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21 ANOS DA EMB PA DISCURSO

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ANOS

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MB

PA

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José Roberto Arruda

21 ANOS

DAEMBRAPA

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(4)

Desde sua criação, há 21 anos, a Embrapa vem dando notável contribuição ao País, não apenas nos terrenos cienúfico e tecnológico,

mas também em economia de divisas para o Brasil.

Nessas duas décadas, os técnicos e cientistas da empresa - que reúne em seus quadros funcionais 800 PhD, com mestrado e doutora-do, e 1.200 profissionais com mestrado - criaram 8 mil inovações tec-nológicas na área agrícola. Essa produção de saber alçou a Embrapa ao primeiro lugar no

ranJcing

de entidades congêneres dos países em desenvolvimento. Estima-se que os beneficios diretos agregados

à

agricultura brasileira pela empresa somem, anualmente, mais de I bi-lhão de dólares, cifra que apenas realça a sua importância para a eco-nomia do País. Os beneficios não mensuráveis proporcionados pelas pesquisas da Embrapa são, igualIrente, da maior relevância - citando-se, entre outros, a melhoria da qualidade do solo, a proteção ao trabalhador pela redução do uso de agrotóxicos, a preservação do meio ambiente, o incremento de conhecimentos sobre o potencial do solo.

O reconhecimento desse trabalho levou-me a fazer pronuncia-mento da tribuna do Senado Federal, em junho último, a propósito dos 21 anos de criação da Embrapa. Trata-se do reconhecimento do relevante papel que a empresa vem cumprindo no processo de desen-volvimento brasileiro. Papel que ganha ainda maior destaque no mo-mento em que se discute a reengenharia do Estado brasileiro - a partir da qual ele deverá voltar-se para o incentivo à produção do saber. De fato, não há pais que tenha ultrapassado as barreiras do subdesenvol-vimento e construído um modelo de justiça social e econômica sem ter investido prioritariamente em educação e em ciência e tecnologia.

Este foi o terna central daquele pronunciamento, que espero pos-sa servir como contribuição para o debate em tomo da construção de urna sociedade mais justa e solidária e para o fortalecimento da Em-brapa. instituição científica que, a par de ser reconhecida internacio-nalmente como modelar, ocupa lugar insubstituível na promoção do desenvolvimento sustentável da agricultura brasileira.

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Sr. Presidente, o que me traz à tribuna é o fato de a Embra-palCerrado ter completado, nessa semana, vinte e um anos de trabalho no Centro-Oeste brasileiro. E a Embrapa através do CPAC - Centro de Pesquisa Agropecuária dos Cerrados -, nesses 21 anos, é a verda-de, mudou o mapa econômico e produtivo do Centro-Oeste brasileiro.

Os cerrados no Brasil ocupam 207 milhões de hectares, basica-mente em Goiás, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, Tocantins e Distrito Federal. E atualmente o Cerrado brasileiro pro-duz 41 % de toda a soja do território nacional; 28% da produção de café, o que é uma grande novidade; 23% da produção de milho; 20% da produção de feijão; 20% da produção de algodão; 19% da produ-ção de arroz; 10% da produprodu-ção de mandioca; 10% da produprodu-ção de cana-de-açúcar e 40% do rebanho bovino nacional.

Esse cerrado, que há 30 anos era absolutamente improdutivo, passou a ser ocupado produtivamente, depois da década de 50, com a construção de Brasilia, período em que nós, brasileiros, partimos com a construção de estradas, com a construção das usinas hidrelétricas, principalmente Três Marias, e com a construção de Brasilia a con-quistar o nosso próprio território.

Não é demais afirmar, uma vez mais, que, antes de Brasilia, an-tes das estradas e das usinas hidrelétricas, o Brasil era um país tipica-mente litorâneo em nível demográfico e em nível econômico.

Passamos 450 anos ocupando uma estreita faixa de terra no litoral brasileiro, de norte a sul, até que essas decisões macroeconômicas pudes-sem

facilitar

aos brasileiros a conquista do nosso próprio território.

Mas o mais importante foi o que ocorreu nesses últimos vinte e um anos. Em 1970, apenas

para

ter-se uma idéia, a região Centro-Oeste bra-sileira,

quer

dizer, os cerrados brasileiros, produziu 5 milhões de

tonela-das

de

grãos em 5 milhões

de hectares.

Em 1990,

produziram

20 milhões

de toneladas de grãos em 10 milhões de

hectares.

