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KEHL, Maria Rita.tortura e Sintoma Social

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Academic year: 2021

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O QUE RESTA DA DITADURA

O QUE RESTA DA DITADURA

A E X C E Ç Ã

A E X C E Ç Ã O B R A S I

O B R A S I L E I R A

L E I R A

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CIP-BRASIL. CATALOGAÇÃO NA FONTE

SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ Q35

O que resta da ditadura : a exceção brasileira / Edson Teles e Vladimir Safatle (Orgs.). - São Paulo : Boitempo, 2010.

- (Estado de Sítio) Inclui bibliografia 

ISBN 978-85-7559-155-0

1. Brasil - História - 1964-1985. 2. Brasil - Política e governo, 1964-1985. 3. Ditadura Brasil História Século XX. 3. Direitos humanos Brasil -História - Século XX. 4. Justiça - Brasil - -História. 5. Ciências sociais e história. 6. Violência - Brasil - História. I. Teles, Edson, 1968-. II. Safatle, Vladimir, 1973-. III. Série.

09-5696. CDD: 981.064

CDU: 94(81)”1964/1985”

03.11.09 11.11.09 016126

Copyright © Boitempo Editorial, 2010

Coordenação editorial Ivana Jinkings Editor-assistente  Jorge Pereira Filho

 Assistência editorial  Ana Lotufo, Elisa Andrade Buzzo, Frederico Ventura e Gustavo Assano

Preparação Flamarion Maués

Revisão Alessandro de Paula 

Capa e diagramação Silvana de Barros Panzoldo

Sobre foto de repressão ao Dia Naciona de Luta, protesto realizado em 23 de agosto de 1977 – Arquivo/ Agência Estado.

Produção Marcel Iha e Paula Pires

É vedada, nos termos da lei, a reprodução de qualquer parte deste livro sem a expressa autorização da editora.

Este livro atende às normas do acordo ortográfico em vigor desde janeiro de 2009.

1a  edição: março de 2010 1a  reimpressão: junho de 2010

BOITEMPO EDITORIAL  Jinkings Editores Associados Ltda.

Rua Pereira Leite, 373 05442-000 São Paulo SP Tel./fax: (11) 3875-7250 / 3872-6869

editor@boitempoeditorial.com.br www.boitempoeditorial.com.br

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SUMÁRIO

 Apresentação ...9

1 A EXCEÇÃO JURÍDICA 

Militares e anistia no Brasil: um dueto desarmônico ...15 Paulo Ribeiro da Cunha 

Relações civil-militares: o legado autoritário da

Constituição brasileira de 1988 ...41  Jorge Zaverucha 

“O direito constitucional passa, o direito administrativo

permanece”: a persistência da estrutura administrativa de 1967 ...77 Gilberto Bercovici

Direito internacional dos direitos humanos e lei de anistia:

o caso brasileiro ...91 Flávia Piovesan

O processo de acerto de contas e a lógica do arbítrio ...109 Glenda Mezarobba 

2 O PREÇO DE UMA RECONCILIAÇÃO EXTORQUIDA 

Tortura e sintoma social ...123 Maria Rita Kehl

Escritas da tortura ...133  Jaime Ginzburg 

 As ciladas do trauma: considerações sobre história e poesia nos

anos 1970 ...151 Beatriz de Moraes Vieira 

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O preço de uma reconciliação extorquida ...177  Jeanne Marie Gagnebin

Brasil, a ausência significante política (uma comunicação) ...187 Tales Ab’Sáber

3 A POLÍTICA DO BLOQUEIO, O BLOQUEIO DA POLÍTICA  1964, o ano que não terminou ...205

Paulo Eduardo Arantes

Do uso da violência contra o Estado ilegal ...237 Vladimir Safatle

Os familiares de mortos e desaparecidos políticos e a

luta por “verdade e justiça” no Brasil ...253  Janaína de Almeida Teles

Entre justiça e violência: estado de exceção nas democracias

do Brasil e da África do Sul ...299 Edson Teles

Dez fragmentos sobre a literatura contemporânea no Brasil e na Argentina ou de como os patetas sempre adoram o

