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Orientar a utilização de técnicas de COOPERATIVISMO nas atividades agropecuárias Pós Médio 1

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Orientar a utilização de técnicas de COOPERATIVISMO

nas atividades agropecuárias

Pós Médio

1

Ano letivo 2021

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1.Conceitos

O sistema cooperativo encontra-se difundido em grande parte dos países e, como existe uma organização cooperativa a nível internacional, a ACI-Aliança Cooperativa Internacional, os conceitos e significados deste modo associativo encontram-se disseminados, com pequenas variações, globalmente. Assim, encontramos os termos “cooperação”, “cooperado”, “cooperativo”, “cooperativa”, “cooperativismo” e outras formas de referenciar-se ao ato de cooperar, mesmo sem um significado muito preciso.

Para nivelar o nosso entendimento sobre estes termos, trazemos algumas referências a este respeito:

○ Cooperar – significa trabalhar simultânea ou coletivamente com outras pessoas na busca por um objetivo comum. A palavra “cooperar” deriva etimologicamente da palavra latina cooperari, formada por cum (com) e operari (trabalhar).

○ Cooperação – é entendido como o método de ação pelo qual indivíduos ou famílias com interesses comuns se propõem a constituir um empreendimento no qual os direitos de todos são iguais e as sobras alcançadas são repartidas somente entre os associados, de acordo com a sua participaçãona atividade societária. É uma forma de trabalho que, de forma coletiva, planejam-se os serviços, produção, comercialização e outros necessários ao alcance dos objetivos do grupo. Isto significa unir e coordenar meios e esforços de cada um para a realização de uma atividade comum, visando alcançar um resultado procurado por todos.

○ Cooperativa – é a associação de produtores, fabricantes, trabalhadores ou consumidores que se organizam e administram empresas econômicas, com o objetivo de satisfazerem uma variada gama de necessidades. Em outras palavras, pode-se enunciar que é uma associação de produtores, fabricantes e consumidores, constituída para partilhar sobras que, de outra forma, iriam para intermediários. De outro modo pode-se dizer que são associações de pessoas, que reciprocamente se obrigam a contribuir com bens ou serviços para o exercício de uma atividade econômica, de proveito comum, sem objetivo de lucro. Ou ainda, de acordo com a OCB (2014a): “Cooperativa é uma associação autônoma de pessoas que se unem, voluntariamente, para satisfazer aspirações e necessidades econômicas, sociais e culturais comuns, por meio de uma empresa de propriedade coletiva e democraticamente gerida”. No Brasil, Cooperativa é uma sociedade de, pelo menos, vinte pessoas físicas, unidas pela cooperação e ajuda mútua, gerida de forma democrática e participativa, com objetivos econômicos e sociais comuns, cujos aspectos legais e doutrinários são distintos de outras sociedades.

○ Cooperativismo – é um movimento, filosofia de vida e modelo socioeconômico, capaz de unir desenvolvimento econômico e bem-estar social. Seus referenciais fundamentais são: participação democrática, solidariedade, independência e autonomia. É o sistema fundamentado na reunião de pessoas e não no capital. Visa às necessidades do grupo e não do lucro. Busca prosperidade conjunta e não individual. Estas diferenças fazem do cooperativismo a alternativa socioeconômica que leva ao sucesso com equilíbrio e justiça entre os participantes. Associado a valores universais, o cooperativismo se desenvolve independentemente de território, língua, credo ou nacionalidade (OCB, 2014a). Assim, entendo que o cooperativismo é a escolha de um modo de vida, uma

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doutrina, um sistema, no qual as pessoas com atitude ou disposição consideram as cooperativas como uma forma ideal de organização das atividades socioeconômicas no ambiente em que vivem. ○ Cooperado – por conseguinte, membro parte da cooperativa, é o trabalhador rural ou urbano, profissional de qualquer atividade socioeconômica, que se associa para ativamente participar de um dos segmentos cooperativos, assumindo responsabilidades, direitos e deveres.

Quando buscamos um significado mais preciso, para se referir a certas técnicas de trabalho coletivo, esta é a característica mais comum de um gênero completo de organizações sociais e econômicas conhecidas por “cooperativas”, as quais estão presentes em praticamente todos os países.

Aprofundando a discussão do que é o cooperativismo, pode-se entendê-lo como uma doutrina econômica que se baseia na cooperação e que opera com um sistema diferenciado da sociedade que quer o justo, através do trabalho e ajuda mútua.

O cooperativismo, sob o prisma de doutrina social, sistematiza a reforma da sociedade, ao aspirar o aperfeiçoamento moral do homem, pelo sentido usual da solidariedade, contribuindo na ação, na melhora econômica, via organização e aplicação de valores fundamentais do ser humano.

De outro modo, o cooperativismo também é visto como um instrumento eficaz para a organização da sociedade, e como já dito, não existe sociedade desenvolvida sem organização. Isto significa, entre outros, a democracia dos investimentos, a distribuição da renda, a regularização do mercado, a geração de empregos e justiça econômica e social.

Bem, o cooperativismo não é uma ciência, é mais uma prática social. No entanto, recorre-se às diversas ciências para melhor entendê-lo. As pessoas que se ocupam desse modo de vida social, podem utilizar-se de teorias desenvolvidas em pesquisas científicas para compreender melhor aquilo que fazem ou os efeitos de suas ações nas organizações cooperativas.

As dúvidas que todos temos, a respeito dos resultados de nossas ações nos motivam a buscar apoios e conhecimentos para reduzir os riscos de efeitos indesejados. Estas dúvidas e incertezas que nos cercam, também servem de motivação para unir esforços buscando melhor atingir os resultados que queremos. Podemos dizer que a condição humana está marcada pelas incertezas. Assim, quanto mais lacunas, incertezas e questionamentos a respeito da natureza do cooperativismo, maior será nossa busca pelo conhecimento a respeito dos elementos componentes da prática da cooperação, vista essa, como um caminho de assertividade coletiva. Precisamos, então, ampliar o diálogo e reflexões, entre os diferentes saberes, a respeito do valor social desta prática cooperativa.

Os estudos e as pesquisas sobre o tema cooperativismo urbano e rural, constituem hoje, após diferentes experiências, a base de nossa nova relação. Os vínculos com o tema e a inquietação por sua melhor compreensão e a necessidade de respostas às perguntas acumuladas, ao longo dos anos de vivências e práticas, nos direcionam, agora, pelos caminhos do estudo e da pesquisa, ao histórico lugar social de sonhos e esperança. Sente-se o cooperativismo como uma prática social histórica, em cujo centro estão as questões do mundo, da vida, especialmente as ligadas a sua base material.

