parte não foi absorvida durante o processo de produção ou foram compelidos a trabalhos inferiores nos centros urbanos, marcados pela precarização, insalubridade e baixos salários, essa categoria se caracteriza como superpopulação latente. À vista disso, Marx (1984, p. 208) prossegue afirmando que o trabalhador rural “[...] está sempre com um pé no pântano do pauperismo”.

A terceira categoria designada superpopulação estagnada é formada pelo exército ativo de trabalhadores que estão inseridos de forma irregular, a referida categoria possibilita ser uma reserva interminável de força de trabalho livre para os capitalistas. Conforme o que o autor reitera:

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Sua condição de vida cai abaixo do nível normal médio da classe trabalhadora, e exatamente isso faz dela uma base ampla para certos ramos de exploração do capital. É caracterizada pelo máximo do tempo de serviço e mínimo de salário. Sob a rubrica de trabalho domiciliar, já tomamos conhecimento de sua principal configuração. Ela absorve continuamente os redundantes da grande indústria e da agricultura e notadamente também de ramos industriais decadentes, em que o artesanato é vencido pela manufatura e esta última pela produção mecanizada. Seu volume se expande na medida em que, com o volume e a energia da acumulação, avança a “produção da redundância”. Mas ela constitui ao mesmo tempo um elemento auto-reprodutor e auto-perpetuador da classe operária, que tem participação proporcionalmente maior em seu crescimento global do que os demais elementos (MARX, 1984, p. 208). Marx (1984) ainda apresenta o sedimento mais profundo da superpopulação relativa, o lupemproletarido, que representa a parcela da população em que estão inseridos os vagabundos, criminosos, as prostitutas, e entre outros que se encontram em situação de miséria e no pauperismo. Nas palavras do autor, o lupemproletariado consiste em três categorias, sendo a primeira:

[...] os aptos para o trabalho. Basta apenas observar superficialmente a estatística do pauperismo inglês e se constata que sua massa se expande a cada crise e decresce a toda retomada dos negócios. Segundo, órfãos e crianças indigentes. Eles são candidatos ao exército industrial de reserva e, em tempos de grande prosperidade, como, por exemplo, em 1860, são rápida e maciçamente incorporados ao exército ativo de trabalhadores. Terceiro, degredados, maltrapilhos, incapacitados para o trabalho. São notadamente indivíduos que sucumbem devido a sua imobilidade, causada pela divisão do trabalho, aqueles que ultrapassam a idade normal de um trabalhador e finalmente as vítimas da indústria, cujo número cresce com a maquinaria perigosa, minas, fábricas químicas etc., isto é, aleijados, doentes, viúvas etc (MARX, 1984, p. 208-209).

Pimentel (2012) aponta que na proporção em que ocorre a acumulação do capital, simultaneamente tem-se a acumulação da miséria, sendo assim, como contradição que se gesta na dinâmica capitalista, verifica-se que a produção da riqueza ocorre na mesma proporção que a produção da pobreza. Desse modo, a pobreza se manifesta a partir da exploração dos trabalhadores diante do processo de acumulação do capital.

A autora prossegue afirmando que a população apta ou inapta para o trabalho, e principalmente o lupemproletariado, passa a ser objeto de atenção por parte dos filantropos, especialmente os da Igreja Católica que realizavam um trabalho assistencial aos pobres. As ações implicavam em cuidar dos aspectos morais, psicológicos e prevenir as reações da classe trabalhadora frente às condições sociais originadas com o pauperismo. Pimentel (2012) citando Marx (1984) expõe que:

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O pauperismo constitui o asilo para inválido do exército ativo de trabalhadores e o peso morto do exército industrial de reserva. Sua produção está incluída na produção da superpopulação relativa, sua necessidade na necessidade dela, e ambos constituem uma condição de existência da produção capitalista e do desenvolvimento da riqueza. Ele pertence ao faux frais da produção capitalista que, no entanto, o capital sabe transferir em grande parte de si mesmo para os ombros da classe trabalhadora e da pequena classe média (MARX, 1996, p. 209 apud PIMENTEL, 2012, p. 42). Diante dessas constatações, a autora afirma que por meio das condições de vida e laboral que os trabalhadores foram submetidos, ocorre a expansão do pauperismo na Inglaterra, se constituindo como uma forma de apropriação do capital sobre a força de trabalho do proletariado, por intermédio da exploração que visa assegurar a reprodução e acumulação da riqueza. É a partir desse processo que se produz contraditoriamente a acumulação da miséria da classe trabalhadora, assim sendo, a autora expõe que esse é o sistema de causalidade do pauperismo, em termos marxianos.

