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Técnicas indígenas descritas no Museu Nacional

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Técnicas indígenas descritas no Museu Nacional

PEDRO LIBANIO RIBEIRO DE CARVALHO*

Introdução

Esta comunicação tem por base minha pesquisa de pós-doutorado (Índios no Tombo: o Livro de Tombo como gênero discursivo, 2019) sobre a coleção elaborada por Edgar Roquette-Pinto na Comissão Rondon (Comissão de Linhas Telegráficas Estratégicas do Mato Grosso ao Amazonas [1907-1915]). Aqui me atenho mais especificamente às formas com que certos objetos e técnicas, co-nhecidas pelas populações indígenas e ribeirinhas do Norte e Centro-Oeste Bra-sil, foram descritos no Livro de Tombo do Setor de Etnologia e Etnografia (SEE) do Museu Nacional. A descrição dos itens no Livro de Tombo é o primeiro passo de uma narrativa científica posteriormente divulgada pela imprensa e em conferên-cias. Sobre tal ponto, observa-se que a narração de nação se modifica junto com a transformação de visão sobre o índio que é elaborada por meio dos artefatos. Para tanto, é necessário analisar as relações entre os diversos coletores do mate-rial e as formas de catalogação.

Para observar tais técnicas dentro do Tombo é preciso compreender que as coleções organizadas por Roquette-Pinto foram o início de uma nova sistemati-zação do conhecimento sobre populações indígenas e ribeirinhas da região, no contexto das reorganizações cíclicas das coleções (NASCIMENTO, 2009). A leitura do Livro de Tombo auxilia na apresentação das mudanças em relação ao estudo de grupos étnicos diversos. É preciso refletir sobre as relações entre a instituição e o colecionismo promovido por Roquette-Pinto e como tais peças coletadas se encaixam no discurso. É necessário ainda entender esses objetos como lugar de memória dos estágios do desenvolvimento social humano, conforme os dois discursos se aproximam e se distanciam: o da ciência e o da civilização dos

* Doutor em Memória Social, Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (Unirio), pós--doc vinculado ao Museu de Arqueologia e Etnografia da Universidade de São Paulo (MAE-USP).

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índios,1 e que essas culturas eram fadadas a acabar conforme sua aproximação

com a civilização.

Inicio o trabalho com uma breve explicação sobre o Livro de Tombo como gênero discursivo. Com o exame do Tombo do SEE, em diálogo com outros tex-tos, busco investigar as relações entre os intelectuais que coletaram e cataloga-ram o material e também as relações entre esses intelectuais e as teorias em que se baseavam. Há no Tombo e nos outros textos uma narrativa que, tal qual um rio, possui tributários e efluentes e se desdobra em muitas outras. O cerne da pesqui-sa se encontra na ideia de que o Livro de Tombo não é apenas um inventário de peças em um museu, mas uma forma de comunicação.

Para analisar as descrições do Livro de Tombo me balizei no esquema de classificação: artefato, matéria-prima, técnica e povos indígenas (MOTTA; OLI-VEIRA, 2006: XIII). Roquette-Pinto, por meio da coleção que realizou e das téc-nicas que descreveu, pretendia apresentar os índios do Mato Grosso em pro-cesso de integração. Observo como tais descrições de técnicas e artefatos são a materialidade de discursos da época. Assim, entendo que o livro Rondônia (ROQUETTE-PINTO, 1917) não é apenas um caderno de campo, mas um catálo-go de coleção (NASCIMENTO, 2009). Quanto a isso, é importante entender que a reorganização da ciência se reflete nos textos que trabalham essas culturas e suas técnicas. Nesta apresentação, utilizo alguns itens que podem ser cotejados com outros textos.

Para direcionar a leitura ao tema, apresento uma pequena conceituação do Museu Nacional, o Livro de Tombo e as coleções que são representadas. Desde a Casa dos Pássaros (final do século XVIII), o Museu Nacional participava de um projeto colonialista: produzir conhecimento para outros que não os nascidos no Brasil. A finalidade era municiar Portugal de informação cientifica sobre o país e seus possíveis produtos. Ainda que tenha ocorrido uma mudança de regime, de Colônia a Império, a instituição passa a ter a função de instruir o público, o que também faz parte do escopo dos museus coloniais. Entre as décadas de 1830 e 1840, discutiu-se educar a elite nas ciências naturais. Após a proclamação da República (1889), o museu passa a ter uma posição de destaque no esforço do conhecimento do território e das populações, embora tal projeto de nação ainda fosse colonialista. Ainda neste período, o Museu Nacional torna-se museu uni-versitário e subverte a antiga lógica da produção de conhecimento (BRULLON, 2018). Isso se deu por meio das coleções que foram elaboradas com base na mestiçagem de seus objetos de pesquisa, também de seus intelectuais e de uma razão reinventada nos trópicos. Faz-se necessário apontar que a antropologia,