Diante do quadro de profundas transformações pelas quais passa a sociedade contemporânea, emerge o cooperativismo, especialmente, no campo do trabalho e da economia, com diferentes sentidos e funções. Em muitas circunstâncias, as cooperativas aparecem mais como instrumento de organização de pequenos grupos com muitas necessidades básicas (alimentaçã o, vestuário,habitação, etc.) a serem satisfeitas, como forma de inclusão econômica e social. Em outras circunstâncias, a cooperação se constitui em um instrumento de poder nas relações econômicas do mercado.

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2.Aspectos organizacionais das cooperativas

Organizações cooperativas são entidades complexas, com muitos interesses envolvidos. Por isso, o entendimento mais amplo deste sistema exige estudos constantes e aprofundados, atualizando-se os conceitos, metodologias de funcionamento e realidades do ambiente contínuo de mudanças, na atuação da cooperativa.

Organizações cooperativas nascem como resultados de interações sociais, da articulação e da associação de indivíduos que se identificam por interesses ou necessidades, buscando o seu fortalecimento pela organização e instrumentalização, com vistas a objetivos e resultados, principalmente, de ordem econômica. Constituir uma organização cooperativa significa a princípio, para o mercado, um acordo racional de pessoas sobre algo, isto é, a economia e os seus interesses e necessidades frente à produção e distribuição de bens

e riquezas. Por este acordo, se desenvolve política e operacionalmente, nos espaços da empresa cooperativa, mediada pela comunicação processos coletivos, perpassado pelos objetivos comuns. A economia de mercado em que estão inseridas as cooperativas, envolvem aspectos de ordem técnica e política. Como aspectos técnicos do conhecimento, está permanentemente em construção, sem garantias de sucesso e sujeita a interesses não legítimos ao grupo. Como aspecto político, torna-se, em muitos casos, palco de disputa de poderes. É um ambiente que entrecruza o poder técnico e o poder político, no qual atuam os seus partícipes e que é produzido a partir do conhecimento dessa dupla dimensão e relação. Assim, no espaço da organização cooperativa, se fazem presentes diversas questões sociais, políticas e culturais que estão também na essência da natureza associativa e seu no caráter instrumental.

Notadamente, organizações cooperativas abrigam diferentes relações de poder e também diferentes práticas e ações de educação. Essas práticas ou ações educativas produzem relações de poder, manifestadas nas formas de comunicação entre os associados que discutem sobre a cooperação, ou do tipo estratégico, nos espaços operacionais da empresa. A educação e o poder são questões relevantes, inerentes às organizações cooperativas, importantes para as suas condições de estabilidade.

Tanto as relações do ato cooperativo, quanto as relações dos negócios cooperativos, se consolidam pela gestão adequada dessas duas questões vinculadas à associação e à empresa, com finalidade cooperativa. Onde o poder age sobre a produção, a sua posse e distribuição. As diferentes relações de poder ocorrem nos espaços da empresa. No entanto, entendemos que este poder deva ser controlado, a partir da forma estrutural constitutiva da cooperativa, de modo a não permitir excessos de governo, nem emperrar a gestão dinâmica e eficiente.

Na sua forma constitutiva, o sistema cooperativo está bem alicerçado, como toda forma organizada de gestão. Uma cooperativa tem por trás uma estrutura sólida e bem dividida. Cada pessoa interessada em participar de um empreendimento como este, antes de associar-se, deve conhecer as formas adequadas de funcionamento, as determinações legais e todas as características que garantam a condução de ações, da maneira mais harmoniosa possível. Um caminho para orientar-se quanto a este necessário conhecimento, é procurar a Organização das Cooperativas do orientar-seu estado.

No que se refere ao funcionamento e à estrutura comum das cooperativas, podemos esclarecer que abrangem:

◊ 2.1- Assembléia geral – órgão supremo da cooperativa que, conforme o prescrito da legislação e no estatuto social, tomará toda e qualquer decisão de interesse da socieda de. Além da responsabilidade coletiva, que se expressa pela reunião de todos, ou da maioria, nas discussões e nas deliberações. A reunião da assembléia geral dos cooperados ocorre, nas seguintes ocasiões:

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2.1.1- Assembléia Geral Ordinária (AGO) – realizada obrigatoriamente uma vez por ano, no decorrer dos três primeiros meses, após o encerramento do exercício social, para deliberar sobre prestações de contas, relatórios, planos de atividades, destinações de sobras, fixação de honorários, cédula de presença, eleição do Conselho de Administração e Fiscal, e quaisquer assuntos de interesse dos cooperados.

2.1.2- Assembléia Geral Extraordinária (AGE) – realizada sempre que necessário e poderá deliberar sobre qualquer assunto de interesse da cooperativa. É de competência exclusiva da AGE a deliberação sobre reforma do estatuto, fusão, incorporação, desmembramento, mudança de objetivos e dissolução voluntária.

◊ 2.2- Conselho de administração – órgão superior da administração da cooperativa. É de sua competência a decisão sobre qualquer interesse da cooperativa e de seus cooperados nos termos da legislação, do Estatuto Social e das determinações da assembléia geral. O conselho de administração será formado por cooperado no gozo de seus direitos sociais, com mandatos de duração (de no máximo 4 anos) e de renovação estabelecidos pelo estatuto social.

◊ 2.3- Conselho fiscal – formado por três membros efetivos e três suplentes, eleitos para a função de fiscalização da administração, das atividades e das operações da cooperativa, examinando livros e documentos entre outras atribuições. É um órgão independente da administração. Tem por objetivo representar a assembléia geral no desempenho de funções durante um período de doze meses.

◊ 2.4- Comitê educativo, núcleo cooperativo ou conselhos consultivos – temporário ou permanente, constitui-se em órgão auxiliar da administração. Pode ser criado por meio da assembléia geral com a finalidade de realizar estudos e apresentar soluções sobre situações específicas. Pode adotar, modificar ou fazer cumprir questões, inclusive no caso da coordenação e programas de educação cooperativista junto aos cooperados, familiares e membros da comunidade da área de ação da cooperativa.

◊ 2.5- Estatuto social – conjunto de normas que regem funções, atos e objetivos de determinada cooperativa. É elaborado com a participação dos associados para atender às necessidades da cooperativa e de seus associados. Deve obedecer a um determinado padrão. Mesmo assim, não é conveniente copiar o documeno de outra cooperativa, já que a área de ação, objetivos e metas diferem uma da outra.