Engels (2010) afirma que diante do pauperismo que se alastrava na Inglaterra, foi possível perceber que as revoltas dos trabalhadores contra a burguesia caminharam em paralelo com o desenvolvimento da grande indústria. Assim, a primeira forma de revolta assumiu como característica o crime, pois enquanto uma pequena parcela da população usufruía de condições melhores, os trabalhadores encontraram no crime uma forma de protesto contra a situação de miséria que estavam submetidos. Conforme o autor, o aumento da criminalidade na Inglaterra coincide com o crescimento e a expansão industrial.

Ainda segundo o autor, sendo o crime uma forma de protesto rudimentar em que as ações de caráter isolado e individual não resultavam em um efeito almejado, a classe operária passou a se organizar em oposição à burguesia e se revoltaram contra a introdução das máquinas. Dessa forma, no início do desenvolvimento industrial as máquinas foram destruídas, pois acreditavam que eram as responsáveis pela condição de exploração que os trabalhadores foram submetidos, esse movimento ficou conhecido como ludismo.

Engels (2010) afirma, que o ludismo por ser também um movimento isolado e com fortes repressões do Estado, não veio a obter êxito, em vista que as máquinas continuavam a serem introduzidas dentro do processo produtivo. Outro movimento histórico que surge nesse momento é o cartismo como ficou conhecido o movimento que almejava a aprovação da Carta do Povo, o mesmo é considerado o primeiro movimento político dos operários. O autor expõe, a Carta do Povo possuía seis pontos, que são:

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1) Sufrágio universal para todos os homens maiores, mentalmente sadios e não condenados por crime; 2) renovação anual do parlamento; 3) remuneração para os parlamentares, para que indivíduos sem recursos possam exercer mandatos; 4) eleições por voto secreto, para evitar a corrupção e a intimidação pela burguesia; 5) colégios eleitorais iguais, para garantir representações equitativas e 6) supressão da exigência (já agora apenas formal) da posse de propriedades fundiárias no valor de trezentas libras como condição para a elegibilidade – isto é, qualquer eleitor pode torna-se elegível (ENGELS, 2010, p. 262).

Diante dos fatos, o cartismo foi fundamental para impor novas formas de manifestações principalmente nos anos de 1839, período em que eclode uma crise comercial, resultando no aumento do desemprego dos trabalhadores. À vista disso, a classe trabalhadora passou a se organizar em torno dos seus objetivos, e uma das principais conquistas desse movimento histórico, foi a redução da jornada de trabalho para dez horas.

Assim, é possível o/a leitor/a apreender que com o processo de industrialização que culminou no surgimento de uma classe trabalhadora e dos fatores socioeconômicos e políticos que se constitui no modo de produção capitalista, origina-se também formas de organização e luta dos trabalhadores por melhores condições de vida e de trabalho. Esses são os determinantes que fizeram evidenciar a denomina questão social tendo como a sua primeira expressão: o pauperismo.

Posto isto, a questão social está diretamente relacionada à exploração da força de trabalho e da luta da classe trabalhadora pela legitimação de seus direitos e do acesso à riqueza socialmente produzida pela parcela majoritária da população. Portanto, “a Lei Geral da Acumulação Capitalista expressa o grau de exploração do trabalho, tendo como consequência a pobreza que atinge a classe trabalhadora, ao tempo que garante a expansão, acumulação e reprodução do capital” (PIMENTEL, 2012, p. 45).

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2.2 As primeiras ações no trato da pobreza e a origem das políticas sociais

É no âmbito do desenvolvimento industrial, mediante as alterações que ocorrem no processo de produção e consequentemente nas relações de produção, que surge uma nova pobreza, que como já mencionado no item anterior, resultou em um pauperismo profundamente vinculado à base material da produção capitalista. Essa condição de miséria na qual os trabalhadores são submetidos, origina-se com o processo de industrialização crescente, à vista disso, os fatores econômicos, políticos e sociais são os determinantes que propiciaram a emergência do que se intitulou como questão social.

Segundo Castel (2012), o termo questão social surge inicialmente em 1830 para designar a “[...] tomada de consciência das condições de existência das populações que são, ao mesmo tempo, os agentes e as vítimas da Revolução Industrial [...]” (CASTEL, 2012, p. 30). Ainda conforme o autor, é nesse momento de industrialização selvagem que ocorrem conflitos sociais resultantes do agravamento da miséria e das péssimas condições de trabalho, que a classe trabalhadora passou a se organizar e a reivindicar por direitos. Diante disso, tornou-se imprescindível encontrar soluções para o enfrentamento do pauperismo, pois o mesmo configurava-se como uma ameaça à ordem política e social.