Isso significa o quádru-plo da produção e o dobro da produtividade, vez que multiplicou-se por quatro a produção de grãos aqui no cerrado, aurnentando-se a área cultivada apenas em duas vezes.

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potencial para a produção

é de 136 milhões de hectares. onde podem

ser produzidos 350 milhões de toneladas de alimentos.

Por essa razão. Sr. Presidente. Srs. Senadores. os especialistas.

os estudiosos apontam o cerrado brasileiro como a última área

agri-cultável do mundo. com grandes condições de produtividade. de uma

expansão demográfica racional. de uso do solo não predatório. com

preservação do meio ambiente. E

é

por isso que todos nós. que

conhe-cemos a região Centro-Oeste. temos que. em primeiro lugar.

parabe-nizar a Embrapa, parabeparabe-nizar seus técnicos. pesquisadores.

funcioná-rios e dirigentes. particulannente os do CP AC. pelo trabalho que

de-senvolveram nesses vinte e um anos.

Na verdade. somente com a tecnologia disponível. desenvolvida

pela Embrapa e suas associadas estaduais. seria possível aumentar a

produtividade da área, sem aumento da área explorada, e elevar a

pro-dução para 100 milhões de toneladas de alimentos.

Ora,

se podemos. sem aumento da área agricultável. passar a

produzir 100 milhões de toneladas de alimentos e com o aumento

dessa área chegar a trezentos e cinqüenta milhões de toneladas de

ali-mentos.

é claro que esses números. por si só. demonstram o grande

potencial do Centro-Oeste brasileiro.

Em decorrência das pesquisas desenvolvidas pela Embrapa, com

tecnologia inteiramente nacional. com técnicos brasileiros. foi

possí-vel- e é possípossí-vel- a correção e adubação do solo. o controle

integra-do de pragas e integra-doenças. a utilização de implementos para correto

aproveitamento das propriedades fIsicas do solo. o desenvolvimento

de variedades de culturas adaptadas

à

região. seqüências de cultivos e

várias outras pesquisas. modificando intrinsecamente a qualidade dos

produtos agricultáveis no cerrado brasileiro.

Dentre as tecnologias produzidas pela Embrapa, penso ser

im-portante destacar a utilizada para o cultivo da soja. Há vinte e um

anos dizia-se que não era possível cultivar soja no cerrado brasileiro.

Hoje todos sabem que 41

%

da produção nacional de soja se dá

exata-mente no cerrado.

Há mais ainda: o trigo. as gramíneas forrageiras. os cultivares de

6

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fruteiras, a mandioca, o eucalipto, o café - cuja produção, até há

al-guns anos, se julgava absolutamente impossível nesta região

Centro-Oeste -, o pínus, as leguminosas adequadas para a suplementação

protéica de animais criados em pastagens, o manejo e o controle de

plantas invasoras, principalmente da cultura de soja. Tudo isso só foi

possível porque, nesses 21 anos, os diversos governos, o Estado

bra-sileiro - porque os governos passam, mas o Estado

é

uma instituição

permanente - teve a coragem de investir em ciência e tecnologia,

es-pecificamente na Embrapa. O cerrado, talvez como a última grande

área do mundo ainda pouco utilizada mas com grande potencial para

a produção agropecuária, merece, por esses números e pela tecnologia

já disponível na Embrapa, a atenção de todos nós que queremos

pen-Sar o futuro deste País.

Eu gostaria de aproveitar, Sr. Presidente, Srs. Senadores, para

le-vantar uma reflexão que me parece extremamente importante. O

Con-gresso Nacional e o País estão discutindo a reforma do Estado

brasi-leiro. Independentemente

das

naturais e legítimas divergências que

te-nhamos sobre o papel do Estado na sociedade brasileira, existem

al-guns pontos consensuais. E vou citar apenas dois: parece-me ser

con-senso de

todas

as tendências políticas e ideológicas que o Estado

bra-sileiro, repensado, reestruturado, com o menor custo, deva cuidar,

prioritariamente,

das

áreas de educação e de ciência e tecnologia. Não

há país que tenha passado as barreiras do subdesenvolvimento, que

tenha buscado o modelo de desenvolvimento econômico equilibrado

e socialmente justo, sem ter investido prioritariamente em educação e

em ciência e tecnologia.

A reforma do Estado, em discussão atualmente na Câmara dos

Deputados, já traz algumas variáveis que permitem ao Estado

brasi-leiro, nos seus

três

níveis de atuação, federal, estadual e municipal,

cuidar prioritariamente dessas duas áreas. Entretanto, penso que esta

Casa, o Senado Federal, vai ter que discutir objetivamente pontos que

podem gerar maior autonomia das instituições de ensino,

fundamen-talmente das instituições de ensino superior, e das instituições de

pes-quisa científica e tecnológica.

