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Mudança do Uso da Terra (MUT) para Produção de Soja no Estado do Rio Grande do Sul (RS)

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Academic year: 2021

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Mudança do Uso da Terra (MUT) para Produção de Soja no Estado do

Rio Grande do Sul (RS)

R.B.ZORTEA1, V.G.MACIEL2, W.MENEZES2, M.SEFERIN2, L.F.A.CYBIS3

1 IFSUL – Instituto Federal Sul-riograndense

Av.Copababana, 100 – Sapucaia do Sul/RS, e-mail: rafael@sapucaia.ifsul.edu.br 2PUC-RS – Pontifícea Univerdade Católica do Rio Grande do Sul Av. Ipiranga, 6681 – Porto Alegre/RS

3UFRGS – Universidade Federal do Rio Grande do Sul Av. Bento Gonçalves, 9500 – Porto Alegre/RS.

Sendo um dos impactos ambientais de maior preocupação atualmente, as emissões de gases de efeito estufa (GEE) influenciam futuras tomadas de decisão. Dentro desta preocupação, encontra-se o processo de crescimento da produção de biodiesel de soja no Brasil, e no RS. Baseado nisso, a quantificação das emissões de GEE da cultura da soja e seus prováveis impactos passam pela realização de um inventário que contemple a realidade desta região o mais próximo da sua realidade. Assim, buscou-se rastrear como a cultura da soja se comportou durante os últimos 20 anos no RS. Durante esta busca verificou-se um crescimento desta cultura predominantemente sobre lavouras temporárias, o que repercute numa quantificação diferente do que é apresentada nos inventários atuais que apresentam um avanço sobre florestas. Neste caso o trabalho em questão verificou que as emissões de GEE provenientes da mudança do uso da terra (MUT) a partir da metodologia Tier 1 sugerida pelo IPCC ocorreu em somente 15,4% da área em que a soja avançou nestes últimos 20 anos. Por fim, o trabalho sugere discussões futuras para metodologias que contemplem o avanço da soja sobre áreas de várzea conforme evidenciado neste estudo.

1. Introdução

Acompanhando o movimento mundial, o Brasil dirigiu sua atenção a projetos destinados à pesquisa de biodiesel como alternativa em substituição ao Diesel. A partir de 2004 com o lançamento do Programa Nacional de Produção e Uso do Biodiesel (PNPB), este combustível apresentou significativos avanços de produção. Vale destacar, que apesar de existirem diferentes fontes de triglicerídeos que podem ser usadas para produzir o biodiesel, por questões de estrutura e oferta de mercado é o óleo de soja que se destaca como principal matéria-prima, respondendo por 80,4% (ANP, 2013).

O RS é o terceiro maior produtor de soja do país, o que o coloca em situação de grande relevância no cenário mundial. A safra brasileira de 2012/13 aponta para uma produção recorde de 81.456,7 milhões de toneladas, representando um aumento de 22,7% em relação à safra 2011/12 (CONAB, 2013a), consolidando o Brasil como maior produtor mundial. A fim de reforçar a importância do RS no cenário mundial, tomando como base o ano de 2011 a produção

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do RS foi superior a do Paraguai sexto maior produtor mundial (IBGE, 2013; FAOSTAT, 2013).

A avaliação da intensidade de emissões GEE proveniente do plantio de uma determinada cultura é complexa e os resultados podem variar principalmente se as mudanças do uso da terra (MUT) forem contabilizadas. Estudos demonstram que a substituição da vegetação natural por um novo cultivo de plantas com finalidades energéticas, pode reduzir de forma consistente a fixação de carbono. Desta forma, o benefício ambiental da captura dos GEE pode ser minimizado em relação ao uso de combustíveis fósseis (CHERUBINI, 2010; GRISOLI, et al 2012; CASTANHEIRA e FREIRE, 2013).

Este trabalho apresenta os resultados do cálculo das emissões de GEE proveniente da MUT no RS, relacionada à expansão do cultivo da soja. A metodologia adotada seguiu as premissas do IPCC (2006a), e o histórico do avanço da soja sobre as diferentes categorias de uso da terra foram rastreados a partir de fontes oficiais nacionais e consulta a profissionais da área, a fim de descrever a origem das áreas sobre as quais a soja avançou nos últimos 20 anos.