◊ 2.6- Capital social – é o valor, em moeda corrente, que cada pessoa investe ao associar-se e que serve para o desenvolvimento da cooperativa.

◊ 2.7- Demonstração de resultado do exercício – no final de cada exercício social é apresentado, na assembleia geral, o balanço geral e a demonstração do resultado que devem conter:

2.7.1- Sobras – os resultados dos ingressos menos os dispêndios. São retornadas ao associado após as deduções dos fundos, de acordo com a lei e o estatuto da cooperativa.

2.7.2- Fundo indivisível – valor em moeda corrente que pertence aos associados e não pode ser distribuído, e sim destinado ao: fundo de reserva para ser utilizado no desenvolvimento da cooperativa e cobertura de perdas futuras; Fundo de Assistência Técnica Educacional e Social (FATES); e outros fundos que poderão ser criados com a aprovação da assembléia geral (OCB, 2014a).

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3.Como nasceu o cooperativismo

A cooperação é uma atividade inerente a própria formação social do ser humano, pois desde a Pré-História esta parece ser a forma ideal de sobrevivência para ele. Sem dúvidas, de uma f orma ou de outra, nós seres humanos estamos sempre cooperando uns com os outros, seja de maneira individual ou coletiva.

3.1. Civilizações antigas

Egito, Assíria, Babilônia, Pérsia, Grécia, Roma e outras civilizações organizaram suas atividades econômicas com base no trabalho forçado dos escravos. Os Hebreus davam grande importância ao trabalho livre e reconheciam a seus escravos certos direitos, além de conceder-lhes, em determinados casos, a liberdade após sete anos de cativeiro. Porém, em geral, as condições não eram adequadas para que se desenvolvessem associações livres do tipo cooperativo.

Rivillout e Lubroso, egiptólogos franceses, descobriram que no Império dos Faraós, os trabalhadores – que eram escravos – já se organizavam em grêmios que tinham a aprovação e o incentivo do Estado. Eles tinham o objetivo de diminuir as dificuldades dos associados para obter alimentos, remédios e até substituindo aquele que se acidentava no trabalho, contribuindo c om o necessário até que voltasse ao serviço.

Na Grécia antiga, esse sentimento de mútuo auxílio agrupava todos aqueles que, presos nas agruras do cotidiano, premidos pelas contingências da luta pela manutenção material, aspiravam a um melhor padrão de vida, com uma parcela maior de bem estar e um lugar justo e condigno ao sol.

Os gregos se organizavam em orglonas e tiasas, cujos componentes eram cidadãos livres, escravos ou estrangeiros, com o objetivo de garantir um enterro decente aos seus associados; em associações com fins profissionais e econômicos como os colégios, reunindo carpinteiros, sapateiros, artesãos e ferreiros e os sodalistas, que formavam uma organização beneficente com o principal objetivo de garantir enterros religiosos aos seus associados. A parte executiva da administração cabia a um indivíduo denominado de arquimarista. Esta, talvez seja uma das primeiras experiências de cunho cooperativo que a história do homem registra.

Em Roma, os cristãos formaram as ágapes, com o objetivo de atender principalmente as necessidades de consumo dos seus associados.

Os Colégios Romanos eram associações de operários de um cunho cooperativo na Roma Antiga. Por outro lado, atribui-se a Numa Pompílio a fundação de, aproximadamente, oito dessas organizações entre sapateiros, carpinteiros, serralheiros e outras classes de artesãos. Nos Colégios ingressavam os estrangeiros, os escravos alforriados e não alforriados, numa bela manifestação de ajuda mútua, de solidariedade humana, que não estabelecia distinções nem tinha preconceitos de qualquer espécie.

Já em Esparta e Atenas e em outros lugares, encontram-se manifestações com características cooperativistas nos acampamentos militares, nos quais a vida era regida por certas normas comunais. Em alguns documentos atenienses e romanos, pode-se encontrar referências ocasionais que parecem evidenciar a existência de fundos de ajuda mútua.

Por outro lado, não é por pura casualidade que os primeiros documentos de colônias cooperativas, no verdadeiro sentido da palavra, levam-nos até o tempo do ‘Segundo Templo’, na Palestina, antes de sua destruição pelos romanos; que a Colônia Comunal, mantida pelos Essênios, em Ein Guedi, às margens do Mar Morto, pode, com toda a justiça, ser considerada como o primeiro ensaio do qual existem amplas informações, de uma vida comunal assentada sobre o trabalho e a ajuda mútua. Ao tratarem de libertar-se das iniqüidades e lutas dos centros mais densamente povoados, os Essênios renovaram a sua vida mediante a criação desta colônia independente. Esta singular experiência foi

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possível conhecer em detalhes graças ao descobrimento dos ‘Pergaminhos do Mar Morto’, a partir das escavações realizadas na região entre 1949 a 1952. É muito provável que a comunidade Ein Guedi não tenha sido a única de seu gênero, porém faltam provas materiais para poder afiançar com exatidão a existência das demais. Talvez se possa afirmar, com absoluta certeza, que a comunidade de Ein Guedi foi a primeira “utopia socialista” que se converteu em realidade. Convém, ainda, citar como uma das experiências com conotações cooperativistas, aquela assinalada no Talmud (um dos livros básicos do judaísmo), onde se encontram descrições da vida do povo hebreu entre os anos 356 e 425 da nossa era. Através destas descrições, verifica-se a existência de associações de mutualidade entre as caravanas de mercadores para o seguro do gado asinino. Sem dúvida, deve haver inúmeras outras experiências com caráter cooperativista registradas na história, demonstrando que na Idade Antiga encontra-se a origem do Movimento Cooperativista.

3.2. Idade Média 3.2.1. Europa

No decurso desse período da história que se define por Idade Média (século V a XV), evidenciaram-se na Europa nos ambientes rurais e urbanos, bem como entre as civilizações autóctones das Américas, atividades e sistemas de organização que possuíam diversas manifestações cooperativistas. No meio rural, na Idade Média, estabeleceram-se aldeias e populações nos principais pontos de entroncamento das rotas comerciais e de comunicação. Essas populações foram crescendo em conseqüência do resultado de posturas radicais ocorridas tanto no campo social como no econômico. Internamente, estas comunas, quase sempre cerradas dentro de muralhas fortificadas, foram gradualmente ganhando uma conotação de caráter urbano, convertendo-se em excelentes centros de cultura, das artes e da criação em geral. São inúmeros os exemplos de cooperação neste período.