discurso do poder ...319 Ricardo Lísias

Bibliografia ...329

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O PREÇO DE UMA

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TORTURA E SINTOMA SOCIAL

Maria Rita Kehl

Em um livro escrito em 20041  eu me referi ao ressentimento como

um dos sintomas mais representativos da relação ambivalente da socieda-de brasileira com os posocieda-deres que, em tese, socieda-deveriam representar e socieda- defen-der interesses coletivos. Fruto dos abusos históricos que aparentemente “perdoamos” sem exigir que opressores e agressores pedissem perdão e re-parassem os danos causados, o ressentimento instalou-se na sociedade bra-sileira como forma de “revolta passiva” (Bourdieu) ou “vingança adiada” (Nietzsche), ao sinalizar uma covarde cumplicidade dos ofendidos e opri-midos com seus ofensores/opressores. A mágoa “irreparável” do ressentido indica que ele sabe, mas não quer saber, que aceitou se colocar em uma condição passiva diante dos abusos do mais forte; por covardia, por cálculo (“mais tarde ele há de reconhecer e premiar meu sacrifício”) ou por impo-tência autoimposta, o ressentido acaba por se revelar cúmplice do agravo que o vitimou.

É importante ressaltar, entretanto, que o ressentimento não abate aque-les que foram derrotados na luta e no enfrentamento com o opressor, e sim os que recuaram sem lutar e perdoaram sem exigir reparação. O expediente corriqueiro – por má-fé ou mal-entendido? – de chamar de “ressentidos” aqueles que não desistiram de lutar por seus direitos e pela reparação das injustiças sofridas não passa de uma forma de desqualificar a luta política em nome de uma paz social imposta de cima para baixo. Nossa tradicional cordialidade, no sentido que Sérgio Buarque de Hollanda tomou empresta-do de Ribeiro Couto, obscurece a luta de classes e desvirtua a gravidade empresta-dos conflitos desde o período colonial.

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Tortura e sintoma social  125

zação, o mal-estar silenciado acaba por se manifestar em atos que devem

ser decifrados, de maneira análoga aos sintomas dos que buscam a clínica psicanalítica. Mas mesmo os sintomas relatados, um a um, nos consultó-rios dos psicanalistas, são muito menos individuais do que se pode supor. Lacan, na conferência “Função e campo da palavra e da linguagem em psi-canálise” escreve que a originalidade do método psicanalítico está em abor-dar não o indivíduo, mas o “campo da realidade transindividual do sujeito

[...] O inconsciente é aquela parte do discurso concreto enquanto transin-dividual que não está à disposição do sujeito para restabelecer a continuida-de continuida-de seu discurso consciente”2.

Por que as formações do inconsciente ultrapassam a experiência dita in-dividual do sujeito? Porque o sujeito não é um indivíduo, no sentido radi-cal da palavra; é dividido desde sua origem, a partir de seu pertencimento a um campo simbólico cuja sustentação é necessariamente coletiva. As for-mações do inconsciente, como fenômenos de linguagem, são tributárias da estrutura desse órgão coletivo, público e simbólico que é a língua em suas diferentes formas de uso. “Na perspectiva analítica”, escreve Marie-Hélène Brousse3, “a oposição individual/coletivo não é válida, e o desejo que o

su- jeito visa a decifrar é sempre o desejo do Outro”. No Seminário 14 : A lógica do fantasma , Lacan radicalizou esta relação ao propor a fórmula “o

incons-ciente é a política”4.

Toda “realidade” (social) produz, automaticamente, uma espécie de “universo paralelo”: o acervo de experiências não incluídas nas práticas fa-lantes. Experiênciasloucas , desviantes, proscritas ou simplesmente doentias.

Pois mesmo aquilo que temos de mais singular, o modo de cada um padecer e adoecer, nem sempre pertence exclusivamente a nós. Por vezes a doença, sobretudo a chamada doença mental, não passa de um fragmento do real, um pedaço excluído da cultura – e o doente é seu “cavalo”, como se diz no candomblé. O doente é o lugar (social) onde a doença encontrou uma bre-cha para se manifestar. Nietzsche acertou ao afirmar que a doença institui um ponto de vista privilegiado sobre a realidade.

2 Jacques Lacan, “Función y campo de la palabra y del lenguaje en psicoanálisis”

(1953), em Escritos  (trad. Tomás Segovia, Madri/México, Siglo Veintiuno, 1994, v. 1), p. 227-310.

3 Marie Hélène Brousse, Conferência 1, “O analista e o político”,O inconsciente é a política 

(São Paulo, Seminário Internacional da Escola Brasileira de Psicanálise, 2003), p. 17.

4 Jacques Lacan, Seminário 14: A lógica do fantasma . Disponível em: <http://www.

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Referências

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