2. Metodologia

O Guia Nacional para Inventário de GEE do IPCC (2006a) propõe três tipos de abordagem metodológicas, chamadas de tiers, para determinar os dados de atividades e os fatores de emissão. As emissões de GEE provenientes da alteração dos estoques de carbono devido a MUT foram calculadas seguindo o Tier1. Devido a falta de fatores de emissão específicos do RS, adotou-se valores padrão (defaut) (Tier1) sugeridos pelo IPCC (2006a) para a região de clima temperado quente úmido e tipo de solo argiloso de baixa atividade, sistema de plantio direto, conforme preconizado por Comissão Europeia (2010) e adotado por outros estudos (CASTANHEIRA e FREIRE, 2013; GRISOLI, NOGUEIRA, et al 2012) para a localização geográfica em que o RS se encontra. Entretanto, para implementação desta metodologia, um estudo da ocupação da soja no estado do RS no período entre as safras 1992/93 a 2012/13 foi realizado.

Desta forma, foram utilizados dados oficiais do Uso da Terra no RS, (IBGE, 2010), Censo Agropecuário (IBGE, 2013), Séries Históricas do Milho, Arroz e Soja da Compania Nacional de Abastecimento (CONAB, 2013b), relatório de estimativa de safra de arroz 2013/2014 do IRGA (2013a, 2013b) e Anuários das Culturas da Soja e Arroz (KIST, et al 2003; SANTOS et al, 2013) para estimar as transições (pastagem-lavoura), bem como o avanço da soja sobre áreas destinadas a outras culturas. A Figura 1 apresenta o fluxo do estudo realizado para estimar a expansão da soja nos últimos 20 anos e empregado para definir os cenários abordados neste estudo.

Devido à falta de informações sobre o estado de conservação das áreas de pastagem antes da substituição pelas lavouras de soja, cenários foram abordados a partir de três referencias de estados de conservação das pastagens (R1, R2, R3). O cenário 1 (C1) representa o melhor caso de conservação (R1), onde toda a área de soja provém de uma área de pastagem melhorada com alta conservação, por conseguinte esta área possui uma grande quantidade de carbono armazenado, que quando submetido a um novo regime de gestão resulta em relevantes

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perdas de carbono. O cenário 2 (C2) apresenta um cenário mais conservador onde o estado de conservação das áreas de referências é de degradação moderada (R2). O cenário 3 (C3), apresenta dados extremos do cenário 1, e a área de soja provém de áreas de pastagem com severa degradação (R3), e pouco teor de carbono armazenado. Também, para fins de comparação com outros estudos, o cenário 4 (C4) é proposto, onde a variável A tem valor igual a 1 e tem origem em áreas de florestas (R4).

Figura 1. Fluxo do estudo empregado para estimar a MUT para cultivo da soja no RS.

3. Resultados e Discussões

A área plantada de soja registrou um aumento de 49% entre 1992-2013, segundo dados da CONAB (2013b). De forma a associar este acréscimo de área de soja com as reduções de área com outros usos da terra recorreu-se ao Censo Agropecuário 1920/2006 (IBGE, 2013). Conforme pode ser observado na Erro! Fonte de referência não encontrada., houve uma diminuição das áreas de pastagem e aumento das áreas de lavouras e matas. Logo se pode concluir que o avanço da área de lavouras ocorreu sobre áreas de pastagem.

Tabela 1.Uso do solo no estado do Rio Grande do Sul (hectares).

Uso do solo 1985 1996 2006 ∆ 2006-96 ∆ 2006-1985 Lavouras permanentes 183.784 208.993 294.187 85.194 110.403 Lavouras temporárias 6.408.301 5.426.369 6.611.395 1.185.026 203.094 Pastagens naturais 11.939.994 10.523.566 8.252.504 -2.271.062 -3.687.490 Pastagens plantadas 1.023.466 1.156.762 954.160 -202.602 -69.306 Matas naturais 1.664.612 1.881.493 2.269.334 387.841 604.722 Matas plantadas 567.848 630.138 778.524 148.386 210.676

Fonte: Adaptado de Censo Agropecuário 1920/2006 (IBGE, 2013)

Apesar do avanço das áreas de plantio de lavouras ter ocorrido sobre áreas de pastagens, o plantio de soja não avançou apenas em área de pastagem. Segundo dados do Instituto Riograndense do Arroz (IRGA), parte desta expansão ocorreu em lavouras de arroz (IRGA, 2013a, 2013b). Verificou-se isso, pois este plantio vem crescendo nos ultimos anos (KIST, 2003; SANTOS et al, 2003), e corresponde a 273 mil hectares, aproximadamente 6% da área total de soja na safra 2012/2013 (IRGA, 2013a, 2013b). Segundo dados do Anúario do Arroz

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2013, o plantio de soja em areas de arroz quadriplicou nos ultimos três anos, e há perspectivas de alcançar 300 mil hectares na safra 2014 (IRGA, 2013a, 2013b). Porém a área de plantio de arroz permaneceu constante nos últimos anos em, aproximadamente, 1 milhão de hectares (CONAB, 2013b). Dos 5,5 milhões de hectares de solos de várzea disponíveis no estado, somente 3 milhões de hectares acabam sendo explorados para o cultivo de arroz irrigado. No entanto, desta área explorada, dois terços é mantida em pousio, ou seja, não sendo cultivado o arroz. Portanto, são nestes locais que as culturais temporárias, principalmente milho e soja avançam (IBGE, 2010)(SANTOS et al, 2013).

