Solubilidade das Proteínas
TÉCNICAS LABORATORIAIS EM
QUÍMICA E BIOQUÍMICA
Miguel Mourato
(Coordenador)
Joana Sales
Mestrado em Engenharia
Zootécnica
ISA, 2018/2019
Proteínas – macromoléculas constituídas por uma ou mais cadeias de
aminoácidos (por ligações peptídicas)
Ex. de aminoácidos:
Solubilidade, Capacidade de absorção e
Retenção de água
Percentagem de proteína que se mantém em “solução” ou dispersão coloidal sob condições específicas e que não sedimenta com forças centrífugas moderadas
Definição de solubilidade de proteínas:
Proteína
solúvel: Proteína com capacidade de interagir com o solvente (pontesde hidrogénio, ligações dipolo-dipolo e cargas iónicas) e que estabelece um equilíbrio entre as interacções proteína-proteína e proteína-solvente
Vantagem das soluções de proteína:
- A elevada solubilidade permite dispersão rápida e completa das moléculas proteicas
- Conduz a um sistema coloidal disperso com estrutura homogénea
- Essencial para a elaboração de molhos, bebidas, purés e sopas desidratadas
Proteínas insolúveis têm pouca aplicação
Escleroproteínas:
Classificação das proteínas em função da solubilidade
4
Albuminas: solúveis em água a pH 6,6, coagulam pelo calor. Proteínas ricas em enxofre, solúveis em água, precipitam pelo (NH4)2SO4 a 70-100 %.
Ex: ovalbumina, lactalbumina, enzimas
Globulinas: pouco solúveis em água, solúveis em soluções salinas diluídas a pH 7,0, coagulam pelo calor. Proteínas que precipitam pelo (NH4)2SO4 a 50 %.
Ex: miosina, ovoglobulina, lactoglobulina
Prolaminas: insolúveis em água e em soluções salinas, solúveis em soluções de etanol a 70 %. proteínas ricas em prolina e ácido glutâmico, são solúveis em etanol a 70 %.
Ex: gliadina (nos cereais, trigo e centeio)
Glutelinas: insolúveis em água, soluções salinas e etanol. Solúveis apenas em soluções ácidas e alcalinas diluidas. Proteínas ricas em lisina, somente encontradas em vegetais.
Ex: glutenina (no trigo)
proteínas fibrosas, insolúveis.
As proteínas são macromoléculas com capacidade de interacção com a água, lipidos e outros componentes
-Factores intrínsecos:
Propriedades fisico-quimicas das moléculas -composição em aminoácidos -conformação 3D -Factores extrínsecos: Características do meio -concentração de proteína -pH -Temperatura -Força iónica
-Tamanho, composição e sequência de aminoácidos (estrutura primária) -Conformação tridimensional
(estruturas secundária, terciária, quaternária) -Posição e tipo de grupos R na estrutura 3D -Interacções entre os grupos R na cadeia
-Carga global, ponto isoeléctrico influenciam a solubilidade, a capacidade de retenção de água e interacção com outros componentes
-AA polares aumentam a capacidade de hidratação
Em água? Em lípidos?
Variações de pH, temperatura, presença de solventes e agentes desnaturantes, alteram as ligações estabelecidas na proteína, e consequentemente a sua conformação alterando as propriedades de hidratação.