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anos depois de um trabalho absolutamente aplaudido por todos os que conhecem o setor agropecuário brasileiro, depois de ter, por intermé-dio das suas pesquisas e da disseminação delas em toda a malha agro-pecuária do Centro-Oeste, conseguido mudar o mapa da produção do centro do Brasil, ainda sobreviva com as amarras de um Estado buro-crático, administrativamente centralizador, que não dá aos centros de pesquisa, como a Embrapa e o CPAC, condições mínimas de parce-ria, de busca de capital privado para suas pesquisas e internacionali-zação de recursos nas áreas que lhe são prioritárias.

A reforma do Estado, a par de discordâncias naturais que vamos ter no processo político de discussão das matérias, deve merecer de todos nós uma atenção especial para este tópico, para este ponto, que é o da autonomia das instituições universitárias e das instituições de pesquisa na área de ciência e tecnologia. Penso, Sr. Presidente, Srs. Senadores, que não basta a discussão aqui da lei de autonomia univer-sitária. Para descentralizar o poder de decisão ao nível das universida-des brasileiras e para que essa autonomia se estenda às instituições de pesquisas, além da lei de autonomia universitária e de suas comple-mentações, teremos que discutir, dentro dessa nova estrutura de Esta-do, condições mais flexíveis para que essas instituições tenham efeti-vamente condições de aumentar a produtividade do País, de contribuir efetivamente para a construção de um País mais justo e menos desi-gual.

o

Sr. Lauro Campos - V. Ex! me permite um aparte?

O SR. JOSÉ ROBERTO ARRUDA - Concedo o aparte ao no-bre Senador Lauro Campos, que passou grande parte de sua vida nas universidades, e que melhor do que eu, portanto, conhece o problema da falta de autonomia das instituições de ensino e pesquisa no Brasil.

O Sr. Lauro Campos - Agradeço a oportunidade que V. Ex. me

oferece. Realmente, passei a minha vida toda na universidade. Quan-do nasci, meu pai era professor catedrático da Universidade de Minas Gerais, profissão que exerceu durante toda a sua vida e que eu segui. Por isso mesmo eu sinto, mais profundamente, talvez, que a maior

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parte das pessoas, o massacre, o desmantelamento, o empobrecimento a que as universidades, no Brasil, estão sendo submetidas. A nossa querida Universidade de BrasOia não tem dinheiro para pagar nem água nem luz. Em outras universidades estamos vendo acontecer tam-bém o corte desses suprimentos, desses insumos fundamentais, pois elas não têm recursos sequer para isso. Quanto aos professores

uni-versitários, cito o meu exemplo. Quando voltei da Inglaterra, em 1976, o meu ordenado na Universidade de Brasflia, com menos tem-po de serviço do que tinha quando me atem-posentei, obviamente, corres-pondia exatamente ao preço de um Corcel zero quilÔmetro. Eu tinha entrado num consórcio e, quando voltei da Inglaterra - comentei até com minha mulher -, observei a coincidência. Hoje, um professor não ganha um pneu por mês, quer dizer, 1/4 de um carro. E esse processo ocorreu não apenas na universidade, mas na saúde pública e em todo o ensino brasileiro, obrigando as pessoas a procurarem, obviamente, planos de saúde privados, educação privada e, agora, com esse pro-cesso que está sendo lançàdo contra a real autonomia fmanceira da pesquisa e do ensino no Brasil, vamos ter a necessidade de pagar o nosso ensino superior. De modo que a cada momento que o Governo quer livrar-se da crise - que o Governo parece não compreender que 6 muito mais profunda do que considera -, ele quer resolver o problema criando imposto para a saúde, pedágio para tapar os buracos das estra-das, pagamento das universidades públicas e até mesmo privatização da saúde atrav6s dos planos de saúde, que sabemos como estão

mal-tratando a população. Diante disso tudo, vemos que a renda disponí-vel do brasileiro diminui. O brasileiro não tinha que pagar a educa-ção, a saúde pública e o pedágio. Assim, a renda disponível para ou-tros fins - para o arroz, para o feijão, para o aluguel - diminui. O Go-verno resolve o seu problema: aumenta a carga tributária - vem

o seu projeto - e, obviamente, com isso resolve o problema da saúde. Mas aumenta a pobreza, cria o problema da educação cara, inacessível, passa o problema

para

as costas da população, que

tanto tempo vem sendo sugada através desse processo de exploração e de crise, conjuga-das, neste momento tão desagradável. Agradeço a V.