1 A ciência era uma das tônicas da Comissão Rondon. Buscava-se o conhecimento científico do Brasil. O positivismo e o cientificismo eram parte importante do padrão socialmente partilhado pela elite intelectual republicana do período, tanto militar quanto civil. O que se aspirava era uma reorganização do país, a ciência traria a “intervenção civilizatória” desejada para o Brasil, pelo co-nhecimento da natureza de todas as regiões e dos homens que nelas habitavam. Dá a impressão de que tinham uma fé inabalável de que a ciência regularia a vida social em diversas áreas como educação, saúde, economia, entre outras, simplesmente pela lógica científica.

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como disciplina, mudava sua forma de análise: do evolucionismo e das relações entre raça e meio para a concepção de cultura como camada de sociedade que envolve o indivíduo. Brullon (2018) introduz a ideia de que havia algo de particu-lar nas elucubrações cientificas do Museu Nacional.

A Comissão Rondon doava todo o material de história natural, de arqueo-logia e de etnografia para o Museu Nacional. Em compensação, o museu dava à Comissão “legitimidade científica aos seus empreendimentos civilizatórios” (SANTOS, 2011: 89).

Revisão da Literatura - Metodologia

Uso a coleção como o fio condutor da apresentação. Assim, observo o pro-blema da transformação da antropologia e da etnografia enquanto ciências, por meio das descrições dos objetos colecionados para o museu. Também por meio da coleção etnográfica, analiso o Tombo como gênero discursivo. É na compara-ção entre descrições de itens, em diversos meios, que se fará o estudo da comu-nicação/divulgação institucional (dentro do museu como instituição de ciência) e pública (por meio da imprensa).

É preciso ressaltar que, até o incêndio de 2018, o setor de Etnologia e Etnografia do museu detinha um acervo de aproximadamente “42 mil objetos, dos quais 30 mil se relacionam com grupos indígenas brasileiros” (EWBANK, LIMA FILHO, 2017: 1). Durante a pesquisa de doutoramento fiz algumas cópias fotográficas de 11 volumes do livro de Tombo (323 imagens) e de 23 pastas de documentos (265 imagens) do Setor de Memória e Arquivo. As imagens são o

corpus do projeto de pós-doc. Nesses fragmentos é possível ter uma visão

abran-gente da reorganização elaborada por Roquette-Pinto e da troca de correspon-dência entre os intelectuais e funcionários do Museu Nacional. Assim, deve se ponderar certas nuances da antropologia do momento e do projeto de nação colocado em prática: ter maior quantidade de determinado artefato do que de outro significava poder trocar com outros museus. Por que, em certo momento, uma coleção é formada por mais adornos corporais do que flechas? Como essa diferença quantitativa pode auxiliar a entender o papel do coletor e as questões políticas e ideológicas subjacentes durante a coleta e a catalogação?

A compreensão das coleções etnográficas é o primeiro passo para examinar as modificações de antropologia e da etnografia enquanto ciências. Regina Abreu (2008: 49) apresenta uma pequena definição de patrimônio etnográfico: “[...] são constituídos de conjuntos de bens coletados por antropólogos para representar sistemas culturais específicos”. Em muitos casos, o coletor almeja uma visão glo-bal sobre a cultura. Em muitos aspectos, o coletor se preocupa com categorias nas quais possa encaixar os artefatos. Categorizar as coisas é uma forma de com-preensão do todo; Daniel Miller (2013; 73) salienta que nada é aleatório tanto na pesquisa quanto na cultura estudada. Sob esse ponto de vista, há sempre uma escolha, uma interpretação, na coleta e na pesquisa etnográfica. O coletor tem

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intenção e objetivos definidos que o norteiam, e isso é decisivo com relação ao que ele vai levar ao museu (ABREU, 2008: 52).

