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Zootecnia, Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho, Botucatu, São Paulo, Brasil. *

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Academic year: 2021

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CÃES FUMANTES PASSIVOS PODEM SER SENTINELAS PARA OS SERES HUMANOS? AVALIAÇÃO RADIOGRÁFICA PULMONAR DE CÃES EXPOSTOS CONTINUAMENTE À FUMAÇA DE CIGARROS

Passive smoking dogs can be sentinels for humans? Radiographic pulmonary evaluation of dogs exposed to continuously cigarette smoke

Isabely Saraiva PEREIRA1; Alexandre Redson Soares da SILVA1;Thalita da Silva

Marinho e SILVA 2; Dielson da Silva VIEIRA1; Yasmin Almeida GUERRA1; Ana Amélia Domingues GOMES1; Maria Jaqueline MAMPRIM3*

1Centro de Ciências Agrárias, Universidade Federal do Vale do São Francisco, Petrolina,

Pernambuco, Brasil.

2Centro de Ciências Agrárias, Ambientais e Biológicas, Universidade Federal do Recôncavo da Bahia,

Cruz das Almas, Bahia, Brasil.

3Departamento de Reprodução Animal e Radiologia Veterinária, Faculdade de Medicina Veterinária e

Zootecnia, Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”, Botucatu, São Paulo, Brasil. *E-mail: alexandre.redson@univasf.edu.br

Resumo

Inúmeros são os casos de neoplasias ou doenças pulmonares crônicas, decorrentes do tabagismo. A fumaça do cigarro contém cerca de 4.700 partículas tóxicas, que podem causar alterações pulmonares. Com a crescente urbanização, houve um maior contato e socialização entre homens e cães, proporcionando aos animais compartilharem diariamente com os hábitos humanos. São escassas e muitas vezes inconclusivas as descrições de alterações no sistema respiratório de animais que convivem com proprietários fumantes ativos. Hipoteticamente, exposições e lesões frequentes, no sistema respiratório, causadas pelo tabagismo podem desencadear doenças pulmonares crônicas. Diante do exposto e contraditórias informações sobre os aspectos radiográficos pulmonares de cães expostos à fumaça de cigarros o presente trabalho teve como objetivos: contribuir na detecção das alterações radiográficas ocorridas em cães fumantes passivos e auxiliar na caracterização radiográfica das lesões pulmonares causadas pela fumaça do cigarro. Conclui-se que cães fumantes passivos apresentaram sinais clínicos similares ao encontrados nos seres humanos tabagistas; todos os cães apresentaram alterações radiográficas pulmonares; essa espécie, sob a condição exposta, demonstrou ser sentinela para os humanos tabagistas, sendo esta condição um risco para a saúde dos animais. Palavras-chave: caninos; radiografias; tabagismo

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Introdução

Segundo estimativas da Organização Mundial da Saúde (OMS), cerca de 1,1 bilhões de pessoas têm o hábito de fumar. No Brasil, 32, 6% da população adulta é fumante, com idade entre 20 e 49 anos (BRASIL, 2010).A fumaça do cigarro contém cerca de 4.720 substâncias tóxicas, sendo as principais a nicotina, monóxido de carbono, alcatrão, entre outros(ROSEMBERG, 1987).

Em um estudo, observando a deposição da nicotina em cães, ratos e gatos, utilizando-a marcada com carbono 14, observaram a presença da mesma nos rins, cérebro, supra-renais, fígado, intestino, miocárdio, glândulas salivares, retina e cérebro, confirmando a distribuição sistêmica da nicotina (HANSSON et al., 1965).

O monóxido de carbono altera o transporte de oxigênio sanguíneo para os tecidos e, quando associado à nicotina e compostos com características cancerígenas e irritantes, favorecem ao desenvolvimento de tosse, alergia, inflamação bronquial, broncoconstrição, perda dos cílios, secreção exagerada de muco, além da alteração enzimática e imunitária de macrófagos alveolares, citoistologicamente diagnósticados (ROSEMBERG, 1987). A exposição e lesões frequentes no sistema respiratório, causadas pela fumaça, têm consequências graves e desenvolve doenças pulmonares obstrutivas crônicas, além de neoplasias (ROSEMBERG, 1987; OROZCO-LEVI et al., 2006).