Em regiões hoje correspondentes à França, à Itália ou à Suíça, sobretudo na Região dos Alpes e também na Inglaterra, os campesinos se agrupavam para realizar coletivamente a transformação e, algumas vezes, a venda da produção leiteira. Particularmente na França são constituídas, no século XII ou XIII, as Frutiéres, que conservam esta mesma denominação até a presente data, através da constituição de queijarias cooperativas. Nas Regiões de Jura e Sabóia, por exemplo, a fabricação em comum de queijos, impõe-se por motivos técnicos, ou seja, porque os queijos do tipo Gruyére, ali elaborados, possuem enormes dimensões e necessitam da produção leiteira de um considerável número de propriedades pequenas. Os queijos produzidos são divididos entre os campesinos na proporção do número de seus animais e é distribuído, em igual proporção, o dinheiro proveniente da venda dos produtos que excedem as necessidades de consumo destes campesinos. O exemplo mais célebre é o da Les Frutiéres du Jura. Também nas primitivas granjas dinamarquesas e nas comunas suecas são aplicadas as mesmas práticas tradicionais encontradas nas regiões francesas. Entre os povos eslavos, encontram-se interessantes formas de comunidades agrárias, tais como a Zadruga e o Mir russo, podendo-se, ainda, citar como exemplo mais concreto o Artel, também russo, cujas características em muito se aproximam das modernas cooperativas de trabalho. A Zadruga é o nome com que se designa a grande família sérvia, ou seja, a agrupação igualitária que elege seu chefe e explora um patrimônio em comum. O Mir russo é uma comunidade de campesinos que habitam as terras pertencentes a um senhor feudal (atualmente, o Estado), pagando um tributo coletivo ao Estado pelo usufruto desta mesma área. O ‘Artel’, nome dado na Rússia às associações de trabalhadores independentes surgidas, aproximadamente, por volta do século XIV, abrangendo principalmente pescadores, lenhadores e outros trabalhadores que elegem seu próprio chefe, contratam coletivamente a realização de diversas tarefas, bem como organizam o trabalho quanto à distribuição dos ingressos obtidos. Os povos germânicos organizavam

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especialmente associações de agricultores para a realização de obras de irrigação, construção de diques, exploração de bosques, bem como outras tarefas em comum. Na Armênia, região entre os territórios da Rússia, Turquia e Síria, mulheres organizaram cooperativas para a distribuição de produtos agrícolas.

No meio urbano da Idade Média, surgiram as Guildas, movimentos protecionistas de produção e consumo das cidades, que buscavam igualdade de direitos de deveres, evitando concorrência mercantil com produtores de outras regiões que não fossem do lugar. Havia também as Corporaciones, que operavam pela defesa profissional de classes, com práticas de autogestão e ajuda econômica e social mútua entre seus membros.

3.2.2. América

Na civilização INCA, as ayllus eram associações representativas de uma unidade social uma vez que reunia parentes – vínculos de sangue - cujo trabalho na produção agrícola e pastoril resultava na divisão segundo o trabalho prestado e de acordo com a necessidade de cada participante. Essa forma de associação pode ser entendida como uma forma de cooperativa integral, moderna e avançada para a época. Os incas deixaram raízes profundas de suas tendências cooperativistas na psicologia dos povos andinos, principalmente entre os peruanos.

A organização agrária era que sustentava a civilização ASTECA, muito semelhante à dos INCAS. O rei repartia as terras para os seus súditos, mas mantinha a soberania sobre elas, cobrando-lhes o compromisso de dela desfrutarem ininterruptamente.

Essas associações denominavam-se calpulli e nelas são encontradas semelhanças cooperativistas pelo menos nos seguintes pontos:

- eram homens livres que desfrutavam do produto de seus esforços e não eram assalariados do Rei; - o sistema de irrigação era construído e utilizado coletivamente;

- também coletivamente combatiam as pragas;

- construíam obras de defesa e de embelezamento das terras que lhes pertenciam;

- emprestavam sementes entre si, se a colheita de alguém fosse perdida e, cuja operação era realizada pelo Senhor do local;

- celebravam coletivamente as suas festas religiosas;

A essência da atividade entre ao astecas era, inegavelmente, a cooperação de seus membros para a produção agrícola.

3.3. Idade Moderna

Modernamente, alguns exemplos de cooperativismo se adaptam aos regimes políticos vigentes nos países de origem, e podemos citar alguns onde este regime tem a vertente do socialismo e alguns onde o capitalismo é que é a regra. Em ambos os casos, o cooperativismo também funciona, mas com a orientação do regime vigente.

Na ex-União Soviética, hoje Rússia, a organização cooperativa se dava principalmente no campo, entre os camponeses e remunerava segundo o trabalho do cooperado. Na realidade, o Partido Comunista é que assumia a direção do processo social. O processo era MAIS para complementar a ação do Estado num processo de coletivização, e MENOS, para apoiar iniciativas autônomas dos camponeses e operários, sendo que as cooperativas eram usadas para suprir as deficiências surgidas no processo econômico de base centralizada, tuteladas pelo Estado. Isto também vale para a China.

As cooperativas existentes na União Soviética, criadas após a Revolução Comunista de 1917, predominavam entre os camponeses e, basicamente, apresentavam dois tipos:

- A, que eram cooperativas de consumos, e:

- B, que eram de produção agrícola, onde as do tipo KOLKHOZES forma as mais destacadas. Os KOLKHOZES dividiam-se em Comunas, onde os meios de produção e os bens de consumo eram

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comuns e cada participante recebia segundo o seu trabalho; as Artéis, que eram associações familiares de trabalho, onde os meios de produção eram de propriedade comum, mas os bens e os resultados do trabalho eram divididos entre as famílias (a organização básica das artéis era a família e a solidariedade entre os seus membros); as Tozes, que eram cooperativas de trabalho que tinham em comum apenas os instrumentos de trabalho dos camponeses.

Essa divisão dos KOLKHOZES nestas 3 formas de cooperativas, contribui para a evolução do cooperativismo, onde o início se deu nas Comunas, passou pelas Tozes, e hoje, tem nas Artéis o tipo que predomina na Rússia.

Na China, o predomínio é das Comunas, que são relativamente mais autônomas que as que existiam na União Soviética. A remuneração do cooperado se dá segundo as suas necessidades básicas, e não pelo trabalho como na Rússia.

As cooperativas de crédito rural têm uma importância muito significativa, atingindo a quantia de mais de 450 mil unidades com 200 milhões de associados.