Roquette-Pinto, como dito, realizou uma reorganização da Seção de Etno-grafia e Etnologia, a partir de 1906, que passa pelo livro de Tombo do Museu Nacional. Os estudos sobre a cultura material estavam em franca expansão e fa-zem parte do começo da profissionalização da antropologia brasileira (GRUPIO-NI, 2008: 22). As coleções ainda eram compostas por peças por vezes desconexas e sem maiores informações sobre o seu uso (GRUPIONI, 2008: 26), criando, com isso, situações diferentes para o estudo. Com relação à Comissão Rondon em particular, observam-se as diferenças entre os coletores e como cada um forma sua coleção (por quantidade, por qualidade, por variedade, por influência do na-tivo, por influência da instituição, pela forma banal ou extraordinária com que ele mesmo lida com tal artefato etc.). Assim nota-se a dificuldade da sistematização das classificações (GRUPIONI, 2008), e, em determinados objetos, é possível ver a digital daquele que o coletou.

O bojo das ciências sociais da geração de Roquette-Pinto gravita ao redor da nacionalidade brasileira como objeto de estudo, tendo bases teóricas de seu tempo (o positivismo de Comte, o darwinismo social e o evolucionismo de Spen-cer) como ferramentas para a empresa (MURARI, 2007; ORTIZ, 2010). A discussão sobre raça era um dos tópicos da época, e seu foco estava em saber até que ponto a raça era influenciada pela genética e pelo meio que a circundava. Deve-se salien-tar que tal ponto funcionava com uma baliza para indagações, mas não era visto com escola de pensamento. A antropologia feita por Roquette-Pinto se encontra na transição das teses racistas do final do século XIX para a compreensão da cultu-ra como sociedade e tcultu-radição agindo sobre o indivíduo. Tcultu-ratar apenas da questão de raça ou tipo seria ignorar outros problemas que afligiam a intelectualidade da época (LIMA, SANTOS, COIMBRA JR., 2008; SANTOS, 2008, MURARI, 2007).

Continuando as indagações antropológicas do momento, grosso modo, o conceito de cultura da época comparava as diversas sociedades e grupos humanos tendo como parâmetro a sociedade europeia dos grandes centros como Londres, Paris ou Berlim. A comparação entre civilizações/culturas era também observada na criação e diversificação de ferramentas, de cultura material. Pode-se imaginar que, para a época, o maior exemplo de cultura seria o motor a explosão. Assim, compreendia-se que o homem seria igual em possibilidades, mas que a civilização/ cultura o emanciparia da influência do meio ambiente e do reflexo inconsciente. Sob tal contexto, as etnias indígenas são colocadas em perspectiva de grau de aproximação à civilização ocidental: Pareci mais próximos e Nhambiquara mais dis-tantes. Roquette-Pinto apresenta a ideia positivista do exemplo, como é percebido nessa passagem: “Tentei tirar um instantâneo da situação social, antropológica e etnográfica, dos índios da Serra do Norte, antes que principiasse o trabalho de decomposição que nossa cultura vai neles processando” (ROQUETTE-PINTO, 1917: XIV). Esse é um dado importante, visto que a cultura material de diversos etnias e populações eram estudadas em paralelo, como veremos mais à frente.

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Como é possível imaginar o Livro de Tombo como um gênero discursivo? O conceito de gênero discursivo é analisado pela função social daquele texto, por uma estrutura mais ou mesmo regular e por temáticas recorrentes (BAKHTIN 1997; MARCUSCHI, 2002). Em outros termos, o gênero discursivo é uma forma mais ou menos estável de comunicação, é uma forma de sistematizar a troca de informação. Gêneros são guias de comunicação, cada um possui características particulares e necessárias a sua compreensão. O gênero discursivo é importante para entender as relações entre o discurso, o texto e as circunstâncias sócio-his-tóricas do momento (GRILLO, 2005: 152) Os grupos moldam situações de inte-ração nos quais os gêneros discursivos são usados, o que aumenta a circulação de determinados enunciados, fazendo com que certos gêneros se tornem típicos desses grupos (MARCUSCHI, 2002; COSTA-HÜBES, 2014). Por serem fruto coleti-vo, sofrem modificações ao longo do tempo, mas mantêm identidades próprias (MARCUSCHI, 2002). Importante pensar que há rotinas sociais e condições de produção dentro do contexto cultural que auxiliam a compreensão, assimilação e que dão credibilidade ao gênero e ao discurso que ele carrega. Os grupos sociais regulam o gênero e são regulados por ele, funcionando de acordo com as singu-laridades de cada esfera social.