De acordo com Castel (2012), os problemas sociais decorrentes da pobreza, já se apresentavam nas sociedades pré-industriais, onde as primeiras práticas assistenciais eram realizadas pelas instituições religiosas e os conventos, dessa maneira, a Igreja se constituía como a principal administradora da caridade. O autor expõe que essas práticas eram sustentadas por esmolas e doações, em vista que no período medieval acreditava-se que a caridade era um meio de se alcançar a redenção.

[...] o pobre pode, não obstante, ser instrumentalizado enquanto meio privilegiado para que o rico pratique a suprema virtude cristã, a caridade, e para permitir-lhe, dessa maneira, que obtenha a sua salvação. “Deus poderia ter feito ricos todos os homens, mas quis que houvesse pobres para que os ricos pudessem, assim, redimir-se de seus pecados” (CASTEL, 2012, p. 64).

Se faz necessário retomar a gênese do capitalismo, para compreender as primeiras respostas do Estado no enfrentamento da pobreza e como essas respostas foram se modificando ao longo da história. Assim, é no século XIV que o cuidado com os pobres que eram de responsabilidade exclusiva da Igreja, sofre uma modificação com a criação de um conjunto de regulações sociais denominadas como as Leis dos Pobres. Desse modo, as regulações sociais passavam a serem assumidas pelo Estado, pois compreendiam que não seria possível a caridade

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cristã conter as desordens que surgem a partir das epidemias que assolaram a Europa, e as transformações da sociedade com a crise do sistema feudal. Cabe frisar, que a crise na sociedade feudal ocasionou o aumento da miséria.

Pereira (2011) evidencia, que a Peste Negra que dizimou aproximadamente um terço da população, veio a provocar uma escassez de mão de obra, e consequentemente no aumento dos salários, assim, ocorreu a necessidade de estabelecer uma Lei dos Trabalhadores que visava regular as relações de trabalho, por meio da fixação dos salários e da proibição que os trabalhadores perambulassem entre as paróquias. Tais regulamentações contra a vagabundagem, consistiu na gênese da assistência social institucional e materializou a relação intrínseca com o trabalho.

Ainda conforme Pereira (2011), essas leis tinham um caráter mais punitivo do que protetivo, entretanto, não se efetivavam da forma almejada, em vista que a “vagabundagem” e a mendicância eram recorrentes, mesmo com essas medidas que condenavam andarilhos a surras, mutilações, queimaduras e até mesmo a morte.

É no reinado de Henrique VIII nos anos de 1530, que os vagabundos inválidos para o trabalho receberam a permissão para mendigar, como é elucidado por Marx (1988) em A Assim chamada Acumulação Primitiva, nesse período, as paróquias receberam a autorização de arrecadar dinheiro para a assistência dos inválidos, em contrapartida, em 1547 o Parlamento Inglês sentenciou que os “vagabundos” válidos além de punidos, fossem subjugados a um regime de escravidão.

Eduardo VI: Um estatuto de seu primeiro ano de governo, 1547, estabelece que, se alguém se recusa a trabalhar, deverá ser condenado a se tornar escravo da pessoa que o denunciou como vadio. O dono deve alimentar seu escravo com pão e água, bebida fraca e refugos de carne, conforme ache conveniente. Tem o direito de força-lo a qualquer trabalho, mesmo o mais repugnante, por meio do açoite e de correntes. Se o escravo se ausentar por 14 dias será condenado à escravidão por toda a vida e deverá ser marcado a ferro na testa ou na face com a letra S; caso fuja pela terceira vez, será executado como traidor do Estado. O dono pode vendê-lo, legá-lo, ou, como escravo, aluga-lo, como qualquer outro bem móvel ou gado. [...] Se se verificar que um vagabundo está vadiando há 3 dias, ele deve ser levado a sua terra natal, marcado com ferro em brasa no peito com a letra V e lá posto para trabalhar na rua ou ser utilizado em outros serviços [...] (MARX, 1988, p. 265).

Pereira (2011) expõe que a imposição do pobre válido ao trabalho e a prestação de serviços assistenciais para aqueles considerados inválidos, foram regulamentados em lei no ano de 1576. Uma das medidas consistiu na criação das Casas dos Pobres (Poor-houses), em que eram acolhidos tanto os capazes como os incapazes para o trabalho, nesses locais os indivíduos eram submetidos ao trabalho como forma de garantir a sua subsistência. Contudo, somente

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houve a consolidação das Leis dos Pobres em 1601, sendo designada como nova Poor Law Act, no 43º ano reinado da rainha Elizabeth I, essa nova legislação tinha como finalidade determinar uma regulação social que distinguia as categorias de pobres a serem atendidos.