Israel é um país capitalista com um sistema socialista de cooperativismo, dividindo-se basicamente em 3 tipos:

- o KIBUTZ, que é uma cooperativa comunitária de produção agrícola (a produção e o consumo são totalmente em comum), com o compartilhamento de todas as atividades da cooperativa, incluindo habitação, alimento, educação dos filhos, etc.;

- o MOSHAV, que é uma comunidade de agricultores, cada um dirigindo a sua granja ou unidade de produção, e o cooperativismo é praticado somente nas operações de compra e venda;

- o MOSHAV SHITUF, que abrange uma área de propriedade do Estado, constituindo uma região ocupada na forma de empresa agrícola, mas de exploração comum pelos seus habitantes. A cooperativa funciona como se fosse uma aldeia, com vida e administração próprias. A renda gerada neste sistema é distribuída às famílias segundo as suas necessidades.

3.4. Atualidade

Segundo a ACI – Aliança Cooperativa Internacional – dados de 2008 obtidos na EXPOCOOP, em Portugal revelam alguns dados referentes ao cooperativismo em alguns países:

- na Argentina, existem mais de 17.941 sociedades cooperativas com 9,1 milhões de associados; - na Bélgica, havia 29.933 sociedades cooperativas em 2001;

- no Canadá, quatro em cada dez canadenses são membros de pelo menos uma cooperativa. Em Quebec, aproximadamente 70% da população são cooperados membros, em Saskatchewam, enquanto 56% são membros;

- na Colômbia, mais de 3,3 milhões de pessoas são membros de cooperativas ou 8,01% da população;

- a Costa Rica conta com mais de 10% da sua população, como membros de cooperativas;

- na Finlândia, S-Grupo tem uma composição de 1.468.572 indivíduos que representam 62% das famílias finlandesas;

- na Alemanha, existem 20 milhões de membros de cooperativas, 1 em cada 4 pessoas;

- na Indonésia, 27,5% de famílias representando cerca de 80 milhões de indivíduos são membros de cooperativas;

- no Japão, 1 em cada 3 famílias é membro de uma cooperativa;

- no Quênia, 1 em cada 5 é membro de uma cooperativa, ou 5,9 milhões e 20 milhões de quenianos e direta ou indiretamente derivar suas vidas a partir do movimento cooperativo;

- na India, mais de 239 milhões de pessoas são membros de uma cooperativa;

- na Malásia, 5,9 milhões de pessoas, ou 24% do total da população são membros de cooperativas; - na Nova Zelândia, 40% da população adulta são membros de cooperativas e mútuas;

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4. Nascimento de uma GRANDE IDÉIA

Através do tempo o homem conquistou seu próprio espaço. Criou a máquina manual e, logo após, a máquina a vapor, quando se iniciou o processo industrial.

Em meados do século XVIII surgiu a chamada Revolução Industrial. A mão-de-obra perdeu poder de troca. Os baixos salários e a longa jornada de trabalho trouxeram muitas dificuldades socioeconômicas para a população.

Diante desta crise surgiram, entre a classe operária, lideranças que criaram associações de caráter assistencial. Esta experiência não teve resultado positivo.

Com base em experiências anteriores buscaram novas formas e concluíram que, com uma organização formal, chamada COOPERATIVA, com a participação dos interessados, as dificuldades poderiam ser superadas, desde que fossem respeitados os calores do ser humano e praticadas regras, normas e princípios próprios.

Reuniram-se 28 pessoas, a maioria tecelões. Discutiram, analisaram e avaliaram as idéias. Respeitaram os costumes e as tradições e estabeleceram normas e metas para a organização de uma cooperativa. Após um ano de luta acumularam um capital de 28 libras e conseguiram abrir as portas de um pequeno armazém cooperativo em ROCHDALE (Inglaterra), em 21/12/1844, com o nome de “ROCHDALE SOCIETY OF EQUITABLE PIONEERS” ou seja: Sociedade Rochdale dos Pioneiros Equitativos. E assim foi criada a primeira cooperativa de consumo, com base nos princípios cooperativos.

Primeira Cooperativa

Foto dos fundadores da Sociedade Rochdale dos Pioneiros Eqüitativos, a primeira cooperativa (Rochdale, Inglaterra)

4.1. Pioneiros de Rochdale, em 1844 1. Benjamim Jordan – Ajudou a alugar o armazém. 2. Benjamim Rudman – Tecelão.

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Secretário da Cooperativa.

4. David Brooks – Estampador e encarregado das compras. 5. George Herley – Chapeleiro.

6. James Banford – Conselheiro eleito em 13/08/1844.

7. James Daly – Influente no comitê de tecelões de flanela a favor da criação da cooperativa. 8. James Maden – Tecelão de flanela.

9. James Manoch – Tecelão de flanela.

10. James Smithies – Classificador de lã e guarda-livros. 11. James Standrind.

12. James Tweedale – Fabricante de tamancos, socialista e quinto Presidente. 13. James Willkinson – Ajudou a alugar o armazém.

14. John Bent – Alfaiate, socialista e um dos primeiros integrantes do Conselho Fiscal. 15. John Collier – Mecânico, socialista, exercendo a função de conselheiro várias vezes. 16. John Garsid – Marceneiro.

17. John Holt – Primeiro tesoureiro. 18. John Hill.

19. John Kershaw – Guarda de armazém de uma mina de carvão. 20. John Sconcroft – Vendedor ambulante.

21. Joseph Smith – Separador de lã. Integrou a primeira comissão de compras. 22. Miles Ashworth – Tecelão de flanela e primeiro Presidente.

23. Roberto Taylor – Organizador de vendas de livros e revistas.

24. Samuel Ashworth – Tecelão de flanela, primeiro gerente e ocupou o cargo por 22 anos. 25. Samuel Tweedale – Tecelão e primeiro conferencista.

26. Willian Cooper – Tecelão de flanela, socialista e primeiro caixeiro. 27. Willian Mallalieu.

28. Willian Taylor – Tecelão e um dos primeiros a acreditar e a ingressar no movimento.

Alguns autores falam de Ana Tweedale como única mulher que apoiou o grupo, ajudando a conseguir o local onde funcionou a cooperativa.

5. Princípios do Cooperativismo

Os princípios do Cooperativismo foram criados, estudados e avaliados por líderes e pensadores, com ideais baseados na cooperação. Estas princípios foram aprovados e colocados em prática quando da fundação da primeira cooperativa formal do mundo, na Inglaterra, em 1844.