Ex. a

oportunidade

(11)

que não será neste aparte que poderei enunciar. Eu precisaria de mais tempo para poder apresentar a minha concepção a respeito daquilo que o Estado. necessariamente. terá que ser. O redesenho. a redefini-ção do Estado e de suas

funções

não depende de

cabeças

individuais.

De-pende de wna estrutura. de um processo histórico em relação ao qual as

ca-beças

individuais. no meu ponto de

vista,

têm muito pouca

ação.

O SR. JOSÉ ROBERTO ARRUDA - Agradeço o aparte de V. Ex!

e gostaria de registrar wna concordância e wna discordância.

A discordância algo que acho ser saudável e democrático -parte exatamente de um ponto de concordância. Penso que estamos de acordo - e estamos - sobre o fato de que há trinta anos o Brasil tinha uma boa escola pública. o que hoje não tem.

Eu. por exemplo. sou filho de uma família humilde. Meu pai era ferroviário. mas todos os cinco filhos estudaram, porque na minha ci-dade era possível estudar em grupo escolar. em colégio estadual ou federal. Os filhos dos pobres se formavam. Hoje. isso não acontece. Os meus filhos estão em escolas particulares. Na verdade, o ensino público no Brasil caiu de padrão nos últimos 20. 30 anos.

Na área da saúde pública, na minha cidade havia o famoso Sam-du - que acho que existia no Brasil inteiro. Havia quase que um mé-dico de bairro. que atendia cada casa. Hoje, partimos para o roteiro dos grandes hospitais. Mas. além de termos 1.550 hospitais inconclu-sos no Brasil. o nível da saúde pública é infinitamente pior do que 20, 30 anos atrás. Ora, caiu o nível da educação e da saúde públicas, mas o Estado brasileiro agigantou-se, alimentado por verbas públicas que pareciam intermináveis no Pais da inflação. porque as verbas de im-postos e de repasses eram sempre aplicadas nos

overs

.

Embora a in-flação corroesse o bolso de quem vivia de salário, a situação era até boa para as contas públicas, porque elas ficavam sempre maquiadas.

Penso que é momento de repensar mesmo o Estado, de fazer com que o Estado volte suas atenções para as missões que lhe são precípuas e fundamentais, e que toda a sociedade deseja que ele exer-ça com mais eficiência e eficácia, e, talvez, de atrair o capital privado para os setores produtivos da economia, fazendo o Estado o papel de

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regulador - e não sendo mais o dono do Grande Hotel, de Araxá, como é hoje, ou de supermercados, em plena Capital do País, como acontece hoje.

Penso que essa discussão, que é extremamente importante, não só o Senador Lauro Campos como todos nós vamos ter que fazer, para encontrarmos um novo modelo de Estado.

Mas eu queria registrar uma concordância com o Senador e Pro-fessor Lauro Campos. Alguma coisa está errada nas universidades brasileiras e nas instituições de ensino e pesquisa. Por que o professor universitário, segundo depoimento do Professor Lauro Campos, dez ou quinze anos atrás recebia um salário infinitamente maior do que recebe hoje, e por que as universidades brasileiras têm um custo estra-tosférico de US$15 mil por aluno/ano, que é alto em qualquer País do mundo? Antes, os professores universitários ganhavam mais e as uni-versidades custavam menos para o Estado.

Ora. onde está o erro? Existem vários. Não vamos aqui, obvia-mente, tentar dar uma receita de bolo para um assunto extremamente complexo, mas há alguns pontos que me parecem ser óbvios. Primei-ro, não dá para, neste País, o professor universitário se aposentar com vinte e cinco anos de trabalho. Da mesma maneira que não dá para o Deputado e o Senador se aposentarem com oito anos de mandato. São coisas óbvias, que temos que ter coragem de deflOir. Eu defendo isso como professor universitário que fui. E não estou falando contra a mi-nha categoria, ou contra os professores universitários. Ao contrário, num País onde a educação é um bem tão raro, não é possível que pro-fessores universitários, que colegas de tunna meus - e eu me conside-ro ainda relativamente jovem -, Senador Lauconside-ro Campos, que pessoas que se formaram comigo na Escola de Engenharia de Itajubá e que foram dar aula estejam aposentados aos quarenta e dois anos de idade -porque, para totalizar 25 anos, contam também o período de

monito-na.