Desse modo, Pereira (2011) expõe que os pobres impotentes (idosos, doentes mentais e enfermos crônicos), eram encaminhados para as Casas dos Pobres ou hospícios; os pobres capazes para o trabalho eram conduzidos para as chamadas Workhouses, mas aqueles capazes que se recusavam a trabalhar, “[...] deveriam ser encaminhados para reformatórios ou casas de correção.” (PEREIRA, 2011, p. 64). Segundo a autora, a referida legislação priorizava que a ajuda aos necessitados fosse destinada aos nativos ou os que residiam ao menos três anos no local, esses eram os condicionantes para que o pobre tivesse direito a assistência nesse período.

À vista disso, pautada na pressão das paróquias e dos proprietários fundiários que tencionavam manter o controle dos trabalhadores, foi promulgada a Lei de Residência (Settlement Act) em 1662, que proibia o deslocamento dos trabalhadores para outras paróquias e possibilitava aos magistrados conduzir andarilhos e estrangeiros ao local de origem. Diante dessas constatações, Castel (2012) expõe que,

Essas políticas municipais baseiam-se em alguns princípios simples: exclusão dos estrangeiros, proibição estrita da mendicância, recenseamento e classificação dos necessitados, desdobramentos de auxílios diferenciados em correspondência com as diversas categorias de beneficiários. A exclusão dos estrangeiros, dos andarilhos, dos forasteiros, associada à interdição da mendicância, permite tentar um atendimento sistemático da indigência domiciliada: cuidado e ajuda aos doentes e inválidos, mas também o ensino de um ofício às crianças pobres [...] (CASTEL, 2012, p. 73). Entretanto, as dificuldades em concretizar a Lei dos Pobres, de 1601, e a de 1662, impediu o atendimento institucional em categorias como foi delimitado anteriormente, assim, o atendimento das três espécies de pobre: o impotente, o sem trabalho e o indolente, passou a ser somente nas Workhouses. Pereira (2011) explicita que as ações assistenciais aos pobres merecedores e aos não merecedores se unificou em uma só resposta que tencionava uma exploração “[...] mercantil do trabalho. Esta foi uma das grandes marcas do funcionamento das Workhouses elizabetanas em relação às dos anteriores reinados [...]” (PEREIRA, 2011, p. 66).

É na segunda metade do século XVIII, com o intenso processo industrial que transformou as bases econômicas e sociais, teve como resultado a desestruturação do sistema de proteção social presente ao longo das sociedades pré-industriais. A proteção social passou a demandar novas estratégias de enfrentamento da pobreza, em vista que nesse período, em decorrência da escassez de alimentos que resultavam no aumento dos preços dos produtos, se

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fez necessário que o atendimento integrasse não somente os impotentes e desempregados, como também os empregados.

Assim, foram criados subsídios que complementassem os salários, dentre os quais, se destacou o Sistema Speenhamland de 1795, que apesar de se restringir a uma ajuda local, foi o primeiro a impulsionar a ideia de direito do trabalhador a proteção social. Conforme o que Pereira (2011) expõe, a partir da Lei Speenhamland, as autoridades passaram a custear o salário dos trabalhadores correspondente ao preço do pão e do tamanho das famílias. A referida lei foi aderida principalmente nos distritos agrícolas e se constituiu como uma assistência externa, diferentemente das práticas geridas nas Workhouses que se caracterizavam por serem exercidas dentro dos muros institucionais. Ainda segundo a autora,

[...] o prestígio da Speenhamland Law assentou-se basicamente em dois fatos relacionados às mudanças verificadas nos anos de 1790. O primeiro é que houve, efetivamente, uma genuína preocupação com todos aqueles que, trabalhando ou não, viviam em estado de pobreza crítica, rompendo assim a estreita relação entre assistência e trabalho assalariado. E isso se deu não por motivos humanitários ou benevolentes, mas pelo forte receio de que as massas empobrecidas se rebelassem, como já vinha acontecendo em outras partes da Europa. Afinal, neste particular, a Revolução Francesa tornou-se uma referência emblemática. O segundo aspecto é que, como diz Fraser, a política social daquela época ainda não tinha contra si elaborações teóricas ou filosóficas de peso. O assalto intelectual mais sofisticado contra a política social só ocorreu a partir dos obstáculos que a Speenhamland impôs as forças livres do mercado de trabalho requerido pelo irreversível sistema industrial. Por isso, a geração de trabalhadores, desempregados e de pessoas incapazes para trabalhar, naquela época, não via na assistência pública externa uma degradação e nem se sentia estigmatizada por merecê-la. É como se já estivesse embutido na consciência das massas daquela época a ideia de direito à assistência, fato que vai ser veementemente negado e desqualificado pela proposta de emenda da Speenhamland Law, nos anos de 1830 [...] (PEREIRA, 2011, p. 69).