Fumantes passivos, também correm risco de desenvolver neoplasias ou doenças crônicas pulmonares. Assim, devemos nos atentar em investigar quais as alterações respiratórias causadas nos animais domésticos, que possuem contato direto e frequente com fumantes (ROZA et al., 2007). Na medicina veterinária, poucos ensaios foram realizados sobre os efeitos da fumaça do cigarro em animais domésticos (PARK et al., 1977; ROZA et al., 2007).

Ensaio experimental utilizando cães Beagles, em contato ativo com a fumaça de cigarros, observaram que grande parte dos animais vieram a óbito, com lesões compatíveis com enfisema, broncopneumonia, fibrose e neoplasias pulmonares (PARK et al., 1977). Em outro estudo observou-se desenvolvimento de neoplasia pulmonar e tosse crônica em cães fumantes passivos, semelhante ao descrito em humanos, com sinais de tosse, dispnéia, cansaço fácil, fadiga e outros, relacionados com enfermidades respiratórias (HAWKINS et al., 2010).

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A radiografia torácica quando conciliada com a citologia broncoalveolar podem fornecer importantes informações sobre a etiologia do processo (BERTOLINI et al., 2009).

Diante do exposto e das escassas e contraditórias informações sobre os aspectos radiográficos pulmonares de cães expostos diariamente à fumaça de cigarros o presente trabalho teve como objetivos: contribuir na detecção das alterações ocorridas em cães fumantes passivos, por meio do exame radiográfico; auxiliar na caracterização radiográfica das lesões pulmonares em caninos tabagistas passivos, contribuindo na identificação das lesões causadas pela fumaça do cigarro e fornecer subsídios ao profissional da imagem para incluir o tabagismo em seus diagnósticos diferenciais.

Material e métodos

Foram utilizados 30 cães adultos, com idade superior a dois anos, independentes do sexo, raça e sinais clínicos. O grupo (G1) foi constituído por 15 cães, que coabitam no mínimo há dois anos com proprietários que possuam o hábito de fumar em média 20 cigarros por dia. O grupo (G2) foi constituído por 15 cães, que não tinham contato com fumaça de cigarro.

Todos os animais foram testados através dos exames radiográficos torácico, em projeções laterais e ventrodorsal, a fim de caracterizar o tipo, a frequência e a distribuição das possíveis lesões pulmonares. As análises imagenológicas foram efetuadas em estudo duplo cego, sendo as análises radiográficas baseadas nas seguintes etapas: detecção, descrição, diferenciação e diagnóstico das lesões, determinando à extensão e o acometimento pulmonar.

Os resultados foram tabulados em planilha eletrônica para a obtenção das frequências absoluta (fi) e relativa (%), bem como a comparação e distribuição, quanto ao diagnóstico e variáveis radiográficas.

Resultados e Discussão

Verificou-se que 26,66% (4/15) dos animais que conviviam com fumantes apresentaram cansaço fácil e 13,33% (2/15) tosse. Por vezes, a frequência da ocorrência de mais de um sinal pôde ser notada em um mesmo animal. Esses achados foram semelhantes aos observados nos humanos tabagistas que

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apresentavam asma, bronquite crônica, doença pulmonar obstrutiva crônica e aguda, e neoplasias (HAWKINS et al., 2010).

Lesões pulmonares foram detectadas por meio do exame radiográfico digital em 100% (15/15) dos cães, pertencentes ao G1, sendo que desses 26,66% (4/15) apresentavam cardiomegalia. Excluindo-se as alterações pulmonares decorrentes das afecções cardíacas, 73,33% (11/15) dos cães do G1 apresentaram mineralização bronquial. Outros achados de imagem foram caracterizados por aumento de opacidade pulmonar generalizado, de padrão bronquial, em 66,66% (10/15), aumento de opacidade pulmonar generalizado, de padrão misto (bronquial e vascular), em 53,33% (8/15), aumento de opacidade pulmonar localizado, também de padrão bronquial, em 26,67% (4/15). Esses achados podem ser sugestivos de fibrose intesticial e semelhantes aos observados nos humanos fumantes, contudo torna-se necessário a avaliação patológica do parênquima pulmonar (HANSSON et al., 1965; ROSEMBERG, 1987; OROZCO-LEVI et al., 2006). Ademais, outros autores observaram que animais exposto à fumaça de cigarro vieram a óbito com sinais compatíveis com enfisema, broncopneumonia, fibrose e neoplasias pulmonares (PARK et al., 1977).