Com a evolução e a modernização do Cooperativismo e da economia mundial, os princípios cooperativistas foram reestruturados e adaptados à realidade do mundo atual, com a seguinte definição:

● 1º Princípio – ADESÃO VOLUNTÁRIA E LIVRE

Em regra geral, todas as pessoas têm liberdade de associar-se a uma cooperativa. Ser associado é uma decisão individual e independente da etnia, posição social, cor, política partidária e credo religioso. Na conjuntura atual há alguns critérios de adesão:

a) conhecer a doutrina, filosofia e os princípios cooperativistas;

b) conhecer os objetivos, o estatuto e a estrutura da cooperativa;

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c) conhecer os direitos e deveres do associado;

d) ter o firme propósito de ser um associado fiel, atuante e participativo;

e) ser um empreendedor e acreditar na cooperativa, pois será dono, junto com outros. Restrições:

- interesses conflitantes – atividades paralelas; - impossibilidade técnica de prestação de serviços.

Cada cooperativa tem estatuto e regimento interno com normas quanto à adesão de novos associados.

● 2º Princípio – GESTÃO DEMOCRÁTICA

A cooperativa é administrada conforme a vontade dos associados. São eles que definem as prioridades com base nas necessidades e objetivos estabelecidos.

São os associados que elegem diretores e conselheiros com igualdade de votos – uma pessoa = 1 voto. As decisões são tomadas em assembléias gerais, órgão supremo da cooperativa. ● 3º Princípio – PARTICIPAÇÃO ECONÔMICA DOS ASSOCIADOS

Os associados integralizam o capital social da cooperativa, mediante quotas-parte. Os membros contribuem equitativamente para o capital das cooperativas e a controlam democraticamente. Parte desse capital é, normalmente, propriedade comum da cooperativa. Os membros destinam os excedentes a uma ou mais das seguintes finalidades:

◊ desenvolvimento das suas cooperativas, eventualmente pela criação de reservas, parte das quais, pelo menos, será indivisível;

◊ retorno de benefício aos membros na proporção das suas transações com a cooperativa; ◊ apoio a outras atividades aprovadas pelos membros.

● 4º Princípio – AUTONOMIA E INDEPENDÊNCIA

As cooperativas são empreendimentos autônomos, controlados por seus associados, que devem decidir sobre suas atividades, definir sua missão, objetivos e metas. Não há interferência governamental nas decisões.

● 5º Princípio – EDUCAÇÃO, FORMAÇÃO E INFORMAÇÃO

Este princípio objetiva o desenvolvimento cultural e profissional do associado e da sua família. A formação, a capacitação e a constante requalificação de associados, diretores, conselheiros, líderes e funcionários (colaboradores) são os objetivos desse princípio. A informação transparente das atividades da cooperativa, a divulgação da Doutrina, da Filosofia e dos Princípios Cooperativistas são caminhos para o sucesso.

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● 6º Princípio – COOPERAÇÃO ENTRE COOPERATIVAS

Se os associados se ajudam mutuamente, as cooperativas deverão fazer o mesmo. Só assim haverá um crescimento econômico, cultural e social dos associados e do Sistema Cooperativo.

Na era da globalização, a integração é a chave do sucesso. As cooperativas só serão eficientes se agregarem qualidade, produtividade e economia de escala nos serviços.

● 7º Princípio – INTERESSE PELA COMUNIDADE

As cooperativas contribuem para o desenvolvimento da comunidade com a geração de empregos, produção, serviços e preservação do meio ambiente, mediante políticas aprovadas pelos seus associados.

5.1. Símbolo do cooperativismo brasileiro Círculo – eternidade da vida. Não há princípio nem fim. Pinheiro – imortalidade, perseverança e fecundidade. Verde escuro – plantas e folhas. O princípio vital da natureza.

Amarelo – o sol, fonte de luz riqueza.

Dois pinheiros – a necessidade de união e cooperação.

5.2. Bandeira do cooperativismo mundial

A bandeira do Cooperativismo, com as cores do arco-íris, foi criada pela ACI, em 1923. O Conselho de Administração da ACI em sua reunião, na cidade de Roma, em abril de 2001, concordou em alterar a bandeira. O motivo da alteração foi promover e consolidar claramente a imagem cooperativa, já que a mesma bandeira era usada por grupos não cooperativistas, o que causou confusões em diversos países.

A bandeira que substitui a tradicional é de cor branca e leva impressa o logotipo da ACI no centro, de onde emergem pombas da paz. O significado das cores indica:

- vermelho: coragem;

- alaranjado: visão de futuro; - amarelo: família e comunidade;

- verde: crescimento como pessoa e como associado; - azul: necessidade de apoias os menos afortunados; - anil: auto e mútua-ajuda;

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5.3. Dia do Cooperativismo

O Dia Internacional do Cooperativismo foi instituído em 1923 no Congresso da Aliança Cooperativa Internacional (ACI), sendo a partir de então comemorado no primeiro sábado de julho de cada ano.

5.4. Valores do Cooperativismo

As cooperativas baseiam-se nos valores de ajuda mútua, responsabilidade, democracia, igualdade, equidade e solidariedade.

Conforme os seus pioneiros, o Cooperativismo acredita nos valores éticos de honestidade, transparência, responsabilidade social e preservação do ambiente para o desenvolvimento sustentável.

5.5. Áreas de ação da Cooperativa

Na elaboração ou reformulação do estatuto é definida a área de ação da cooperativa, podendo ser um ou mais municípios. Isto dependerá de um estudo de viabilidade econômica, assim como da decisão do quadro social.

Quando a área de ação é muito grande, podem ser criados entrepostos que vão atender às necessidades dos associados da área de cada entreposto. A estrutura é baseada na produção, serviços e resultado econômicos viáveis. O entreposto geralmente é administrado por um gerente, profissional responsável e de confiança da diretoria, que irá reportar-se diretamente a ela. Nas comunidades onde se localizam os entrepostos, costumam surgir associados com potencial de liderança. Estas pessoas contribuem expressivamente para o bom funcionamento do entreposto.

Quando o líder á ativo, poderá motivar os demais associados a criar na comunidade um comitê educativo ou órgão similar. A liderança positiva traz resultados benéficos para a cooperativa e para os associados que dela fazem parte.

6. Ramos do Cooperativismo

As cooperativas são classificadas em ramos, de acordo com o segmento onde atuam.