Figura 2: Expansão da soja em 20 anos e origem da ocupação.

Segundo dados do IBGE (2010) a mudança da área de plantio do milho está ligado diretamente a soja, esta fortemente dependente do mercado internacional. A fim de comparar a modificação das áreas de soja e milho recorreu-se aos dados da CONAB de plantio destas culturas entre 1992-2013(CONAB, 2013b). Para este estudo foi considerado que toda a área de milho perdida foi transformada em soja e os dados da área plantada (CONAB, 2013b) corresponde à primeira safra. O milho safrinha foi desconsiderado por não ser concorrente da soja.

Figura 3.Variação dos estoques de carbono na referência e no uso atual em 20 anos e emissões (E) por cenário.

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O restante do avanço da soja ocorreu sobre áreas de pastagem, tornando-se importante diferenciar áreas de pastagem natural e pastagem plantada. A fim de calcular, recorreu-se ao Censo Agropecuário 1920/2006 (IBGE, 2013), para análise de dados entre 1985-2006 e 1996-2006, como apresentado na Erro! Fonte de referência não encontrada.. Ambos os períodos apresentaram redução das áreas de pastagem natural e plantada e aumento significativo de outros usos do solo. A partir destas informações considerou-se que a soja avançou sobre as áreas de pastagens naturais, considerando, para este trabalho, o pior caso. Um compilado do avanço da soja considerado neste trabalho é apresentado na Erro! Fonte de referência não encontrada.2, que apresenta um comparativo da área de soja em 1992 e a área plantada em

2013, assim como a origem desta ocupação em hectares. Pode-se observar que a área que corresponde a MUT representa 15,4% da área atualmente cultivável com soja.

Portanto, baseado nas informações da Figura 2 e tomando como base de cálculo da MUT as premissas colocadas na metodologia e a descrição da Figura 1, chegou-se aos resultados apresentados na Figura 3.

4. Conclusão

Este estudo tem como principal contribuição a rastreabilidade do avanço da soja no RS, ficando evidente, conforme pode ser observado na Tabela 1, que não houve avanço da cultura da soja sobre áreas de floresta, conforme colocam, por exemplo, Castanheira e Freire (2013). Segundo estes autores a substituição de florestas para dar lugar a lavouras em sistema de plantio direto no sul do Brasil produzem emissões de GEE da ordem de 8,06 t CO2 eq.ha-1.ano-1, valor

semelhante ao resultado obtido neste estudo (C4). Grisoli et. al.(2012) em seu estudo concluem também que não há avanço da soja sobre áreas de florestas, mas apenas sobre áreas de pastagens, mas estes autores não consideraram possíveis avanços da soja sobre outras culturas. A expansão da soja sobre áreas de arroz e milho é extremamente relevante e evidencia a influencia de fatores econômicos e sociais. Além disto, a área de arroz e milho juntas correspondem a 53 % da área expandida, contribuindo significativamente para diminuição das emissões GEE provenientes da MUT.

Com relação às lavouras temporárias, vale ressaltar o avanço em áreas de plantio de arroz. Neste caso, acende-se um alerta, já que o sistema de semeadura utilizado (microcamalhão) (SANTOS et al, 2013) não é contemplado pelo IPCC, inviabilizando a aplicação de metodologias de cálculo para estimar as emissões deste cultivo. Ressalta-se este ponto, pois o sistema de gestão e manejo para o plantio da soja em áreas de várzea contempla a necessidade de drenagem e remoção de terra atividades que possuem o potencial de provocar prováveis emissões ainda não conhecidas e, portanto, de difícil quantificação.

Por fim, este estudo sugere que ao se verificar um avanço da soja sobre lavouras temporárias e não sobre florestas, o resultado destas modificações sobre questões de aspectos sociais e econômicos devem obrigatoriamente ser reavaliados. Coloca-se está ideia, pois estes novos resultados de variáveis como renda, empregos, desenvolvimento dos municípios, entre outras acabam repercutindo numa dinâmica distinta do equilíbrio socioeconômico das áreas de avanço da soja avaliados neste estudo.

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Bibliografia

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Referências

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