Curvas de solubilidade de globulinas: Salting-in e o pH Solubilidade (mg/mL) pH pI Aumenta [NaCl] Na+ Cl -Na+ Na+ Na+ Na+ Na+ Cl -Cl -Cl -Cl -Cl -H2O H2O H2O H2O Cl -Na+ Na+ Cl -H2O H2O H2O H2O H2O H 2O
Fatores intrínsecos e extrínsecos atuam
conjuntamente
Predominam forças de atração Predominam forças de repulsão Predominam forças de repulsão
Solubilidade em função do pH
Força iónica: =1/2.CiZi2
(C concentração e Z carga do ião)
-Meio de força iónica baixa favorece a solubilidade:
-Meio de força iónica alta
favorece a precipitação:
Há ligação dos iões à estrutura das proteínas; diminui
as interacções iónicas proteína-proteína, há
“abertura da rede proteica”, que retém mais água
Há concorrência entre as proteínas e os sais para a captação de água, diminuem as interacções
água-proteína; os sais retêm mais água e não há água suficiente para envolver as proteínas que se agregam Iões de sais neutros podem aumentar a solubilidade para uma gama de 0,5-1,0 mol/L
Salting-in
Salting-out
Solubilidade em função da força iónica
-Perda da estrutura nativa da proteína
-Pode conduzir a alterações da solubilidade e das propriedades
funcionais
▪Precipitação
ex. clara de ovo
▪Formação de espumas
ex. clara de ovo
▪Formação de géis
ex. colagénio
Alterações da solubilidade - Desnaturação
Objectivo do trabalho:
- Verificar a solubilidade das proteínas em função do pH, da força
iónica e da temperatura
- Verificar a influência da conformação e composição de diferentes
proteínas no comportamento em solução
- Determinação da proteína nas amostras iniciais e nos filtrados após
precipitação
- Precipitação da proteína do leite e soja por acção do ácido
- Precipitação da proteína da clara de ovo pelo calor
- Quantificar a proteína nas amostras iniciais e nos filtrados após
precipitação
-cerca de 80 % de caseína e 20 % de proteína de soro
-4 principais tipos de caseína: αs1, αs2, β e k -organização em micelas permite a
co-existência de 2 zonas com diferente afinidade para a água, hidrofóbica (α e β caseínas) e hidrofilica (k caseína) e estão ligadas ao fosfato de cálcio constituindo micelas
-a destabilização da micela pode ser causada por factores, como pH, temperatura,
hidrólise enzimática. zona hidrofóbica Camada externa de k-caseina Micela de caseina:
(A: submicela de α- e β-caseinas, B: cadeias proteicas da k-caseina, C: fosfato de cálcio, D: kappa casein, E: grupos fosfato).
Fontes: www.food-info.net/images/caseinmicelle.jpg
http://openwetware.org/wiki/User:Andy_Maloney/Kinesin_%26_Micro tubule_Page
A - Precipitação das proteínas do leite pelo ácido
Proteína do leite:
Produção de iogurte resulta da
coagulação da proteína do leite
por acção do ácido láctico
produzido pelas bacterias lácticas:
-Lactobacillus bulgaricus
-Streptococcus thermophilus
http://www.sciencephoto.com/media/79526/e nlarge
IOGURTE: leite coagulado pelo ácido
Lactobacillus bulgaricus
Streptococcus thermophilus
-a soja tem cerca de 36,49 % de proteína
-globulinas (90 %): a conglicinina (glicoproteína) e a glicinina.
-pI da proteína de soja varia entre pH 4,5 e 6
-por acção dos sais, sulfato de magnésio, ocorre a precipitação (coagulação) da proteína da suspensão de soja
Há formação de ligações entre os iões Mg2+ e
as cargas negativas das proteínas, causando a coagulação.
B - Precipitação das proteínas de soja pelos sais
Processo usado na preparação de tofu
Proteína de soja (Glycine Max):
A proteína do ovo encontra-se quase na sua totalidade na
clara de ovo, que contém cerca de 10 % de proteína
dissolvida em água.
Proteínas muito diversas, em termos quantitativos e qualitativos, de que resultam as suas propriedades únicas
C - Precipitação das proteínas de ovo pelo calor
54% Ovalbumin 12% Ovotransferrin 11% Ovomucoid 4% Ovoglobulin G2 4% Ovoglobulin G3 3.5% Ovomucin 3.4% Lysozyme 1.5% Ovoinhibitor 1% Ovoglycoprotein 0.8% Flavoprotein 0.5% Ovomacroglobulin 0.05%Avidin 0.05% Cystatin (Total listed 95.8%)
Proteína do ovo:
Método colorimétrico, que se baseia na formação de um composto corado que absorve radiações electromagnéticas a 540 nm
I
I
A
=
log
oonde Io é a intensidade do feixe de radiação incidente e I é a intensidade do feixe de radiação transmitida.
A relação entre a absorvância e a concentração foi estabelecida em 1852 por Beer, e tem a seguinte forma:
c
l
A
=
.
.
- é a absortividade molar (constante característica
do sistema soluto-solvente, para um determinado comprimento de onda)
-L é a espessura da solução atravessada pela radiação -C é a concentração da espécie que se pretende
determinar.
O espectrofotómetro mede a absorvância, A, que se define como:
Determinação da proteína solúvel pelo método do
Biureto
Recta padrão ou recta de
calibração
-feita com proteínas de concentração conhecida
-permite calcular a concentração de proteína de uma amostra pela medição da sua absorvância
Método do Biureto: É um método específico para proteínas solúveis, mas não é muito sensível, detecta quantidades entre 1-20 mg de proteína. Cu2+ C R O NH CH C O NH R CH C O HN C O HN R HC R HC Composto formado entre as cadeias polipeptídicas e o
A relação entre a absorvância e a concentração é expressa
pela lei de Lambert-Beer é linear dando origem a uma reta de
18 1ª PARTE: Efeito do pH, temperatura e da concentração de sais na solubilidade de proteínas
A - Precipitação das proteínas do leite pelo ácido:
100 mL de leite Aquecer ligeiramente cerca de 30 ºC Adicionar 10 mL de sumo de limão ou vinagre Agitar durante 2 minutos e deixar repousar durante 5 minutos Verificar a precipitação e filtrar em papel de filtro e recolher a coalhada Ocorreu coagulação? Quais foram as alterações observadas? Trabalho Prático: Solubilidade das Proteínas
Ocorreu coagulação? Quais foram as alterações observadas?