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6.1. Agropecuário

Composto por cooperativas de produtores rurais ou agropastoris e de pesca, cujos meios de produção pertençam ao associado. É um dos ramos com maior número de cooperativas e associados no Brasil. O leque de atividades econômicas, abrangidas por esse ramo é enorme e sua participação no PIB é significativa. Essas cooperativas geralmente cuidam de toda a cadeia produtiva, desde o preparo da terra até a industrialização e comercialização dos produtos.

6.2. Consumo

Composto por cooperativas dedicadas à compra em comum de artigos de consumo para seus associados. A primeira cooperativa do mundo era desse ramo e surgiu em Rochdale, na Inglaterra, no ano de 1844. Também no Brasil, em Minas Gerais, com o nome de Sociedade Cooperativa Econômica dos Funcionários Públicos de Ouro Preto.

6.3. Crédito

Composto por cooperativas destinadas a promover a poupança e financiar necessidades ou empreendimento dos seus associados. O ramo está organizado em cooperativas de crédito rural, crédito mútuo e crédito Luzzatti (As cooperativas do tipo

Luzzatti, os chamados bancos populares, foram idealizadas

por Luigi Luzzatti, político, escritor e professor universitário, que publicou, em 1863, A difusão do crédito e o Banco

Popular, obra em que expôs suas idéias a respeito do cooperativismo de crédito. A cooperativa mais antiga em funcionamento no Brasil é a Cooperativa de Nova Petrópolis Ltda. – SICREDI PIONEIRA -, no Rio Grande do Sul, que completou, em 2002, cem anos de existência.

6.4. Educacional

Composto por cooperativas de professores, por cooperativas de alunos de escola agrícola, por cooperativas de pais de alunos e por cooperativas de atividades afins. Este é um ramo que surgiu

em Itumbiara (Go), em dezembro de l987. 6.5. Especial

Composto por cooperativas constituídas por pessoas que precisam ser tuteladas ou que se encontram em situação de desvantagem nos termos da Lei 9.867, de 10 de novembro de 1999.

6.6. Habitacional

Composto por cooperativas destinadas à construção, manutenção e administração de conjuntos habitacionais para seu quadro social. O maior complexo de construção do Ramo Habitacional no mundo, fica em Águas Claras, no Distrito Federal.

6.7. Infra-estrutura

Composto por cooperativas cuja finalidade é atender direta e prioritariamente o próprio quadro social com serviços de infraestrutura.

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As cooperativas de eletrificação rural, que são a maioria, geralmente são repassadoras de energia, mas algumas já passaram a gerar energia. Nesse ramo também estão incluídas as cooperativas de telefonia rural.

6.8. Mineral

Composto por cooperativas com a finalidade de pesquisar, extrais, lavrar, industrializar, comercializar, importar e exportar produtos minerais.

6.9. Produção

Composto por cooperativas dedicadas à produção de um ou mais tipos de bens e mercadorias, sendo os meios de produção propriedade coletiva, mediante a cooperativa como pessoa jurídica, e não propriedade individual do associado.

6.10. Saúde

Composto por cooperativas que se dedicam à preservação e recuperação da saúde humana. O ramo de Saúde está subdividido nos seguintes setores: Médicos, Psicólogos, Odontólogos e serviços afins, bem como usuários desses serviços. Esse ramo surgiu no Brasil, na cidade de Santos (SP), no dia 18 de dezembro de 1967 e se estendeu a outros países.

6.11. Trabalho

Composto por cooperativas de trabalhadores de qualquer categoria profissional, para prestar serviços, organizados num empreendimento próprio.

6.12. Transporte

Composto por cooperativas que atuam no transporte de cargas e de passageiros, foi criado pela AGO da OCB no dia 30 de abril de 2002. É um ramo recente e muito dinâmico, com boas perspectivas de crescimento.

6.13. Turismo e Lazer

Composto por cooperativas que prestam serviços turísticos, artísticos, de entretenimento, de esportes e de hotelaria, ou atendem direta e prioritariamente o seu quadro social nessas áreas, foi criado pela AGO da OCB no dia 28 de abril de 2000. Seu objetivo é criar um fluxo e refluxo permanente de turistas dentro do sistema cooperativo. Enfim, para concluir: há cooperativismo para tudo e para todos. Basta utilizar a criatividade, ter ousadia e visão de futuro, estudar a viabilidade e, principalmente, constituir a cooperativa por associados que acreditem neste tipo de empreendimento. As privatizações e serviços terceirizados criam oportunidades favoráveis para a constituição de cooperativas.

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7. Adesão de novos associados – “Um compromisso sério”

Segundo os Princípios do Cooperativismo, o ingresso das pessoas numa cooperativa é livre a todos que desejam fazer uso dos serviços prestados pelo empreendimento cooperativo, desde que atendam aos pré-requisitos legais, estatutários e ao regimento interno. Cabe à Diretoria Executiva analisar e avaliar minuciosamente a proposta de adesão de cada candidato.

A realização de cursos sobre cooperativismo, o estudo da legislação cooperativista, a análise do estatuto e do regimento interno, o conhecimento da estrutura e do funcionamento da cooperativa, dos direitos e dos deveres do associado, são pré-requisitos para uma adesão consciente.

A liberdade de expressão, a criatividade, a compreensão, a troca de idéias em busca da modernidade devem estar presentes na cooperativa, pois assim se fortalece o empreendimento cooperativo.

É importante não esquecer o lado humano, pois cada pessoa tem emoções, sentimentos, s onhos e idéias que precisam ser valorizados para que o associado se sinta importante.

O associado deve ser reconhecido, levando em consideração seus valores morais, culturais e qualidades que fazem parte da sua personalidade.

A cooperativa que tem o seu quadro social organizado, participativo e fiel, tem também assegurado o sucesso em seus empreendimentos, pois associados infiéis, oportunistas, acomodados e não participativos prejudicam o bom desenvolvimento da cooperativa.

7.1. Grau de parentesco

Todos os associados têm o direito de votar e de serem votados; porém, na composição das chapas para o Conselho de Administração, de Ética e Fiscal, deve-se respeitar a legislação cooperativista, artigo 51, parágrafo único e artigo 56, § 1º e § 2º, que não permitem a existência de parentes até 2º grau, em linha reta ou colateral entre membros desses órgãos da cooperativa.

O esquema abaixo permite mostrar os parentes ascendentes e descendentes em linha reta ou colateral.

Exemplo: pai e filho são parentes em 1º grau; avô, irmão e neto, são parentes em 2º grau; bisavô, tio, sobrinho e

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8. Diretores, conselheiros e funcionários

Exemplo do sistema administrativo - organograma

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9. Público interno

Nos capítulos anteriores, vimos que os associados, os dirigentes, os conselheiros e os líderes devem vivenciar a doutrina e a filosofia cooperativista. Da mesma forma os funcionários devem pertencer a este grande time cooperativista, unidos pelo respeito, honestidade e solidariedade.