É importante refletir sobre como a reorganização da ciência se apresenta sob forma de descrição de culturas. Observa-se que ciência se modifica junto com a transformação de visão sobre o índio, elaborada a partir dos itens cole-tados sobre ele. O livro de Tombo não é apenas um inventário da entrada de peças em um museu, mas é também uma forma de comunicação, por isso, um gênero discursivo. Por ser fruto de um meio, o livro de Tombo deve ser lido com a atenção à informação e ao discurso que carrega. É necessário entender que o incêndio do Museu Nacional criou uma nova ordem para os textos de Roquette--Pinto e outros autores.

Resultados - Discussão

A coleção etnográfica também teve seu lugar no turbilhão do século XIX e início do XX, foi usada como ferramenta nos processos de desenvolvimento eco-nômico e industrial, de imperialismo, de colonialismo interno, ou para auxiliar a narração de histórias nacionais (SANTOS, 2019: 286; STOCKING Jr., 1985: 5). Em perspectiva, tais itens também serviram para comprovações de teorias evolucio-nistas, como a mensuração de uma cultura como processo evolutivo verificável.

Os textos de Roquette-Pinto não são iguais. O livro de Tombo e Notas sobre

os índios do Brasil central (ROQUETTE-PINTO, 1912) dão mais espaço à fabricação

de itens do que a seus usos, ainda que a mudança na antropologia seja percep-tível ao longo do tempo. Neste ponto, é importante ressaltar conexões entre os intelectuais, pois todos participam da criação coletiva do gênero discursivo livro de Tombo.

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A classificação de Roquette-Pinto no Tombo se restringia a duas colunas no-meadas, à direita, Número de Ordem, à esquerda, Objecto. Pode-se observar nas descrições dessa segunda coluna que muitos outros, além daquele que havia catalogado o item, auxiliavam no texto. Entendo que há uma narração coletiva dentro das descrições. A reorganização que Roquette-Pinto efetuou no livro de Tombo pode ser elaborada também como a reorganização de um gênero discur-sivo. A forma de escrita utilizada deve ser pensada também para interagir com a emissão da informação e para sua decodificação, ainda que leve em conta o pro-blema da falta de ordem e de classificação constatado por Grupioni (2008). A es-crita do Livro de Tombo, nesse momento, demonstra a força e a vontade de seus elaboradores. Sob a batuta de Roquette-Pinto, a descrição dos objetos seguia o conceito de registro no Tombo usado até hoje: “nome do objeto, data do objeto, data de entrada na coleção, forma de aquisição, nome do doador (quando for o caso), origem e procedência” (FELIX; PAZIN, 2012: 57). A catalogação e classifica-ção dos objetos ficava comprometida devido ao amadorismo do trabalho de co-leta etnográfica. A escrita das descrições dependia da quantidade de informação que chegava, em geral, por meio daquele que doava, que entregava fisicamente o material e participava da pesquisa.

Iniciando pela matéria-prima prosaica nas Américas, milho. O número de or-dem 2272 tem a descrição que segue o padrão mencionado: “Espiga de milho cultivado pelos Indios da Serra do Norte (Nhambicuaras) 2 – 910 – Tenente Fran-cisco de Lemos – Comissão Rondon” (LIVRO DE TOMBO I). O que mais poderia se saber sobre milho plantado pelos Nhambiquara? As informações deste registro são escassas: data da coleta, que o coletor é militar, a etnia, mesmo que não seja apresentada a subdivisão. A comunicação é alongada em outros textos, daí o motivo desta apresentação realizar o cotejo entre diversos textos coligados. Roquette-Pinto usa como condição de produção a ideia de inventário e catalo-gação, só que tal levantamento é sempre acrescido de informações ao longo do tempo. O que está no livro de Tombo e em Notas sobre os índios do Brasil central (ROQUETTE-PINTO, 1912) não é exatamente o que está mostrado em Rondonia (ROQUETTE-PINTO, 1917). Os dois primeiros apresentam a questão do estudo da cultura material, o autor entendia objetos como sendo costumes (SANTOS, 2019: 295). Estes textos informam que os índios plantam o vegetal e que o con-somem verde. Nas conferências realizadas na Biblioteca Nacional, publicadas no