Falo e cito nomes. Não é possível que os professores Paulo Cé-sar Guimarães e José Márcio, por exemplo, meus colegas de turma, que têm muito a dar a este País, tenham se aposentado aos quarenta e dois anos de idade.

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Em Brasília, há centenas, há milhares de professores universitá-rios que se aposentaram com 25 anos de trabalho, contando, para isso, o período de monitoria.

Agora, no setor elétrico brasileiro, uma série de aposentadorias vão acontecer, porque quem trabalha com energia elétrica conta o tempo de periculosidade, e, neste caso, a aposentadoria é mais preco-ce ainda.

Num País tão carente de educação, se nós aposentamos os pro-fessores universitários aos quarenta ou quarenta e dois anos de idade, o que fazem eles? Via de regra, voltam para as universidades. Eles, que já estão ganhando um salário abaixo da média, indigno até, apo-sentam-se e acumulam a aposentadoria com um novo salário de pro-fessor.

Ora, não seria mais lógico se tivéssemos a coragem de imple-mentar uma aposentadoria digna, mas no momento certo? Aí sim., ha-veria um salário decente.

Quero fazer uma concordância explícita - o Senador Lauro Campos me dá essa chance. É uma grande bobagem imaginar que o ensino universitário pago resolveria o problema das universidades brasileiras. O Senador Darcy Ribeiro demonstrou aqui que a eventual contribuição dos alunos no pagamento da universidade não seria sufi-ciente para custear 2 ou 3% das despesas das universidades brasilei-ras.

Porém, não podemos continuar pensando que, se enviássemos, teoricamente, todos os universitários brasileiros das universidades pú-blicas para as universidades americanas, o custo ficaria mais barato para o Brasil. Algo está errado!

O Sr. Josaphat Marinho - V. Ex! me permite um aparte?

O SR. JOSÉ ROBERTO ARRUDA - Com o maior prazer,

Se-nadorJosaphat~arinho.

O Sr. Josaphat Marinho - Concordo, em boa parte, com as ob-servações que faz. ~as o que me causa estranheza

é

que, sendo com-plexo o problema, não se cuide da reforma universitária no seu

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junto. As medidas propostas estão sendo isoladas, algumas até úteis, mas não representam a coordenação das soluções devidas. Por que não se cuida da reforma universitária no seu conjunto? Que as univer-sidades estão em crise é fora de dúvida, absolutamente fora de dúvi-da, em todo o País. Por que não se cuida da reforma no seu conjunto?

o

SR. JOSÉ ROBERTO ARRUDA - Senador Josaphat Mari-nho, estou absolutamente de acordo com V. Ex!. Quero inclusive di-zer, desde logo, que estou preparando uma proposta de lei de autono-mia universitária para dialogar com alguns reitores de universidades, com a UNE, e com algumas instituições que recolhem o sentimento médio dos que pensam na Universidade brasileira.

Estou de acordo que não adianta fazer remendos e atacar o pro-blema das universidades brasileiras por uma ação isolada, ainda que correta, porque não estaríamos corrigindo o problema como um todo. E parte desse problema - estou aqui tendo a coragem de dizer - passa pela reforma da Previdência Social, passa por essa existência nefasta de castas privilegiadas no sistema de aposentadoria.

Em um País como o nosso, em um País cuja maioria dos habi-tantes é pobre, carente de estudos, não

pode

haver categorias profis-sionais com privilégios no sistema de aposentadoria. Creio que deve-mos ter coragem para alterar essa posição, ainda que politicamente o problema nos traga alguns desgastes. Porém, concordo com V. Ex! no sentido de que a reforma tem que ser muito mais ampla.

O a,ssunto que nos trouxe a esse tema, e volto a ele porque é cor-relato,

é

a questão

das

instituições de pesquisa e desenvolvimento. Tenho a convicção de que qualquer que seja o modelo de um Estado brasileiro, que nasça dessa reforma que estamos discutindo, esse Esta-do terá que ser reestruturaEsta-do para cuidar melhor de duas áreas: educa-ção e ciência e tecnologia. Se não conseguirmos fazer o Estado brasi-leiro cuidar, de forma mais eficaz, da educação e da ciência e tecnolo-gia, todos os outros resultados serão falsos.

Na última quarta-feira, visitei a EMBRAPA/CERRADO. Fui ao CP AC e senti,

in loco,

o que o jornalista Márcio Moreira Alves disse

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em antológico discurso: Contra a tristeza, tome Dorival Caymmi; e, contra a desesperança, visite o CP AC.