Os cargos de confiança, como superintendente, gerentes e assessores são contratados pela administração e merecem uma seleção criteriosa. É recomendável que sua admissão seja aprovada pela diretoria e também que a formação profissional seja coerente com a atividade que vão exercer, sendo conveniente que os candidatos tenham experiência em administração de empresas bem sucedidas.

10. Público externo

Público externo são os clientes da cooperativa, ou aqueles que adquiriram seus serviços ou produtos. A qualidade e o profissionalismo nos serviços fazem a diferença e garantem o bom andamento da cooperativa.

Segundo Roberto Rodrigues, ex-presidente da OCB e da ACI, “é preciso ser competitivo e eficiente para vencer a guerra por mercados. Se ineficientes, as cooperativas desaparecerão e aí, além de desampararem seus associados, deixarão de gerar empregos e ajudar a comunidade. Portanto, o cumprimento da função social depende da excelência da função econômica, o que não contraria a doutrina cooperativista, que é a correção do social por meio do econômico. Mas acentua-se a necessidade da visão empresarial da cooperativa, da boa administração profissional, austera e correta, na direção de prestar serviços demandados pelos associados ao menor custo possível, dando-lhes condições de competir também enquanto indivíduos”.

11. Demissão, eliminação e exclusão de associados

11.1. Demissão

A demissão ocorre quando o associado de livre e espontânea vontade requer, por escrito, seu pedido de afastamento da cooperativa, sendo que este não poderá ser negado pela administração, desde que o associado esteja em dia com as suas obrigações.

11.2. Eliminação

Será sempre realizada por decisão e aprovação do Conselho de Administração, por desrespeito à lei, ao estatuto ou às normas internas da cooperativa. Os motivos de eliminação devem constar no livro de matrícula.

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11.3. Exclusão

Ocorre por dissolução da pessoa jurídica, por morte da pessoa física, por incapacidade civil não suprida ou por deixar de atender aos requisitos estatutários de ingresso ou permanência na cooperativa.

Tanto na demissão, na eliminação ou na exclusão o associado tem direito à restituição do capital integralizado, que só acontecerá após a realização e aprovação do balanço do exercício pela Assembléia Geral do respectivo ano.

12. O Estatuto Social

O Estatuto Social é o conjunto de normas que regem funções, atos e objetivos de determinada cooperativa, e é elaborado com a participação dos associados, para atender às necessidades da cooperativa e de seus associados.

O Estatuto Social deve obedecer a um determinado padrão, mas não convém copiar o estatuto de uma outra cooperativa, pois a área de ação, assim como os objetivos e metas diferem uma da outra. É direito e dever de cada associado possuir o Estatuto Social da sua cooperativa, conhecer o conteúdo de todas as normas e regras estabelecidas e aprovadas em Assembléia Geral, quando da constituição da cooperativa ou reforma estatutária.

O seu conteúdo baseia-se na Doutrina, Filosofia, Princípios do Cooperativismo e na legislação específica para cooperativas – Lei 5.764/71 – cujos capítulos versam sobre:

# denominação, sede, foro, prazo de duração, área de ação e ano social; # metas, missão e objetivo;

# admissão, eliminação e exclusão dos associados; # capital social;

# assembléia geral ordinária e extraordinária; # conselho de administração;

# conselho fiscal; # conselho de ética: # eleições;

# voto;

# balanço, despesas, sobras, perdas, fundos; # livros;

# dissolução e liquidação;

# disposições gerais, transitórias;

# outros de interesse da sociedade cooperativa desde que não transgridam a lei cooperativista. O Estatuto Social existe para ser conhecido, pois o conhecimento e o cumprimento do seu conteúdo é do interesse do associado.

13. Empreendimento cooperativo X Empresa mercantil

É importante observar as diferenças marcantes entre os empreendimentos cooperativos e as empresas mercantis o que pode ser observado no quadro abaixo:

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EMPREENDIMENTO COOPERATIVO

EMPRESA MERCANTIL É uma sociedade simples, regida por legislação

específica

Sociedade de capital - ações Número de associados limitado a capacidade de

prestação de serviços podendo, no entanto, ser ilimitado

Número limitado de sócios

Controle democrático, reconhecimento das manifestações da maioria – cada pessoa um voto

Cada ação – um voto

Objetivo: prestação de serviços Objetivo: lucro Assembléia- “quórum” baseado no número de

associados

Assembléia- “quórum” baseado no capital Não é permitida a transferência de quotas-parte

a terceiros

É permitida a transferência e a venda de ações a terceiros

O retorno dos resultados é proporcional ao valor das operações

O dividendo é proporcional ao valor total das ações

14. Participação do associado na vida da cooperativa

A cooperativa torna-se forte quando os associados assumem e usufruem dos seus serviços, pois ela é a extensão de sua atividade.

A participação dos associados no empreendimento cooperativo se dá de forma organizada e com muita responsabilidade, onde todos devem assumir o papel de verdadeiros donos, tendo em mente que a cooperativa não é uma casa de caridade, nem simplesmente uma casa de comércio, e sim uma prestadora de serviços aos associados, com objetivos econômicos, sociais e culturais.

A presença e a participação na busca de conhecimentos, qualificação e profissionalismo fazem parte do objetivo cultural da cooperativa. Esta busca do saber propicia um crescimento pessoal e facilita a descoberta de valores e talentos. É nesta fase que surgem os verdadeiros líderes, capazes de assumir as funções de administração e fiscalização.

A participação torna-se mais clara, quando estabelecidos os direitos e deveres do quadro social.

DIREITOS DEVERES

Votar em todos os assuntos da Assembléia Geral Ser um associado exemplar Participar de todas as operações e serviços prestados pela

cooperativa

Operar com a cooperativa Solicitar esclarecimentos ao Conselho de Administração e

Conselho Fiscal quando houver dúvidas

Participar das assembléias, opinar e votar Receber as sobras na proporção das operações realizadas

durante o exercício

Integralizar as quotas-partes em dia

Oferecer sugestões Respeitar as decisões tomadas coletivamente

Participar dos comitês educativos ou de comissões Conhecer e cumprir o estatuto, os regulamentos e as normas da cooperativa Solicitar demissão do quadro social Saldar seus compromissos financeiros

Zelar pelo bom nome e patrimônio da cooperativa

Referências

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