Jornal do Commercio (ROQUETTE-PINTO, 1913) o no Correio da Manhã (1913), há

informações similares, mas acrescidas de que os índios fazem um tipo de chicha que não foi possível coletar. Rondonia (ROQUETTE-PINTO, 1917), por sua vez, vai além e informa que o milho é de uma variedade que tem o nome de branco, ou

saboró. A etnografia introduz a parcela da ciência da época. A agricultura deles

funciona não pelos métodos aplicados, mas devido ao fertilíssimo solo do vale do rio Juruena e da Serra do Norte (ROQUETTE-PINTO, 1917: 170). A alta capacidade de produção do solo provavelmente foi um dos motivos que manteve essa etnia vivendo naquele isolamento, dado que não precisavam vagar para muito longe

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à procura de terra. Rondonia ainda traz pontos importantes para a etnografia do momento na pergunta feita por von Martius – de onde veio o milho nhambiqua-ra? Não era endêmico da região. A hipótese levantada era de que veio com os nhambiquara ou seriam “espécies derivadas de outras que existem em estado nativo, com aspectos mui différentes, mascaradas por outros caracteres” (RO-QUETTE-PINTO, 1917: 170). Até aquele momento, não se sabia que o milho era nativo da região.

No Tombo, o item 1929 é descrito como breu dos Nhambiquara da região do rio Ji-Paraná [LIVRO DE TOMBO I]. A etnografia de Roquette-Pinto dá especial atenção ao preparo do item e, em Rondonia (ROQUETTE-PINTO, 1917: 185), a matéria-prima é explicada sucintamente como mistura de diversos ingredientes cozidos em fogo brando. Outro ponto salientado era o fato de ser estocado para uso posterior. As técnicas de estocagem, em pães (13235) ou em bolas (13213), envolto em folhas de palmeira, estavam catalogadas (ROQUETTE-PINTO, 1917: 185). Por terem uma cultura material considerada pobre, ou seja, com poucos instrumentos e ferramentas, a estocagem pode também ser interpretada como a indicação de uma civilização imanente destes índios. Essa é uma parte da “foto-grafia” que Roquette-Pinto tirou da situação desses índios.

Os usos do breu como cola envolvem outros artefatos e técnicas presentes na coleção Rondon. Em Notas... Roquette-Pinto descreve uma flecha catalogada sob o número de ordem 2206. Tem um conjunto de farpas fixadas por fios de tucum e breu, além de tubo de taquara como bainha. Como salienta o autor, lanças e setas envenenadas são conhecidas de longa data, mas “não conheço um só exemplo de flecha deste modo revestida” (ROQUETTE-PINTO, 1912: 42). Sobre esta flecha em particular há uma nota de pé de página que diz o seguinte: “No entanto, os Pare-cis afirmam que os Nhambiquaras envenenam suas flechas em ‘Erivan’, decocto de diversas plantas, entre as quais um Strichnos, reconhecido por F. C. Hoehne, botânico da Comissão Rondon” (ROQUETTE-PINTO, 1912: 38). A técnica que dife-renciava este artefato era de usar o veneno no breu e não na ponta.

A coleta e a catalogação também trazem para nós um pouco do coletor e de sua visão de mundo. Grande parte das peças provenientes da Comissão Rondon foi doada por Alípio de Miranda Ribeiro, em 1910, que, naquele momento, era zoólogo do Museu Nacional e trabalhava na exploração da bacia do rio Madeira. Sob o número de ordem 1925 é possível observar técnicas de pesca: “Planta de que se servem os índios Nhambiquaras para pescar envenenando as águas – rio Gy-Paraná Comissão Rondon – 8-VII-909 (A. M. Ribeiro)” [LIVRO DE TOMBO I]. Ainda que a descrição seja imprecisa, deve-se notar que a água não era envene-nada de fato, ela prosseguia potável. A forma de pescar era dificultar a respiração dos peixes para retirá-los da água com maior facilidade. E é aqui que se entende que o coletor se mostra dentro da coleção e que a comunidade científica elabora o gênero discursivo tombo. Por ser zoólogo especializado em peixes, Miranda Ribeiro analisa a cultura dos Nhambiquara com base em sua ocupação. É igual-mente necessário chamar a atenção para o fato de outros profissionais também

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trabalharem nas descrições com base em suas próprias especialidades. No núme-ro de ordem 1925, há um comentário a mão que diz “Tephnúme-rosia toxicaria (Hoeh-ne)” – o arbusto timbó-de-caiena. No entanto, em Rondonia a catalogação já in-forma que este “é leguminosa venenosa, espécie de Tingui” e que foi reconhecida por F. C. Hoehne e G. Kuhlmann, botânicos da Comissão Rondon. No livro de 1917, é dito que capturam os peixes em uma cesta de taquara ou do caule do cipó Titara (ROQUETTE-PINTO, 1917: 185). É no paralelo entre os textos que se percebe que o Tombo enquanto gênero discursivo era elaborado por iniciados que o modificam ao longo do tempo. Sendo assim, a catalogação se adensa e faz com que o próprio gênero se modifique.