No que concerne à avaliação radiográfica cardiovascular, verificou-se que 26,67% (4/15) dos animais apresentaram sinais radiográficos compatíveis com cardiomegalia generalizada e 53,33% (8/15) demonstraram congestão pulmonar. Tais achados radiográficos também puderam ser visualizados nos cães com presença de sinais clínicos, bem como naqueles com ausência dos mesmos. A congestão pode ser resultado de qualquer condição que cause um aumento no débito cardíaco da esquerda para direita, ou em casos de estágios iniciais de processos inflamatórios, pois normalmente eles não são visualizados (PARK et al., 1977; ROZA et al., 2007; BERTOLINI et al., 2009; HAWKINS et al., 2010).

No presente estudo, não foram visualizados sinais radiográficos compatíveis com neoplasia pulmonar, semelhante aos encontrados na literatura consultada (HAWKINS et al., 2010), contudo, esse fato é relatado com frequência nos seres humanos (BRASIL, 2010).

Padrão pulmonar bronquial com sinais de mineralização foi visualizado em animais com idade inferior e superior a setes anos, neste caso 80,00% (8/10) têm menos de sete anos de idade. Tais achados radiográficos não são condizentes com

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vida. Acredita-se que esses achados sejam compatíveis com o tempo de exposição à fumaça de cigarros. Animais mais velhos algumas vezes possuem brônquios mineralizados, que por si só não são significativos. Os brônquios aparecem com opacidade mineral e atravessam os campos pulmonares de forma linear (PARK et al., 1977; ROZA et al., 2007; BERTOLINI et al., 2009; HAWKINS et al., 2010). Contudo, quando visualizados em animais jovens ou adultos, pode estar relacionado com outras patologias (PARK et al., 1977; ROZA et al., 2007).

Conclusões

Diante do exposto podemos concluir que cães fumantes passivos apresentaram sinais clínicos similares ao encontrados nos seres humanos tabagistas; todos os cães que convivem com proprietários tabagistas apresentaram alterações radiográficas pulmonares; essa espécie, sob a condição exposta, demonstrou ser sentinela para os humanos tabagistas, sendo esta condição um risco para a saúde dos animais.

Referências

BERTOLINI, G et al. Imaging diagnosis – pulmonary interstitial emphysema in a dog. Vet Radiol Ultrasound 2009; 50(1): 80-82.

BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Saúde. Departamento de Desenvolvimento Humano do Banco Mundial, Região da América Latina e do Caribe. Controle do Tabagismo no Brasil. Brasília: Ministério da Saúde, 2010. 136p. ROSEMBERG J. Tabagismo: sério problema de Saúde Pública. 2.ed. São Paulo: Almed, 1987. 370p.

HANSSON, E et al. Metabolism of nicotine in various tissues. In: von Euler US. Tobacco alkaloids and related compounds. 1rd.ed. New York: Pergamon Press, 1965. p. 87-98.

HAWKINS, E.C et al. Demographic and historical findings, including exposure to environmental tobacco smoke, in dogs with chronic cough. J Vet Intern Med 2010; 24(4): 825-831.

OROZCO-LEVI, M et al. Wood smoke exposure and risk of chronic obstructive pulmonary disease. Eur Respir J 2006; 27(3): 542–546.

PARK, S.S et al. An animal model of cigarette smoking in beagle dogs: correlative evaluation of effects on pulmonary function, defense and morphology. Am Rev Respir Dis 1977; 115(6): 971–979.

ROZA, M.R et al. The dog as a passive smoker: effects of exposure to environmental cigarette smoke on domestic dogs. Nicotine Tob Res 2007; 9(11): 1171–1176.

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