A Embrapa, a alguns quilômetros do Congresso Nacional, tem uma centena de técnicos e pesquisadores. Um detalhe importante: tem hoje, no Brasil inteiro, 2.200 pesquisadores com mestrado e doutora-do. Esse número é significativo em qualquer país do mundoutora-do. É poten-cial, é riqueza, porque traduz inteligência. Porém, Sr. Presidente, Srs. Senadores, esses profissionais estão sendo mal utilizados ou, pelo me-nos, subutilizados.

Esses pesquisadores, há 21 anos, chegaram ao cerrado e fundaram o CP AC. Não sou técnico em agricultura, sou muito urbano -não tenho um metro quadrado de terra e, portanto, -não entendo do as-sunto -, mas sei que há 21 anos era considerado maluco o cidadão que se aventurasse a produzir algo no cerrado.

Contam uma história, Senador Josaphat Marinho - V. Ex! é tes-temunha dessa época -, que Juscelino Kubitschek, na época da cons-trução de Brasllia, trouxe um grupo de japoneses para conhecer essa região, onde ganhariam terras para fazer um cinturão verde em tomo da cidade. Depois que os japoneses visitaram a região, foram recebi-dos no Palácio pelo Presidente. O mais velho, segundo a tradição oriental, foi escalado para falar em nome do grupo. Com muita ceri-mônia, curvando-se à frente do Presidente, disse: Presidente, terra é muito ruim! E o Presidente respondeu: Mas, se a terra fosse boa, não precisava de japonês!

Se, há 21 anos, a agricultura era impossível no cerrado, hoje são produzidos 41 % da soja brasileira, com índices de produtividade altís-simos. O cerrado brasileiro tem estações climáticas perfeitamente de-fmidas, tem água abundante, baixa densidade demográfica, tem estra-das prontas, inclusive a ferrovia que liga Brasllia ao Porto de Vitória. Mesmo assim. o cerrado brasileiro ainda é basicamente inexplorado.

o

Sr. José Fogaça -

Permite-me V. Ex! um aparte?

O SR. JOSÉ ROBERTO ARRUDA - Com o maior prazer, Se-nador José Fogaça.

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o

Sr. José Fogaça - O meu aparte refere-se exatamente ao ponto que V. Ex! está abordando, que é o problema de recursos para uma instituição capital do nosso desenvolvimento: a Embrapa. Considero a Embrapa tão importante, do ponto de vista do interesse estratégico nacional, que, na condição de Relator da Lei de Diretrizes Orçamen-tárias, para 1996, fiz uma proposta na Comissão de Orçamento. Essa proposta, de um lado, foi motivo de muito espanto; de outro, causou reações até mesmo iradas por parte de alguns membros da Comissão. A Embrapa tem problemas. Por exemplo, V. Ex! faz referência a pro-fissionais detentores de mestrado e doutorado que ali se encontram, inclusive com formação no exterior; portanto, possuem o capital hu-mano do conhecimento, que é o instrumento mais importante dessa época para a formação de riqueza. Mas os salários desses mestres e doutores, desses pesquisadores científicos são baixíssimos, do ponto de vista do mercado; salários em tomo de R$l.600,OO, R$1.800,OO, R$2.200,OO, embora. se considerarmos a média salarial da sociedade brasileira, ainda seja um salário razoável. Mas, evidentemente, esse desequilíbrio determina uma fuga. um esvaziamento de qualidade dos serviços da Embrapa. Como é possível manter técnicos, investigado-res, pesquisadores e cientistas com esses níveis salariais? Fiz, então, uma proposta para que houvesse uma mudança radical na cultura or-çamentária do Brasil, que é basicamente aprioristica, ou seja, acha-mos que o Orçamento só pode ser controlado antes de ser executado.

Dessa forma. todas as amarras, todas as restrições, todos os instru-mentos de controle do Orçamento são aprioristicos, determinam rigi-damente programas, metas e fazem c')m que cada sigla orçamentária seja definida rigorosamente. Há então um estreitamento, uma camisa-de-força. um engessamento da atividade administrativa. que vem jus-tamente dessa prisão orçamentária. O administrador não pode jogar com os recursos competitivamente ou eficientemente para ter ganhos na área em que atua.