Retomando à noção de fabricado, o número de ordem 2263 se mostra inte-ressante. É um tubo de taquara fechado com breu numa das pontas e com uma tampa feita de fios de algodão. A forma como abria e fechava demonstra técni-ca própria dos Nhambiquara, ou seja, não dava a impressão de que havia sido trazido ou copiado de qualquer outra etnia. Dentro do objeto encontrou-se um pó escuro. Devido ao exame que Álvaro Ozorio de Almeida, professor da Facul-dade de Medicina do Rio de Janeiro, fez nas flechas descartou-se a hipótese de ser veneno. Havia uma suposição de que fosse o paricá (Piptadenia peregrina), rapé comum a outas etnias. No entanto, é o último comentário sobre o pó de emprego desconhecido (ROQUETTE-PINTO, 1912: 37). Mesmo que não se tenha a descrição do artefato no Tombo, o apetrecho que está em Rondônia (figura 57) é definido da forma sucinta: “Tubo de taquara com pó escuro — índios da Serra do Norte” (ROQUETTE-PINTO, 1917: 123).

Outro objeto também chama atenção por motivo semelhante, o mistério de sua técnica. O número 5775 apresenta, nesta sequência, artefato (“instrumento cirúrgico”), etnia, (“dos Indios Nhmabiquara”), a empresa da coleta/coletor (“Ex-cursão Roquette Pinto”). Como informações complementares, a data “1912” e a referência a “Rondônia pág 133, fig 61” estão escritas a mão (LIVRO DE TOMBO, III). O item tem ali sua representação, cria-se uma ideia maior sobre o que ele é. Porém, o uso do objeto não é explicitado. A catalogação mostra a técnica sem função. Em Rondônia (ROQUETTE-PINTO, 1917: 133), a figura 61 mostra um tipo de tubo fino de madeira afilado da metade em diante. Nem a figura nem o texto do livro trazem qualquer descrição maior, como tamanho, espessura, diâmetro. Esse instrumento cirúrgico, pelo formato, pode ser o mesmo descrito como o que fura o septo nasal e os lábios das orelhas das crianças (1917: 166)? Só é informa-do que os furos são feitos a fogo. A cultura material é mais uma vez catalogada, e mais um artefato traz consigo a ideia de fenômeno cultural sem maiores escla-recimentos, dado que tal sociedade carecia de pesquisa aprofundada.

Outras técnicas devem ser observadas em sua catalogação, como mencionado anteriormente, muitos itens da Coleção Rondon são coletados por militares (sem qualquer treino sobre coleta de cultura material). Por falta de um estudo, o proble-ma da catalogação se encontra na representação ou descrição do objeto. O texto deixa a desejar e traz apenas determinados traços do artefato que pretende

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repre-sentar ou da etnia/população. Interessante observar os registros 5874 e 5875, doa-dos pelo médico da Comissão Rondon, o Dr. Tanajura, que podem ser analisadoa-dos tanto isoladamente quanto em conjunto. O primeiro artefato chama atenção pela sequência de representação e descrição: “Alpercata - feita de embira trançada, imi-tada dos civilizados, - Indios Urupás dos Rio Gy-Paraná – Col. Dr. Tanajura”, a data 1912 foi inserida a mão. O segundo item descreve a matéria-prima usada: “Maço de corda de embira – Col. Tanajura”, a etnia, Urupá, também foi escrita a mão (LIVRO DE TOMBO, III). Alguns fatos chamam a atenção, como a representação seguida da descrição, que traz a ideia positivista de exemplo para a evolução, uma vez que o sapato é imitado. O gênero discursivo é elaborado conforme a teoria amplamente divulgada, ele reflete a própria época e aqueles que o escreveram. A matéria-prima é catalogada em separado, mas a técnica de trançado não é descrita em nenhum outro texto encontrado até o momento na pesquisa.