Dessa forma, é possível o/a leitor/a apreender que as Legislações regulamentadas nas sociedades pré-industriais, instaurava “[...] um código coercitivo do trabalho” (CASTEL, 2012, p. 176, grifos do autor), que demonstrava a natureza repressiva e punitiva da Lei dos Pobres. Segundo Castel (2012), ao contrário de proteger, a referida lei constituía em seus fundamentos, a obrigatoriedade do trabalho para todos que estivessem aptos; a regulação salarial em que o trabalhador não possuía o direito de negociar a sua remuneração; e a proibição da mendicância dos pobres válidos, obrigando-os a aceitarem os trabalhos oferecidos, ou serem punidos a um regime de escravidão.

Pereira (2011) ressalta que a divisão dessas Legislações estabeleciam: os pobres merecedores (aqueles que eram incapazes de trabalhar e os nobres empobrecidos), recebiam auxílios mínimos que se particularizavam por serem restritivos e seletivos, respaldados no caráter moral e cristão de ajuda, isto é, não estavam pautados na perspectiva do direito. Já os

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pobres não merecedores eram aqueles que possuíam a capacidade de exercer uma atividade laborativa, como também os andarilhos e estrangeiros, em vista que era proibido o deslocamento dos trabalhadores entre paróquias.

A autora supracitada ainda expõe que diferentemente das antigas Lei dos Pobres, a Lei de Speenhamland possuía um caráter menos repressor, considerando que assegurava que empregados e desempregados recebessem um auxílio assistencial, a referida Lei de 1795, proporcionou que os trabalhadores pudessem negociar minimamente o valor de sua força de trabalho. Entretanto, é a partir da ascensão do liberalismo entre os séculos XVIII e XIX, que promoveu transformações tanto no âmbito da produção, como também ideológico, com grande influência de reverendos como Thomas Malthus e de economistas como David Ricardo, que o pensamento liberal se dissemina, suscitando na alteração da concepção tradicional acerca da política social.

De acordo com Pereira (2011), Malthus7 responsabilizava as antigas leis pelos casamentos precoces entre os pobres, pois ocasionavam em um aumento acentuado da população, o reverendo ainda explicitava em sua obra que esses auxílios diminuíam a oferta de força de trabalho, em vista que a população não tencionava a procurar empregos.

Pereira (2011) expõe que respaldado no pensamento Malthusiano e no conceito de individualismo de Adam Smith, o economista clássico David Ricardo apresentou um programa econômico liberal que rejeitava o intervencionismo estatal, orientando-se pelo princípio da auto-ajuda. A autora ainda expõe que Ricardo acreditava que as ajudas sociais, principalmente a Speenhamland, retirava os recursos financeiros que poderiam possibilitar em um aumento dos empregos e na valorização do trabalho. Fundamentado nas concepções dos liberais, as Leis dos Pobres tratavam-se de um protecionismo social prejudicial a sociedade, sendo necessário uma anulação urgente das mesmas.

Dessa maneira, um relatório que começou a ser produzido em 1832 pela Comissão Real, passou a examinar a administração das Leis dos Pobres. Pereira (2011) expõe que o referido Relatório transformou-se em lei em 14 de agosto de 1834, e ficou conhecido como a Nova Lei dos Pobres (a Poor Amendment Act), se constituindo como uma mudança na forma de pensar a política social, substituindo assim, a Lei Speenhamland. Behring e Boschetti (2011),

7 A teoria Malthusiana afirmava “[...] que a produção de alimentos cresceria em progressão aritmética de razão 1 (1, 2, 3, 4, 5 ...), enquanto a população cresceria em progressão geométrica: 1, 2, 4, 16 [...]” (PEREIRA, 2011, p. 70-71). Ou seja, com base na teoria de Malthus, o crescimento populacional era superior ao da produção de alimentos, desse modo, o aumento demográfico deveria ser contido mediante a abstinência sexual ou retardamento dos matrimônios, em vista que esse crescimento da população seria o responsável pela fome, as epidemias, e os conflitos existentes na sociedade.

Referências

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