É

o caso da Embrapa. Como estão rigidamente estabelecidos no Orçamento, não há como melhorar os salários dos seus investigadores e pesquisadores científicos. Fiz uma proposta, que me pareceu no momento ousada, mas que, na verdade, reproduzia modelos usados em outros lugares do mundo, que era conceder uma

(17)

verba global à Embrapa. para que ela tivesse o poder de administrá-Ia e a usasse entre custeio. salários. investimentos. pesquisa. de modo a ter maior eficácia e maior eficiência do ponto de vista da qualidade dos serviços prestados. Foi uma verdadeira bomba. Os Srs. Membros da Comissão entenderam que aquilo era nada mais nada menos do que um descontrole e que levaria a um desbaratamento dos recursos.

que aquilo levaria a uma impossibilidade de controle de fiscalização.

É

o contrário. A experiência mundial hoje mostra que. quando se dá um determinado valor. uma verba fixa a uma instituição como a Em-brapa, e condições de gerir essa verba segundo a melhor eficiência. segundo a maior produtividade. a maior competitividade e a maior qualidade dos serviços que presta. o resultado é sempre positivo. Mas isso nós não conhecemos no Brasil. Para nós. Orçamento a posteriori não existe. Ninguém se volta sobre o Orçamento executado no ano anterior ou que está sendo executado. Essa é uma cultura absoluta-mente desconhecida do Parlamento brasileiro. Não sabemos fiscalizar ou controlar o que foi gasto e o que foi feito. Só se trata de impor amarras ao que vai ser feito. e o resultado me parece que é uma restri-ção e um engessamento muito grande da capacidade de jogar com elementos. com dados. com recursos. para obter melhor qualidade.

Naquela época. propus que a Embrapa tivesse esse conjunto de recur-sos que pudesse administrar. para poder melhorar - quem sabe? - sa-lários, quando tivesse que fazer isso para poder competir com a de-manda externa que existe desses cientistas. Mas o resultado foi uma derrota. ou seja. eu fui, naquele momento, derrotado com relação

à

aprovação da minha proposição - a Comissão de Orçamento não acei-tou a minha tese. Quero dizer-lhe, Senador José Roberto Arruda. que essa preocupação que traz é importante e tão importante que nós, den-tro daqueles limites escassos que o Orçamento tem, procuramos revo-lucioná-lo, mas não conseguimos. Só desejava registrar o quanto nós sublinhamos, o quanto nós enfatizamos a import!ncia de uma institui-ção pública como a Embrapa no Brasil. Há outra coisa que talvez não mude no Brasil, ou seja. a velhice das idéias. Millor Fernandes fez uma afumação que é dura. mas verdadeira: Todas as ideologias mais velhas, mais antigas, mais superadas,

todas

as teses mais envelhecidas

(18)

no mundo se aposentam e vêm viver os seus últimos dias no Brasil. Nós somos, aqui, o repositório das idéias aposentadas no mundo. Eu acho que é isso que acontece em relação ao nosso Orçamento. Obri-gado a V. Ex!

O SR. JOSÉ ROBERTO ARRUDA - Agradeço a V. Ex! pelo seu aparte, que contribui muito para esse raciocínio. Eu me atreveria a dizer, Senador Fogaça, que o grande caminho para que se consiga isso é exatamente através da lei de autonomia universitária e de auto-nomia das instituições de ensino e pesquisa. Dou um exemplo só a respeito. O Reitor Todorov, que o Prof. Lauro Campos conhece bem,

da Universidade de Brasília, veio ao Congresso, no ano passado, com um problema, um ridículo problema: a Universidade de Brasília tinha no orçamento R$260 milhões para pagar débitos trabalhistas. Mas com o cuidado que ele, Reitor, teve, esses R$260 milhões reduziram-se e houve um saldo de R$90 milhões, porque conseguiu fazer acordos abaixo do que era imaginado. Só que, em outra rubrica orçamentária, fal-tavam-lhe R$5 milhões para pagar contas de luz,

água

e os serviços de segurança e limpeza da Universidade. E ele

desejava pegar,

desses

R$90 milhões que ia devolver para o Tesouro, R$5 milhões, para que a Universidade não fechasse as portas no fmal do ano. Quer dizer, ele, Rei-tor da Universidade da Capital do País, não tem instrumentos administra-tivos para

isso.

Tivemos que ir ao

Ministro

da Educação e ao Presidente da República para, através de um ato de Sua Excelência, permitir que a Universidade de Brasília pagasse a conta de luz.

Pior que isso, só o exemplo do Presidente Collor: quando quis comprar um carro para o Vice-Presidente da República Itamar Fran-co, editou uma medida provisória, que, se não me engano, não foi aprovada até hoje pelo Congresso Nacional.