Outros itens seguem a mesma ideia de catalogação e de ressignificação da técnica, também não são detalhados em textos posteriores. Uma das muitas pas-sagens pelo estado do Pará rende ao tenente Antonio Pyrinneus de Souza uma coleção no mínimo interessante. O militar coleta o que encontra por onde passa, e, assim, também se transforma em antropólogo/colecionador. Pelo que é visto, a coleção mostra o tipo de população e a região em que habita, mas seguindo o amadorismo comentado por Grupioni (2008). Como já dito, não há um norte teórico claro e a pouca informação está apenas na representação e descrição do item. O coletor, mais uma vez, pode ser visto, nos números de ordem 7757 e 7759, ao anotar o uso do objeto: “cesta, em que vendem a farinha d’água no Pará”. A empresa coletora está em “Collecção Pyrinneus” e a data, 1914. A descrição é toda escrita a mão sobre a rasura “Flecha - de indios?” (LIVRO DE TOMBO IV).

O pensamento positivista, a “aculturação”, como vista na época, e a ideia de um tipo brasileiro são bem anotados dentro no livro de Tombo. Mesmo que não se coloque uma etnia, é justo pressupor que seriam caboclos, ribeirinhos. Tal su-posição tem base em que a coleta foi realizada ao longo de uma viagem de barco passando por barracões, vilas e cidades pequenas. Os itens apresentam algumas técnicas que não são inéditas, mas fruto da interação e das relações interétnicas que se desenrolavam há muitos anos. Artefatos e alimentos são apresentados em uma unidade simbólica. O pensamento positivista se mostra pela ideia do exemplo, que não aparece claro nas descrições, mas é encontrado ao longo de outras representações de objetos. Não há diferenciação de ingredientes, formas de fazer ou de trabalho. O que se observa é uma descrição do caboclo como tipo brasileiro. A sequência de itens na “Coleção Pyrineus” apresenta o que já era co-nhecido, por exemplo, o número de ordem 7777, “bastão com que os seringueiros

da Amazônia defumam a borracha”, e as entradas de número 7778 “molho - de

tucupi” ; 7779 “leite - de coco de bacába ”; 7786 “sapatos de borracha usados pe-los seringueiros do amazonas Collecção Pyrineus de Souza – 1914”; e 7798 uma “tarrafa - dos seringueiros do rio Castanha (Roosevelt) estado do Amazonas. Off do Tte. Pyrineus de Souza” (LIVRO DE TOMBO IV).

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Considerações finais

Estes são resultados prévios que indicam caminhos. Reforço a importância de considerar que, na narrativa contada pelas descrições de coleções etnográficas, a história é mudada cada vez que se dá um novo enfoque à coleção, sem esquecer a colaboração de quem elabora a coleção e seu viés teórico ou político. Dentre muitos aspectos, essa narração é também repetida como ethos, como algo que manterá um centro uno. As técnicas indígenas e ribeirinhas reorganizadas dentro de uma coleção são reflexo de um projeto de nação que deveria posteriormente ser bem compreendido pela população.

O estudo do gênero discursivo é uma análise de um grupo dentro da socie-dade. O gênero discursivo “livro de Tombo”, em sua constante transformação da época, mostra suas vicissitudes. Um caminho seguido pela pesquisa foi olhar Ro-quette-Pinto e suas reflexões apresentadas além do Tombo. Ao longo do tempo e da transformação, este gênero discursivo tornou-se um catálogo com listagens, e as descrições passaram a ser mais observadas dentro dos diários de campo dos coletores. Naquele momento, o livro de Tombo não era para ser lido sozinho, ele precisava de correlações com outros gêneros assemelhados e elaborados pelos intelectuais dentro de um mesmo padrão socialmente partilhado.

Entendo que apenas a representação de um objeto é pouco para definir pro-dutos e técnicas, mas a ideia maior de Roquette-Pinto de uma catalogação es-tendida mostra que determinados objetos seriam melhor analisados enquanto instantâneos de uma etnia, ao passo que outros eram deixados de lado. E uma questão fica no ar: a pesquisa antropológica da época tinha um uso político, en-tão, qual tipologia textual seria a mais adequada para transmitir a informação? Uma forma mais apropriada para o campo Objecto do livro era criada pelos pró-prios intelectuais que trabalhavam dentro do espectro da transição da antropo-logia enquanto ciência.

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