B - Precipitação das proteínas de soja pelos sais e pelo calor:
Adicionar 1,5 g de MgSO4.7H2O
Agitar para dissolver
Verificar a precipitação e filtrar em papel de filtro e
recolher o precipitado 100 mL de Bebida de soja Qual é o efeito da temperatura? Aquecer até fervura (não deixar entornar)
1ª PARTE: Efeito do pH, temperatura e da concentração de sais na solubilidade de proteínas
C - Precipitação das proteínas da clara de ovo pelo calor: Clara de ovo diluída Fazer uma diluição de 1:2 de clara de ovo em água Aquecer até fervura Verificar a precipitação
Ocorreu coagulação? Quais foram as alterações
observadas?
1ª PARTE: Efeito do pH, temperatura e da concentração de sais na solubilidade de proteínas
20
Tubos [Proteína solúvel] (mg mL-1) BSA 1% (mL) Tampão (mL) Volume total (mL) Absorvância 1 0 mg mL-1 0 2 2 ? 2 1,0 mg mL-1 ? ? 2 ? 3 2,5 mg mL-1 ? ? 2 ? 4 3,75 mg mL-1 ? ? 2 ? 5 5,0 mg mL-1 ? ? 2 ? 6 7,5 mg mL-1 ? ? 2 ?
2ª PARTE: Elaboração da reta de calibração
22
BSA 1% Tampão
1º- Adição de BSA e Tampão
1 2 3 4 5 6
4º- Agitação
5º- Deixar desenvolver cor durante 30 minutos. 1 2 3 4 5 6 0,0 mg mL-1 1,0 mg mL-1 2,5 mg mL-1 3,75 mg mL-1 5,0 mg mL-1 7,5 mg mL-1
2º- Soluções padrão com concentração conhecida
3º- Adição de reagente de Biureto
8 mL
de reagente do Biureto
2ª PARTE: Elaboração da reta de calibração
6º- Após 30 minutos, é possível fazer as leituras de absorvância.
7º- Fazer a leitura da absorvância de cada
um dos tubos, utilizando um
espectrofotómetro com um de 540 nm:
2ª PARTE: Elaboração da reta de calibração
24
c
l
A
=
.
.
Através da equação matemática desta reta pode-se calcular a concentração de qualquer solução desconhecida pela medição da sua absorvância.
Após se determinar a absorvância de várias soluções de concentração conhecida é elaborado um gráfico que se designa reta de calibração ou
reta padrão: lei de Lambert-Beer y = 0,0479x R² = 0,9974 0 0,05 0,1 0,15 0,2 0,25 0,3 0,35 0,4 0 2 4 6 8 A b so rv ân ci a [Proteína solúvel] (mg mL-1) Recta de calibração
Uma representação gráfica da
absorvância em função da
concentração dará então origem a
uma reta de declive l.
0 mg mL-1 1,0 mg mL-1 2,5 mg mL-1 3,75 mg mL-1 5,0 mg mL-1 7,5 mg mL-1
2ª PARTE: Elaboração da reta de calibração
2º-Adição de reagente de Biureto 8 mL de reagente do Biureto 3º-Agitação
4º-Deixar desenvolver cor durante 30 minutos. 1º-Preparação das amostras
Fazer a leitura da absorvância de cada um dos tubos, utilizando um espectrofotómetro com um de 540 nm.
L
FBS Br
F 0 L G Br
2ª PARTE: Determinação da proteína solúvel nas amostras iniciais e no filtrado após precipitação
2 mL Filtrado do leite 2 mL Bebida de soja 2 mL Leite FL BS 2 mL Filtrado de bebida de soja 2 mL Tampão
26 Discussão e análise dos resultados:
• Comparar o tipo de coagulação/precipitação obtida nos 3 casos.
• Interpretar o processo realizado em cada caso, tendo em conta a proteína utilizada.
• A partir da curva de calibração do método do Biureto efetuada no
trabalho prático anterior, determinar a quantidade de proteína das amostras filtradas.