Ora,

é

impossível ter uma universidade, uma instituição de

ensi-no superior, como a UnB, uma instituição madura, gerenciada, admi-nistrada por pessoas com alto nível de formação acadêmica, de expe-riência administrativa, engessada por uma estrutura burocrática enve-lhecida

(19)

produ-zinnos rapidamente o que o Senador Josaphat Marinho chama de re-fonna estrutural no ensino universitário brasileiro, penso que o come-ço é exatamente a lei da autonomia universitária, que eu tenho a pre-tensão de querer extrapolar para as instituições de ensino e pesquisa.

O Sr. Josaphat Marinho - Permite-me V. Ex! um aparte, nobre Senador José Roberto Arruda?

O SR. JOSÉ ROBERTO ARRUDA - Com o maior prazer, Se-nadorJosaphatMarinho.

O Sr. Josaphat Marinho - O meu receio é exatamente agora fa-zer-se urna lei de autonomia universitária isolada. Por que não enqua-drá-Ia no conjunto da refonna universitária? Note V. Ex! que, ao in-vés de assegurar-se a autonomia, talvez se queira estrangulá-Ia.

O SR. JOSÉ ROBERTO ARRUDA - Vamos ter essa discussão. Acho absolutamente fundamental que a tenhamos, Senador Josaphat Marinho. Com a experiência de V. Ex! e a presença inclusive nessa discussão, neste plenário, do nosso sempre Senador João Calmon, que poderá nos ajudar com as suas idéias e os seus argumentos, acho que todos podemos partir para essa discussão.

O que não podemos mais aceitar é que instituições como a UnB, como a Embrapa, fiquem engessadas em regras administrativas cen-tralizadas, antigas, arcaicas, absolutamente inflexíveis, fora de qual-quer sintoma de realismo que elas devem ter. O que desejamos é que a execução da administração pública, nessas instituições de ensino su-perior e de pesquisa, tenha a liberdade de até pagar salários mais al-tos, de até fazer parcerias com o setor privado que tragam recursos para o ensino e a pesquisa - que hoje praticamente estão proibidos disso -, enfim. de arejar essas instituições.

Sz! Presidente, Srs. Senadores, concluo esta minha fala dizendo que tenho uma grande dúvida. Sei que essa minha afirmação não trará conclusão alguma, mas pelo menos terá o mérito de aumentar as dúvi-das. No Brasil, hoje, é ser progressista, por exemplo, defender a refor-ma agrária; refor-mas não é ser progressista defender a refonna do Estado. E aí, aqui no Congresso Nacional, deparamos com o seguinte

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xo: se todos nós estamos convencidos - e parece que no diagnóstico temos consenso - de que o Estado brasileiro se rege por regras abso-lutamente irracionais para os tempos atuais, que o Estado brasileiro cuida de coisas em que absolutamente a sua presença já é prescindí-vel, temos que reestruturar o Estado brasileiro para que ele seja me-nor, mais ágil, mais racional, tenha um menor custo e, por outro lado, cuide melhor das missões que lhe são precfpuas. Ainda que tenhamos legítimas discordâncias em relação ao exato modelo do novo Estado que se quer gerar, o que é fundamental é que o Congresso Nacional discuta, e discuta rapidamente, tão rapidamente quanto o deseja a so-ciedade brasileira, o projeto de reformas do País, que passa pela refor-ma tributária, pela reforrefor-ma administrativa, pela reforrefor-ma da Previdên-cia, que não pode desejar prejudicar a quem quer que seja, principal-mente aquelas pessoas de salário menor e que dão a sua vida ao servi-ço público brasileiro. O fato é que o Brasil precisa criar contornos de um Estado moderno, mais racional, mais ágil.

Este, Sr! Presidente, Srs. Senadores, é o nosso desejo. E penso que um grande começo será exatamente a flexibilização com a auto-nomia das universidades e das instituições de pesquisa.

Registro, fmalmente, os meus cumprimentos pessoais ao traba-lho que a Embrapa fez, através do CPAC, aqui em Brasflia Esses cumprimentos se estendem ao trabalho da Embrapa em todo o territó-rio nacional. Acho que é um alerta para que o País não perca esse enorme potencial de inteligência que ainda está no Estado brasileiro, dentro da Embrapa, e penso que essa discussão apenas se inicia

Ao terminar, peço licença a todos os Srs. Senadores para

regis-trar que poucas vezes o Senado Federal foi presidido por uma

Sena-dora, o que é sinônimo de mudança na sociedade brasileira. Muito obrigado, Sr! Presidente.

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PODER LEGISLATIVO SENADO FEDERAL

Referências

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